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Concursos
8~ MÚSICA: Sepultura. Lucinda Afriko Gumbe. Joy Mohal, Adevo e músicos cubanos. ARTE: Lieve Prins e Edgord de Souza. MÍDIA: Chongemon & Jospion. Dr6cu1o em quadrinhos. CERVEJA : Heineken no Brasil . COMIDA: Neko Menna Barreto. CINEMA: O Segredo do Abismo. Tem ainda DICAS PROS PtS E INDEX (dicas pras ouvidos e pras olhos)
LJ O vocalista e compositor do Legião Urbano fa lo pro CAOS sobre os muros e sobre como destruí- los. Sucesso e rebeldia . Consciência e inocência.
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Neste número o CAOS subverte o ordem. Crio uma novo maneiro de guerrear: sem sangue e sem armas de fogo. O tiro quem dó é você, via FAX. Se você acredito no planeta Terra chegou o hora de provar: Uma entrevisto com Wu'er Koixi e Shen Tong, os lideres do movimento estudantil chinês. Uma invasão por FAX. Infiltração, os espiões o serviço do paz. Uma edição sem barreiras e sem fronteiros .
89 é um ano decisivo I 89 que vivemos em perigo.
740 PAÍS DO FUTURO Quando chego o hora de votar, os promessas despencam. A prioridade é o educação é o que todos dizem. E é bom que seja verdade. A CAOS coletou dados e mais dados. Ser6 que j6 não é tarde demais?
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EM CIMA DO MURO O Brasil vive seu momento mais importante dos últimos anos. E a CAOS põe a China de matéria de capa ... Bom, a gente explica. Em 89 você viu muros e demolidores de muros. Você viu o Gorbatchev, o terremoto de Berlim, os pr~tos reconquistando as praias brancas da Africa do Sul. E você viu um estudante desafiando o muro dos tanques de guerra na Praça da Paz Celestial em Pequim. Aqui no Brasi l, você está assistindo à corrida dos dois candidatos. Collor, o galõ faixa preta que promete destruir os muros da corrupção, da miséria ... (você lembra da vinheta dele no primeiro turno no horário gratuito na TV?). E lula, o torneira mecânico que diz que sua ascenção à presidência será a marretada redentora no muro da injustiça e do preconceito social. O Brasil votou em peso nos candidatos que berraram mais alto, naqueles que vestiram melhor a carapuço ou a fantasia do demolidor destemido. E o país rachou no meio. Aí é que mora o perigo. Onde pode levar essa radicalização messiânica? Quem garante que essa rachadura não vai servir de fundação para um muro ainda mais gordo? As mura lhas mais tirânicas foram construídas em nome de uma mentira travestida de verdade absoluta . Um exemplo é o atual governo chinês, que sufoca um quinto da humanidade. A luta contra o muro é p lanetária. Enquanto a s ituação brasileira não se define, a gente pede que você ajude a destruir o pedaço de muro que está no seu vizinho de p laneta, que é um só. O muro também é um só. Chegou a vez qe pensar a nível loca l e agir a nível global. E o teu dever de ingerência. A ação é fácil, leia a matéria que começa na página 38. Além do muro chinês, a gente aproveita esta edição para mostrar duas caras importantes do muro brasileiro a da debilidade universitária e a do controle televisivo. E ainda, uma entrevista com o Renato Russo, um dos nossos bons demolidores. Nenhuma porrada é mais poderosa que a sinceridade. Apesar de ser assunto inevitável para esse número, a CAOS nunca acreditou muito em movimento político. Existem jeitos mais legais de fazer muros ruírem. Só pra citar três: o sexo, a música e a ciência. E enquanto o muro não cai, o melhor lugar, sem dúvida e sem culpa, é em cima dele. A vista é bem melhor, inclusive para destruí-lo. Agora, se o muro insiste em ficar de pé não o transforme em muro das lamentações. Destrua-o por qualquer meio. A vida é curta e p r econceito, mentira, controle e totalitarismo .. . Nem aqu i nem na China! (Carlos Nader).
Muralha da China
PROMOÇÃO ANTICAOS ganhe uma assinatura CAOS "Assim, O Deus todo-poderoso, ardente de vida, faz surgir do CAOS o homem, a mulher e os astros".
Graça Aranha no livro "A estética da vida" páginas 51-52.
Enviada por Adriana Coutinho Baches, São Paulo - SP. "CAOS bem delimitado: as imagens desta exposição são o resultado genuíno da experimentação matematica. Derivam dos estudos de sistemas dinâmicos complexos e demonstram quão surpreendentemente variáveis são as estruturas que se desenvolvem a partir das leis mais simples". A Tarde de 31/ 10/89. Enviado por Gildo Andrade Simões, Aracaju - SE. "Os institutos de pesquisa ainda não se refizeram do CAOS gerado pelo paraquedista Silvio Santos na campanha".
Carlos Castello Branco- 'Jornal do Brasil' 06/11/89.
Enviada por José Ma11rício Penna, Ponte Nova - MG. "O que eles chamam de liberdade, eu chamo de CAOS".
Anthony Quinn no filme "R.PM. Revolutions Per Minute" de Stanley Kramer.
"O número 7 está ótimo, ta ~lo que estou enviando um exemplar para um amigo e correspondente da Africa-Brasil em Cabo Verde, muito interessado em lemas de ecologia e índ ios. A CAOS tem uma qualidade gráfica e de papel de 12 grandeza. Continuarei torcendo para que ela dure muitos anos, pois manter uma publicação neste nível não deve ser nada fácil".
Gildo Andrade Simões, Aracaiu - SE "Adoro a revista. Ela é bárbara, divertida, alegre e faz pensar. Não trata de assuntos obri gatórios, mas trata obrigatoriamente de ótimos assuntos. Deliciosas páginas de informação e cultura".
Carla Cavallucci, São Paulo -
SP
"Gostei muito desta revista. Várias entrevistas com pessoas que são notícia. Pela capa você já sente o que deve rolar dentro. ·Como vocês conseguem tantos assuntos e fotos deste nível? Na minha opinião, era a revista que estava faltand o nas bancas. Espero que façam sucesso! !!"
João Paulo, Guaianazes -
SP
"Com o país a beira do CAOS só mesmo uns doido-varridos pra editar uma revista como esta. Mas, pensando bem, num país que tem pseudo-poetas, verdadeiros marimbondos-de-fogo, tudo é possível! A edição de outubro foi a única que ~u comprei, e fiquei surpreso com a qualidade da revista, super bem feita. E pra brasileiro sentir orgulho do que é produz ido aqui".
Claudio Aires Lourenço, São Paulo -
SP
"Aproveito para lhes dizer que a revista CAOS merece os maiores elogios, pois é uma publicação diferente, com os mais variados assuntos e muitas imagens, ilustrando todas as reportagens".
Marcelo 8. (amaro, São Paulo- SP Eclipse do Sol
Enviada por Marcelo Batista Camara, São Paulo - SP. "Para a ciência, CAOS é uma instabilidade que persiste". Folha de S. Paulo de 03111/89.
Enviada por Masaru Yamaguchi, São Paulo - SP. "CAOS chega de tratar à Rio Branco " (sobre a carreata de Caiado no Rio de Janeiro) O Globo de 26/10/89. Enviada por Regina Sylvia Pugliero, Niterói - RJ. "Nosso mundo físico não é um relógio,
Caros amigos, foi com imenso prazer que li a revi sta de vocês (outubro 89). A revista como um todo está interessante, gostosa de ser lida e inteliEstas pessoas ganharam uma gente. Ao contar com grandes figuras assinatura anual da Revista como Flávio Di Giorgi, cérebro enorme que é, vocês certamente continuaCAOS, que é válida até dezemrão a fazer este belo trabalho que já bro de 1990. Procure você tamrealizando. O Flávio é uma das vem hém uma frase com a palavra pessoas mais interessantes que coCAOS que tenha aparecido na nheço, e foi meu professor no Sa nta mídia escrita, cantada, filmada, Cruz. Parabéns a vocês e tomara que televisada etc, e concorra a uma este grande trabalho possa prosseguir assinatura CAOS. (Rua Artur de e ser bem absorvido pelo públ ico. Azevedo 67/3 CEP - 05404 Abraços.
SP/SP)
mas um CAOS imprevisível".
Ilya Prigogine no livro "Os verdadeiros pensadores de nosso tempo" Ed. Imago, pág. 44. Enviada por Ricardo Ditchum, Campinas -SP.
mo as nossas sociedades, estão repletas dele: o CAOS nos espreita em toda parte".
"No principio era o CAOS, diz o Gênesis - e no entanto o homem não conseguiu, através dos milênios, mais do que organizar o CAOS, isto é torná-lo chato".
Revista ACTUEL 109/110, pág. 162. Enviada por Silvia Pimenta Rocha, Rio de Janeiro- RJ.
Guilherme Figueiredo no livro "Tratado
"Hesiodo- Primeiro nasceu o CAOS, depois do CAOS foram estes dois seres que nasceram: Terra e Amor".
geral sobre os chatos".
Enviada por Silvana Jeha, São Paulo SP. "Mas basta olharmos em volta para nos convencermos que a natureza, assim co-
Platão: O Banquete. Enviada por Souza Conde, GuarapariES.
Jean Martin Sigrist )r., São Paulo - SP
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Sテグ PAULO 窶「 D E P T O " DE RIO DE JANEIRO 窶「
TEL ( 0 1 1 ) 8 5 2 2 4 4 5 FRANCHISING TEL (021) 201 8522 R: 150
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LAN ÇAMENTOS QUE NÃO DÁ PRA PERDER: DO THE RIGHT THING Trilho sonoro do filme (Motovvn/BMG)- 1989. Rop, funk punk do Public Enemy, svvingbeot do Teddy Ri ley e reggoe do Stee le Pulse. Tem fa ixas com m u i to soul do Lor i Perry e os irmãs Pe r r i . Também tem um toque latino de Rubens B lodes. Racismo é fe io, mos o tr i lho sonoro é dem a is. A L GREE N , I Get Joy (Poly G rom) l 989. Gospe l em novo rou pag e m. Letras com mensagens. D eus é g ran de n o céu, AI Green é grande no terra . A faixo título é um ocid-gospel, mos também tem hip-gospel-hop prod uzido por AI. B. Sure . Um grande cantor em um grande disco. Lembre-se do natal. GIPSY KINGS (Epic/CBS) 1 989. Do França com amor poro você. Ignore o faixo "Bomboleo", o resto é o máximo. Vozes sensuais, palmas apaixonantes e solos de guitarra que levam qualquer um à loucura. "Amor, amo r" . Ótimo pra quem você ama. LEG IÃO URBAN A, A s Quatro Estações (EMI) 1 989. O m ais a cessíve l e o menos roc k n o sen tido m ú sica rebe lde para adolescentes a té agora. Algumas pé ro las com letras lindas: "O sol nasce pro todos. Só não
sobe quem não q uer". ROUGH TRADE SUMME R COLLECTION 90 (Rough Trode/ S tiletto) 1989. O melhor do novo rock dos EUA e Inglaterra . A . R. Kane e Sondie Shavv e James são massa. Rock independente ainda tem futuro. Variado, românt ico , brutal e novo. VAN MORRISON, Avolo n Sunset (PolyGrom)- 1989. O i rlandês Von Morrison está de vol ta com u m som per feito paro ver o sol descer. Ouça , pense e chore a té o sol nascer de novo . C liff Ri c h a rd con ta n u ma faixo. Georgie r ame toco numa outro . caos a
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PES AS 1 O MAIS TOCADAS PELOS D • .J.S DO DMC BRASIL COMPILADAS PELOS D . .J . S FÁBIO MACARI E RENATO LOPEZ DO DMC BRASIL. BLACK BOX Rido on límo (De-Construction) 1 2" Produção íloliono do D. J. lolewel, tirado de um sucesso de Lolleoto Hollowoy Lave Sensotion. Btock Box é associada õ Catherine Quino, que segundo a bando é sõ mais um restinho bonito. STARLIGHT Nvmoro Uno (City Beot) 1 2" Mais uma produção do D. J. lelewel, com acordes de piano, numa levado que lembro os produções house de Chicago. SIMON HARRIS APRESENTANDO EINSTEIN -
Another
M onsterjom (FFRR) 1 2" Conhecido po los sucessos anteriores: 'Boss H o w long Con You Go' e 'Hore Comes Thot Sound', S i mon Horris apresento o r opper Einstein com trechos do grande h it 'French K iss' de Lil Louis no i n trodução. Hip house enf urec ido. RUTH .JOY Don'l push it (MCA) 1 2" Ca nto r a i ng leso que se la n çou no b an d o Krush com a músico ' H ouse A rros t', lanço sou pri m e iro si ng le e m c arreiro so lo alc anç ando boa colocação n os parados d o v e r ão eu ropeu .
"TUDO QUE NÓS TEMOS
É NOVO E EU
VOU ME ABRIR PRA VOCÊ COMO UMA ROSA., SUSSURRA LUCINDA WILLIAMS NO PRIIV\EIRO LP DElA, Lucinda Williams
EuLP intimislo e român-
!Rough Trode/Siiletlo) o ser lançado no ropa e no Brasil. É um
tico, com influências feries de blues, rock e counlry. Mos, você nunca ouviu nodo igual. Lucinda conlo o solidão, o amor, sobre como deixar alguém e ser deixado. Nodo de novo, mos com o voz direlo de
C 'mon
Lucinda ocomponhodo pelo guitarra steele,
And Get My Lavo (FFR R) 1 2" Seu prime i ro sucesso foi ' W e Cal/ tt Acíd'- o hi n o d o V erão do Amor no Europa, depois 'lt's Tíme To Gel Funk y ' - u m h ip
dobro e violo, parece que é o primeiro vez
D. MOB APRESENTANDO CATHY DENNIS -
house de primeiro. Agora lanço este sucesso com toda p i nta de goroge (deep house/pop) WRECKS 'N' EFFECT New Jack Swing (M otown) 1 2" Grande sucesso do swing beot com produção de G e ne Griffin (Public Enomy) e Toddy Riloy, considerado o pai do swing beot. A bando existe desde 87 e estourou com o músico de Curtis Moyfild- 'Let's Do /1 Agoin'. Grande entre os rops da novo geração (De lo Soul, Digital underground).
L L COOL .J -
Ctap Yaur Honds (CBS) LP
Devo sor o próximo single do consagrado roppe r americano.
O DMC indicou o sucesso e o comprovação veio nos clubs blocks e FMs como sucesso absoluto.
DE LUXE Do You Roolly Lave Me (Uni que) 1 2" A ingleso Dolores 'Do Luxo' Springer dó um show d e interpretação no melhor estilo soul. Com certeza a revelaçã o d o ano
poro público do chorm dance. HEAVY D & THE BOYS -
que alguém pergunto: ·será que eu estou
triste demais pro você"? Nascido no louisiono lrinto e poucos anos olrós, Lucinda esló no estrado hó muilo lempo. Depois de vários anos conlondo em bares e soloons no Texas, Arkansas e Novo York, elo se mudou poro los Angeles. lá, linho o es· peronço de conseguir um conlrolo com uma grande grovodoto. O problema poro os gravadoras americanos era que o Lucinda não é rock, nem country, nem blues,
You Ain'l Heo rd Muthin' Yet
{M C A) LP Fa i xo do LP Big Time, apontado pelo critico como o melhor LP de r op do ano. Utilizo o groove de 'M y M ike S ounds Nice' d e Sa lt 'n Popa. Grande sucesso entre os blacks, pro duzido por Toddy R il e y .
DIANA BROWN & K SHARP Bl ind Fo ith (FFRR) 1 2 " A união d e fosh ion e mús ico, o gênero é c hamado de groun d beot. Toques do soul nos voca is co m swing dos anos 70, p roduzido p e los gra n des Jozzie B . e Nelle Hope r, responsáve i s pelo Sou/ 11 Sou/.
2 a DMC BRAZIL DJ MIXING CHAMPIONSHIP Elimi n a tó r ias programadas para deze m bro e m São Pa u lo e Rio de Janei r o. Fina l en tre 3 1 de janeiro e 1" d e feve r eiro de 9 0 n o Olympio, contando com o porticipação de DJ s de N . Y., Lon d r es e artistas internacionais.
nem pop. Fico difícil vender poro um públi· co segmenlodo. Felizmenle o ogenle do gravadora independenle ingleso, Rough Trode, ficou impressionado, assinou conlro-
me enco1xor num rótulo só paro vender e Rough Trade me deu liberdade total". composições são dela.
Dicas do D • .J. Cloudlnho P e r e ira, free-lonce que to· dos os fins d e s e mana animo alguma pista de danço em Porto Ale gre. SKOWA E A MÁFIA Amigo do amigo (EMI Odeon) - ver· são mix, uma dos mais dançantes do Brasil. Ritmos pulsando. ROLLING STONES -
Mixed Emotions (CBS) -
Dance mix,
o velho pulsação do rock dos grandes mestres. PRINCE The Boi Mix (WEA) Inspirado no belo performonce do Jack Nicholson como Coringa. Chocante.
BOMB THE BASS Beot-dis (STILETTO) Versão mix, desenhos animados dos pistas de dança. Flashbock que ainda enche o pista. MARINA A Francesa (PolyGrom) sair da festo à francesa.
Mix da Mar ina pro
Discos importados: Poster Som, Avenida São Joõo 439, Grandes Golerias, sub-solo; Gordo Di scos , Avenida Prestes M aio 24 1 , 3" andor, con j . 304; Gringo Records, Discomanis, Truck's Discos todos no Ga le ri a Pr esidente, Rua 24 de M o io, 1 16, Rua A lto; Yobbo - Dabbo·Doo Discos, Ruo loió 178, lto im Bibi . Todos os lo jas om São Pau lo.
Luc inda Wilioms lonç o o seu primeiro LP no Brasil.
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CA
SALSA, CHARANGA E SONGO: DE CUBA PARA O BRASIL VIA WEA. São seis discos e seis bandas que lapidam os rítmos cubanos afinados com as mais diversas concepções musicais do mundo, sem perder o sotaque do coribe. Além do violonista Pablo Milonés, nosso conhecido Gonzolo Rubolcobo é um dos seis orti s tos cubanos lonçodo no B r asil. por suas parcerias com Chico Buorque em 'Conción Por l o Unidad lotinoomericono' e em 'lolonda', estão incluídos neste pacote mais cinco nomes inéditos no mercado fonográfico brasileiro, mos que repercutem há muito pelo planeta. O pianista Gonzalo Rubalcaba, com dois lPs gravados na Alemanha e que já dividiu palcos com João Gilberto e Floro Purim. Fiel as influências afro-latinos, o trompetista Arturo Sondovol, lançou três discos com Dizzy Gillespie e é considerado pelo crítico um dos melhores do mundo. Pianista de formação clássica, José Maria Vitier foz um jazz sinfônico percorrendo do universo erudito às mais remotos raízes do músico cubano. Por fim, os maiores surpresos ficam por conta de duas verdadeiros orquestras que prometem não te deixar parado. los Von Van, com o LP 'Nosotros dei Caribe', injetam o 'songo' no músico cubano. Resultado: .arranjos e hamonizoções vocais derivados do charanga pro sacudir qualquer verão. No mesmo rítmo vem o lrokere, liderado por Chucho Valdês e com vinte anos de estrado. Aproveite, a Ilha veio até você. (Attilio leone).
A CANTORA AD EVA NÃO GOSTA DE DR NEM DE ROCK'N'ROLL, MAS ADORA SEXO. El lançando seu primei ro LP, ADEVA! (C ooltem no Brasil nos próximos dias. Um LP che io de sex-o Adevo, ape lido que significo uma diva (i A - uma, Diva) é uma dos primeiros artistas qu conseguindo juntar os Fragmentos de house e g com rythm ond blues e soul poro vender público que não necessariamente g osto de A voz dela leva poro além dos pistas de noturnos. Levo poro os parados pop d o mundo As faixas "ln And Out Of My Life", "M usico/ rrcee·tW~ e "Respect" aquela mesmo que o Aretho conto são dos mais quentes nos pistas do jo Inglaterra, Argélia e Brasil. Nascido Patrícia Da em Novo Jersey há vinte e poucos anos, elo en pelo primeiro vez numa coso noturno dois anos o Antes disso, contava num cora l do Igreja Bati aonde o pai dela era pastor e e ra professora crianças deficientes. Depois que descobriu o po lco suo forço em c imo dele, ninguém ma is segurou Adevo Elo é grande, tem um es tilo próprio e uma voz . impossível de se cop iar. Elo sobe o que quer: fomo, Fama, Fomo. (Sérg io Sompler) Ad e vo ó o novo d i v o do sou l.
NA HISTÓRIA DO REGGAE NO BRASIL O PERSONAGEM CENTRAL É JAY MAHAL (só a mãe dele, talvez, o chame de Luiz Antonio, enquanto uns poucos falam de um tal Tonico Carvalhosa). No quarto-estúdio de Jay Mahat na Rua Polônia, passaram Nando 'Titãs' Reis (que ao lado do Mahal, do Coo Hamburguer, do Marcelo
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Mangabeira e Vange Leonet formaram o grupo Os Camarões, em 78L passaram Chico Evangelista (o do 'Rasta Pé', que aparece na área até hoje), Roba Petrucci {Sinsemilla), Clé Ferreira e Gil Colle (Walking Lions) e vai por aí. Ovelha negra da família, pastor branco do tribo black. Em torno do Mahal hoje rola a banda
Pacíficos da Ilha, que toca principalmente composições dele mesmo. O chaka-<:haka que ressona até tarde agora numa quebrada da Vila Madalena, atrai e inspira vários nomes do reggae paulista {Sinsemilla, Walking Lions, Nomad e outros agregados sem nome). Joy Mohal já foi o Rasto de Plantão do TV Gazeta, um personagem criado por ele e que ficava diante do prédio da emissora, em plena Paulista, vendendo sanduiches e dando filosofias meio rostos, meio iogues. O maior sucesso. Hoje ele divide com China Kane, o incógnito, a produção e apresentação de dois programas na Brasil 2000 FM. Das 5
caos
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"A BANDA AFRIKA G UM BE TEM UM SOM MAIS PRA MADONNA DO Q UE PRA BANDA REFLEXUS", d iz Marcos Lobato, 27, letrista, compositor, guitarrista e teclodisto d o bando carioca que acabou de lançar o seu primeiro d isco Afrika Gumbe (Estúdio Eldorado). O LP é um ataque de rítmos, percussão e sonoridades africanos. Todos os fa ixas são co ntados em yorubá - língua do N igéria que também tem fortes influências no Bahia. "A música pede yorubó", d iz Marços que pesquiso o língua há vários anos. Tem um pouco de tudo neste LP j uju, H igh·lile, Samba, Afro·beot - um encontro musical no meio do oceano Atlântico. "tl\as", diz Marcos, "nosso som não tem nado o ver com lombada. E mais condensado, mais pop". A batucado inicial do bando na sceu há mais de 1O anos no Rio de janeiro, influenciado por africanos q ue trabalhavam, estudavam ou só via javam pela cidade maravilhoso. Alguns a fricanos voltaram, o utros ficaram, mos o batucada continou pelo Lopo, Sa nto Teresa, Ipanema e l eblon. Dois a nos o trás, Marcos Lobato e Pedro Leão saíram dos Robôs Efêmeros de Fa usto Fowcett poro ba tucar junto com Fô Ventura, voz; Eduardo Proença, guita rra e voz; M arcelo Lobato, voz, teclados, bateria acústico e eletrônico e Ad ú O blógun, tolking drum . A bando tomou formo . Prod uzid o pelos Lobato Brothers e Pedro l eão, o LP con ta com participações do Jorge Plotero e Eduardo Aveno congas, bongos e kalimbos. Afrika de sonoridade e Gumbe de rítmo, Afrika Gumbe esquento o seu verão. {Condom Bié)
tNQUANTO ISSO ... .,. O produtor inglês Mark Brydon que trabalhou junto com, entre outros , Yozz e Caboret Voltaire, está produzindo o primeiro Lp do bando paulista Teknoir. Tamb é m produzindo Teknoir: Di: no Vi ce nte, Ar Livre e Arrigo Bo rn o bé. 11> Atenção surlislas: oBMG ocobo de lançar o lP M:lgnum Com loooer do bando ouslroliano Hocdoo GJrus. Ou·ros oustrolionos no mercado:o ~nk-branco doWoWoNee, oreá flvl-t:e~~do co Noiseworks edoi5lPs 10,9,87,6,5,4,3,2,1eRed Soils inThe Sunsel doMdn~ht OII -osmoisbmosos. T odospe.oCBS. 11> Coron VVheeler, aquela que co nto "Keep On Movin" e "Bock To Life", os grandes s ucessos do Sou l 11 Sou l, liderado por jozzie B , está no estúd io em Londres gravando o seu primeiro Lp solo. Colaboram: jungle Brothers e Blocksm ith. 11> As e!ilr:ir.olbfins fX:rOosegurdnc:rnoeorxro ooc'cool de discicx:ke'f's esoo progromoOOs JXl!Odezembro em SP eRio. Agrande~no! oconlece em ~neiro/levae·ro no Ol,rrpi: e'" São ?o•.'o. co:n o plrtici~ de Oj.s de NoJo YOO,londres eoolrosolliskls ill'ernociorois. O ~no~~ gorane ~~ oo corru:e:JI\O·o':Ji.nJ·o ce 98. "' "Todos os pessoas neste mundo solitário, tem um pouco de dor por dentro", conto Annie Lennox no novo Lp dos Eurytmics, VVe Too Are One (RCA/BMG} . .,. Aborrlo Ho~·. qt.ecgrro ~:> ~ês es:ó oegociandocan 0010gr<l'IO<laa roolfnociorol pliCO seu próxiloo disco. já tem os bJses grO"I'Odos. Ooome do trabalho é Sp·eoceo. .,. O novo LP do The The, Mind 8omb (CBS), tem os riffs de guitarra mais o u sados deste ano . O culpado: johnny Morr, ex-Smiths e Pretenders . .,. Os Dj.sRenolo Lopez eMJrquinl-os, do Nolion Disco Club emSãoPodo re:ize•om1odo D:o Era Dia De Índio' de Bo~ Consuelo p3ro animar os pistas. Com base rítmico de 23Skidoo's'Coup' e irechos do ót:eroOGJOronice CarlosGomes. Procuro-se Nolion."' Von Morrisan continuo, depois de 20 anos, contando sobre o beleza do natureza n o novo LP, Avolon Sunset (PolyGrom). O que o Caetano é pro gente, Von Mo rri son é poro os irlandeses . "' Tooíde e oDJHumlotaram oginásio Prolozio Alves em Parlo Á!egre no rr.oior eventode músico b!ock oo região goí.dlo num evento organizado t:eloDJMJnoDekio. A ma~se movimenlo . ll> Todos os meses, o Club Dado está perto de voe~. O amor so lvo o dia, o músico solvo s uo vida! "' Temos Sandra de Só,Jorge Ben~r ejonel jockson, os os1ros do numeroog·o. Tooo o mo·e·iol OIO!l'«iono1 do nCNo lP ~m Nolion de Janet Jackson (PdyGroml ocomplnOO o número 1814. OlP foi lo'IÇodod:o ·4de selerrbro. 1+4.,.9: 1( 1+8+1..4:14. Olorçorr.enlo foi no clube 1814 emlos Ang~es Ocompoclo IWss Yoo Md licoo ttês semoros em piime·ro klgor no p3rodo oop/lild: do revis'o &1Tooord. Sorte deb. "" Fel lini lançará o LP Amor Louco (VVop Bop) o quarto, logo mais . .,. Agucrdem: o bando pl~islo lechnoopero-OOu~olch-sompler, DJ Chila, inH~t enciodos p3r Strovins~. Voodoo, Egbelto Gismonli e Phillip Gloss. Abando esló com uma demo gravado em 16 canais, eé mais ·pcp que sambo e mais 00use que rock. O ~luro jó p3rece meloor. caos
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CARLITO CONTINI - pinturas (óleo/tela) - até o dia 22 de dezembro na Casa Triângulo/ Rua Bento Freitas 33/ São Paulo. NELSON LEIRNER - pinturas (óleo/tela) - até o dia 23 de dezembro na Luisa Strina, Rua Padre João Manuel/ 974, São Paulo. BOI -pinturas (acrílico/tela) - até o dia 22 de dezembro na Subdistrito Comercial de Arte/ Rua Artur de Azevedo 401/ São Paulo. LUCY VILLA-LOBOS/ SHEILA GOLOBOROTKO pinturas (óleo/telaL gravuras em metal - até o fina l do mês na Espaço Capital/ SCL- Sul 405 -Bloco B - loja 16/ Brasília D.F. ADRIANA VAREJÃO/ CAETANO DE ALMEIDA DANIEL SENISE, EDGARD DE SOUZA/ GUILHERMO KUITCA/ TONY CRAGG Estande E-204- até o dia 20 de dezembro na Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rua Barão do Torre 185-A Rio de Janeiro. EYMAR BRANDÃO - pinturas (técnica mista) ·_ até o dia 11 de dezembro. Dia 19 de dezembro: apresentação do vencedor do Prêmio Fiai de vídeo 1989/ ROGÉRIO VELOSO e MERRY COUTO, no Sala Corpo e Exposições/ Avenida dos Bandeirantes 866, Belo Horizonte. GLÓRIA YEN YORDI/ GAUDÊNCIO FIDELISpinturas (acrílico/tela), esculturas- até o dia 27 de dezembro na Art & Foto/ Ruo Santo Antônio 226/ Porto Alegre. FRANCISCO STOCKINGER - esculturas de flores - até o dia 30 de dezembro na Tina Zappolli/ Ruo Paulinho Teixeira 35, Porto Alegre. caos
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"O
QUE
EU
FAÇO
É
NÃO
FO-
TOGRAFIA E NEM XEROX", DIZ LIEVE PRINS . Aos 41 seu
A
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T
E
anos, Lieve veio mostrar
trabalho na
XX
Bienal de Arte de
São Paulo, mas diz que foi enganada.
"Eu ficava só xerocando mãozinhas de crianças que vinham em excursões, nâo houve em nenhum momento um intercâmbio entre artistas ou qualquer tipo de " Still Live Action", Lieve Prins 1989. Em colaboração como Toto Frima, Diana Blok, Morto Broekmans, Dirck Braeckman, Jürgen Olbrich, Pim Vlug e Jaschi Klein.
discussâo". Lieve Prins retirou -se do Bienal levando seu t rabalho de volta para Amsterdam . vos,
peixes,
Lieve coloca flores e
pessoas,
pol-
outras coisas
em
cima da máquina de xerox e tira cópias em tamanho
natural.
que ela
faz,
Mas
vai
o
muito
além de copiar. " O
que
nós temos nâo é
uma
cópia de ela diz,
um original"
"é um original
em si. É uma peça única em
tamanho
natural".
Numa performance, Lieve Prins convidou 7 tistas
holandeses
ar-
para
participar com idéias e poses para os xerox. O resu ltado
" Sti/1
é
Live
Action " (foto). Na performance,
ela
colocou
p lástico e
água em ci-
ma do vidro da copiadora
para
criar
uma
idéia de movimento . Outras vezes, foi a própria imagem
que
se
mentou.
Para
máquina
é
movi-
Prins
um
a
grande
saco de truques : "é uma
máquina mágica aonde dó pra você desenhar, pintor e fotografar com resultados Prins +
super
profissionais".
Lieve
idéia + fotografia + xerox - Bie-
nal = Arte (Sérgio Sampler) cao s
19
A
T
R
E
PODERIAM SER CADEIRAS. MAS NÃO SÃO. PEDEM UMA FUNÇÃO UTILITÁRIA QUE NÃO SE REALIZA NA PRÁTICA. Poderiam ser bichos. Mas não são. Aqui, as partes não se articulam organicamente. Afinal, a quê categoria de objeto aspiram as últimas criações de Edgard de Souza que, com 27 anos, já percorreu vários salões e a feiro internacional de arte de Colônia? Edgard de Souza não é escultor tradicional que retira camadas de um material, esculpindo propriamente dito. Tampouco acrescenta
significa-
dos a objetos já existentes no cenário industrial. Edgard
de
Souza
se
aproximaria
mais
do
definição de designer, no sentido de desenhar e construir peças que ocupam seu imaginário. A aventura da invenção desse mobiliário absurdo escapou de umas telas bidimensionais em que a
questão da
representação do
rea l ainda era em estado ba lbuciante. Edgard pintou dólmens, pedras em estado bruto, para depois se lançar a
tarefa
de 'construtor', onde realmente propõe uma estética singularizada. E aí foi lapidando pedras, até e las se tornarem preciosas para a arte: alianças, pérolas, jóias
moedas,
mesmo.
artista,
O
hábil,
durou-as
pen-
na
pa-
rede, corpo por excelência da história. E
agora,
nhos. vãs.
Com
râ ncia seda,
banqui-
Cadeiras. do
da
a
Di-
exube-
veludo,
da
espuma,
do
couro. Ancoradas em pés de
madeira.
Silenciosas.
Magnificientes e autosuficientes. Com
perfeito acobCímento.
Ed-
ga rd de Souza é um sedutor. Sabe capturar
nosso olhar.
Tudo
nele é virtual, ameaça acontecer numa dimensão que sempre escapo ... As obras de Edga rd de Mobi liá r io obsurdo d e Edgo rd de Souza .
caos
20
Souza são puro desejo . (Lisette Lagnado)
IMPOSSÍVEl NÃO lEMBRAR DO NACIONAl KID. VOCÊ CONHECEU? Talvez fosse muito mais mal produzido, mas não perdia em monstros e dramaticidade para )aspion e Changeman. Esse tipo de série de heróis é super-característica do Japão e dificilmente será prcr TV/QUADRINHOS
duzida com tanto charme (sic) em outros países do mundo.
Épreciso
.,o
aquela ingenuidade típica dos
;
japs. O fato é que tendo estreado
õ' em 1986 no seu país de origem, tanto )aspion quanto Changeman tiveram sucesso garantido por lá,
Floshmon, junto com
seus primos Cha n goman e Jaspion protegem o Japõo
antes de atingirem a tela da Manchete. No Brasil, além do TV os heróis via jam num circo. lmagi·
RÉSTIAS OE AlHO, CRUCIFIXOS EREZA BRAVA NÃO IMPEDIRÃO QUE DRÁCUlA ATAQUE TODAS AS BANCAS DO PAÍS NO COMEÇO DE90. Não é que os pescoços dos jorro eiros eslejom apetitosos. Trolo·se do próximo grophic nove! do Ed:toro Abril, estrelado pelo lendário conde romeno, com lextos eaquarelas ce Jon J. Mulh. Edilodo em 1986 pelo tv\arvel, o óbum :em 80 pág·· nos que se sentiriam profundamente o1endidos se fossem chamados de 'gibi'. Sõo uma obco de or!e. "Oráculo - umo sinfonia de luar e pesadelos" é um livro ilustrado. Não :embalões nem onomotopéios. O tem é fo•ocomfX>s:o em estilo clássico e os páginas são emoldurados fX>r vir.hetos que SJgerem uma produção bem cuidado. Não deve agradar aos morve!es e decenoulos que se hab·toorom o ver, pelo selo de quadrinhos adultos, ver· sões melhorados de seus barulhentos, ingénuos e moralistas super· heróis. Oróculo !em classe. Sobe usar os fX>deres do sedução poro sugar, do songue de suas vítimas, o vida eterno. A novo linho editorial que o Abril vem apresentando em seus quadrinhos de luxo são, também, uma prévio dos livros edições em copo duro, poro colecionodores com orçamentos mais folgados- que devem ser publicados ainda em 1990. Este seria o resultado do união enlre o exlin!o Novo Cultural, que se dedicava aos fascículos e similares, com o divisão inlonto-jwenil do rooo poderoso edi,oro de Victor Civita. A Abriljovem, opesor do nome esdrúxulo, promete surpreender o concorrência e tomara -o público. ~rcelo Alencar)
Oráculo, quad rinh os em oquarela , chego às bancos no começo do ano
nem os incríveis plantas cornívo· ras morrendo de raio laser sob uma lona em Ouixeramobim. A garotada delira. Muitos amigos também. Tenho me descoberto não sendo o único que busca o mais esquisito passível para ver na telinha, na falta de algo mais consistente. O 'cult' da década de 90, nessa linha, deverão ser as produções coreanas classe 'z'. Enquanto isso a Everesl Vídeo do
Brasil avisa: a série já saiu do ar no Japão, mas foi imediatamente substituída por outra do gênero. O público fiel não ficará sem en· tretenimento. Os mais rigorosos continuam pedindo a reprise do vovô Nacional Kid contra os destemidos
Incas Venuzionos.
(Marcelo Machado)
E E
CINEMA PARADISO- Giuseppe Tornotore, Itália (88) - Nos anos 50, numa vila siciliano, um garoto de dez anos descobre o mogió do cinema pelos mãos de um projecionisto. Daqueles filmes que fazem o gente entender porque é que o cinema foz tão bem .Prêmio Especial do júri no Festival de Cannes de 89. Demais! NAVIGATOR, UMA ODISSÉIA NO TEMPO - Vincent Word, Novo Zelândia (88) - Tudo começo no século XIV. A peste se aproximo de uma aldeia. Um garotinho tem o visão salvadora: fazer um buraco no Terra e sair do ou tro lodo. Lá, é só colocar uma cruz de cobre no alto do catedral. Só q ue o buraco é grande e o tropa de a ldeões sai no Novo Zelândia em 1988. Isso é que é viagem, o resto é passeio. EU SOU O SENHOR DO CASTELO - Régis W orgnier, França (88}- O poder não tem idade. Dois pivetes disputam território, lutam pelo amor de uma mãe e de um poi, contam coragem e covardia. Mos numa guerra ninguém ganho de verdade e nesse filme é assim. Além do oceano está o final. E ele se aproximo cada vez mais. Sucesso no último Mostro. ROSALYNE E OS LEÕES-Jean jocques.Beneix, França (88) Nessa ele dançou. Ah Betty 8/ue ... A idéia era boa: um casal de domadores de leões, o amor deixando de ser humano e se tornando fero Só que Mr. Beneix se encantou pelo loirinho e pisou no cauda do gatão. O próximo desconto, você' pode ler certeza. Quem sobe o cominho não se perde duas vezes ... NÃO MATARÁS- Krzysztof Kieslowski, Polônio (8 8)- Um garoto. Um cho fer de táxr Um advogado. São esses os personagens do filme Só que de repente tudo mudo de figur~: não é só um garoto, nem um chofer de táxi e um advogado. E a coro do humanidade que aparece neste espelho. Comus passou por· aqui.. . Estorrecedorl N ÃO AMARÁS - Krzysztof Kieslowski, Polãnio (89) - Ganhou o 13 9 M ostro e com muitos méritos. No Brasil vai ser distribuído pelo Pandora . uma distribuidora jovem e cheia de coragem. O rapaz do correio fica observando a vizinha artista com uma luneta. Rouba suo correspondência e se-apaixona por elo. Mos... o amor tem tontos lados e sempre é tão diferente. Q uem acreditava nele se decepciono. Quem já tinha esquecido se apaixono Nó no garganta e no corpo inteiro. O URSO -Jean Jacques Annoud, França (87) - A história de um urso desde sua infância até que ele se torne adulto. Pro todo mundo sair do cinema e posso r no circo. Mãe ... Eu quero um ursinho ... O urso víOfO. come uns cogumelos e vôo sem medo pelo 'rmaginoçõo. Do mesmo diretor de A Guerra Do Fogo. REUNIÃO- Jer~y Scho tzberg, EUA (88) - Um menino judeu e seu o mrgo, um nobre alemão Os dois são separados pelo 2º G uerra. 50 anos depois, fÓ advogado, o menino judeu sai de Novo York e volto poro Stullgort poro descobrir o que aconteceu com seu amigo O reencontro será comovente. Recordar é viver...
OUTROS FilMES llGAtS QUE DEVEM CHEGAR LOGO MAIS: MISlfRY lRAIN- Jimjarmusch, EUA (891. A VIDA E NADA MAIS - Bertrand Tavernier, França {89). TAMPOPO- Juzo ltami, Japão (87) O SONHO DO
SHIRT lN
TH~
BOX
COMIDA TODO MJNOO QUER !W'()';.. E NÃO HÁ IW{)R MAJS SINCERO QUE O AN{)R PElA COMIDA, como di$5e Bemord Shaw. O alimento é onles de ludo, ali-
mento poro o olmo. Eo crie culinário o expressão dessa ene~gio; um dos troços mais fortes de uma cultura. Fascinado por esta linguagem, Neko Menno Barreto é hoje umo especial representante do culinário ·de vanguarda' no pois Sensive~ mente expe~imentol, seu lrobolho não se limito apenas à criação de novos e deliciosos prelos e combinações. Poro Neko o alo de comer eslà cercado por uma cadeia de sensações e estímulos, que hoje em dia estão sendo massacrados pelo fost·food. Formado pelo cozinho nalurolislo, hoje Neko se dedico o descobrir os ·:
segredos que cada alimento guardo em si e no suo combinação com os outros.
~ C)
'Afinal se umo omelete é umo ólimo solução salgado, porque então não procurar o
.!1
suo mois perfeito solução doce?', pergunto elo. Seus jantares e coqueteis são ver·
g
dedeiras instalações com alimentos, prelos de pedras, travessos de vidro, copos em
a:
formo
c;
de tubos de ensaio, cromos especiais. Frente o uma de suas mesas lemos
que descobrir uma novo maneiro de comer ludo aquilo que normalmente conhecemos, só que ogoro recriados pelo estético do polodor. Éum trabalho. corno os meNoko Menno Sorroto fez umo copo comestível
lhores do orle, que oferece o belezo o quem contemplo e simuhoneomente exige umo novo compreensão deste loto. jà que somos finitos, enlõo sejamos belos. Poro
do CAOS. Pro olhar
culinário de vanguarda, disque Oli 257-7865 e fole com o Neko. IM)Jio Ramiro)
e comer.
s
A B O R E S G E N T E N G D R E s s
D R E S S I N G
R E
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s
p E R A D O s B o N I T A y o R K S p N E w N E
A U R A N T E
R AMAURI
337
FONE
282 5347
CERVEJA ATÉ JANEIRO VOCÊ TROMBARÁ NOS SUPERMERCADOS COM A VERSÃO NACIONAL DA CERVEJA HOLANDESA HEINEKEN, A CERVEJA NÃOAMERICANA MAIS BEBIDA NOS EUA De cada quatro lotinhos importados consumidos nos EUA, uma é Heineken. Os Países Baixos, produz mais de 50% do cerveja consumido. Produziu 4.3 bilhões de litros ano passado, o equivalente o todo cerveja bebido ano passado no Brasi l. Aqui, elo vai ser produzido pelo cervejaria
Kaiser, que montou uma fábrica especial poro fazer o Heineken. Segundo os figurões do Koiser, o sa· bor será igualzinho ao do original "seguimos o sis-
tema da Coca-Cola, temos o mesmo sabor no mundo inteiro". Pode até ser, mos só acredite experimentando: o problema da cerveja brasileira não é a receita,
é a água utilizada -
co-
mo sabe qualquer bebedor respeitável. Se der certo, a Heineken até valerá os 10% mais coros que custará.
Apesar de fra-
quinha, seu gosto é étimo. E o rompimento do monopólio Brahma-Antarctica só traz vantagens e abre um precedente importante. Com um pouco de sorte, A novo c erveja paro o verão brasileiro
em algum tempo teremos aqui néctares divinos co-
mo o elegante Sapporo (uma "dry beer" japoneso que não deixa travo azêdo no boca e tem 10% o mais de álcool) e o néctar dos néctares, a Carls-
berg Lager, que, como reza o famoso slogan, é "the best lager in the world - probably". (André Forostieri) caos
27
ARACAJU Konoo ARARAQUARA Bonny & Clyde PostOficce BARBACENA Brasil Sem Z BAURU Posto 5 · Jeonerotion . BELÉM Visão BELO HORIZONTE Zok Nos h Pele Moreno Ro li a Contorno' s Boutique Step ByStep Ro ii Woy BLUMENAU M.H.P. Jeons BRASÍLIA Do llo's Clube Jeons Jeons Oeste CAMPINAS lo Marco Condy CAMPO GRANDE lojas Centauro CANOAS Bronson C~X IAS DO SUL Fredizzi CRUZ ALTA Trekus CURITIBA Jean stock FEIRA DE SANTANA Micheloom Boutique H2A lino's Modos Otton Center FLORIANÓPOLIS Modelo r Beco FORTALEZA Stillo' s Ocqpono GOIANIA G reen House IJUÍ Buroku's JACAREÍ Rosvoldo Modos JAÚ Fred Jeons JUIZ.DE FORA Coso Dei monte LONDRINA Biboco MACEIÓ Sko llus Mister' s Mochu's
MARÍLIA Belo Mogozine MARINGÁ Genko NATAL RioCenter Boome rongue PASSO FUNDO Maré Alto PORTO ALEGRE Coso lu Huff Konto Kente Bronson RECIFE Mó fomo Spe lunko Teresinho Boutique Tolent RIBEIRÃO PRETO Abruzzy - Jeonerotion RIO GRANDE Collores SALVADOR Ferramenta do Corpo Woshi lido Converse Do rion Pop Unissex Eremita SANTA MARIA Vento Norte SANTIAGO G.B. Tomiosso SANTO ANDRÉ Koiuvi SANTOS Pont's Jeons SÃO BERNARDO DO CAMPO Dud u Conf. SÃO JOÃO DEL REY M.V. Speciol SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Broubeck's .Jeone rotion SÃO PAULO Jeons Store Jeons Torko Skin Jeons Bob Shop Teen's look Jeons Flash Bock Turbo Jeons Revue Remember SOROCABA Só Calços Kiss TAUBATÉ Boby'o Ponto Q ua tro UBERABA JoóoeMori o
I
I~ <
I
>
OG~AN~C MO~ MCNIO O principal problerna dos anos 80, para os seus críticos, foi ter sido incapaz de produzir urn G r ande Movirne nto. Movirnento: essa palavra mágica já teve um poder
sedutor quase imbatível. Organizar o Movimento era sinônimo de lutar contra o estabelecido, o status quo, a caretice. E mais: movimentar-se pressupunha uma meta, um futuro em que a humanidade, seguindo as regras do Movimento, se tornaria livre, leve e solta. O mundo não escondia sua simplicidade: de um lado estava a repressão, do outro estavam a malucada-beleza e o povo revolucionário. Entrar para o Movimento significava tomar partido do Bem contra o Mal. Talvez a única idéia-forte, quase consensual, dos anos 80 seja uma descrença profunda na simplicidade do mundo. Por isso a impossibilidade de um Grande Movimento: nem o bem nem o mal significam amesma coisa pra todo mundo. Por isso, contra o Grande Movimento, o que a nossa década viu acontecer foi uma proliferação abusiva/excessiva de todo tipo de 'movimentos', quase sempre de vida curta e que não mais exigem a adesão perpétua de seus militantes. Fim das ideologias, fim das ilusões ou qualquer outro fim. Os anos 80 terminam com esse inebriante show televisivo chamado o fim do comunismo. Nenhuma novela se compara com essa superprodução: um dia é o massacre na China, no outro é o Solidariedade tomando o poder na Polônia, depois é a fuga de milhares de alemães orientais. E nas cenas do próximo capítulo aparece o partido comunista húngaro que decide não ser mais comunista. Tudo é show e qualquer causa é um bom motivo pra se fazer um show, seja ela a fome na Etiópia, a destruição da Amazônia ou a divulgação do SOS Racismo francês. A política cai no ritmo do pop e os movimentos entram e saem de moda (ou ganham e perdem interesse) com uma velocidade impressionante. Superficialismo? Pode ser. A 'profundidade' sempre foi cúmplice das verdades eternas e suas propostas de catequese universal. O pop é o inimigo público nº 1 da eternidade. Quando até a política (ou a religião: esconderijos ideais para os sacerdotes do eterno) se transforma em fenômeno pop, o mundo inteiro já 'assumiu seu lado' (para usar uma expressão bem datada, bem anos 60) efêmero e eternamente precário. Veja o caso das artes plásticas. Os anos 80 começaram neo-expressionistas e terminaram inexpressionistas. Todos os estilos da arte ocidental foram lançados como neo-modismos em menos de dez anos. Todos eles conviveram mais ou menos pacificamente uns com os C CIOS
28
outros sem nenhuma das características guerrilheiras das va'nguardas de 50 anos atrás. O público escolheu todos os estilos ao mesmo tempo, sem se comprometer com nenhum deles. A mesma coisa aconteceu com a religião. Os fiéis praticaram como nunca o do-it-yourself. Aqui uma pitada de budismo, ali um mandamento islâmico, mais adiante uma meditação sufi. Ou então: hoje rajneesh, amanhã teologia da libertação e depois de amanhã candomblé. Ou então (para roupas, música, etc.): hoje neo-romântico, amanhã acid-house e no futuro (quem sabe, tudo é tão imprevisível) qualquer coisa. Cada um deve inventar seu próprio credo, seu próprio estilo, sua própria mixagem cultural. Para isso é necessário ser forte como um superhomem (em alguns casos) ou apenas ter a atitude de quem vai ao supermercado. Quem não quiser escolher basta ir na onda, se deixando levar por um dos milhares de movimentos que aparecem todos os dias. Isso é ao mesmo tempo muito fácil e muito difícil. Os movimentos de hoje não podem deixar de responder a algumas questões impertinentes. Como dar a mínima durabilidade (que caracteriza um movimento) ao espontâneo, ao efêmero? Como dar sentido coletivo àquilo que se alimenta do individualismo? Como inventar a política (se esse for o caso) a partir da descrença na política? Como organizar um movimento que não se burocratize, que permaneça ágil, vital, revendo sempre suas regras? Talvez o sucesso de organizações/movimentos como o SOS Racismo, o Greenpeace ou a Anistia Internacional venha de uma habilidade para lidar com essas perguntas e com um mundo irremediavelmente pop. Existem muitos impasses, é claro. Por exemplo: o crítico Frank Owen apontou, no Village Voice, a con-· tradição que existe entre um movimento ecológico que prega a frugalidade/contenção e uma cultura pop que vive do excesso e do desperdício. Como unir os dois mundos? Só o Sting tem a resposta? Chega de perguntas. O charme dos anos 80 está na diversidade de caminhos propostos para resolver qualquer problema e nos inúmeros movimentos surgidos para defender qualquer causa. Se não viver numa situação-limite como a da China, até o nosso hippie velho (que detesta os anos 80) pode praticar seu Grande Movimento em paz.
Herrnono Vionno é ontropólogo
<>PI~
..
I~
CN~ NO NOIA lC~O No vestibular da dignidade, o ens ino brasileiro foi reprovado logo na prime ira fase. A sa no boletim, urna
cifra
nota .z:ero, impresfoi substituída por
numericamente
40 milhões, a
maior:
quantidade de anal-
fabetos existente no país. Para cada dez
pessoas que sabem ler e escrever, três não distinguem a letra a da letra z. O analfabetismo é apenas o resultado mais visível de um problema, assustador, que se estende dos primeiros anos da vida educacional de uma criança até o ponto final de uma história acadêmica. Um dominó derruba o outro, numa trilha inexorável. O ensino primário golpeia o ginasial. Este atropela o secundário - e todos nocauteiam a universidade. A definição social de um Brasil que se divide em dois - o país dos 30% com mais dinheiro, que manda, e o país da maioria de 70%, que apenas sobrevive - imprime ao sistema educacional uma série de vícios. As melhores universidades, onde o patamar de pesquisa pode ser considerado bom, são as estaduais, gratuitas. Quem tem dinheiro, e pode frequentar um cursinho pré-vestibular, consegue ingressar numa destas faculdades. As pessoas de menor poder aquisitivo, que jamais passaram sequer na frente de um cursinho, são justamente aquelas que acabam sendo reprovadas no vestibular. Resultado: a única alternativa é a matrícula em universidades pagas, que oferecem um péssimo ensino em troca de muito dinheiro. Não pense, contudo, que o bom ensino nas universidades estaduais seja uma regra - ao contrário. Para cada ilha de excelência - que existem mas são raras - há uma centena de universidades fracas. O sociólogo carioca Edmundo Campos, autor do livro 'A Sinecura Acadêmica', em que faz um diagnóstico arrasador da universidade brasileira, diz que os reitores são medrosos e não têm mais liderança no meio acadêmico e denuncia os professores como medíocres. Numa entrevista dada à Revista Veja em dezembro do ano passado, Campos foi claro: "O que faltam são idéias". Para o sociólogo, na época do regime militar a universidade foi vítima do autoritarismo- agora ela padece da falta de autoridade. Campos tem boa dose de razão. O Brasil, como país de Terceiro Mundo, sofre com a falta de dinheiro. Este é um fato, inquestionável, que não justifica tudo. O sistema de ensino só poderá obter algum resultado se os governantes se dispuserem a investir mais na educação - e os educadores compreenderem que as escolas não funcionam como repartições públicas onde basta preencher o cartão de ponto. É preciso ter em mente que o ensino só pode ser oferecido por pessoas preparadas, e que para isso muitas vezes é necessário desagradar a determinados grupos. Educação não é jogo. Os exemplos de descontrole da universidade brasileira explodem por todos os cantos. É exagerado, para não dizer c aos
30
absurdo, o contingente de professores do país. Há no Brasil, um mestre para cada grupo de sete alunos. Nos Estados Unidos, esta taxa é de dezanove alunos para cada professor. Oitenta por cento da precária verba destinada à universidade é dividida entre funcionários e corpo docente - à pesquisa científica, fruto maior de qualquer idéia acadêmica, pouco resta. Há que se dizer, ainda, que os professores também não primam pela qualidade. No ano passado, o físico José Goldemberg, reitor da Universidade de São Paulo, a USP, prometeu limpar as escolas dos chamados "professores improdutivos". Até agora, contudo, nada foi feito. Além do descontrole das verbas, do excesso de mestres e da precariedade na produção acadêmica, um outro fenômeno agride o ensino superior: a universidade mal assombrada, repleta de fantasmas , fantasminhas e fantasmões. Há seis meses, o mesmo Goldemberg jubilou 202 alunos da USP. Motivo: eles fizeram matricula na universidade apenas para conseguir passe escolar de ônibus, pela metade do preço, ou então para frequentar o ensolarado clube encravado no campus. É verdade que os alunos fantasmas não são como seus parentes funcionários públicos, que ganham sem trabalhar. Mas o fato perverso é que sua existência barra o acesso à universidade para outros estudantes. Segundo cálculos da USP, cada um dos 6.200 alunos que ingressam na universidade atualmente - dos quais apenas 65% se formam - custa aos cofres da faculdade cerca de 6.000 dólares a cada doze meses, esteja ou não assistindo aulas. É muito dinheiro - e quem paga é a sociedade, através dos impostos. Enquanto vicies como este dominarem o ensino brasileiro, que vale menos do que uma ferrovia que vai do nada ao lugar nenhum, a educação permanecerá de cama. doente. Mas há o que fazer: basta que se rotule a educação como meta primordial, ainda que para isso um punhado de funcionários públicos seja colocado na rua. Fábio Altrnan é Editor d e Geral da Revista Veja
El~
corn~çou
grif'ando alf'o. IV\uif'o alf'o . C apaz:. d ~ i n c o m o d a r rnuif'a g~nf'~. Capaz:. d ~ t=az:.er s~u n o m e conh~cido corno o d~ u m l íd~r, u m rn~ssias, u m anf'i - h e r ó i ou coisa a ssim. Era o começo . A i n d a ~ sf'ava ~ rn Brasília . Sua b a n d a se chamava Aborf'o El é f'rico. ' Ge r a ção Coca-Cola' t:e diz:. a l g u m a coi s a? Era u m r e i n o e x í l i o , ~r a u m r e b e l d e c o m rnu i f'a s causas. Hoi~ e l e f'~ rn 29 a n o s e se chama R~na f'o Ru sso . H er m a n o V i a n n a 't a m bé m f'~rn 29 anos. Tamb é m e r a d a 'turma d e Brasília. S~u i r m ã o rnonf'o u urna b a n d a que ofoi 'tocar na capi'tal: Os Pa ra l a rnas d o Sucesso. E l e ofoi ~sf'ud a r. Cornplef'ou o rnesf'rado ~rn Anf'ropo l o g i a , ~n f'rou n o m u n d o dos b ailes b l a c k n o Rio d~ .Jane i r o e d~pois t=~z:. o rof'~iro d o p r o g r a m a A:frican Pop p a r a a TV IV\anch~f'e. Renaf'o Rus.so i á é conh ecido p o r 'tod o ·m u n d o . Já ofoi capa d e r~vis f'as, d~u ~nf'revis f'as, posou p r a ofof'os, canf'ou na f'~l~vi são e a p a r e c e u ~rn p ro g r a m a s d~ música p ~ lo m u n d o a-fora. Explodiu n o -fi n a l d e 84 e começo d e 85 c o m o Legião Urb a n a . Ele canf'ava u m silêncio d e q u a se 20 anos n o país. A i n d a e r a cedQ 'p r a diz:.~r q u a l q u e r coisa, p r a p r o g r a m a r q u a l q u e r r ev o l u ç ã o , p r a a r m a r soldados . e o r g a n i z a r g r u p o s f'er rorisf'as. IV\as Re n a'l'o Russo e n c a r o u o m uro~ ofoi d~ cab ~ ç a . Depois d o começo a rm a d o , surpr e~ nd e u 'todo m u n d o com 'Eduardo e 1\ilônica'. A s p a l a vras d e gu~rra a g o r a e r a m p a l a vras de amor. O guerrilheiro a mava, s a n g r a v a , s o-fria ~ 'tin h a m e d o d e -ficar sozinho. IV\as q u e m nasce p r a l uf'a n a o perde a rn~f'ralha dora n o rn~io d a rna f'a: ' Q u e País É E s # e ••• • O f'~rceiro d i s co d a L e g i ã o , '1978/1989', 'trazia as b a l a s e a r m a s d e volf'a à ci d a d e . 'Faroes#e Caboclo' conf'ava o o uf'ro l a d o d a g e r a ç ã o reofrig er anf'~: reb ~ldia é sinônirno d e esf'ar v i v o . As a r m a s : música, paz:. e v i são . ' A s Qua#ro Es#ações', o quarf'o L P d a Leg i ã o 'traz:. a p re o cupaçã o com o a n o 2000. O 'tempo passa ~ as p essoas se aofasf'arn. H e r m a n o V i a n n a pegou u m 'táxi ~rn. Copacabana e ofoi p a r a r na Il h a d o G o v e r nado r . Lá e l e enf'revisf'ou com exclusividade para a CAOS o ca n f'or d~ r o c k m a i s rebeld~ d o Bra sil . R enaf'o Russo conf'a as suas von'ta des, s u as d ú v i d a s , sua s b a n d e i r a s e s ua s e s p e ra nças •••
Na nossa última conversa por telefone, quando apareceu o assunto "eleições presidenciais no Brasll", você citou o livro 'Servidão Vo l,untária', do filósofo francês Etienne de La Boétie, para afirmar que a maioria da humanidade seria formada por cegos. Penso que essa pode ser uma boa pergunta para se dar início à entrevista: você se considera parte da minoria que vê? ~fNAlO ~usso A questão toda é paradoxal: mesmo se eu for da minoria que vê, eu sei que não vejo nada. Existem certos fatores culturais, sociais e fatores até ligados ao aspecto físico da pessoa, que determinam, ou melhor, que proporcionam uma diferença, isto é, como a pessoa pode chegar a perceber o ambiente no qual vive ... A partir daí, e por isso é muito confuso , você pode falar em ver mais ou ver menos. Para ver não é preciso necessariamente ter contato com a cultura ocidental ou com os livros. Talvez o mal seja a palavra, eu não sei ... Talvez não exista possibilidade de viver no mundo civilizado, com tudo que isso implica e ter a verdadeira visão, como a de um santo ou de um eremita. Mas uma coisa é certa: em termos de rock and roll, de mass media, de como essas coisas funcionam, eu vejo mais que outras pessoas. Aqui eu estou falando em informação, não exatamente em qualidade de informação, mas em quantidade de informação. Quanto mais você tem informações, e se além de captar você ainda cria em cima disso, você vai ter uma visão (pop) maior que as das outras pessoas. Mas, eu não sei, você faz umas perguntas muito sérias Hermano (risos) ... No meio do caminho eu me enrolei profundamente. Vamos começar tudo novamente? Tenho medo ·do que você vai escrever depois ... Eu não estava preparado para esse tipo de conversa. CAOS Não, agora eu revelo onde eu quero realmente chegar: muita gente fala do Renato Russo como um Messias. Talvez as pessoas acreditem que você possa dar visão
CAOS
caos
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aos cegos. Aí eu fico pensando no mito do rock como agente conscientizador. ~fNAlO ~usso Mas é esse o objetivo. Mas é claro ... Eu estou rezando para que a gente entre logo nos anos 60. Eu já cansei de sonhar com isso. Eu queria que... Tem o Help, tem Satisfaction, tem Like a Rolling Stone e daqui a pouco vai ter Rubber Soul, oh!!! Se eu pudesse resgatar... (Isso não pode ser assim. A gente teria que conversar sobre zilhões de outras coisas antes de entrar nesse assunto). Eu não acredito nessa história de Messias nem nada. Mas eu gost aria que a música da Legião pudesse ser para as pessoas como a música dos Beatles, dos Rolling Stones e do Dylan foi e tem sido para mim. CAOS Foi e tem sido o quê? ~ENAIO ~usso Um guia, exatamente e sem erro. E já que eu escolhi isso como minha profissão, eu tenho que me preocupar com esses problemas. A música envolve tudo ... Tudo. CAOS Mas voce é um guia para as outras pessoas? ~fNAlO ~usso Não sei. Eu não falo guia no sentido de mentor, eu falo guia no sentido assim de "What's Happening". Nós não temos os nossos "What's Happening"? Eu tenho. Eu sei o que está saindo... Agora, muita gente não tem. CAOS Mas por que essas informações que nós temos são importantes para as outras pessoas? RfNJIJORUSSO (silêncio) ... Porque até segunda ordem nós estamos falando (eu pelo menos estou falando) de informações ligadas ao aprimoramento do Homem através das mais inspiradoras e ecorajadoras manifestações do Espírito Humano ... Ufa! CAOS Você acredita na evolução do Homem? Os Beatles seriam parte dessa evolução? Foi um passo adiante? RENAlO RUSSO Mas naturalmente! CAOS E você agora pegaria a tocha... RfNJIJO RUSSO Mas é pra isso que você tá com uma guitarra, vai perguntar isso pro Herbert, oras! (risos) Que bobagem! Mas, é claro, é um motivo pra viver. Eu tenho outros motivos, meu filho, por exemplo, mas em termos de expressão, e).l digo pra você, o que eu faço não é rock. E rock porque é assim que as coisas são classificadas, mas o que a Legião faz é folk, música folclórica. Mas isso é um ponto a ser debatido, você pode dizer que Xuxa é música folk também. Eu não sei explicar... Eu juro que eu não sei explicar essas perguntas! CAOS Outro dia eu vi aquele documentário da BBC sobre o Rio, o Rough Guide, e nele a Legião é apresentada como uma banda rebelde, o cara que escreve as letras contra e ... RtN.AJORUSSO Hermano, eu juro pra você que eu nunca
imaginei que eles iam, nesse nível, colocar na mesma frase a minha banda e uma outra banda do nível do Smiths, como fazem no Rough Guide. Isso pra mim é o máximo. E logo logo eles vão estar comparando Legião com os Beatles. E meu plano de dominação mundial, baby (risos). Afinal, eu tenho que viver com algum projeto, não é?
c A o s Olha que eu vou escrever isso tudo. RfNNORUSSO Pode escrever, não é uma coisa bacana? CAOS Mas eu não queria falar sobre isso, mas
sim dessa classificação de rebelde. Isso é confortável pra você? RcNNO RUSSO Eu acho extremamente confortável. Muito mais confortável do que a apresentadora pegar o meu disco e falar: " This has sold
CAOS Mas existe integridade possível dentro da
EM! (gravadora da Legião), para citar aquela velha música do Sex Pistols? RcNNO RUSSO Eu acho que existe integridade possível em qualquer situação. Alías, eu vou ser sincero pra você, o que nós fazemos dentro da EMI, embora nós tenhamos tropeços e tudo , é buscar o mais alto nível de integridade (hoje eu estou falando como o Brizola). CAOS Quero ser irritante e repetitivo: não é difí-
an appalling ten million copies and she plays lethal sadomasochistic games f or the children" como a Xuxa é trat ada no mesmo programa. É outro papo. O que
eles falam da Legião são coisas que eu fiquei superorgulhoso. Eu fiquei todo prosa. Mas também sei que eu não posso ser um rebelde se apareci naquele programa.
CAOS Aí é que está o problema. Eu acho que a
cil falar de integridade depois dos Pistols? é, fica fácil. Lá é o mundo deles, Hermano, aqui é outra coisa. Você não vai poder mudar o mundo, mas você vai poder ao menos ser um ponto de referência para uma série de pessoas que pensam relativamente próximo ao que você está colocando, ou seja, que se sentem da mesma maneira. E se ficar· sem esse ponto de referência, vai ser um ponto de referência a menos. Não é que a gente vai mudar, mas é · assim: eu acho bacana se tiver o disco novo da Legião Urbana e eu queria que existissem mais bandas como a gente e mais discos e mais pontos de referência. Mas o que acontece é justamente o contrário. Imagine se em vez de um Bob Dylan, o rock tivesse produzido dois Bobs Dilans ...
RtNNO RUSSO Não, não
Legião nunca se sentiu confortável nessa relação entre a mensagem que r - - -- - - -- - a banda quer passar e o fato de ser um produto mesmo, de estar imerso na indústria cultural, de vender milhões de discos, essa coisa de vocês serem uma banda de nível de grandes estádios e não gostarem de tocar em grandes estádios. Até que ponto ser classificado como rebelde hoje, não é uma acusação de ingenuidade? Tem muita gente que diz que a rebeldia é apenas um produto a mais , tão vendável quanto qualquer outro. RcNNORUSSO Eu concordo com tudo que você falou. Você pode associar imediatamente rebeldia à ingenuidade, até no significado que o português cotidiano dá a essas palavras. Mas a coisa é complicada, porque aqui no Brasil ainda CAOS existe muito trabalho a ser feito. Esses conceitos podem ser colocados assim por nós dois e pra quem vai ler a revista. Mas RfNNO RUSSO a grande massa, que é quem ouve as músicas, ela não está nem sabendo do que se trata. Eu não sei, talvez as pessoas que formam essa massa saibam mais que nós aqui. Talvez a rebeldia não seja a questão. Eu penso mais que eu tenho a minha vida, que eu tenho o meu trabalho e que esse trabalho tem que ter integridade.
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Eu acho que um é mais do que suficiente (risos). Mas das centenas de milhares de pessoas que compraram o disco ... Não importa, se tiver uma pessoa, já vale. Uma! Essa é a grande questão. Por que eu quando estou em casa, quando eu estou compondo, eu posso até pensar nos fãs e t udo, mas no fundo você trabalha pra si mesmo , porque você está sozinho. Eu vou citar Simon Le Bon. O lance é o seguinte: poder aparecer e falar o que você. quer .,.. caos
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falar, dançar e ainda ter a sorte de que algumas daquelas pessoas do público estejam realmente ouvindo, você quer coisa melhor do que isso? cAos Mas Simon Le Bon? É a mesma coisa que Renato Russo? RfN.AlO RUSSO (silêncio). Olha, eu acho que nós queremos a mesma coisa, mas eu acho que eu sou muito mais ambicioso. Eu quero ser um Duran Duran com as letras do Bob Dylan. E só isso o que eu quero . De repente posso estar parecendo um monstro egocêntrico e prepotente. De repente eu sou, mas não é exatamente por aí (pega o disco As Quatro Estações e me mostra). Num país subdesenvolvido, colocar um disco como esse nas lojas, eu fico feliz da vida. A gente brigou até pra ter essa tinta prateada na capa. c A o s Mas muita gente fica feliz da vida. A EMI fica feliz da vida ... RfN.AlO RUSSO Melhor ainda! Quanto mais gente ficar feliz melhor. c A o s Mas você acha que para a EMI esse produto (pego a capa do disco) tem alguma diferença com relação ao do Duran Duran? RfNATO RUSSO Isso não importa. Uma corporação é uma corporação. Mas eu não vou me sentir à vontade se nesse processo pop, nessa cor-
um show da Legião de trás do palco. A reação do público, voltado para você, é raivosa, furiosa, dá medo. RtNAiO RUSSO Foi por isso que a gente mudou o repertório. Não se pode lidar com o público nesse nível. Eu fui no show do Menudo, eu sej como é que é. Menudo é impressionante. E a mesma coisa. Mas eu não quero passar por uma fase de U2 ou Simple Minds. Por falar em shows espetaculares: você acha que esses megaconcertos tipo Live Aid ou Anistia fazem as pessoas pensarem na Etiópia, na ecologia ... RfNAlO WSSO Não sei se fazem as pessoas pensarem, mas pelo menos ela,s vão ficar sabendo que isso acontece. E importante. Talvez não seja eficaz no sentido de fazer com que as pessoas entrem em ação. Mas só você colocar uma idéia positiva já é bom. Mas eu acho que a questão política crucial do momento é o individualismo, não é a ecologia, essas coisas. A questão é o seu amigo que está morrendo de câncer. Por um descalabro, o pop está sendo desviado pelo sistema para representar uma coisa que não é a essência dele mesmo. A questão do pop é o indivíduo. Pop é o que os Beatles fizeram com Rubber Soul. É alguém pegar de onde o Dylan parou. Teve o Morrisey mas a visão dele é muito peculiar, ela não se encaixa para todas as pessoas. Está faltando o intercâmbio entre o pop e os processos individuais. Porque na hora H não é baleia, não é ecologia que conta, se a pessoa tem uma conscientização individual todo o resto vem junto. CAOS
Explica melhor como o pop pode se meter com isso tudo. O pop politizado não é um pop degenerado? RtN.AlO RUSSO O lance é o seguinte: o bom pop é a ligação entre o indivíduo e essa bagunça toda que está aí. O pop é justamente isso : três minutos de vida. Você pega Satisfaction e o tempo pára. Por três minutos. C A OS
Mas tem gente que não se contenta que o pop seja só isso. Tem ídolo pop que quer a eternidade e não os três minutos. R~NATO RUSSO Mas aí ,é que está: são sempre os três I)linutos. E o que eu quero para a Legião. E a pessoa ouvir Tempo Perdido e não existe mais nada no mundo, só existe ela e a música. Claro que em alguns casos é nove minutos , como Faroeste Caboclo. Mas eu falei três minutos porque esse é o tempo ideal, por convenção, para um hit single. Aliás, a pura arte pop reza que você tell) que conseguir tudo em três minutos. E você resgatar o momento .Jllágico, onde só existe você e a música. E como se fosse uma vitaminazinha.
CAOS
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poração, pelo menos para, mim mesmo eu não der uma satisfação. E a culpa cristã, cara. Mesmo quando eu escrevo uma música de amor, eu tenho que falar das coisas que estão acontecendo. A partir do momento em que você abre a boca para falar num país onde 60% dos eleitores são analfabetos, eu sinto uma certa responsabilidade. o s Uma das experiências mais impressionantes da minha vida foi ter assistido a caos
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o s Essa vitamina pode estar contida tanto
em Baby Love quanto em
sua própria banda, o que é que você ia fazer? Não seria nem um pouco diferente do que eu faço.
Líke ~ Rolling Stone. ,
RrNAlO RUSSO Mas e claro. E claro. E justamente essa a questão : o lance do pop ser bom ou não, isso é uma coisa que não tem nada a ver com o conteúdo. É como comparar A-Ha com Legião. Eu gosto de A-Ha. Só que no nosso contexto específico, num país de analfabetos, em vez de ficar cantando uh, uh ... Um dia, eu ainda vou fazer uma música que vai ter uh, uh, que eu adoro, aha, yeah, entendeu? c A o s Mas quando que o Brasil vai deixar você cantar isso? RtNAlORUSSO Peraí, eu só estou falando disso porque você está me perguntando. Eu nem penso nessas coisas (risos}. Mas é claro que isso conta um pouco quando escrevo as letras. De qualquer forma, eu posso falar o que quiser: é a pessoa que ouve que vai dizer gostei, não gostei ou isso - ;.é importante pra mim. O pop é bom por causa disso, se você não gostar você nem ouve. Por exemplo: Madonna me emociona demais, mas ela está num nível que não é o meu nível. Sinceramente Smiths é até onde eu chego. Eu fiquei morrendo de medo do Smiths estourar porque só teve uma banda que conseguiu fazer sucesso demais e continuou a ser a minha banda do coração, como se eles fizessem tudo só para mim e tanto faz se tem 50 milhões de pessoas que têm o mesmo disco: foram os Beatles. CAOS~ a Legião? RtNAlO RUSSO E tão louco, né? A Fernanda Montenegro gosta da gente. E eu sei que têm pessoas que ouvem a Legião como eu ouço o Dylan. E eu sei que tem gente que ouve a Legião como se ouve A-Ha. c A o s Mas você acha que a Legião passou bem pela prova do superestrelato? RtNAlO RUSSO Ah, eu não sei, a prova mal começou. Eu sou muito ambicioso, Hermano. A prova mal começou. Mas é difícil de falar porque você sabe de tudo isso. Se você tivesse a
Eu seria muito mais descaradamente comercial do que você é. RtNAiORUSSO E? (silêncio} Mas nós somos os mais descaradamente comerciais de todos . Você não sabe a força que tem uma boa melodia ... Hoje o que eu mais ouço são essas músicas "ele é o cara que eu sempre quis" ou a menina chegando em casa e "mamãe, ele é um anjo, exatamente como eu queria". Era isso que eu queria fazer, mas ainda não dá. Eu não posso ser Sullivan e Massadas porque a coisa, pra mim mesmo, não está clara. Eu tenho que passar por Acrilic on Canvas para chegar... Cara, nesse disco (As Quatro Estações) tem "Eu Te Amo " . Eu demorei para escrever essas coisas. A gente vai sempre melhorando. CAOS
Mudando de assunto, mas continuando com essa história de melhorar: qual a diferença do Renato que eu conheci em Brasília, antes de fazer sucesso, para o Renato de hoje? Pergunta bem lugar-comum, não é? Mas já que você acredita na evolução do espírito humano: você evoluiu? ReNAlORUSSO Não tem diferença nenhuma. Tem mais coisas, só isso. Eu sou a mesma pessoa, só que com muito mais coisas. Eu não progredi não. Mas não tenho como saber.
CAOS
CAOS Alguém sabe? RtNAlORUSSO Existem pessoas que sabem, eu acho. Quando as pessoas estão felizes é porque elas sabem. CAOS Você se serite mais feliz hoje? RtNAlORUSSO (silêncio} Não. Eu me sinto da mesma maneira. Eu posso dizer: ah, quanta coisa que eu já fiz. Isso tudo deve ter algum resultado. Eu não estou vendo resultado ainda. Mas acho importante que algumas pessoas ficaram felizes com coisas que se não fosse por mim, trabalhando com outras pessoas , não teriam aparecido. A Legião trouxe coisas boas para muitas pessoas. Ah, teve uma porção de criancinhas que adorou cantar Eduardo e Mônica! Mas essas coisas eu não sei, Hermano. Ora bolas, chama Deus aqui agora pra responder. Ele tem resposta. Eu não sei.
c A o s Mas sobre o que a gente devia conversar? RfNMO RUSSO Tem zilhões de coisas legais para conversar. Não precisa fazer perguntas. c A o s Puxa um assunto. RtNAlO RUSSO Ah, tem tantas coisas legais. Agora, puxar um assunto depois dessa maratona ... Deus me livre • caos
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Kar f Popper foi o condutor
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o governo
chln6a .
·-=-::- ian Anmen' a Praça da Paz Celestial, noite de 3 pra 4 de junho, o massacre acaba de começar. Duas horas da manhã: na avenida que separa a praça Tian Anmen da Cidade Proibida, os tanques tomam posição. Centenas de soldados da infantaria surgem de lugar nenhum. Encaram a massa humana. De repente uma ordem, que ecoa nos berros de centenas de peitos : engatilham as armas em um único movimento ! E apontam as metralhadoras para a frente. Uma outra ordem: eles atiram! A minha volta os corpos caem. Saio correndo para baixo das árvores na esquina de Tian Anmen. Os soldados dividem a avenida em duas. Impossível retornar. Com o corpo dobrado, corro na direção do quartel general da Comuna de Pequim. Sob o monumento aos heróis do povo eles são dez mil, agachados, encolhidos bem perto um do outro, em grupos de cada faculdade, flâmulas ao vento, bandeiras batendo. Eles cantam! Eles cantam em plena matança' Aqui uma guitarra seca, um jovem Lennon terminando uma balada doce. Mais adiante é uma garota entoando uma canção tradicional, muito aguda, com esse sorriso inimitável do teatro chinês. Todos aguardam o assalto final. Alguns agarram minhas pernas e fazem o V da vitória com lágrimas nos olhos. No primeiro andar do QG dos estudantes a chefia ainda serve o chá. Uma garota me oferece uma xícara pelando. Não consigo beber. O sorriso dela é irresistível. Segundo andar: o quartel general. À direita, dezenas de rapazes e garotas escrevendo. Sua última carta. Caro pai, querida mãe. Não vale chorar. À esquerda, no lado sul, Wang Dan. Wang Dan está sentado sobre um banquinho de palha. Em volta dele a maior agitação. Entregam-lhe bilhetes. Ele lê, deixa escapar algumas palavras, e o mensageiro some no ato. Cruzo seu olhar. Os óculos de aço, o terno preto sempre impecável sobre sua eterna camisa branca de gola aberta, tudo lhe dá um ar soberano. Mas seus olhos estão longe. O retrato de Mao pende na sua frente sobre a Cidade proibida. Ele parece um desses capitães de caos
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navio que são os últimos a ficar em cima da ponte. Se Wang Dan o pensador está lá, então Wu'er Kaixi, o tribuno, não deve estar longe. Nem Shen Tong, o negociante. Eu não os vejo. Onde estarão? Tenho medo por eles .
"turco"! Imagine um turco dirigindo a insurreição do povo alemão, ou um paquistanês à frente de uma federação de ingleses, ou ainda um árabe impulsionando milhões de franceses para as ruas. Ele mesmo diz: "em Pequim,
" Você ia ficar: me procurando por muito tempo", me conta Wu'er Kaixi
sou como um árabe em Paris. Um filho de imigrantes que fala mal o chinês, achando tudo muito estranho, as roupas, a comida, a comunicação. Eu tenho a nacionalidade chinesa, mas no fundo não sou chinês".
em Boston, onde ele é acolhido por alguns estudantes chineses cem dias após o massacre. "Fui retirado da praça PC!r volta das duas horas da manhã. As onze da noite eu tinha tido uma segunda crise cardíaca. Eu estava dirigindo o serviço de ordem, a gente tentava entender o que se passava, e de repente 'clac', o coração vacila . Estenderam-me sobre uma maca. E então, às duas horas me deram o último lugar na última ambulância. E.u estava inconsciente, saí do ar duas, três vezes. Do meu lado havia um soldado e três estudantes gravemente feridos. Dois deles morreram alguns minutos depois. E aí a ambulância partiu" .
Em Pequim as pessoas o chamam de "turco", mas Wu'er Kaixi é Uigur, um dos vários povos da Ásia Central. Seus vizinhos chamam-se Kazakos, Kirghizes, Uzbeques. A algumas centenas de quilómetros a oeste seus primos estão fazendo a URSS balançar. Durante séculos chineses e russos disputaram essa região. Há mil anos o Islão reina por lá. Os chineses não economizaram para ficar com esse Eldorado cheio de petróleo e urânio. Enquanto Wu'er Kaixi (seu verdadeiro nome é Verkesh Daolat) nascia em Wu'er Kaixi contém um soluço. Talvez maio de 1968, a Revolução Cultural se a sensação de traição por não ter fica- alastrava pelo país. Com os Uigur, do até o fim... Mas mesmo assim ... onde os aborígenes não representam Hoje, continua vivo e tornou-se um nem metade da população, a loucura dos dirigentes da resistência no das milícias vermelhas alcança a diexílio. No hospital começou a impro- mensão de pogroms. As duas mil visar uma rede. Cuidaram dele, o es- mesquitas são fechadas, centenas são conderam e o mandaram para fora de saqueadas e em seguida destruídas. Pequim. Em cada etapa da fuga, a A língua árabe é proibida, e portanto atuação de uma rede de colabo- também o Corão. Pequim impõe o alradores anónimos, heróis por algumas fabeto latino. As escolas corânicas horas arriscando um pelotão de exe- são pilhadas, as terras são confiscução. cadas. Na fronteira, os incidentes con" Com isso eu fiz muitos, muitos ami- tra soviéticos se multiplicam. Dezenas gos", diz ele sem explicações. de milhares de Uigurs refugiam-se primeiro na URSS, depois no norte da Quem pode imaginar o amor que Pe· India. Entre eles, quatro mil munemquim sentia por esse garoto? Wu'er se de armas e enfrentam o exército regular durante mais de um ano. Kaixi. Ele não era o único dirigindo o Para os maoístas, os Uigurs são "turmovimento. Junto dele , Wang Dang, cos", "gringos", portanto "traidores ", o monge austero e teórico do movi- só por causa de sua ligação étnica mento; Chain Lin, a passionária, a- com os povos da URSS. Nessa época o que-vai-até-o-fim; e Shen Tong, o pai de Wu'er Kaixi morava em Pehomem do diálogo e da estratégia. quim. "O turco " não gosta muito de Mas Wu'er Kaixi foi o primeiro presi- falar sobre o pai. Escritor oficial, redente da Federação Autónoma dos conhecido e apreciado pelas autoriEstudantes de Pequim. Seu papel era dades, segundo seu filho "na verdade o de provocar o entusiasmo. ele é um conservador". O que não o O estranho nessa história é que impede de ser enviado aos serviços Wu'er Kaixi não é chinês. E que ele forçados por quatro anos, onde ele nasceu em maio de 68 , muçulmano, perdeu a capacidade de usar suas
pernas por dez anos. Mas muito antes da queda do Grupo dos Quatro o pai é reabilitado, assumindo responsabilidades importantes na república autônoma de Xijing, e volta a publicar romances notáveis. Filho de um privilegiado? Sim. Eram poucas as possibilidades de que ele pudesse encontrar seu futuro amigo, Shen Tong. Shen Tong, que dirigiu as negociações com o governo, junto de Wu'er Kaixi é o único dos primeiros dirigentes que hoje está em liberdade. Eles nasceram no mesmo ano: 1968. Os pais de Shen Tong também eram privilegiados: o pai instrutor no exército, especialista em questões coreanas, a mãe médica na caserna onde Shen Tong cresceu. Mesmo sendo atacados no norte do país, seu status é invejável. O APL, o exército vermelho, será a única instituição do país a ser poupada durante a Revolução Cultural. Em 1971 explode a questão Lin Biao. O herdeiro direto de Mao, o homem que inventou o livrinho vermelho, dirigiu a Revolução Cultural e transformou o Grande Timoneiro em Deus Vivo, Lin Biao desaparece em um misterioso acidente de avião sobre a Mongólia Exterior. Por que? Mistério Chinês. A opinião mais geral deixa entender que Lin Biao tramava um golpe de Estado contra Mao. O complô foi ventilado, Lin Biao e sua família tentaram fugir para a URSS, o avião deles estourou no meio do caminho... Maiores detalhes quando a China fizer a sua perestroika. Na época, a morte de Lin Biao foi uma tragédia para os pais de Shen Tong. Seu desaparecimento gera um expurgo monumental no exército. Um parente da senhora Shen mora em Taiwan? Razão suficiente para que seu
1 2 de rnaio. Chai Ling, a passionária; Wu'er Kai.xi, o orador e Wang Dan o estrategista. Organizados, os estudantes ocuparn a praça Tian Anrnen.
4 de rnaio. Após o rnovirnento ser considerado ilegal pelo Partido Cornunista Chinês, Wu'er Kai.xi discursa para os estudantes. No dia S será criado o "Grupo Para o Diálogo".
marido seja apagado do APL. No final de 71 a família é expulsa da caserna, e para evitar o pior ela segue para Pequim. Adeus prestígio e conforto . O senhor Shen torna-se inspetor na maior usina química de Pequim, a senhora Shen vira enfermeira na mesma usina... . " Eu acho que foi á atmosfera que reinava na caserna, e depois durante a nossa fuga, que gerou em mim o pavor de tudo o que é militar. Não me lembro de muita coisa, mas por mais distante que eu recue na memória, eu já sentia horror só de ver um uniforme" .
Os pais de Shen Tong só serão reabilitados depois do retorno de Deng Xiaoping ao poder, no final dos anos 70. Oito anos de reclusão. Mas o sofrimento de sua família vai mudar tudo para Shen Tong. Em Pequim, ele mora no bairro de Xidan, onde, desde 1978, alguns audaciosos se apropriaram de um muro que batizaram de "Muro da Democracia ". Durante dezoito meses, o primeiro movimento democrático da história da China comunista se desenrola sob seus olhos maravilhados de ginasiano. " Eu sempre ficava andando por ali
quando voltava da escola. Lembro-me principalmente das enormes massas de gente lendo quilômetros de estansó dartes. Eu ia conhecer Wei Jingsheng alguns anos mais tarde, e ele ia ser o nosso modelo" .
Wei Jingsheng: o primeiro grande dissidente a aparecer abertamente no cenário comunista chinês. Sobre este muro da democracia ele ~ escreveu o famoso ~ panfleto " A quinta ~
g
modernização: a democracia". Este
-; texto histórico deE monstra aos in~ telectuais chine- .., caos
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..,. ses que não existe nenhuma saída para o socialismo chinês, "a última metamorfose do despotismo oriental". Preso, ele é condenado a quinze anos de reclusão "em regime severo" . "Sua prisão" , explica Shen Tong, "nos abriu os olhos. Wei nos fez compreender qual era a verdadeira natureza do regime. Não havia o quê esperar. Wei Jingsheng é inesquecível. Sem ele não estaríamos aqui". Em
1989, Wei Jingsheng completa seu décimo ano de prisão. Sua namorada, que recentemente obteve uma permissão para visitá-lo, nos disse que ele estava enlouquecendo. Wu'er Kaixi não viu nada da primavera de Pequim: em 1978 deixa a capital para voltar à região Uigur. Em Urumqi, prefeitura de Xinjiang, acabam de reabrir as mesquitas. Cento e cinquenta minaretes dominam uma cidade com quase um milhão de habitantes. O árabe volta a ser a língua escrita oficial. As escolas corânicas acolhem dez vezes mais crianças que antes. Encrustrado entre os formidáveis Montes Celestes onde culmina o Monte Pobieda, de 7320 metros, Urumqi é um oásis no deserto : glacial no inverno, sufocante no verão. Aqui, a maioria da população agora é chinesa. As colônias de povoamento causaram uma explosão demográfica, e os seis milhões de U'igurs não representam mais nem metade da população. Na escola de Urumqi, Wu'er Kaixi já virou star. Muito aplicado nos seus deveres de jovem comunista, ele anima a rádio e o jornal da escola, tornando-se presidente da associação de alunos e ganhando a medalha de melhor elemento da Liga da Juventude!
Ele aproveita para tocar nas rádios os primeiros cassetes pops: "eu melembro, ABBA foi o primeiro". E tam-
bém joga futebol: "número dez, como caos
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1 4 de rnaio. Urn e s t udante chin ê s e rn greve de forn e esconde o rosto corn urna faixa . Nela está escrito : " A gente não t e rn rnedo da rnorte" .
1 S de rnaio . A pres e nça d e Gorbatch e v é urna faca de dois gurn e s : ao rnesrno t e rnpo que pressiona o governo tarnbérn o hurnilha. O s estudante s t e ntarn evacuar a pra ç a. Ern solidari e dad e ao rnovirn e nto , o povo invade Tian Anrnen. O coringa torna-se trag é dia .
Platini! Eu era muito arrogante. Tinha um orgulho infinito! Você sabe, esse tipo de sentimento: eu vou mudar o mundo, ninguém além de mim vai conseguir isso, pois eu vejo as coisas direito. -Foi lá que você descobriu o Corão? - Eu li o Corão, para saber. Mas eu não sou religioso mesmo. Ainda paira uma sombra do Islão sobre meus pais, mas não sobre mim. Ao contrário, eu descobri o povo. Eu pude percorrer o meu país de cima a baixo, conversar com as pessoas, viver com elas. Em Urumqi a gente também sentia a onda imperiosa da abertura que tomou todo o pais depois do abismo da grande revolução cultural. -Isso chegou a alcançar uma dimensão nacionalista naquela região? . Fora do Tibet, o nacionalismo praticamente não existe na China. O Partido Comunista conseguiu fazer uma limpeza nos cérebros. É preciso ser o país mais fechado do mundo, como o Tibet, para poder resistir. Nós, nós fomos afogados pelos chineses! O nacionalismo não faz mais sentido entre os Uigurs ".
Em pequim, Shen Tong participa da explosão cultural da cidade. A amplidão é tanta que em 83 Deng Xiaoping lança sua primeira onda "anti-poluição espiritual". Não adianta nada. As grandes editoras publicam os poetas malditos do "Muro da Democracia". São organizadas as primeiras exposições de pintura abstrata, os primeiros concertos de rock: Shen Tong frequenta os circules intelectuais. "De repente eu me vi cercado de pessoas de trinta e cinco, quarenta anos. Os maiores artistas do país, perseguidos durante toda a vida, me adotaram como irmão menor! Eles se sentiam acabados, des~ truídos, e queriam "' nos transmitir sua ~ herança de qual-
quer jeito. Um deles me ensinou a tocar violino e me tez descobrir a música clássica numa fita cassete de Beethoven, a 58• Na época era um verdadeiro luxo. Depois eu tive direito a Mozart, Chostakovitch .. ".
plina. Você podia tentar tudo e de tudo". Rapidamente ele se integra a
uma das trezentas associações da universidade: o "Forum da Quartafeira" , uma assembléia de discussão permanente. Em 1987 ele se toma o Graças a seu amigo violinista, Shen organizador dos encontros do Forum. Tong consegue lugares nos três No ano seguinte, ele encontra Wang recitais que Menuhin deu em Pequim Dan, o estrategista da Primavera de em 83. Privilégio inesperado... Ao 89. Brilhantes os dois, rivais sem mesmo tempo se inscreve nas Belas querer. Durante o verão de 88 o FoArtes. Seus amigos mais velhos lhe rum de Quarta-feira é dissolvido. fazem descobrir a poesia, e ele se Shen Tong e Wang Dan o substituem apaixona por dois monstros sagrados: por um Comitê de Ação, uma estrutuo indiano Rabindranah Tagore e o ra que se quer mais operacional em libanês Khalil Gibran! caso de movimento. Shen Tong conta: "virou uma obShen Tong também descobre o jan:, sessão: federar os grupos e associa-
ções para que em algumas horas eles
depois o rock e de repente lá está ele fossem capazes de coordernar um na sua escola em Pequim, cantor de movimento. Neste verão, um esuma banda que nunca teve nome tudante havia sido espancado até a
morte por arruaceiros. Espalhou-se
mas que alcançou seu pequeno su· um clima de sobressalto em todo o cesso, sobretudo com a versão dilacampus que nos tez dizer: urgência!" cerada de "Like A Bridge Over TrouO Comitê de Ação é composto por um bled Water" de Simon & Garfunkel. núcleo de onze organizadores, cc-preEm casa, entre seu pai químico e sua sidido por Shen Tong e Wang Dan, mãe enfermeira, não se fala de outra com várias dúzias de militantes e coisa além de ciência, o que ele adora. muitas centenas de simpatizantes. No final da escola um tipo de vestibu- Esta estrutura quase partidária incolar-guilhotina determina a orientação moda. "Lá em cima" eles começam a de todo jovem chinês. Quem não al- achar que os estudantes estão ficancança as médias, yai para as usinas do audaciosos demais, e mandam um ou para os campos. Se você quiser recado comunicando sua opinião. Alfazer medicina e o examinador decidir guns meses depois o Comitê de Ação que você é bom para história, você explode: Wang Dan cria o seu "Salão vai para a faculdade de história. Shen da Democracia", que se reúne toda Tong é ambicioso. Ele só quer ir para noite de quarta-feira, e Shen Tong Beida, a universidade de maior prestí- abre o " Instituto Olímpico", cujas asgio na China, para fazer Biologia! sembléias reúnem-se nas tardes de Todo ano, várias dezenas de milhões quarta-feira. Essas duas associações de alunos concorrem e somente algu- vão pensar, organizar e estruturar a mas centenas são admitidos, nesse futura comuna dos estudantes. máximo dos máximos que é Beida. Is- Wang Dan e seu grupo aprofundam to mostra o nível de Shen Tong: ele é as questões políticas. Na associação recebido com toda a pompa no local de Shen Tong, vasculha-se a filosofia de sua escolha! Beida já não era um da ciência. Historiadores, filósofos , mistério para nosso jovem herói. Há sociólogos, cientistas de Beida vêm dois anos que ele frequentava este para cá expôr seus pontos de vista. templo da subversão. Beida tem uma Shen Tong acostumou-se a abrir as história. Como a Sorbonne em Paris, sessões com a leitura de um texto de foi lá que começaram todos os movi- Karl Popper. Karl Popper. Será que mentos que marcaram a história da esse filósofo austríaco imagina a inChina. As milícias vermelhas da Re- fluência que exerceu sobre a revolta volução Cultural nasceram em Beida. de Pequim? Pois é difícil entender o Em 1986 Shen Tong entra em Beida. movimento dos estudantes chineses "Lá você podia desenvolver sua per- de 1989 sem conhecer alguns princísonalidade. Quase não havia disci- pios da filosofia de Popper.
Para o pai da epistemologia moderna "o diálogo é o método da ciência, e é também o motor da democracia".
Para nossos amigos, Popper representa o anti-marxismo por excelência. Seu método de diálogo encontra eco no coração do movimento dos estudantes. Shen Tong: "um pouco antes de 1989, por três anos os estudantes chineses tiveram acesso a livros do mundo inteiro. Foi um período excepcional para a China, sem dúvida a primeira vez depois de meio-século! Nós devoramos tudo, absolutamente tudo. Eu chamo isso de "spirit-burger". Você conhece o aforisma de Einstein: a inteligência é o que resta depois que você esqueceu tudo. Então, e nós, os jovens chineses, estávamos repletos de conhecimentos, mas quanto à in· teligência, éramos muito, muito limitados. Assim, o objetivo de nossas associações consistia em encorajar nossa geração a uma reflexão autônoma. Isso era indispensável para preparar o grande movimento que se anunciava".
Fora do pequeno circulo de Beida, as outras universidades de Pequim mantém o mesmo tipo de análise, e praticamente sem nenhum acordo comum! É o que Wu'er Kaixi conta sobre essa época: "cheguei a Pequim em 1987. Tinha 19 anos e as mudanças eram alucinantes. A sociedade andava dez vezes mais rápido, isso dava verti· gem. Tive que dar duro para entrar na faculdade. É claro que eu tentei primeiro a universidade das minorias .. ". O jovem desconhecido de Urumqi em
alguns meses é o agitador do "campus dos gringos". Primeiro ele dedica-
se ao jornal dos estudantes, onde publica um artigo que causa sensação: "A China é um império". Wu' er Kaixi logo é o presidente da Associação dos Estudantes. É aí que o "turco" faz sua escola como dirigente e como orador. Ele encontra as imagens fortes para denunciar "o trato desumano das minorias". Chegando ao fim do ano escolar, ele está na Escola Normal, e imediatamente funda a associação " Pedagogia e Democracia". São organizados debates com especialistas eminentes, como nas grandes associações de Beida: "na ~ c a os
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..,_ verdade, desde o outono de 88, não se falava de outra coisa além de 1989. Esse seria o ano decisivo. Nós nos sentíamos prontos a saltar sobre qualquer coisa. Pra dizer a verdade, estávamos nos preparando para o 4 de maio, o septuagésimo aniversário da insurreição dos estudantes contra o regime imperial de 1909".
- Era um dos elementos fundamentais de nossa estratégia! Mas era precipitado demais: a greve de fome não serve para impulsionar um movimento, ela só faz sentido quando se entra em fase final, quando é preciso dramatizar, aumentar a pressão... Nós tivemos que conter o desespero de nossos amigos. Os dias passavam e nada acontecia: em 5 de abril, o último dia do Congresso, os mais radicais queriam se colocar a todo custo. Imagine que nós tínha mos constituído um governo provisório, para o caso de sucesso das nossas idéias! Hu Yaobang poderia ser o presidente!"
Em Beida, Shen Tong e seus amigos preferem o dia 16 de março: a abertura da sessão plenária da Assembléia do Povo, que poderia servir como estopim para o movimento. Enfim, dos dois lados o movimento dos estudantes ferve ... Um ano mais tarde, no exterior, o mundo inteiro vai acreditar Mas do lado do poder também são numa explosão espontânea. Assim, no dia 16 de março, Wang Dan feitos preparativos para um ano decie seus amigos do Salão da Democra- sivo. Deng Xiaoping envelhece muito. Seu lugar está à disposição. A elimicia fazem uma mudança. Ação simbólica: daqui em diante suas nação de Hu Yaobang do Secretariado reuniões serão no maior gramado do Geral do PCC, e o movimento estucampus de Beida. Os estandartes flo- dantil de janeiro de 1987, enfraquecerescem em toda parte. Do outro lado, ram drasticamente a área dos reShen Tong e todos os membros do formistas. De tal maneira que Hu e Instituto Olímpico enviam uma "Car- Zhao Zyiang, herdeiros designados, ta Aberta" aos deputados. A ope- atormentaram-se frente aos conserração é bem montada: durante dois vadores enraivecidos. Zhao postou-se anos Wang Dan e Shen Tong teceram atrás deles para condenar seu amigo, uma rede de relações nos quatro can- que não deixava de ser seu rival. A tos do pais, e não só ent re os estu- cassação de Hu, único dirigente do dantes: intelectuais reformistas, artis- partido conhecido por sua integritas radicais, especialistas, todos os dade, valeu a ele a simpatia do povo e que passaram por Pequim para parti- sobretudo dos estudantes. tornou-se Secretário-Geral. cipar das reuniões das duas asso- Zhao ciações. Uma discreta política de con- Acreditava-se em seu triunfo absolutatos já permitiu que esses "corres- to, mas no entanto... Ele deixa a polpondentes" conseguissem ao menos trona de Primeiro-Ministro para Li a simpatia de um número significati- Peng, a estrela ascendente dos convo de deputados. Então era ne- servadores. De repente percebe-se cessário ampliar o movimento de uma que Zhao não controla nada. Teoricasó vez. A "Carta Aberta" , muito firme mente chefe do partido, Zhao deve se a respeito dos princípios da democra- apagar atrás de Deng Xiaoping. Sem cia e do "espírito da nova geração" o apoio dos amigos de Hu Yaobang, conseguiu atrair o interesse de uma Zhao se afunda em um papel cada vez maioria de deputados, os mais jovens. mais defensivo. De 1987 a 1989, Li Shen Tong: "a carta chegou até o Peng apresenta contra ele os "sete conselho de Estado! Portanto, tinha grandes retrocessos", entre os quais sido um sucesso. Ela foi lida por toda a estatização das empresas, um golpe a cúpula da hierarquia. Mas como ela sombrio sobre as importações, o renão provou resultado algum, tivemos torno da educação· política nas escoque refrear o ardor de nossos amigos las. do interior: meu dormitório era cons- Em abril de 89 , a carta de Shen Tong tantemente invadido por représen- sobre a democracia encontra nutantes das províncias, muitos deles me'r osos simpatizantes na Assemqueriam começar uma greve de fome bléia do Povo. Uma alfinetada inesperada que os estudantes espetam pela democracia ... nos reformistas na defensiva. - Já? COOS48
No dia 15 de abril, às treze horas, um amigo "bem informado" despenca no dormitório de Shen Tong : "Hu Yaobang morreu! Hu Yaobang morreu!" Estupor Shen Tong reflete
durante dois segundos e bate as mãos nas coxas dando gritos de alegria. Essa morte é um pretexto inesperado. "É claro que ficamos tristes, mas, bem, é difícil dizer.. . Ao mesmo tempo eu pensava: que oportunidade fantástica".
Nesse dia, uma parte da história da China vai ser sacudida. O litStituto Olímpico imediatamente redige um gigantesco estandarte, cobrindo os três andares do pavilhão 28 de Beida. Um estandarte "à memória de Hu Yaobang", sem reivindicações ou palavras de ordem. "Na verdade· queríamos ver se as coisas iam se desen cadear espontaneamente. Tínhamos retomado as aulas, eu e meus amigos não pensávamos, de jeito nenhum, que o pavio iria queimar tão rápido. O movimento partiu de outro lugar".
Aliás, foi da casa de Wu'er Kaixi. Sem os canais de Shen Tong nas "altas esferas" , o "turco" só fica sabendo da notícia às vínte horas, na Escola Normal. "Eu estava trabalhando na biblioteca. Um amigo meu começou a gritar no grande salão: "Hu Yaobang acaba de morrer". Você precisava ver a tristeza. Era uma coisa geral, tranca, direta. Eu logo disse a mim mesmo que Pequim ia reagir. Na manhã seguinte, soubemos que Beida estava coberta de estandartes. Com os outros líderes da escola, corremos de um lado para outro para tentar conseguir informações. O único lugar central em Pequim onde dá pra ter certeza de que você vai encontrar outros estudantes é em Tian Anmen, e foi pra lá que nós fomos no final das aulas da manhã" .
O grupinho de agitadores da Escola Normal chegou ao mesmo tempo que dezenas de delegações das faculdades de Pequim em busca de notícias. No final da tarde são mais de dois mil estudantes, e o fluxo não pára de aumentar. Eles sentem necessidade de falar. Demascarar o seu luto. Aparece um megafone em volta do monumento aos heróis do povo. Alguns audaciosos têm coragem para
30 d e rnaio. Durante a noite os e s tudante s constroe rn urna r é plica da es tátua da lib e rdad e . A irnag e rn da d e rnocracia e ncara o r e trato d e Mao T sé Tung na praça d a Paz.
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tomar a palavra. Discursos meio capengas, mas que mantém unida a massa de gente.
Então Wu'er Kaixi se coloca. Sua de· cisão já está tomada. Com o coração acelerado ele sobe alguns degraus. O último orador lhe passa o ·megafone. Nosso rapaz não sabe que ele está entrando na história universal. "Hu está morto", grita ele, "mas nós não nos agrupamos apenas em sinal de luto. Estamos aqui para manter seu pensamento e suas idéias, para que elas fiquem entre nós, para que elas não sejam enterradas junto com seu corpo!"
Uma ovação abafa suas últimas palavras. A voz de ·Wu'er Kaixi inflama os espíritos e eletriza Tian Anmen. "Foi a primeira vez que falei de política na frente de tanta gente. Não me controlei. Sacudi tudo de uma só vez: o ensino, a democracia , a necessidade de mudar velhas estruturas ... Eu estava comovido. Me aplaudiram muito. Foi nessa hora que eu me tomei um líder".
Quando ele volta pai:a a praça no dia 18 de abril, junto do núcleo coeso da sua escola, ele já é reconhecido pelos outros. Seu nome circula, querem que ele retome a palavra. " Nesse dia surgiram outros líderes. Muitos deles estão na lista das vinte e uma pessoas mais procuradas da China". Entre eles, Shen Tong: "nós percebemos que o fogo já estava ardendo. Era preciso levantar nossa organização a qualquer preço. Para não ficar, como das outras vezes, sem os instrumentos necessários. - Uma organização especial para Beida? - Beida é a China. Se Beida possui uma organização, o país inteiro está organizado. À noite já tínhamos federado todas as associações da faculdade. Estávamos prontos para partir para Tian Anmen no dia seguinte, 20 de abril".
Wu'er Kaixi nunca vai esquecer esse dia. Até aqui o "turco" ainda não conhecia nenhum dos outros líderes .,.
.,.. históricos do movimento. Mas dessa vez os canais iam se cruzar. "Realmente esse foi o primeiro grande dia. Chovia a cântaros. Ao meio-dia eu conduzi minha escola inteira para a praça. Debatemos o dia inteiro, foi extraordinário. À noite meus amigos voltaram para o campus, mas eu queria ficar: estava esperando a turma de Beida. Sem eles não podíamos fazer nada. Quando a tarde começou a cair eu vi a chegada de um imenso cortejo, organizado com perfeição, em fila, com um serviço de ordem e muitas bandeiras. Eles estavam magníficos. Não pude me conter, corri na direção deles. Quando cheguei perto da primeira fila, perguntei: "Quem é o chefe de vocês?". Eles me mostraram Shen Tong. Fui em sua direção... Ele estava simplesmente lindo! Vestido na última moda, jaqueta de couro, de fato um cara lindo. Eu me apresentei e disse: "Vem, eu preciso falar com você, temos que montar uma associação imediatamente": Ele entendeu no ato. Saímos juntos. Esse cara não só transpirava inteligência, mas ainda por cima era super eficiente".
Quatro dias mais tarde, 24 de abril, Wu'er Kaixi o tribuno, encontra Wang Dan, o estrategista. Nesse dia Beida apresentará suas famosas sete reivindicações: liberdade de imprensa, direito de associação, liberdade de expressão, etc. Wu'er Kaixi: "Wang Dan era um típico filho de Pequim, com uma segurança louca. Ele era mais velho que Shen Tong e eu, muito mais maduro. Ele conversava comigo horas e horas, só a gente, ele adorava. Em público ele sempre se calava. Ele me ensinou muita coisa. Ficamos amigos rapidamente.. ". Os verdadeiros organi-
zadores da Associação Autônoma dos Estudantes de Pequim foram eles, Wu, Shen e Wang. Eles realizaram uma estratégia clara, com objetivos específicos, e um plano de batalha que Shen Tong resume assim: "Tínhamos feito um programa em três etapas. Primeira: passeatas, greves, depois greve de fome. Queríamos fazer uma pressão crescente, expondo o sofrimento físico. O resultado deveria ser a abertura de um diálogo com os chefes do governo. c aos s o
"Uma vez estabelecido este diálogo, segunda etapa: retorno aos compus para transformá-los em "fortalezas da democracia". Esperávamos desenvolver nossas rádios e nossos jornais, além da federação dos estudantes. Esta segunda etapa nos permitiria aguardar o principal efeito esperado do diálogo: que cada faculdade de cada cidade da China pusesse em ação seu próprio movimento, autônomo e independente, para criar o máximo de espaços de liberdade. E então chegaríamos à terceira etapa: todo mundo sairia das faculdades, junto, no mesmo momento, com uma coordenação nacional. Nesse ponto, acho que teríamos ganho a partida fazendo estrebuchar o bloco conservador".
As primeiras semanas do movimento confirmam o panorama. O governo vai aceitar o diálogo? Não: no dia 22 de abril o "Diário do Povo" publica um editorial assassino em relação ao movimento e decreta ilegal a Fede ração Autônoma dos Estudantes. A mensagem é clara: não é possível um
diálogo com uma organização decretada ilegal. Os amigos de Li Peng sabotam qualquer tentativa de diálogo. Mas de repente Zhao Zyiang volta da Coréia do Norte e provoca um curto-circuito em seus planos. No dia 4 de maio Zhao lança um "apelo em todas as direções". Os estudantes lhe devolvem o tiro no dia 5 publicando a criação do "Grupo para o Diálogo". No dia 6 de maio, vinte e cinco faculdades e institutos elegem seus delegados. Estes lançam um apelo de duas páginas, explicando as condições do diálogo: "eles reclamam os métodos previstos para tornar efetivas a democracia e a legalidade do sistema". A carta explica que a dele-
gação do governo deverá ser conduzida "ao menos por um vice-ministro" e que a resposta deve ser dada antes das 15 horas do dia 8 de maio! Ao mesmo tempo, os estudantes aumentam a pressão votando a greve geral e a ocupação de Tian Anmen por prazo indeterminado. Zhao Zyiang responde com um gesto mais que simbólico: o comitê dos negócios estudantis, presidido por Li Peng, e que até o momento supervisionava o problema, é
dissolvido. Li Tieying, diretor da Comissão para a Educação Nacional, um reformista bem conhecido, é encarregado de conduzir as negociações . No dia 8 de maio, Shen Tong e três outros delegados do Grupo de Diálogo encontram-se durante uma hora com os representantes de Li Tieying para responder ao ultimato. "Neste momento", explica Shen Tong, "estávamos bastante confiantes. Nossos planos seguiam o curso previsto. Trabalhávamos com loucos para preparar o grande encontro. Eu tinha criado um tipo de comitê permanente onde eu era o único estudante. Os outros: trinta dos maiores universitários e intelectuais da China. Juntos, trabalhamos durante quinze dias num projeto para uma sociedade futura. Haviam especialistas de direito constitucional. Cada membro desse comitê punha em ação nas suas faculdades pesquisadores desencavando os documentos, os números, as estatísticas de que precisávamos. Era exaustivo. As reivindicações em si não tinham importância alguma! A idéia do diálogo, a de Karl Popper, era de sentar-se cara a cara e mostrar que uma nova geração estava se apresentando e que pensava a China de outro modo. Isso frente a câmeras de televisão, que iriam retransmitir esse encontro cara a cara em toda a China! - Diretamente? - Era essencial! Todas as gerações precedentes sofreram pressões enormes, a um ponto que nenhum ocide,ntal pode imaginar! Essas gerações sabem reagir: são capazes de destruir tudo, com muita violência. Mas sua capacidade de criar alguma coisa permanece muito limitada. Nossa geração, mais jovem, sofreu bem menos. Ela acumulou conhecimento, ela é capaz de agir, e não só reagir. Estávamos convencidos que se conseguíssemos mostrar isso, o país inteiro nos compreenderia. O diálogo não era a esperança de obter concessões, mas simplesmente de inau gurar uma nova era na China" .
Como conseguir a adesão dos oitocentos milhões de camponeses chineses a um movimento democrático e estudantil? Pela força do exemplo e da coragem. Com a greve de fome os
4 de iunho . Na madrugada o s ~anqu e s disparam con~ra a população r e unida e m Tian Anm e n. Es~a fo~o foi fei~a por um es~udante chin ê s qu e passou para um estrangeiro que ia para Hong Kong.
estudantes já atraíam a simpatia de Pequim. Com o diálogo, mostravam ao país como seria no futuro. O poder compreendeu o perigo imediatamente. Zhao Zyiang tencionava usá-lo para desvencilhar-se dos conservadores, alcançar todo o poder, pronto a formar uma futura composição com o movimento. Os conservadores sabiam que esse diálogo público significava sua morte política. E fizeram tudo para sabotá-lo. Mas aqui, um fato importante dá uma balançada em todo o cenário. É o lado imprevisível da história. A grande fábula que vai travar a dinâmica desencadeada e varrer para longe as estratégias otimistas. Gorbatchev deve chegar a Pequim dia 15 de maio. Publicamente, os lideres estudantes querem aproveitar essa visita como alavanca para acentuar a pressão. Entre eles, não escondem que o movimento deve alcançar seu auge na manhã do dia 15. Uma tal desordem em Pequim na frente de Gorbatchev arrisca · gerar um ponto sem retomo. Com isso o poder pode perder a sua máscara. E na China nada é pior do que isso. A humilhação precisa de uma vingança. A história vai mostrar que eles tinham razão. Assim, estamos no dia 8 de maio. Quanto mais se aproxima a data da visita de Gorbatchev, mais pesada a tensão. Para acelerar o processo, os Zhaoístas pedem a Wan Runman, o Steve Jobs chinês, para servir como intermediário entre eles e os estudantes. O jovem dirigente da maior cadeia de lojas particulares da China
dirige a operação em seus escritórios. Seu diretor geral, Zhou Duo faz a ponte entre os dois lados: marca-se uma primeira reunião secreta para o dia 13. Wu'er Kaixi relembra: "Eu , Shen Tong, Wang Dan e os outros fomos convidados a comparecer aos escritórios de Yang Minfu, o chefe da delegação do Partido na Fronte Unida. Sua educação e sua cordialidade me impressionaram. Eu estava com a voz completamente embargada: na hora um ministro que estava presente envia seu assistente para me arranjar remédios! Eles até tinham preparado uma refeição para nós, mas como tínhamos acabado de fazer o voto da greve de fome, ficamos observando enquanto eles comiam". Shen Tong completa: "Na verdade éramos seis por organização: o Grupo do Diálogo, a Federação dos Estudantes e o Comitê da Greve de Fome. Eles também tinham convidado vários artistas ativistas pela democracia e representantes da Liga da Juventude. Ao todo éramos uns cinquenta, e o encontro deve ter durado umas boas seis horas. - Seis horas? Mas pra falar o quê? - O tempo necessário para todos se manifestarem, dizer o que pensavam e para onde estávamos indo, foi interminável! Não estávamos lá para negociar, era uma tomada de contato que devia servir para preparar o ver· dadeiro diálogo". Wu'er Kaixi: "Quando Yang Minfu acabou de nos escutar (ficamos surpreendidos por sua paciência!), então
a
ele falou. Muito pouco. Disse: "Se acontecerem coisas graves, como revoltas ou sei mais o quê, não será culpa dos estudantes, mas do governo". Ele me olhou, pensou um pouco e então me disse: "É preciso que os dois lados mantenham a calma". Em seguida os grevistas de fome foram embora, os outros ficaram. Não posso te contar mais nada".
Mas Shen Tong vai um pouco adiante: "Eles começaram a evocar os conmtos dentro do Partido. Foi o que durou mais tempo: Yang Minfu tentou nos dizer muitas coisas, mas ele não queria falar claramente, para não revelar suas cartas. Ele tentava nos advertir de um grande perigo... Desde o começo da reunião todos os estudantes estavam de acordo sobre um ponto: era preciso evacuar a praça antes da chegada de Gorbatchev. Não significava parar a greve de fome, claro, pois, essa era nossa arma mais forte. Mas a evacuação era necessária para não ridicularizar Deng. Se continuássemos lá até o dia 15 de maio, sabíamos que nossas chances para dialogar tomavam-se ínfimas".
Quando todos se separaram, nenhuma decisão havia sido tomada e nenhum encontro marcado. Mas os protagonistas até que estão otimistas: o encontro foi satisfatório, para ambos os lados. Oficialmente, os estudantes só evacuariam a praça sob duas condições: 1) Condenação oficial do editorial do Diário do Povo de 26 de abril, que declarou ilegal a Federação Autônoma dos Estudantes; 2) Diálogo televisado entre os dois lados. O ..,. caos s 1
..,. plano é realista. Possível: ele permite marcar pontos antes da chegada de Gorbatchev, sem colocar o governo em um impasse. Contudo, na manhã do dia seguinte, os estudantes não recebem nenhum sinal do poder. Os conselheiros de Shen Tong advertiram os estudantes: o poder ameaça endurecer-se. É preciso evacuar a praça o mais rápido possível. Wu'er Kaixi se compromete a contatar Yang Minfu diretamente. "Antes de partir, ele tinha me dado suas coordenadas. Alguns de nós fomos até lá. Foi neste momento que nós marcamos o grande encontro para aquela tarde. - Com a promessa de difusão pela TV? - Parece que não era possível transmitir diretamente. Estávamos de acordo, mas havia uma pequena diferença". Quem recebeu a delegação foi Li
Tieying, o ministro da Educação Nacional que Zhao nomeara responsável pelas negociações. Conta Shen Tong : "Li era auxiliado por um outro ministro e por dez vice-ministros. Nós éramos treze: eu frente a Li e mais doze intelectuais que há duas semanas vinham preparando os documentos no comitê. As duas delegações estavam frente a frente em torno de uma mesa bem comprida. Atrás de mim tinham colocado uma mesinha para Wang Dan, Wu 'er Kaixi e Ch ai Lin. Todo mundo em volta de nós: câmeras, jornalistas chineses, microfones das rádios. Finalmente a gente ia poder começar! - Você achava que ia ganhar a partida? - Claro que sim! Nós tínhamos três grandes eixos de discussão com vinte e nove sub-capítulos. Um: o movimento estudantil. Era preciso impor _.. • que a Federação ._. caos
s 2
4
de iunho. O
dia
amanh e ce e
os
estudante s f e ridos começam a
ser
retirados da praça Tian Anrnen. Nos hospitais urna ordem: os médicos só pod e m
ate nder os
soldados.
5
de iunho. A Pa:z: é
praça da
tornada pelo
exército. Tanques de guerra formam urna grande barreira impedindo a
entrada
ou saída d e
Tian
dos Estudantes não só fosse legalizada, mas que também fosse declarada de utilidade pública. Dois: as reformas. Você pode imaginar o pacote. E três: o parágrafo 35 da constituição, que garante a liberdade de expressão, de associação, de publicação e de manifestação. A discussão começou sobre as estruturas existentes. -Foi tudo gravado? - Esse foi o problema: no começo da reunião, um dos responsáveis nos avisou que por razões técnicas o diálogo não poderia ser transmitido diretamente. Então exigimos que a cada meia hora fosse ao ar tudo o que já estava gravado. Eles concordaram. E começamos. Estavam filmando, achávamos que estava tudo certo. Mas lá fora, todos os grevistas de fome perceberam que nada acontecia: nem na televisão, nem no rádio, nem mesmo na praça! Era a tragédia, o impossível, a catástrofe que despencava sobre nós!"
Na verdade, neste momento a maior parte dos grevistas ignorava que o diálogo havia começado. Provocação? Gafe? Incompreensão? Então espalha-se um rumor, tão clássico no coração dos movimentos democráticos: " Alguns líderes negociam às nossas costas!". Escândalo! Vergonha! Imediatamente um cortejo de dois mil es-
tudantes dirige-se para os locais da Frente Unida, onde estão os alto-falantes. A "base" quer saber o que está acontecendo. Todas as revoluções conheceram esse tipo de desastre. A massa tenta forçar as portas. Briga. Avisado, Wu'er Kaixi sai da reunião e tenta falar com os grevistas de fome revoltados: "Ouçam .. Foi muito
J
difícil obter esse encontro, é só uma preparação para o diálogo. Eu suplico a vocês... confiem na gente!".
Wu'er Kaixi faz a
massa se calar. Por dez segundos. Mal ele vira as costas alguém berra: "Nunca, fora de questão!". Então todo mundo começa a gritar: "Arrombem as portas! Quem foi que elegeu esse cara?!". E então as por-
tas são arrombadas, e várias dezenas de radicais espalham-se pelos andares. Por fim três deles encontram a sala certa, abrem a porta e se jogam no meio da conferência. "Eles começaram a gritar", conta Shen Tong. "Um deles chorava: "Vocês devem divulgar esse encontro imediatamente". "Não, nós não podemos", responde o ministro. E nesse momento eu entendi que eles realmente não podiam. Ele fora persuadido de que tudo seria diferente. Não sabia que era um golpe bem preparado, um complô para causar o fracasso do diálogo! Foi terrível. Nesse momento era mais importante dialogar que divulgar. Ora, de repente não havia mais diálogo algum. Fomos obrigados a nos alinhar ao lado dos grevistas! Estávamos frente a frente com o ministro, mas não estávamos de acordo! O castelo de cartas pacientemente empilhadas desmoronou ... - Como reagiu o ministro? -Ele estava aterrorizado! Fazia um calor sufocante, todo mundo estava ensopado de suor. Os ministros à nossa frente estavam de acordo com o diálogo, tinham caído na armadilha como nós. O que eles mais queriam é que a praça fosse esvaziada antes da chegada de Gorbatchev. Era a condição 'si ne qua non' para a sobrevivência politica de Zhao. Por fim dei um grande murro sobre a mesa. Estava chorando. Tinha fracassado, perdido tudo. O pior é que eu sabia que por trás desse fracasso estava o final de todo movimento. A tragédia não aconteceu no dia 4 de junho, mas no dia 14 de maio. Esse dia anunciou irremediavelmente a repressão do 4 de junho".
Os dois lados se separaram, arrasados. Imediatamente Shen Tong, Wu'er Kaixi e Wang Dan fizeram um acordo sobre o método a ser seguido: evacuar a praça a qualquer custo. Era meia-noite, Gorbatchev chegaria em algumas horas, era preciso evitar o pior. Shen Tong conta: "Peguei o microfone da central de
som e me dirigi a todos os estudantes. Comecei pedindo desculpas a todos os estudantes por ter fracassado... , mas não consegui continuar, as lágrimas desciam e minha voz estava completamente travada. Meus amigos pegaram o microfone e explicaram com detalhes tudo o que tinha acontecido, porque tínhamos chegado até aquele ponto e que, enfim, agora era preciso esvaziar a praça... Sete pessoas se revezaram no microfone. À toa. Os estudantes não se mexiam. Eu chorava feito uma criança. Wu'er Kaixi chegou, rediscutimos, e concluímos que se pelo menos a gente mudasse de lugar, indo para o leste da praça ao invés de permanecer bem no meio, ficando invisíveis quando Gorbatchev chegasse frente ao parlamento, no outro lado, a oeste da praça... Acreditei nessa possibilidade. Durante a noite inteira fomos de tenaa em tenda. Conseguimos convencer os líderes de todas as faculdades, eram quatro horas da manhã. Faltava resolver com os grevistas. Fazia um frio abominável. "Enfim, quando o sol nasceu, todo mundo começou a arrumar suas coisas. Comentamos que talvez tivéssemos conseguido evitar o pior, e de repente, vimos a massa chegando! Milhares e milhares de operários, estudantes, gente de Pequim vindo nos apoiar! Foi terrível! Rapidamente as áreas que tínhamos acabado de evacuar estavam .lotadas pela massa de gente. Meia hora depois a praça estava transbordando. Eram dez mil, cem mil, quinhentos mil. As pessoas estavam achando fascinante, e eu chorava feito uma criança. Tinha começado a deriva. Já não havia mais lógica no movimento, todos os comportamentos agora eram passionais. "Pra mim tinha acabado. Neste instante", explica Shen Tong, "eu perdi o poder que tinha dentro do movimento. Só fui consagrado por causa do cantata com a imprensa.
A estratégia sutil dos estudantes tinha acabado. Agora Pequim entra em cena. Para o melhor e para o pior. É desencadeado um processo inexorável. A cidade apoia a sua juventude. Ela os toma nos braços. Faz festa para eles. E o mundo inteiro, sem nada saber dos dramas que se desenrolam
nos bastidores, vai admirar a coragem sublime desses estudantes e a astúcia desses grevistas que jogaram Gorbatchev, o reformador contra Deng, o conservador. Gorbatchev fica contrariado ao ter que passar por uma porta escondida para encontrar o mestre do Império do Meio!
Humilhado. O velho Deng, o homem que disse a um jornalista "eu não entendo nada de economia, só um pouco sobre assuntos militares",
nesse instante vai resolver o destino da Comuna de Pequim. Nesse momento ninguém acompanha a análise catastrófica de Shen Tong após o fracasso do diálogo. Wu'er Kaixi entre outros, achava até o último instante que era possível evitar o pior. No entanto, no dia 18 de maio uma ambulância o leva para o hospital, esgotado e inconsciente. À noite ele acorda com uma perfuração no braço e um tubo de oxigênio no nariz. Gorbatchev acabara de deixar Pequim. A trégua acabou. Os dragões vão acordar. Wu'er Kaixi não pode abandonar suas tropas, seu amigo Wang Dan, sozinhos diante do demônio que já se armava na sombra. Assim que percebeu onde estava, ele arranca os tubos e o soro, sai pelo corredor deserto e foge sem pegar suas coisas ... No amanhecer as pessoas vêem o "turco" chegando à praça em pijama de hospital!
Quando cheguei me contaram que Lii Peng finalmente tinha concordado em nos encontrar. Eu já estava com Wang Dan e os outros no OG da praça. O encontro era às dez da manhã. Pra dizer a verdade, já não tínhamos muitas ilusões. Mesmo assim tentamos preparar a discussão. No estilo negociações diretas".
O primeiro encontro foi marcado na sede da Frente Unida. Lá, o responsável do Partido que os tinha recebido no dia 13 de maio os fez entrar nos carros. Eles voltam para a praça Tian Anmen, ao palácio do Parlamento. O encontro vai acontecer, claro que sim, mas no salão das minorias! O Uigur mais conhecido do mun..,. do não reprime um sorriso: caos sa
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"Esperamos por ele durante meia hora! Bom, na verdade a gente já estava esperando há quase um mês... Enquanto esperávamos, chegaram jornalistas chineses. Instalaram-se na sala. Sentamos em fila nos três lados da mesa reservados para nós (éramos vinte e dois) - o outro lado era para Li Peng e os oficiais do Partido. Eu estava ao lado de Wang Dan, frente à cadeira de Li Peng. Às onze horas ele finalmente chegou. Todos se levantam, menos eu... Ele entra no quadrado e começa a apertar as mãos de cada um, lentamente, com as frases típicas: "Veja só, somos da mesma região, você conhece fulano? Ah, o senhor vem de não sei onde? Conheço bem a região". Quando ele chegou na minha frente, por fim me levantei... Não disse nada. Alguém lhe cochichou "Wu'er Kaixi". Então eu disse: "Tenho certeza de que não é a primeira vez que o senhor escuta o meu nome". Ele diz "Ah", e depois se senta".
Imagine esse espetáculo: o "turco" de pijama, ainda com um pedaço de esparadrapo sobre o nariz por causa dos tubos de oxigênio, frente ao "corvo glacial" que ele sabe que já ganhou. Alguns minutos antes Zhao Zyiang acabara de ser jogado para a minoria. Os reformistas já tinham perdido. Deng, o humilhado discute com o exército. Wu relembra: "Mal sentou, Li Peng lançou -se num discurso caudaloso e vazio. Eu me lembro, ele ia falando banalidades do tipo "Puxa, finalmente conseguimos nos encontrar! Mas se estiver um pouco tarde, nós nos vemos depois hein! Hoje vamos falar de uma única coisa: como parar a greve de fome e esvaziar a praça. A atitude dos estudantes é muito nobre, vocês têm amor pelo país, nós concordamos com o que vocês escrevem nas bandeirinhas. O governo decidiu lutar contra a corrupção. É difícil, mas graças a vocês nós chegaremos lá; vocês sabem, tenho três filhos um pouco mais velhos que vocês, quero que vocês saibam que nenhum deles é corrompido .. ". "Aí eu cortei a palavra dele. Ele já estava falando há muito tempo para não dizer nada nessa hora! C Q OSS4
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Presidente Li Peng, desculpe-me por interrompê-lo, mas se continuar· mos discutindo nesses termos, nunca chegaremos a nada. o senhor diz que é um pouco tarde. E preciso que o senhor entenda que não é nem um pouco tarde, mas tarde demais! O senhor diz que nos convidou? Mas fomos nós que convidamos o senhor, somos nós que decidiremos os problemas que vamos abordar! Felizmente ainda estamos vivos para lhe falar. Todos os estudantes que estão aqui na frente do senhor só querem uma coisa: sair da praça! Mas para sairmos, há duas condições: retificar o artigo de 26 de abril sobre a Federação Estudante, e em seguida começar um verdadeiro diálogo público em termos de igualdade! Economize tempo, pense nos milhares de estudantes que estão na praça, chega de falar sobre generalidades!" A televisão mostrará algumas ima-
vemos defender nosso sistema socialista. Pouco importa que vocês fiquem ou não contentes de ouvir isso, mas eu estou feliz de dizer isso a vocês".
Só essa parte do discurso de Li Peng foi transmitida na televisão chinesa. Wu'er Kaixi conta: "Bem no meio de
seu fluxo verbal, eu lhe mandei um bilhetinho: "Se o senhor continuar falando qualquer coisa, lhe corto a palavra outra vez". Ele leu e bateu nos braços da poltrona. Deu um berro: "Tínhamos combinado: quando eu falo ninguém me interrompe!" Respondi: "Tudo bem, tudo bem, eu espero.. " .. Então ele disse essa frase: "Não vamos nos deter em pequenos detalhes, hoje só falaremos da greve de fome". Aí eu gritei: "Mas quem, aqui, está falando de detalhes?". "Nesse momento Wang Dan começou um discurso extraordinário, depois outros líderes fizeram um duro ataque. Enfim eu retomei a· palavra, estava me sentindo mal e lhe disse: "Se for para continuar assim, creio que togens desse diálogo trágico: frente ao dos os estudantes concordam comigo "turco" de pijama, muito à vontade, que não é necessário continuar". terrivelmente seguro de si mesmo e "Foi então que comecei a sentir um acusador. Li Peng fica verde, pálido, sufocamento. Caí no chão, não contenso, apertando os dedos e contrain- seguia mais respirar. Não cheguei a do os lábios com movimentos descon- perder a consciência, mas estava tendo a primeira crise cardíaca. Um trolados. Nesse dia, Li Peng definitimédico me fez deitar no chão, Wang vamente convenceu os chineses - to- Dan segurava a minha mão enquanto dos os chineses - de sua profunda gritava contra Li Peng. Ele tentou renulidade. Um dirigente jamais deve começar a discussão, mas foi uma parecer ridículo. Ele não só estava tiração de sarro. Li Peng falou, com ridículo, mas os estudantes à sua uma voz cortante: "Acabou, ficamos frente estavam muito bonitos, com por aqui, o diálogo está interrompiuma faixa branca de grevistas de do". Wang Dan ainda gritou: "Não foi fome sobre a testa: eles sofriam, e um diálogo, nós só ficamos olhando!~·. além do mais falavam francamente! Li Peng saiu. Wang Dan me olhou, e Depois de Wu'er Kaixi, é Wang Dan me-disse: "Vem, a gente vai embora". quem toma a palavra, e depois cada Ble me levantou, os outros ajudaram um dos outros vinte estudantes, até a me carregar, e saímos.. ". que de novo chega a vez de Li Peng. A estratégia dos estudantes de "su-
Máscaras caídas. "Agora chega! Eu ordeno que saiam da sala. Sem condições. Pequim está paralisada e afunda-se na anarquia. A cidade está fora de controle. Toda a nação foi afetada! As estações de triagem estão bloqueadas, os trens pararam de circular. As coisas foram longe demais. O governo não pode ignorar isso, pois o governo é responsável pelo bem-estar do povo! Nós devemos defender as usinas, nós de-
cessivas enchentes" havia fracassado. O diálogo estava rompido. Os conservadores humilhados. Os reformistas excluídos. Pequim e Tian Anmen encontravam-se sozinhos frente a Deng e o exército. Wu'er Kaixi volta ao hospital por algumas horas. Agora o movimento está completamente nas mãos de Chai Lin a passionária, que quer seguir até o final. Wang Dan não tem nada a fazer além de ficar entre as tropas. Shen
Tong garante as comunicações. Os amigos de Chai Lin fazem uma nova lista de reivindicações: "O movimento deu uma guinada muito mais radical", diz seu
porta-voz. Tian Anmen vai atrás deles. O drama pode começar. No dia 20 de maio Li Peng anuncia a lei marcial. Wu'er Kaixi escapa do hospital outra vez e fica sabendo da notícia quando chega à praça. "Mandei buscarem os líderes durante meia-hora. Só encontramos quatro. Era preciso de pelo menos cinco além de mim para tomar uma decisão envolvendo o movimento inteiro. Pensei comigo mesmo que o momento era grave demais, todos concordariam comigo: era preciso evacuar a praça. Os quatro me seguiam. Peguei o microfone da central de som e comecei a lançar apelos. Mas os outros líderes chegaram. Eles não concordavam. Eu era minoria, depois fui excluído da direção. O resto dos fatos mostrou que eu tinha razão.. ".
Estamos na noite de 3 para 4 de junho, em pleno massacre. Eu subo nas fontes para escapar dos carros de combate. Wu foi evacuado. Chai Lin está escondida. Shen Tong está embaixo de sua casa, em Xidan. Há várias horas ele assiste, impotente, o extermínio. Um de seus amigos fica do seu lado. Em toda parte cadáveres cobrem o chão. Riachos de sangue correm à procura de um rio. Em todo canto pilhas de corpos, alguns horrivelmente mutilados pelas esteiras dos tanques. Às quatro horas da manhã chegam novas tropas. Shen Tong pensa: "Eles não estão sabendo, eles não atiraram. Talvez a gente possa falar com eles, explicar-lhes a barbárie, convencê-
Wu'er Kaixi e Tong durante a
Shen entre-
vista em Boston (EUA).
"Deng e
Li:
Vocês podem enganar algumas pessoas o tempo todo. Vocês podem enganar todas as pessoas por algum tempo. Mas vocês não podem e~ganar todas as pes-
soas o
tempo todo".
Mensagem do Centro Chinês de Informação em Boston (EUA) ao governo da China.
los .. ". Com seu amigo, ele vai para a avenida, na frente das tropas. Atrás dele a massa de gente se comprime sobre as calçadas. O companheiro a seu lado dirige-se ao primeiro soldado: "Ei... Olha! Olha o que eles fizeram! ". Shen Tong lhe mostra a pilha de corpos. Então o soldado levanta a sua arma, mi.ra e atira. O amigo de Shen Tong recebe a bala entre os olhos. Da massa sai um tricículo com um 'side-car', agarra Shen Tong paralisado pelo horror, e o carrega pelas vielas compridas. Ao amanhecer, ele está em pleno campo. Fica escondido até o dia 11 de junho. O tempo para que consigam pra ele um visto e o despachem para os Estados Unidos. Wu'er Kaixi, escapou graças a uma outra rede. Eu revi Wang Dan uma última vez na praça Tian Anmen, às 5 horas da manhã do dia 4 de junho. Os paraquedistas tinham acabado de descer na praça. Os tanques avançavam em direção ao QG dos estudantes. Quando os soldados capturavam os membros do serviço da Ordem Estudantil, ele ordenou a evacuação, ao lado do cantor Hou, pop star chinês, negociador da evacuação da praça junto aos militares. Wang Dan foi um dos últimos a sair. Atrás dele, os paraquedistas empilhavam os estanda.rtes estudantis, e arrancavam as bandeirolas pregadas no monumento. Vamos repetir isso de novo: Não houve mortos na praça Tian Anmen durante a evacuação e ~o~ isso foi graças à ~ Wang Dan e Hou. 0 No dia 4 de julho, a ~ policia desentocou '& Wang Dan na pe~ riferia de Pequim. g Desde então ninrz guém mais o viu • caos
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O v erdade iro f o lso 0;6r;o do Pov o.
A rnaioria dos chineses não sabe ou até duvida do que aconteceu ern iunho na Praça Tian Anrnen . O Estado totalitário caprichou na repressão à inforrnação e na lavagern cerebral. É o que eles charnarn de "re-educação cultural ". O D i ário do Povo é o órgão oficial do Parti do Cornuni sta Chinês. O nosso Falso Diári o , escrito por iornalistas c h i neses exilados ern Los Angeles, conta a verdadei r a história do rnovi mento democrático. Nós o infiltramos em Pequim e Xangai . Veia as reações.
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que nós - e vocês também! vamos empreender urna campanha da mais extrema urgência. Pela primeira vez, jornalistas e seus leitores vão agir em nome do dever de intervenção: informando, pondo um jornal em circulação num país amordaçado. Nós começamos colocando em circulação alguns exemplares do Diário falso em Beida, a universidade de onde partiu a comuna estudantil. Em seguida fornos ver os círculos intelectuais e artísticos. Preparando a " Operação Fax" , também entramos em E:rnpresas; joint-ventures criadas com grupos estrangeiros. Em todo lugar a reação foi a mesma. No começo, dez segundos de increÉ
29 de se t em bro. N o u ni vers idade d e Be id o em Pequim u m es tudont e lê o nosso jorno l .
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dibilidade. Na seqüência nossos leitores viram as quatro páginas e tropeçam na foto de Deng preso por dois policiais. Se vocês escutassem as gargalhadas deles, vocês entenderiam que desde o dia 4 de junho os nossos amigos chineses não tiveram muitas oportunidades para rir. ·vocês ousaram isso! É incrível! É, é ... ". Agitados e ~ebris, eles abrem as páginas internas, descobrem as fotos do massacre, e então, finalmente, compreendemos a força do nosso número falso: -Essas fotos aí, é, foi bem isso que eu vi. .. Eu não estava ficando louco ... -Mas claro que não! - Como assim, claro que não? Tem as coisas que cada m11 viu, mas também tem o que a televisão nos mostra .desde 5 de junho. Todos os dias, o tempo inteiro, nos jornais, nos cursos de reeducação, eles repetem a .Jenga-lenga: Não aconteceu nada, foi só uma volta à acdem!
- Mas o sangue, todos vocês o viram! - Sim, mas cada um só viu o que acontecia na região em que ele estava. O que aconteceu mais adiante? Quem diz a verdade? Quem mente? Sobre Tian Anmen, agora sabemos que não houve massacre. Então... a gente acaba acreditando que todo aquele fuzilamento perto da gente foi só um acidente! E claro que isso é mentira! Houve um massacre. Mas somos atingidos por essa campanha. Ela se desencadeia na forma de dúvida, uma dúvida terrível que nos corrói. Era verdade?"
Nosso amigo mergulha outra vez na leitura do jornal, emocionado. Pela primeira vez, ele tem a impressão de estar colocando seu cérebro no lugar. Quando eu voltei de Pequim, alguns dias após o massacre, fiquei pensando que os chineses nunca esqueceriam as balas que atingiam a massa de gente, as mulheres, os velhos caídos nas sarjetas, as esteiras dos tanques esmigalhando as pernas, as barrigas, as cabeças. ~ caos
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...,. Voltei pra lá no final de setembro. A máquina totalitária já havia destilado seu veneno: a dúvida, o medo de lembrar, o medo de contar. O esquecimento instala-se de maneira insidiosa. Todavia, a primeira coisa que observamos chegando na cidade é o ódio e a resistência. A resistência? Chegando à cidade, meu reflexo é o de seguir o trajeto do meu pesadelo: quando eu estava no meio da carnificina, entre a Cidade Proibida e o Hotel Beijing. O acesso a Tian Anmen é controlado por militares. Em cada esquina trepados nos pequenos palanques circulares e coloridos: mais soldados, metralhadoras no peito. Ando ao longo do muro cor de terra da Cidade Proibida, que está constelado por massa fresca, cimento tapando os buracos das balas daquela noite trágica. Buracos na altura do peito. Há cinco por metro. A tinta fresca não esconde nada. É o muro dos fuzilados. Ali um buraco um pouco maior, onde o cimento foi arrebentado. Antes de secar, uma mão anônima deixou ali uma marca... Uma mão fazendo o V da vitória! O ódio? Ancorou-se no fundo de cada habitante de Pequim. Contra Li Peng e Deng Xiaoping. Aqui todo mundo conhece alguém que foi morto, ferido, preso, alguém que desapareceu, ou que já foi esquecido. Em todo lugar não se fala de outra coisa além de vingança, de castigo, de lei do sangue. Fala-se do exército como se falava dos "boches" (alemães) durante a Segunda Guerra Mundial. A cidade ferve de rumores sangrentos : à noite, comandos suicidas atacam soldados isolados, encontraríamos dois, enforcados em uma árvore. Outros falam de um soldado estrangulado em um banheiro público. Diz-se que são grupos organizados pelos pais dos mortos do 4 de junho. Dizem também que até o final do ano esses comandos vão passar a uma ação aberta. Ou até o dia de Todos os Santos na China, no final do inverno. Entre os estudantes, uma anedota: um oficial do 272 exército (que realizou o massacre em Pequim) chega em uma faculdade para fazer uma palestra. Ele é carregado em triunfo pelos estudantes. As mãos formam um trampolim e o jogam c aos sa
para cima, hurra! hurra!, cada vez mais alto, até que opa, todas as mãos se separam. O oficial cai de costas e quebra a coluna vertebral... Como represália, quatro estudantes teriam sido presos. Rumores inverificáveis. Mas que não deixam de traduzir bem o clima de ódio. Cada um conta sua história, saboreando o menor detalhe ... O ódio tanto é maior quanto foi grande o sonho de Pequim durante algumas semanas. A cidade viveu uma verdadeira libertação, como se diz depois de uma guerra de libertação. Era preciso ver os operários, bandeiras ao vento, reunindo-se, na maior praça do mundo, junto com os estudantes revoltados , gritando a eles: "irmãos!". Era preciso ouvir a ovação feita aos policiais que se aliavam à massa. Era preciso ver as velhinhas chorando frente a esses milhares de adolescentes em greve de fome. E mais tarde, esses milhares de chineses heróis carregando nas costas essa mesma garotada, levando-os para o hospital... Liberdade, solidariedade, pureza. Eles massacraram o sonho. O rolo compressor da mediação, educativo e ideológico, pouco a pouco vai fatiando os espíritos. Minucioso, implacável. Histórias em quadrinhos em faixas gigantescas nos grandes cruzamentos, sessões de reeducação coletiva, auto-críticas obrigatórias em três páginas. E com prova surpresa, como na escola e sem consulta: "Minhas idéias durante os dez anos de reforma", "Meu comportamento durante o movimento contra-revolucionário: por que e quando eu abusei" ...
Ninguém é bobo. Mas pouco a pouco as certezas começam a empalidecer. Só restam as reações: ódio, desgosto, medo. Sim, Pequim tem medo. As prisões continuam, todo dia, em todos os meios. Na escola de cinema, quatro estudantes foram presos no meio de setembro. As aulas tinham acabado de recomeçar, dois homens em trajes civis entraram em uma sala de aula e os estudantes, gelados de terror, ouviram o sinistro "você e você, nos acompanhem". Os infelizes os seguiram. E nunca mais foram vistos. Mesmo assim: "Nós não vamos cair na armadilha do medo!". Essa me-
nina que está conversando conosco tem trinta anos, trabalha em um órgão governamental. Ela tomou precauções infinitas para nos encontrar. Sabia que tínhamos o falso Diário do Povo. Ela disse: "Por uma coisa assim vale correr o risco". Antes de nos encontrar, ela tirou a placa de sua bicicleta. Depois fomos até um parque e alugamos um barco. Conversar tranquilamente no meio de um lago. "Se nós aceitamos essa repressão, estamos perdidos! Assim eles ganham. É claro que é assustador, mas não devemos nos submeter ao terror. Nos últimos anos ganhamos espaços de liberdade: podemos usar jeans, falar com estrangeiros, ouvir rock, refletir sobre as reformas. Eu posso me maquiar, posso até mesmo encontrar jornais ingleses. Você entende? Para ter certeza de que não é preciso me inquietar, seria preciso parar com tudo isso. Mas essas liberdades me ajudam a pensar, a manter um pouco de autonomia. Se o medo nos obriga a nos fecharmos outra vez, será nosso fim. É por isso que eu quis te encontrar". Seu marido concorda. "Tecnocratas reformistas", os dois trabalham em
estruturas instaladas por Zhao e Hu Yaobang para planificar as reformas econômicas. Desde o dia 4 de junho, esses órgãos sofrem uma caça às bruxas digna das negras horas de Stalin. É aí que a repressão é mais severa. Se por acaso nossos amigos fossem surpreendidos falando conosco, eles seriam presos e desapareceriam no 'goulag' chinês... A lei marcial continua proibindo expressamente qualquer contato entre um chinês e os estrangeiros. Remamos para nos afastar de uma embarcação um pouco próxima demais. De repente o horror! Ali, bem na frente, um motor possante, com sirene no teto! Uma lancha do exército patrulha esse lago minúsculo. Dá uma volta em torno dos barcos. Bem perto. O movimento da água sacode todo mundo. E de repente ela vem vindo em nossa direção! Há uma câmera!" grita nossa amiga. Eles estão filmando", completa seu marido. O que fazer? Comigo estão todos os
• exemplares do falso Diári o do Povo - impossível deixá-los no hotel, os quartos podem ser revistados em nossa ausência. A patrulha se aproxima. Agora dá pra ver os quépes aparecendo nas janelinhas. Olhamnos fixamente. Me encaram. "Sorria ", implora o marido. Eu sorrio. Agora vemos as armas com nitidez. O cano de uma metralhadora sai pela lateral. E depois um barulho surdo. Seu motor trava! Uma fumaça ocre sai da parte traseira. Os soldados apressam-se em ir olhar. A lancha balança perigosamente, um deles quase cai. Tranquilamente remamos para a frente. Os outros barcos se afastam. Entre eles trocam-se sorrisos cúmplices. Plantados bem no meio do lago, os militares estão imobilizados. Ninguém vai os ajudar. Nós nos separamos no embarcadouro. Nossos amigos levaram um exemplar do falso Diário. Para o colocar em circulação. Graças a ele, nossos amigos, pela primeira vez desde o massacre, decidiram reencontrar aqueles com quem eles "conspiravam". Todos os intelectuais faziam parte de redes ou associações informais, para trocar idéias, documentos, jornais, livros, textos. O massacre e a repressão pararam com tudo. O falso Diário do Povo lhes dá um bom motivo para reativar essas redes. Nós vimos isso acontecer. Foi na véspera da celebração do quadragésimo aniversário da fundação do regime comunista. Há dois dias nós assombrávamos os jardim d.e Beida, a universidade que dirigiu a comuna estudantil. Desde o dia 4 de junho ela está deserta. A maioria dos estudantes fugiu para o interior, escondendo-se na casa dos pais ou dos amigos. No final de setembro, ninguém ainda pode fazer um balanço da repressão em Beida. Uma única certeza: em 6 de junho já se contavam duzentos desaparecidos. Nesse final de setembro, Beida ainda não retomou as aulas. Ao contrário das outras universidade, onde os "trabalhos de reeducação" seguem em ritmo de cruzada, aqui continua a espera. Uma expurgação, um dilúvio, um sratus quo. Ninguém sabe. -vão visitar Liu, no endereço tal. Lá
ha coisas para serem contadas", nos confia um de nossos contatos. Liu
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era um dos três mil grevistas de fome da praça Tian Anmen. Quando Li peng decretou a lei marcial de 20 de maio, foi nos comandos que eles juraram morrer pela defesa da comuna. Muitos de seus amigos foram mortos naquela noite sanguenta. Liu escapou, pois pela primeira vez desde o final de abril, ele tinha saído da praÇa para dormir em uma cama! Quando os avisos de procura começaram a aparecer na televisão, Liu fugiu. Ele se refugiou numa cidadezinha na Manchúria para reencontrar a menina que ele amava. Quando chegou lá, ficou sabendo que o pai havia decidido casar a filha com um japonês de cinquenta anos para que ela conseguisse um passaporte. Liu voltou a Pequim. Ele tinha perdido tudo. Seus amigos, seu amor, suas oportunidades de trabalho. Quando nós o encontramos. ele só esperava uma coisa: a morte. Felizmente para ele, " alguém " decidiu ajudá-lo. "Alguém " conseguiu-lhe um quarto em uma dessas casas particulares que pululam na periferia. Um proprietário compatível à acolhida - em troca de dinheiro forte, é claro. As pessoas à sua volta fazem compras pra ele, lhe dão roupas, o ajudam a locomover-se pela cidade quando ele realmente precisa. Lá, as pessoas estão orgulhosas de ter "seu" estudante para proteger. Liu nos contou sua vida longamente. Uma história que daria um livro inteiro. Puxa, não tínhamos um número suficiente de falsos Diários para lhe dar um exemplar. Mas na tarde seguinte seu ·"protetor" nos contatou: "Encontro esta noite frente à estação de ônibus X, estão esperando vocês, é importante". Na hora combinada, fomos guiados por pessoas de bicicleta. Chegamos ao esconderijo de Liu. Um cômodo vazio, apenas alguns livros. uma manta para dormir, um sleeping, uma tábua sobre quatro tijolos para servir de mesa baixa. Com Liu estavam dois homens, por volta de trinta e cinco anos . "São meus professores, eles ficaram sabendo daquilo que vocês têm. - O falso Diário? - É. Eles queriam falar com vocês sobre isso. Dá pra mostrar pra eles?"
Enquanto os dois esquadrinhavam o jornal de A a Z, Liu nos explica: "Eu falei sobre o assunto com um amigo que contínua na faculdade. Você sabe que alguns estudantes anunciaram a formação de uma nova Federação Autônoma dos Estudantes? Ninguém sabe quem ..,.. c aos
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..,. montou o esquema. Mas é algo importante. Eles se perguntam o que devem fazer. A repressão continua e nós não temos perspectiva alguma".
Os professores finalmente acabaram de ler o falso Diário. O mais velho, trinta e oito anos, pergunta: "Vocês vão enviar outros? -Por fax, mas também através de redes de Hong Kong. - Bom. Nós tínhamos um pequeno jornal de informação científica e artística. Depois do massacre não pudemos mais publicá-lo. Era perigoso. Não sabíamos mais o que dizer! Nenhuma palavra de ordem, nenhuma idéia. Estávamos aniquilados, você entende... Eu acho que aqui temos uma boa matéria. Tem informações e tem um tom. É diferente da Voice of America.(1) - Eu acho, diz o outro professor, que finalmente há outra coisa a fa zer além de chorar".
Na televisão, as cerimônias do quadragésimo aniversário atingem o auge. Na tela, duzentos estudantes de Beida dançam no meio de outros grupos, representando todas as outras faculdades de Pequim. "Não, eu não quero ver isso", responde Liu. Quatro meses depois do massacre, o poder ainda não encontrou uma melhor maneira de humilhar os estudantes: fazê-los dançar sobre os traços dos tanques que esmagaram a sua comuna.
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"Quantos jornais vocês vão enviar?, me pergunta o primeiro professor. - Tantos quanto puderem os nossos leitores".
Os três cúmplices se entreolham. Entre a incredulidade e a resignação. Liu me diz: "Eu não sei o que os seus leitores vão fazer. Eu não ouso crer em um milagre. Todos os nossos sonhos foram esmagados. Será que ainda podemos acreditar em alguma coisa? " Caros leitores. Respondam vocês •
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Christophe Nick/ Actue i com Alain Wang da AD 89
(1) A rádio americana que transmite informações em chinês. muito ouvida, mas tão desacreditada pelo governo que os chineses se habituaram a acreditar só na met ade do que ouv iam.
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O chofer do nosso táxi, um Citroen CX, é obrigado a ficar buzinando sem parar não há outro jeito de abrir caminho no. meio da massa de gente. Domingo 12 de outubro, estamos em Xangai. Os chineses vestem seus ternos mais bonitos e passeiam ao longo da "Bund", a grande avenida que acompanha o rio Huangpu. Calor tropical: o crepúsculo desapareceu atrás de espessas nuvens tempestuosas. Todo mundo parece de bom humor. Durante três dias eles vão festejar o aniversário da Revolução. Aqui, em junho não houve um massacre como em Pequim. Nem ônibus incendiados, nem montes de cadáveres, nem fileiras de tanques. Xangai considera-se uma cidade liberal. Os pais passeiam com orgulho o seu filho - o único autorizado pelo Estado. Assim, de cara as crianças são mimadas como príncipes. Todos querem ver as guirlandas que vão iluminar, às seis e meia em ponto, os edifícios coloniais, no centro da velha cidade dos traficantes de ópio. Na verdade não deve ser difícil achar que o espetáculc dessas ampolas infelizes é excitante! Mas nenhum· dos transeuntes se entendia. As cadeias de policiais - este ano esticadas pela primeira vez por ocasião da festa nacional - não estão armadas e são totalmente inúteis. Ao longo da noitada, muitos guardas simplesmente desaparecem na multidão, com mulheres e crianças. Há alguém que não festeja. Ele está sentado em urr quarto a meia-hora de carro a partir daqui, e está esperando nossa visita. Na entrada de uma universidadE de Xangai, um veahinho com uma faixa vermelha nc braço nos abre a porta sem fazer perguntas. Este~ aposentados fazem um bico como auxiliares da polícia, E podem ser vistos na rua em toda part e. Sob sua vigilân cia molenga, dez mil pessoas vem no campus, entre ci entistas, estudantes e suas famílias. A universidade É completamente independente do resto da cidade, con suas casas, lojas e mercearias. Nosso interlocutor estuda filosofia ~ acaba de festeja seus vinte e nove anos - ele faz parte dos veteranos d< movimento estudantil. Ele nos fora indicado por dois amigos. Disseram a el1 que nós queríamos falar do movimento democráticc Que nós levávamos um falso Diário do Povo, escrito po estudantes refugiados no exílio. Ele tomou a decisão d• nos encontrar -arriscando o pescoço. Mas ele quercon tar ao mundo o que aconteceu em Xangai. "Em abril, quando ficamos sabendo que Hu Yaobanf tinha acabado de morrer, muitos entre nós sentiram qu.
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era preciso fazer alguma coisa. Três dias depois, centenas de milhares de estudantes saíram da cidade universitária e foram para a cidade. As duas pontas da passeata eram fechadas por cordas, para que ninguém se juntasse a eles. Nem a população, nem os provocadores. Temiam que o partido perdesse a face - expressão chinesa que designa a humilhação suprema - se os habitantes de Xangai participassem da demonstração. A polícia seguiu atrás, sem prender ninguém. "Isso recomeçou todo dia. A multi dão aumentava, 90 % dos estudantes estavam lá, e também os professores e o pessoal da administração da universidade. O movimento recolheu vinte mil yuans (cerca de duzentos salários mensais) junto à população. O prefeito liberal de Xangai impediu a intervenção do exército. Depois do massacre de Pequim, 3 e 4 de junho, os estudantes continuaram a se manifestar até o dia 20 de junho. O único acidente trágico ocorreu na estação, no dia 7, quando um trem foi incendiado. Houve mortos e feridos. O governo executou três jovens operários, supostamente os responsáveis".
o que temos em mente, ele finalmente acorda. E morre de rir imaginando o que vai acontecer: todos os fax da China bloqueadOs, e as discussões sobre a liberdade retomando fôlego graças a esse novo alimento. Ele fica feliz : "Pensávamos que o mundo iria simplesmente ig-
Depois do fracasso, cada um salvase como pode. As últimas discussões acabaram na resignação, nas críticas recíprocas e no medo.
tempo de completa lavagem cerebral. Eu não sei mais se eu estava lutando por algo de bom ou pela infelicidade da China. Eu sou um malfeitor ou um democrata ?"
"Hoje, tem gente que só lê romances de amor, outros jogam a dinheiro ou vão às discotecas. Ou então eles só pensam em ter a melhor nota nos exames ".
Xangai é a mais ocidental das cidades chinesas. As discotecas já voltaram a ficar abertas até de madrugada. As lojas estão bem abastecidas. Quem tem dinheiro pode comprar o que quiser : discman Sony, computador Toshiba, cigarros Marlboro, camisetas amerinorar o destino de um quinto da hu- canas, cassetes da Madonna ou do Michael Jackson. Para "Mao", tudo manidade ". isso representa um mundo es"Nós tínhamos liberado nossos trangeiro. Nós o . encontramos no pensamentos", está escrito nas Parque do Povo: um senhor idoso, duas folhas que ele nos colocou na parecido com o antigo líder até nos mão quando nos separamos. Um fios de cabelo. "Nos anos 50 ", diz texto pessoal, onde ele conta a atual esse velho comerciante sorrindo, situação. E mais: "A porta estava aberta, nós vimos o mundo. Agora nós sabemos o que significa a Liberdade e a Democracia. A semente foi l ançada ".
Nos dias seguintes, discutimos com homens e mulheres por toda Xangai. Íamos a encontros em lugares muito complicados, trocando várias vezes de táxis e bicicletas. Somos convidados à casa de algumas pessoas, ou encontramos nossos contatos nos salões de chá. Senha: o verdadeiro Diário do Povo. O que aconteceu da vida na faculdade? Fazemos a pergunta a um estudante: "Nós atravessamos um
A máquina governamental de propaganda funciona com redimento total? Mesmo na China ela não consegue sufocar inteiramente a verEm julho, quatro professores e um dade. A gente sempre pode captar estudante foram presos. Dizem que a "Voice of America ", e em Xangai ele ajudou alguém a fugir. Vieram poucas pessoas têm medo de falar buscá-lo no quarto enquanto jogava do que estava acontecendo, antes mahjong. Depois nunca mais ouvi- do e durante o movimento. O velho mos falar dele. "Ninguém sabe se redator-chefe acaba de ser posto à ele ainda está vivo ou se foi execu- sombra. tado". Até o momento a grande onda de Nosso filósofo também tem medo terror poupou os habitantes de Xande ser preso. Mas fazer o quê? "Se gai. Houve poucas prisões. A cúpua gente escapa, a punição é mais la do Partido, ao contrário, procura pesada. Além do mais, sem can- parecer amável. Procura a simpatia, tatas não há onde se esconder. querendo ser novamente reconheciAqui pelo menos eu tenho amigos". da como o governo legítimo aos Quando ele pega o falso Diário do olhos do povo. Até agora sem granPovo nas mãos, e nós lhe contamos de sucesso.
"nós sofremos porque nada fun cionava na economia. Com a Revolução Cultural, todo mundo combateu todo mundo. Neste ano houve o .banho de sangue em Pequim".
Antes de continuar a falar conosco, dá uma olhada para os lados. Ninguém por perto. "O 4 de junho foi o fim da liberdade". Nós passamos para as mãos dele um falso Diário do Povo. Seu sorriso congela. Ele percorre a primeira página e fica agitado. Taí o tipo de brincadeira que ele gosta! Depois de acabar de ler, ele promete passar o jornal para outras pessoas. Amigos e parentes. " O governo mentiu para o povo, e o enganou. Eles disseram que o exército era pra proteger o povo - mas em seguida assassinaram nossos filhos e nossas filhas".
Na última noite em Xangai, assistimos à orquestra de jazz do Peace Hotel. "Enquanto eles tocam a vida fica um pouco mais suportável", tinha nos dito um jovem chinês. Zhou Wanrong, o trompetista e líder do grupo, tem sessenta e dois anos. O resto da banda é um pouco mais jovem. Com o passar dos anos, eles tocam as músicas cada vez mais lentamente: "Take the A train", "In the mood", "American Patrol" ...
Por causa da gorjeta bem salgada, uma multidão de jovens chineses entusiasmados se acotovela no bar todas as noites, e dança. Xangai não é Pequim • Andreas .Juhnke/Ternpo c aos
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COMO ENVIAR 0 FAX DA ÚLTIMA PÁGINA NC Z$ 27,90 PA RA A LÍBERDADE DA N AÇÃO MAIS PO PULOSA DO M UNDO Os chineses •ên"'l *c::»n"'le d e in*c::»r n"'laçãc::» chinesa e ""Y"e rela dei ra. Eles es•ãc::» dispc::»s•c::»s a n"'lc::»r rer pc::»r is•<:». En""Y"iar e» FAX d a úl•in"'la p á g i n a é ac redi•ar que é pc::»ssí""Y"el n"'ludar p a r a n"'lelhc::»r a his•ória de» plane•a. É simples! Recorte ou tire um xerox da nossa última página.
Escolha um número de uma cidade chinesa. Não escolha só os primeiros da lista. Escolha realmente ao acaso para que a informação se espalhe pela China inteira. Os números da página ao lado são dos faxes de empresas chinesas e binacionais. O operador, lá, é um cara qualquer. Ele vai levar nossa mensagem adiante. Encontrar um FAX não é mais um bicho de sete cabeças. Já existem milhares no Brasil. Seu tio deve ter um. Se não, vá na firma do teu amigo ou peça permissão pro teu chefe. Em último caso, procure a Central da Companhia Telefônica do teu bairro ou cidade. O preço era de NCZ$ 27,90 por minuto em novembro . O FAX não demora mais de um minuto. Deve haver algum aumento em dezembro, mas de qualquer jeito o valor é irrisório perto da importância do gesto. Corra atrás de um FAX. A mensagem de liberdade já está sendo mandada do mundo inteiro em nome do dever de ingerência. São milhares e milhares. O planeta é um só. Totalitarismo nem aqui nem na China.
Estes são os números do seu interlocutor chinês Pa r a m andar o FAX da úl t i ma pág ina: D i sque o código de acesso internacion al 00 Dep ois d i sque o cód igo da Chi n a 86 Em seguida dis~te o cód igo da c idade e o n úmero esco l hi o (veja abaixo) Pequ•m
lc6d 1) 50036 19 512 05 77 5129843 4014917 512 74 84 512 78 81 8315587 513 73 07 512 8694 5495 84 78 24 89 78 36 21 78 44 4 1 78 48 14 78 6661 500 42 46 513 78 42 50032 28 801 16 70 802 12 48 802 14 71 831 10 70 83 1 1536
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831 16 57 831 2101 83131 81 831 3660 8314326 Sl-ongl>o
lc6d ?11 33 18 24 33 0599 48 28 74 4891 16 511626 52 11 25 530711 57 74 91 58 31 94 58 54 74 62 65 52 64 91 27 66 13 21 55 20 33 55 38 68 55 86 25 56 3056 56 48 83
5653 89 580086 583605 585808 64 66 74 650018 6663 14 680962 957630 83 9890 841149 93 19 89 8407 82 93 13 99 93 2894
Toon1.n (c6d 221 31 7902 31 80 35 31 84 71 31 87 41 31 93 72 319796 319945 33 30
os
3905 33 39 24 21 540909 6603 75 3193 23 319485 319892 33 2528 3325 28 33 42 70 3923 32 704704 7057 08 706550 706761 707394 70 88 40 7096 34 70 4290 W.O)hon lc6d 271 66 28 71 71 1202 71 1610 87 62 30
87 69 38 81 13 21 81 25 39 81 3207 813386 81 43 64 870267 870569 87 6665 87 7022 877993 8114 29 8 1 2612 870358 8717 54 87 31 29 87 44 27 87 78 21 87 80 15 87 80 64 Xion
:c6d 291 7 1 50 06 71 81 12 7197 54
72 18 29 7164 23 71 1496 72 3240 716931 719316 723697
~I 52 137 53206 53874 60697 63714 67116 67174 53 111 53 832 60629 62683 63686 64 807 67 122 67 478
Funcional ;o Aqui está um FAX sendo recebido ~ empresa Chinesa. Um presente que a tecnologia deu à liberdade.
Shong YC<9 (c6d 241 45 8065 47 29 70 48 19 11 48 33 92 48 3606 48 43 88 61348 64518 6925 50 47 3696 48 33 93 48 43 32 48 43 72 SI 36 27 63071
65959 98 21 40
"""
.cod 531 43 403 44677 45751 47921 43406 44749 45941 44 255 44931 47169
Chong•ho lc6d 7311 42 246 42 587 44 323
45 107 47 869 52 470 53080 42 511 43 860 45092 46156 46357 51 198 52509 82050 fu.tl>on lc6d 5911
26614 26838 26880 3 1 362 31894 32 139 33 329 24722 25130 25687 268 16 26877 31729 31970 32802
556658 556977 55 78 41 558028 559687 560022 582161 58 2455 58 2599 556865 55 71 03 557898 55 95 54 5597 19
Hongzhov lcóci 571)
Xiomen
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lc6d 5921 24 644 24 913 25135 25802 26098
58090 58650 72790 88584 58187 71415 73747 71761 73842 82129 85642 87 326 (c6d 451 ) 49548 52 416 6 1 552 63 211 82110
85810 86458 51 623 60 322 62 164 82050 85508 87 437
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lc6d 551) 73 901 74 165 74 204 74 227 75143 78202 82503 74 843 75280 75577
76436
Gucngzhou
lc6d 201 66 2775 42 8645 667711 67 71 66 Nonl'"9
(c6d. 251 43396 33670 40 62 84
Guilin lc6d 7731 44 35 13
O apelo à democracia que se levantou . em todo o território chinês na primavera de 1989 emocionou o mundo. Tudo começou com o movimento dos estudantes de Pequim ao qual juntaram-se todas as camadas sociais, apoiadas pelos chineses do além-mar e pelos povos do mundo inteiro. Assim foi escrita a mais gloriosa página histórica do movimento democrático chinês. Hoje continuam ainda os massacres realizados pelos algozes, enquanto as execuções inundam de sangue os fogos da democracia. Todavia, as oligarquias totalitárias que desejam esmagar a democracia através da força já estão condenadas e logo desmoronarão. A evolução do movimento democrático chinês alcançou um momento crucial em sua história: nós proclamamos a fundação da Federação pela Democracia na China. A fim de melhor promover a democracia na China, procuramos o apoio das forças humanitárias no mundo inteiro e queremos associar aqui todos os chineses de boa vontade. Nós nos apoiamos sobre quatro pontos essenciais: 1. O povo chinês deve tomar consciência da necessidade de formar uma oposição suficientemente poderosa contra o totalitarismo. Esta etapa é primordial para conduzir a China no senti· do de uma democracia pluralista. Desde o grande massacre de 4 de junho, os chineses do mundo inteiro ali· mentam um imenso ódio contra seu ini-
21 712 22 55 98 26 22 41 Ho1btn
lcód 45 11 35431 22 01 70 22 01 70 2259 10 34679
Gu.long lc6d 85 11 29603 29076 Chongqong icód 8111 52 233 3500 26 44206 24 234 75 23 40 OongDoo lód 7711 279305 28 4860 337041 33 7697 33 75 41 3362 66 270983 36 35 00 27 98 74
Non1ong Jcód 251 63 27 54 4063 45 403456 63 23 78 711475 636295 l(unmong lcód 871) 32759 36378 64026 34079 29800 Suzhou (cód 5 121
2582 1 22593 25931 \llhxi
lc6d 5 101 668894 668660 200991 Sl>oc:>oong lc6d 5 15) 34405 25307 Non!Ong
lcód 5 131 5 19847
518996 51 85 94 52 12 7 1 516021
HorOOn lc6d 3101 22083 22825 23750 24 270 22126 22953 23824 24 296 Sh 10ozhvong Jcód 3 111 33 294 26645 25 270 24 337 23 44 1 33 269 26276 24788 2357.5 Booóng lcod 3121 37810 35826 25985 37 510 35507 36715 26 218
migo comum, as associações conhecem uma ·u nidade sem precedentes e os moVimentos de solidariedade se multiplicam. Para desenvolver ·a democracia, é urgente fundar 4ma organização apolítica mundial, podendo servir de elo entre as diversas tendências dessas associações. Nós propomos a reunião, neste ano, de uma assembléia no curso da qual será fundada a Federação para a Democracia na China. Esperamos de todo o coração que os chineses do além-mar mobilizem toda sua inteligência e sua energia para ajudar a formação desta organização. 2. A Federação pela Democracia na China tem como metas essenciais o protesto contra os massacres de 4 de junho e a denúncia da repressão fascista do atual governo chinês; ela visa apoiar o espírito do movimento democrático do ano de 1989, fundamentando-se nos princípios da razão, da paz e da não-violência. 3. Sobre esta base, a Federação pede que todos os chineses de boa vontade, todas as tendências políticas e religiosas misturadas, de reunirem-se sob a bandeira da liberdade, da democracia, dos direitos do Homem e da Justiça, para promover conjuntamente o desenvolvimento da democracia na China. 4. O movimento democrático chinês integra-se nos quadros de um combate mundial pela paz e pela liberdade. A democratização da China contribuirá para garantir o progresso social e o de-
Zhongjõo<.On (cód 3131 7316 7874 7438 7954 78 27
a-goe lcóo 31 41 6771 5776 5553 6092 5612 6016 5583 Tong•hon (cód 3151 27680 51 774 31 179 7 1038 41586
No-Yong 37., 2092 2489 27 37 27 39 44 31 3069 47 14 4044
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Ko;leng (cód 3781 22 546 24035 31 597 23 355 24094 32532
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(oód. 3711 22863 29487 33 826 36 471
37 446 37 285 37 947 47676 Oolion (cód 411) 337842 404422 406136 444882 471395 641606 662015 662605 803100 Xlngto; (cód. . 3191 2265 3302 2280 6415 3166 Tao Huong Doo lcód- 335) 34992 36897 3588 1 411 24 36007 5 1350
P;ng O;ng Shon (cód.: 375) 2346 2742 2563 2643
luo Yong (cód.: 3791 36865 22:200 21301 23509 21806 22225 21446 Tóeling (cód.: 4101 3294 5673 6505 3640 5712 3994 5733 lioo Yong (cód.: 4 19) 22669 23484 24965 32419 23016 24694 25286 32864
senvolvimento de todo o mundo. Nós conclamamos os povos e governos do mundo inteiro, assim como todos os dirigentes de boa vontade que representam os direitos do Homem e a vontade dos povos, as organizações progressistas e pacifistas internacionais, a ajudar e apoiar o movimento democrático chinês. Compatriotas, um quinto da humanidade vive hoje sob o terror e a repressão. Esta catástrofe não concerne unicamente à China, mas a todos os seres humanos. Chorando e cantando, o povo chinês principiou uma luta heróica. Vamos nos unir e nos engajar juntos neste grande combate pelos direitos do Homem, pela existência e pela prosperidade de nossa nação, pelo desenvolvimento e pela paz de nosso planeta! Yan Jiaqi; Wu'Er Kaixi; Wan Ruunan; Su Shaozhi; Liu Binyan. A federação pela Democracia na China foi oficialmente criada na sexta-feira 22 de setembro de Evry, na França. O politólogo Yan Jiaqi foi eleito seu presidente e Wu'Er Kaixi vice-presidente. O conjunto dos outros líderes exilados da nova "Primavera de Pequim" Wan Runnan, Su Xiokang e Chen Yazi foram eleitos para o bureau executivo. Wan Runnan também foi nomeado· secretário geral da Frente, que tem sua sede em Paris. Desde o dia seguinte, 23 de setembro, o Diário do Povo de· nunciava a "conspiração" fomentada por "um punhado de indivíduos em um grande país ocidental".
23425 24866 25315 Anyong (cód 372) 2237:S 24136 32160 22798 24245 23712 31951 An•hon lcód 4121 32991 43241 43997 613807 813083 34315 43406 45376 Dondong Jcód 4151 22513 23138 22532 23203 22765 ChongChyn Jcód.: 4311 824990
625375 826259 827676 829971 825002
6840 6308 7272
Jifin
21504 23758 21651 24876 22710
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(cód.: 4331 2072 3465 2880 3621 2913 6111 S.ping (cód · 434)
2339 4080 7176 Tong Hvo
(cód.: 4351 2297 6623 3616
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(cód 453)
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Jcód. 4541 24176 26601 2467 1 47033 25750 27931 8onglv (cód.; 5521 22674 27485 88941 23054 27649 23579 Boochong Jcód.: 4361 3801 4231 4616
caos
63
Qualidade ĂŠ futuro.
.·----.
-~ --~.-.
A
I
Aziz Nader fabrica fios e
t-ecidos
há muit"o, muit'o t"empo. E conhece como ninguém o d a moda. E
sabe que a
vem, volt"a. Que a
negócio
moda v a i ,
moda muda. E
que só uma coisa permanece. Qual idade. Há mais de 75 a n o s , o
pessoal d a
Aziz Nader acredit-a que q u a l i d a d e dura e não t'e m
que moda sem qualidade fut'u ro .
st達o tirm1
A Mata Atlântica está no fim. Falta apenas 5% da sua cobertura original para eladesaparecer para sempre do nosso mapa. Deste restinho que sobrou, 2/31ica na Serra do Mar, na divisa de São Paulo com o Paraná eestásob a ameaça permanente de inimigos poderosos. Especulação imobiliária, madeireiros devastadores. mineradores predadores, estradas suspeitas. Se o nosso verde sumir, a esperança acaba. Esó nos resta ficarmos amarelos de vergonha por termos permitido que isso acontecesse debaixo do nosso nariz. Você precisa ajudar a reagir. Entre em contato com a S.O.S. Mata Atlântica ecolabore com o seu tempo, com o seu trabalho, com o seu entusiasmo, com a sua contribuição. A recompensa é inacreditável. Éa preservação da vida do nosso planeta. Não existe. neste momento. nenhuma causa tão grandiosa para você se engajar com paixão. S.O.S. Mata Atlântica Av. Brigadeiro Luiz Antonio. 4.442 Tel. (011) 887.1195e 887.0559 -São Paulo
As doações podem ser depositadas em qualquer agência do Banco ltaú. conta 00090-0. agência 0183. Apoio desta revista.
~ .\
:::E--:1:::: á quem diga que a universidade brasileira é o paraíso da classe média. Quem já acompanhou um aluno em ano de vestibular sabe do que se trata. Todos os sacrifícios, sofrimentos e aflições se justificam. Vivemos tempos de desencanto. Mas nos olhos dos vestibulandos dos anos 80 ainda há uma mistura de desespero com a certeza de que, entrando na faculdade, estarão a um passo do paraíso. Ou talvez no próprio paraíso. Três meses depois, o sorriso dos calouros perde aquele ar de quem fez um bom negócio. O desabafo é inevitável: faculdade, no Brasil, é uma merda. Até aí, tudo pode não passar de desabafo de adolescentes que superestimaram a universidade. Afinal, adolescentes univesitários são dados à insatisfação. Mas a sensação de que algo não cheira bem nas faculdades brasileiras vaí muito além do que mera impressão. A CAOS seguiu o aroma, que foi tomando consistência, consistência, consistência.... Até se transformar em uma grande massa de informações que, processadas, realmente não cheiram nada bem. As faculdades e universidades transformaram-se em um depósito de problemas, do 12 e do 22 graus. Se você pretende se atolar nas informações que apresentamos aqui, a CAOS avisa: é preciso tapar o nariz, ter bom estômago e potentes intestinos. A descarga de informações começa agora. Segure-se, para não ser tragado. Comecemos suavemente: o número de vagas nas faculdades e universidades brasileiras cresceu 1.250% no período 1960/1986. De 35.381, o número de vagas saltou para 442.314 em 86. A esse salto, o governo atribuiu o simpático nome de "democratização do ensino". O número de conclusões no ensino superior também aumentou consideravelmente no mesmo período. Em 60 foram registradas cerca de 17 mil conclusões. Em 86, pouco mais de 234 mil. Uma "democratização" de mais de 1.300%. caos
76
A expansão do número de vagas foi muito superior ao crescimento da população universitária. O crescimento desordenado trouxe como consequência um grande número de vagas não preenchidas pelo vestibular. No Estado de São Paulo, por exemplo, havia 10 universidades em 85. Hoje, 4 anos depois, existem 22. Um crescimento de 120% neste período. Resultado: anualmente, 20% das vagas no ensino superior não são preenchidas. Enquanto o número de vagas cresceu 1.250% e o número de conclusões aumentou 1.386%, o número de professores cresceu apenas 556%. Raciocinemos quantitativamente. Com-
O papel da universidade foi tomado pelos chamados centros de excelência, pequenas ilhas onde se oferece ensino de alta qualidade. Fora dessas ilhas, u~ mar de lama. A massificação do ensino superior mistura um novo ingrediente na geléia geral da educação brasileira: o vestibular. Ele já existe no país desde 1911, mas a partir dos anos 60 ele se tornou altamente concorrido e passou a apresentar uma novidade: os testes de múltipla escolha. Literalmente, o vestibular transformava-se em via crucis. Depois de várias cruzinhas a prova estava terminada. Com sorte, uma boa dose de esper-
A..., ... c:.lm~., .-~ ,
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parando o número de vagas com o de professores, podemos arriscar: o número de alunos por sala de aula aumentou vertiginosamente. Trocando em miúdos: o ensino superior passou por poderoso processo de massificação. A democratização foi feita assim: maís faculdades, mais universidades, mais prédios, maís vagas, mais conclusões. Menos, muito menos qualidade. Para o filósofo José Arthur Giannotti, autor do sugestivo 'Universidade em
teza e algum conhecimento, o aluno poderia desfrutar todos os prazeres do 32 grau. O vestibular adotava o princípio da Loteria Esportiva. Aliás, entre a Loteria e o vestibular há outros pontos em comum: Ambos tiveram seu auge nos anos 70, fizeram e ainda fazem parte do imaginário brasileiro como possibilidades de ascanção econômica. A Loteria até que fez alguns milionários. Para Galo Antônio Le Roux, mestrando e professor da POLI-USP. "os testes
ritmo de barbárie', "a universidade serve apenas pra enganar a demanda das massas afoitas por um diploma".
de múltipla escolha favoreciam os alunos adestrados para fazer cruzinhas nos simulados dos cursinhos pré-
vestibular". E amplia: "os cursos prévestibular e o segundo grau, no Brasil, não levam o aluno a pensar, mas sim a reagir. É um ensino comportamentalista, onde pensar não é essencial".
de pedagogia foram preenchidas. Motivo: eliminação na primeira fase do vestibular. Antônio Carlos Bindi, diretor do Etapa, encara o vestibular com otirnismo e confiança: "posso garantir que hoje
A partir dos anos 80, os grandes vestibulares vêm eliminando os test es de múltipla escolha. O conhecimento e o raciocínio passam a ser valorizados. Além disso, o vestibular deixou de ser apenas um teste de classificação. Estabeleceram-se notas mínimas para a aprovação. Centenas de vagas passaram a não ser preenchidas. Os alunos não conseguem as notas mínimas para a aprovação. Em 86, sobraram
temos uma tecnologia em vestibulares que poderia ser exportada". E
mesmo que aqui. Lá, as escolas particulares formam a elite, e a pública forma o profissional para a grande produção americana". Mas vê uma diferença: "aqui, a coisa se agrava por causa da pobreza do país. Imagine a qualidade do ensino que é dado na zona rural do nordeste".
não acredita que tudo esteja errado na educação brasileira: "o vestibular
Em 82, mais de 70% das crianças da zona rural nordestina, entre 7 e 14 tem uma política transparente e é anos eram analfabetas. Nas cidades: feito por profissionais honestos. Con- 48% de analfabetos. trasta com o Brasil de hoje". Mas as As discrepâncias não se limitam à condições anteriores à disputa não oposição ensino particular versus púsão tão honestas. Afinal, o vestibular blico. Um abismo se coloca entre as é o ponto terminal de no mínimo 12 regiões do país. Ou melhor: entre anos de escolaridade. Pretensamente São Paulo e o restante do país. Relatório encomendado pela ONU, em 1980, chegou à seguinte conclusão ~ em relação à educação básica: "Tu~ do indica que a escolaridade obrii gatória por lei parece ser uma con~
quista real dos setores populares
~ apenas na metrópole paulistana, po.u
:l dendo ser qualificada como um fenô~ meno paulista" .
..~ O desmanche da educação se fez a
partir da privatização sem critério do ensino. Em todo o país, faculdades particulares proliferaram sem o mínimo respeito ou preocupação com a qualidade do ensino. Hoje, segundo o MEC, a iniciativa privada é responsável por 60% das vagas e 64% das conclusões no ensino superior. AutoH o jo, $&gundo o MEC, o in icíotivo p rivado é responsável por 60% do s vogas e 64% rizações para a criação dessas faculdas conclusões n o o n sino superior. dades eram fartamente distribuídas 581 vagas na USP e na UNICAMP, intelectual, a seleção do vestibular na década de 70. Os critérios pouco duas das universidades brasileiras de acaba sendo uma seleção econôrnica. ou nada tinham a ver com a edumaior prestígio. A FUVEST, então Bindi reconhece: "a escola pública é cação. Os proprietários tinham pouca responsável pelo vestibular das duas realmente fraca e o aluno depende da familiaridade com o assunto. Tudo inuniversidades, realizou uma segunda iniciativa de professores dedicados, o dica que continuam tendo. Poderiam prova. A tentativa de ocupar as vagas que é bem raro". Anibal Franklin de investir em qualquer outro ramo do ociosas fracassou. 366 vagas per- Azevedo, diretor do Intergraus, um comércio. curso pré-vestibular de São Paulo, ex- Em 87, segundo dados do MEC, apemanecerem intactas. Na Universidade Federal Fluminense, plica: "eu trabalho com a elite. O nas 15% dos professores das faculaté 86 o vestibular era apenas classifi- preço é alto e o público vem das me- dades particulares eram mestres ou catório. Não havia vagas ociosas. Em lhores escolas. Eu não posso dizer doutores. Os 85% restantes eram gra88, com a instituição de critérios míni- que haja uma queda da qualidade de duados ou cursaram os pomposos "programas de especialização". mos para aprovação, 1.417 vagas não ensino". foram preenchidas. Na UNICAMP, ou- Sobre o ensino público, Azevedo diz João Alexandre Barbosa, diretor da tro dado alarmante. Em 88, apenas 11 que não é só no Brasil que ele é ruim. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciêndas 90 vagas existentes para o curso "Nos EUA é péssimo e acontece o cias Humanas da USP, diz que "a di- .... caos
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vem de longe. Em 1823, a Constituição já declades'l'i..-.c:~~dc:~~s Cll rava obrigatória "a instrução primária e gratuita para todos". 166 anos depois, mais de 20 parte das universidades públicas bra- milhões de brasileiros entre 15 e 50 sileiras, a proporção média é de 1 fun- anos não sabem ler e escrever. Alexandre acredita que nada será al- cionário para 19 estudantes. Por outro lado, a rotatividade dos" nosterado nesse quadro, a menos que "as O absurdo continua na distribuição sos ministros da educação é espanverbas para o ensino público não se- dos recursos. Em 87, do total de ver- tosa. Em 54 anos, o Brasil teve 46 mijam mais desviadas, através de sub- bas destinadas às universidades fede- nistros. Uma média de 1 ano e 2 sídios, para as escolas privadas". Em rais, apenas 41,7% destinavam-se a meses para cada ministro. O Minis87, por exemplo, 83% da verba do atividades educacionais propriamente tério da Educação transformou-se em MEC para as universidades não-fede- ditas, enquanto 37,7% estavam reser- sala de espera pela vacância de minisrais foram destinadas a instituições vados para o pagamento do pessoal térios mais interessantes. Se depenparticulares. As universidades esta- administrativo. A manutenção da desse do número de pedagogos que duais receberam 10% e as municipais burocracia custa praticamente a mes- se formam anualmente no país, a edu- · ma coisa que as atividades educa- cação seria um mar de rosas. As faculcerca de 7%. Apesar dos subsídios, o setor privado cionais. dades e universidades brasileiras propreocupa-se muito pouco com os O CAOS do ensino brasileiro tem pelo duzem anualmente um exército de· benefícios que seus alunos poderiam menos uma causa: a má-vontade do cerca de 28 mil pedagogos. oferecer à sociedade. Isso de acordo governo federal em investir na edu- Hoje, segundo o MEC, 12% dos unicom o próprio MEC, no relatório pu- cação. De 60 a 65, as despesas varia- versitários graduam-se em Pedablicado para o ano de 87: "O setor ram entre 8,5 e 10,6% dos gastos to- gogia. O que fazem esses pedagoprivado expande-se muito mais como tais da União. De 65 a 82, a educação gos, fica difícil saber. O que se sabe estratégia de sobrevivência, ocupan- representou em média 8,7% dos gas- é que 11% dos professores do 1° do espaços vazios e cursos mais tos federais. A porcentagem é muito grau não completaram nem mesmo o competitivos, do que em atenção a inferior àquelas de países com os 12 grau. Em alguns estados do pressões específicas detectadas em quais o Brasil não gosta de se com- nordeste, o índice chega a 40%. Se algum espaço regional". Os proprie- parar. Entre eles, Chile, Tailândia e os professores têm esse nível de fortários dessas fábricas de diplomas Nigéria. A Emenda Constitucional n° mação, pouco se pode esperar dos parecem estar interessados apenas no 24, conhecida como "Emenda Call- alunos formados por eles. O MEC dá retomo dos seus investimentos. En- mon", determinava que no mínimo uma pista do que acontece com esquanto isso, a educases profissionais: "Sação escorre por água be-se que as licenciatuEm 8 6 , se»brc:~~rc:~~m 5 8 'I abaixo. ras das federais, mesmo A burocracia tomou....,c:~~gc:~~s ..-.e~~ USP e ..-.e~~ sendo os cursos de mese ingrediente impornor prestígio dentro da Ui'IICA.IVlP. A FU"VEST universidade, não se tante na composição de massa fétida em dedicam a formar dorec:~~li.z:e»._. ._.mCII s e g ... ..-.dCII que se transformou a centes, mas burocratas educação brasileira. para a administração pre»....,CII. 3 6 6 ....,CII9CIIS Nas universidades púpública". Em alguns esblicas, existe em métados, de 30 a 50% dos permc:~~..-.ecerc:~~m i ..-.'l'c:~~c'l'c:~~s. dia 1 funcionário para professores estão longe 4, 7 estudantes. Na UNI CAMP, uma 13% dos impostos arrecadados pela das salas de aula, exercendo funções das universidades mais conceituadas União seriam destinados à educação burocráticas em repartições públicas. do país, o descalabro é maior. Existem a partir de 1983. Nesse mesmo ano, a Diante desse panorama desolador, a mais funcionários do que estudantes. União aplicou apenas 4,4%. O mesmo sociedade começa a se defender dos A proporção é surreal: 3 funcionários ocorreu em 84. Em 85, as despesas gi- profissionais que ela própria forma e custeia. A criação de conselhos por aluno. Nas universidades ameri- ravam em torno de 5%. canas, musas inspiradoras de grande A tradição de não cumprir a legislação profissionais aparece como alternati-
..... tadura sofreu o enlouquecimento da privatizaÇão sem critérios, adotando um modelo primário de capitalismo". E constata: "Hoje temos semi-bárbaros operando terminais de computador". João
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va para garantir o mínimo de qualificação dos profissionais que o ensino superior despeja anualmente no mercado de trabalho. Para Décio Leal de Zagottis, Secretário Especial da Ciência e Tecnologia no Governo Federal, a principal função desses conselhos seria 0 registro de diplomas, garan11
tindo, pelo menos, a veracidade daquele documento". Uma outra função
seria triar os profissionais através de avaliações, habilitando apenas aqueles que tiverem um nível de qualificação aceitável. "A solução seria que estes conselhos tratassem de montar estruturas do tipo FUVEST, para elaborar e aplicar exames de qualificação", defende
Zagottis. A OAB - Ordem dos Advogados do Brasil - tem um mecanismo semelhante para a habilitação dos advogados. Atualmente, apenas no Estado de São Paulo existem 38 faculdades de direito, que despejam anualmente milhares de advogados no mercado. "Criam-se faculdades como nascem coelhos", compara José de Castro Bi-
gi, vice-presidente da OAB - Seção de São Paulo. Ele explica que o exame da Ordem é realizado quatro vezes por ano, às vezes mais. /(Temos mil e quinhentos advogados prestando o exame, o que dificulta a qualidade de aferição". Se o exame fosse feito com
maior profundidade, Bigi acredita que seria uma reprovação em massa. "Mas como o cidadão pode fazer oito exames da Ordem, um dia, por descuido, ele passa", lamenta.
A sociedade se organiza e custeia organizações paralelas para garantir o mínimo de qualidade no serviço de profissionais que, afinal, se formam às custas do dinheiro público. Ou seja, paga-se duas vezes para garantir o mínimo de qualidade. O início do bombardeio do sistema educacional brasileiro tem data certa: 1968. Foi a partir desse ano que o regime militar concentrou fogo na educação. Em pouco mais de 20 anos, a educação foi reduzida a pó. Mas à medida que a educação agonizava, o
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país se equipava no campo das tele:~ comunicações. ~ Em 75, a televisão já alcançava 40% da população urbana, Atualmente atinge 75%. A partir de 64, para realizar a chamada "integração nacional", o governo deslocou enormes investimentos para as telecomunicações. Além da coincidência de datas entre a ascenção da TV e o declínío da educação há outra coincidência. Os altos índices de analfabetismo constituíram a alavanca decisiva da poderosa penetração da televisão no país. O fenômeno televisivo no Brasil, aparentemente natural, não encontra correspondente em qualquer outro país do mundo. Educação, no Brasil, é um assunto que rende. Quanto mais se toca no assunto, mais ele cheira mal. Massificação, democratização, televisão, corrupção, tudo rima com a nossa agonizante educação. A partir de 64, a educação foi colocada no centro de fogo de todo o projeto militar de desenvolvimento. O país se desenvolveu economicamente, se equipou tecnologicamente e desenvolveu um sofisticado sistema de telecomunicações. Não importa, aqui, discutir o preço que se pagou por isso. Importa saber que paralelamente a todo esse processo de "desenvolvimento" a educação foi sendo triturada e transformada em massa de dejetos. A violência com que o regime militar, a partir de 68, esmagou todas as formas de organização estudantil eram os primeiros indicies de como os governantes brasileiros não gostavam, e ainda não gostam, da educação. Hoje, nada mais monótono e pouco surpreendente do que o ambiente das universidades e faculdades brasileiras. A sensação de que nada acontece chega a ser angustiante. Tão chato como deve ser o paraíso, espaço mítico onde tudo, sempre, é igual a si mesmo. Mas se o paraíso for abolição de qualquer sensação desagradável, a comparação não presta. Os dados exalam um mau-cheiro nauseante. • caos
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