Solo AndrĂŠ Soltau
Fé Com os Pés na terra molhada e respiração sem pressa. Com os olhos na pétala azulada e boca seca de carências. Com as mãos postas em oração e os pensamentos acima das nuvens. Flerto com a divina imagem posta em pedra branca. Seguro entre os dedos os búzios que ganhei. Transpiro jasmins em transe único. Com fé nos labirintos e reza baixinha aos navegantes. Transito entre dois mundos Uma parte de mim é rebeldia. Noutra carrego Imensidão.
Lumens A manhã acordou-me Beijando um sonho. Cúmplice da eternidade, O som do vento Entrou pela janela Bateu a persiana azul. Atravessei o portal de madeira pesada Com pés descalços. Fechei os olhos diante Da luz que entra Pelo vitral da sala. Encontrei tuas mãos Lavando sementes Em água corrente. Falei baixinho Impropérios lascivos. Preciso escrever sem demora Antes que o relógio Tome conta das palavras caladas. Pintei o papel com laranja Um poema cresceu iluminado de sol.
O NÃO DITO O não dito Dizer é sempre um erro Quem me dera contar aos meus Sobre aventuras e tolices Sem a palavra solta na boca desdentada? Meu silêncio pede aos outros Que compreendam entre tantas tagarelices Que preciso viver sem som Para que ouça ali no cantinho A dolorosa angústia que a palavra Dita trouxe de campos em batalhas. Há leveza quando não se diz. Há uma guerra entre meus silêncios E as palavras contidas na língua Incompreensível de um povo distante. Só de ouvir o vento com pés no chão, Valem metade do tempo que viverei aqui. Meu epitáfio será um branco lençol de linho.