UMA VIAGEM FANTÁSTICA AO CHILE PRODUTIVO, POR FRANCISCO MOREIRA

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Imagem: Madeira Total

NOME SEÇÃO ARTIGO | INTERNACIONAL

UMA VIAGEM FANTÁSTICA AO CHILE PRODUTIVO Por Manoel Francisco Moreira A eficiência florestal chilena é objeto de nossa admiração. Com extensão territorial de 4,3 mil km, que alonga-se desde o Peru até a Antártida, e uma largura média de 200km, conta ainda com uma magnífica cordilheira que impossibilita grande parte do território em tornar-se produtivo, restando-lhes apenas 2,62% de solo útil, inclusive para florestas. Porém mesmo diante desde cenário geográfico limitante, o Chile ainda mantém-se líder em várias frentes, especialmente quando comparado aos demais países da América do Sul – o que inclui a indústria madeireira brasileira.

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Visitamos o Chile a convite da Associação Gaúcha de Empresas de Base Florestal – Ageflor, no mês de novembro de 2017, a qual organizou a caravana de executivos florestais. Fomos recepcionados magnificamente pela CMPC Chile, e depois comparecemos à Expocorma, (feira de equipamentos florestais em Concepcion). Ao longo desta excelente viagem, foi possível vivenciar e observar incontáveis qualidades desta potência madeireira, aos quais:


Utilização da madeira

Duas espécies de eucalipto e uma de pinus, representam as principais essências cultivadas naquele país, o que por si só já se constitui uma certa vantagem sobre o Brasil: medram bem naquele solo Pinus radiata 59,1%, Eucalyptus globulus 23,6% e E. nitens 10,5% as quais têm características madeireiras muito boas. Nenhuma dessas espécies consegue ter sucesso no Brasil, em que pese os esforços dos melhoristas e estudiosos tanto das universidades como das empresas particulares e Embrapa Florestas. Alguma experiência parece promissora em relação a híbridos de E. globulus com outras espécies, porém ainda em estágio de experimentação. Devido ao clima mediterrâneo daquele local, referidas essências encontram ali clima propício ao seu desenvolvimento, em que pese a topografia extremamente dobrada onde são plantadas as florestas, o que é perfeitamente razoável, pois dada a escassez de solos aproveitáveis, os terrenos planos vão para a agricultura. Assim, onde é possível entrar com tratores com sub-soladores o preparo convencional do solo é feito, onde não é possível, covas são o preparo. Já a colheita tem no sistema de cabo aéreo uma atividade corriqueira; o uso de tal equipamento entre nós causa bastante admiração e dúvidas sobre os custos, porém no Chile, chego a dizer, que o cabo aéreo é tão comum quanto os auto-carregáveis são para nós. A desrama é outra atividade considerada corrente, especial e principalmente no Pinus radiata, cuja espécie é bastante pródiga em galhos que iniciam na base do fuste e não tem desrama natural intensa. Devido aos altos custos de colheita os desbastes são reduzidos em número ou até mesmo inexistentes, variando sua realização de acordo com a finalidade do povoamento.

Aqui está o ponto alto da tecnologia daquele chileno. Deixo de lado a abordagem da madeira para celulose, pois nesse assunto o Brasil nada deve a ninguém. Porém quanto a madeira mecanicamente processada temos muito a aprender com os amigos chilenos. O desdobro de eucalipto, secagem e preparo de peças de maior valor agregado tem avançado grau de desenvolvimento. Secagem talvez já foi um tabu, como ainda é hoje no Brasil, mas parece ser uma tecnologia dominada. Sabemos quão difícil é secar eucalipto dada suas características instáveis que variam de região para região. O Chile resolveu esse problema com intensas pesquisas na área e o apoio necessário da academia. Podemos citar como exemplo interessante do domínio do eucalipto como madeira útil, a intensa utilização do gênero na composição de chapas de compensado, o qual é amplamente utilizado na indústria doméstica e para exportação, tendo os USA como principal, porém não único, cliente. Quanto ao pinus, este tem grande gama de utilização sendo o carro chefe das exportações de madeira beneficiada. Chamou-me atenção a fabricação pelo Chile de vigas em “i”. Para quem não sabe, a viga “i” tem as bases feitas em madeira de pinus em fingerjoint e no meio uma chapa de OSB engastada e colada nas bases. A viga assim construída tem resistência superior ao aço e peso muito inferior, o que permite sua utilização tanto na base de uma casa como na cobertura. No Brasil desconhecemos a utilização da viga “i” em madeira. De tudo que pude ver o que mais chama atenção no Chile é a qualidade da madeira. Não refiro-me às espécies, mas a qualidade do produto industrial. Os chilenos não

Álvaro Bueno

Silvicultura e manejo

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conhecem “polegada gorda e polegada magra”, por exemplo. Pontaletes que serão exportados para servirem de pallets, feitos da medula, são tão bem serrados e acabados que parecem madeira de primeira. Chapas de compensado de diversas composições, inclusive usando eucalipto como miolo, são exportadas para vários países. As técnicas de desdobramento são as mais modernas e feitas por equipamentos importados de países como Suécia, Alemanha e Finlândia, o que confere ao produtos alta produtividade e qualidade impecável. Pilha de serragem não é visível em lugar algum. Um sofisticado sistema de armazenamento de toras de pinus foi desenvolvido, pois um país com aquele relevo não tem como estabelecer uma indústria madeireira abastecida “just-in-time”; as toras são “regadas” por aspersores no pátio da indústria, diuturnamente, evitando assim o “blue-stain”. De tudo que vimos, pode-se resumir: QUALIDADE DO PRODUTO.

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Infraestrutura Este é um capítulo que me dá tristeza ao discorrer. Que dizer de uma pátria que tem no seu principal porto de exportação de produtos florestais (Concepcion) 80% da mercadoria chegando de trem? Cujo sistema ferroviário repousa em trilhos de bitola larga? Cujo sistema rodoviário nos causaria inveja pela rede? O porto de Concepcion estava em greve quando estivemos lá. Eles também têm problemas com estivadores. O que chamou atenção foi a limpeza e a organização de tudo que vimos no porto. Fomos informados da efetividade com que as mercadorias são exportadas e sua permanência no porto. A despeito da greve, tudo parecia em ordem, limpo. Dava a impressão de que se tratava apenas de um dia de feriado.


Conclusão Temos o que aprender sempre, com tudo e com todos. No ramo madeireiro temos o Chile como uma nação a ser observada. Claro que o empresariado brasileiro tem muito que melhorar em vários aspectos, mas nosso governo também deveria olhar para o Chile e dali tirar lições de desenvolvimento especialmente em três áreas aqui listadas sem ordem de prioridade: infraestrutura, fiscal e burocracia.

Álvaro Bueno

Quero abordar aqui não apenas a mecanização da colheita mas também a mecanização do processamento da madeira. Esclareço que nada entendo de tributação, mas estou passando apenas a informação maior e mais relevante. O Chile permite a importação “livre” de equipamentos florestais e industriais. As taxas de impostos são muito baixas, comparadas com as nossas e a burocracia nem se compara. Quem tiver interesse em saber com mais detalhes esta informação terá que consultar um especialista. O que importa é o resultado que vimos: com uma, teoricamente, colheita muito mais cara e indústria altamente equipada e moderna o Chile é nosso concorrente no exterior. Nossos exportadores sabem, melhor do que eu, o que estou falando em termos de concorrência. Vejam que não estou considerando que o crescimento da nossa madeira por unidade de área é maior que no Chile.

Álvaro Bueno

Mecanização

Delegação da Ageflor – Viagem ao Chile, novembro de 2017 I

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