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Prólogo Dois anos atrás Eu não podia acreditar que estava voltando para casa, depois de quase quatro anos morando e criando meu filho em Londres eu estava voltando. Liguei para Ash e avisei minha decisão. Brian estava nas nuvens, todo dia perguntava do seu pai, ele tinha uma verdadeira devoção pelo pai, o amor que eles tinham um pelo outro era incrível, quem diria que Ash não é pai biológico de Brian? Ninguém. Quando desembarcamos no aeroporto de NY senti como se eu estivesse finalmente no lugar que eu sempre deveria estar, Clara, minha amiga da época da faculdade, me indicou para um emprego em uma famosa empresa de roupas íntimas femininas. Durante meu tempo em Londres consegui terminar meu curso de moda e fiz alguns cursos em Paris, apesar de ser nova eu já tinha um currículo muito bom – palavras da Clara – e isso me ajudaria a conseguir essa vaga. Brian tinha acabado de completar três anos, eu tinha 24 e uma oportunidade única na minha frente, Ash me ajudaria e tudo ficaria bem. Perguntei para ele se eu poderia deixar Brian com sua governanta, a minha entrevista seria ainda naquele dia. Como sempre, ele me ajudou e falou que até voltaria para casa mais cedo para ficar com Brian e matar a saudade. Dentro do carro liguei para Clara. — Nathy, eu não acredito, você já chegou? — Ela perguntou praticamente gritando no meu ouvido. — Sim, eu cheguei, estou indo para casa deixar minhas coisas e já vou para o endereço que você me mandou. — E Brian? Ele vai ficar com quem? — Ele ficará na casa de um amigo, daqui a pouco vamos conversar, quando eu estiver chegando eu te mando uma mensagem. — Tudo bem, eu estou te esperando. Depois de arrumar parcialmente minhas coisas no quarto que Ash tinha separado para mim fui encontrar com Clara. Eu estava mais que Outro Olhar | 2
animada com essa entrevista, peguei todos meus melhores desenhos, precisava mostrar o que de bom eu poderia fazer e era isso que eu faria nessa entrevista, eu só não esperava que a minha futura chefe seria Emily Drake, meu mundo virou de cabeça para baixo, eu não poderia nunca trabalhar com essa mulher, o ex-marido dela havia me engravidado e agora ela estava namorado com Ash, minha vontade era de sair correndo dali, mas pensei em Brian, eu precisava desse emprego para manter meu filho. Conversamos uma boa parte da tarde e no final eu fiquei com o cargo e com um salário maior do que eu imaginava, senão fosse o fato de ela ser quem é, eu estaria nas nuvens, precisava falar com Ash sobre isso. Cheguei em casa e ele estava brincando com Brian no tapete da sala, os olhos dos dois brilhavam de tanta felicidade. — Ash, preciso falar uma coisa para você — eu disse depois que tínhamos jantado e Brian já estava dormindo. — Fale, como foi a sua entrevista? Eu nem perguntei. — É sobre isso, eu não sei bem como falar, mas... — Fale logo, você está me preocupando. — A parte boa é que eu consegui o emprego, mas a parte ruim é que a empresa que vou trabalhar é da Emily. — Emily? Emily Drake? Minha Emy? — A cor do seu rosto foi embora no momento em que falei o nome dela, eu abaixei a cabeça e só concordei — Eu não posso acreditar, você tem um emprego e Emy é sua chefe? É isso mesmo? — É isso mesmo, se você quiser eu posso desistir, eu posso falar que... — Não, está tudo bem, só não fale para ela sobre Brian ou sobre qualquer coisa da sua vida particular. — Sim, tudo bem, eu prometo. Obrigada Ash e me perdoe mais uma vez — nos abraçamos e eu fui para o meu quarto dormir, vi que ele ficou preocupado com o meu novo emprego, eu não podia negar, eu estava preocupada também. No outro dia bem cedo Emily apareceu na porta do apartamento de Ash, quando Brian falou que ele era o pai dele eu achei que ela iria desmaiar, vi como ela ficou chocada, Ash tentou conversar, mas ela Sophia G. Paiva | 3
não deixou. Pensei que perderia meu emprego, mas ela só me disse que eu deveria estar no desfile que aconteceria naquele fim de semana. Vi como Ash ficou, ele não merecia sofrer, tudo que ele fez foi ajudar todo mundo. Quando o dia do desfile chegou eu fui apresentada a toda a equipe, e meu Deus, o tal de Jake era um Deus, lindo, ele também era o melhor amigo de Emily. Depois de uma conversa com ela sobre o que tinha acontecido no apartamento de Ash, Jake me chamou para conversar também. — Olha, eu vou ser bem direto com você, eu não gosto de você, mas somos obrigados a trabalhar juntos, então garota, faça seu trabalho e tenha o mínimo de contato comigo. Não sei sua história e também não estou interessado em saber. Se precisar falar comigo, mande um e-mail, eu não quero você perto de mim, você está me entendendo? — Eu estava em estado de choque, de onde tudo isso veio? — Você me entendeu? — Quem você pensa que é para falar comigo desse jeito? — Eu perguntei sem paciência. — Eu sou o melhor amigo da mulher que você e o canalha do exmarido dela enganaram. — Como você mesmo disse, você não sabe na minha história — falei fervendo de raiva por dentro. — E como eu também disse, não quero saber, não gosto de dramas, isso não funciona comigo — seu tom era de total desprezo, qual era o problema desse cara? — Ótimo, o mesmo vale para você, não fale comigo, não chegue perto de mim, eu tenho pena de você, tão bonito por fora e um monstro por dentro. — Ótimo, estamos entendidos — ele disse com um sorriso sarcástico no rosto, deu as costas e foi embora me deixando ali sozinha olhando para ele enquanto ia em direção ao grupo de modelos que estava conversando. — Ogro — eu falei para mim mesma, coloquei um sorriso no rosto e voltei para o salão principal onde estava sendo montadas as estruturas para o desfile daquela noite. Outro Olhar | 4
Capítulo 1 Jake Como posso descrever o início do meu dia fodido – acho que essa era a palavra certa –, eu estava em uma casa de praia que Ash alugou, era o dia do casamento dele e da Emy, minha Princesa ira se casar eu não poderia estar mais feliz, finalmente ela encontrou a sua felicidade, tinha a família que ela sempre sonhou. Eu não iria levá-la para o altar hoje, recusei seu convite, acho que não dei muita sorte no primeiro – e o noivo na época também não era a melhor pessoa do mundo –, hoje eu ia ocupar o lugar de padrinho, ao meu lado estaria Clara, já fazia algum tempo que não nos víamos, ela estava morando em Paris, mas minha cabeça ainda relembrava a última noite que passamos juntos. *** — Uma última noite. — Clara me disse antes de se aproximar, sua boca era suave, era um caminho conhecido para mim, eu beijei seu pescoço e senti seus gemidos roucos, esse som me deixava excitado, ela arranhava meu pescoço e me puxava implorando por mais. Segurei sua bunda e ela enrolou as pernas na minha cintura, caminhei com ela até meu quarto e a joguei na cama, ela gostava disso, gostava de brutalidade. Tirei sua roupa beijando cada parte do seu corpo enquanto a sentia amolecer a cada toque da minha boca. — Você é tão linda. — Minha voz era rouca, sentia seu corpo cada vez mais relaxado, cada vez mais receptivo. — Preciso de você. — Ela gemia no meu ouvido. — Estou aqui, vamos nos divertir muito essa noite. Com isso entrei nela, ela nunca me decepcionava. Depois de uma noite e madrugada de muito sexo, com direito a amarras e alguns tapas, Clara dormiu nos meus braços, eu fiquei acordado, eu a amava, mas sabia que não poderia fazê-la feliz, ela merecia mais e eu não podia dar isso para ela. Quando ela acordou de manhã, eu ainda não tinha dormido, a levei até a porta, ela se virou e eu vi lágrimas nos seus olhos.
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— Por favor, Clara, não chore. Você merece alguém melhor que eu, você sabe que eu não posso te dar o que você precisa e merece. — Tudo bem Jake, eu sempre soube no que estava me metendo, até outro dia. Dei um beijo casto na sua boca e ela foi embora. *** Varri aquela lembrança da minha cabeça, não sabia o porquê estava pensando nela naquele momento, talvez o fato de hoje ser o casamento, saber que ela estaria aqui estava mexendo com a minha cabeça, eu tinha as minhas distrações, Clary se tornou uma companhia constante, aquela loirinha espevitada sabia como me distrair como ninguém, sorri com a lembrança dela. Estava deitado na cama com as mãos atrás da cabeça, tinha acabado de acordar quando ouvi uma batida na porta, era uma batida leve, mas o grito agudo era estridente. — Tio Jake! Tio Jake! — Brian gritava na minha porta, aquele moleque estava se tornando um grude, sempre corria para mim quando estava por perto, mas eu não podia negar, eu sentia um enorme carinho por ele. — Estou dormindo — gritei ainda deitado. — Vamos tio Jake, já tá de dia! Deixa eu entrar! — Ele continuava a bater na porta, seus golpes cada vez mais fortes, me rendi aos seus apelos antes que ele acordasse a casa inteira, vesti uma bermuda e abri a porta, ele entrou como um furacão no meu quarto e deitou na cama — Tio Jake! Coloca no canal de desenho, por favor — ele falou e apontou a para a TV que ficava em frente da cama. — Não está muito cedo para isso? — Questionei, ele me olhou por alguns instantes e soltou. — Por favor, Tio Jake! — Seus olhos eram suplicantes, eu não resisti, fechei a porta do quarto e fui ligar a TV, ele batia palma alegre com aquele momento, ele era extremamente parecido com Olin, fisicamente idêntico, os olhos eram escuros e os cabelos também e ainda tinha a mesma determinação do pai, era incrível a semelhança. Sentei na cama e fiquei um tempo assistindo, eram desenhos sobre heróis da Marvel, lembrava a minha infância, comecei a curtir o Outro Olhar | 6
momento, os olhos de Brian estavam vidrados na TV, era como se o mundo não existisse mais para ele. Quando estava quase cochilando novamente ouvi uma nova batida na porta. — Jake? — A voz da Nathalie era como um sussurro, eu ainda não conseguia engolir aquela mulher, para mim não passava de uma vadia que tinha transado com o falecido marido da minha melhor amiga. — Sim. — Abri a porta minha voz ainda estava rouca por causa do sono. Ela estava com um vestido azul que ia até o meio da coxa, os cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo, os olhos azuis estavam preocupados, ela olhou para cima e encontrou o meu olhar. Eu com 1,85m era uns 20 centímetros maior que ela. — Desculpe te incomodar. — Ela estava constrangida, suas bochechas estavam coradas. — Será que Brian está ai? Apontei para cama, onde o garoto ainda estava vidrado no desenho. — Graças a Deus! Eu fui ao quarto da Emy e ele disse que ia para lá. Mas demorou demais, eu estava procurando ele como uma louca. — Ela falou como se eu me importasse. — Você deveria ter mais cuidado com uma criança da idade dele. — Eu estava sendo grosseiro, eu sabia disso, mas foda-se, essa mulher me irritava. Ter que olhar para ela todos os dias no escritório me deixava estressado, até tive uma discussão com Emy por causa disso, ela sabia que eu não gostava de Nathalie, mas mesmo assim não mudou nada, trabalhar com ela todos os dias era demais para mim. — Desculpe. — Você vai levá-lo ou não? Ele está assistindo desenho. — Ela passou por mim como um furacão e foi buscar um Brian furioso por ter sido interrompido. — Mamãe, quero ficar aqui vendo desenho com o Tio Jake! Por favor, mamãe, eu te amo. — Brian tentou a tática do ‘eu te amo’, mas não deu certo. — Vamos embora agora, Brian, você assiste TV no quarto da Tia Emy, os gêmeos estão lá. — Mas mamãe, quero ficar com o Tio Jake. Deixa mamãe. — Não, Brian, vamos. Sophia G. Paiva | 7
Ele desceu da cama de cara feia e os braços cruzados no peito, parou ao meu lado, cutucou minha perna e eu olhei para ele. — Tio Jake, fala para minha mamãe que você quer que eu fique aqui com você. — Aquele garoto era impossível, tentava de tudo para conseguir o que queria, até a carinha do gato do Shrek ele fazia. — Brian, agora você tem que ir, sua mãe quer que você vá com ela. Mais tarde você volta e a gente assiste desenho, pode ser? — Ele me olhou por um tempo e por fim disse que sim. — Então bate aqui, companheiro. — Ele bateu na minha mão, me deu um abraço e foi para o lado da mãe. Quando me levantei ela estava me olhando com a cara fechada, mas pude ver o sorriso em seus olhos, não era fácil lidar com Brian, ele era muito espirituoso, além de Ash, eu era o único que conseguia fazer com que ele se comportasse e não fizesse bagunça ou escândalos. — Obrigada por cuidar dele. — Ela virou e partiu. Bati a porta e fui tomar um banho, já não estava com humor para dormir. O resto do dia foi como um borrão, muita gente, corre-corre, no meio da tarde eu já estava arrumado – faltava só o paletó – e passei para ver Emy, eu precisava vê-la uma última vez como uma mulher solteira, queria me despedir dos meus sentimentos por ela, nós tínhamos uma história, uma que valia a pena se lembrar, escolhi uma música que ela amava e dançamos nossa última dança. Não precisei falar o que era aquele momento, ela sabia que estávamos encerrando uma fase de nossas vidas, uma fase que nunca eu esquecerei, por muito tempo eu fui a única pessoa que ela tinha, mas agora era diferente. Ao terminar de dançar a beijei, com todo o amor que tinha, não era um beijo para tentar fazê-la mudar de ideia – até porque isso seria impossível – ou nada do gênero, era um beijo carinhoso de despedida. Saí do quarto e ela estava chorando, mas vi o seu sorriso e percebi que ela estava feliz por mim, por nós. Saí do quarto dela e fui para a sala, Ethan e Ash estavam sentados em bancos, eles também já estavam arrumados. Eles estavam tomando uma bebida. — Posso? — Perguntei ao me aproximar de uma cadeira. — Servido? — Ethan perguntou apontando pra garrafa. Outro Olhar | 8
— Com certeza. — Sorri e ficamos ali, olhando para o caos a nossa volta. — Emy mandou um beijo para você, Ash, como você está? — Ele sorriu quando falei o nome de Emy. — Acho que nervoso não chega nem perto. — Eu e Ethan sorrimos, era engraçado vê-lo naquela situação, eles se amavam, tinham um casal de filhos lindos, não entendia aquele sentimento. Ash se levantou e eu sabia onde ele estava indo. Eu e Ethan ficamos conversando sobre o nervosismo de Ash e rindo dele, e então senti os cabelos da minha nuca se arrepiarem, quando virei me deparei com Nathalie, ela vinha em nossa direção e segurava Brian pela mão, seu cabelo loiro estava em uma trança lateral, sua maquiagem era suave marcando apenas seus olhos que eram de um azul profundo, seu vestido longo era azul marinho e evidenciava apenas o busto, ela não tinha as curvas da Emy, mas era esbelta e tinha os seios fartos, e porra ela estava sexy, merda. — Tio Jake! — Brian se soltou da mãe e correu para nos encontrar. — E eu, Brian? Esqueceu do seu tio Ethan? — Não, tio Ethan! — Ele disse e Ethan o pegou para fazer cócegas, ele ria e gritava tentando se soltar. — Ethan? Você poderia ficar com Brian um minuto? Preciso ajudar a Emy. Onde está Ash? — Sim claro, acho que ele foi ver a Emy, você deve encontrá-lo lá em cima. — Ethan falou sorridente, Nathalie sorriu de volta e saiu de perto, mas não antes de falar para Brian se comportar. — Bem, me corrija se eu estiver errado, mas senti uma certa tensão aqui? — Ethan falou e me olhou com divertimento nos olhos, tomei mais um gole da minha bebida. – Hoje de manhã a mamãe e o tio Jake brigaram porque eu estava no quarto dele vendo desenho. — Olhei para Brian não acreditando que ele falou aquilo. — Ah é Brian, conta mais pro Tio Ethan, eu quero saber o que aconteceu. — Fui para o quarto do tio Jake e a mamãe não gostou, e eles brigaram, acho que a mamãe não gosta dele. — Brian sussurrou no ouvido de Ethan. Sophia G. Paiva | 9
Eu ri, aquele garoto era incrivelmente esperto. Quando Ash voltou para a mesa Brian já tinha ido embora, eu e Ethan estávamos observando Clara e Nathalie que estavam conversando animadamente. Fomos para o local onde a cerimonialista nos falou para ficar e esperamos ali até que tudo estivesse pronto. Eu ainda não tinha falado com Clara, mas isso não demorou a acontecer, entraríamos juntos, pois éramos os padrinhos. — Hey! — Ela me viu e me abraçou, estava linda, seu cabelo estava cortado em um corte chanel, estava usando o mesmo vestido da Nathalie, dei um beijo na sua bochecha. — Como você está? — Bem, desculpe o atraso, meu voo atrasou e vim o mais rápido que pude. — Seu sorriso era encantador, eu já estava louco para relembrar os velhos tempos, mais uma vez varri esses pensamentos da minha cabeça e ficamos conversando sobre o casamento. Nos juntamos a Nathalie e Ethan, Clara se aproximou dos dois e começaram a conversar, ela e Nathalie eram amigas de longa data, me afastei um pouco e fiquei observando as duas interagirem, aquilo deixou meu corpo em alerta, como seria essa dupla na cama? Meu Deus, eu precisava de uma bebida, ou duas. Percebi como Ethan olhava para ela, aquilo me incomodou um pouco, eu sabia que ele estava solteiro agora, estava mais aventureiro do que nunca. Não queria nem pensar a cena deles juntos. Sei que aquela noite há alguns meses atrás foi a última, mas acho que não iria nos causar mal algum mais uma noite juntos e naquela noite ela seria minha. Quando as músicas do casamento começaram a tocar eu fiquei nervoso, mas que diabos? Eu nem era o noivo, e nunca iria ser, casar não é para mim, logo o nervosismo passou e tudo foi perfeito. A cerimônia foi belíssima, assim como Emy merecia, ela estava feliz e eu mais ainda, ela encontrou sua alma gêmea, minha princesa estava completa. Estávamos sentados em uma mesa – Nathalie, eu, Clara e Ethan – e observávamos a primeira dança do casal, eles pareciam que iam se devorar com os olhos, assim que terminou as pessoas começaram a ir Outro Olhar | 10
para pista. Ethan se adiantou e quando eu pensei em convidar Clara para dançar eles já estavam saindo para pista. Fiquei ali com a minha bebida e com uma Nathalie parecendo extremamente desconfortável. Não falamos até que Brian se aproximou, ele se sentou do meu lado, logo atrás Maria veio com os gêmeos e mais uma ajudante. — Tio Jake? — Sim, amigão. — Me virei e vi aquele pequeno moleque me encarando. — Por que você não dança com a minha mamãe? — Os olhos da Nathalie pareciam que ia saltar para fora, aquele garoto era uma pestinha, mas tinha que admitir, ele era esperto. Eu não queria falar que não, seria muita falta de educação então sorri e segui o conselho. — Então, você aceita? — Estendi minha mão, ela me analisou por um momento, olhou para Brian que sorria, Maria também estava estranhamente sorridente. — Tudo bem. — Ela deu um suspiro pesado e se levantou ignorando minha mão estendida, ela me encarou e seguiu para a pista de dança. Fui atrás dela, mas não tentei fazer mais contato físico até que estivéssemos dançando. Estava tocando Demons do Imagine Dragons. Era uma música linda e lenta era muito bonita, quando segurei sua mão senti uma carga elétrica passando por todo meu corpo, parei por um momento e logo após me recuperar a segurei pela cintura e colei o corpo dela ao meu, ela estava tensa. — Eu não mordo. — Falei quase que sussurrando no seu ouvido, ela tinha um cheiro maravilhoso, algo floral, suave e eu não pude deixar de perceber como ela se encaixava perfeitamente ao meu corpo. — Ainda não estou certa disso. — Ela disse quando olhava bem nos meus olhos, senti uma estranha vontade de beijar aquela mulher naquele momento, seu olhar era desafiador e me excitava. O que estava acontecendo comigo? — Desculpe por mais cedo, eu fui um idiota. — Isso eu percebi, mas está desculpado. — Ri daquela afirmação, girei ela e inclinei seu corpo para baixo, ela se assustou, meu rosto ficou muito próximo ao dela, senti seu coração acelerar, aquele jogo estava cada vez melhor, eu adorava um bom desafio. Sophia G. Paiva | 11
— Então, qual é a sua história? — Eu perguntei quando voltamos a dançar normalmente. — O quê? — Ela parecia perplexa. — Sua história, gostaria de conhecer você melhor. Quer dizer, sem a parte de que você dormiu com o ex-marido da minha melhor amiga e tem um filho dele, essa parte eu já conheço. — Ela parou de dançar e me olhou parecia chocada, eu mesmo não sabia como aquilo tinha saído da minha boca, ela apenas me encarou e saiu, ela parecia que ia correr, começou a andar rápido e se afastou da tenda. Vi que ela saiu correndo em direção ao mar. Merda, eu parti atrás dela chamando seu nome, mas nada, estava muito escuro e eu não estava vendo quase nada. Procurei por ela, eu falei besteira, pela segunda vez no dia – IDIOTA!
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Capítulo 2 Nathalie Idiota, grosso, estúpido, quem esse cara pensa que é para falar comigo daquele jeito? Dessa vez ele passou de todos os limites, eu sabia que ele não gostava de mim – e o sentimento era recíproco –, mas aquilo foi demais, me senti humilhada, exposta, saí bufando de raiva deixando ele no meio da pista de dança, eu precisava respirar, me acalmar. Eu sei que errei no passado, que não deveria ter caído na lábia de um conquistador, ele me contou as maiores mentiras e eu, ingênua, acreditei e acabei grávida e sozinha. Senão fosse por Ash não saberia onde estaria hoje, além de assumir Brian e se tornar um verdadeiro pai, ele virou um grande amigo, depois do canalha do Olin me despachar para Londres – foi realmente o que aconteceu –, passei a morar com Ash e ele deu tudo de bom e do melhor para o meu filho. Eu não poderia ser mais grata. Mas nada era motivo para ser tratada assim, Jake exagerou e agora estou me sentindo a pior pessoa que possa existir. Ele não podia e não tinha o direito ter falado assim comigo. Já tinha me afastado bastante da tenda onde estava acontecendo a festa, tirei as sandálias e fui em direção ao mar, as lágrimas que eu tinha segurado até agora começaram a rolar sem parar, soluços tomaram conta de mim, aquilo para mim era insuportável, eu não poderia continuar a trabalhar com um cara como ele, apesar de estar diretamente ligada a Emy, eu o via todos os malditos dias, ele me ignorava ao máximo, nos falávamos o estritamente necessário e isso não me afetava, até agora. Eu não o entendia, Emy que foi a maior prejudicada nessa história toda e não teve essa reação que Jake tem. Ela entendeu que o exmarido não era o que ela sempre achou que fosse. Depois que descobriu a traição e tudo de errado que ele fez nós nos tornamos amigas. Eu já estava uma verdadeira bagunça quando ouvi chamarem meu nome. Sophia G. Paiva | 13
— Nathalie! — Era Jake que corria na minha direção, eu não precisava dessa merda agora, muito menos que ele me visse nesse estado deplorável. — Nathalie! Espera! Eu... — Ele passava as mãos nos cabelos, parecia frustrado. — Me desculpe, ok? Eu fui um idiota. Sinto muito. Minha raiva não poderia aumentar mais, eu ainda estava virada de costas para ele, estava olhando o mar, quando virei para encará-lo vi o espanto nos olhos dele, minha cara deveria estar um horror. — Me perdoe. — Ele disse quando se aproximava, sua mão tocando meu rosto, seu toque era gentil, não pensei duas vezes reuni toda força que eu tinha e sem perceber minha mão foi parar bem no lado esquerdo do seu rosto, um forte tapa que ecoou pela praia, ele alisou o local e me deu um meio sorriso. — Certo, eu mereci essa, admito. — Ele já estava sorrindo, o tapa não fez com que ele se afastasse, pelo contrário, ele foi se aproximando cada vez mais, deixando minha respiração ofegante. — Você realmente mereceu e merece muitos outros. Você foi um completo idiota. Você não sabe nada da minha vida, ouviu? NADA! Não me chame de vadia! Eu não admito isso. — Minha raiva não tinha diminuído, minhas lágrimas caíram novamente e eu me afastei dele, virando as costas para ele e indo em direção ao mar, precisava pelo menos sentir o mar nos meus pés. Ele chegou atrás de mim e me segurou pelos ombros e me virou, o corpo dele estava tão próximo ao meu, meu peito subia e descia com força, ele segurou meu rosto com as duas mãos me forçando a encarálo. Era difícil de desviar os olhos dele, ao lado dele eu me sentia pequena – meus 1,65m não eram nada comparados aos quase 1,90m dele –, ele era lindo, olhos verdes e cabelos negros, mas nada adiantava ser lindo por fora e por dentro ser uma pessoa horrível. — Nunca nenhuma mulher fez isso comigo antes. — Seu olhar era intenso, fazia muito tempo que nenhum homem me olhava desse jeito, a última vez não tinha acabado muito bem.
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— Esse deve ter sido o problema. Elas deveriam ter feito para você aprender como se trata uma mulher corretamente. — Eu estava quase gritando. — Ouça Nathalie, eu realmente vou me arrepender disso, mas é mais forte do que eu. Eu sinto muito, mas eu preciso disso. — Seus olhos jamais saindo dos meus, que caíram na sua boca, ele era lindo, seu olhar intenso, suas mãos eram fortes e estavam me deixando em chamas. Não tive mais tempo de processar nada, sua boca cobriu a minha com tamanha intensidade que me deixou sem fôlego, sua língua explorando a minha, seu beijo era urgente, faminto, conflitante, perdi todos os meus sentidos naquele beijo. Jake se separou de mim com a mesma rapidez com que me beijou, eu ainda estava tonta. — Merda. — Essa foi a única palavra que ele disse antes de se virar e voltar para a tenda onde a festa estava acontecendo. Não tive tempo de reagir e ele já tinha ido embora, me deixando ali com o gosto dele na boca. O que tinha acabado de acontecer ali? Aquilo não poderia ter acontecido, aquele beijo foi um erro que jamais voltará a acontecer. Deve ter sido o calor do momento, as emoções à flor da pele, era isso que eu repetia para mim mesma quando corria de volta para a casa. Fui direto para o meu quarto, deitei na cama e fiquei um tempo olhando para o teto e lembrando do beijo, coloquei a mão na boca, ainda sentia a boca dele na minha, varri esse pensamento da minha cabeça, ele não merecia, ele me destratou, eu o odiava. Saí da cama e fui para o banheiro e tentei me recompor, meu rosto estava um verdadeira bagunça, minha maquiagem estava borrada por causa do choro, mas minhas bochechas estavam muito coradas, meus olhos brilhavam com desejo, droga, aquilo não poderia ficar pior. Voltei para a festa repetindo meu novo mantra ‘nada aconteceu, aquele beijo não aconteceu, eu odeio Jake’ e eu acreditava que se repetisse várias vezes eu acreditaria, mas meu corpo não estava plenamente de acordo.
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Quando saí para a festa novamente meus pés simplesmente travaram quando o vi, ele estava lindo como sempre e dançava animadamente com a Clara. Merda, eu não sabia o que estava acontecendo, ódio correu em minhas veias, repeti mais e mais na minha cabeça que eu o odiava, mas vê-lo ali dançando com Clara eu sabia que algo estava errado comigo. Eu sabia que eles tiveram um relacionamento no passado, sabia que ela foi para Paris principalmente para esquecê-lo, lembro-me de conversar com ela por telefone enquanto estava em Londres e ela falava que ainda esperava que ele a pedisse em casamento e quando tudo acabou, Paris foi a melhor opção para ela. E agora ela estava de volta, linda e elegante. Ele a olhava com desejo, assim como olhou para mim antes de me beijar. Virei de costa e fui para o outro canto da tenda, de onde eu não podia vê-los. Tentei interagir ao máximo com todos. Quando Emy me chamou para as fotos não consegui evitar e olhei para ele, que estava de braços dados com Clara, ele me olhou e sua expressão era indecifrável, Ethan estava ao meu lado, bufou e parecia igualmente desconfortável. — Algum problema? — Perguntei. — Ah não, problema algum. — Olhei para Ethan. Ainda desconfiada daquela reação, ele era sempre tão animado. Quando Ash se aproximou o clima ficou mais leve e descontraído, mas ainda sentia que Ethan estava tenso ao meu lado. Depois de muitas fotos e sorrisos forçados fomos liberados novamente, não demorou muito e Emy chamou todas as solteiras, era a hora de jogar o buquê, Brian insistiu que eu fosse me misturar com o restante das solteiras, eu disse que não, mas ele insistiu e então me juntei ao grupo, Clara estava ao meu lado rindo. — Bem, não quero casar tão cedo. — Ela era uma pessoa divertida, me esqueci de como era bom tê-la por perto. — Brian praticamente me obrigou. — Nós rimos juntas daquela situação.
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Quando Emy jogou o buquê, não pude ficar mais surpresa, eu não havia feito movimento nenhum e o infeliz veio na minha direção e caiu bem na minha mão. Clara ria, seu sorriso me contagiou, ficamos as duas rindo como duas adolescentes enquanto o resto das mulheres saia. — Bem, acho que teremos outro casamento em breve. — Ela estava se divertindo. — Só se for o seu, amiga, eu passo. É todo seu. — Joguei o buquê nas mãos dela. — Nem pense nisso, querida. — Ela jogou de volta e voltamos para nossa mesa, onde estavam Ethan e Jake. — Meninos, precisamos encontrar um marido para minha amiga aqui. — Clara disse quando sentamos, Ethan riu e falou que ia me apresentar algumas pessoas que trabalham na empresa dele. Jake apenas me olhou, mas não prendeu seu olhar como tinha feito anteriormente, agora ele tinha voltado a ser o Jake de antes, aquele que me ignorava – perfeito. — Obrigada pela ajuda Ethan, mas isso aqui não quer dizer nada. — Coloquei o buquê em cima da mesa. Clara me olhou e rimos. Clara pediu doses de tequila para nós quatro, como Brian estava com Maria e uma equipe de babás, fiquei tranquila, Ash e Emy queriam que todos nos divertíssemos. Eu não era de beber, mas no meu estado de espírito resolvi que algumas doses de tequila não iriam fazer mal. — Saúde! — Brindamos os quatros e viramos nosso copo de uma só vez, aquilo queimou minha garganta, me esforcei para não engasgar. Ethan e Clara pareciam se divertir e Jake me olhava com cautela. Eu o pegava olhando para mim, mas toda vez que eu olhava para na direção dele, ele desviava o olhar. Já estava na terceira dose quando Clara puxou Ethan para pista de dança, ela estava bem animada e não conseguia se conter perto de Ethan – o que estava acontecendo ali? Eu sorri ao ver a cara de ódio de Jake vendo Clara e Ethan dançando no meio da pista de dança. Após alguns minutos sendo ignorada e ignorando a presença de Jake resolvi me levantar, buscar Brian e ir dormir. Quando me levantei Jake olhou para mim. Sophia G. Paiva | 17
— Boa noite, Jake. — Eu murmurei e ele me ignorou. Será que nem o mínimo de educação ele tem? Lógico que não, aprendi isso após quase dois anos trabalhando com ele. Ele se levantou da mesa, me pegou pelo braço e andou comigo em direção a casa. — Me larga! Jake, me larga, eu preciso buscar o Brian com a Maria. — Preciso falar uma coisa, não vai demorar. — Ele falou e continuou andando, quando chegamos até a sala ele deixou a luz apagada e me virou para encará-lo. — O que aconteceu foi um erro, um erro que não irá se repetir. Te peço desculpa, mas nada mudou. Está me entendendo? — Aquilo foi a coisa mais ridícula que aconteceu a noite toda. — Você não tem noção do ridículo, Jake? Eu quero que você se exploda, fique longe de mim, eu não te dei liberdade para me beijar daquele jeito. Não se atreva a me tocar novamente. — Mesmo a sala estando escura senti o olhar dele em mim, aquilo não podia estar acontecendo, a tensão entre nós era palpável. — Não parece que você se incomodou tanto assim com o beijo. — Senti que ele estava sorrindo, ergui minha mão, eu ia acertar a cara dele em cheio novamente. — Não ouse. — Ele segurou meu punho com força. — Me larga, você está me machucando. — Tentei puxar meu braço em vão. — Não mais do que você está me machucando. — Não tive tempo para processar aquelas palavras, Jake me puxou com força para perto do seu corpo, sua respiração estava ofegante, senti os lábios dele quase colados aos meus, comecei a sentir minhas pernas fraquejarem, ele tinha um cheiro inebriante, seu cabelo era sedoso, em um comprimento perfeito. Não sabia o que estava acontecendo comigo nem com meu corpo naquele momento, quando ouvi Jake sussurrar. — Merda — seus lábios tocaram nos meus quando ele disse isso, suas mãos saíram dos meus pulsos e estavam na minha cintura, seu toque era gentil, ele começou a beijar meu lábio inferior com tanta Outro Olhar | 18
delicadeza que minha única ação foi de segurar sua nunca, meus dedos passando preguiçosamente nos seus cabelos, sua língua abrindo espaço na minha boca, ele tinha um gosto tão bom. Sua mão começou a vagar pelo meu corpo, ele não parecia estar com pressa, estava me explorando e eu estava cada vez mais derretida com aquele toque. Eu só tive um homem na minha vida e apenas uma vez. Eu nunca tinha me sentido desse jeito, meu corpo parecia que ia entrar em combustão espontânea, sentia uma dor aguda entre as minhas pernas, Jake pressionava nossos corpos fazendo com que eu sentisse sua ereção, sua boca nunca saindo da minha, uma mão apertava minha bunda e a outra começou a vagar pelo meu seio. Não percebi quando esbarramos na parede, ele me segurou e fez com que eu ficasse presa, suas mãos fizeram meu vestido subir e minha respiração ofegar, senti quando seus dedos passavam suavemente nas minhas pernas, ele soltou um rosnado quanto sentiu minha cinta liga, aquilo estava me levando a loucura. — Jake. — Minha voz soava estranha, eu estava explodindo de tanto desejo, ele colou os lábios nos meus novamente e seus dedos passavam pela renda da minha calcinha, ele empurrou ela para lateral e me tocou suavemente. — Porra Nathy, você está muito molhada. — Era a primeira vez que ele me chamava assim, sempre me chama de Nathalie, aquilo fez com que os meus sentidos voltassem. — Pare Jake. — Minha respiração estava ofegante, mas ele não parou, começou a beijar meu pescoço, eu tentei empurrá-lo só que ele era muito pesado, sua respiração estava pesada. Ele parou por um momento e me olhou, apesar de estarmos quase no escuro conseguia ver o brilho dos seus olhos através da fraca iluminação da lua que atravessava as janelas de vidro. Aproveitei o momento que ele não estava me beijando e consegui empurrar ele para longe de mim. — Não se atreva a me tocar novamente. — Eu disse e saí correndo. O deixei sozinho, ainda deu para ouvi-lo falar quando deu um soco na parede. — Porra! Droga! Sophia G. Paiva | 19
Fiquei escondida na cozinha por um tempo, esperei até não ouvir mais barulhos na escada e saí para buscar Brian, que já estava dormindo no quarto com os gêmeos, o peguei e segui para o nosso quarto. Quando entrei no quarto e liguei a luz vi um bilhete que foi jogado por debaixo da porta, o peguei e li, era de Jake, com apenas duas palavras ‘Me desculpe. J’. Amassei e joguei no lixo, não queria nada que me lembrasse dessa noite, que deveria ser esquecida. Tomei banho, coloquei um pijama e me juntei ao meu filho na cama, ele era o único homem na minha vida, foi assim desde quando descobri que teria ele e vai continuar sendo.
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Capítulo 3 Jake Droga, eu não sabia o que tinha acontecido comigo, Nathalie saiu correndo após nosso beijo e eu estava com uma baita ereção, subi até o meu quarto para me recuperar, quando saí novamente passei pelo seu quarto e coloquei um bilhete embaixo da porta. Passei pela porta e vi sua sombra na cozinha, depois bati a porta da casa e voltei para a festa e tentei ao máximo esquecer o que tinha acontecido, eu só podia estar perdendo minha cabeça. Na manhã seguinte, o café da manhã já estava sendo servido, a maioria dos convidados já havia partido, restavam apenas poucos amigos, minha noite tinha sido a pior possível, Clary me mandou uma mensagem que ignorei – onde diabos estava a minha cabeça? Eu sabia muito bem a resposta, estava ainda em uma maldita loira que me deixou extremamente excitado durante a madrugada –, desci para me encontrar com o restante das pessoas, meu humor estava péssimo, dormir frustrado sexualmente não é bom. Tudo decorria normalmente, e meu humor não melhorava em nada, Clara estava entretida com Ethan, Emy e Ash estavam nas nuvens como recém-casados e eu extremamente frustrado com uma certa baixinha que estava brincando com o filho, droga, era difícil manter meu olhar longe. Clary foi embora assim que amanheceu, eu nem sabia como ela conseguia ter tanta energia, mas como estava com um motorista Ash a deixou partir, ela apenas me mandou uma mensagem. Clary: Quando melhorar me avisa, vou estar te esperando. Tínhamos ficado o dia todo na praia – contra a minha vontade –, minha vontade era de ir embora, queria meu apartamento, queria um local onde me sentisse em casa, seguro das minhas emoções. Quando fomos para o aeroporto eu estava feliz por aquele dia estar finalmente terminando, Emy veio até mim, me abraçou. — Você vai me falar o que está acontecendo com você? — Ela sussurrou no meu ouvido. — Não é nada. — Menti. Sophia G. Paiva | 21
— Você não me engana, fala logo ou eu não entro no avião. — Ontem eu fiz algo que deveria me arrepender, mas eu não me arrependi, de fato quero até fazer de novo, mas não posso e não quero, isso está me matando. — Você sabe que estou viajando, mas se você precisar de mim é só me ligar, eu vou estar sempre disponível para você. — Obrigado, Princesa. Quando entramos no carro de volta para casa, vi que Nathalie estava triste, mas meu mau humor era pior. — Então, vamos curtir a noite? — Ethan disse enquanto voltávamos para a casa. — Cara, eu realmente não estou no clima. — Eu estava pensando em fazer um jantar para nós, podíamos ficar na piscina, mas se você não quiser pode ficar no seu quarto. — Eu só quero ir embora para minha casa, eu já estou farto de tudo aqui. — Relaxa, cara, vamos amanhã, você não pode ir embora hoje, vamos comer e conversar, você vai melhorar desse mau humor. — Ele disse tirando onda comigo. — Tudo bem. — Eu concordei a contra gosto, que outra opção eu tinha? Chegamos na de casa praia e subi direto para me trocar, precisava de um banho também, a água me ajudava a pensar, minha cabeça estava tão confusa, aquele fim de semana estava sendo um tormento, Emy se casando, nossa despedida, a presença da Clara que só me trazia lembranças boas, e Nathalie – merda. Essa era a única lembrança que eu não queria ter, pensar em como sua boca se encaixava na minha, seu corpo totalmente receptivo ao meu toque, e Deus como ela estava molhada, imediatamente comecei a me masturbar, apenas aquela lembrança me levava a um estado de êxtase totalmente diferente, gozei gritando um palavrão, eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas precisava resolver isso rápido, caso contrário eu estaria com sérios problemas. Vesti uma sunga, coloquei uma bermuda – apesar de ser noite estava muito quente –, peguei meu celular e saí do quarto, estava Outro Olhar | 22
fechando a porta do meu quarto quando meus olhos pararam nela, ela usava um vestido que cobria seu corpo, mas deixava um decote generoso e era bastante curto, senti o sangue descendo para partes que eu realmente não queria que fosse naquele momento, ela parou por um instante me olhou e saiu, ótimo ela estava me ignorando. Desci logo atrás e encontramos Clara já próxima à escada. — Até que enfim, nossa Nathy, eu pensei que você fosse me deixar aqui plantada. — Ela falou puxando uma Nathy envergonhada pelo braço. — E você Sr. Scott, está gostoso como sempre. — Ela disse e piscou para mim, sorri com seu comentário e caminhamos para a piscina. Ethan chegou logo depois, decidimos caminhar na praia, que estava vazia naquela hora, Clara e Nathy estavam na frente, eu e Ethan atrás. — Então, como está você e a Clara? — Ethan perguntou. — Bem, acho que não tem mais eu e a Clara, somos apenas amigos. — Amigos com benefícios? — Ethan parecia sério. — Quem me dera, ela merece mais do que isso e eu não sou o homem que dará isso a ela. — Entendo. — Por que o interesse? — Nada em especial, apenas perguntando. — Dei de ombros e continuamos nossa caminhada, andamos por mais de uma hora, quando voltamos eu e Ethan fomos para a cozinha e as garotas foram para a piscina. Eu estava sentado em um banco na cozinha observando a movimentação na piscina através da grande janela de vidro que tinha ali. Clara tirou seu vestido e jogou em uma espreguiçadeira, Nathalie claramente envergonhada não queria tirar o vestido, e eu estava me divertindo muito com aquilo, Clara tentou argumentar, mas Nathalie retrucava. Ethan percebeu para onde eu estava olhando e ficou olhando também. — Aposto com você que ela não tira. — Ethan me olhou e eu sorri. — Clara vai convencê-la.
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— Ah não, ela tem muita vergonha, eu a conheço muito bem. — Senti meus músculos endurecerem quando ele disse que a conhecia bem. — E o que você sabe sobre ela? — Perguntei enquanto olhávamos para as duas discutindo se Nathalie tirava ou não a roupa para entrar na piscina. — Eu a conheço tempo suficiente para saber que ela não gosta de se exibir. Ficamos em silêncio enquanto as duas estavam rindo sem parar, Clara conseguiu convencê-la a tirar a roupa – ponto para mim – e foi ai que me perdi, era como se ela estivesse tirando a roupa em câmera lenta, ver a roupa subindo no seu corpo, sua pele branca, passando pelos seus seios, seu cabelo estava solto, ela era sexy e nem fazia ideia disso. Clara percebeu que estávamos dentro de casa olhando para elas, sorriu e mostrou para Nathalie, ela ficou mais vermelha que um tomate. — Vamos, o que estamos fazendo aqui enquanto tem duas mulheres tirando a roupa na nossa frente? — Ethan perguntou e saímos correndo da cozinha. Clara jogou o vestido de Nathalie em cima de mim e caiu bem no meu rosto fazendo com que o perfume dela penetrasse em mim como uma tatuagem. Parei por um instante. — Isso é por ter ficado espiando enquanto a gente tirava a roupa. — Ela disse e eu ri. — Não há nada ai que eu não tenha visto, Clara. — Eu falei rindo. Nathalie ainda estava parada como uma estátua olhando para mim. Ethan passou por mim, abraçou as garotas pela cintura e pulou na piscina com elas, eu não entrei, fiquei de fora vendo eles jogando água um no outro, pareciam três crianças. Após um tempo na água, Nathalie saiu e sentou ao meu lado, ela teve cuidado de manter distância, pegou sua roupa e com um movimento rápido a vestiu, ela não falou comigo, ficava o tempo inteiro olhando para Ethan e Clara que estavam se divertindo na água, ela sorria para os dois e eu estava me sentindo um completo idiota. — Ouça Nathalie, eu... Outro Olhar | 24
— Não estou falando com você, Jake. — Ela disse sem em nenhum momento me olhar. — Pelo amor de Deus, nós temos o quê? 12 anos? — Me diga você, temos 12 anos? — Ela virou o corpo e ficou de frente para mim, estava me enfrentando e me deixando excitado. — Ouça, eu só quero me desculpar tudo bem? Eu não agi certo com você na outra noite. — Me diga, por favor, quando foi que você agiu certo comigo? Porque eu posso estar enganada, mas isso nunca aconteceu. — Ela me encarava enquanto pegava uma garrafa de água, o simples movimento de beber a água estava fazendo loucuras com a minha imaginação. — Nathalie, por favor, não aja como uma criança. — Criança? De quem estamos falando, de você? Por que você nunca teve uma atitude decente comigo, sempre me destratou e ainda diz que estou sendo infantil. — Desculpe, eu sei que fui um idiota. — Ela se levantou, me olhou e virou toda garrafa em cima de mim — MERDA! — Ela sorriu e foi andando em direção à praia novamente. — Melhor você correr criança, porque vou pegar você. — Vi que ela congelou no lugar, e virou lentamente, eu já estava tirando minha bermuda. — Você não ousaria. — Acho melhor começar a correr agora. — Não estou brincando, Jake. — Corre. — Nathalie ficou branca e saiu em disparada, saí correndo atrás dela, ela era rápida, mas eu era mais, deixei ela se afastar bastante até que fui alcançá-la. Corri mais um pouco e consegui segurá-la, Ethan e Clara nem devem ter percebido que tínhamos saído, caímos na areia e o corpo dela ficou em cima do meu, ela deu um grito, mas começou a rir, seu riso era tão bonito de ouvir, eu raramente ouvia suas gargalhadas. — Me larga, por favor. — Ela não conseguia parar de sorrir e aquilo me contagiou. — Eu disse, criança, que ia te pegar.
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— Não me chame de criança. — Ela disse ainda sorrindo, foi quando seus olhos pararam nos meus que seu sorriso morreu, sua respiração mudou, e ela ficou tensa. — Eu disse que ia pegar você. — Me solta, Jake. — Seus olhos não saiam dos meus. — E o que eu ganho com isso? — Quando falei isso seus olhos arregalaram, e eu mudei imediatamente de posição, ela estava por baixo e meu corpo cobria o dela completamente, aqueles olhos azuis estavam me hipnotizando por completo. — Que brincadeira é essa? Me solta, agora. — O que eu ganho com isso? Eu não vou perguntar novamente, você me molhou, agora vai pagar. — Ela suspirou derrotada. — O que você quer? — Eu ainda estou pensando. — Quantos anos você tem mesmo? — Ok, eu quero um beijo. — O QUÊ? Você só pode estar maluco. — Ela olhava tensa para todos os lados, estávamos fora de vista, ninguém ia ver. — Sim, você me deixou na mão, eu só estou pedindo um beijo. — Idiota, você é um idiota, arrogante. — Eu já fui chamado de coisas piores, então vai me dar ou não, estou aqui pensando, quanto tempo você aguenta se eu jogar meu peso em cima de você? — Você não faria isso. — Soltei todo meu corpo em cima dela. — Você só pode estar tentando me matar, você pesa. — Ela já estava sorrindo. — Então criança, vai me dar o que eu quero ou prefere morrer esmagada. — Não tive nem tempo de pensar, sua boca encostou na minha, foi tão suave, e durou tão pouco, fiquei tonto com aquele momento, ela percebeu minha distração e me jogou para o lado. — Já teve sua recompensa, imbecil. — Ela saiu correndo novamente e eu fiquei jogado na areia, com um sorriso idiota no rosto. Quando voltei para casa Ethan já estava na cozinha preparando o jantar, as duas tinham ido tomar banho.
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— Você estava perdido por um acaso? — Ele me perguntou apontando para a cadeira em frente da bancada. — Fui dar uma volta, vocês nem perceberam quando eu saí, precisava pensar. Eu não sabia que você cozinhava, achei que quando você falou que ia fazer o jantar íamos comer macarrão instantâneo. — Eu ri. — Amigo, tem muitas coisas que você não sabe sobre mim. — Ethan serviu um pouco de vinho e brindamos. — Certo, vou tomar uma ducha e já volto. — Ele apenas assentiu e eu fui para o meu quarto. O cheiro de comida exalava por toda a cozinha, quando desci, apenas Clara estava lá, sorri e me sentei ao seu lado, ela estava com uma taça de vinho na mão. — Ei, você quer? — Não, obrigado. — Tudo bem. — Ela deu de ombros e continuou com seu vinho, encostou sua cabeça no meu ombro, e ficamos observando Ethan na cozinha. — Droga. — Ethan disse quando derrubou a panela com água quente na pia. — Você quer ajuda? — Clara se levantou e já estava ao lado dele ajudando, eu apenas fiquei sentado, observando quando meu olfato capturou outro cheiro, diferente da comida, era aquele perfume que havia penetrado em todos os meus sentidos. Eu não sabia por que as mulheres adoravam esses vestidos curtos e soltos, eram sexys, e eu agradeci a Deus pela pessoa que os inventou, era exatamente um desses que ela estava usando e era branco, deixando à mostra a marca de sol que ela adquiriu mais cedo, droga eu estava com sérios problemas dentro da minha bermuda. Ela sentou ao meu lado e novamente me ignorou. — Vou ter que perseguir você novamente para não ser ignorado? — Não estou te ignorando. — Ela respondeu friamente. — Bem, então nesse caso seria de bom tom pelo menos dizer oi. — Oi.
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Ela levantou e foi arrumar a mesa, nos sentamos e começamos a apreciar o jantar, Ethan realmente cozinhava muito bem, Clara gemia de prazer a cada mordida, Nathalie estava silenciosa – mais do que o normal – Ethan e eu engatamos em uma conversa sobre lutas. Depois de comer fomos todos descansar na varanda, a vista para praia era linda, sentei em uma espreguiçadeira enquanto Nathalie ajudava Ethan com a louça, Clara veio, com uma taça de vinho na mão e me fez abrir espaço para ela. — Você não acha que bebeu vinho demais? — Perguntei enquanto alisava seu cabelo, ela deitou ao meu lado, e colocou a cabeça em meus braços. — Não, papai, esta é apenas a segunda taça, você me conhece melhor do que isso. — Eu sorri e beijei sua cabeça. — Então, você pretende voltar? — Emy quer conversar comigo quando voltar da lua de mel, mas eu não tenho certeza se é o momento. — É por minha causa? — Clara sorriu. — Não Jake, não é por sua causa, pare de ser convencido, eu estou bem de verdade, apenas tenho minha vida em Paris, meus planos. — Espero que você decida o que é melhor para você, mas queria você de volta a NY. — Não vamos começar com isso de novo, já tivemos essa conversa. — Eu sei, mas ouça não é como você está pensando. — Então como é? — Ela se sentou e ficou me encarando. — Eu já entendi que o que tivemos já acabou, sei disso, e acho que sua vida é aqui também, seus amigos, sua família, estão todos aqui. — E você também, certo? — Sentei e ficamos frente a frente, aproximei meu rosto, e toquei o seu com a ponta dos dedos, ela sorriu. — Sim, eu também estou aqui. — Caminho errado, Jake Scott, caminho errado. — Ela disse sorrindo, me beijando no rosto. Foi quando escutamos a porta bater com força, Clara saiu para ver o que era, me deixando com meus pensamentos. Não sei o que estava pensando, na verdade tinha certeza que nem estava pensando, eu ia mesmo beijá-la? Eu tinha que voltar para casa, já não estava me Outro Olhar | 28
reconhecendo, e por que eu não tirava aquele maldito beijo da minha cabeça? Droga de baixinha impertinente. Saí da varanda, mas não encontrei ninguém – estranho –, subi para o meu quarto, no caminho ouvi Clara batendo na porta do quarto de Nathalie, mas não teve resposta. — Ela que bateu a porta, quero falar com ela, mas ela não quer abrir. — Deixe isso para amanhã, vamos deitar. — Fomos cada um para o seu quarto. A noite foi tranquila, na medida do possível. Logo de manhã cedo já estávamos todos prontos para a viagem de volta para casa. Nossa viagem merecia ganhar o Oscar de Melhor Drama, eu estava dirigindo, Ethan mal humorado ao meu lado, Clara estava pensativa e Nathalie com a cabeça totalmente ausente, olhei pelo retrovisor e vi o seu olhar triste, seu rosto virado para a estrada, o silêncio estava tão grande que fiquei com medo de pegar no sono, nem a música que estava tocando no rádio estava me ajudando. — Certo, hora de trocar de lugar. Esse silêncio todo está me matando, não vou conseguir dirigir assim. — Parei o carro e Ethan assumiu a direção, Clara passou para frente e sentou ao lado dele, eu fui para trás, sentando ao lado de Nathalie, senti a tensão no corpo dela, ela se encolheu mais para perto da porta. — Ei, venha mais para o meio, é perigoso ficar assim. — Puxei seu corpo mais para perto, ela não falou nada, não questionou, nem olhou para mim. A viagem ainda era longa, Clara e Ethan estavam conversando novamente, ela contava sobre os restaurantes de Paris ou algo do gênero. Vi que o cansaço estava tomando conta da Nathalie, ela cochilava, e de vez em quando alongava o pescoço. — Venha aqui. — A puxei mais para perto, deitando sua cabeça no meu ombro, inclinei um pouco meu corpo para que ela ficasse em uma posição confortável, ela também não questionou, senti seu corpo relaxando e ela adormeceu, fiquei ali afagando seus cabelos, era como se só houvesse nós dois, seu cabelo era tão macio quanto sua pele, passava meus dedos no seu ombro e sentia aquela eletricidade que Sophia G. Paiva | 29
sempre estava lá quando nossa pele se tocava, sem perceber eu também caí no sono. Como era boa a sensação dela assim, nos meus braços, dormindo, não estávamos brigando ou discutindo, só estávamos dormindo, em paz. Dormimos o resto da viagem, Ethan me acordou, ela ainda não tinha acordado. — Chegamos, precisamos acordá-la. — Ele falou sussurrando. — Não precisa, eu vou levá-la para cima, me ajude a pegar a mala dela. Saí do carro e a peguei no colo, ela não acordou, só se aconchegou mais perto do meu corpo, sua cabeça descansando no meu ombro, subi até o apartamento e a deixei na cama. Escrevi um bilhete, coloquei ao lado do seu travesseiro e saí, mas não sem antes dar uma última olhada nela dormindo – ela era linda e eu estava perdido.
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Capítulo 4 Nathalie Acordei sem saber onde eu estava, olhei ao redor e percebi que estava em casa – como eu cheguei aqui? – reparei em minhas roupas e ainda eram as que eu estava usando pela manhã. Me levantei e vi que havia um bilhete caído no chão ao lado da cama. Você parecia um anjo dormindo, não quis te acordar. Te vejo amanhã no escritório. JS Qual é o problema desse cara? Até uma semana atrás ele não olhava na minha cara, reclamava de tudo que eu fazia no trabalho e agora está assim, depois da noite do casamento – quando ele me beijou pela primeira e segunda vez – resolvi ignorá-lo, eu não queria aquilo se estendesse, eu não tinha tempo para ter dor de cabeça com um homem como Jake, o único homem da minha vida é meu filho, que agora está longe, isso está me matando, mal passou um dia que ele viajou com Ash e Emy e eu já quero ele de volta. Nos últimos cinco anos Brian se tornou meu mundo, nunca passamos mais de uma noite longe um do outro e agora ele vai ficar quinze dias fora, num país diferente, eu estava morrendo de saudade do meu pestinha. Ash sempre foi um ótimo pai para Brian, mesmo não sendo pai biológico, mas isso é um assunto que não gosto de lembrar, o pai de Brian foi a pior pessoa que pude conhecer em toda minha vida, me deixei envolver por um cara mais velho, acabei perdendo a virgindade e engravidando dele. Me lembro até hoje de como eu caí no papo daquele miserável. *** — Eu não quero ir nessa festa, eu não estou no clima e ainda estou em semana de prova, não vou. — Eu tentava argumentar com minha amiga Rachel, mas ela era insistente. — Você nunca sai para se divertir, fica nesse quarto o dia todo desenhando vestidos de noivas e não sei mais o que. Hoje você sairá comigo.
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— Tudo bem, mas não vou demorar, quero acordar cedo amanhã para revisar a matéria da minha prova. — Que seja, vamos trocar de roupa e ficar lindas, vários gatinhos vão estar na festa, quero terminar minha noite na cama com algum deles. Vamos. Eu não acreditei no que ela tinha acabado de falar, tudo bem, eu acho que na minha classe eu sou a única virgem, mas acho que esse pensamento era demais para mim. Nos arrumamos e quase duas horas depois estávamos indo para o local da festa, a boate era enorme, dois andares e a fila estava dobrando a esquina. — De jeito nenhum eu vou entrar nessa fila, estou voltando para casa agora. — Eu disse e dei as costas. — Volte aqui, eu tenho meus contatos, o segurança já está com nossos nomes para nos deixar entrar, não vamos pegar essa fila, vamos ficar em um camarote, confie em mim. — Confiar, claro, eu resmunguei e fomos andando direto para a porta. — Eu não vou demorar, olha como isso está cheio, eu odeio essas coisas e você sabe. — Caramba, como você é chata Nathy, vamos nos divertir um pouco e vê se acha alguém para dar uns beijos na boca. Esse mau humor todo é falta de homem. — Como você é engraçada, vamos logo, antes que eu volte daqui mesmo. Passamos direto para a parte superior da boate, a visão lá de cima era boa, para mim não cabia mais ninguém ali, mas quanto mais o tempo passava mais gente entrava. Alguns homens tentaram me dar alguma bebida, mas eu recusei, eu não gostava de beber, não depois que fiquei sozinha no mundo há 3 anos, eu não sabia se cuidariam de mim se eu me perdesse no álcool então eu resolvi que não beberia. Me sentei num sofá e fiquei ali, só observando o movimento, muitos casais estavam se beijando – quase fazendo sexo explícito – ao meu lado e na pista de dança. Estava perdida nos meus pensamentos quando fui chamada. — Olá. O que uma menina tão linda está fazendo aqui sozinha? — Eu não conhecia aquela voz, mesmo com a luz da boate dava para ver Outro Olhar | 32
claramente suas feições, ele era lindo, alto, cabelos negros e olhos negros mais escuros que eu já tinha visto na vida estava me olhando fixamente. Meu Deus, o que um cara desse queria comigo? Foi impressão minha ou ele me chamou de linda? Respondi seu cumprimento e ele pediu permissão para sentar, fiquei tão admirada, eu só podia estar sonhando, aquele Deus Grego queria sentar ao meu lado, esse tipo de coisa nunca acontecia comigo, homens desse nível não se aproximavam de mulheres como eu. — Você quer uma bebida? — Ele perguntou ainda sorrindo. — Não, eu não bebo. — Consegui responder com a voz trêmula. Já tinha se passado alguns minutos quando ele me chamou para dançar, sua mão firme segurou a minha e me conduziu para a pista, seus movimentos eram tão seguros, eu estava me sentindo estranhamente segura. Dançamos muito, seu corpo sempre muito próximo ao meu, ele segurava minha cintura com firmeza, já na terceira música ele sussurrou no meu ouvido. — Quantos anos você tem, Nathalie? — Dezenove. — Respondi num sussurro meio sem graça, ele parecia bem mais velho, ele me deu um sorriso, o mais lindo que já vi. — Ótimo. — E com apenas essa palavra sua boca já estava colada a minha, estávamos no meio da pista de dança, o mundo parecia que tinha parado naquele exato momento, sentia nossos corpos se moverem no ritmo da música, sem quebrar nosso beijo, ele estava me conduzindo, e eu me deixei levar. Eu nunca havia beijado um homem daquele jeito, ele era possesivo, eu não tive oportunidade de impedir o avanço dele, eu estava amando aquilo. — Olin, eu preciso respirar. — Eu disse ofegante, suas mãos estavam em todas as partes do meu corpo, me fazendo sentir coisas que eu nunca havia sentido antes. Oh meu Deus, esse homem estava me tirando a razão, aquilo nunca tinha acontecido ainda. — Vem, vamos sair daqui. — Ele puxou minha mão e eu não relutei em nenhum momento, nunca me senti segura com alguém Sophia G. Paiva | 33
como estava naquele momento, mandei uma mensagem para Rachel avisando que já estava indo embora. Ele me levou para um hotel, eu nunca tinha entrado em um hotel tão luxuoso e quando dei por mim já estava sendo beijada dentro de uma suíte, nós já estávamos tirando a roupa um do outro quando percebi que ele não sabia o quão inexperiente eu era. — Olin, espere. — Afastei seu corpo, eu precisava contar a ele que eu nunca tive nenhum tipo de relação. — O que houve? — Ele passou as mãos carinhosamente no meu rosto, me deixando mais envergonhada. — Eu nem sei como começar. — Senti que meu rosto estava ficando cada vez mais vermelho. — Pelo começo, Nathalie. — Ele sorriu e foi pegar uma bebida. — Bem... — Eu comecei, ele estava de costas para mim, então decidi que era melhor eu falar logo. — Eu nunca dormi com ninguém. — Quando ele ouviu, virou o corpo e ficou de frente para mim, seu olhar mudou, estava mais intenso e um pequeno sorriso surgiu. — E você quer isso? — Eu acho que sim. — Falei baixinho. — Você precisa ter certeza, vou perguntar de novo, você quer isso? Ficamos um tempo olhando um para o outro, eu era muito pequena perto dele, me sentia protegida assim, eu tinha certeza do que eu queria. — Sim, eu quero isso. — Eu falei e cheguei mais perto dele, ele passou os braços pela minha cintura e mais uma vez sorriu, eu estava cada vez mais segura da minha decisão. — Então venha, vou fazer ser perfeito para você. E foi o que ele fez, foi perfeito, o medo estava presente, mas ele soube como me relaxar, os beijos dele eram tudo que eu sempre quis. Depois de fazer amor duas vezes na cama, estávamos deitados abraçados, ele ainda passava a mão por todo o meu corpo, eu me sentia desejada – nunca me senti assim antes. Me levantei e ele logo se mexeu também. — Aonde você vai?
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— Estava pensando em tomar banho, você me acompanha? — Eu perguntei sorrindo, ele se levantou rapidamente e já me abraçou por trás. — Eu não perderia isso por nada, minha menina. — Ele disse e começou a beijar meu pescoço, sua ereção já estava pressionada contra minhas costas. Depois de outra rodada de sexo no banho conseguimos finalmente tomar banho, ele me levou para casa. — Eu não me canso de ter você, quando vamos nos encontrar de novo? — Ele perguntou quando estávamos parados na frente do meu prédio. — Você quer me ver no novo? — Eu não podia acreditar nisso. — Claro que sim, salvei meu número no seu celular, o seu está salvo no meu também, eu vou te ligar. Eu concordei e me inclinei para dar um beijo nele, ele sorriu e eu fui embora, eu estava nas nuvens. Será que ele me ligaria? – Não. Eu nunca poderia imaginar que o homem que tinha sido mais que perfeito seria também aquele que simplesmente acabaria comigo em todos os sentidos. Três semanas mais tarde descobri que estava grávida. *** O único homem com quem já fiz sexo foi um canalha e nenhum outro homem me tocou da forma que Jake me tocou nesse fim de semana, não posso negar, foi bom – muito bom –, mas não aconteceria de novo, os únicos homens que eu confio de verdade são Ash, meu melhor amigo, a pessoa que me apoiou no pior momento da minha vida e Ethan, que apesar de mais distante me ajudou muito. Pensar sobre isso não me levaria a lugar nenhum, fui até a cozinha e preparei alguma coisa para comer, amanhã o dia começaria cedo e pela primeira vez eu não queria ir para o trabalho. Só de pensar em ver a cara de Jake na minha frente eu já ficava nervosa, ele foi muito abusado, praticamente me chamou de vagabunda e depois me agarrou, eu não sou esse tipo de mulher.
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Fiz um sanduíche e fui para o sofá da sala, liguei a televisão e comi ali mesmo, não vi a hora que adormeci novamente, mas quando acordei já estava na hora de me arrumar para o escritório – que Deus me ajude. Quando cheguei ao prédio a primeira pessoa que vi foi Jake, ele estava com a cara terrível, mas isso não era da minha conta – fodase ele – entramos no elevador e ele sorriu ao me ver, isso estava mais que estanho. — Bom dia, Nathalie. Dormiu bem? — Ele falou. — Bom dia. — Respondi secamente e o silêncio voltou ao ambiente. — Vai continuar a me ignorar? — Ele perguntou quando estávamos saindo no andar do escritório, eu não respondi, continuei a andar em direção à minha sala. — Você quer fazer o favor de me responder? — Eu abri a porta da minha sala e antes de eu perceber ele já estava na sala junto comigo. — Saia da minha sala. — Eu falei sem paciência. — Não, você vai falar comigo normalmente ou vamos ficar assim? — Ele perguntou olhando nos meus olhos. — Nós nunca nos falamos normalmente, se você não percebeu, você não gosta de mim, eu não vou com a sua cara, se você não se lembra você praticamente me chamou de vagabunda no final de semana, então Jake, esse é o normal, você no seu canto e eu no meu. Vou te lembrar de uma coisa, não nos falamos, não confraternizamos, não temos nada em comum para compartilhar. Agora faça o favor de sair da minha sala. Ele ficou sem reação por um instante, mas logo após ele tentou se aproximar de mim, eu não sabia qual era a intenção dele e não queria saber também, me afastei dele rapidamente. — Droga. — Ele praguejou. — Não tente fazer isso de novo, eu estou de avisando, eu quero distância de você, saia daqui, por favor. — Ele não levantou o rosto para me olhar, apenas abriu a porta e saiu. Soltei um suspiro e desabei na minha cadeira. Isso não era o que eu esperava para o início da manhã. Ouvi meu celular tocando e corri para atender e não vi quem era. Outro Olhar | 36
— Alô. — Mamãe! — Brian gritou do outro lado da linha e meus olhos se encheram de lágrimas. — Meu amor, tudo bem com você? — Eu perguntei tentando não deixar as lágrimas rolarem. — Mamãe, eu to na praia com o papai e a mamãe Emy. — E está bom ai? Você está gostando, meu amor? — To brincando com David. — Ele falou e eu ouvi o telefone cair. — Olá. — Ash falou, eu podia imaginar o sorriso no rosto dele. — Oi, Ash, como está tudo ai? Como Brian está? — Eu perguntei preocupada. — Está tudo ótimo, Brian está se comportando muito bem, até agora está tudo sob controle. — Oh, eu estou com tanta saudade dele, Ash. — Eu sei, mas ele está se divertindo então pare de chorar e fique feliz por ele estar vivendo esse momento. — Eu estou feliz, mas a saudade já está grande. — Vou mandar fotos dele, você nem vai perceber que ele está longe. — Ele disse rindo. — Isso é impossível, mas me diga, como está a lua de mel coletiva. — Agora era minha vez de rir. — Está ótimo, só Sophia que está dando mais trabalho, Brian e David ficam o dia todo juntos, eu e Emy estamos muito felizes. — Isso que é o importante, eu fico feliz por vocês também. — Espere só um minuto, a Emy quer falar com você um segundo. — Oi, Nathalie. — Emy falou. — Oi, chefinha. — Está tudo sob controle ai não é? Qualquer coisa você pode me ligar. — Você só pode estar doida, você está em lua de mel, não vou te atrapalhar com possíveis problemas aqui no escritório. Fique tranquila, vamos manter tudo em ordem por aqui e você aproveite ai. — Tudo bem, obrigada. Agora estou indo. Vou chamar Brian para ele se despedir. — Mamãe, eu te amo. — Brian falou no telefone. Sophia G. Paiva | 37
— Eu também te amo, meu amor, agora vá brincar, a mamãe te ama. A ligação ficou muda, apertei o celular no peito e chorei por um tempo, mas me recompus e voltei para o trabalho, sem Emy aqui eu teria que trabalhar em dobro. O dia passou voando, Jake não apareceu mais para me perturbar, Ash e Emy me mandaram dezenas de fotos de Brian com David e Sophia, era lindo ver o amor entre os três, mas os meninos eram mais ligados, Sophia tinha um temperamento que poucos conseguiam lidar. Saí do escritório no fim do expediente e fui até a casa de Emy buscar Pickles. Ele me faria companhia nos próximos dias, ele era um amor, agora que estava maior já não comia mais os meus sapatos – obrigada, Senhor. Cheguei em casa, comi, tomei banho e fui para a cama. Quando eu estava quase dormindo meu celular apitou uma mensagem. Jake: Me desculpe o modo que agi hoje de manhã. Eu não resisti, respondi rapidamente. Eu: Ultimamente você tem pedido desculpas muitas vezes, lembra quando não nos falávamos, não tinha isso, então por que não voltamos ao que era antes? Jake: Porque eu estou tentando ser amigável. Você poderia aceitar o meu pedido de desculpa? Eu: Ok. Boa noite, Jake. Jake: Obrigado, podemos ser amigos? Eu: Já está pedindo demais. Boa noite. Jake: Com o tempo eu consigo isso, boa noite. Eu ri para o celular, aquele cara era muito estranho. Desculpar ele tudo bem, mas ser amiga dele seria a última coisa que aconteceria na minha vida. Eu não confio nele. Virei para o lado e dormi como um anjo, eu não ia permitir que ele tomasse conta dos meus pensamentos – nem hoje, nem nunca.
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Capítulo 5 Jake Depois que deixei Nathalie dormindo em paz na cama dela, desci e vi que Ethan me aguardava na porta, ele tinha um sorriso idiota nos lábios, ignorei e saímos, deixamos Clara no hotel e depois fui para casa, eu já estava exausto, esses dias exigiram mais de mim do que eu poderia imaginar. Quando entrei em casa no domingo, eu relaxei, nada de olhares em cima de mim, ninguém me perguntando o motivo da minha cara fechada. Agora estavam eu e meus pensamentos, tomei banho e praticamente desmaiei, o cansaço fez seu ponto, mas não sem me deixar sonhar com uma loira que agora não parava de assombrar meus pensamentos. Acordei assustado, olhei o relógio, eu já estava atrasado – droga – saí de casa praticamente correndo, o trânsito estava horrível, aquilo tudo só fazia meu humor piorar – só podia ser falta de sexo. Quando cheguei ao prédio vi Nathalie se aproximando, ela ainda não tinha me visto, deixei o elevador subir e aguardei o próximo – isso ia ser interessante. – assim que me viu ela hesitou, soltou um suspiro frustrado e entramos juntos no elevador, a cara dela parecia tão ruim quanto a minha. Tentei me aproximar e conversar com ela, mas então ela jogou tudo na minha cara, o que eu disse no casamento, todos esses meses que eu praticamente a desprezei, saí da sala dela me sentindo um lixo, suas palavras me atingiram em cheio, eu nunca pensei que ela se sentisse tão magoada. Quer dizer, eu sabia que eu tinha feito tudo aquilo, mas ela foi um dos motivos pelo qual minha melhor amiga tinha sofrido tanto, eu não queria sentir pena dela, mas depois daqueles dois beijos eu não conseguia pensar em mais nada, tudo que aconteceu no passado parece que foi esquecido, mas percebi que ela não tinha esquecido nada. Fui para a minha sala e tentei ter um dia produtivo, mas não deu certo, a cada cinco minutos eu olhava para o relógio, pensei em voltar Sophia G. Paiva | 39
na sala dela e pedir desculpa – mais uma vez – mas resolvi ficar no meu canto, ela tinha razão em tudo o que disse, esse era o nosso normal, eu ignorando a presença dela e criticando tudo que ela faz. Para ela não tinha motivos para mudar isso, mas eu tinha todos os motivos para tentar, eu precisava senti-la de novo, queria beijá-la. Meus pensamentos foram interrompidos pelo toque do meu celular, era Emy, eu já estava sentindo falta dela, das nossas conversas, de ligar para ela e acordá-la, sentia falta do tempo que ela precisava de mim. — Hey Princesa, como está a lua de mel? — Oi, Jake, está tudo mais que perfeito. — Fico muito feliz por você. — Eu sei. — Emy hesitou por um momento. — O que foi? O que está acontecendo? — Eu perguntei preocupado. — Comigo nada, mas queria saber o que houve com você. — Droga, eu realmente não queria falar isso com ela, eu já estava ficando louco de tanto pensar e ela não iria desistir até descobrir. — Princesa, não é nada que você deva se preocupar. Eu já estou melhor, foi só um momento ruim, não se preocupe. — Não me preocupar? Só se você estiver doido, como você está? Estou preocupada com você! — Estou bem, na verdade mais que bem. — Por que será que eu não acredito em você? — ‘Porque não é a verdade’ eu pensei, mas não falei nada, nem morto eu ia dizer o que era, ou melhor, quem era. — E você não pretende me falar o porquê do seu mau humor? — Isso já passou, agora esqueça isso e me conte como está a lua de mel. — Emy bufou em resposta. — Eu não vou deixar você escapar tão facilmente, espere até eu chegar para você ver o que te espera, você não me escapa, sei que você não está normal, não preciso olhar para você para saber isso. — Princesa, pare com isso, eu estou bem, o que eu preciso fazer para você acreditar em mim?
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— Nada, porque nada que você falar vai mudar minha opinião. — Ela me conhecia melhor do que ninguém, eu não podia negar isso. — Me diga como está a sua viagem. — Eu falei de novo, esperando que agora ela respondesse. — Está tudo perfeito, Ash está amando o Rio. As crianças também estão adorando, é festa o dia todo, até sua afilhada está se comportando. — Não fale assim dela, a Sophia não é tão ruim assim. — Eu falei rindo, Sophia era terrível. — Não é tão ruim? Você fala isso porque é padrinho dela. — Não consegui responder de tanto que estava rindo, Emy também estava rindo. — Então a bagunça está grande. — Eu consegui falar depois de me recuperar da crise de riso. — Pode apostar que sim, graças a Deus Maria veio com a gente e está ajudando bastante. — Era muito divertido ver os dois cuidando das crianças, ainda bem que Maria estava junto. Emy e Ash tentavam de tudo, mas eles eram terríveis como pais de primeira viagem, mas acho que com a Sophia nada seria fácil, ela podia deixar a babá mais experiente do mundo louca. — Eu não sei o que seria de vocês sem a Maria. — Sim, eu também não sei e temos também a outra assistente, como é mesmo o nome dela? Eu nunca consigo lembrar, ela tem um nome muito complicado. — Svlania. — Eu disse a ela, era como se eu estivesse vendo a boca dela abrindo. — Jake Scott, seu filho da... — Calma, calma, olha as crianças, você ainda tem uma boca muito suja. O que seus filhos vão pensar disso. — Falei com deboche. — Eu não acredito Jake, eu não posso acreditar, você dormiu com a minha babá. — Eu não tenho culpa que você contratou uma babá tão gostosa, você sabia que os peitos dela são verdadeiros? Sério quem tem peitos desse tamanho verdadeiros?
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— Eu vou te matar, Jake! Você não consegue manter seu pau dentro da calça? — Ela tentou soar brava, mas já estava rindo de novo. — Em minha defesa eu posso dizer que ela ainda não era sua babá quando dormi com ela. — Essas conversas com Emy me deixavam mais relaxado, levantei e fui para a janela ver o movimento lá na rua. — E a Clara? Vocês ficaram juntos? — Meu Deus Emy, você não desiste? Vai dar uma de cupido para cima de mim? — Querer que você seja feliz não é ser cupido. — Eu sei, obrigado pela preocupação, mas esqueça Clara, somos apenas amigos, nada mais que isso. — Eu vi você olhando para ela, não era um simples olhar de amigo, tinha algo mais. — Eu comecei a rir do comentário, acho que ela me viu olhando para a pessoa errada. — Pode escrever Princesa, somos amigos, eu só queria um pouco de diversão. — Jake, você não acha que está na hora de... — Não termine essa frase. — Eu interrompi o que ela estava dizendo. — Ok, tudo bem, mas não se machuque e não a machuque também. — Pode deixar, mamãe. — Você é um idiota, mas eu te amo. — Eu também te amo. — Eu falei sorrindo, sei que ela quer só o meu bem. Ouvi a gritaria vindo das crianças, a voz de Brian se destacou chamando Emy, nos despedimos e continuei parado olhando o trânsito lá embaixo. Vi quando Nathalie saiu do prédio para almoçar, ela entrou no restaurante que ficava em frente ao prédio, pensei em ir até lá, mas desisti – ela podia me furar com o garfo –, acabei pedindo uma refeição na minha sala mesmo e continuei meu trabalho. O resto da tarde foi tranquila, conversar com Emy me fez bem, meus pensamentos voltaram para o trabalho e consegui fazer tudo o que deveria ser feito, quando saí da minha sala no final do expediente Nathalie já não estava mais lá – melhor assim – e fui direto para casa.
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Meu apartamento estava escuro, entrei e acendi apenas uma luz, estava tudo tão calmo, silencioso, eu não sei quando começou, mas isso já estava me incomodando. Fui tirando minha roupa, assim que cheguei no meu quarto já estava sem nada, precisava de uma ducha, saí do chuveiro e meu celular tocou e eu vi que era uma mensagem, não sei porquê, mas fiquei decepcionado quando vi de quem se tratava. Clary: Que tal um jantar e um bom vinho? Jake: Onde? Clary: Abra a porta. Sorri para a tela do meu telefone, aquela mulher era maluca, fui abrir a porta ainda com uma toalha enrolada na cintura, ela sorriu quando me viu. — Muito bom, adoro não ter trabalho. — E se eu não estivesse em casa? — Levantei a sobrancelha para ela, ela segurava um vinho em uma mão e uma sacola de comida na outra. — Meu bem, na vida, temos que arriscar, quando queremos algo temos que ir buscar, senão ficamos para trás. — Ela sorriu passando por mim em direção a cozinha, levando a toalha em sua mão. Nada melhor que uma loira para esquecer outra. A diversão não poderia ter sido melhor, Clary era uma excelente companhia, sabia entrar e sair de cena na hora certa, quando teve o que queria, se despediu de mim, foi embora e fiquei novamente sozinho com meus pensamentos. Deitei na cama e fiquei pensando nas palavras que Clary me disse quando chegou ‘Na vida, temos que arriscar’, eu queria me arriscar, queria correr atrás? Eu nem sabia com certeza o que queria ou quem queria – ou sabia? Minha vida era tão fácil quando se tratava de mulheres, elas vinham facilmente até mim, a única coisa que eu tinha que fazer era sorrir para elas e tudo ficava certo, quando foi que tudo virou essa bagunça vazia? Eu não conseguia dormir, peguei meu celular e mandei uma mensagem para Nathalie. Fiquei impressionado e feliz quando ela Sophia G. Paiva | 43
respondeu tão rapidamente, mas suas palavras foram como um soco no estômago, ela estava deixando claro que me desprezava, ela preferia que voltássemos como era antes, mas eu não queria isso. Tentei fazer com que ela aceitasse meu ponto de vista, ela aceitou meu pedido de desculpa, eu estava confiante então pedi para que ela me aceitasse como um amigo, mas ela era difícil, falou que eu estava pedindo demais – ela não sabe o que eu ainda quero pedir –, ri com aquilo. Consegui dormir, pelo menos um pouco, sonhos perturbadores fizeram parte da minha noite, aquela loirinha estava incluída em quase todos. Acordei com meu despertador tocando alto no meu ouvido, ainda eram cinco horas da manhã, tomei uma ducha e saí para correr um pouco, isso era como uma terapia, eu sempre corria, me ajudava a pensar, e isso era o que eu mais precisava nesse momento. Peguei meus fones de ouvido, o rock era meu estilo de música preferido, os sons da guitarra acalmavam meus nervos, Slipknot tocava a todo vapor, saí do prédio já correndo, não tinha quase ninguém nas ruas, corri por uma hora e meia, quando terminei me sentei no gramado do parque para me recuperar, foi quando a vi passando correndo, eu passei as últimas horas pensando nela e ela se materializou na minha frente, me levantei e saí correndo atrás dela. — Bom dia. — Eu disse quando eu estava bem perto dela, ela gritou e levou um susto. — Meu Deus, você é louco, nunca mais apareça assim, de onde você surgiu? — Ela estava suada e o rosto todo vermelho, pensei nela na minha cama, embaixo de mim depois de termos transado. — Você vai ficar ai com essa cara? — Desliguei meus pensamentos sobre ela e minha cama imediatamente. — Me desculpe. — Eu comecei. — De novo? Eu vou começar a contabilizar quantas vezes você fala isso. — Ela disse, mas vi que não estava com raiva. — Me desc... Quer dizer, eu estava me recuperando da minha corrida e te vi correndo, vim atrás para falar com você. — Já falou né? Agora tenho que ir, até mais tarde. — Ela disse, me deu as costas e foi andando. Outro Olhar | 44
— Não, espere. — Eu não sabia o que falar, isso nunca aconteceu antes — Eu queria falar com você. — Tudo bem, pode falar, mas podemos ir andando? — Fui andando ao lado dela, sem dizer nada. — Então, o que você queria falar? — O que eu disse ontem, eu realmente quero tentar ser seu amigo se você me der uma chance. — Jake, por favor, por que isso? Eu não entendo o que está acontecendo com você, a Emy mandou você ser gentil agora? — Meu Deus, não tem nada a ver com a Emy, estou tentando... — Tentando o que? — Eu não sei, ser seu amigo, isso já é um avanço. — Olha Jake, eu sei o que você deve estar pensando, eu pensei bastante também. — Eu estava com medo do que viria depois disso. — Aquele beijo não mudou nada, você me odeia, não precisa se sentir culpado, só não vamos repetir aquilo. — Quem disse que eu estou me sentindo culpado? Nathalie, vamos nos sentar, eu quero falar com você sobre isso. — Não há o que falar, Jake. Por que simplesmente não podemos esquecer? — Porque eu não consigo esquecer. — Ela parou de andar e olhou para mim com os olhos arregalados — Eu, Jake Scott, não consigo esquecer, podemos conversar? Depois dessa conversa eu prometo não te perturbar. — Tudo bem, Jake. Quando a gente chegar ao escritório podemos conversar, agora deixe eu terminar minha corrida. — Te espero no escritório. — Eu disse com um sorriso no rosto, me virei e corri de volta para casa. Tomei banho, me arrumei e fui para o escritório, eu queria resolver essa situação de uma vez por todas, desde o nosso primeiro beijo meus pensamentos foram para ela, como podia uma pessoa que eu tanto odiava ser motivo dos meus pensamentos? Cheguei ao escritório quinze minutos antes do normal, fui direto para a sala da Nathalie, não queria esperar mais para resolver essa situação. Quando ela chegou, acho que nunca a vi tão linda, a saia
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preta e a blusa de seda rosa a deixaram perfeita, já estava pensando na lingerie que ela estava usando por baixo dessa roupa. — Bom dia, Jake. — Ela falou, me tirando novamente dos meus pensamentos impuros. — Bom dia, Nathalie, como foi o resto da sua corrida? — Foi tudo bem, então, o que você quer falar? — Você é bem direta, não é? — Eu sorri, ela sentou na cadeira à minha frente, a mesa entre nós. — Por que não ser? — Tudo bem, eu sei que não deveria falar isso, mas eu peço desculpa mais uma vez, sei que fui um ogro durante todo o tempo que você trabalha aqui, eu sei que o que eu disse no casamento foi rude e eu não tinha esse direito. — Concordo com você, você não me conhece, não tem o direito de insinuar coisas ao meu respeito, nunca fiz nada para você para receber esse tratamento. — Eu sei, me deixe terminar, então naquele dia eu te beijei, sei que foi errado, mas eu não aguentei, alguma coisa dentro de mim me falou para fazer aquilo então eu fiz, eu deveria ter me arrependido, mas eu não me arrependo. — Ela estava prestando atenção em toda palavra que eu falava. — Por isso eu estava com aquela cara no dia seguinte, eu queria poder te beijar de novo e de novo, mas você me tratou com frieza... — E eu não tinha esse direito? — Ela falou calmamente. — Sim, você tem, eu só estou tentando fazer você me entender, por favor. — Eu te entendo, pensei sobre o que aconteceu também, você não conhece minha história, eu não sou interessada em entrar em um relacionamento. É como eu gosto de dizer, Brian é o único homem na minha vida. — Tudo bem. — ‘Na vida, temos que arriscar’ a voz de Clary falou na minha cabeça. — Podemos ser amigos? — Eu perguntei tentando me manter calmo. — Eu já falei que isso é demais, vamos com calma, talvez um dia, mas agora não, eu ainda não consigo, vamos manter nossa relação Outro Olhar | 46
somente profissional, com o tempo quem sabe, até semana passada você não queria olhar na minha cara, não falava comigo a não ser para reclamar, então eu não posso ser sua amiga, não agora. — Eu entendo, mas pelo menos agora estamos de bem, certo? — Eu levantei e fui para o lado dela. — Sim, estamos bem. — Ofereci minha mão para ela e esperei que ela segurasse e a puxei para um abraço, como ela era pequena se encaixou perfeitamente no meu corpo, beijei seu pescoço e me afastei. — Obrigada, Nathalie. — Ela sorriu e eu saí da sala dela. Eu me sentia melhor, falar com ela melhorou a minha agonia, saber que não seria mais ignorado por ela me deixou mais tranquilo, apesar de ela ter sido ignorada por mim no último ano. Mas se era isso que ela estava preparada em me dar, eu não reclamaria, aqueles olhos azuis não sairiam da minha mente tão cedo, mas eu estava disposto a ter o que ela oferecia. Vou me arriscar mais, sentia que algo de muito bom poderia acontecer se eu fizesse isso.
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Capítulo 6 Nathalie Encontrar com Jake no parque não estava nos meus planos, ele falar que não tinha esquecido nossos beijos me deixou confusa, eu não esqueci também, mas seria uma questão de tempo para isso, não tinha espaço para um relacionamento na minha vida, eu não iria passar pelo o que eu passei novamente. Quando cheguei ao escritório passei na sala dele, mas ele não estava lá, não deve ter chegado ainda, fui em direção da minha sala e levei outro susto com ele, tivemos uma conversa bem sincera – pelo menos da minha parte – e decidimos que nossa relação seria somente profissional, ele me pediu para sermos amigo de novo, eu ainda não tinha confiança total nele, mas essa conversa me deixou mais tranquila, pelo menos ele não seria aquele ogro que foi por mais de um ano comigo. Depois disso, a semana passou sem problemas, na sexta-feira ele me chamou para irmos almoçar, aceitei, ele descobriu um assunto que me fazia sorrir, Brian, passamos o almoço todo falando sobre meu filho, a cada foto que Ash me mandava meu coração apertava ainda mais de saudade. — Aquele garoto é uma figura, muito esperto. — É sim, não é porque ele é meu filho não, mas ele é muito inteligente, ele me fala umas coisas que eu nem sei de onde ele tira, e ele te respeita, não é com todo mundo que ele é desse jeito. — Bem, obrigado, eu acho. Eu sorri, o assunto morreu e eu não sabia mais sobre o que falar, aparentemente ele também. Terminamos nosso almoço e voltamos para o escritório. A tarde passou voando, graças a Deus os dias estavam passando rápido, quanto mais rápido passasse, mais rápido Brian estaria de volta. Saí do escritório e como ainda estava claro eu não peguei um taxi – como fazia todos os dias –, fiz meu caminho para casa andando, vi um restaurante diferente e resolvi entrar, o ambiente era bem agradável, pedi uma pasta com molho branco, que Outro Olhar | 48
estava uma delícia, lembrei de Brian, macarrão é a comida preferida dele. Não demorei muito, mas quando terminei de comer já estava ficando escuro, decidi então pegar um taxi. Quando cheguei em casa. Pickles – Pic para os íntimos como Brian – me recebeu com muita festa, acho que ele estava com saudade de todo o espaço que tinha na casa de Emy, estava ficando agitado e isso não era bom para ele. — Amanhã vamos passear no parque, eu prometo e segunda vou te levar para o escritório, todo mundo está perguntando de você, companheiro. — Eu falei para ele que ficou ainda mais elétrico, acho que falar a palavra 'passear' ainda ajudou na agitação dele. — Venha, vou colocar seu jantar e depois vamos para o sofá ver TV — Falei e fui para a cozinha pegar a comida dele, ele veio atrás todo feliz. Enquanto ele comia fui para o quarto, tomei banho e coloquei meu pijama. Voltei para a sala e Pickles já estava no sofá me esperando, eu ri e fui para o lado dele, fiquei ali no sofá vendo Revenge e quando o episódio estava terminando meu celular tocou. Jake: Só para saber se você chegou bem em casa. Eu: Sim, obrigada, bom fim de semana, Jake. Jake: Estava pensando, poderíamos nós encontrar para uma bebida esse fim de semana? Pensei sobre isso, mas era melhor não, ele podia confundir as coisas, passamos três dias tão em paz, eu não queria atropelar as coisas. Eu: Melhor não, desculpe. Obrigada Jake: Tudo bem, se precisar de mim, sabe onde me achar. Boa noite, Nathalie. Eu: Obrigada Jake, boa noite. Terminei de ver o seriado e fui para a cama, ainda era cedo, mas eu já estava cansada, a semana foi difícil, amanhã faria uma semana sem meu filho aqui, mas eu estava contando os dias para o próximo domingo, quando ele chegaria. Não percebi quando dormi, só sei que acordei com Pickles em cima de mim, tentando me acordar.
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— Hey companheiro, vá com calma, ainda é cedo. — Olhei no relógio do celular e era realmente cedo, mas eu sabia que não adiantaria lutar, ele não me deixaria em paz, levantei e fui tomar banho e me arrumar, coloquei um vestido floral com uma sandália rasteira e fui para a cozinha tomar café da manhã. Quando terminei Pickles já estava impaciente olhando para o local onde a coleira dele estava guardada, peguei a coleira e fomos para o parque, não levei nada comigo, só o dinheiro para um sanduíche e um suco. Fomos direto para o parque, não estava muito movimentado – só Pickles para me fazer passear com ele a essa hora –, algumas pessoas fazendo caminhada, algumas crianças brincando com os cachorros e nada mais. Ficamos andando por quarenta minutos, depois que ele fez as necessidades dele sentamos na grama e ficamos vendo o movimento, que agora estava maior. — Vamos Pickles, já passeamos, agora vamos para casa. — Levantei e puxei a coleira dele, ele não quis andar. — Vamos Pickles, está na hora de voltar. — Ele não se mexeu. — Pickles! — Eu chamei, mas nada. — Bom dia. — Um homem muito estranho parou ao meu lado, meu corpo todo ficou tenso. — A gatinha não fala? — Ele falou com deboche. — Bom dia. — Eu respondi tensa. — Vamos Pickles. — Eu tentei mais uma vez e dessa vez ele andou. — Já vai tão cedo? — O cara perguntou e parou na minha frente impedindo que eu passasse, meu Deus, me ajude, olhei ao redor e não vi ninguém para me ajudar, sair correndo não era uma opção. — Sim, me dê licença. — Eu pedi educadamente. — Não tão rápido, mocinha, me passa o dinheiro ou eu te levo comigo. — Meu Deus, era isso mesmo? — Eu não tenho nada, tenho 20 dólares. — Puxei o dinheiro e dei para ele, só queria me livrar disso. — Você deve estar de brincadeira! — Ele falou sem paciência e agarrou meu braço, Pickles começou a latir, soltei a coleira dele e ele saiu correndo, só esperava que ele voltasse. Outro Olhar | 50
— Me solta, eu já disse que não tenho nada. ME SOLTA! — Eu gritei. Vi Pickles correndo de volta, ele estava trazendo um homem com ele, rezei para que ele me ajudasse, eu já estava gritando desesperada, o homem não me largou, começou a me puxar pelo caminho. Senti um puxão no meu corpo e me vi livre do aperto do homem, o outro rapaz estava segurando ele com força e não o deixou escapar, eu chorava desesperada, Pickles veio para o meu lado e lambeu meu rosto. — Obrigada, companheiro. — Eu falei soluçando. Depois de um tempo vi que o homem que havia me abordado não estava mais ali. — Você está bem? — Uma mulher morena perguntou e eu concordei com a cabeça. — Você está machucada? — Não, estou bem, obrigada. — Me levantei e vi o rapaz que ajudou a me livrar daquele homem horroroso. — Muito obrigada, não tenho palavras para agradecer. — Eu falei chorando novamente. — Não precisa agradecer, você tem um cachorrinho muito valente, não parou de latir até eu dar atenção para ele e ver o que estava acontecendo. — Eu sorri. — Pickles é realmente muito valente. Muito obrigada. — Por nada, você quer que eu te acompanhe até o táxi? — Sim, você poderia fazer isso? — Ele sorriu e falou que sim, fomos andando para a rua à espera de um taxi, quando ele chegou, agradeci mais uma vez e fui para casa. Graças a Deus o caminho não era muito longo, a corrida deu o tanto certo de dinheiro que eu tinha, peguei Pickles no colo e subi para o apartamento. Eu estava morrendo de medo de ficar sozinha, peguei meu celular e liguei para a primeira pessoa que me veio à cabeça. — Nathalie, oi. — Jake respondeu, mas eu não conseguia falar. — Nathalie, está tudo bem? — Eu fiz que não com a cabeça achando que ele me veria. — Não, você poderia vir aqui? — Onde você está? — A voz dele era de preocupação. — Estou em casa, Jake, venha rápido, por favor.
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— Já estou indo, você quer ficar falando comigo pelo telefone enquanto eu chego ai? — Sim. — Falei e chorei mais ainda. — Não chore, me diga o que aconteceu. — Eu... Eu... — Não consegui falar nada. — Tudo bem, eu já estou na rua, me dê 10 minutos e vou estar com você. — Obrigada. — Eu falei, ele tentou falar comigo durante o tempo que estava vindo, mas nada que eu falava fazia sentido. Dez minutos depois ouvi a batida na porta, me levantei e fui correndo para atender, quando o vi me joguei contra seu peito e chorei mais. — Calma, eu estou aqui agora, vamos para dentro. — Ele me puxou para o sofá e deixou que eu chorasse até me acalmar, quando consegui parar de chorar ele me perguntou o que aconteceu e eu falei. — Mas agora está tudo bem, você está segura. — Eu tive tanto medo, pensei que ele tivesse uma arma, ele queria me levar, não sei o que teria acontecido se não fosse por Pickles, ele me salvou. — Eu falei fracamente. — Esse pestinha? Você tem certeza? — Ele falou rindo. — Sim, ele saiu correndo e buscou uma pessoa para me ajudar e me livrar daquele monstro. — Ele ficou em silêncio por um momento. — Por que você ficou com tanto medo? — Ele perguntou sério, eu não queria falar sobre o que estava na minha cabeça, abaixei minha cabeça e tentei sair do colo dele. — Não, você fica aqui e me diga o motivo. — Quando eu era mais nova me assaltaram, me agrediram física e verbalmente, um cara armado me ameaçou e eu fiquei sobre a mira de uma arma por não sei quanto tempo, eu passei meses sem sair de casa depois que isso aconteceu e hoje quando aquele homem chegou perto de mim, tive a mesma sensação de anos atrás, eu pensei que aconteceria a mesma coisa e se acontecesse... — Eu parei de falar, não conseguia terminar a frase. — Não vai acontecer nada, eu prometo, vou ficar aqui com você até você se sentir segura de novo. Outro Olhar | 52
— Não precisa, você deve ter planos, eu liguei para você porque não sabia para quem ligar e eu estava desesperada, não queria ficar sozinha, mas agora estou melhor. — Não vamos discutir sobre isso, eu vou ficar e ponto final. — Tudo bem. — Eu disse e tentei novamente me levantar, ele me segurou forte contra o seu corpo. — Jake, o que você está fazendo? — Ele começou a beijar meu ombro e foi subindo pelo meu pescoço. — Eu não sei, só não me pare, por favor. — Ele sussurrou e continuou me beijando. Meus pensamentos estavam uma confusão, aquilo não era para estar acontecendo, mas não tinha força para me afastar, deixei que ele me beijasse, sua mão estava no meu cabelo e me puxando para mais perto. Quando ele começou a beijar meu rosto eu tentei me afastar, a sua boca chegou a tocar o canto da minha e eu consegui colocar uma distância sobre nós. — Não Jake, não foi para isso que eu te chamei aqui, por favor, não faça isso. — Nathalie, eu quero... — Não Jake, você não quer nada. Nós estamos indo tão bem assim, não vamos estragar. Consegui me levantar e ele segurou minha mão, me virei para olhar para ele, aqueles olhos verdes pediam por mais, mas eu não deixei me levar. — Me desculpe, eu sei que não foi por causa disso que você me chamou aqui, mas eu não consegui me segurar, você estava aqui no meu colo, eu só queria poder te beijar. — Fiquei sem palavras para aquilo. — Está tudo bem, vamos apenas esquecer sobre isso. — Eu falei, mas sabia que não esqueceria. — Você vai ficar aqui comigo hoje? — Eu perguntei, não queria ficar sozinha. — Sim, claro, se não tiver problema. — Está tudo bem, vou preparar o nosso almoço então, fique ai com Pickles, ele está tão carente. — Eu falei sorrindo e Jake chamou Pickles para cima do sofá.
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Fiz o almoço e ficamos conversando a tarde toda sobre assuntos aleatórios – pela primeira vez Brian não era o assunto principal –, vimos alguns filmes, no final da tarde o celular de Jake começou a tocar insistentemente e ele não atendia. — Atende logo, pode ser importante. — Eu disse depois da quinta vez que o celular tocou. — Não é importante. — Ele falou sem graça. — O que você acha da gente sair para beber? — Eu não sei Jake, ainda estou com medo de sair e eu não sou de beber. — Largue de besteira, eu vou estar com você, nada de mal vai acontecer, eu prometo. — Pensei sobre isso, hoje ele me passou confiança, eu sabia que ele não deixaria que nada de mal acontecesse comigo, pelo menos hoje. — Tudo bem, acho que preciso relaxar, vou tomar banho e podemos ir. — O sorriso que ele abriu iluminou a sala, me senti feliz por poder ser o motivo daquilo. Corri para o quarto, tomei banho e coloquei uma roupa mais bonita, afinal era uma noite de sábado, quando voltei para sala Jake estava dormindo no sofá com Pickles ao seu lado. Sério isso? Me sentei ao seu lado e puxei sua cabeça para o meu colo e fiz carinho em seu cabelo, fiquei ali até que o sono me pegou e eu dormi também. Senti meu corpo ser puxado para cima e resmunguei. — Volte a dormir, estou te levando para a cama. — Jake falou sussurrando para mim, senti quando ele me abaixou de volta na cama. — Agora durma, amanhã cedo eu estou de volta. Concordei com a cabeça e me afundei no sono novamente. Minha noite foi tranquila, achei que sonharia com aquele bandido horrível, mas não. No domingo acordei tarde, ouvi o barulho da porta se abrindo e fiquei tensa, mas quando vi Jake olhando para dentro do quarto relaxei novamente. — Você me assustou. — Eu falei com voz de sono. — Eu queria ver como você estava, trouxe o café da manhã, se arrume, enquanto isso vou sair para dar uma volta com Pickles. Outro Olhar | 54
— Tudo bem, obrigada. — Eu estava achando tão estranho o comportamento dele, Jake nunca foi atencioso assim, pelo contrário. Na última semana ele sempre arrumava um motivo para falar comigo, eu estava começando a gostar dessa atenção toda, mas isso tinha que parar, eu estava contando os dias para Emy chegar e nós não termos que ficar tanto tempo juntos. Quando ele voltou, eu já estava na sala arrumando a mesa com o que ele trouxe para o café. Comemos e depois ele falou que tinha que ir embora um pouco antes da hora do almoço, que tinha planos, fiquei pensando quais seriam os seus planos, mas não perguntei, não era da minha conta o que ele fazia ou deixava de fazer. Arrumamos a cozinha e depois de tudo arrumado ele parou no meio da cozinha e ficou me olhando. — O que foi? — Eu perguntei sorrindo. — Você sabe que é linda, não sabe? — Jake, por favor, estamos indo tão bem assim. — Não, eu não quero saber, uma amiga minha me disse que nós deveríamos nos arriscar para conseguirmos o que queremos e é o que eu estou fazendo aqui. — Ele partiu para cima de mim e quando percebi estava me beijando, fiquei sem reação, mas por fim me deixei levar, uma mão estava na minha cintura me puxando para cima e outra no meu cabelo, meus braços se enrolaram ao redor de seu pescoço, ele me puxou e me colocou em cima da bancada da cozinha. Minhas pernas se enrolaram em volta do seu corpo e o puxei para mais perto de mim, minhas mãos já estavam bagunçando o seu cabelo. Quando ele quebrou o beijo olhou nos meus olhos e sorriu. — Isso foi melhor do que eu imaginava. — Eu ri e soltei minhas pernas do seu corpo — Amigos? — Ele perguntou sorrindo. — Você é realmente impossível, mas tudo bem, amigos, mas sem benefícios, ok? — Ele sorriu e me deixou descer do balcão. — Ok, os benefícios eu consigo outro dia, Pimentinha. — Ele disse e beijou meus lábios novamente. — Pimentinha? Sério? Vá embora, Shrek, você vai se atrasar para o seu compromisso. — Shrek? Sério? — Ele riu e se virou para ir embora. Sophia G. Paiva | 55
Quando a porta se fechou e não pude deixar de colocar a mão sobre meu lábio, ainda estava inchado do beijo devastador – não havia outra palavra para descrever – que havíamos compartilhado. Mas então me lembrei do que tinha acontecido há mais de cinco anos atrás, não passaria por isso novamente, nem com Jake, nem com ninguém, já estava decidido, eu só precisava colocar meus pensamentos em ordem.
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Capítulo 7 Jake O último telefonema que eu esperava receber em um sábado de manhã era de Nathalie, senti o nervosismo em sua voz, quando escutei seu choro foi como se alguém tivesse me dado um soco no estômago, por sorte eu estava na rua, larguei meu compromisso e parti em direção a ela – foda eu largaria qualquer coisa se ela me chamasse – cheguei ao apartamento dela em tempo recorde, ela morava no apartamento que era de Ash, então estávamos muito próximos um do outro, no elevador mandei uma mensagem cancelando meus compromissos daquela manhã, eu resolveria isso depois. Quando bati na porta ela me recebeu chorando e praticamente se jogou nos meus braços – droga se não era a melhor sensação do mundo –, tê-la ali, tão frágil em meus braços fazia meus instintos gritarem tão alto que eu quase poderia escutá-los. Ela estava uma bagunça emocional, quando me contou o que tinha acontecido com ela no parque, minha vontade era de arrancar a maldita cabeça daquele ladrão para fora do seu corpo inútil, eu odiava violência, mas ela parecia tão machucada que fez meu peito doer. Analisei seu corpo com cuidado, queria ter certeza de que ela não estava ferida e então ela me contou o motivo de todo o trauma – eu não sabia que poderia ficar com tanta raiva assim – e a única vontade que tive foi de beijá-la, eu queria que ela soubesse que eu estava ali, porém mais uma vez ela me cortou. Sério, quando foi que me tornei tão carente? Eu não me reconhecia mais. Passei o dia com ela que fez nosso almoço, por uns momentos me peguei pensando como seria uma vida assim, comida caseira, conversas descontraídas – eu precisava de uma bebida – mais tarde paguei o mico do ano, a convidei para sair e acabei dormindo no sofá ao lado do cachorro, eu merecia um prêmio de maior babaca, a melhor parte foi sentir sua perna embaixo da minha cabeça, sua pele macia. Quando acordei vi que ela estava linda, com um vestido que a deixava tão sexy – inferno eu já estava tendo pensamentos muitos impróprios e Sophia G. Paiva | 57
ela só estava dormindo –, carreguei ela para o quarto e a deitei na cama, eu queria vesti-la adequadamente, mas temi que ela me expulsasse. Eu não podia deixá-la sozinha, então quando a vi adormecer novamente fui ao meu apartamento para trocar de roupa e voltei, acabei passando a noite no quarto de hóspedes. Até que não dormi mal, saber que ela estava segura no quarto próximo ao meu me deixou estranhamente relaxado, acordei cedo e fui comprar algo para o café, apesar de que vê-la na cozinha era extremamente tentador e sexy para caramba eu preferia que ela descansasse. A acordei e saí com Pickles para dar uma volta, quando cheguei novamente, ela já tinha arrumado toda a mesa e tomamos nosso café juntos, depois de arrumarmos a cozinha eu não me segurei, as palavras de Clary gritavam na minha cabeça ‘Temos que nos arriscar’. E foi isso que fiz, nos beijamos tão intensamente, ela me correspondeu na mesma medida, quando dei por mim ela estava sentada na bancada da cozinha com as pernas na minha cintura – sexy para caralho – interrompi nosso beijo antes que avançasse rápido demais, sorrimos, ela tinha o sorriso mais lindo que eu já vi, era tão sincero que me envolvia completamente. Eu tinha um compromisso na hora do almoço então saí sorrindo com o apelido que ela me deu, Shrek, sério que ela me chamou de Ogro? Bem pelo menos o cara teve um final feliz, decidi ali que iria correr atrás do meu. Passei no meu apartamento e mandei uma mensagem para Clara, íamos nos encontrar para almoçar, ela não entendeu direito porque desmarquei com ela ontem, mas ela não era mulher de questionar, então não tive que dar muitas explicações. Como sempre ficamos de nos encontrar no nosso restaurante italiano favorito. Alguns minutos depois de chegar ao restaurante, Clara entrou e veio sorrindo na minha direção, levantei e fui cumprimentá-la. — Linda como sempre. — Beijei seu rosto puxei sua cadeira. — E você, Sr. Scott, gentil como sempre. — Clara sorria, estava tão alegre, eu gostava de vê-la assim, beijei sua mão e fui para o meu lugar. Outro Olhar | 58
O garçom veio e pedimos o de sempre, sorrimos para aquele momento, era tudo tão familiar como se o tempo não houvesse passado. — Então Emy já conversou com você? — Perguntei a ela. — Ainda não, mas falei com ela ontem e vou precisar voltar para Paris, nesse caso quando ela voltar nós vamos conversar melhor. — Entendo e como vai Paris? — Se está perguntando sobre o escritório está indo muito bem, nossa receptividade foi muito boa, mas acho que isso você já sabe. — Ela disse e levantou uma sobrancelha. — Sim eu sei, quero saber como você está. — Ela me olhava com curiosidade. — Por que eu sinto que essa conversa é muito além do que isso? — Eu dei um meio sorriso. — Talvez eu queira apenas saber como está a minha amiga. — Clara deu de ombros e continuamos a conversa, ela me contava como era a sua vida em Paris, me contou que estava em um relacionamento, sua vida estava caminhando e eu estava feliz por isso. — E você, como está a sua vida? E nem venha falar sobre o escritório Jake. — Ela disse sorrindo, não pude deixar de sorrir. — Bem, minha vida anda bem agitada. — Ela deu uma gargalhada. — Típico de você, ainda está saindo com a loira espevitada? — Quando ela mencionou loira eu engasguei. — Estou bem, obrigado. — Eu disse enquanto bebia um copo com água, Clara ria da situação, continuamos a falar sobre nossas vidas quando dei por mim já era tarde, Clara também pareceu bastante assustada com a hora. — Droga, eu preciso ir, tenho um compromisso mais tarde. — Seu namorado sabe desse compromisso? — Eu ri. — Não seja grosseiro. — Ela bateu no meu ombro, sorrimos paguei a conta e saímos do restaurante, estávamos caminhando em direção ao carro quando meu olhar prendeu em uma direção. Nathalie vinha andando descontraída, ela usava um vestido curto e solto – como eu amava esses vestidos – sorria e conversava, estava de braços dados com Ethan, minha mandíbula travou, vê-la tão sorridente Sophia G. Paiva | 59
me deixava feliz, mas ao mesmo tempo saber que eu não era o motivo daquele sorriso fazia meus punhos fecharem. Clara percebeu minha tensão e seguiu meu olhar, ela sorriu quando viu os dois, eles estavam se aproximando, assim que Nathalie nos viu sua expressão mudou, foi uma mudança tão suave que não sei se Clara percebeu, ela estava tão feliz que o mau humor alheio não a afetava. — Hey! — Clara soltou meu braço e seguiu em direção a eles, ela abraçou Nathalie e Ethan veio me cumprimentar. — Tendo uma volta ao passado? — Ethan me perguntou enquanto nos cumprimentávamos. — Acho que não é da sua conta, e você? Ash te deixou de babá? — Ethan sorriu. — Ash não precisa me deixar de babá para que eu possa cuida da Nathy, gosto dela e vou sempre protegê-la. — Eu estava pronto para dar um soco no meu amigo. Paramos de falar quando as duas se aproximaram, Clara cumprimentou Ethan com um abraço bastante empolgado. — Jake, acredita que os dois iam ao cinema? — Sério? Não sabia que você curtia filmes Ethan, programa de casal? — Perguntei olhando diretamente para Nathalie, ela ficou vermelha e logo Ethan ficou ao lado dela colocando a mão no seu ombro, se eu já estava querendo socá-lo eu estava indo agora para um assassinato. — Programa de amigos, como o seu e da Clara. — Clara sorriu para mim e piscou. — Nesse caso, acho bom não se atrasar lembra que temos um compromisso mais tarde. — Clara disse para Ethan que sorriu de volta. Certo, o compromisso dela era com ele, bom assim pelo menos ele largaria a minha garota. De onde diabos veio esse pensamento? Ela não era minha, pelo menos não ainda. — Não se preocupe jamais te deixaria esperando, vamos apenas ver um filme, nosso compromisso ainda está de pé.
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— Ok. — Clara beijou o rosto dele e da Nathalie que permanecia em silêncio, quando ela virou para mim novamente falei a primeira coisa que me veio em mente. — Que filme vocês vão assistir? — Como? — Ethan perguntou — Que filme vocês vão ver? — Ainda não decidimos, vamos ver o que estiver passando. — Nesse caso, vamos com vocês, não é Clara? — Ela me olhou como se tivesse nascido uma segunda cabeça no meu pescoço, não dei tempo para ela argumentar, puxei seu braço e fomos andando para o cinema, que ficava a menos de duas quadras de distância. — Você pode me dizer o que foi isso? Desde quando você gosta de cinema? — Clara sussurrou para mim enquanto andávamos atrás de Ethan e Nathalie. — Vamos só ver um filme, não faça drama. — Eu disse tentando mudar o assunto. — Eu não faço drama Jake, você me conhece melhor do que isso, mas se é o que estou pensando, então vá com calma, ela não merece ser machucada. — Respirei fundo, aquelas palavras me acertaram em cheio, Clara me conhecia, sabia que eu não era um homem de uma mulher só, sabia como eu agia quando era pressionado a ter um relacionamento mais sério, ela mesma foi vítima disso. — Vamos apenas ver a droga do filme. — Tudo bem, mas o recado está dado. — Clara segurou minha mão, eu beijei a mão dela, ela estava sendo mais do que uma amiga naquele momento, então continuamos andando para o cinema. Nem me lembro da última vez que fui ao cinema, eu e Ethan fomos comprar os ingressos enquanto as duas foram para o balcão da pipoca, elas estavam animadas, um filme cheio dessas baboseiras femininas tinha estreado, se não me engano era um livro de muito sucesso que virou filme, só sei que tinha muita gente saindo com os olhos vermelhos das salas – ótimo chorar no cinema é animador. Quando entramos na sala Ethan e eu sentamos nas pontas, Clara ao seu lado e Nathalie ao meu, a conversa dos três rolava solta, mas eu
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não interagi, ao invés disso mandei algumas mensagens, Clary queria me encontrar, me desculpei e marquei para outro dia. O filme começou e eu realmente não estava prestando atenção, eu não gostava muito de cinema, era mais de ficar em casa no sofá, com uma bela mulher no meu colo, ia ao cinema em ocasiões muito especiais, geralmente Emy conseguia ter o filme que ela quisesse em casa, antes mesmo do lançamento, então nos acostumamos assim. Comecei a prestar atenção na Nathalie, ela estava realmente emocionada em algumas partes, puxei seu corpo para ficar próximo ao meu, levantei o encosto que separava as cadeiras então ela ficou mais à vontade totalmente aconchegada em mim. Eu acho que o filme era realmente triste, com ela tão próxima eu não conseguia me concentrar em mais nada, apenas nas suas expressões. Quando vi suas lágrimas puxei seu rosto sutilmente e enxuguei sua lágrima com meus dedos, comecei a passar meu polegar delicadamente no seu rosto e ela fechou os olhos, seu corpo pressionado cada vez mais forte no meu, sua respiração foi ficando pesada, e então o filme acabou e ela instantaneamente se afastou – odeio cinema. Clara não queria jantar já que tinha combinado com Ethan, então era a minha chance de levar Nathalie para casa. — Então posso te levar? — Ela olhou confusa para mim depois para Ethan. — Claro que pode, e você Ethan vai me levar voando para o hotel, tenho que me arrumar se você quiser jantar comigo ainda. — Clara segurou o braço dele e se despediu de Nathalie, fomos andando pegar o carro, ela estava calada o tempo todo. — Você quer jantar? — Preciso passar em casa, tomar um banho, acho que estou fedendo a pipoca. — Ela riu, puxei seu corpo e afundei meu rosto em seu pescoço. — Seu cheiro é divino. — Senti seu corpo tremer. — Só se você gosta de pipoca. — Ela falou sussurrando, me afastei do pescoço dela e arrastei meu rosto no seu, minha barba roçava subindo pelo seu pescoço, quando minha boca quase tocou a dela,
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hesitei, então beijei sua testa, ela suspirou, não sei se em protesto ou de alívio. Parti em direção ao apartamento dela, não entrei segui direto para o meu, eu também precisava de um banho, o que foi feito em tempo recorde, quando parei em frente ao prédio mandei uma mensagem para ela avisando que já estava esperando. A visão dela saindo do prédio me deixou sem ar – de onde diabos ela tirava tantos vestidos? – dessa vez ela usava um vestido amarelo, com sandálias de tiras que valorizavam suas pernas, fiquei duro só com aquela visão, seu cabelo estava preso com algumas mechas soltas, era linda, como eu não tinha reparado nisso antes? Eu estava segurando um rosa, seu sorriso era enorme quando lhe entreguei, ela sentiu o perfume e me agradeceu, quando ela foi beijar meu rosto, virei e ela acertou em cheio minha boca, eu sorri e ela bateu no meu ombro. — Você é realmente idiota. — E você é uma pimentinha, você gosta de me beijar, admita isso. — Eu falei rindo. — Você é mesmo um ogro, vamos logo. — Ela entrou no carro sorrindo. Fomos para um restaurante de comida japonesa – a pedido dela. Nosso jantar não poderia ser nada menos que maravilhoso, ela me mostrou as fotos que tinha recebido da Emy naquele dia, eram fotos de todos, das crianças e todos pareciam bem e felizes, minha princesa finalmente encontrou sua felicidade. — Então não vai me convidar para subir? — Eu perguntei quando parei na porta do prédio. — Não, mas obrigada pelo jantar foi perfeito. — Pickles está carente, eu poderia vê-lo um pouco. — Tudo bem, não precisa fazer beicinho, eu acho que ele não é o único carente. — Ela sorriu e caminhamos até o elevador. — Sabe Nathalie, você pode resolver esse meu problema. — Eu falei quando entramos no elevador, a prendi contra a parede e sorri. — Vá para o inferno, Jake. Me solte. — Ela falou e me deu um tapa forte no braço, eu me afastei. Sophia G. Paiva | 63
— Se você for junto, é lá que quero estar. — Ela sorriu e saímos do elevador. Quando entramos no apartamento fomos recebidos por Pickles que como sempre estava animado, aquele cachorro tinha energia de sobra. — Você quer beber alguma coisa? — Ela perguntou. — Você não bebe, mas tem bebida em casa? Interessante. — Não é bem assim, eu só não costumo beber, mas quando Ash e Ethan vêm aqui eu sempre tenho algo. — Ouvir aquilo não me fez bem, a ideia dos dois ali fazia meu estômago embrulhar. — Estou bem, obrigada. — Ela veio com um copo com água e sentou na poltrona, ela estava relaxada e tentava tirar a sandália. — Eu te ajudo. Me ajoelhei na frente dela, ela ficou me encarando enquanto eu tirava a sandália dos seus pés, fui desamarrando com todo cuidado, meus dedos tocando seu tornozelo, massageando sua perna, senti sua pele arrepiar, ela estava cada vez mais sensível ao meu toque, tirei suas sandálias, mas minhas mãos não saíram das suas pernas, massageei seus pés, ela jogou o corpo para trás aproveitando o momento, comecei a subir minhas mãos e beijei suas pernas – ela era tão cheirosa – meus beijos eram cada vez mais demorados e subiam cada vez mais, quando estava com as mãos na barra do seu vestido ela me parou. — Jake, por favor. — Ela sussurrou, o desejo estava na sua voz. — Nathalie, você quer isso tanto quanto eu. — Sim, eu quero, não vou mentir, mas não vou fazer, não é correto. — O que não é correto? — Parei de acariciar seu corpo e olhei nos olhos dela. — Nós, isso que está acontecendo, não está certo. — Somos adultos, Nathalie, podemos fazer o que queremos. — Jake, ouça... — Ela se inclinou e segurou minha mão, seu olhar era intenso. — Da última vez que agi assim não foi nada bom. — Se você está me comparando com Olin você está muito enganada, eu não sou nada como ele. — Eu falei com a voz alterada. — Não estou comparando você a ele, é só que...
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— Não precisa ser assim você sabe disso, vamos fazer isso e ver onde vai dar. — Jake, eu não posso, só não posso. — Ela se levantou, mas eu a puxei de volta para sentar. — Desculpe. — Eu disse. — Jake, você precisa entender que não podemos. — Preciso de uma explicação, você está saindo com alguém? Gosta de alguém? — Eu já estava fervendo de raiva, nunca uma mulher me rejeitou, ela só podia gostar de outro era a única explicação lógica. — Eu não tenho outro, já disse meu único compromisso é com meu filho. — Então o que é, estou seriamente perdido aqui. — Ela suspirou e me olhou, ficamos em silêncio, eu não falaria nada enquanto ela não me respondesse. — Jake, eu só tive um homem na minha vida. — Ela começou e eu já estava mais que nervoso. — Eu era virgem e confiei em alguém que não devia, aquele dia foi o único dia da minha vida que eu agi com meu coração, com meus impulsos, meus desejos, foi tudo tão perfeito, até o dia que descobri que estava grávida e... Eu não sabia que estava prendendo a respiração naquele momento, ela disse que era virgem, que teve somente um homem? Olin desgraçado, incrível como ainda conseguimos te odiar ainda mais, não falei nada apenas a deixei continuar. — Eu vou matar aquele miserável. — Eu praticamente gritei, me levantei e comecei a andar de um lado para outro, queria muito poder socar alguma coisa. — Ele já está morto Jake, não vale a pena, só me escute, por favor. Entenda, eu não quero mais isso para mim, isso de ‘Vamos curtir o momento e ver no que dá’ não é para mim, eu não sei o que seria de mim senão fosse Ash, ele cuidou de mim e do meu filho sem nunca pedir nada em troca, eu prometi para mim mesma que não ia errar novamente. Eu não acreditei no que ela falou, eu estava furioso, levei um tempo para me acalmar, mas por fim me virei para ela.
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— Nathalie, eu não sou como ele, você já me conhece há algum tempo. — Nathalie sorriu. — Sim, eu conheço você há algum tempo e já vi muitas mulheres saindo da sua sala. — Ela levantou uma sobrancelha. — Tudo bem você tem um ponto. — Ela riu ainda mais. — Eu acho que tenho muitos pontos, Jake. — Eu sorri e beijei sua testa, colei meu rosto no dela e sussurrei. — Se permita viver, nem todos os homens são como ele, eu não sou como ele, deixe-me apenas te provar isso. Ela me olhou por alguns momentos, meu coração estava acelerado, senti sua mão subindo pelo meu braço até chegar ao meu rosto. — Eu sei que vou me arrepender disso, mas acho que é melhor se arrepender de algo que você fez do que se arrepender de algo que você não fez. Eu sorri e ela me beijou, era um beijo tímido, era como se ela estivesse me beijando pela primeira vez, a puxei para o sofá, a coloquei no meu colo, ficamos ali trocando longos e inebriantes beijos. Como o tempo voa quando estamos curtindo um bom momento, nós estávamos no sofá, tentando assistir alguma coisa na TV enquanto nos beijávamos, meu celular tocou, o que nos levou a olhar a hora. — Ai droga já está tarde. — Ela disse pulando do sofá. — Verdade, mas eu não tenho que ir se você não quiser. — Eu disse puxando ela para o meu colo novamente, ela me deu um beijo e meu celular tocou novamente. — Você não vai atender? — Ela perguntou, olhei para o celular e vi quem era, não iria responder àquela ligação agora. — Não, eu prefiro ficar aqui e te beijar mais um pouco. — E quem disse que eu quero te beijar? — Ela falou e se levantou do sofá, fui atrás dela, puxei sua cintura e beijei seu pescoço. — Você é realmente uma pimenta, minha pimentinha. — Eu falei e ela ficou tensa. Droga, falei demais. — Jake, me deixe ir, me solte, você deveria ir. — Acho que eu passaria a noite inteira beijando você sabia. — Sussurrei no seu ouvido. Outro Olhar | 66
— Eu não quero testar essa teoria, amanhã cedo preciso trabalhar e meu chefe é um pé no saco. — Ela falou e começou a rir. — Ele pode te dar folga. — Eu a virei e beijei sua boca. — Acho que não, ele é um Ogro, sabe? — Não pude deixar de sorrir, dei um beijo no seu pescoço. — Certo, Pimentinha, eu te vejo amanhã. — Tudo bem. — Dei um último beijo e ela me levou até a porta. — Nathalie! — Gritei antes do elevador fechar, ela virou em minha direção. — O quê? — Não me ignore amanhã. — Ela estava sorrindo quando a porta do elevador se fechou, eu sorri também. Olhei meu celular e vi mais de dez chamadas perdidas, todas da minha irmã, o que ela queria? Coloquei o celular de volta no bolso e resolvi ignorar, meu dia estava muito bom para estragar com dramas familiares.
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