Programa Millennium Bolsas de Investigação
Cidade e Património Arquitetónico do Século XX:1910-1999
O IMPACTO DO PATRIMÓNIO NATURAL NO DESENVOLVIMENTO DA CIDADE Vila Piscatória da Aguda como Estância Balnear
Ana Luísa de Almeida Santos Sofia Isabel Lopes Caetano
Município de Vila Nova de Gaia Julho de 2020
O IMPACTO DO PATRIMÓNIO NATURAL NO DESENVOLVIMENTO DA CIDADE Vila Piscatória da Aguda como Estância Balnear
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
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OBJETIVOS
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METODOLOGIA DE TRABALHO
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FASES DE ESTUDO E SUA CALENDARIZAÇÃO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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INTRODUÇÃO O desenvolvimento urbano e social desde sempre respondeu às características naturais específicas de cada território dotando-o de uma fisionomia própria. A história de Aguda escreve-se em simbiose entre o natural e o social, sendo em torno da riqueza natural do seu território que se centra a sua economia e a sua dinâmica social. A comunidade piscatória que aqui assentou desde o século XIX proporcionou o desenvolvimento do seu território, aliado à criação da estância balnear e da melhoria de acessibilidades através da linha férrea. Contudo, é durante o século XX que se observa o maior desenvolvimento e consolidação do seu núcleo urbano e conjunto edificado e, no final do século, as iniciativas que procuram preservar e valorizar o potencial paisagístico e arquitetónico desta comunidade. Olhando para o território nas suas diversas facetas valorizamos a história individual e coletiva, promovendo a conservação da paisagem litoral portuguesa e dos núcleos urbanos a si subjacentes.
Fig. 1- Praia da Aguda, foto de Rui Chilro Pescador
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OBJETIVOS A presente investigação pretende relacionar a evolução da cidade com as condicionantes territoriais que lhe são subjacentes. Surgem, como potencialidades que se transformam em património natural, arquitetónico e cultural. Considerando que toda a paisagem natural resulta de uma simbiose entre o ambiente natural e o ambiente construído, constatamos que é a intervenção humana que molda o território tal como a conhecemos atualmente. Ao longo dos séculos os recursos naturais foram aproveitados pelo Homem como forma de subsistência e desenvolvimento, levando à criação de pequenas comunidades cuja economia e vida social girava em torno destas ligações entre Homem-Natureza. Em Portugal são vários e diversificados, os exemplos de comunidades cuja história e identidade se baseiam nesta relação e, embora com as alterações trazidas pelo modelo-urbano industrial, procuram manter a sua identidade e economia, aliadas à tradição o conforto que a modernização dos meios confere. “Urbanização intensiva, industrialização e alastrar da mentalidade urbana viriam afetar essas raízes. mas em Gaia proliferam bairrismos que tentaram manter certas franjas de identidade.” P acheco, 1986 No litoral português observamos a existência de pequenas comunidades piscatórias que aproveitando os recursos destes locais, dinamizam e valorizam todo o litoral, através de meios sustentáveis de exploração desses recursos. São comunidades com dinâmicas sociais bastante definidas e que impulsionaram a consolidação dos locais onde desenvolveram a sua atividade, atribuindo-lhe características bastante vinculadas. São ainda comunidades importantes na salvaguarda e manutenção da paisagem litoral portuguesa. Exemplo deste tipo de comunidades piscatória é a Aguda, situada no concelho de Vila Nova de Gaia, onde o mar e o Rio Douro são as suas frentes.
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Fig. 2-Enquadramento no território nacional, autoria própria
Fig. 3-Enquadramento em V. N. de Gaia, autoria própria
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Fig. 4-Enquadramento de Aguda, Miramar a norte e Granja a sul, autoria própria
V. N. de Gaia é o maior município da sub-região do Porto, com 15 freguesias dentro das quais Arcozelo, onde se situa Aguda, na costa atlântica do litoral norte de Portugal, a cerca de 10 km a sul do estuário do Rio Douro e a 5km de Espinho.
Os primeiros movimentos que impulsionaram a formação do núcleo da Aguda deram-se nas décadas finais do século XIX com a abertura do apeadeiro da Aguda e com a chegada dos primeiros pescadores. Apenas no XX se verifica o desenvolvimento do território envolvente com vista a responder às necessidades da comunidade que aqui se foi formando. Observando um crescimento econômico e urbano assente nas condições territoriais, tanto ao nível urbano como arquitetónico. Desta forma, após observar esta correlação procuram-se vestígios locais que simbolizam a história aqui demarcada, materializados em obras urbanas e arquitetônicas de 1910-1999.
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“Na aldeia de casinhas baixas e ruas paralelas e pendiculares ao mar, aldeia pequena (...)” Pacheco, 1986 A primeira obra correspondeu à Capela da Nossa Senhora da Nazaré cuja construção avançou em 1910 com projeto do arquiteto Eduardo C. Alves Júnior e tendo sido alvo de ampliações ao longo dos anos do mesmo século. Corresponde assim ao primeiro sinal de consolidação social e urbana aos quais se seguiram o edifício do apeadeiro como o conhecemos atualmente, o alargamento de estradas e a formação de avenidas, a substituição dos palheiros dos pescadores por casas de pedra, a construção da lota da Aguda e do posto de socorro a náufragos, a construção do novo quartel de bombeiros, do parque recreativo da Aguda e a construção da escola primária, entre outros. Além disto, foi-se assistindo à fundação de pequenos grupos e associações assim como a revitalização de edifícios do século XIX atribuindo-lhes novos usos que se adequassem à vida social da época como é o caso da Vila Eliza, que deu lugar ao hotel da Aguda e, mais tarde à colónia de férias para crianças sendo remodelada e ampliada em 1929 pelo arquiteto Francisco Oliveira Ferreira. A estação férrea de Aguda apresenta dois painéis de azulejos de J. Oliveira de 1941. Imediatamente a sul a estação de Granja também apresenta azulejos de 1914 de Francisco Pereira e Licínio Pinto. Uma das obras de maior importância que promove a identidade da Aguda, sustentada na conservação dos recursos e no desenvolvimento sustentável do lugar, através da partilha, da divulgação e da investigação, corresponde à estação litoral da Aguda. Projetada pelo arquiteto João Paulo Peixoto, construída em 1993-95 é constituída por três setores: o museu das pescas, o aquário e o departamento de educação e investigação. Aberta ao público no final do século XX, sinaliza esta necessidade sentida de educar para a preservação ambiental, promovendo simultaneamente a valorização de um território único na história.
A investigação estender-se-á também ao lugar de Granja a sul e ao lugar de Miramar a norte pela forte relação existente com a Aguda. Através de análise comparativa compreenderemos que, embora próximos, os três lugares apresentaram durante o século XX atratividades e dinâmicas sociais distintas que se revêem no património construído e que se reflectem atualmente. Granja, mais senhorial serviu de inspiração e residência de Sophia de Mello Breyner, apresentando atualmente uma vida social pouco ativa apenas contrariado pelo café,
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pelas piscinas e pelos passeios à beira mar. Miramar por seu turno apresenta residências mais permanentes, contrariamente às de uso temporário de Granja e o seu extenso areal torna-a uma das praias mais visitadas e concorridas do areal gaiense. Neste âmbito, Aguda mantém o seu espírito mais popular e comunitário que a caracteriza desde o século XX, uma pequena aldeia servida de pequenos negócios.
Serão analisadas estas características e os fatores - naturais, sociais e económicos - que as moldaram e, que tornaram as três zonas distintas. É de extrema importância a sistematização de forma a serem futuramente criados, circuitos turísticos de elevado interesse arquitetónico e paisagístico que promova e valorize a zona em toda a sua extensão, interligando os três lugares. “Num ambiente rural (de que as colmeias piscatórias da Aguda e as cosmopolitas Granja e Miramar eram excepções) (...).” Pacheco, 1986 Torna-se imperativo relacionar a mobilidade urbana capaz de atrair e fixar populações nestes locais, nomeadamente na Aguda cujo conjunto edificado se apresenta degradado sendo necessário atenção e investimento, de forma a revitalizar a zona. O caminho férreo tem sido assim o catalisador urbano unindo as praias gaienses entre si e, ao centro de Vila Nova de Gaia e Porto, atraindo assim turistas e residentes e, promovendo a mobilidade urbana sustentável.
A investigação procura assim promover a valorização da identidade local e, em simultâneo fomentar e consciencializar relativamente à conservação e preservação da paisagem litoral, fortemente marcada e de elevado valor no concelho gaiense, segundo lógicas de desenvolvimento sustentáveis. Essa promoção centra-se no lugar da Aguda, como exemplo vincado e de resistência ao longo dos últimos anos, procurando desenvolver uma hipótese de inventário e sistematização extensível a outros lugares de igual interesse. A relação com os lugares limítrofes permitirá conceber, numa fase final, um itinerário turístico no qual todos os factores anteriormente enumerados influenciaram a sua concepção.
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O objetivo é transversal a todos os momentos da investigação procurando percorrer o passado ao mesmo tempo que se perspetiva o futuro, segundo as condicionantes, valores e realidades atuais, de uma vila piscatória e estância balnear rica em história e património.
A investigação centrada no património deve promover a consolidação da identidade local, sendo assim capaz de sistematizar de forma coerente e compreensível a diversos grupos a necessidade e importância de se conhecer a cidade e tudo o que originou a fisionomia atual. Através desta posição, seremos capazes de promover o turismo a escala territorial, nacional e internacional e, sobretudo, conservar e valorizar os recursos endógenos percebendo-os como catalisadores em potência de vivências harmoniosas entre o Homem e o ambiente que o rodeia.
Fig. 5-Património a investigar, autoria própria
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METODOLOGIA DE TRABALHO
A metodologia de trabalho consistirá numa primeira fase na investigação teórica com base em bibliografia apropriada ao tema em análise. Será realizado o enquadramento do local de estudo em termos históricos, sociais e geográficos em diversas escalas de análise e com recurso a dados estatísticos, estudos e diagnósticos sociais, cartografia, planos de ordenamento e programas institucionais. Seguir-se-á a investigação in loco através de visitas ao local de estudo, onde se realizarão registos fotográficos, levantamentos arquitetónicos, de caracterização do edificado e conversas informais com os habitantes locais.
A investigação desenvolver-se-á inicialmente numa escala mais alargada permitindo situar e classificar a comunidade piscatória da Aguda relativamente ao território municipal e distrital. Desta análise resultaram mapas de enquadramento geral e mapas mais específicos como de sinalização de outras comunidades piscatórias nos municípios referidos, entre outros necessários à compreensão e posicionamento do território em questão. À escala do lugar da Aguda relacionarmos a evolução urbana que a atividade piscatória potenciou com a construção de edifícios que se traduzem em património arquitetónico a sinalizar, entre o período de 1910-1999. Esta análise será depois alargada ao nível das restantes estâncias balneares, Granja e Miramar procurando compreender a génese das diferenças territoriais dos lugares e, simultaneamente, criar o itinerário em toda a extensão.
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FASES DE ESTUDO E SUA CALENDARIZAÇÃO
Fase
Descrição
Data
Fase 1
Investigação teórica e in loco
6 semanas
● Recolha e análise de bibliografia, cartografia, planos urbanos, dados estatísticos, registos fotográficos, conversas informais, sinalização de património, entre outros. ● Sinalização do património e elaboração de uma ordem cronológica
do
desenvolvimento
urbanístico
e
da
construção do edificado relacionando os marcos históricos locais e nacionais com a construção dos edifícios. Fase 2
Elaboração das peças gráficas
2 semanas
● Enquadramento social e histórico com gráficos estatísticos e fotografias comparativas. ● Enquadramento geográfico ao nível distrital (Porto) e Municipal (Vila Nova de Gaia). ● Cartografia com a evolução geográfica e histórica. ● Alterações no edificado e plano urbanístico (1910-1999). ● Mapa do patrimônio por tipo de usos e por data de construção. ● Caracterização arquitetónica de edificado de elevado interesse. ● Itinerário e percurso. Fase 3
Elaboração das peças escritas ●
Fase 4
2 semanas
Relatório final.
Elaboração dos elementos para apresentação e exposição
1 semana
● Três Painéis A1.
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● Apresentação Power Point. Fase 5 Total
Correção e verificação dos elementos a entregar
1 semana 12 semanas
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AFONSO, Maria José Coxito, Hidrogeologia e hidrogeoquímica da região litoral urbana do Porto, entre Vila do Conde e Vila Nova de Gaia, UTL Instituto Superior Técnico 2 011, Tese de Mestrado DA SILVA PASSOS, José Manuel. O bilhete postal ilustrado e a história urbano do Porto. Lisboa: Editorial Caminhos SA, 1994. D’AZEVEDO, João António Monteiro; SANTOS, Manoel Rodrigues dos, Descripção topographica de Villa Nova de Gaya, Porto: Imprensa Real, Porto, 1º Edição, 1881 DE OLIVEIRA RAMOS, Luísa. História do Porto. Porto: Porto Editora, 1994. DOMINGUES, Álvaro; SILVA, Luís Pedro; Formas recentes de urbanização no Norte Litoral, 2004, Artigo de Revista MAOT, Viver Vila Nova de Gaia, CMVNG: Lisboa, 2020 PACHECO, Helder. O grande Porto - Gondomar. Maia. Matosinhos. Valongo. Vila Nova de Gaia. Lisboa: Editorial Presença, 1986. TEMUDO, Alda Padrão. Francisco D´Oliveira Ferreira: o arquitecto de Gaia: homenagem do município de Vila Nova de Gaia. Vila Nova de Gaia: Casa da Cultura, 2008. WEBER, Mike; SANTOS, Assunção. Cem Anos na Praia da Aguda 1888-1998. Porto: Edições Afrontamento, 2016. WEBER, Mike. The Littoral Station of Aguda, in the North of Portugal. Helgolnder Meeresunters: 49, 429-438, 1995.
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WEBER, Mike; DIAS SANTOS, Jaime; SANTOS, Assunção. Guia da Estação Litoral da Aguda. Fundação ELA, 2009. WEBER, M.; CUNHA, I. e SANTOS, A. (2002) The Fishing Community of Aguda´s beach in North Portugal. Proceedings of the 6 th International Conference Littoral 2002, Porto, Portugal, 3: 101-104.
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