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CIDADE
Plano de Desenvolvimento FĂsico Territorial do Campus do Pici
Trabalho Final de Graduação
Orientador: Prof. Marcondes Araújo Lima Universidade Federal do Ceará Centro de Tecnologia Departamento de Arquitetura e Urbanismo Curso de Arquitetura e Urbanismo
UNIVERCIDADE:
Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
Sofia Carvalho Cavalcante
Sofia Carvalho Cavalcante
UNIVERCIDADE:
Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
Banca Examinadora
Prof. Dr. Marcondes Araújo Lima (Orientador) Universidade Federal do Ceará
Prof. Dr. Ricardo Figueiredo Bezerra Universidade Federal do Ceará
Prof. Ms. Emanuel Ramos Cavalcanti Universidade de Fortaleza
Fortaleza Janeiro de 2014
Àqueles que temos com saudade no coração.
Agradecimentos
“amar e mudar as coisas me interessa mais”
Considero que este trabalho tenha sido feito com a ajuda indireta de muitas pessoas, tendo assim diversos autores, diversas faces, diversas pessoas a quem devo agradecer. Falo isso não apenas pelo trabalho em si, mas por toda a caminhada dentro do Curso de Arquitetura e Urbanismo, como também a caminhada da Vida. Junto a todas essas pessoas que estiveram e ainda estão presentes, eu me permito estar aqui para agradecê-los por algo que não sei nem como fazê-lo, pois não me parece suficiente medir isso em palavras. Inicio nomeando aqueles que tenho como autores desse trabalho tanto quanto eu. Em primeiro lugar, este trabalho é dos que, sem questionamento algum, vieram em primeiro lugar, e não cansam de mostrar seu amor incondicional, Mãe e Pai, essa conquista também é de vocês. Do meu irmão, Célio, que mesmo a quase 12 horas de distância, se fez presente quando necessário. Da minha cunhada, Dani, que insistentemente sempre perguntava como podia ajudar. Da Vó Lala, que nos últimos meses cuidou de mim todos os dias sem se cansar. Das minhas amigas Natasha, Nina, Nico, Deba e Lara, que sem elas eu não teria metade das minhas forças de terminar cada
semestre que passava. Das minhas amigas, Bia, Bel, Gigi e Lara, que durante todos os anos de faculdade sempre estivemos juntas, com encontros e desencontros de turmas, mas sempre sabendo que podíamos contar umas com as outras, e sem elas o finalmente desse trabalho não teria acontecido. Da Rebeca, que mesmo eu sendo uma “cliente chata”, quis me ajudar até o fim. Das Gossips, que me apoiam e se interessam por cada conquista. Dos meus amigos de colégio, Iata, Gui, Igor, João e Fofa, que nunca esperei tanto para dizer pra eles “me formei”, mas para quem sempre terei 16 anos. E por fim, da Marta, que quando passou pela cabeça em desistir, foi ela quem esteve lá para me fazer mudar de idéia. Além desses, ainda tenho tantos outros a agradecer. Agradeço à minha enorme família como um todo, tios, primos e avós, que são inexplicáveis professores de união e companheirismo. Minha gratidão aos professores do Curso, principalmente nos nomes das Professoras Clarissa e Zilsa, por terem depositado sua confiança em mim; e ao meu orientador Professor Marcondes por ter estado ao meu lado no último semestre, não podendo ter sido uma melhor escolha. Agradeço ao tempo que passei em Niterói e na Universidade Federal Fluminense, onde cada nova pessoa e experiência engrandeceu meu ser. Agradeço à FeNEA, onde tive meus maiores aprendizados durante esses anos fora da faculdade, e meu único arrependimento é de não ter me envolvido antes, agradeço nos nomes de Cari, Lumena, Bárbara e Guto, pessoas que mesmo espalhadas pelo Brasil, estão a uma ligação de distância. Agradeço às amizades sobreviventes da ComOrg EREA Ceará, que mesmo entre tantas dificuldades conseguimos nos manter tão fortes. Agradeço aos meus amigos do Projeto Piloto, por nesse semestre serem meu momento de descontração da semana quando eu precisava para espairecer. Agradeço à minha turma de 2007.1, que vejo como a turma mais unida da faculdade, sempre agregando mais pessoas, e amo fazer parte dela. Enfim, agradeço a todos que fazem parte da minha vida, a todos que vem e vão, e assim deixam suas marcas. Pois seja quem for, se já passou por mim, teve sua devida importância aqui.
Sumário Apresentação .13 Justificativa 15 Objetivos 16 Metodologia 16
Referencial Teórico .19 Universidade como Instituição
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Universidade do Brasil
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Universidade Federal do Ceará
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Diagnóstico .55 O Bairro Inserido na Cidade
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O Campus Inserido na Cidade
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O Campus Nele Mesmo
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Intervenções .75 Diretrizes e Estratégias
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Zoneamento Proposto 82 Implantação da Reitoria
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Plano Geral 93
Considerações Finais .95 Referências Bibliográficas .98
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APRESENTAÇÃO Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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A vontade de estudar uma universidade veio mesmo antes de estudar numa universidade, ou mesmo pensar em estudar na Universidade Federal do Ceará (UFC). Crescer sempre próximo à Universidade e às árvores do Campus do Pici criou um vínculo especial com aquele local, com um arrastão de memórias sendo criado, desde brincadeiras às sombras do bloco 710. A decisão de estudar Arquitetura e Urbanismo vinha com o aconchego das nossas mangueiras, do espaço da nossa Escola e do querido Centro Acadêmico do Curso de Arquitetura e Urbanismo (CACAU), que estão no Campus do Benfica. Mas o encanto do Pici nunca foi esquecido, e sempre houve um pouco de prazer, enquanto a maioria reclamava, quando tínhamos que ir para lá por atividades universitárias. Sempre me agradou a idéia daquele Campus, que abrigava tantos cursos ao mesmo tempo, e permitia essa mistura do saber. Eu já sabia que era o maior entres os três campi existentes na capital, mas só comecei a ter uma noção da dimensão de cada um destes quando estava realmente na faculdade. E mesmo estudando no Campus do Benfica, outro campus agradabilíssimo, mas em outro mérito, já que é um Campus em que se mistura à cidade de Fortaleza, sempre gostei de freqüentar o Pici.
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Desde o inicio da minha graduação, em 2007, enxergo o Pici como um grande campo de potencialidades não aproveitadas, e me perguntava o que faltava para a UFC ter um Campus mais vivo. Então desde quase o início do curso, eu sabia qual seria meu Trabalho Final de Graduação, mesmo sabendo de todos os desafios que iria encontrar pela longa história da Universidade. Este trabalho tratará de uma nova visão em relação ao Campus, permitindo que este se abra à cidade de novas formas que não encontramos nele hoje.
Justificativa A Universidade Federal do Ceará (UFC), ao longo de sua história, nunca conseguiu consolidar um plano ideal para o Campus do Pici, o que gerou confusão ao longo de seu planejamento e uma falta de definição em todos esses anos. Um Plano Diretor não existe desde a década de 1970, e mesmo este, durante muitos anos, não passou por nenhuma reestruturação até recentemente em 2010. Ou seja, a UFC era regida por um Plano obsoleto que acabava por não ser utilizado. Assim, muitas das obras feitas hoje no Campus não seguem nenhum planejamento, e as Unidades Acadêmicas (UAs) fazem seus próprios zoneamentos a base de negociações entre si. Além disso, nos últimos dez anos, a UFC e as demais Universidades Federais têm tido um crescimento notório, devido ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI – que tem como objetivo promover a expansão física, acadêmica e pedagógica da rede federal de ensino superior. As ações do programa contemplam o aumento de vagas, a ampliação de oferta de cursos, a criação de novos campi no interior do estado. Para a realização dessas ações é necessário um planejamento para o uso de seus recursos. Este é o planejamento que falta na Universidade, em escala orçamentária e urbanística. Mesmo a Universidade possuindo hoje oito campi, quatro em Fortaleza e quatro no interior do estado, o foco da pesquisa do trabalho será no Campus do Pici, por ser o maior Campus localizado na cidade, e um dos que originou a UFC. O Campus do Pici enfrenta diversos problemas em sua ocupação, como em apesar de nem metade de sua área estar construída, já aparenta escasso a possibilidade de expansão dentro do Campus. Então o que deve ser feito é uma previsão de como a Universidade continuará crescendo para que se tenha uma previsão de como o Campus do Pici poderá crescer junto a ela dando a melhor qualidade de vida aos seus estudantes e profissionais.
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Objetivos O objetivo geral deste Trabalho Final de Graduação (TFG) é a proposição de um espaço universitário estruturado e coerente que seja propício ao convívio e à interação, onde as atividades acadêmicas possam se realizar de forma mais eficiente, criativa e inovadora, e que reforce, assim, o caráter público do Campus do Pici na UFC. Para atingir esse objetivo principal, uma série de objetivos específicos foram traçados: [1] De início, está a necessidade de abertura do Campus para a cidade, pois atualmente temos um campus recluso internamente sem a possibilidade de grandes visões de quem está de fora e vice versa. O Pici é um Campus bem inserido dentro da estrutura da cidade, mas aparenta estar longe dos fluxos normais, devendo ter um melhor planejamento dessa sua localização; [2] Depois, encontra-se a necessidade de identificação de um órgão central para a nova estrutura do Campus que está sendo pensada, para que tenha sua estrutura em completo funcionamento no local; [3] Um outro ponto seria o investimento num sistema de espaços livres bem articulados, tendo espaços que incentivem a interação social dos estudantes, professores e servidores, principalmente considerando a rica massa verde que compõe o campus; [4] Então, a hierarquização do sistema viário para a priorização do pedestre, considerando que a maioria da população estudantil utiliza o transporte público; [5] Junto a todos esses pontos, está a criação de uma identidade visual única ao projeto, tornando toda a região do Campus devidamente sinalizada; [6] Por último, encontra-se a elaboração de um Masterplan contendo esse novo Plano de Desenvolvimento Físico Territorial para o Campus do Pici.
Metodologia Para dar início ao trabalho foi feita uma revisão de literatura sobre o assunto principal que seria abordado: Universidades. Como uma forma de entender o objeto de estudo, entendeu-se a importância de buscar nas raízes as histórias dessas primeiras instituições do
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saber, e compreender sua evolução temporal, principalmente pela percepção de diferentes arquiteturas de acordo com a época e a localização, realizando um estudo sobre os diferentes modelos. Tendo um panorama geral do que se tinha pelo o mundo desde a criação da primeira universidade, partiu para um estudo dentro do País, e depois focando na própria história da Universidade do Ceará. A partir de então, iniciou a etapa da diagnóstico sobre o Campus do Pici e sua região, mas vale ressaltar que o levantamento bibliográfico não parou, sempre buscando mais informações que pudessem embasar este trabalho., como Masterplans de outras universidades, metodologias de ensino, etc. O Masterplan de outra universidade apresentado funciona como um Estudo de Caso, pois é um documento explicativo de todo o processo de como foi feito. Este foi de extrema importância num entendimento geral de como seguir em cada momento. Na etapa seguinte de diagnóstico, um pouco ainda tratando-se da história da Universidade, foi feita uma entrevista com o arquiteto Neudson Braga, pois ele esteve presente na equipe dos primeiros planos desenvolvidos. Ao longo do trabalho, foram realizadas diversas visitas de campo com levantamento fotográfico, para um bom entendimento da área que estava sendo trabalhada. Então iniciou a etapa de apontamento dos problemas, e proposição das novas diretrizes projetuais para o Campus. Seguido da etapa de desenho do novo Masterplan geral. Abaixo segue um esquema de como se encontra a estrutura deste trabalho:
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REFERENCIAL TEÓRICO Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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A Universidade como Instituição O início: Modelo Medieval Europeu O design de um campus universitário é uma arte. As edificações encontradas nas universidades mais antigas, normalmente não são exatamente o ideal que o fundador desejava, mas acaba por ser a reflexão cultural do momento em que se enquadra o surgimento daquela instituição. A universidade medieval foi um fenômeno europeu, em que sua primeira universidade, fundada em 1088, foi a de Bologna, Itália (Fig. 01). Esta, junto a Paris e Oxford, formam o triunvirato dos protótipos de Universidades Europeias, de onde todas as outras descenderam. As universidades medievais surgiram a partir da Renascença nos anos 1100, que em instituições por toda a Europa, houve um aumento significativo da quantidade de alunos, e aos poucos essas pequenas instituições foram se tornando o que seriam o princípio das universidades modernas. Nos primeiros séculos dos anos 1000, o modelo de universidade do triunvirato começa a se espalhar na Europa, o de Bologna foi
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Figura 1. Bologna. Fonte: http://internationalstudentsguide.org/20-oldest-universities-of-the-world/
copiado por toda a Itália, Cambridge era fundada na Inglaterra com os mesmo princípios de Oxford, enquanto a Espanha tinha sua primeira Universidade sendo fundada em Salamanca, e tantas outras por todo o continente. As primeiras universidades medievais não possuíam os edifícios próprios, as aulas aconteciam em casas alugadas nas cidades em que se localizavam, e seminários maiores ocorriam em igrejas. Após um tempo, eram várias as comunidades de mestres e estudantes vivendo pela Europa e começou a sentir a necessidade de um local próprio para a instituição. O primeiro edifício próprio de uma universidade foi na Universidade de Sienna, em 1322, quando os moradores propuseram conectar a cidade à universidade construindo uma capela exclusiva para os estudiosos. Com o decorrer da idade Média, o número de estudantes crescia, e as universidades viam a necessidades de adquirir propriedade. As Universidade foram ganhando seu corpo e criando suas identidades. A Universidade de Bologna possuía um magnífico pórtico que adentrava um pátio com seus quatro lados, modelo que foi levado posteriormente para a América do Sul. A imponência dos edifícios que apareciam eram a manifestação da Universidade Europeia se mostrando evoluída desde o tempo de estudiosos migrantes até então alcançar seu nível como instituição do saber. A partir de então, as cidades começaram a se confundir com as universidades, e as cidades universitárias passaram a ter sua própria personalidade. Em Paris, jovens estudantes, com até mesmo 14 anos, já viajavam para estudar em outros países da Europa, e edificações conhecidas como hospita eram suas residências temporárias. Na Inglaterra, em Oxford e Cambridge (Oxbridge), havia uma norma em que estudantes deveriam se hospedar com pessoas da cidade, rapidamente tornou-se comum um grupo de estudantes viverem juntos em locais alugados por um locatário, o que pode ter sido o início de uma cultura de repúblicas. As faculdades alcançam um outro patamar, em que recebendo terras, alugueis, receitas da igreja, se tornaram os edifícios mais impactantes de algumas universidades. A independência financeira das faculdade dava a liberdade de construir onde quisesse, e tiveram os seus primeiros edifícios no séculos XIII em Oxford. Merton College foi o primeiro colegiado de Oxford, com residência, cozinha, capela e pátios internos. Essa arquitetura de pátios internos, primeiro vista em Merton (fig. 02), definiu o que seria Oxford e Cambridge até hoje, influenciando também algumas outras universidades pelo mundo. Apenas no Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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meio do século XVII, as universidades de Oxford e Cambridge vão sofrer uma transformação liderada pelo arquiteto Christopher Wren (fig. 03). Com alguns projetos de início em ambas as universidades, Wren foi o precursor dos arquitetos modernos, a partir de seu trabalho, uma nova filosofia que ia contra a planta quadrada, permitia abertura e pontos focais, uma hierarquia que caracterizava o estilo barroco. Essa inovação vinha para moldar não apenas as universidades inglesas, como também as primeiras universidades americanas.
Figura 2. Merton College, Oxford. Fonte: http://devonvisitor.blogspot. com.br/2012/12/oxford-attractions.html
Figura 3. Cambridge. Fonte: http:// www.cambridge2000.com/gallery/
O Novo Mundo: Primeiras Universidades da América do Norte Quando os ingleses começaram a ocupar a América do Norte, eles a tinham como um projeto do mundo ideal, com um mundo puro abastado de morais. Esse ideal necessitava de uma sociedade de governantes capazes, clérigos estudiosos e cidadãos cultos; e uma sociedade dessa só poderia ser alcançada através da educação. Em 1636, em uma vila a seis quilômetros de Boston, que seria futuramente renomeada para Cambridge, por conta da alta quantidade de
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estudiosos da cidade homônima inglesa que lá moravam, foi determinado que seria a primeira instituição universitária da América do Norte, esse foi o nascimento de Harvard. Já num primeiro momento, rejeitou-se a filosofia Europeia, em que as universidades assumiam as responsabilidades apenas de ensino e não ajudavam na vida social dos estudantes, as primeiras escolas americanas ansiavam em juntar o ideal inglês com a vida social e atividades acadêmicas. A habitação conjunta promovida pela própria escola trazia suas vantagens até no espaço de aprendizado, tornando uma coisa única. Desde o inicio, as universidades americanas não seguiram as tradições de planejamento inglesa. A ideia era que fosse feita uma comunidade de estudiosos moldados pelos edifícios. Para isso, as instituições americanas optaram por um modelo espacial diferenciado, rejeitando o tradicional pátio fechado inglês. O novo modelo proposto era de edifícios separados em campo aberto, próximos e acessíveis para a comunidade. Em 1642, Harvard completou um edifício multifuncional, em um grande campo de um acre. Uma casa-escola central, que abrigava todas as funções da universidade, que tornou-se comum nas universidades americanas. Essa edificação possuía salas de leitura, biblioteca, espaço comunal, quarto dos estudantes, refeitório e cozinha. Entre os anos de 1650 e 1655, Harvard expandiu com a construção de dois novos edifícios adjacentes, porém completamente independentes, e esse layout de uma estrutura separada abriu um precedente para o que seriam as universidades americanas. O desejo do novo layout era uma universidade que não se voltasse para si, mas que houvesse uma relação estabelecida com a comunidade exterior, tendo muitas vezes sua fachada principal direcionada para essas comunidades. Outros modelos foram adotados nesse início de formação da universidade americana. William and Mary, a primeira universidade da Virginia, possuía um grande edifício central com outros dois simetricamente colocados adjacentes, lembrando o palladianismo italiano. Esse modelo de simetria foi posteriormente copiado na Universidade de Ohio e Faculdade Antioch. Já em Princeton, a opção foi uma única edificação onde se concentravam todas suas atividades, que foi utilizado também em Brown e Dartmouth. A mais icônica das universidades americanas nos séculos mais antigos foi a Universidade da Virgínia, que demonstrava uma conexão de planejamento urbano com o idealismo pedagógico. Foi projetada em 1819, pelo terceiro presidente norte americano, Thomas Jefferson: uma grande avenida central compunha um eixo arborizado em que seguia com uma série de 10 pavilhões em suas bordas, 5 Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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em cada uma, onde cada pavilhão abrigava um assunto diferente, e tendo em uma ponta uma grande plantação clássica da Virginia, e na outra o símbolo de poder do campus localizado na Biblioteca Rotunda. Cada pavilhão funcionava como casa do professor e salas de aula, conectados por trás através de colunatas até as residências estudantis. O gramado central foi criado para ser um grande espaço de interação, como também as aberturas dos pavilhões tinham essa mesma função, todo esse campus foi planejado com o pensamento nas relações sociais entre os ocupantes.
Figura 4. Fig. 04: Universidade da Virginia. Fonte: http:// en.wikipedia.org/wiki/Jeffersonian_architecture
Nesse momento, a Universidade da Virginia marcou um momento decisivo na história de planejamento de campus universitário, tendo impactos até na China. Jefferson afirmou que uma instituição modelo deveria ser uma “Vila Acadêmica” (fig. 04).
América do Século XIX: Natureza Pitoresca A natureza foi o primeiro elemento para ajudar a buscar a expressão das universidades do século XIX. Um costume vindo dos séculos passados, principalmente das Faculdades puritanas, era que as instituições de ensino deveriam ficar no subúrbio, afastadas da cidade; no século XIX, esse ponto foi reconsiderado. Reconhecendo sua beleza e seu potencial em edificar, a natureza passou a ser o quesito principal a considerar na localização das universidades americanas. As novas escolas buscavam terrenos com lagos, ou em cima de morros com bonitas paisagens, em que se pudesse estabelecer uma relação entre a universidade e o ambiente. Esse era um dos principais pontos de distinção entre as universidades americanas e europeias, que nenhuma relação com a paisagem tinham. O ambiente da natureza era popularmente conhecido como um beneficio para o bem estar do estudante e sua moral. A capacidade edi-
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Figura 5. Universidade de Iowa. Fonte: http:// sustylife.com/2013/03/29/touched-by-olmsted/
ficante de um terreno era a motivação de uma das grandes figuras do século XIX ligada ao desenvolvimento de campus: Frederick Law Olmsted. Ele acreditava num novo formato de campus ideal, um layout irregular e pitoresco da disposição dos edifícios ao longo dos caminhos que seguem a topografia do terreno. Ele desenhou um primeiro masterplan para Berkeley, California, mas nunca foi executado. Convencido do impacto da locação sobre o comportamento, Olmsted se preocupou com a localização e desenho do campus como uma missão para a educação superior. Conhecido como um dos primeiros arquitetos paisagistas, um dos seus maiores legados foi a importância da paisagem sobre o desenho de um campus, influência que atravessou o país em universidades como de Miami, Oregon, Yale, Iowa, e Stanford, que até hoje é um modelo marcante para todos que visitam. (fig. 05 a 08). Essa sua filosofia ainda seria de extrema importância nos desenhos de campus americanos por todo o século seguinte.
Século XIX: Movimento Belas-Artes Figura 6. Universidade de Miami. Fonte: http://sustylife.com/2013/03/29/touched-by-olmsted/
Figura 7. Universidade de Oregon. Fonte: http://sustylife.com/2013/03/29/touched-by-olmsted/
Um novo paradigma no desenho de campus apareceu – o modelo de Belas Artes. Enquanto Olmsted estruturava seus campi pela natureza para aproveitar seu potencial natural e construtivo, o planejamento Belas Artes rejeitava a natureza e no lugar evoluía em um padrão urbano. O planejamento Belas Artes foi baseado em um movimento originado na exposição Mundial Colombiana de 1893 em Chicago chamado “City Beautiful” movement. Os últimos anos do século XIX presenciaram a formação da universidade americana moderna. O numero de cursos aumentou bastante, como também de atividades extracurriculares e de número de estudantes; o modelo organizacional da Universidade Americana ficava cada vez mais complexo. Muitas universidades começaram a se considerar como cidades. Expressões como “Cidade do Saber” ou “Cidade Universitária” passaram a ser comumente usadas e a moldar o que seriam as instituições a partir de então. O novo pensamento em planejamento de campus foi fortemente influenciado pelo design de Jefferson na Universidade da Virginia. O padrão de um eixo central dominado por um forte ponto focal ao
Figura 8. Universidade de Stanford. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Stanford_University
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fim auxiliado por edifícios secundários acharam sua expressão novamente nos praticantes das Belas Artes, em que aplicaram eixos secundários e edifícios auxiliares ao plano. Um primeiro exemplo excelente dessa abordagem foi a Universidade de Columbia em Nova York, projetada por Charles McKim em 1894 (fig. 09). Grandes estruturas lineares formavam uma rede de eixos através de suas ruas e espaços públicos, em que chegavam ao cour d’honneur que levava ao edifício central, a biblioteca. Diferente das tradicionais faculdades americanas, as novas universidades precisavam de um maior numero de edifícios de salas de aula, laboratórios, bibliotecas, ginásios, entre outros, e a integração dessas ocupações dentro de um campus unificado tornou-se uma preocupação dos planejadores. Columbia, com a aplicação do sistema da Belas Artes, alcançou a unidade e clareza organizacional que forneceu uma solução para esse problema.
Figura 9. Universidade de Columbia. Fonte: http://learn.columbia.edu/ hispanic/essays/beaux-arts.php
O modelo Belas Artes foi adotado por universidades por todo os Estados Unidos, como: Universidade da California em Berkeley, Universidade Rice, Universidade Emory, Universidade de Maryland. Esse movimento foi adotado na América por campi com as mais variadas aparências e arquitetura, mas sempre unidos com a mesma filosofia de implantação e uma ousada clareza organizacional que era o que trazia a expressão do urbanismo no ensino superior da universidade.
A Europa do Século XIX A universidade europeia não teve alterações significantes em seu desenvolvimento de projeto desde a renascença até a segunda metade do século XIX. Universidades europeias foram o assunto de uma explosão construtiva. Chegou um momento em que a maioria das faculdades sempre utilizaram edificações de outros fins, como conventos, residências privadas, entre outros, e estas não supriam mais a demanda que necessitava de locais de estudo e pesquisa de
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qualidade. Então, no século XIX, as premissas universitárias foram reescritas e reconstruídas em velocidade incomparável. Paris recebeu enormes edifícios para a antiga Sorbonne e a nova Escola de Belas Artes; as escolas Suecas de Lund e Uppsala reconstruíram projetos nos anos de 1880, e as universidades alemãs garantiram que suas instituiçòes teriam edificações impressionantes em Halle, Heidelberg, Gottingen, Leipzig, Munich e Karlsruhe. Foi o século XIX na Europa que definiu o estilo histórico de suas instituições. A explosão construtiva foi uma necessidade, mas que ocorreu grandiosamente, resultado de uma alta potencia, alta expressão estrutural, concepções modernas da educação e um espirito de exuberância. Era uma época em que: “Tudo de uma universidade dizia aos jovens: cresçam e pensem alto e se tornem professores!” As novas estruturas universitárias não estavam presas atrás de paredes medievais como nas antigas escolas – Oxford e Cambridge – ou isoladas em algum subúrbio americano, mas agora eram grandes e imponentes estruturas centrais, com simbolismos das cidades. A sinergia da universidade e da cidade trouxe significantes vantagens culturais, apesar de restrito a especificas funções acadêmicas. Todas as funções universitárias estavam locadas em um edifício dominante, exceto as residências, em que instituições maiores não ofereciam. Construção de edifícios acadêmicos estava num patamar de experimentos arquitetônicos acima de acontecimentos sociais, econômicos e políticos do séculos XIX, o resultado disso foram edifícios que acabaram por definir o aprendizado na idade moderna.
Figura 10. UCL. Fonte: http://famouswonders. com/top-universities-in-the-world-top-10-list/
Figura 11. Universidade de Liverpool. Fonte: http://bercodomundo.blogspot.com. br/2012/06/liverpool-2-city-explorers.html
A primeira universidade de Londres foi criada como uma alternativa as tradicionalistas Oxbridge em 1826 pelo arquiteto William Wilkins. Hoje é conhecida como University College London (UCL), e teve em sua arquitetura adotados alguns modelos clássicos elevados em que permitisse ver desde suas fundações permitindo mostrar sua história através da estrutura. Quanto a distribuição de funções, foi condensado em uma unidade harmoniosa em simetria neoclássica com salas de aula, salas de estudo e acessos, e indo ao oposto da arquitetura gótica de Oxbridge (fig. 10). Um pluralismo de estilo ficou evidente no século XIX europeu, sendo um estilo vernácular monumental e simétrico, dominado pelo neoclássico renascentista, exceto na Inglaterra, onde ficou conhecida como “Tijolos Vermelhos” (Redbricks). Expressão ficou conhecida por conta do edifício de tijolos vermelhos e terracota da Universidade de Liverpool. Na Inglaterra, seis cidades mais populosas surgiam com suas instituições no fervor da revolução industrial: a já citada Liverpool, Manchester, Bristol, Leeds, Sheffield e Birmingham. Normalmente financiadas por industrias, as universidades cresciam Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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junto as suas cidades, sendo parte do desenvolvimento público que ocorria.
O Neogótico
O neogótico teve seu inicio na Inglaterra, mas acabou sendo adotado também em outros lugares, como nas universidades da Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Coréia do Sul, mas onde teve seu maior reconhecimento foi na América do Norte, onde aliado aos princípios de planejamento tanto da natureza como das Belas Artes, dominou a partir do ano de 1838, onde teve sua primeira aparição em Harvard. Pelo meio do século, estrutura neogóticas começaram a ser usualmente vistas em campi universitários. Iniciou um desejo de se construir o neogótico para acrescentar “idade” aos campi. Em 1896, presidente de Princeton Woodrow Wilson falou: “construir os novos edifícios no estilo Gótico Tudor, aparentamos termos acrescentado a Princeton a idade de Oxford e Cambridge”. Os edifícios originais das universidades coloniais, apesar de suas idades, não eram símbolos adequados de veneração por causa de sua plenitude. Era a arquitetura medieval apenas que possuía o poder da memória. Em 1910, depois que Princeton iniciou o processo de Gotificação, o Pro Reitor de Graduação, Andrew West, falou: “Sombreamento nos gramados ensolarados, torres e portões abrindo locais tranquilos, paredes verdes crescendo nos jardins... esses são os locais onde os afetos perduram e onde as memórias se agarram como uma planta trepadeira, e estas são as respostas em arquitetura e montagem cênica dos inesquecíveis anseios de gerações Acadêmicas.”
A Revolução Pós Guerra II Guerra Mundial Nos anos que seguiram a segunda guerra mundial, a educação superior teve suas dificuldades por um período. Pela Europa e pelos Estados Unidos, a universidade só voltou a ter interessados nos anos de 1960, quando a geração “baby boom” atingiu a maioridade. As universidades evoluíram, faculdades diversificaram e cursos se multiplicaram. Então surgiu um sentimento geral de consciência que era dever da nação moderna perpetuar e fortalecer a educação. Perceber a mudança na educação superior significa entender que alguns aspectos do planejamento dos campi estão ultrapassados, e foi nos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha que essas mudanças demonstraram mais efeitos. Para os Estados Unidos, esse período foi um dos mais vibrantes para o desenvolvimento universitário. Varias instituições se trans-
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Figura 12. Princeton. Fonte: http://scienceblogs.com/intersection/2009/01/29/arrival-in-princeton/
formaram, em sua própria escala e complexidade, em mini cidades. Le Corbusier observou: “a Universidade Americana é um mundo nela mesma”. O período pós guerra foi de desenvolvimento inebriante para os edifícios universitários, estando conectados ao mesmo tempo com a arquitetura moderna. O termo arquitetura moderna se refere não somente às construções da idade moderna, mas a uma consciência da arquitetura da modernidade querendo mudar. Nos anos que seguiram a segunda guerra mundial, o Estilo Internacional definiu a arquitetura moderna. O estilo pode ser visto como um modelo cubista, e sua forma limpa, com um robusto uso do concreto, aço e vidro, e a regularidade, era a realização de uma nova era social e confidencia tecnológica. Ainda antes da guerra, a arquitetura do Estilo Internacional ganhou seu espaço pelo mundo, mas no uso para universidades e faculdades ficou na controvérsia, já que meio século antes os campi americanos tinham se tornado medievais em influência a Oxbridge. Apenas alguns colegiados modernos surgiram com novos designs desse novo estilo, como Mies Van der Rohe no Instituto de Tecnologia de Illinois, e Frank Lloyd Wright na Faculdade do Sul da Florida. E foi apenas depois da guerra que o idioma moderno ganhou realmente força na arquitetura universitária
Figura 13. Maquete do Centro de Graduação de Gropius, Harvard. Fonte: http://jvillavisencio.blogspot.com.br/2011/03/
Gropius veio com um novo direcionamento de planejamento em Harvard. O Centro de Graduação de Gropius, completo em 1950, consiste em oito blocos retangulares agrupados em volta de uma série de pátios informalmente conectados (fig. 13). Essa era a forma Modernista, reflexo de considerações práticas como permitir o máximo de luz e ventilação natural. Os dormitórios eram conectados por pontes e passarelas cobertas. O Centro de Graduação proclamou um manifesto da arquitetura pós guerra: “herança e contexto institucional não devem impedir planejamento de campus, a não ser que Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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de uma forma abstrata. A identidade e senso de continuidade que era tão prezada em campi pré guerra agora são renunciados”, ainda que o Centro reflita os mesmo valores sócio educacionais do século passado. De acordo com Gropius: “morando nesse conjunto de edifícios, um jovem pode inconscientemente absorver ideias que pareçam abstratas em salas de aulas, mas quando vistas no concreto, vidro, luz, assumem uma realidade”. Novos prédios de arquitetura moderna começaram a surgir em grandes universidades desenhados por grandes nomes da arquitetura: Alvar Aalto desenhou o dormitório ‘Baker House’ no MIT; Le Corbusier projetou o Carpenter Centre for the Visual Arts em Harvard; e Louis Kahn projetou o Yale Art Centre. Cada um deles possuía sua própria arquitetura, não se parecendo entre si ou com outras edificações das universidades que se encontravam. Essas estruturas marcantes representavam não apenas o triunfo do estilo modernista, como também um novo estilo de planejamento que se aproximava aos campi americanos. Tradicionalmente, campi são moldados por um masterplan, que especifica suas formalidades, guiando a implantação e aparência geral dos edifícios, como um plano diretor. Com o crescimento do modernismo, arquitetos se afastaram dessa tradição. O crescimento não podia ser represado por um conjunto de regras, e o masterplan convencional foi se modificando aos poucos em favor a algo com informações mais fluidas e informais de planejamento. Novas estruturas assumiram formas individuais sem seguir qualquer regra e na implantação desejada, era um modelo assumindo a construção emergente. A composição espacial e coerência visual dos campi perderam seu valor. Novos tipos de campi continuavam a surgir nos Estados Unidos, um componente influente em sua concepção era circulação, tanto pedestre como veicular. Um exemplo disso foi o campus da Universidade de Illinois em Chicago, onde o arquiteto optou por desenhar passarelas elevadas para os pedestres, adicionando uma camada de tráfego acima de nível conectando ao núcleo do campus. O núcleo era uma rede de edifícios de diferentes alturas, modelos e relações entre si. Em vez de dividir o campus por faculdades, a inovação desse campus foi organizar por funções, todo o setor administrativo estava localizado em uma torre, as salas de aulas em outro edifício, laboratórios em outro, e assim por diante. Esse sistema era a solução do isolamento em que o campus anteriormente experimentava. Forçando que alunos e professores andassem para salas, laboratórios, ou bibliotecas, criava-se a oportunidade do contato social entre os membros da universidade. Em sua abertura em 1965, esse campus foi considerado como um protótipo da Universi-
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Figura 14. Yale Art Centre. Fonte: http://www.archdaily.com/
dade Urbana Americana do Século XXI. Em 1957, o Estado da California decidiu criar três novos campi universitários que seriam de Santa Cruz, San Diego e Irvine. Cada um tinha a proposta de crescimento de grandes universidades até 27.000 estudantes cada. O presidente do sistema universitário do estado estava determinado que para ajudar na grandeza desses campi, seria necessário buscar a intimidade que existia nas faculdades. Em afirmação sua: “Um campus grande falta a inestimável virtude em que as pequenas escolas de artes liberais consideram como um marco: a ênfase no individuo, onde pequenas salas de aulas, um ambiente residencial e um sentimento forte no relacionamento entre uns e outros e o campus pode ajudar bastante. Cada um desses novos campi é um experimento em combinar as vantagens do grande e do pequeno”. Desses campi, o que mais prosperou foi o de Santa Cruz, este representou um novo fenômeno no planejamento de campus. O novo conceito era que grandes proporções do campus deveriam ser construídas ao mesmo tempo, e não em pequenas partes. Essa aparição de novos campi caracterizada pela unidade e totalidade foi desenvolvida pelo pós guerra, e mais uma vez transformou a educação superior, principalmente dos Estados Unidos. A ideia que faculdades deviam ser uma comunidade começou a ser traduzida por arquitetos, sendo interpretada a escola como uma pequena cidade italiana. Dormitórios, salas de aula, e refeitórios, se abrem para pequenas ruas cultivando o sentimento de intimidade, em que se formavam praças onde se criava os espaços de socialização. Esse era o momento de alinhamento de reforma educacional e o novo pensamento arquitetônico, os anos 1960. Na Inglaterra, o sistema universitário sempre foi dominado por Oxford e Cambridge desde o século XIII, tendo uma outra geração de universidades surgido apenas a partir de 1826 com a UCL e as Redbricks. O pós guerra foi o momento de mudança e que trazia a terceira geração de universidades para o país, sendo também a de maior crescimento. O número de universidades mais que dobrou (22 para 46), e de estudantes: a contagem era 108.000 em 1960, atingiu 228.000 em 1970. Eram conhecidas como as Novas Universidades, e exemplos delas eram: Sussex, Lancaster, York, Essex e Kent. A construção acelerada dessas universidades lideraram o avanço da arquitetura inglesa dos anos que seguiram, construções em grandes campos verdes sem restrições urbanas, não seguiam nenhuma ordem às antigas universidades britânicas. Adotaram o sistema de construção em massa, permitindo que arquitetos mostrassem suas novas teorias de planejamento e projeto, buscando a melhor solução que resolva as prioridades da educação superior. Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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Em Sussex, Basil Spence utilizou princípios vindos de Oxbridge, como as colunatas, locais de encontros de amigos. Também idealizou pátios interligados, sempre privilegiando o senso de comunidade no campus. O arquiteto entedia que recém ingressos ainda eram adolescentes que buscam proteção dentro dos edifícios. A universidade deveria ser a comunidade ideal, esse era o conceito que o pós guerra trazia tanto na Inglaterra como em outros países.
Pós Modernismo Desde então, pelo mundo, arrisca-se dizer que o desenho de universidades não se define mais por inovações em planejamento, mas por arquitetura exuberantes. Vários arquitetos fizeram seus nomes por edifícios singulares, porém impactantes em algum campus já existente, nos séculos passados, agora, com crescimento do pós modernismo engradecendo os arquitetos e seus edifícios icônicos, estes também gostariam de ter suas marcas. Com a proliferação da mídia em massa, os edifícios passaram a ser as próprias celebridades, se tornando também fontes de renda para as cidades em que estavam. Os campi universitários também são cenários para projetos que chamam a atenção, alguns surgem com novos edifícios de visual totalmente diferenciado a toda a história da universidade. Os edifícios icônicos vem com um potencial de incitar a curiosidade e reverência, sendo também uma forma da universidade de se colocar no mapa da arquitetura contemporânea.
A Universidade do Brasil O ensino superior no Brasil não teve seu início em Universidades, mas em estabelecimentos isolados de ensino que eram voltados à formação especializada e profissionalizante. Estas instituições nascem ainda no período da coroa, sob a tutela do Estado, e fica a cargo destes e iniciativas particulares, a criação de faculdades pelo país, mesmo após a instalação da República. O período até a Revolução de 1930 caracteriza-se por reformas constantes na educação. Este é o primeiro momento que se identifica a possibilidade de reunir os estabelecimentos e faculdades existentes para criar uma Universidade. Em 1920, surge a primeira instituição com o titulo de Universidade do Brasil, a Universidade do Rio de Janeiro. Na Revolução de 1930 e o Estado Novo, com a promulgação do Estatuto das Universidades Brasileiras em 1931, as universidades passam a ter suas formas de organização consideradas aceitáveis:
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A universidade e o instituto isolado: Autonomia administrativa, didática e disciplinar. Eram criadas a partir da reunião de faculdades existentes. (Universidade do Brasil, Rio de Janeiro – 1937) Unidade de formação geral e humanista de caráter não profissional, que funcionava como órgão central de integração dos diversos institutos universitários. (Universidade de São Paulo – 1934) A Universidade do Rio de Janeiro seria a universidade padrão em esfera federal, tendo o poder do controle de qualidade do ensino superior do país. Em 1947, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) começa a funcionar com um formato inteiramente novo no país, e de grande avanço para o ensino brasileiro. O ITA introduziu a estrutura departamental, o currículo flexível, a pós graduação, e o regime de dedicação exclusiva da classe docente ao ensino e à pesquisa, sendo influenciado pelas universidades americanas e inglesas em que os professores e estudantes residiam no próprio campus. Essa mudança iniciada pelo ITA, influenciará a criação da Universidade de Brasília (UnB) em 1961. Até que se atinge a Reforma Universitária de 1968, que foi o ponto marcante de modernização do sistema universitário. Aliado a algumas mudanças já oferecidas pelo ITA, como o sistema departamental e a pós graduação, outras mudanças estruturais importantíssimas estavam sendo implantadas nas universidades brasileiras: vestibular unificado, ciclo básico, sistema de créditos, matrícula por disciplina, carreira do magistério. E, finalmente, a Reforma determinava que a organização do ensino superior fosse em forma de universidade, em detrimento à unidade isolada que era comum no País, determinando a necessidade de uma maior integração entre as unidades acadêmicas existentes para formação das universidades como forma de unidade de produção. “A Cidade Universitária foi o modelo físico indicado para a universidade pública brasileiro como um meio para otimizar recursos humanos e instalações e promover o convívio, fazendo surgir o “espírito universitário”. O convívio dos professores e alunos das diversas Faculdades, Escolas ou Institutos seria favorecido, entre outros fatores, pela proximidade dos edifícios e construção de vilas universitárias” (CABRAL, 2004, p.8 apud OLIVEIRA 2005, p 22) A organização espacial quase sempre está relacionada à importância da promoção ao convívio e integração universitária, sendo o espaço um dos meios imprescindíveis à formação do tão falado espirito universitário. No plano ideal, se via uma universidade com todas as unidades em Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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um mesmo território, tendo completa integração acadêmica e facilitando a convivência do corpo discente e docente. Esse convívio ainda seria favorecido pela existência de equipamentos comuns, como edifícios de uso administrativos, biblioteca, restaurante, auditórios, ginásios, e as residências estudantis, todos com a intenção de estimular a máxima permanência da comunidade dentro do local da universidade. Essa nova forma de se enxergar a universidade cria um espaço exclusivo para ela, desvinculado do espaço urbano, é a criação da Cidade Universitária, que mais tarde irá configurar em quase os mesmo moldes o campus universitário, mas cada um com suas especificidades.
A Cidade Universitária Ambiente para criação de um “espirito universitário”, em que favoreça a integração de suas unidades e promova o convívio de professores e alunos. Concentrava todos os institutos escolares num mesmo recinto, unindo a população escolar. O programa ainda incluía um local de atividades comuns, de edifícios administrativos centrais, biblioteca, auditório, centro comercial e social da comunidade universitária.
Figura 15. Relação Cidade Universitária e Campus Fonte: Elaborado pela autora
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Esse modelo de cidade universitária permanece como modelo organizacional do espaço físico das universidades até os anos 1960, até que novas alterações estruturais ocorrem na educação superior por conta da Reforma e refletem na sua organização espacial.
O Campus Universitário A primeira expressão do campus universitário apareceu no ITA, inspirado no sistema universitário norte americano. O modelo pedagógico previa uma convivência contínua, formando uma verdadeira comunidade acadêmica entre os mestres e alunos. Essa nova forma organizacional exigia uma maior integração entre as unidades acadêmicas, principalmente depois da Reforma Universitária de 1968, que transformou a estrutura em uma matriz baseada no funcionamento de departamentos e regime de créditos. Assim, a implantação desse modelo exige grandes terrenos, principalmente com o pensamento para futuras expansões, e por conta disso muitas vezes existiam apenas terrenos nas periferias. Foi comum também a transformação de faculdades de agronomia, por já existir um terreno extenso, em um campus, como ocorreu aqui no Ceará. Por ter uma implantação afastada da cidade, o campus acaba sendo um elemento a parte, que se volta para dentro do terreno, deixando os limites de sua área como território de expansão. O planejamento do campus se torna puramente uma questão de urbanismo. No Brasil, são três tipologias que basicamente formulam o espaço universitário no país: MALHA: ordenadora do campus como um tudo, indo até a escala do edifício. LINEAR: baseada no modelo de cidade linear, com um eixo central e equipamentos de apoio. NUCLEAR: Inspirado na cidade jardim, através de zoneamentos concêntricos. Esta é a tipologia utilizada na Universidade Federal do Ceará.
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A Universidade do Ceará “O Reitor, em seu discurso de posse, fez uma análise realista sobre o homem, tendo em vista a missão da Universidade, não só em relação à tecnologia, mas, principalmente quanto ao progresso das ciências, das letras e das artes. Tenho a convicção de que o Reitor vai surpreender. Ele saber o que quer...” José Martins Filho, sobre seu irmão, o Reitor Antônio Martins Filho, em “O Outro Lado da História”, p. 51.
O Início da Universidade A Universidade do Ceará nasce como uma ideia na década de 1940, sendo o produto de uma longa maturação fantasiosa de poucas cabeças, liderados por Antônio Martins Filho durante uma década de movimentações, para ser oficialmente criada em 16 de dezembro de 1954 pela Lei nº 2.373, e instalada em 25 de junho do ano seguinte. (OLIVEIRA, 2005) A criação da Universidade do Ceará foi vinculada aos estabelecimentos de ensino já existentes na cidade de Fortaleza na época, três eram instituições federais – Faculdade de Direito (1903); Faculdade de Farmácia e Odontologia (1916); e Escola de Agronomia (1918) – e os demais eram particulares – Faculdades de Ciências Econômicas (1936); Faculdade de Medicina (1948); Escola de Enfermagem S. Vicente de Paula (1943); Faculdade Católica de Filosofia (1947); e Escola de Serviço Social (1950), sendo as três últimas estabelecimentos ligados à Igreja Católica. Em 1953, Martins Filho, articula-se junto ao Governo Federal para a formação de uma Universidade de cunho Federal. Quando a Lei 2.373 é promulgada no fim do ano de 1954, as unidades de ensino superior mantidas pelo governo federal – Direito, Agronomia e Farmácia e Odontologia – e a Faculdade de Medicina, entidade particular que foi federalizada naquele ato, passaram a constituir a Universidade do Ceará. (OLIVEIRA, 2005) Inicia então o processo de reconhecimento da Universidade aos meios externos e internos, para isso sendo necessária a identidade de unidade e autoridade sendo concentrada na figura de um reitor, posto assumido pelo próprio Martins Filho. A formação de um espaço universitário foi também um dos principais momentos no processo de criação de identidade da Universidade, dando existência de fato à instituição. Foi adotado um modelo de reunião das faculdades dispersas na malha urbana, concentrando as instalações em três áreas distintas a partir de imóveis pertencentes às faculdades que lhe deram origem: dois imóveis no Centro da cidade – da Faculdade
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Figura 16. Esquema de localização das Faculdades. Fonte: Elaborado pela autora
de Medicina e da Faculdade de Direito; e dois terrenos maiores: um no Porangabuçu, doada ao Instituto Médico para construção de um hospital-escola; e um outro sítio no Pici, onde estava instalada a Escola de Agronomia. (OLIVEIRA 2005; CAMPÊLO, 2012) Essa divisão é o início do arranjo institucional da Universidade por todos os anos que viriam, descentralizado, fragmentado e poli nucleado. Apesar da importância das outras unidades dos campus da Universidade, este trabalho irá focar especificamente na problemática do Campus do Pici, focando então também apenas em seu histórico e diagnóstico, relacionando aos outros apenas quando necessário.
O Sítio do Pici A origem do Pici está ligada a Escola de Agronomia, que inicialmente funcionou no edifício do antigo Liceu do Ceará, mas por precisar de terrenos em condições específicas, locais para laboratórios, entre outras especificidades, adotou o Sítio do Pici como local da Escola. O Pici localizava-se no distrito do Antônio Bezerra, às margens da estrada para Sobral, e ao fim da linha do bonde de Fortaleza, junto a Lagoa da Pajuçara, possuía então o que era necessário para a Escola de Agronomia: presença de água, terra fértil, baixo custo: aptidão para o trabalho agrícola. Em 1937, a Escola de Agronomia funcionava por completo no Pici. (OLIVEIRA, 2005) Durante a formação da Universidade do Ceará, muitos professores da Escola de Agronomia tiveram receios por estarem com o maior patrimônio entre as instituições fundadoras, mas foi garantido por Martins Filho o respectivo retorno a cada uma das instituições. Com a conquista do espaço universitário, vários terrenos desocupados existentes do entorno foram anexados, com a visão de o Pici abrigar uma futura cidade universitária, em que centralizasse o poder da universidade. Esta foi uma condição avaliada no modelo de outros locais, como a Universidade de São Paulo (USP), ou o Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA). (OLIVEIRA, 2005; CAMPÊLO, 2012) O Pici era constituído por sítios: o Sítio do Pici, que foi doado à Escola de Agronomia, como já dito antes, para utilização do território em suas especificidades de estudos; uma área em que serviu de pista de pouso e área de comando para os americanos na Segunda Guerra Mundial (1940), e depois foi incorporada a área da universidade. Inicia então o desejo de um planejamento para a região, para finalmente criar um espaço universitário.
Os Planos de Desenvolvimento da Universidade A definição da sede da Reitoria seria o momento que firmaria a existência da Universidade, consolidando perante a sociedade um Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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edifício de poder à instituição. Era uma preocupação do Reitor Martins Filho, a da criação de uma identidade própria, desvinculada da imagem das faculdades que lhe deram origem. A primeira sede da Reitoria foi na rua Senador Pompeu, em bangalô alugado próximo a Faculdade de Direito, no ano de 1955, mas já no ano seguinte, veio a ser de conhecimento do Reitor que a Chácara da família Gentil, localizada na atual Avenida da Universidade, estava a venda. (OLIVEIRA, 2005) Em abril de 1956, o Palacete da família Gentil, no bairro do Benfica, se torna a sede da Reitoria, e permanecerá como o principal ícone de identidade da Universidade Federal do Ceará até os dias de hoje. Tendo seu ícone de poder colocado na região do Benfica, a Universidade como um todo ganhou materialidade e fincou raízes naquele território. A Universidade consolidou sua identidade no bairro do Benfica, mesmo que sem um plano de ocupação definido, a determinação foi de ocupa-lo a partir da demanda e da necessidade, deixando que se criasse sua própria forma. Martins Filho, com a ideia de uma dinâmica na administração da Universidade, realizou três seminários de ensino para fomentar o espírito universitário entre os professores. O Seminário Anual dos Professores movimentou as unidades universitárias e o corpo docente, criando uma vontade conjunta em traçar diretrizes de desenvolvimento para a instituição, surgindo a necessidade de um planejamento a longo prazo. “O primeiro deles, realizado em 1959, disseminou uma ideologia comum de que como instituição do Ceará deveria se voltar para os problemas do meio, enquanto que como universidade teria de cultiva o saber em sua intrínseca universalidade, devendo, assim, a Universidade do Ceará alcançar – O Universal pelo Regional – adotado, então, como lema.” (OLIVEIRA, 2005, p. 98) Em 1960, ocorre o segundo seminário, com o objetivo de elaborar um “Planejamento para Seis Anos”. Foi a primeira vez no Brasil que uma universidade se preocupou em planejar o período dos próximos dois mandatos, tripé de atuação da comunidade universitária: ensino, pesquisa e extensão. E em 1961, o último seminário, promoveu a revisão de todos os estatutos da Universidade, tendo as devidas recomendações resultantes dos seminários anteriores. Também foi nesse momento em que as Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras e os Institutos Básicos – Química, Física e Matemática – foram criados, dando uma nova estrutura organizacional ao ensino da Universidade. Paralelamente aos eventos que ocorriam dentro da Universidade,
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no País as universidades federais em geral estavam crescendo por pressão de uma demanda crescente. Foi então com a Reforma Universitária de 1968 que se estabeleceram as condições institucionais para a efetiva criação da instituição universitária no Brasil. A Reforma baseava-se nos seguintes princípios: [1] Era vedada a duplicação de meios para fins idênticos ou equivalentes; [2] Determinava a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa; [3] Obrigava a concentração do ensino e da pesquisa básicos, tendo um sistema comum para toda a universidade; [4] Criava uma unidade voltada para a formação de professores e de especialistas em questões pedagógicas. Esta exigência acabou por fragmentar a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, se dividindo em unidades individualizadas, e foi criada a Faculdade de Educação. A Universidade do Ceará, a partir do ano de 1965 passa a ser denominada Universidade Federal do Ceará (UFC), e foi a sétima universidade federal criada no País. Este foi o momento visto como necessidade de um planejamento, e dá-se início a era dos Planos de Desenvolvimento da Universidade, muitas vezes conectados aos Planos de Financiamento Internacionais ou Nacionais.
Plano de Desenvolvimento – 1966 / 1970 A realização de um plano de desenvolvimento para uma universidade jovem, em região em desenvolvimento se mostra de grande complexidade, por estar em constante modificação de novas demandas, e em constante crescimento. Na primeira década de existência da UFC, o ritmo de expansão foi acelerado e perceptível quando analisada sua evolução. Nesses anos, considerando a quantidade de alunos matriculados na graduação, o aumento foi de quatro vezes. Enquanto a Universidade iniciou com apenas quatro unidades acadêmicas, em 1965 já existiam 32 unidades, incluindo faculdades, escolas, institutos, cursos e programas especiais. Esses dados faziam com que a Universidade gritasse por um planejamento. O desenho de uma universidade seria o resultado de um ordenamento de suas divisões acadêmicas, movimentações, circulações de pessoas que estariam conectados por um zoneamento focado na funcionalidade e flexibilidade. Este instrumento, o zoneamento, é a melhor maneira de atingir uma maior organicidade e funcionamento ideal da instituição. A partir de estudos de campi de fora, como já mencionado, o Reitor Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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Figura 17. Plano de Desenvolvimento 1966/1970. Fonte: CAMPÊLO, 2012, atualizado pela autora.
Martins Filho estabelece contato com o arquiteto Hélio Queiroz Duarte, com o ideal da construção da cidade universitária no Pici, e a unificação das três regiões. Porém, por embates na região do Pici, ou por negociações sem sucesso, não se torna possível essa unificação, e por a Universidade já estar no fim de sua primeira década, o momento de afirmação de seu espaço se torna crucial. Então surge o Plano de Desenvolvimento 1966/1970 que afirma o espaço como ele vinha sendo, três setores distintos da cidade: o Benfica, o Poragabuçu e o Pici (Fig. 17) O Setor A fica situado no bairro do Benfica, onde estavam as unidades de Ciências Sociais, Educação, Letras, Artes e os órgãos Administrativos da UFC. A localização mais próxima ao centro da cidade facilitava o atendimento ao público em programas de extensão. O Setor B seria localizado no bairro do Porangabuçu, sendo focado nas unidades das Ciências Biomédicas, pois já estavam a maior parte dos investimentos imobiliários por conta da construção do Hospital das Clinicas. Para consolidação completa, era necessário a conclusão do edifício da Faculdade de Farmácia, e a construção de novas instalações para a Faculdade de Odontologia e Faculdade de
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Figura 18. Primeiro zoneamento do Pici. Fonte: Base do Plano de 1966/1970, atualizado pela autora.
Medicina. O Setor C compreendia a região do Pici, onde já estavam as instalações das Ciências Agrárias, e que seriam realizadas construções do Centro de Tecnologia e dos Institutos Básicos, que estavam sendo transferidos do Benfica. Por situar-se perto do Setor B, os estudantes do núcleo biomédico não teria dificuldade em acessas os institutos para seus cursos básicos. Os princípios desse primeiro plano eram de integração e expansão, por isso os três campi foi considerada uma contradição, mas os investimentos já feitos não poderiam ser desperdiçados. As premissas de projeto eram: zoneamento funcional, uniformidade dos usos para nova organização espacial e a vocação funcional de cada uma das três áreas (CAMPÊLO, 2012). A expansão das atividades da Universidade seria impossível sem o acréscimo de mais elementos a sua dinâmica, como mais edificações, laboratórios, mobiliário complementar e a parte de infra estrutura (serviços de água, esgoto Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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Figura 19. Zoneamento MEC-BID I. Fonte: CAMPÊLO, 2012, atualizado pela autora.
e energia), bem como a urbanização das áreas de localização das novas instalações. Com uma previsão de expansão futura para o Setor C, o zoneamento proposto nele foi feito abrangendo uma área maior do que a que pertencia à Universidade na época, pois deveria abrigar toda a Universidade. Também foi pensado um expansão de dentro para fora, onde o primeiro núcleo instalado foi ao centro do terreno, para então ocorrer o processo expansivo aos limites dos muros. Um único ponto de acesso por uma via principal que se liga até uma via periférica ao núcleo central do campus, onde constava as unidades básicas. A proposta tentava se articular com a estrutura urbana (fig. 18). Devido a dificuldade de conseguir recursos para implantação do novo Plano, não só na UFC, como em todas as unidades federais que passavam por situações complicadas orçamentárias, o Plano de 1966 passou a ser parte integrante do projeto de financiamento
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submetido ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em 1965. O projeto demonstrava a necessidade de criação de um ambiente favorável à convivência universitária e ao inter-relacionamento acadêmico em atendimento às unidades que seriam inicialmente implantadas. O zoneamento proposto foi de aproximar aqueles blocos que houvessem mais afinidades entre os diversos institutos, criando um sistema de fluxos mais seguro e uma comunicação entre edifícios mais clara (fig. 19). No projeto, também contemplava uma espécie de centro de lazer, com restaurante e outras facilidades, para uso da população inicialmente prevista. E por último, deveria contemplar uma quantidade de estacionamentos compatível com o uso estimado no local. Dessa forma, o espírito universitário ia surgindo, aos poucos definindo os espaços de vivencia de acordo com a dinâmica que ia acontecendo no uso do campus. Os projetos foram padronizados para aqueles programas de usos semelhantes: blocos de salas de aulas e salas de professores dos Institutos e da Escola de Engenharia. A demanda dessas unidades foram feitas nesse sistema de blocos, , assim eram caracterizados na época: [1] Bloco de Administração (AD): bloco de dois pavimentos, destinado aos serviços administrativos. O pavimento superior deveria ser ocupado pela biblioteca, reuniões de professores e congregação. [2] Bloco de Salas de Aula (SA-1): composto por 4 salas de aula para 50 alunos cada e respectivo conjunto sanitário. [3] Bloco de Auditório (SA-2): auditório para 200 pessoas e cabine de projeção, com curva de visibilidade e tratamento acústico. [4] Gabinete de Professores e oficinas leves (GP): bloco de dois pavimentos para gabinete de professores, podendo o pavimento térreo ser utilizado para oficinas leves. [5] Bloco de Laboratórios Didáticos e de Pesquisas (LB/DP): bloco de 2 pavimentos, com 4 laboratórios didáticos no térreo e, no superior, 6 laboratórios de pesquisas. [6] Bloco de Oficinas (OF): dotado de pé-direito alto para máquinas e mezanino para salas de pesquisadores e pequenas oficinas. [7] Bloco de Cantina (CA): bloco composto de uma área livre para estar e recreação e pequeno reservado para serviços. Em termos de construção, buscou ao máximo a utilização de elementos também padrões, que deixassem clara as características Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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Figura 20. Zoneamento Nuclear de 1970. Fonte: Arquivo UFC apud CAMPÊLO 2012, atualizado pela autora.
de construção da mesma época entre os blocos. O principio estrutural adotado foi em concreto armado com materiais aparentes sem revestimento, e a cobertura plana, com telha de amianto. Essa facilidade no sistema construtivo gerava construções simples que seriam executadas em tempo curto, modelo que também estava sendo usado durante o mesmo período nas Escolas Americanas, como já citado sobre o campus de UC Santa Cruz, em que a rapidez da construção de um campus passou a ser o elemento mais importante dentro da estrutura de planejamento. O Plano de Desenvolvimento 1966/1970, feito com o recurso do Banco Interamericano de Desenvolvimento em negociação com o Governo Brasileiro para melhor do ensino superior no País – conhecido como “Acordo MEC/BID I”, teve suas primeiras obras concluídas no Setor C voltado para a área da Tecnologia – Escola de Engenharia e alguns dos Institutos Básicos. Devido à Reforma Universitária de 1968, o Plano já necessitava de algumas alterações desde sua primeira proposta, pois agora a unidades deviam ser departamentais
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e atender a todos os cursos, era a tentativa de não fragmentar o campus em cada curso dentro do seu próprio edifício, mas que houvesse algum movimento e interação entre eles. Em 1970, uma nova proposta é apresentada, com base em um zoneamento não mais por cursos, mas por grandes áreas de conhecimento, distribuídos em volta do núcleo do ensino básico, que também estavam as atividades administrativas, esportivas, de lazer e vivência. Cada uma dessas zonas estava resguardada por um “anel protetor” criado externamente em torno delas – lembrando a tipologia de campus nuclear descrito no início sobre universidades brasileiras. O campus ia de dentro para fora, tendo o núcleo básico mais ao meio, e as unidades de ensino profissional em sua volta, como uma área protetora transformada em parque, assemelhando os conceitos de cidades jardim, nos setores mais externos estariam implantados as atividades e equipamentos voltados para uso da sociedade, firmando ali a comunidade universitária. Infelizmente, o investimento pleiteado contemplou apenas a implantação de dois setores: dos Institutos Básicos e do Instituto de Tecnologia.
Plano Diretor do Campus Universitário 1979 A Universidade Federal do Ceará chega ao final da década de 1970 sem êxito de implantação de um plano definitivo, e ainda continua com a conformação de um campi segregado em três áreas distintas da cidade, situação esta que permanece até hoje. Em 1979, com o inicio de uma nova administração, e ainda questionamentos e discussões sobre a Reforma Universitária, pois as unidades estavam se transferindo para o território do Pici, inicia-se um movimento de elaboração de um Plano Diretor do Campus Universitário, para deliberar o que viria a ser o território da universidade definitivamente. Então, um novo plano começou a ser projetado, em que este contaria com a participação de representação política das várias unidades da Universidade na condução, como uma tentativa de dotar o campi de uma estrutura definitiva. O objetivo geral do Plano Diretor do Campus Universitário era elaborar um planejamento do espaço destinado às atividades universitárias, que envolvessem a população estimada do campus, que contavam cerca de 30.000 pessoas. Como outros objetivos estavam: garantir a ampliação da capacidade didática até o limite do dimensionamento pré-estabelecido e permitir a instalação definitiva de todas as unidades no campus. Pretendia-se também fazer uma tentativa de comunicação entre o campus e a cidade, estabelecendo uma maior relação nas áreas universitárias com a malha urbana da comunidade, de um modo que não comprometesse sua Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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proteção quanto ao crescimento urbano periférico, definindo seus limites por vias de contorno. Desfazendo-se da utopia de um campus único e integrado, esse Plano Diretor concluiu que a Universidade Federal do Ceará já havia assumido e fincado território nos três territórios em que iniciou sua história, então resultou num zoneamento funcional distribuído por essas três áreas: Área 1 – Localizada no Pici, com instalações da Administração Superior (Reitoria e Órgãos Complementares), Setor Esportivo, Setor de Vivência (incluindo Biblioteca Central e o Restaurante), Setores Habitacionais (para servidores) e os Centros de Ciências, Humanidades, Estudos Sociais Aplicados, Ciências Agrárias e Tecnologia. Área 2 – Localizada no Porangabuçu, com instalações do Centro de Ciências da Saúde e áreas de vivencia relativas ao Centro. Área 3 – Localizada no Benfica, com instalações ligadas às atividades de extensão e artístico-culturais (Museu de Arte, Centros de Cultura, Setores de Música, Teatro e Cinema, Concha Acústica e o atual prédio da Reitoria para atividades de extensão), a Imprensa Universitária e Residências Universitárias. Tendo estabelecido a Universidade definitivamente em três áreas distintas, procurou garantir a integração entre elas, trabalhando o sistema viário externo e interno, e suas vias de ligação, almejando que o Campus ficasse integrado ao sistema viário da cidade através de seus corredores de ligação. Neste Plano, mesmo não tendo unificado toda a estrutura do campus universitário todo em uma área, tentou-se levar a maior parte para a Área 1, tentando acomodar cinco dos seis Centros existentes na época, além das atividades administrativas. O único que se manteve afastado foi o Centro de Ciências da Saúde, devido aos altos investimentos já feitos no terreno da Área 2, como principalmente a existência do Hospital. O projeto previa uma via principal de circulação de funcionamento exclusivo de um sistema de transporte público exclusivo da Universidade, e a partir desta via e de outros sistemas de ligações internos iria se definindo o zoneamento setorial. As demais vias eram chamadas de vias de penetração que conduziam aos estacionamentos setoriais, em que evitavam cruzamentos indesejáveis e asseguravam a separação entre tráfego de veículos e pessoas de modo a garantir segurança ao passeio de pedestres (fig. 21). Na intenção de promover uma maior integração entre o campus e a cidade, esse novo zoneamento propôs utilizar uma área maior que
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Figura 21. Zoneamento Plano Diretor 1979. Fonte: Arquivo UFC apud CAMPÊLO 2012, atualizado pela autora.
a dos terrenos até então pertencentes, para que se permitisse utilizar as próprias ruas do sistema viário básico como os limites do Campus. As desapropriações previstas permitiriam definir um contorno servido de importantes vias da malha urbana, e fosse possível conectar o campus às áreas mais importantes da cidade através do transporte público. Ao contrário da proposta de 1966/1970 que acreditava que o Campus podia ser uma forma integrada à cidade através da continuidade das vias e dos fluxos, a proposta do Plano Diretor de 1979 apresentava uma ideia do Campus protegido em relação à cidade através do anel periférico. Outra proposta do Plano era a implantação de conjuntos habitacionais para professores e servidores em três regiões distintas situadas na interface do campus com a cidade. Estas habitações não seriam construídas pela própria Universidade, mas com um financiamento dos programas específicos do Sistema Financeiro da Habitação. Essa implantação era uma forma de estimular a criação de uma zona acadêmica, em que criassem limites de uma zona de transição protegida entre a área do campus e a vizinhança imediata. Como forma de lazer, foi pensado num Setor de Vivência às marPlano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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gens do açude Santo Anastácio, aproveitando o potencial da região da faixa de preservação dos recursos naturais e paisagísticos, integrando a população universitária à comunidade de habitantes da cidades que surgia logo em seguida. Já no Plano como um todo, para as unidades foram previstas áreas de expansão ou remanejamentos, considerando a própria vitalidade da instituição. Então, as sete tipologias propostas no Plano de Desenvolvimento anterior deveriam ser revistas em função das novas formulações programáticas em desenvolvimento. Mesmo com todos os planos e projetos, a área do Pici, pensada como local de unificação territorial da UFC, ainda estava resultando em ocupação dispersa. Os primeiros investimentos feitos no Acordo MEC/BID I consolidaram um núcleo mais denso ao centro do terreno, em que agora assumiam a identidade de três Centros – os de Ciências, de Tecnologia e de Ciências Agrárias. Parte deste último ainda estava espalhado pelo restante do terreno, alguma ainda estando no setor anterior ao açude, em que futuramente iriam receber instalações administrativas da Universidades, mantendo a arquitetura dos prédios mais antigos existentes no Campus. A dispersão aumentou quando o setor esportivo iniciou sua construção na outra extremidade do Campus, deixando um grande vazio entre os Centros. Além da problemática do área do Pici parecer dispersa e vazia, devido a novas gestões da Universidade inicia um embate que impede as unidades da área 2, do Benfica, a mudaram para o Pici. Em argumentos como da história da Universidade ter iniciado no bairro e a Reitoria no Palacete Gentil ser o ícone mais reconhecível pela sociedade como Universidade Federal do Ceará, as unidades ali permaneceram. Para a implantação do Plano Diretor de 1979, a Universidade recorreu ao Ministério de Educação e Cultura pleiteando recursos para seu financiamento, conseguindo no início do Programa MEC/BID III em 1983. Foi definido como prioridade os investimentos na Área 2 – Porangabuçu – para a consolidação do Centro de Ciências de Saúde. O investimento também foi direcionado para a Área 1 – Pici – para reformar os blocos já existentes, seguido do investimento na ampliação da infra estrutura do campus para receber os dois novos Centros que deveriam ser transferidos do Benfica – Centro de Humanidades e Centro de Estudos Sociais Aplicados. Foram construídos 13 novos blocos e reformados 5 edificações existentes com o Programa MEC/BID III.
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Os investimentos relacionados ao Centro de Tecnologia contemplaram apenas os departamentos das áreas de Engenharia, pois eram aqueles que estavam locados na região do Pici. O curso de Arquitetura e Urbanismo estava instalado no Benfica, em território em frente a Reitoria, onde permanece até hoje em nicho isolado, por um histórico dos arquitetos se afirmarem com formação diferenciada dos engenheiros, sendo contra a ideia de sua transferência para o outro campus. O Curso de Arquitetura e Urbanismo, ironicamente, mesmo que alguns de seus professores tivessem participado da execução dos planos já descritos, foi um dos representantes a resistência de conseguir transformar a UFC num território unificado e atingir os ideais que vinham desde a Reforma Universitária. Outro momento de resistência se instalava na Faculdade de Direito, que passou a liderar um movimento de tentativa de retorno à sua condição inicial de Faculdade. Em 1986, o Centro de Estudos Sociais Aplicados é extinguido, criando as faculdades de Direto, Educação e de Economia, Administração e Contabilidade, a partir de então a Universidade passa a ser constituída de cinco Centros e três Faculdades. Com esse movimento, surge o questionamento quanto a transferência dessas unidades para o Pici, provocando ainda atrasos nos projetos. Quando finalmente os projetos das Faculdades e do novo Centro de Humanidades para o Campus do Pici ficaram prontos, já não existiam mais recursos do Programa MEC/BID III, o que levou a um desinteresse ainda maior quanto à mudança. O Programa, finalizado em 1989, chega ao seu fim sem ter, mais uma vez, consolidado a Universidade com um Plano nos moldes ideais. A Universidade continuava dispersa em três regiões distintas e sem uma organização espacial pensada para responder às demandas de seu desenvolvimento. E durante muitos anos, nenhum outro planejamento é feito, sendo obras controladas sem qualquer espécie de zoneamento ou organização de crescimento com a Universidade.
REUNI – Reestruturação e Expansão das Universidades Federais O Programa de Apoio e Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI, instituído em 2007, tem como principais objetivos a promoção da expansão física, acadêmica, e pedagógica da rede federal de ensino superior. As ações do programa contemplam: [1] O aumento do número de matrículas de graduação em vinte por cento (20%); Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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[2] O crescimento gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para noventa por cento (90%); [3] A elevação da relação de alunos de graduação em cursos presenciais por professor para dezoito (1/18). A UFC aderiu ao REUNI em outubro de 2007 e a partir de então seguiu uma série de reestruturações, tanto nos seus câmpus de Fortaleza como nos do interior do Estado, que até então constavam quatro – Sobral, Quixadá e Cariri – e com o Programa teria a proposta de duplicar. O REUNI estava estruturado em seis dimensões, eram elas: Dimensão A – Ampliação da Oferta de Educação Superior Pública A primeira dimensão trata-se da ampliação da oferta de educação superior pública através da ocupação de vagas ociosas e por meio da ampliação de vagas ofertadas, seja criando novos cursos, ou aumentando as vagas dos cursos já existentes. Existe também a possibilidade da criação de cursos de tecnólogos e do uso de novas tecnologias educacionais de ensino à distância, além dos cursos já existentes de bacharelado, licenciatura e profissional. O compromisso assumido pela UFC quanto ao aumento de vagas foi distribuído entre: cursos existentes (40%) e cursos novos (60%), contemplando importante aumento nas vagas do período noturno. No primeiro período, 51,15% das vagas criadas foram para os cursos novos e 22,96% do aumento de vagas proposto para os cursos existentes. Dimensão B – Reestruturação Acadêmico-Curricular Na intenção de promover um amplo espaço acadêmico na interação entre os cursos, a reestruturação acadêmica tem o foco na flexibilização curricular para melhorar o fluxo acadêmico, aumentando a taxa de sucesso dos alunos e assim favoreça a mobilidade interna. Dimensão C – Renovação Pedagógica da Educação Superior Compreendendo o desenvolvimento de ações voltadas para renovação pedagógica dos cursos de graduação, envolvendo melhor articulação da educação superior com a educação básica, profissional e tecnológica, atualização de metodologias e tecnologias de ensino aprendizagem e promoção de programas de capacitação pedagógica para implementação de um modelo de gestão acadêmica mais flexível.
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Dimensão D – Mobilidade Intrainstitucional e Interinstitucional A mobilidade intrainstitucional tem como função permitir mais facilidade para os estudantes mudarem de curso dentro da universidade. Apoia-se na flexibilização curricular e visa ajustar o fluxo acadêmico sem necessidade de sua interrupção, repercutindo na diminuição da evasão. A mobilidade estudantil interinstitucional pode se dar em processos de transferência de alunos entre Instituições Superior de Ensino (IES), como também através de programas específicos que permitam aos estudantes trocarem experiências acadêmicas, visando o seu enriquecimento cultural e cientifico, além de contribuir para a interação entre as IES. Dimensão E – Compromisso Social da Instituição A quinta dimensão do REUNI compreende como missão institucional promover a emancipação social, através de politicas e programas que promovam a ampliação do acesso e a permanência dos estudantes carentes na educação superior, bem como, aquelas que levem ações universitárias a setores marginais da sociedade, ajudando os beneficiados a vislumbrarem melhores condições de vida e de futuro. Dimensão F – Suporte da pós-graduação ao desenvolvimento e aperfeiçoamento qualitativo dos cursos de graduação A contribuição da pós-graduação ao aperfeiçoamento dos cursos de graduação tem por base o estreitamento das relações entre os estudantes desses dois níveis de ensino. Vários são os meios a serem adotados para a integração entre a graduação e a pós-graduação, seja através de projetos específicos formais, seja por iniciativa dos profissionais que atuam nos dois espaços de formação. Especificamente, nessa dimensão, a UFC optou pela adoção de monitorias qualificadas para estudantes de pós-graduação stricto sensu, para das suporte às atividades dos estudos dirigidos nas disciplinas de graduação, bem como, pela participação de estudantes de graduação em projetos de pesquisa de programas de pós-graduação. Assim, tendo visto o que é o REUNI, neste trabalho foi considerado o Programa atual de maior impacto na Universidade, que vem afetando seu crescimento organizacional e funcional. O Programa entra num mérito à necessidade da Universidade que será abordada aqui, que é esse crescimento rápido da UFC que não deve ocorrer sem um planejamento em paralelo.
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Em Fortaleza, a estrutura acadêmica antes do REUNI era composta pelos quatro Centros – Humanidades, Ciências Agrárias, Ciências e Tecnologia – e pelas cinco Faculdades – Direito; Medicina; Enfermagem, Farmácia, Farmácia e Odontologia; e Economia, Administração, Atuária e Contabilidade – e depois se viu acrescida de quatro novos Institutos – Ciências do Mar, Cultura e Arte, Educação Física e Esportes e Universidade Virtual – em que os três últimos passaram a funcionar no Campus do Pici. Com essa ampliação de oportunidades, a Universidade encontra-se na efervescência do crescimento. São muitas as facilidades, com o vestibular unificado, está se tornando comum a recepção de estudantes de outros estados, com isso se percebeu uma necessidade de construção de uma residência universitária também na área do Campus. Além dessa obra, outras de grande porte realizadas recentemente foram unidades didáticas no Centro de Tecnologia e Centro de Ciências, que com eles inicia um indicio de verticalização, pois cada edifício possui cinco pavimentos. O grande sítio do Pici não pára de crescer, porém atualmente não existe o que diga até onde é saudável ir.
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DIAGNÓSTICO Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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Figura 22. Localização do Bairro na Cidade. Fonte: PMF
O Bairro Inserido na Cidade Nesse momento será tratado o Campus do Pici na escala da cidade, e como foi sua inclusão no Plano Diretor da cidade de Fortaleza. Trata-se de uma diagnóstico feito por uma equipe vinculada à UFC – Plano de Requalificação Urbana da UFC – e que serão aproveitados os dados para este trabalho. O Campus do Pici está localizado em bairro homônimo na região centro oeste da cidade de Fortaleza. É um bairro considerado grande em relação aos demais da região, entretanto 75% dele é ocupado pelo Campus Universitário. E faz fronteira com outros onze bairros, são eles (em sentido horário, iniciando pelo mais ao sul): Jóquei Clube, Henrique Jorge, Dom Lustosa e Antônio Bezerra, Padre Andrade, Presidente Kennedy, Parquelândia, Amadeu Furtado, Bela Vista, Pan Americano, Demócrito Rocha. O Bairro Pici, está localizado na Zona de Requalificação Urbana I (ZRU I) do Plano Diretor Participativo – PDP –, que caracteriza-se por precariedade da infraestrutura e dos serviços urbanos, principalmente de saneamento ambiental, e carência de equipamentos. Entretanto, a maior parte do bairro é a grande área institucional da Universidade.
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O Campus Inserido na Cidade A Universidade é um local de disseminação do conhecimento e do saber voltado à cidade. Porém, o que se percebe do histórico dos planos diretores de Fortaleza é que estes, que deveriam contemplar a Universidade como uma centralidade, na realidade desconsideram a localização dos campi universitários da UFC, dificultando esse “trabalho” que deveria vir da Instituição do Saber. As regiões do Benfica e do Porangabuçu, por estarem em áreas abertas e urbanas, ainda possuem uma melhor inserção na malha em que estão, mas quando o caso é o Pici, o que se encontra é uma área completamente segregada e divergente do restante do local em que está próximo. Em alguns dos planejamentos pensados para o campus anteriormente, essa segregação era inclusive satisfatória e desejada, mas neste trabalho o intuito é uma tentativa de abertura do Campus do Pici à cidade. Mesmo com esse histórico, entre os três campi, o Campus do Pici é o único no PDP que é considerado como área institucional. A partir do pensamento ignorado vindo da Cidade para o Campus, os espaços universitários carregam desde o principio uma forma própria de ocupação do solo urbano, onde os espaços se configuram na interface entre o público e o privado. No Referencial Teórico foi levantado que o Campus do Benfica, em todos os planos mencionados, sempre era escolhido para abrigar os órgãos que iriam lidar com a comunidade, por estar mais centralizado. Entretanto, esse é uma pensamento de quase desistência dos outros espaços, pois o que se deveria fazer é torná-los tão iintegrados quanto, para que a Universidade passe a funcionar como uma grande unidade. Tendo o Pici como uma área segregada à cidade, este funciona com sua própria dinâmica e um intenso fluxo de pessoas e veículos. Considerando que o maior percentual desse fluxo de pessoas são estudantes e que estes dependem do transporte público da cidade, então mesmo que não completamente integrados, os dois sistemas devem ser funcionais a melhor maneira possível. Em seguida, estão os mapas de evolução urbana do sistema viário de Fortaleza, para que se possa entender como ocorreu esse crescimento da cidade para a zona oeste, e depois verificarmos o atual sistema de transporte público da região. Rapidamente, já é possível perceber que o crescimento ocorreu junto ao crescimento da Universidade. Os mapas mostram essa evolução, considerando as vias de grande fluxo e de quando ganharam intensidade, ou importância, o que geralmente está ligado a uma pressão da Universidade criada anteriormente, crescendo a demanda de fluxo, tendo a necessidade melhorar o sistema viário.
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Figura 23. Sistema Viário 1955. Fonte: PRU
No início da Universidade, em 1955, a via mais importantes dessa zona centro oeste era a Av. Mister Hull, que era o único meio de interligar o Campus do Pici ao Centro da Cidade, consequentemente as Faculdades do Pici às do Centro. No Centro, as duas vias de maior importância nessa época eram, onde a Faculdade de Direito se encontrava, R. General Sampaio, e, onde esteve a primeira Reitoria da UFC, R. Senador Pompeu.
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Figura 24. Sistema Viário 1965. Fonte: PRU
Dez anos depois, com a consolidação dos três territórios da Universidade - Pici, Porangabuçu e Benfica - pode ser visto que o sistema viário acompanhou o processo. Encontrou-se uma necessidade do fortalecimento das conexões inter campi, principalmente do Porangabuçu aos demais, que previamente se encontrava solto na malha viária. Então, consequência disso é o desenvolvimento da Av. José Bastos, responsável dessa ligação Benfica-Porangabuçu até quase o Pici, chegando antes na Lagoa da Parangaba.
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Figura 25. Sistema Viário 1975. Fonte: PRU
Na década de 1970, inicia a necessidade de novos caminhos, que começam a ser estabelecidos, é o caso da Av. Jovita Feitosa, uma nova conexão Pici-Benfica. Neste momento, existia apenas um acesso no Pici localizado na Estrada da Caucaia, atual Mister Hull, e surgem dois novos acessos ao Campus, um a leste, Rua Padre Guerra, e outro ao sul, Rua Pernambuco, respondendo às necessidades geradas por conta da criação de um setor de esportes nessa região em 1972. No fim da década de 1970, o acesso pela avenida Mister Hull é obstruído, por conta de uma reforma na avenida, deixando o Campus sem um acesso principal.
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Figura 26. Sistema Viário 1995. Fonte: PRU
Em 1995, a UFC já era uma grande universidade, e possuía os três campi já bem estruturados. Então o que se percebe no sistema viário é uma ainda maior consolidação do mesmo, com reforma de grandes avenidas e firmação dos percursos existentes, principalmente do Campus do Porangabuçu em conexão ao restante da cidade, que se antes ainda existia dificuldades de acesso, a partir de então este se auto firmava na malha. As vias dentro do Campus do Pici também se definem, fazendo uma conexão da entrada leste à entrada sul.
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Figura 27. Sistema Viário 2005. Fonte: PRU
Por fim, tem-se a malha viária do ano de 2005, onde pode-se perceber a zona centro oeste toda estruturada e consolidada. Nesse momento o Campus se encontra com três entradas: uma principal pela Av. Eng. Humberto Monte, e duas secundárias - ao leste pela R. Padre Guerra e ao sul pela R. Pernambuco. Mesmo com as três entradas, seus acessos não receberam uma infra estrutura adequada, não tendo um padrão ideal para a Universidade. Comunidades começaram a se instalar nas fronteiras do Campus, criando problemas de segurança.
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No Campus do Pici de hoje, temos os principais acessos: Bezerra de Menezes/Mister Hall vindo do Centro da cidade; após a urbanização e solidificação de novas rotas de integração com os outros campus, criou-se a rota Jovita Feitosa/Humberto Monte vindo do Benfica e José Bastos/Humberto Monte vindo do Porangabuçu. Como já mencionado, ao sul existe um outro acesso pela Rua Pernambuco, próximo ao setor de esportes.
Figura 28. R. Piracicaba. Fonte: Google Street View
Figura 29. R. Pernambuco. Fonte: Google Street View
O sistema viário próximo ao Pici tem essa característica de grandes avenidas que o circundam, mas quanto mais próximo ao Campus as ruas se tornam bem menores, e muitas vezes de difícil passagem (fig. 28). Algumas vias locais ainda conseguem ter um bom porte, como é o caso da Rua Pernambuco, a rua que margeia o limite sudoeste do Campus (fig. 29). Um caso excepcional na região é a Rua Heribaldo Costa, que tem uma largura agradável, canteiro central, e árvores de grande porte (fig. 30). Seria uma via que poderia ser trabalhada a possibilidade de uma nova entrada para o Campus. Alguns elementos do transporte público da cidade estão próximos ao Campus e poderiam ser usados como aliados para este e a cidade. Primeiro é o Terminal do Antônio Bezerra, um dos que existe maior fluxo de pessoas durante o dia na cidade de Fortaleza. Outro terminal que está na proximidade do Campus é o Terminal da Lagoa, próximo a Lagoa de Parangaba.
Figura 30. R. Heribaldo Costa. Fonte: Google Street View
O Metrofor, que com uma estação na Parangaba será capaz de atender parte da demanda do Campus, é mais uma intervenção na estrutura urbana da cidade com grande repercussão na articulação espacial e na acessibilidade do mesmo. À exceção da linha sul do Metrofor, no período referente aos anos 2000, não se encontrou nenhuma outra intervenção em benefício de novos elementos da infraestrutura viária que influenciasse direPlano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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tamente o Campus do Pici. Os ultimos investimentos feitos visaram a qualificação, articulação e capilarização da malha existentes, como exemplo, as obras do TRANSFOR. Quanto ao entorno do Campus do Pici, este trata-se de uma área majoritariamente residencial, tendo alguns serviços próximo às grandes avenidas. A região é caracterizada por habitação unifamiliar, vista como uma grande ocupação desordenada, de moradias informais e geralmente de autoconstrução por população de baixa renda. Um processo que gerou uma consequência tardia, refletindo nos dias de hoje, em forte pressão social na fronteira entre a comunidade e o campus. Além de algumas famílias que foram além dos muros, e residem dentro do mesmo. Novos empreendimentos vem surgindo no cenário do entorno do Campus do Pici, estes com o potencial de se transformarem em polos geradores de tráfego da região. No terreno do antigo Jóquei Clube está sendo implantado um grande complexo comercial e imobiliário constituído pelo North Shopping Parangaba e por torres residenciais, enquanto do outro lado da Lagoa da Parangaba, ao lado do terminal de ônibus, está sendo construído também um shopping com o mesmo nome. Recentemente, as instalações do Hospital da Mulher finalmente começaram a funcionar, localizado na Av. Carneiro de Mendonça, ocupando também parte do mesmo terreno do antigo Jóquei Clube. Devido a um crescimento da zona oeste da cidade, o entorno imediato do Campus vem sentindo um processo de valorização imobiliária, percebido através dos prédios de habitação multifamiliar construídos próximo à entrada principal da Av. Eng. Humberto Monte, além de outros que iniciam suas construções no entorno iminente. Nos limites sul do Campus, identifica-se muitos assentamentos subnormais que envolvem o Pici quase que como um cinturão, são eles: Comunidade do Papoco, Planalto Pici, Favela da Fumaça, Favela da Lua, Comunidade Futuro Melhor e Favela Tancredo Neves. De maneira geral, essas áreas se caracterizam pela grande densidade construtiva e a deficiência de áreas livres e de saneamento básico. Essas características tornam difícil a relação do Campus com a cidade.
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Centro
Benfica
Porangabuçu
Porangabuçu
Terminal da Lagoa
Terminal Antônio Bezerra Pontos de ônibus importantes via arterial via coletora via local de importância
N escala: 1/7.500
Mapa do Sistema Viário fonte: mapa desenvolvido pela autora
residencial unifamiliar residencial multifamiliar área de favela comércio serviço área verde vazio
escala: 1/7.500
N
Mapa de Usos fonte: mapa desenvolvido pela autora
Figura 31. Açude Santo Anastácio. Fonte: PRU
O Campus Nele Mesmo O Campus do Pici é o maior campus da UFC, com 212 hectares, e assim mesmo se apresenta fechado e dissociado da malha urbana, não só em termos físicos, pelos muros e pela dificuldade de acesso, mas também pela relação que leva com as comunidades. O histórico do Campus do Pici teve seu início marcado por uma tentativa de unificação espacial de toda a Universidade, porém sem obter sucesso, como já falado no capítulo anterior. Mesmo assim, o início da história do Pici foi observada por constante ocupação, principalmente pela transferência da Escola de Engenharia e dos Institutos Básicos ao Campus, se agregando à Escola de Agronomia, que marcou o início da história do local. Seguindo o sentido horário, o Campus do Pici é delimitado ao norte pelo Riacho Alagadiço e Av. Mister Hall; ao nordeste pela Av. Humberto Monte e por parte da margem do Açude Santo Anastácio; ao sudeste por outra margem do Açude Santo Anastácio e pela Rua Piauilino, Rua Timbaúna e Rua Piauí; a sudoeste pela Av. Pernambuco; a oeste pela Cel. Matos Dourado. O Pici conta com uma área de Zona de Proteção Ambiental I, no entorno do Açude Santo Anastácio, recurso hídrico pertencente a Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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Bacia do Maranguapinho, e seu afluente, que ora está no limite do campus, ora não. A Zona está localizada dentro do perímetro do Campus do Pici, tem seu acesso externo dificultado por variadas residências situadas em grandes terrenos ao seu redor e por algumas ocupações sub normais. Pelo Campus, o acesso mais direto verifica-se ainda a presença de vegetação exótica na margem e entorno do recurso (fig. 31). Atualmente, o Campus abriga os Centros de Ciências, Tecnologia, Ciências Agrárias e mais recentemente, os Institutos de Cultura e Arte, de Educação Física e Esportes, e o UFC Virtual. Parte da estrutura administrativa também se encontra no campus, como a Pró-reitoria de Graduação e a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. Além da estrutura da Universidade, existem no campus algumas outras instituições de desenvolvimento e pesquisa científica, colocadas lá pelo que deveria ser apenas por um período de concessão: Embrapa Agroindústria Tropical, Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho no Nordeste, o Parque de Desenvolvimento Tecnológico da Universidade Federal do Ceará/PADETEC, a Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará/NUTEC e o Instituto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação/IPDI. Dentro dos limites do campus, também estão áreas concedidas para a Companhia Hidro-Elétrica do SãoFransico/CHESF, a Companhia Elétrica do Ceará/Coelce e a Escola de 1º e 2º Grau Dr. José Bonifácio de Souza. No Campus, o que se encontra é uma ocupação desordenada, caótica e inadequada, associada a uma infraestrutura defasada. Isto ocorre principalmente devido a inexistência de parâmetros para a ocupação do solo. Por não existir um zoneamento, cada Unidade Acadêmica se apopria do espaço de acordo com sua necessidade momentânea, sem qualquer planejamento, ou estudo do futuro. Com a existência dos três Centros - Agrárias, Ciências e Tecnologia as terras restantes do Pici vem sendo disputadas pelos três, e essa segmentação do território dificulta o planejamento do que deveria ser uma unidade. Os lotes de terra do Pici deveriam ser compreendidos como pertencentes da Universidade, e não de subsetores. Enquanto os terrenos existentes vêm sendo disputados por quem deve utilizá-los primeiro, grandes quantidades de terra estão sendo utilizadas por empresas em que já finalizaram seu tempo concedido. A EMBRAPA e o NUTECE, juntos, ocupam em torno de 110.000m2.. Além das empresas, existem cerca de 80 famílias que moram dentro do território da Universidade, algumas em terrenos importantes para a expansão da Universidade. Esses diferentes usos dentro da Universidade faz que o território perca sua legibilidade, por se tornar confuso.
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Av. Humberto Monte
Rua Timbaúna Rua Piauí Rua Piauilino
Rua Pernambuco
Av. Mister Hull
Centro de Tecnologia Instituto de Cultura e Arte Empresas Centro de Ciências Agrárias Administrativo Centro de Ciências Instituto de Educação Física Residências irregulares Residência Universitária
N escala: 1/7.500
Mapa de Usos Internos Cel. Matos Dourado
fonte: mapa desenvolvido pela autora
Áreas Verdes subutilizadas Áreas de pesquisa Estacionamentos Edficações Entrada pedestres Entrada veículos Ponto de ônibus
N escala: 1/7.500
Mapa de Mobilidade e Espaços Livres fonte: mapa desenvolvido pela autora
Dentro da parte administrativa da UFC vem faltando algo que norteie as implantações e construções que estão acontecendo. A sua organização por centros e departamentos vem da Reforma de 68, mas hoje em conceitos das universidades do século XXI já se admite que a necessidade de provocar encontros de alunos e professores pelo campus deve ser uma premissa do projeto. Essa premissa já foi utilizada quando o Instituto de Cultura e Arte (ICA) foi projetado, já que é apenas uma edificação com nove cursos utilizando o mesmo espaço. Esse tipo de organização vem faltando na Universidade. Com um pensamento moderno, deixando fluir as atividades e cursos. Mesmo sendo o maior dos campus da cidade, falta um elemento fundamental para sua legitimidade como principal campus: a administração central - o cérebro da Universidade, a Reitoria. Sabe-se que o Palacete da Família Gentil carrega muita história consigo, porém este, em vez de projetado, foi adaptado para ser uma reitoria. Mesmo sendo o mais icônico dos edifícios da Universidade, este se encontra longe da maioria das Unidades Acadêmicas. As atividades do Reitor seriam facilitadas se estivessem próximas umas das outras, como as Pró Reitorias, CONSUNI, proximidade dos Diretores, etc. Quanto à mobilidade interna, o que pode-se perceber é um campus com entradas esparsas - as três já mencionadas de veículos - e outras quatro (e outras informais) de pedestres. Há alguns anos, o transporte público da cidade entrava no campus, e circulava dentro do mesmo, atualmente isso não ocorre mais. O transporte público da cidade fica externo, indo ao máximo às avenidades mais próximas, e uma frota exclusiva é responsável por circular apenas dentro do Campus. Porém esta linha interna consta com uma frota útil de apenas 03 ônibus (fonte: ETUFOR), isso resulta em atrasos e aumento do tempo de deslocamento daqueles que utilizam o transporte público. O sistema de uma linha exclusiva para o campus pode ser funcional se for bem trabalhada e aliada com as linhas externas, podendo também ter o incentivo - como colocação de ciclofaixas no campus - da utilização de outros modais além do ônibus para garantir as opções para os estudantes e funcionários. Outro motivo de preocupação sobre a forma de utilização de transportes é a demanda de estacionamentos. Grande parte do campus é composta por estacionamentos, como pode ser visto no Mapa de Mobilidade e Espaços Livres. Entretanto o aumento da quantidade de veículos é tão extrema que a falta é notável. Mesmo tendo os estacionamentos planejados dos Planos anteriores, desde 2007 existe a necessidade de se estacionar ao longo da via, e isto vem aumentando, tendo cada vez mais dificuldade de se estacionar no dentro do campus (fig. 32). Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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Figura 32. Estacionamento ao longo da via. Fonte: Acervo Pessoal
Figura 33. Espaço das Mangueiras Centro de Ciências. Fonte: Acervo Pessoal
Por fim, temos uma análise dos espaços verdes do Campus. O Pici é conhecido por ser uma grande massa verde na cidade de Fortaleza, porém estes espaços são mal aproveitados, muitas vezes sem uso algum. Um dos maiores motivos por se entender o Pici ainda como um território vasto e passível de ser ocupado é por não saber que áreas são ambientais, de pesquisa, alagadas, ou mesmo aquelas que são possíveis de construir. Então como uma forma de entender o Campus, são separadas as grandes áreas verdes que hoje servem como locais de pesquisa, as áreas verdes subutilizadas, e alguns pequenos locais intrablocos que também possuem uma massa verde (fig. 33). Pretende-se aproveitar esses espaços o máximo como espaços lúdicos para os estudantes, professores e funcionários possam utilizar entre suas atividades.
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Conclusões Sistema Viário [1] Dificuldade de circular externamente a região do Pici; [2] Grandes avenidas nas proximidades do Campus; [3] Via com potencial ao sul do Campus para criação de uma nova entrada; [4] Ausência de sinalização externa;
Usos Internos [5] Falta de zoneamento e controle do território; [6] Muros que segregam o Campus da cidade, mesmo tendo sido criados como um mecanismo de segurança; [7] Outras instituições tomando o espaço territorial da Universidade; [8] Residências dentro dos limites da Universidade; [9] Falta de uma administração central; [10] Ausência de sinalização interna;
Mobilidade [11] Quantidade de estacionamentos quase não supre a demanda; [12] Fragilidade de conexão com o transporte público da cidade; [13] Foco da entrada do Campus na região norte; [14] Falta de ciclofaixas;
Espaços Livres [15] Espaços livres internos subutilizados; [16] Existências de muitos espaços verdes; [17] Grande potencial no entorno do Açude Santo Anastácio
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INTERVENÇÕES Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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“Eu acredito que esses edifícios tem influência sobre os 105.000 estudantes que já passaram por aqui e sobre nós que ainda trabalhamos e estudamos – lembrando-nos da seriedade da nossa missão enquanto definindo um sentimento de camaradagem, crescimento espiritual e intelectual, e uma sensação de possível infinita saudade deste local.” Presidente Nannerl O. Keohane, Duke University, 2000.
O Masterplan mostra a visão do que um campus pode vir a ser no futuro, buscando oportunidades e potencial, considerando uma evolução de acordo com os anos. A intenção do documento é inspirar o desenvolvimento do Campus para que cada novo projeto existente contribua com a ambiência do Campus como um todo, e assim o evolução seja completa e conjunta. Para continuar o processo do Masterplan, foram pegas as conclusões obtidas no capítulo anterior de diagnóstico, e definidos princípios e diretrizes, para que fossem delineadas estratégias para que seja possível chegarmos a essas diretrizes.
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Diretrizes e Estratégias Sistema Viário Diretriz: Configurar o entorno como um melhor receptor aos visitantes da Universidade. [1] Criação de um anel viário externo ao Pici, abrangendo todo o campus. As vias escolhidas foram: Av. Eng. Humberto Monte, Av. José Bastos, Av. Sen. Fernandes Távora, Rua Vitória, Rua Cel. Matos Dourado e Av. Mister Hull. Este anel se torna um limite para o anúncio da relação cidade-universidade, e é nesse limite que inicia a nova identidade do projeto UNIVERCIDADE, que busca melhorias para a UFC; [2] As vias devem todas receber o mesmo tratamento, para que se inicie um processo de entendimento de aproximação da Universidade, como uma mesma identidade visual, placas, etc; [3] Reformulação da entrada de pedestres na Mister Hull, via que já foi a entrada principal do Campus. Como a avenida é um grande corredor viário, onde se localiza um dos terminais de ônibus, optou-se por focar no pedestre;
Usos Internos Diretriz: Zoneamento baseado em formas de ocupação; [1] Criação de um novo zoneamento baseado em formas de ocupação, e não em Unidades Acadêmicas. Os zoneamentos feitos em planos anteriores levavam em consideração o espaço de cada Centro, ou Instituto. Entretanto, a melhor forma de continuar a ocupação do Campus não é pela segregação das Unidades Acadêmicas, mas pela definição das diferentes formas que cada área pode ser ocupada, por isso a proposta é essa mistura das UAs para ter um zoneamento por forma de ocupação, que será descrito mais a frente. Diretriz: Abrir visualmente o Campus; [1] Criação de espaços de amortização nos limites do Campus, para que se possa amenizar a pressão criada entre as comunidades e os limites com a Universidade; [2] Colocação de um gradio de um mesmo padrão em todo o limite, para que exista uma conexão visual entre o Campus e a cidade. Diretriz: Ocupar a área do Campus apenas com Edificações da UniPlano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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versidade. [1] Retirada das Instituições de acordo com o fim do seu tempo de concessão. Algumas empresas, como NUTEC e EMBRAPA estão ocupando, cerca de 110.000m2, há anos, mesmo já tendo finalizado o tempo concedido pela Universidade; [2] Retirada das residências que ocupam locais privilegiados do Campus, necessários para futura expansão, com proposta de relocação; [3] Doação de terreno para os moradores das residências de dentro do Campus, para relocação de suas residências, isso deviado a maioria se tratar de próprios funcionários da Universidade; [4] Acordo com a CHESF sobre terreno ocupado por a empresa, pois este não há mais perspectiva de desocupação por conta da atividade realizada lá. Diretriz: Colocação de um Centro de Poder no Campus do Pici. [1] Transferência da Reitoria para o Campus do Pici, com um projeto que englobe esta e todas as Pro Reitorias, facilitando a identificação do local como uma unidade; [2] Transformação do edifício atual em memorial, por ser o edifício mais icônico da Universidade, este deve continuar no patrimônio e servindo como. Então propõe-se de torná-lo um contador de histórias da Universidade.
Espaços Livres Diretriz: Melhor aproveitamento das áreas verdes do Campus. [1] Criação do Parque Santo Anastácio, próximo ao açude. Utilizando o potencial do local, trabalhar melhor sua imensa área verde, podendo abrir para visitação mesmo nos finais de semana. [2] Utilização do entorno do Açude para colocação de um pier de observação; [3] Transferência de áreas de pesquisa - aquelas que são possíveis - para locais não tão centrais, para utilização das áreas atuais como uso comum; [4] Identificação dos espaços livres intrablocos para a criação de pocket gardens de uso comum e prioritário dos estudantes;
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[5] Criação de atividades para as áreas livres maiores, como anfiteatro ao ar livres, área para festivais, horto da Universidade, e outras atividades lúdicas; [6] Conexão dos espaços livres entre um e outro com a formação de um Sistema de Espaços Livres, conectando uma entrada a outra do Campus.
Mobilidade Diretriz: Incentivo da utilização de outros tipos de modais. [1] Criação do sistema de bicicletas compartilhadas, para que em diversos pontos fora do Campus, e dentro do Anel Viário determinado, sejam colocados pontos do sistema, como um incentivo de pessoas passarem a utilizá-la, ao invés do veículo automotor particular; [2] Colocação de bicicletários ao longo do Campus nos edifícios de salas de aula também como incentivo (fig. 33); [3] Criação de ciclofaixas internas ao Campus, que devido a pavimentação de blocos pre moldados, sugere-se que sejam feitas no nível do passeio; [4] Aumento da frota interna de ônibus da Universidade; Diretriz: Abertura do Campus à cidade.
Figura 34. Bicicletário Eng. Civil. Fonte: Facebook CA Eng. Civil.
[1] Criação de uma nova entrada na região Sul do Campus, com o tratamento da Rua Heribaldo Costa como nova chegada do Campus. A via é a prolongação da Rua Vitória, limite do Anel Viário, e tem grande potencial por ser bem larga e ter bastante árvores. Também estaria próxima a nova proposta de Reitoria; [2] Tratamento igual das duas entradas, de mecanismos de redução de velocidade a partir de traffic calming com rotatória e elevação da pista.. Diretriz: Sinalização padrão em toda a Universidade. [1] Criação de uma identidade visual padrão internamente e externamente, a partir do Anel Viário, do Projeto UNIVERCIDADE para sinalizar todo o Campus; [2] Sinalização feita principalmente a nível do pedestre direcionando a todos os equipamentos da Universidade, e indicação do transporte público. Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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sugestão de mudança na entrada de pedestres da Av. Mister Hull
Benfica
implantação de pista elevada e pier de madeira sugestão de local para relocação de familias mudanças do sistema viário interno proposta de abertura de via e novo acesso
Porangabuçu
remoções local da nova Reitoria
Shopping Supermercado Hospital Terminal de ônibus Ponto de bicicleta compartilhada Bicicletário
Anel viário
proposta de anel viário
N
escala: 1/20.000
Diretrizes Gerais fonte: mapa desenvolvido pela autora
Lagoa da Parangaba
Figura 35. Cortes esquemĂĄticos das vias internas. Fonte: Elaborado pela autora.
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Zoneamento Proposto O Campus do Pici encontrava-se sem um Zoneamento há anos. Isto acarreta uma série de problemas de planejamento. Em primeiro lugar o atraso no processo de projeto, pois ao existir uma proposta, não existe um documento em que defina os locais passíveis de construção. Nesse caso, pode-se gerar até sobreposição de obra, caso não haja comunicação entre os arquitetos responsáveis. Outro problema é a indefinição entre as Unidades Acadêmicas, em que os Centros de Tecnologia, Ciências Agrárias e Ciências acreditam que deva existir um limite entre seus territórios, e isto não há uma definição. Então no Zoneamento Proposto, retiro a separação por Unidades Acadêmicas na forma de ocupação, e inicia-se um incentivo em que o estudante pode estudar em qualquer local da Universidade, sendo tudo um único território do saber. As Zonas criadas são uma forma de organização a partir de suas características como território, de prioridade de ocupação, e de densidade construtiva do Campus.
Zona de Preservação Histórica (ZPH) Esta zona compõe a área dos edifícios mais antigos do Campus do Pici, como o da Escola de Agronomia, projetado em 1912, e outros que atualmente funcionam órgãos administrativos, como a Pró-Reitoria de Planejamento e a de Administração. Esta área, com a proposta de levar todas as Pró Reitorias para um mesmo local, se tornaria uma espécie memorial que contaria a história da UFC, mais especificamente do Campus do Pici. Esta foi a primeira Zona a ser delimitada pela preocupação da preservação da história da Universidade, que se não for cuidada pode se perder ao longo do tempo. Além da região ao norte do Campus, foi marcada uma outra a sudoeste, esta é a primeira marcação de onde está a proposta da nova Reitoria. No caso, esta já se enquadra nessa zona, pois sua edificação e seu entorno devem ser preservados como os demais edifícios, sem nenhuma nova intervenção acrescida após a proposta finalizada.
Zona de Ocupação Prioritária (ZOP I) Esta é a zona que mais existe terreno passível de ocupação, portanto a que deve ser foco quando houver necessidade de ocupação. A primeira etapa a ser feita é uma demarcação de quadras, e urbanização geral dos lotes, para que não ocorra de edificações novas não tenham nenhum tipo de tratamento paisagístico no seu entorno.
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Um fundamento visto no Masterplan da Universidade de Duke, EUA, que pode ser trazido para esta área é: “Nenhum novo edifício deve ser construído antes que o total grupo de que fazem parte seja planejado”. Assim, não haverá um descompasso das construções, e tudo será feito em totalidade. É recomendado a construção principalmente de edifícios de laboratório e pesquisa nessa região, para a formação de uma região tecnológica do Campus. A intenção do planejamento do campus é não ter a necessidade de aumentar o gabarito, como se iniciou recentemente com duas edificações no Centro de Tecnologia e de Ciências. Então fica estabelecido um gabarito de térreo mais dois pavimentos, para manter o padrão do que já vem sendo construído nessa zona.
Zona de Ocupação Prioritária II (ZOP II) Esta zona também deve ser foco de ocupação, mas apenas quando direcionada a tipologia esportiva, já que todos seus outros equipamentos se direcionam para o Instituto de Educação Física e Esportes (IEFES). A UFC tem um um objetivo de criar um grande centro de treinamento olimpico para o Campus do Pici, então esta zona deve estar pronta para receber os projetos destinados a esse fim, com um prazo de estar pronto até 2016. Esta zona será inteiramente destinada ao IEFES, incentivando que atinja sua meta de se transformar em um Centro Olimpico de qualidade.
Zona de Recuperação Arquitetônica (ZRA) Zona onde estão as empresas que funcionam dentro do Campus - NUTEC e EMBRAPA. Com a retirada destas, recomenda-se que suas edificações sejam abertas além dos muros que as continham e ocorra um reaproveitamento de sua arquitetura, que hoje ocupam aproximadamente 110.000m2. Esta deve ser ocupada pelos primeiros projetos possíveis que se adequem ao local, para que não se torne uma região obsoleta do campus.
Zona de Ocupação Restrita (ZOR) É a região mais densa do Campus, onde existe uma dificuldade de novas locações de edificações, portanto estas devem ser controladas. É recomendado que os edifícios existentes se tornem, quando possíveis, destinados principalmente para o estudante de graduação, sem diferenciação de departamentos, tornando essa zona num grande espaço do saber. Quando possível também, transferir laboratórios e atividades reclusas para outra zona que esteja apta a recebê-las. Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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Zona de Ocupação Moderada (ZOM) Esta zona deve ser cuidadosamente ocupada, com uma tentativa de ordenamento de seus próprios terrenos. Primeiramente, esta irá receber a transferência de alguns terrenos de pesquisa que estavam em locais privilegiados de visibilidade para outros, para que os terrenos originais possam ser utilizados para usos comuns. Após, deve ser verificada que parte da zona é passível de ocupação, pois apesar de ser uma área extensa, parte dela está em cotas alagadas e não tem solos favoráveis. Quase toda a Zona é do Centro de Ciências Agrárias e suas pesquisas, então se é recomendado de não haver construções acima de dois pavimentos .
Zona de Requalificação Urbana (ZRU) Zona com bastante área livre que não é aproveitada e não tem os cuidados necessários. Com a transferência de algumas áreas que estão dentro dessa zona para a ZOM, estas devem receber tratamentos para a utilização no dia a dia do estudante, professor e funcionários do Campus, como espaços lúdicos, anfiteatros, locais de convivência, pier, etc. Com a identificação dos Espaços Livres, deve ser possível conectar uma entrada a outra do Campus.
Zona de Preservação Ambiental (ZPA) É uma área próxima ao Açude Santo Anastácio que possui um potencial visual enorme. Devido a sua proximidade à Área de Preservação Permanente, algumas restrições são feitas para essa zona, como a ocupação apenas de estrutura pontuais que nã interfira no solo. Pode ser trabalhada junto as potencialidades da ZRU, para a criação de um Sistema de Espaços Livres que conecte o Campus de um lado a outro do Açude.. Existe a proposta de um Parque no entorno do Açude e da zona, de forma que fique na ZRU.
Zona de Doação Ao fim noroeste, encontra-se o único órgão externo à Universidade que deve continuar funcionando na mesma, a CHESF, pois é inviável a transferência de uma parcela grande de terra que cuida da energia da região. E também uma parcela de terrenos onde poderão ser aproveitados locais para receber as residências que serão removidas de dentro do Campus, e em outros momentos do projeto.
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Zona de Preservação Histórica Zona de Ocupação Prioritária I Zona de Ocupação Prioritária II Zona de Requalificação Arq. Zona de Ocupação Restrita Zona de Ocupação Moderada Zona de Requalificação Urb. Zona de Preservação Amb. Zona de Doação
N escala: 1/7.500
Zoneamento Proposto fonte: mapa desenvolvido pela autora
Figura 36. Sinalização de acesso ao Campus. Fonte: Elaborado pela autora.
Sinalização Uma nova identidade visual foi feita para todo o Campus. Esta sinalização foi pensada para o material de aço inox perfurado com pintura anodizada. O motivo de ser perfurado é uma forma que não exista um bloqueio visual de um lado a outro dos totens. Diferentes tipos de tótens poderiam ser feitos, trabalhando com a possibilidade de encaixes das placas. Como exemplo, estão os de informação (que iria contar com o masterplan geral do campus, e seus pontos de ônibus, bicicletas, e localização dos blocos), o de equipamentos (que apontaria a distância a percorrer até o local desejado), e o de referência do equipamento. Quando o de informação se encontrar em um ponto de ônibus, este vem acompanhado das linhas de que atendem aquele ponto. Este modelo também é utilizado externamente, para criar um vinculo visual entre a cidade e a universidade. Por último, existe o de entrada do campus, que é menor que os outros em altura, mas bem maior em largura, tendo 4,30 metros, de modo a chamar atenção a quem estiver perto dos acessos do Campus do Pici.
Figura 37. Sinalização interna/externa do Campus. Fonte: Elaborado pela autora.
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Implantação da Reitoria A maior proposta que engloba esse novo Plano para o Campus do Pici é a questão da transferência da Reitoria para o mesmo. Questões como o fato de a Reitoria atual nunca ter sido projetada para exercer tal função, ou a distância da maioria das Unidades Acadêmicas da Universidade foram levantadas para justificar essa transferência. O terreno escolhido é um local próximo aos três maiores centros do Campus. Com o novo desenho das vias externas, e proposição de uma nova entrada Sul para o Campus, este terreno é o primeiro lote a ser visto ao adentrar a Universidade. O lote escolhido tem aproximadamente 35.000m2, e sugere que seja implantada unicamente a Reitoria e as Pro Reitorias. O que serão feitas a seguir são recomendações sobre a implantação pautadas nos estudos e diagnóstico feitos para elaboração do Masterplan, sem chegar a uma proposta arquitetônica completa.
Destaque da Implantação Local de Implantação Centro de Tecnologia Atual NUTEC Centro de Ciências Agrárias Centro de Ciências Atuais Residências
N
escala: 1/7.500
Localização Reitoria fonte: mapa desenvolvido pela autora
Rua Heribaldo Costa Rua Pernambuco
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O desenho das vias foi feito a partir das já existentes, a fim de demarcar quadras para edificações já existentes, mas que não possuiam quadras definidas. Foram colocadas três quadras menores, para aquelas que já existiam, e duas quadras maiores para o que ainda será projetado Uma dessas quadras será a da reitoria, e a outra faz parte da ZOP I., onde recomenda-se a colocação de laboratórios e edfiícios ligados a pesquisa para a realização de uma zona comum O prolongamento da via de acesso ao campus margeia a quadra da Reitoria, chegando a via que era o antigo anel dos Institutos Básicos. O limite é marcado com um gradio, onde as vias terminam, com estacionamentos, mas sem fechar visualmente essa relação interna-externa do Campus-cidade.
Novas vias Gradio Local de Implantação Centro de Tecnologia Atual NUTEC Centro de Ciências Agrárias Centro de Ciências Atuais Residências N escala: 1/7.500
Proposta de Vias fonte: mapa desenvolvido pela autora
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Edificações Ciclofaixa Gramado Espelho d’água Faixa de rolamento Passeio
N escala: 1/1.000
Implantação fonte: mapa desenvolvido pela autora
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Ao lado existe uma proposta da implantação com algumas das diretrizes comentadas e agora colocadas: Espaço verde aberto, propício para realização de atividades, podendo ter a colocação de mobiliários para utilização de atividades em grupo de estudantes. Implantação dos edifícios da Reitoria e Pro Reitoria juntos num mesmo local, tendo todas as atividades administrativas da Universidade em um só local. As vias com uma nova tipologia, as vias maiores com passeios largos, e ciclofaixas a nível do passeio. As vias menores, que se infiltram nas quadras, não possuem ciclofaixa, mas também tem um passeio de tamanho agradável. A rotatória de entrada é equipada de meios de redução de velociada como elevação da faixa de pedestre, a fim de priorizá-lo. Uma proposta feita para a edificação da Reitoria, é que ela seja permevável e permita o fluxo através do campo verde, não se tornando uma barreira.
Figura 38. Cortes esquemáticos da Reitoria. Fonte: Elaborado pela autora.
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Plano Geral Ao lado, encontra-se o Masterplan do Campus do Pici, este já encontra-se com as mudanças mencionadas. A nova entrada do Campus localiza-se na Rua Heribaldo Costa, e próximo a nova entrada encontra-se a sugestão de implantação da nova Reitoria. A entrada existente próximo ao IEFES foi fechada, assim como a localizada na Rua Padre Guerra, pois seriam muitos locais diferentes de controle de acesso, então foi resolvido manter apenas duas entradas veiculares. Outro acesso existente, será reformulado, na Av. Mister Hull, sendo exclusivamente para pedestres. Próximo a cada um desses acessos existe um ponto para uso do Sistema de Bicicletas Compartilhadas, sistema que você pode alugar a bicicleta em um ponto e devolver em outro. Assim como também existe em pontos estratégicos no limite do Anel Viário, como nos supermercados e shopping centers próximos a esses limites. Dentro do Campus, serão colocados pelos blocos bicicletários comuns para uso geral. As vias internas ao Campus irão receber um novo tratamento para darem espaço às ciclofaixas. Como dito antes, por o material das vias do Campus do Pici serem de blocos pré moldados, que não favorecem o uso do veículo automotor não motorizado, a proposta sugere que as ciclofaixas sejam implantadas a nível do passeio. Quanto ao transporte público, além da proposta de aumento da frota de ônibus, pois esta atualmente não vem sendo suficiente, estão sendo acrescidas três novos pontos internos, devido a criação das novas vias, e da expansão de atividades ao longo do Campus. No entorno do Açude, fora da ZPA, continua a proposta da realização do Parque Santo Anastácio. Este conseguiria conectar um lado ao outro com maior facilidade, sem aparentar a segregação espacial que existe hoje. Ao fundo da Biblioteca Central, foi colocado um pier de observação, para que os visitantes se sintam parte desse sistema. Nos outros espaços livres do Campus, propõe-se que cada um tenha uma atividade: horto universitário com possível venda de mudas, pista de cooper conectando os espaços, parque infantil, mesas de piquenique, escola de educação ambiental, etc.
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Edificações Área utilizável Áreas livres Vias Locais de pesquisa Quadras Reitoria/Pro-Reitorias Ponto de ônibus existente Ponto de ônibus proposto Bicicleta compartilhada Bicicletário Limite Anel Viário
N escala: 1/7.500
Masterplan fonte: mapa desenvolvido pela autora
CONSIDERAÇÕES FINAIS Plano de Desenvolvimento Físico Territorial do Campus do Pici
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Um planejamento de um Campus é a compreensão do crescimento de uma universidade com suas estratégias acadêmicas, históricas e culturais preparadas para isso. O plano delimita e explica funções, escalas, custos, entre outras coisas, das instalações existentes e prontas para melhoria. Uma estratégia do planejamento é a criação de espaços atrativos, que levem as pessoas a terem experiências marcantes no Campus isso é algo que afeta a memória dos visitantes. A importância de ter uma ambiência capaz de criar experiências significantes, leva àqueles que frequentam o campus a ter melhores memórias do local. Esses espaços memoráveis também funcionam como imediatos identificadores da instituição. Um masterplan não pode prever o futuro do campus, mas pode estabelecer uma segurança para seu desenvolvimento. Universidades iniciam o desenvolvimento de um masterplan para atender objetivos específicos, o quais usualmente são expressos em perguntas: “Quanto mais o campus em questão pode acomodar?” “Precisamos de mais salas de aulas ou se melhorarmos a utilização das existentes é suficiente?” “Onde deverá estar locado o novo departamento que será construído?” “Quanto mais de estacionamento precisamos?”
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“Como podemos melhorar nossa relação com a cidade?” Universidades utilizam o planejamento dos campus para principalmente 07 itens, listados e explicados abaixo. [1] Responder a um outro plano estratégico recente. O planejamento inclui uma análise do espaço que a instituição precisará para crescer e os planos de infra estrutura, residências, transporte, administração de estacionamento, paisagismo, e etc. Instituições são aconselhadas a articular seu planejamento de acordo com necessidades e prioridade junto ao seu orçamento. [2] Marcar uma gestão Em algumas universidades, a introdução de um planejamento efetivo no campus pode ser um fator marcante da gestão de um Reitor ou Diretor. O foco desse planejamento pode ser diferenciado dependendo se a gestão está no início, meio ou fim. Para alguns, na intenção de deixar um legado à universidade, o plano pode ainda conter projetos de desenvolvimento futuro, para consideração de uma futura gestão dar continuidade, o que necessita do controle e colaboração de todos que trabalham em prol da instituição. [3] Melhorar a distribuição, locação e utilização de espaços Locar espaços num campus é um desafio. Instituições continuamente adquirem novos espaços para atribuir às suas necessidades e prioridades. [4] Melhorar relação com a cidade Abrir os espaços da universidade com a cidade, tornando os campus os mais integrados possível, as vezes de forma que se cheguem a confundir uns com os outros. [5] Identificar capacidade de desenvolvimento do campus Estudar o perfil quantidade x qualidade do campus em questão, para saber até onde é saudável ter um crescimento sem perder o valor da instituição para o aluno. Em geral, foi um pouco disso que se tentou trazer neste trabalho. Primeiro mostrar a falta que existe desse elemento dentro da universidade, e como ele contribuiria para um melhoramento do futuro da mesma.
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