Revista do Comando-Geral do Ar
Nº 03 - Março 2001
O Poder Aéreo e as Operações Psicológicas Sistemas de Auxílio à Decisão: Uma Necessidade, Uma Realidade A Pesquisa Operacional na Solução de Problemas da Força Aérea O Avião e o Poder Aéreo
Spectrum
Expediente
Índice Objetivos e Diretrizes para Publicação ...................... 4
Comandante-Geral do Ar Ten.-Brig.-do Ar Henrique Marini e Souza Conselho Editorial e Revisão Ten.-Cel.-Av. Narcelio Ramos Ribeiro Maj.-Av. Ari Robinson Tomazini Maj.-Av. Fábio Durante Pereira Alves Cap.-Av. Davi Rogério da Silva Castro Cap.-Av. Carlos Alberto Fernandes Cap.-Av. Edson Fernando da Costa Guimarães Colaboradores Sr. Carlos Lorch (Action Editora) Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER) Adriana Beal (Vydia Tecnologia)
O Avião e o Poder Aéreo ........................................... 5 O Poder Aéreo e as Operações Psicológicas ............. 11 A Otimização do Planejamento da Atividade Aérea ....................................................... 15 O Emprego da Aviação de Transporte em Cenário de Guerra Eletrônica (GE) ........................... 21 Bomba Guiada a Laser: Os Dois Lados da Moeda .... 25 Sistemas de Auxílio à Decisão: Uma Necessidade, Uma Realidade .......................... 27
Projeto Gráfico e Fotolitos Tachion Editora e Gráfica Ltda. Rua Santa Clara, 552 - Vila Adyanna Tel/Fax: (12) 321-0121 / 322-4048 / 322-3374 CEP 12243-630 - São José dos Campos-SP e-mail: info@tachion.com.br www.tachion.com.br
Seminário de Emprego de Mísseis “All Aspect” ........ 32
Impressão Gráfica Itamarati SIG/Sul - Quadra 02 - lote 400 Tel: 61-343-1833 - Fax: 61-343-1099 CEP 70610-400 - Brasília-DF
O Uso de Data Mining nas Forças Armadas ............. 41
Pronta Resposta – A Força Aérea Pré-Programada .... 34 A Pesquisa Operacional na Solução de Problemas da Força Aérea ........................................ 37
Distribuição interna. Tiragem: 2.000 exemplares. Os conceitos emitidos nas colunas assinadas são de exclusiva responsabilidade de seus autores. Estão autorizadas transcrições integrais ou parciais das matérias publicadas, desde que mencionados o autor e a fonte e remetido um exemplar para o COMGAR. spectrum@comgar.aer.mil.br (Internet)
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Editorial Maj.-Brig.-do-Ar José Carlos Pereira
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ma revista profissional como “Spectrum” deve refletir necessariamente o grau de domínio de uma comunidade sobre os objetos fundamentais de sua existência e de sua cultura. Já não basta o velho e tradicional saber, puro, capaz e idôneo. É cada vez mais, essencial que se chegue ao domínio, à sabedoria pela dilatação do conhecimento e pela reflexão em torno dos objetos e de suas substâncias – sob todos os pontos de vista, acima, abaixo, por todos os lados, na luz e na sombra, na calma ou na turbulência, no corpo e na alma. As publicações profissionais revelam o estado e o ânimo intelectual das suas comunidades, seus graus de sabedoria ou de indigência mental, os níveis de sensatez ou de imprudência, potenciais e debilidades, sonhos legítimos e alucinações extravagantes. Em nossa Força Aérea, o Comando-Geral do Ar, responsável por “Spectrum”, representa o produto final de um gigantesco esforço com o objetivo de permitir à nação dispor de uma capacidade mínima e digna de reagir com meios aéreos diante de agressões, ou convencer potenciais agressores a optar por outros caminhos que não o da força bruta. Aquele que vive a Força Aérea como um compromisso, ou seja, devotando-se a ela, permanecendo com ela, não importa o que aconteça, encontra no Comando-Geral do Ar seu universo de realização espiritual, um universo em que ele(a) abstrai, ou deveria abstrair, todas as coisas mesquinhas da vida em nome de preservar esta pátria com as asas e as armas da sabedoria, da liberdade e da fé. É verdade que, nossos dias têm sido de apreensão. Como profissionais, patriotas, honestos e democratas, a visão de uma Força Aérea despreparada material e intelectualmente projeta-se para além de um simples
pesadelo. Contudo, o imenso esforço aplicado pela sabedoria dos homens da Força Aérea parece começar a produzir frutos e, provavelmente, estamos ingressando em uma nova época de pensamento, ação e reflexão. Justamente aqui, uma reMaj.-Brig.-do-Ar vista profissional pode repreJosé Carlos Pereira sentar a caixa de expansão para o desenvolvimento do Comandante do domínio, lançando-se bem à Comando de Defesa frente do simples conhecer, Aeroespacial Brasileiro apesar de quaisquer dificuldades. Gostaria de transmitir à minha gente profissional do combate uma velha noção ninja sobre a técnica de reagir a agressões múltiplas. Se você for atacado por cinco ou dez pessoas ao mesmo tempo, não se concentre em uma delas, pois será rapidamente aniquilado pelas outras. Reaja apenas aos golpes, venham de onde vierem, e não aos atacantes. Se você conseguir mudar rapidamente sua postura, de golpe para golpe, terá a sensação de estar enfrentando apenas um adversário, e não cinco ou dez. Nosso maior desejo é que “Spectrum” vá em frente, mergulhe no domínio do combate, não se intimide com dificuldades múltiplas, aproveite as turbulências e as crises para expandir a sabedoria coletiva. Que aproveite a água revolta para identificar seu conteúdo, que aproveite o ataque múltiplo para aprimorar sua agilidade, e que em suas páginas, um sonho, uma idéia ou um questionamento possam se transformar em doutrina, norma ou princípio. Então, terá valido a pena enfrentar mil ataques, morrer e renascer mil vezes.
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Revista “SPECTRUM” Objetivos e Diretrizes para Publicação
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Revista Spectrum tem como finalidade contribuir para a divulgação de trabalhos voltados exclusivamente para o preparo e emprego da Força. Pretende-se incentivar a apresentação de temas que venham a despertar debates, motivar o início de estudos que possam ser aproveitados, hoje ou no futuro, com o objetivo de conferir o devido realce ao aguerrido espírito operacional da Força Aérea Brasileira. Não se estabelece preferência de abordagens: diferentes perspectivas teóricas e metodológicas no tratamento de temas são aceitáveis, desde que consistentes e significativas para o desenvolvimento da área operacional. O público alvo é constituído dos profissionais civis e militares das três Forças Armadas e do Ministério da Defesa, Institutos de Pesquisa, Universidades e de outras Organizações Públicas e Privadas interessadas nos assuntos operacionais da Força Aérea.
Forma de apresentação dos artigos Os textos devem ser encaminhados de acordo com os seguintes critérios e características técnicas: 1) Formatação: papel A4 (29,7x21cm); margens: superior = 2,5cm, inferior= 2,5cm, esquerda= 2,5cm e direita= 2cm; editor de texto: Word for Windows 6.0 ou posterior, utilizando caracteres Arial, tamanho 12pt e espaçamento 1,5 linhas. O artigo não deverá exceder 5 páginas, incluindo quadros, tabelas, gráficos, ilustrações, notas e referências bibliográficas. Deve-se observar a ortografia oficial e conter, na primeira lauda do original, o título do trabalho e o(s) nome(s) completo(s) do(s) autor(es). 2) Apresentar em uma página separada: título do trabalho, nome(s) completo(s) do(s) autor(es) acompanhado(s) de breve
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curriculum vitae em que se mencione titulação acadêmica, experiência profissional e/ou acadêmica, instituição(ões) de vinculação, cargo ou função, endereços, e-mail, telefones e fax. Se mais de um autor, ordenar de acordo com a contribuição de cada um ao trabalho. 3) Enviar resumo do texto, entre dez e quinze linhas, em que constem objetivo, método, resultado e conclusões, bem como de três a cinco palavras-chaves. 4) As referências bibliográficas completas do(s) autor(es) citados deverão ser apresentadas em ordem alfabética no final do texto, de acordo com as normas da ABNT (NBR 6023). As referências a autor(es) devem ser citadas no corpo do texto com indicação numérica na lista de bibliografia. 5) Notas referentes ao corpo do texto devem ser indicadas com um número sequencial, imediatamente depois da frase a que diz respeito. As notas deverão vir no rodapé do texto. 6) O artigo deverá ser enviado em disquete de 3,5”, acompanhado de duas vias impressas e foto(s) do(s) autor(es) - busto, frontal, sem data.
Enviar artigos para: Revista “Spectrum” Centro de Guerra Eletrônica do COMGAR Esplanada dos Ministérios, Bloco “M” - anexo - 2º andar CEP 70045-900 - Brasília-DF Tel.: (61) 313-2528 Fax.: (61) 224-1840 e-mail: spectrum@comgar.aer.mil.br (Internet)
Cronograma para a próxima edição: até 30 jun 2001: recebimento de artigos jul 2001: revisão e editoração eletrônica ago 2001: impressão e distribuição
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O Avião e o Poder Aéreo Brig.-do-Ar Delano Teixeira Menezes
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ma rápida observação da história da Aviação no Brasil nos leva a crer que a Força Aérea Brasileira, na acepção da palavra, só “nasceu” nos anos 70, quando foi criado o sistema de defesa aérea e o Primeiro Grupo de Defesa Aérea. Até aquela época permanecíamos como uma força complementar das co-irmãs que atuam na superfície. Éramos apenas uma Força Aerotática. Ainda não tínhamos adquirido personalidade própria para seguirmos os desígnios antevistos por Seversky e outros pensadores concernentes ao Poder Aéreo. O Primeiro Grupo de Caça, que foi constituído no alvorecer do Ministério da Aeronáutica para ir à Guerra, ainda que tenha recebido instrução completa de caça nos Estados Unidos, não cumpriu mais do que missões de cunho aerotático, uma vez que no Teatro de Operações onde atuou a superioridade aérea já estava assegurada. Nos primeiros anos desse período, os homens que decidiam o futuro da jovem Força ainda estavam sob o efeito dos traumas gerados na Marinha e no Exército, relativos à perda da aviação para o Ministério da Aeronáutica. E, eles mesmos estavam envolvidos nessa polêmica. De fato, a abstração necessária para uma real compreensão do Poder Aéreo como o imaginavam Douhet e Seversky ainda não era uma prática no Brasil. É como se hoje falássemos sobre a criação de uma Força Espacial – soa como um devaneio para nós (ainda que já seja tema de debate nas Academias dos Estados Unidos). Mas a Marinha e o Exército sabiam exatamente para que queriam o avião e não aceitaram com facilidade a perda desse componente indispensável. A reação foi tão grande que, na Marinha, os aviadores navais que optaram passar para o novo Ministério eram considerados “traidores”. Talvez ela sentisse mais a perda da sua aviação por ter, quem sabe,
maior compreensão do enorme potencial em que se constituía o avião. De fato, quem opera num ambiente em que as ameaças podem vir de baixo (submarino), da superfície (navios) e do ar (os aviões) e não tem como se defender da mais rápida e difícil delas, deve passar por uma sensação de insegurança muito forte. Quem Brigadeiro-do-Ar possuísse aviões embarcados Delano Teixeira Menezes tinha uma grande vantagem sobre a esquadra inimiga, pois Comandante da Segunda não havia, naquela época, a Força Aérea possibilidade de aviões baseados em terra alcançarem uma força naval em alto mar. Portanto, o avião embarcado era um elemento indispensável à manutenção da integridade dessa força, para que ela pudesse cumprir o seu papel. Por ironia, na mesma época em que a Marinha perdia os seus aviões, as grandes batalhas aeronavais do Pacífico, entre os japoneses e os americanos, demonstraram, na prática, a importância de uma aviação exclusivamente naval, e este fato exasperava ainda mais os Almirantes que tinham a US Navy como um paradigma. Por outro lado, para o Exército, o avião não se constituía mais do que um posto de observação elevado, capaz de facilitar a orientação dos tiros da Artilharia, ou a movimentação das tropas inimigas - tanto que o Observador Aéreo era mais importante que o próprio aviador. O Ministério da Aeronáutica, recém-formado, nascia, então, com três enormes desafios: acolher todos os recursos aeronáuticos dispersos pelo país, atender a todas as necessidades de apoio aéreo da Marinha e do Exército e, ainda, buscar os caminhos para tornarse uma Força Aérea na acepção da palavra.
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Quanto ao apoio às forças de superfície, atuava com um especial zelo, como que para validar a sua existência. Foram ativados o Comando Aerotático Terrestre (CATTER) e o Comando Aerotático Naval (CATNAV) quando ainda nem se falava num Comando de Defesa Aérea. A noção do grande papel da Aeronáutica (Força Aérea) como um componente militar independente, com função definida na defesa do país, era atenuada pelas acaloradas discussões sobre a posse dos meios aéreos, incluindo a partilha de todos os outros “bens” ligados à aviação. O primeiro desafio tinha correlação, par-
ticularmente, com a participação do militar na sociedade, onde representava o papel de um elemento catalisador para a consolidação da presença do Estado nos mais afastados rincões do território nacional. O avião era um instrumento valioso para a integração de um país continente com poucas estradas, e o estado precisava direcionar o desenvolvimento da aviação de acordo com as grandes estratégias nacionais. Na verdade, não havia ainda uma referência internacional consolidada, e nem uma vocação empresarial que indicasse o caminho pelo qual deveria ser orientado aquele novo meio de transporte que rapidamente se desenvolvia. Foi pensado, talvez, em usar o senso de organização dos militares para criar uma estrutura ordenada e, porque não, nacionalis-
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ta, da aviação como um todo, no seu nascedouro. A grande reação das Forças que perderam a aviação e o próprio desconhecimento, ou desinteresse do estamento político do país pelas questões estratégico-militares, aliadas à necessidade política de integrar o país que sofria pressões externas decorrentes da Segunda Guerra Mundial, podem ter forçado a concepção de um ministério que açambarcasse todas as funções aeronáuticas, adiando a polêmica da criação de uma verdadeira força aérea para outra época. Isto é, usou-se um rol de utilidade para a aviação com o sentido de abafar uma polêmica que a cultura do momento não tinha condições de resolver, ou a nação não possuía os recursos para dar os meios necessários à constituição e manutenção de uma Força Aérea na acepção da palavra. E aí começou a se fortalecer um conceito do “poder aéreo uno e indivisível”. Um conceito de “poder aéreo único e indivisível” equivocado permeou, então, o pensamento dos militares do Ministério da Aeronáutica e passou a ser o argumento mais forte para justificar uma série de posturas que os afastavam cada vez mais do que deveria ser uma Força Aérea. A partir desse conceito mal interpretado, tudo o que voava deveria ser da Força Aérea - se militar, ou controlado pelo Ministério da Aeronáutica - se civil. Esse “guarda-chuva” passou a ser, sistematicamente, o argumento para justificar o desmonte de qualquer pretensão, de quem quer que fosse, em possuir aviões para emprego militar. Dava o monopólio do avião, no âmbito estatal, ao novo Ministério. Por exemplo, até bem pouco tempo, as argumentações que vinham sendo usadas para sustentar a necessidade da Força Aérea pos-
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suir aeronaves de patrulha invadiam constantemente o campo do Poder Naval. Elas eram colhidas na área de atuação da Marinha. Os interlocutores da matéria ainda têm dificuldade de inserir a patrulha marítima dentro do conceito do poder aéreo. O mesmo não ocorre quando nos referimos à necessidade de possuirmos aeronaves para atuarem dentro de um TO terrestre. Talvez porque nestes os alvos são quase todos fixos e mais fáceis de serem encontrados, além da existência natural de obstáculos que brindam o piloto com o elemento surpresa quase que até a hora do ataque, ao passo que sobre o mar não existem referências e os alvos, em sua maioria, são móveis e têm a capacidade de captar o avião a maior distância, por isso são menos atrativos na avaliação de um aviador. Nos dias atuais, o conceito do “poder aéreo uno”, como era imaginado, vai perdendo consistência, à medida que as instituições e suas atribuições vão se tornando mais abrangentes e complexas. Já há uma percepção de que a sua existência não implica necessariamente o controle direto dos meios aéreos, ou não se admitiria que a Polícia Federal, por exemplo, possuísse aviões e helicópteros, ou as Polícias Militares. Se isso já é um fato e, nem por isso o poder aéreo está abalado, por que não admitir que a Marinha e o Exército também possuam os meios aéreos necessários para as suas atividades administrativas e de ligação? No ramo civil do novo Ministério se justificava a ingerência na incipiente atividade aeronáutica civil do país como forma de regulála. Mas também, dentro da mesma interpretação ambígua do Poder Aéreo, pensava-se que manter a Aviação Civil sob o controle militar seria melhor para usá-la com mais facilidade no caso de uma necessidade militar em que os meios da Aeronáutica não fossem suficientes. Quando, na verdade, em uma nação em guer-
ra é lícito mobilizar-se todos os meios, de qualquer ordem, para defendê-la, não dependendo de que estejam inseridos nesse ou naquele Ministério. No lado militar, a ausência de uma Política Nacional consistente para o setor fazia, e faz ainda, com que cada Força Armada formulasse a sua própria estratégia e estabelecesse o seu modo de atuação. Esta falta de coordenação faz com que haja superposição de funções e concepções, muitas vezes desencontradas, para uma mesma ação. Num país com recursos sempre limitados para a defesa, trata-se de um luxo inaceitável. Mais grave que as concepções conflitantes é a incomunicabilidade entre as três Forças. Existe mais um sentimento de competição do que de interação. Parece que cada uma quer mostrar ser mais especial do que a outra, quando, na verdade, nenhuma delas teria a capacidade de sobreexistir sem a integração com as demais, ou com parcelas das funções de cada uma. O Exército teria pouca agilidade no terreno e estaria muito vulnerável se não pudesse contar com aeronaves e barcos. A Marinha seria incompleta se não pudesse contar com aviões embarcados para proteger-se. Nesse contexto, excepcionalmente, a Força Aérea é a única capaz de atuar com “Nos dias atuais, o cono seu componente estratégico e decidir um conflito ceito do “poder aéreo uno”, sem precisar de nenhuma c o m o e r a i m a g i n a d o , v a i outra plataforma que não o p e r d e n d o c o n s i s t ê n c i a , à avião, ainda que isso tenha medida que as instituições e gerado acalorados debates. suas atribuições vão se torMas se cada força detives- nando mais abrangentes e se sob seu comando todos complexas.” os meios de que necessita para cumprir sua função, os recursos para a defesa seriam exorbitantes. No caso do nosso país, a função principal de cada Força poderia ser penalizada porque as despesas com defesa, mesmo num cenário otimista, tendem a se
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manter inalteradas. Na verdade, hoje já existe um forum adequado para esse tipo de debate, que é o Ministério da Defesa, a quem caberá ordenar essas questões. E, de fato, não cabe à Força Aérea arrogar a si a exclusividade de opinar sobre tema tão importante quanto polêmico. Mesmo porque o próprio monopólio estatal que o Ministério da Aeronáutica detinha, quanto ao uso do avião, e que sustentava a teoria do “Poder Aéreo único e indivisível”, já foi quebrado há muito tempo, ainda que esteja cada vez mais revigorado o conceito do seu emprego de forma unificada. No fundo, a questão gira em torno do uso do avião, vetor indispensável para a operação de cada Força Armada. Nenhuma Força que atua na superfície terá liberdade de ação se a superioridade aérea não estiver assegurada. A busca dessa superioridade aérea é por natureza conflitante com os desejos dos comandantes das forças de superfície, porque, com frequência, eles confundem proximidade com segurança. Quer dizer, eles tendem a querer o avião próximo de si para ter a certeza de não serem ameaçados pelo ar, e com isso trazem o avião para o campo tático, quando a aviação
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é, por essência, uma arma estratégica. Um Comandante de Força Aérea visualiza a guerra de uma forma abrangente, ele a imagina na sua totalidade, o seu pensamento é diferente dos comandantes das forças que atuam na superfície, que a vêem de uma maneira sequencial e restrita a um espaço físico e temporal. E, por isso, a soberania do espaço aéreo é função da Força Aérea onde for necessário. Nesse aspecto, o conflito com a Marinha permanece, o que não acontece com o Exército, uma vez que onde ele estiver a Força Aérea deverá ser capaz de assegurar a superioridade aérea. No caso da Marinha, em situações em que a Esquadra esteja fora da cobertura radar do SISDABRA, a Força Aérea poderá não ter capacidade de prover essa superioridade sem meios aerotransportados de detecção. Ainda que essa impossibilidade esteja ligada mais ao tempo de reação, no caso de um ataque aéreo à Esquadra em alto mar, do que à possibilidade de alcançar a área de operação. Nos estritos limites do campo tático, nos combates que tipificam as ações independentes de cada Força, é justificado que ela detenha sob o seu controle operacional e logístico os meios de que necessita, porque a agilidade necessária em uma batalha depende de um controle efetivo de todos os meios que possam ser aplicados. Além disso, existe toda uma cultura, uma compreensão do ambiente de atuação que molda o comportamento dos homens da cada Força. O comandante de uma força terrestre sempre estará procurando conquistar o ponto mais elevado do terreno na busca do domínio das iniciativas por ser capaz de vislumbrar os movimentos do inimigo. Esse princípio foi, ao longo dos tempos, se tornando cada vez mais difícil de
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ser conseguido, pela amplitude das frentes de combate e pela grande mobilidade que os exércitos modernos têm alcançado. Dessa maneira, mesmo que a Força Aérea possa dar liberdade de ação ao Exército, garantindo-lhe a segurança nos céus, ainda assim ele vai precisar de uma plataforma que eleve os olhos do comandante para, no mínimo, orientar a sua artilharia. Essa plataforma deverá estar realmente junto ao comandante e sob a obediência das suas ordens. Por sua vez, ele estará limitando as ações das aeronaves a uma determinada cena cujo desenrolar deve atender aos interesses da manobra da força terrestre na batalha que disputa. Já no campo operacional, um pouco mais além do tático, há uma função bem definida para a Força Aérea. São as missões que costumamos chamar de aerotáticas, ou de interdição do Teatro de Operações. São as ações que a Força Aérea é capaz de realizar isoladamente e que contribuem para o sucesso da campanha da força de superfície. Num sentido mais limitado pode-se dizer que, ainda assim, a Força Aérea está atuando com a sua característica estratégica, porque, tirando as missões de apoio aéreo aproximado, todas as outras terão um sentido estratégico para a força de superfície. Isso tanto é válido no âmbito terrestre como no marítimo. Respeitando o volume de atuação da cada força em uma batalha, vale dizer que tudo aquilo que o avião for capaz de resolver sozinho é função da Força Aérea. Por isso, em cada segmento do Teatro de Operações existirá uma FATOT ou FATOM, as quais, mesmo atendendo às estratégias dos respectivos comandantes de TO, estarão cumprindo funções de Força Aérea. Mesmo que possa ser concebível, a Força Aérea sozinha não pode acalentar a pretensão de pensar que poderá anular todas as ameaças em um TO, ou decidir um conflito sozinha, ainda que hoje isso possa ser possível.
O mais importante para os pensadores do emprego do Poder Aéreo de nosso país, e para todos os demais que queiram debater abertamente e sem paixões o uso do avião para fins militares, é que tenham em mente que tudo aquilo que o avião for capaz de realizar sozinho, sem o recorrente apoio ou complementação de qualquer das forças de superfície, é função de Força Aérea. E quanto mais precisos vão se tornando os armamentos aéreos, mais realce assume esse conceito e mais estratégico se torna o emprego do Poder Aéreo no sentido amplo da palavra, somado a um profundo poder político. Entretanto, o debate quanto ao uso de aviões por todas as Forças Armadas persistirá enquanto a percepção do emprego do poder militar estiver constrito a concepções estratégicas ultrapassadas e unilaterais. Sem uma concepção atualizada, muitos são levados a pensar, por exemplo, que o avião de patrulha marítima não precisaria, necessariamente, ser da Força Aérea, porque estaria cumprindo missões somente em proveito do Comandante do Teatro de Operações Marítimas. Contidos no mesmo raciocínio, poderíamos deduzir que os aviões “...o debate quanto ao uso de avide ataque ou de ões por todas as Forças Armadas persisreconhecimen- tirá enquanto a percepção do emprego to que com- do poder militar estiver constrito a conpõem uma cepções estratégicas ultrapassadas e uniFATOT deveri- laterais.” am pertencer ao Exército. Talvez a analogia mais correta seja a de que a função “estratégica” que a aviação de caça-bombardeio realiza no Teatro de Operações Terrestre interditando uma determinada área ao inimigo ou cortando-lhe as linhas de suprimento, corresponde ao que um avião anti-submarino realiza num Teatro de Operações Marítimo, provendo segurança à saída dos navios de um porto ou interditando uma de-
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terminada área à presença de submarinos inimigos, para que a Esquadra amiga tenha maior liberdade. Hoje uma aeronave com capacidade anti-submarino é capaz de, sozinha, localizá-lo, cercá-lo e destruí-lo. A importância da presença da Força Aérea dentro de cada Teatro de Operações deve ser vista da mesma maneira. Cada vez mais, a idéia da destruição total de um estado inimigo vai sendo atenuada. Desde o término da Segunda Guerra nenhum conflito foi consumado com essa intenção. O fim da Guerra Fria, com o desmonte do poderio militar soviético, consolidou mais ainda essa nova doutrina. O Poder Militar deixou de ser usado como um instrumento de conquista para os estados modernos e passou a ser um anteparo de posições políticas. Mesmo os Estados Unidos, que fazem do uso da força um instrumento da sua política externa, já não a aplicam com interesses de conquista. Dessa forma, a mobilização de nações inteiras para a guerra é coisa do passado. Elas estarão sendo travadas em espaços físico, temporal e político cada vez mais limitados, com objetivos específicos que tendem a estabelecer uma correlação entre o poder da força a ser empregada e a importância dos objetivos a serem atingidos, visando enfraquecer a vontade do adversário sem esmagá-lo. Mas se considerarmos como exceção o caso do Iraque, podemos dizer que Saddam Hussein estava preparado e lutou uma guerra ultrapassada, contra uma coalisão de nações que, ensaiando uma guerra do futuro, materializaram a visão do italiano Douhet: pela primeira vez uma guerra é ga-
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nha somente com a arma aérea. Claramente pode-se constatar que, para atuar com precisão num espaço limitado, somente a Força Aérea é capaz de infligir os danos exatos ao inimigo com os menores efeitos colaterais. A situação vigente no mundo de hoje está mais para a teoria de Lidell Hart de que “a perfeição da estratégia constituiria em provocar uma decisão sem combate sério”, do que para o princípio da “guerra absoluta” de Clausewitz na sua busca obstinada da batalha - dos choques de massa. Atualmente, quem possuir a maior capaci© Action Editora dade estratégica terá as melhores condições de não ser envolvido num conflito sério. E esta estratégia inclui grande mobilidade e capacidade de reação rápida, sendo a Força Aérea a que melhor associa estas características. Entretanto, a todo conflito antecede uma crise, e, nesse caso, os movimentos de uma Armada com relativo poder podem contribuir para que uma crise não passe disso. Mas o fator que se torna cada vez mais decisivo é a interoperabilidade das três Forças Armadas - a capacidade de operarem juntas num Teatro cada vez mais limitado, de maneiras que os seus vetores atuem coordenadamente em prol dos objetivos maiores que estiverem em jogo. Mesmo assim, o avião, operado por qualquer das forças, só representará o Poder Aéreo da Nação se empregado de maneira unificada e estiver cumprindo a sua função estratégica de ser decisivo para o desfecho de uma guerra.
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O Poder Aéreo e as Operações Psicológicas Narcelio Ramos Ribeiro, Ten.-Cel.-Av. - COMGAR
“A RESISTÊNCIA DO INIMIGO NA GUERRA É PRODUTO DE DOIS FATORES: A EXTENSÃO DOS MEIOS DE QUE DISPÕE E A FIRMEZA DE SUA VONTADE”[1]. “A chave de toda guerra é um fator amorfo e amplamente não-quantificável conhecido como “vontade nacional”. que ocupa o lugar central no esquema, porque é o aspecto mais crucial no país em guerra. No seu sentido mais básico, a guerra é psicológica. Assim, no sentido mais amplo, a vontade nacional é sempre o Centro de Gravidade fundamental (quando “o país” decide que perdeu a guerra, então, e só então, a guerra está verdadeiramente perdida)” [2]. O desafio óbvio para os estrategistas é determinar como despedaçar ou, pelo menos, fraturar essa vontade coletiva. O Poder Aéreo, por atuar na terceira dimensão, pode ser empregado para afetar todo e qualquer tipo de centro de gravidade. No entanto, a vontade de lutar de um inimigo é um agregado de fatores diferentes, e não tem forma física. A questão portanto é: como, onde, quando e contra quais alvos empregar a arma aérea, para diminuir ou fragmentar a vontade de lutar do oponente. Nesse sentido, as operações psicológicas, enquanto ciência ou atividade, concorrem decisivamente para a compreensão, exploração e a seleção de alvos que afetam a vontade de lutar de um grupo ou nação. Este artigo se propõe analisar sucintamente a utilização das operações psicológicas, para aumentar a eficiência da arma aérea. Iniciará fazendo considerações sobre a natureza dos centros de gravidade, em seguida, abordará a vocação estratégica do poder aéreo, e, por último, fará um sumário sobre a importância da utilização das operações psicológicas
nessa dimensão da guerra. Toda essa abordagem, para ser efetiva, necessita, inicialmente, do entendimento mais amplo do conceito de centro de gravidade.
A Natureza dos Centros de Gravidades “A estratégia de guerra é impor ao inimigo nossa própria vontade, destruindo sua vontade ou sua capacidade de resistir” [3] . Dificilmente a vontade de lutar de um grupo ou O Tenente Coronel Narcelio nação pode ser atingida di- Ramos Ribeiro é piloto de paretamente por armamentos. trulha, concluiu o CFOAv em A estratégia, portanto, con- 1980 e exerce atualmente a siste em atacar alvos que função de chefe do Centro de Eletrônica do degradem mais rapidamen- Guerra te essa determinação do COMGAR. Possui curso de Guerra Eletrônica na Inglateroponente. Esses alvos são consi- ra (“Electronic Warfare derados centros de gravida- Directors”) e pós-graduação de e variam de um conflito em Planejamento Estratégico para outro e ao longo da e Qualidade Total pela duração de um mesmo con- AEUDF (Brasília). O Ten.- Cel. flito. Eles podem ser de na- Narcelio tem trabalhos publitureza econômica, social, cados nas revistas da UNIFA política ou militar e sua im- e O Patrulheiro. portância depende de fatores como geografia, nacionalismo, religião, cultura, nível de dependência das tecnologias e da infra-estrutura, tipo de liderança, ideologia ou outros fatores motivacionais e de união do grupo ou nação. Deve-se considerar que as sociedades comportam-se como organismos vivos que reagem sistemicamente a qualquer estímulo. Dessa forma, ataques a alvos físicos, adequadamente escolhidos, podem causar efeitos psicológicos negativos e abre-
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viar a desistência do oponente. Isso significa atuar no campo de batalha para modificar o estado de homeostase do oponente, levando-o a uma entropia total. Há, ainda, que considerar que ataques a centros de gravidade podem ter efeitos em ambos participantes e em grupos ou estados-nações não-participantes e que o ataque a alvos inadequados pode causar efeitos psicológicos adversos. Na guerra contra o Afeganistão, os soviéticos empregaram a estratégia da “terra arrasada”. Destruíram praticamente todas as cidades, mas não conseguiram fragmentar a vontade de lutar do povo daquele país, não obtiveram vitória nem sucesso naquele confronto. Portanto o problema é complexo e exige conhecimentos de várias disciplinas (antropologia, sociologia, psicologia, história, etc.) e, principalmente, do perfeito entendimento da aplicação estratégica do poder aéreo.
A Vocação Estratégica do Poder Aéreo Dizem que determinadas habilidades vocacionais vêm de berço. Se é assim, pode-se afirmar que a vocação estratégica do poder aéreo é inata. Esse tem sido o entendimento dos teóricos e pragmáticos da arma aérea: o General Giulio Douhet, e Alexandre P. Seversky, influeciados pelo nascimento da arma aérea e pela matança durante a Primeira Guerra Mundial, teorizaram a aplicação do poder aéreo diretamente contra a população, como forma de dilacerar a vontade de lutar do oponente (a Força Aérea Alemã aplicou
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esse conceito durante a Batalha da Inglaterra com resultado adverso); Sir Hugh Trinchard e Gen. Billy Mitchell desenvolveram idéias que orientavam a arma aérea contra a infra-estrutura industrial (viviam o apogeu da revolução industrial e os países envolvidos eram muito dependentes dessa nova forma de produção) e aplicaram-na com sucesso na Segunda Guerra Mundial; John Warden, em 1986, emitiu o conceito dos cinco anéis, aplicado na Guerra do Golfo, que comprovou a força estratégica do poder aéreo. As guerras têm provado que a arma aérea, quando aplicada estrategicamente, é capaz de atuar contra qualquer tipo de alvo (político, econômico, industrial, social, etc.) e obter efeitos devastadores e mais imediatos na vontade de lutar do oponente. Essa capacidade de afetar a vontade de lutar inimiga também pode ser obtida pela arma naval e terrestre, porém com certas restrições e num tempo mais longo. A maneira clássica de aplicar o poder naval para afetar a vontade de lutar de um grupo ou nação é realizando o bloqueio marítimo (negação do mar ao inimigo). Essa ação é conduzida contra alvos de natureza econômica e, sozinha,
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pode não ser suficiente para fragmentar a vontade de lutar do oponente. Tradicionalmente, os exércitos têm sido utilizados contra alvos de natureza militar e para ocupação do terreno. Isso pode representar restrições para empregar a arma terrestre em determinadas situações ou geografia para degradar a vontade de lutar do inimigo. A arma aérea é fundamentalmente diferente tanto da terrestre quanto da marítima. Ela pode ser empregada contra vários tipos de alvos, em ambientes geográficos diferentes e afetar, quase que diretamente, a vontade de lutar do oponente. Mesmo em cenários como o amazônico, contra uma força paramilitar ou convencional, em operações clássicas ou de resitência é possível utilizar estrategicamente o poder aéreo, sem, contudo, negligenciar o apoio às forças de superfície. Esse enfoque estratégico do poder aéreo às vezes é colocado em segundo plano. Isso acontece com mais freqüência em duas situações: quando os aeronautas colocam a superioridade aérea como um fim em si mesmo (ela é um estado desejável e não um dogma impregnado de autofagia); e quando a arma aérea é empregada exclusivamente para apoio às armas de superfície. Em ambos os casos, os efeitos obtidos com a aplicação dessa dimensão da guerra ficam aquém do que ela pode causar. Há que se considerar que o eficiente emprego estratégico da arma aérea depende de processos extremamente complexos como a escolha de centros de gravidade e a manipulação de comportamentos para assegurar apoio à campanha e abreviar a fragmentação da vontade d e lutar do oponente. Esses desafios tornam-se mais fáceis, quando a estratégia aérea é
conduzida com o apoio das operações psicológicas.
As Operações Psicológicas na Estratégia Aérea “A destruição de conjuntos de alvos não é automaticamente equivalente à vitória. Fatores intangíveis como cultura, religião e nacionalismo, entre outros, são muito importantes, pois só eles estabelecem a efetiva conexão entre alvos e vitória” [4]. A condução das atividades de operações psicológicas é fundamentada em estudo de caso dos fatores culturais, antropológicos, históricos, geográficos, sociológicos, religiosos e motivacionais (nacionalis“A destruição de conmo, ideologia, dinheiro, juntos de alvos não é autoetc) da nação ou grupo obmaticamente equivalente à jeto do trabalho. Esses esvitória. Fatores intangíveis tudos podem fornecer a cocomo cultura, religião e nanexão necessária para associonalismo, entre outros, ciar centros de gravidade à são muito importantes, pois vitória. só eles estabelecem a efeDessa forma, pode-se tiva conexão entre alvos e deduzir que, para aumentar vitória” a probabilidade de sucesso do emprego estratégico do poder aéreo, as operações psicológicas contribuem de duas maneiras: a)fornecem o conhecimento e a fundamentação sobre os fatores intangíveis de que o estrategista precisa para selecionar e priorizar alvos que fragmentem mais rapidamente a vontade de lutar do oponente; e b)“influenciam as emoções, motivações, razões e até mesmo comportamentos de governos, organizações, grupos e indivíduos, com o propósito de induzir ou reforçar atitudes e comportamentos, de modo a contribuir para a vitória e o sucesso da Força e, em especial, da
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execução das operações aeroestratégica” [5]. Nota-se, dessa forma, que o emprego da arma aérea, para atingir centros de gravidade que degradem mais rapidamente a vontade de lutar do oponente, requer a concorrência das operações psicológicas. Os exércitos, por serem forças de ocupação, utilizam também as operações psicológicas para minimizar a rejeição pela população do terreno ocupado. É importante considerar que o conceito de emprego estratégico do poder aéreo utilizado neste artigo corresponde à visão contemporânea dessa dimensão da guerra e pode ser aplicado em qualquer tipo de conflito. Este artigo procurou mostrar a importância das operações psicológicas para o emprego estratégico do poder aéreo. Com esse enfoque, foi realizada uma breve análise sobre a natureza e a complexidade dos processos de seleção e escolha de centros de gravidade. Em seguida, foram feitas considerações a respeito da vocação estratégica da arma aérea e, por último, deduziu-se a importância das operações psicológicas para essa dimensão da guerra. Conclui-se, portanto, que o emprego es-
tratégico do poder aéreo, apoiado pelas operações psicológicas, é uma maneira eficiente de aumentar a probabilidade de vitória e sucesso na guerra.
Referências [1] CLAUSEWITZ, Carl Von. “Da Guerra”. P. 11, 2Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. [2] MEILINGER, Phillip S.. “Estratégia Aérea”. Airpower Journal,Edição Brasileira, Segundo Trimestre 2000. [3] Ibid [4] KEEGAN, John. “The History of Warfare”. New York: Knopf, 1993. [5] BRASIL, Ministério da Aeronaútica, Comando-Geral do Ar. “Comando e Contrle na Guerra”. Brasília: 17 mar. 2000. (MMA 500-3)
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A Otimização do Planejamento da Atividade Aérea Antônio Carlos Cruz Assumpção, Cel.-Av. - EMAER Tomaz Gustavo Maciel de Lima, Maj.-Int. - EMAER Paulo Cesar Guerreiro da Costa, Maj.-Av. - EMAER
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despertar deste terceiro milênio en controu um cenário de grandes transformações em vários setores de nossa sociedade. De fato, é necessário apenas um pequeno exercício de observação para que possamos constatar que o Brasil em geral e a Aeronáutica em particular passam por um período de radicais mudanças em diversos aspectos. Nesse panorama, vem-se tornando cada vez mais evidente no âmbito do Comando da Aeronáutica a preocupação por uma melhor compreensão e adequação dos processos organizacionais aos níveis orçamentários cada vez mais reduzidos, mercê das grandes despesas públicas internas e externas do país. Não menos relevante está o compromisso com a aplicação dos recursos humanos neste contexto de restrições de toda ordem. Uma das consequências diretas desse direcionamento foi a constatação da necessidade de otimização de nossos processos de planejamento e controle. Mais especificamente, vemos que existe uma carência de ferramentas computacionais e de adequação dos procedimentos voltados para esses processos. Uma das áreas onde esta lacuna se faz mais sentida é no planejamento global da atividade aérea na FAB. Segundo a DMA 14-5 – Política da Aeronáutica – o primeiro objetivo do Comando da Aeronáutica é o “Fortalecimento e aprimoramento da capacidade operacional da Força Aérea Brasileira para o cumprimento de sua missão”. Para atingir essa meta, devemos ser capazes de, primeiramente, identificar os processos e estabelecer os parâmetros que mensurem o grau de sucesso atingido ou, em outras palavras, a efetividade na tarefa de fortalecer e aprimorar a capacidade operacional da Força. Na frieza do papel, os adjetivos acima apenas agregam subjetividade ao problema. Afinal, como saber o quão forte e aprimorada está a Força? Uma ferramenta sistêmica
voltada para este fim deve ter, como um dos critérios críticos, a redução dos níveis de subjetividade e de imprecisão na obtenção de tais indicadores. Em contrapartida a esses óbices, os avanços tecnológicos em ferramentas voltadas para o gerenciamento e tratamento da incerteza, ao apoio à decisão e aos O Coronel Aviador Antônio Carlos Cruz Assumpção é piloto de algoritmos de fusão de dados, transporte aeroterrestre, logístico e somados à excelência de nos- reabastecimento em vôo, concluiu o CFOAv em 1978 e serve so setor científico, são aliados atualmente na 3ª Subchefia do vitais na incessante busca pela EMAER. Possui cursos de Inspetor de Vôo e Padronização de melhoria do desempenho Instrutores de Vôo. organizacional. Mais à frente, O Major Paulo Cesar Guerreiro da apresentaremos algumas das Costa é piloto de caça, concluiu o possibilidades dessas ferra- CFOAv em 1986 e serve atualmente na 3ª Subchefia do EMAER. Possui mentas no contexto do plane- cursos de Guerra Eletrônica no Brasil e na Inglaterra, mestrado em jamento da atividade aérea.
Decidir e planejar
Engenharia de Sistemas e especialização em C3I pela George Mason University (EUA).
Com uma certa constân- O Major Tomaz Gustavo Maciel de cia, somos confrontados com Lima concluiu o CFOInt em 1981 e serve atualmente na 3ª Subchefia do conceitos aparentemente tão EMAER. Possui cursos de Pósóbvios, que acabamos por não Graduação em Informática na Universidade Católica de Brasília e abstrair tudo que poderíamos Projeto de Sistemas de Informação deles. Um desses conceitos é pelo Royal Military College of Science (ING). o processo decisório com múltiplos critérios ou, em outras palavras, o exercício de comparar coisas distintas e tomar decisões com base nesta comparação. Decisões deste tipo são baseadas na importância que atribuímos a cada fator considerado, tendo em vista uma escala de valores normalmente pré-determinada. Num exemplo do cotidiano, ao optarmos por cancelar os gastos com as aulas de natação do filho em prol do um curso de inglês para a esposa, o fazemos por julgar que esta opção é a melhor em função dos nossos objetivos familiares. Conscientemente ou não, um bom planejador doméstico irá procurar manter a
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consistência com estes objetivos em futuras decisões, evitando, dentre outros males, opções que sejam incoerentes com a linha de raciocínio previamente estabelecida (e.g. evitar o erro do tipo “dois pesos, duas medidas”). Em suma, o processo decisório, mesmo em níveis mais simples, consiste no estabelecimento de objetivos a serem atingidos, na valoração das opções disponíveis de acordo com estes objetivos e, finalmente, na escolha da opção que agrega mais valor à meta de cumprir os objetivos traçados. Em busca de capacitar operacionalmente a Força Aérea Brasileira, a atividade aérea é indiscutivelmente o veículo principal que nos levará ao sucesso, sendo o seu planejamento uma das ferramentas essenciais na condução desse veículo. Planejar, dentre outras coisas, é decidir sobre o futuro. Analisando os conceitos aparentemente óbvios citados acima, vemos que sua correta aplicação é a melhor forma de se atingir os objetivos propostos, sendo essa uma das ambições contidas na proposição do Sistema de Gerenciamento de Padrões Operacionais (SISGPO).
O Planejamento da Atividade Aérea O SISGPO procura aplicar os avanços tecnológicos já citados a uma estrutura sistêmica capaz de, através de indicadores consistentes da atividade aérea, produzir padrões duradouros de excelência que sirvam como parâmetros básicos ao planejamento e controle dessa atividade. O fluxo de dados de tal ferramenta está ilustrado na figura 1. O primeiro passo é a coleta dos indicadores da atividade aérea executada nos vários Esquadrões da FAB, formando um banco de dados da área operacional. Estes indicadores, ainda em estado “bruto”, ou seja, ainda desprovidos de um significado claro o suficiente para uma análise mais acurada, passam por uma modelagem matemática que os transfor-
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Figura 1 - Concepção do Sistema
ma em parâmetros representativos da realidade de uma determinada UAe. Finalmente, esses dados tratados passam por um processo de fusão, que nos permite verificar o comportamento dinâmico da estrutura como um todo, ou seja, podemos inferir como pequenas alterações em uma parte (e.g. uma UAe) alteram a capacitação da FAB como um todo. Esse processo foi utilizado na confecção de um protótipo da ferramenta, cujo detalhamento mostramos a seguir.
Modelagem matemática O modelamento matemático tem como principal função transformar os dados brutos provenientes das Unidades Aéreas em indicadores que definam a capacitação operacional das mesmas e o seu respectivo custo agregado. Nessa fase, deve-se ter em mente um compromisso entre o grau de precisão a ser atingido e a (desejável) simplificação do sistema. Um número excessivo de variáveis pode resultar
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num modelo preciso porém pesado ao ponto de ser computacionalmente inviável, ao passo que poucas variáveis podem tornar o modelo impreciso ao ponto de não corresponder às funções que dele se esperam. Neste protótipo inicial, modelamos a atividade aérea no 1º/16º GAv, onde o termo capacitação operacional foi entendido como a conjugação de três parâmetros: capacitação das equipagens, capacitação dos equipamentos e adequação das equipagens. O primeiro refere-se à quantidade de treinamento especializado oferecido às equipagens de uma UAe para o cumprimento de sua missão. Em outras palavras, esse parâmetro reflete o quão treinados estão os tripulantes daquele Esquadrão. O segundo indicador, capacitação dos equipamentos, refere-se ao grau de adequação dos recursos de cada UAe para o cumprimento de sua respectiva missão, em termos de quantidade de aeronaves. A título de exemplo, esse indicador permite verificar se o número de aeronaves do 1o/16o GAv é suficiente para o cumprimento da missão atribuída àquele Esquadrão e, ainda, o grau de adequação das aeronaves e de seu respectivo armamento associado. Cabe ressaltar que, apesar da ênfase no número de aeronaves (parâmetro quantitativo), a qualidade das aeronaves está implicitamente modelada, uma vez que um maior grau de adequação de um determinado tipo de aeronave para o cumprimento da missão de uma UAe implicaria uma menor quantidade destas para satisfazer os parâmetros de eficiência exigidos para aquela UAe. Finalmente, o terceiro indicador, adequação das equipagens, refere-se primariamente ao número de equipagens de cada UAe requerido para o cumprimento de sua respectiva missão. No exemplo, este indicador permite verificar se o número de equipagens do 1o/16o GAv
é adequado para o cumprimento da missão atribuída àquele Esquadrão. Neste estudo, dados brutos são considerados como as variáveis que definem o “estado do sistema” em relação à atividade aérea para cada UAe. O conjunto dessas variáveis constitui informação necessária e suficiente para, através de um modelamento matemático, definir a capacitação atual de uma Unidade. Como exemplo de dados brutos poderíamos citar o número de aeronaves, o quantitativo de horas de vôo alocadas, o custo da hora de vôo, etc. A Figura 2 ilustra a correlação entre estes conceitos.
Figura 2 - Conceituação inicial
Uma vez definidos estes três parâmetros iniciais, passamos então a definir quais são as variáveis necessárias para se mensurar cada parâmetro em particular. Na realidade, o maior desafio desta fase é a definição das funções matemáticas que traduzirão a correlação entre os dados brutos (variáveis) e os indicadores de cada um dos parâmetros levantados. Em geral, estas funções serão comuns à maioria dos modelos (i.e. à maioria das Unidades), porém certamente haverá casos onde determinada função pode não se aplicar a algumas Unidades. Num exemplo trivial, dentre
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as funções que modelam a capacitação dos equipamentos do 1o/16o GAv, existe uma que considera a quantidade de armamento disponível, algo que não seria pertinente num eventual modelo da atividade aérea no GTE (Grupo de Transporte Especial), uma vez que a missão típica daquele Grupo não prevê o emprego de armamento. Considerando-se o modelo como sendo uma “caixa preta”, iremos perceber que ele estará recebendo dados relativos ao treinamento das equipagens (e.g. horas de vôo alocadas, tipos de missão, fases, etc.) e, em sua saída, deveremos obter uma variável indicativa da capacitação das equipagens e o respectivo custo agregado. Seguindo a metodologia acima preconizada, a modelagem do 1o/16o GAv efetuada no protótipo relacionou as variáveis de entrada pertinentes à pergunta-chave: “Quão treinados estão os pilotos deste Esquadrão?”. Como peculiariadade da aviação de caça, podemos considerar equipagens como sendo apenas os pilotos. Nesse contexto, optamos por definir a capacitação dos pilotos como uma função cartesiana, onde o eixo das abcissas seria composto por uma variável única representativa do progresso na atividade aérea, ao passo que no eixo das ordenadas estaria projetada a imagem da capacitação das equipagens em função dessa variável única. A escolha da variável única recaiu sobre o quantitativo de horas voadas por cada piloto, uma vez que esse parâmetro é comum a todas as aviações reflete de forma satisfatória o andamento da atividade aérea e seus respectivos fatores agregados (e.g. custo, adequação, etc). É importante frisar que essa variável não é independente, uma vez que contém implícitos diversos outros parâmetros que norteiam o desenvolvimento da atividade aérea. Em outras palavras, quando dizemos que
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um piloto de A-1 voa “x” horas em um ano, estamos considerando apenas as horas voadas no estrito cumprimento das missões do Programa de Instrução e Manutenção Operacional (PIMO) da respectiva Unidade, às quais estão agregados diversos fatores relevantes como: gastos com combustível, manutenção, armamento, suprimento, etc. Desta feita, o modelo não apenas permite que seja feita a correlação da variável única com a capacitação através de uma função, mas também permite que a saída dessa função possa ser correlacionada com os parâmetros implícitos à variável única. Como exemplo do exposto acima, caso “x” horas de A-1 correspondessem a um índice de capacitação de .45 (45%), as premissas do modelamento acima citadas nos permitiriam afirmar que este mesmo índice (.45) significaria x reais em combustível, y missões de emprego, z bombas lançadas e assim por diante. É interessante notar, ainda, que para atingirmos esse grau de interdependência entre os parâmetros relacionados com a variável única, fazem-se necessárias definições quanto ao PIMO ideal de cada Unidade bem como um pacote mínimo de missões para cada fase daquele programa. Sugere-se que essas definições sejam ditadas pelo órgão na FAB responsável pelo treinamento das equipagens, o Comando-Geral do Ar (COMGAR). Uma vez computados os parâmetros para a variável única, o próximo passo é a definição da função que a transforma em um índice de Capacitação das Equipagens. Essa variável única é notadamente de natureza contínua e possui outros parâmetros agregados, ao passo que a saída da função pode ser tanto mantida contínua como sofrer uma discretização, mantendo a correlação com os parâmetros agregados à variável principal. Assim sendo, pode-se inferir que a função de modelamento é prefe-
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rencialmente contínua. Sob o enfoque desse estudo, um modelo é entendido como uma abstração matemática da realidade de uma atividade, cujo objetivo é proporcionar um melhor entendimento do comportamento dessa atividade em função das variações dos parâmetros de entrada. Desta feita, ao considerarmos o objeto de estudo a ser modelado (a atividade aérea em cumprimento a um PIMO), veremos que ele é o fruto do conjunto de diversas missões com características diferentes. Ao procurarmos na literatura científica uma função que modele atividades complexas, encontraremos a Curva do Aprendizado, também conhecida como “S curve”, Curva Sigmóide ou, ainda, Curva de Logística. A Figura 3 traz a fórmula e um exemplo desta curva.
Figura 3 - “S” Curve
Um maior aprofundamento filosófico mostrará que esta função reflete a distribuição probabilística cumulativa do aprendizado de uma população estatística (como os pilotos de uma UAe) em uma atividade complexa (como uma missão aérea); ao passo que a variável única do modelo proposto deve refletir esta distribuição em um conjunto de diversas atividades complexas. Face ao dilema acima, devemos retornar aos conceitos de estatística e probalidade e
relembrar o Teorema do Limite Central, o qual prova que a soma de várias distribuições probabilísticas, similares ou não, tende rapidamente a uma única distribuição, que conhecemos como curva de Gauss ou distribuição normal. Nesse caso, quanto maior for o número de distribuições somadas, maior a similaridade da distribuição resultante com a distribuição normal. De fato, para a maioria das aplicações, o resultado da soma de 30 ou mais distribuições é considerado como praticamente igual à Normal. Podemos, então, inferir ser filosófica e matematicamente correto considerarmos a Função Cumulativa da distribuição Normal como sendo o resultado da soma de diversas atividades complexas ou, em outras palavras, como a função que reflete o aprendizado na atividade aérea como um todo. É pertinente considerar-se que, para cada tipo de piloto (em formação ou em manutenção operacional) teríamos uma distribuição probabilística refletindo esta capacitação. Desvendada a forma de modelar-se matematicamente o nível de capacitação dos pilotos do 1º/16º GAv., passaríamos a fazer o mesmo para os demais parâmetros, quando, então usaríamos algoritmos de fusão de dados para definir como estes parâmetros interagem de forma a estabelecer a capacitação da Unidade Aérea como um todo. Após efetuados esses passos, teremos um modelo matemático com a habilidade de estimar dados como o reflexo na capacitação do Esquadrão Adelphi se, por exemplo, alocarmos mais R$ 35.000,00 de combustível àquela Unidade ou, ainda, o que aconteceria se tirássemos 3 pilotos do vôo, e assim por diante.
Fusão de Dados e Otimização Uma vez repetido esse processo para cada UAe, teríamos um conjunto de modelos que já se apresenta como um avanço conside-
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rável no sentido de um planejamento mais consistente, uma vez que teríamos como averiguar o efeito de nossas ações num contexto isolado (i.e. em cada UAe isoladamente). Todavia, a força das ferramentas modernas de Inteligência Computacional está justamente na capacidade de utilizar-se dos algoritmos de Fusão de Dados probabilísticos para agregar modelos distintos. Assim sendo, temos ainda a possibilidade de através de ferramentas como uma rede Bayesiana, fundir os dados dos modelos matemáticos de cada Unidade em uma variável que representaria, por exemplo, o comportamento de cada Aviação em particular e, agregando-se as Aviações, o comportamento da Força em geral. Seguindo um processo semelhante ao modelo matemático supracitado, teríamos uma representação que nos permite averiguar os efeitos de mudanças nos parâmetros das diversas unidades em um contexto geral. Temos agora um objetivo rigidamente definido (a capacitação da Força Aérea Brasileira) e um processo capaz de valorar nossas opções em função daquele objetivo (i.e. quanto o investimento em cada Unidade irá afetar o cumprimento do objetivo principal). Entretanto, para fecharmos o ciclo do processo decisório comentado no início deste artigo, falta-nos escolher entre as opções disponíveis, quando então encontramos o óbice da quantidade de opções. Afinal, quantas combinações são possíveis na alocação de determinada quantia entre os diversos Esquadrões da FAB? Qual delas irá obter um melhor retorno? Isso apenas para citar um parâmetro isolado. Felizmente, temos algoritmos que nos permitem relegar ao computador essa tarefa árdua de testar opção por opção até encontrar a que nos forneça um maior retorno a um menor custo, atividade essa que denominamos
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otimização. Intrínsecas à concepção do sistema, residem algumas características altamente desejáveis à melhoria do atual processo de planejamento e controle da atividade aérea. Como exemplo, um grande bônus será a unicidade e consistência de dados, em contraste com os conflitos decorrentes das diversas formas de entradas de dados atuais (quantas vezes as estatísticas do Setor de Operações coincidem com as do Setor de Material ao final do mês?). Com base em dados consistentes, uma rede distribuída e protegida por criptografia permitiria a rápida atualização dos dados da atividade aérea e sua fusão com os provenientes dos demais grandes sistemas da Força, habilitando, assim, um sistema de C 2 a beneficiar desde o nível tático até o estratégico. Uma vez implementada, essa ferramenta traria não apenas as vantagens de prever o comportamento de um Esquadrão, de uma Aviação ou da Força como um todo, mas também possibilitaria um aproveitamento otimizado dos recursos disponíveis. Na realidade, uma das maiores vantagens desse processo reside na obrigatoriedade de estabelecermos padrões operacionais sólidos, que estabeleçam claramente onde queremos chegar em termos de capacitação, ao invés de apenas apontar para onde podemos chegar face às limitações conjunturais. Finalizando, são notórias as dificuldades em se desenvolver uma ferramenta computacional de apoio à decisão dessa natureza, mormente no que tange ao estabelecimento dos padrões operacionais, porém o futuro aponta com nitidez para uma necessidade cada vez maior deste tipo de auxílio. Temos à nossa frente uma chance de recobrar a vanguarda tecnológica à qual a Força Aérea sempre esteve acostumada.
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O Emprego da Aviação de Transporte em Cenário de Guerra Eletrônica (GE) Nelson Augusto Bacellar Gonçalves, Ten.-Cel.-Av. - GABAER
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elembrando a história, é possível notar a importância do Transporte Aéreo nas guerras que abalaram o mundo. Os conflitos modernos têm deixado evidente a importância do desenvolvimento tecnológico para o campo militar. Por sua vez, vêm atuando como catalizadores para novos desenvolvimentos espetaculares, colocando à disposição dos estrategistas, variadas formas de aplicação para os sistemas eletrônicos de comunicação, detecção, alarme, interferência, ataque, navegação e outros. Essa evolução tecnológica deve ser acompanhada, sob pena de uma Força Aérea ficar com sua capacidade operacional cada vez mais reduzida. A moderna guerra aérea exige que todos os aviões da Força, não só os tidos como de combate mas também os de transporte, sejam dotados de uma boa capacidade de penetração e sobrevivência em espaço aéreo eletromagneticamente hostil. Cabe à Aviação de Transporte (Av Trnp), em situação de emprego real , além da missão de Transporte Aéreo Logístico, a participação em Operações Aeroterrestres (Op Aet) em conjunto com as Forças de Superfície. Estas Unidades Pára-quedistas são consideradas pelos seus Exércitos como Forças Estratégicas de Pronta-Resposta e Ação Rápida. Portanto, para cumprir essa nobre missão, a Av Trnp deve estar apta à lançá-las, a qualquer hora e em qualquer lugar. Diante do desenvolvimento tecnológico, das reais ameaças no campo da eletrônica e do grau de vulnerabilidade das aeronaves de transporte, uma nova concepção de Op Aet precisa ser pensada. Isto sugere a busca por uma atualização de procedimentos, modernização da frota em termos de equipamentos e alteração da doutrina, capazes de multiplicar a capacidade operacional dessa Aviação. A capacidade de emprego da Av Trnp em
cenário de guerra eletrônica deve ser a meta a ser conquistada. Na atualidade, a Av Trnp deve ter sua importância avaliada em relação à capacidade que possui de levar o combate ao inimigo, principalmente na realização de Op Aet. Não deve ser julgada apenas quanto ao volume ou quantidade de apoio logístico que pode oferecer. A compreensão dessa O Ten.-Cel.-Av. Nelson análise é fundamental, pois dá Augusto Bacellar Gonçalves à Av Trnp um sentido de Forconcluiu o CFOAV em 1979 ça, fugindo aos conceitos ane exerce atualmente a função teriores de complementação de Adjunto de Assessor no ou substituição dos demais GABAER. Comandou o 1o/15o meios de transporte. GAV e possui 16 anos da carApesar das limitações, reira dedicados à Aviação de suas características Transporte, dos quais 6 em Coperacionais, quando bem 95B Bandeirante e 10 em C/ exploradas, podem garantirKC-130 Hércules. Cursou o lhe uma excelente participa“Eletronic Combat Specialist ção. Course” na Inglaterra. É de acordo com essa concepção filosófica que a Av Trnp deve ser empregada.
Principais Óbices Dois problemas básicos impedem que uma Av Trnp possa vir a ser empregada em um cenário de Guerra Eletrônica. O primeiro é a sua dependência da superioridade aérea total, que está ligada a uma doutrina desatualizada. O segundo é a sua limitada capacidade de penetração e sobrevivência em ambientes eletromagnéticos hostis, em função da falta de equipamentos eletrônicos de auto defesa em suas aeronaves. Desprovida dessas proteções nas Op Aet, torna-se necessário que a Av Trnp busque alternativas para sobreviver, criando novas táti-
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cas para a entrega e resgate do pessoal e material no campo de batalha.
Solução Para solucionar os problemas apresentados, a proposta é: empregar as missões da tarefa de Guerra Eletrônica (GE) em apoio às operações; adotar novas táticas de Navegação; e equipar a frota de aeronaves de transporte com modernos sistemas de auxílio à navegação e de auto proteção. A idéia básica da solução está em aproveitar todos os recursos de GE em apoio às Op Aet.
Apoio de GE Desta forma, todas as fases da Op Aet estarão calcadas em um Plano de GE, e o apoio se fará de diversas maneiras, em função do cenário e dos meios de GE, amigos e inimigos. Missões específicas da Tarefa de GE poderão ser planejadas como suporte às diversas etapas da Op Aet: - Missões de Apoio Eletrônico: a detecção, localização e identificação de emissores eletrônicos visará não só a alocação de alvos para as missões de Supressão de Defesa Aérea e Antiaérea, mas também será mais um fator de segurança para a escolha da melhor rota para as aeronaves de transporte; - Missões de Supressão de Defesa Aérea e Antiaérea: estas missões aliviarão a rota e a Zona de Lançamento das ameaças capazes de se contrapor às aeronaves de transporte; e
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- Missões de Escolta Eletrônica: além da capacidade de intervirem nos sensores inimigos provocando bloqueios ou despistamentos, interferindo de forma completa ou parcial, abrindo corredores que facilitarão a penetração por um determinado setor, a escolta será capaz de detectar qualquer tipo de ameaça eletrônica para os aviões de transporte, através dos seus sistemas de auto proteção ou de CME. Praticando esse tipo de apoio ainda em tempos de paz, será possível estender as possibilidades da Aviação muito além daquilo que acredita-se poder ser realizado. Isto servirá para uma melhor visualização do que possa vir a ser uma Op Aet em um cenário eletromagnético hostil. Como fruto desse esforço e de um treinamento específico para cada cenário de GE, surgirá uma doutrina própria, atualizada e voltada para os prováveis oponentes. Mas o apoio de GE, por si só, não bastará para o sucesso. A própria Av Trnp precisa participar, e adotar uma tática de navegação mais segura.
Navegação Tipo “Low Contour” A capacidade de penetração e sobrevivência das aeronaves em ambiente eletromagnético hostil, como pôde ser depreendido dos ensinamentos anteriores, será multiplicada se, além de contar com a participação de missões de apoio eletrônico, a Av Trnp adotar uma forma especial de navegação à baixa altura (NBA). Essa navegação vem sendo emprega-
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da pelas melhores Forças Aéreas, inclusive nos últimos conflitos de que participaram. Já foram obtidos excelentes resultados no exercício de avaliação da técnica de NBA do tipo “Low Contour”, de onde extraem-se as seguintes vantagens de seu emprego: - dificulta a detecção pelo inimigo; - torna o planejamento e a execução mais flexíveis, ao permitir modificações de rota a qualquer instante; - permite uma evasiva mais eficiente; - permite uma melhor seleção dos pontos de controle; e, - aumenta a segurança e a autoconfiança da tripulação. No entanto, para que seja obtido o maior aproveitamento que a técnica oferece, a total habilidade da tripulação torna-se ainda insuficiente. A perfeita execução em total segurança só pode ser conseguida com a ajuda de sistemas eletrônicos de navegação autônoma e de auto proteção. O equipamento da frota completa a proposta.
Equipamentos das Aeronaves A idéia consiste na obtenção de um maior poder de penetração e sobrevivência para as aeronaves de transporte, equipando-as com sistemas de navegação independentes e, ainda, com sistemas defensivos de auto proteção.
Sistema de Navegação Inercial É um sistema cuja principal característica é independer de qualquer estação transmissora no terreno, estando, dessa forma, livre de qualquer interferência eletrônica. Dentre os equipamentos de apoio à navegação hoje em operação no mundo, é o sistema que apresenta a maior seguran-
ça. Fornece à tripulação, informações valiosas de direção e intensidade do vento e posição no terreno, capazes de auxiliar no desvio de ameaças inopinadas, nos cálculos e posicionamento final da aeronave para o lançamento de pessoal e material. Pelas características e vantagens apresentadas, tornou-se o equipamento mais confiável para o emprego militar. Além de facilitar a navegação, auxilia na realização de órbitas de reabastecimento em vôo, na execução de padrões de busca e nos cálculos para lançamento aéreo.
Sistema Defensivo de Auto Proteção Um Sistema Defensivo de Auto Proteção é normalmente composto de um “Radar Warning Receiver” (RWR), de um “ M i s s i l e A p p r o a c h Wa r n i n g S y s t e m ” ( M AW S ) e d e u m “ C o u n t e r m e a s u r e s Dispensing System” (CMDS), ou seja, consiste de receptores que alarmam a tripulação de que sua aeronave está sendo iluminada por sinais de radar ou mísseis, sendo capaz de acionar dispersores de Chaff ou Flare para defendê-la. A proposta consiste em equipar as aeronaves de transporte com um sistema ainda mais simples e econômico, composto apenas do MAWS e do CMDS, sendo capaz de detectar mísseis infravermelhos e lançar cartuchos de Flare para despistá-los. Tal configuração já é adotada pelas aeronaves da USAF e tem caráter obrigatório para as aeronaves de países pertencentes à OTAN.
Vantagens Através de uma visão prospectiva, podemos apontar alguns dos benefícios decorrentes da proposta apresentada: - evolução para uma doutrina própria
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de planejamento e emprego em cenários atuais de GE; - aprimoramento dos conhecimentos dos Oficiais de Estado-Maior quando executando o planejamento de uma Op Aet para cenários de GE; - capacitação para o cumprimento de missões isoladas ou de um Assalto Aeroterrestre com uma superioridade aérea relativa; - aumento significativo da capacidade de penetração e sobrevivência das aeronaves e tripulações em cenários eletromagnéticos hostis; - habilitação da Av Trnp ao cumprimento de missões em cenários modernos de GE; - maior garantia do cumprimento das missões, diante do acréscimo de precisão nas navegações e nos lançamentos de pessoal e material; - absorção de tecnologia na área de GE; - aumento do poder de dissuasão; - obtenção de todas as vantagens já experimentadas por outras Forças quando empregaram a navegação do tipo “Low Contour” em recentes conflitos; e - a multiplicação da capacidade operacional da Av Trnp e sua habilitação para
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realizar ações em cenários de GE.
“A vitória sorri para aqueles que antecipam as mudanças de caráter da guerra, e não para os que esperam para adaptarem-se após ocorrerem as mudanças”. - Giulio Douhet
Bibliografia (1) BRASIL. Ministério da Aeronáutica. Doutrina básica da FAB. Brasília, 1997.(DMA 1-1). (2) BRASIL. Ministério da Aeronáutica. V Força Aérea. Manual de emprego do transporte aéreo e aeroterrestre. Rio de Janeiro,1997.(MMA 55-20). (3) ESTADOS UNIDOS. Air Force. Defensive system.(TO 1C-130B-1). (4) INGLATERRA. Eletronic warfare. Totnes: GEC - Marconi,1995. (5) UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA. Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica. Monografia. Rio de Janeiro, 1997. (Apostila 4103MO01).
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Bomba Guiada a Laser: Os Dois Lados da Moeda Ricardo César Mangrich, Maj. - Av. - 1º/10º GAv
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ecentemente, tive a oportunidade de ler um interessante artigo publicado na edição de agosto da revista SPECTRUM com o título “BOMBA GUIADA A LASER: TER OU NÃO TER, EIS A QUESTÃO”. O artigo é de autoria do Ten.- Av. Steven Meier, hoje servindo no CATRE. Achei o artigo muitíssimo interessante, primeiro por ter sido seu autor um brilhante aluno do Curso de Planejamento e Emprego do Armamento Aéreo e, principalmente, por sua coragem em afirmar que a aquisição de novas tecnologias não garante um ganho operacional proporcional a seus elevados custos. Em síntese, o artigo questiona a validade de investirem-se elevadas quantias para adquirir este tipo de armamento, citando como exemplo a opção israelense de usar somente bombas “burras” no famoso ataque à usina nuclear iraquiana de Osirak. Na verdade, concordo em parte com o teor do referido artigo, mas há vários outros fatores operacionais que precisam ser analisados. Em 1998, escrevi um trabalho para a Revista Zoom, do 1º/4º GAv, a respeito de bombas guiadas a laser, com o objetivo de desmistificar tal tipo de arma, mostrando, principalmente, seus pontos fracos e algumas características de sua operação. Fui motivado a redigir aquele artigo pelos exageros dos comentários que ouvia a respeito da extrema eficácia destas bombas, como se fossem a solução de todos os nossos problemas no tocante a ataques a alvos de superfície. Ainda era o efeito da Guerra do Golfo! Hoje, o meu objetivo é voltar a equilibrar a balança, pois tornaram-se comuns as manifestações de descrença nesta arma e na nossa capacidade de bem utilizá-la. É o efeito da guerra no Kosovo! Citei a Guerra do Golfo e o conflito no
Kosovo, pois foram dois opostos. No primeiro conflito, as BGL’s (Bombas Guiadas a Laser), deixando de lado os exageros mostrados pela mídia americana, reinaram soberanas, e o índice de falhas (ataques abortados ou bombas que não atingiram o alvo) foi considerado baixo, cerca de 20%. Já no Kosovo, o índice de falhas ultrapassou os 50%, e várias bombas atingiram alvos errados, incluindo escolas O Major Ricardo Cesar e hospitais. Mas por quê? Mangrich é piloto de caça, Para responder a esta perconcluiu o CFOAv em 1984 e gunta, primeiro temos que enexerce atualmente a função de tender que o grau de eficácia Oficial de Operações do 1º/ no uso de BGL’s está direta10º GAv. É instrutor e coordemente relacionado a fatores nador do Curso de Planejaoperacionais e fatores climátimento e Emprego de Armacos. Dentre os fatores mento Aéreo ministrado no operacionais, destacam-se o GITE. Possui vários artigos pugrau de adestramento das blicados sobre emprego equipagens e equipes de maoperacional de sistemas bélinutenção e o grau de suprecos em revistas especializadas macia aérea obtida durante o no âmbito civil e militar. conflito. Adestramento e supremacia aérea estão também bastante relacionados entre si. A falta da supremacia obrigará o ataque com incursões à baixa altura e lançamentos tipo arremesso (stand-off). Este tipo de emprego, com BGL’s, é extremamente difícil e exige um grau ainda maior de adestramento das equipagens. Consequentemente, o índice de falhas será maior. Quanto ao fator clima, é primordial que entendamos que o emprego de BGL’s exige que não haja nenhum tipo de nebulosidade entre o designador e o alvo. Se uma pequena nuvem se interpuser entre os dois, para a bomba, aquela passará a ser o alvo, e ao atravessá-la, a bomba colidirá com qualquer obstáculo sólido abaixo da nuvem, vindo a explodir fora
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da posição prevista. Por isso, vários alvos no Kosovo foram destruídos indevidamente. Temos agora condições de analisar os anteriormente citados efeitos da Guerra do Golfo e do conflito no Kosovo. No primeiro caso, o ambiente era climaticamente perfeito para as BGL’s. Quem já não ouviu falar das “Noites da Arábia”, sempre estreladas e sem uma nuvem sequer? Durante todo o conflito, as condições de teto e visibilidade estiveram favoráveis. Também o terreno contribuía muito para que os designadores facilmente localizassem os alvos, pois qualquer equipamento militar ou civil facilmente se destacava contra um terreno arenoso e monótono. A supremacia aérea era total, e voar acima de 20.000ft, altura ideal de lançamento e designação das BGL’s, era totalmente seguro. Somando-se a isso a divulgação feita pela mídia americana daquelas famosas imagens que com certeza você can-
sou de assistir, de bombas voando certeiras contra seus alvos, passaram a nós e ao mundo a sensação de que esta maravilha tecnológica seria a solução de todos os nossos problemas. Já no Kosovo... Bem, no Kosovo a situação foi diametralmente oposta. As condições meteorológicas foram desfavoráveis durante todo o conflito. Em mais de 80% do período havia cobertura total de nuvens. O terreno era extremamente acidentado e coberto por florestas de coníferas. Os alvos, mesmo os urbanos, foram muito bem camuflados. Inicialmente, a OTAN esperava que seus caças pudessem voar imunes a médias e grandes altitudes, mas não foi bem assim. Mesmo o F-117 teve sua reputação abalada quando um foi derrubado por um arcaico SA-
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6. A maior parte das missões com BGL’s abortava, pois os designadores não conseguiam contato visual com o solo. Várias bombas caíram em alvos errados, pois durante o vôo da bomba, a designação era interrompida por aquela “nuvenzinha” que citamos anteriormente. Resumindo, vimos que após a Guerra do Golfo, as BGL’s estavam em alta. No período de 90/95, foram vendidas mais bombas do que nos vinte anos anteriores. Esta euforia também nos atingiu. Após o conflito no Kosovo, as coisas se inverteram, e passamos a culpar as bombas pelos fracassos amplamente divulgados pela mídia. Na verdade, o que temos que analisar é a nossa realidade. A América do Sul possui uma climatologia considerada boa para o uso destas armas. Apesar do índice pluviométrico ser muito maior do que no deserto, na maior parte do ano, o céu apresenta pouca cobertura. Este é um fator a favor das BGL’s. O segundo aspecto, e o mais importante, é que, por possuirmos uma Força Aérea pequena, temos que torná-la eficaz. Poderia listar uma série de alvos de extrema importância num conflito moderno, onde necessitaríamos várias levas de ataque para obtermos uma razoável probabilidade de sucesso em sua destruição e, com certeza, não iremos dispor de tantas aeronaves assim. Neste caso, um único ataque, com BGL’s, poderia resolver a questão. Sabemos que as BGL’s não são infalíveis, e possuem até várias e indesejáveis restrições, mas, sem dúvida alguma, ainda são extremamente necessárias nos arsenais de Forças Aéreas que pretendem ser pequenas, porém eficazes. E, finalmente, gostaria de encerrar este artigo com a mesma frase de fecho que utilizei na revista Zoom em 1998: “A bomba em si, é extremamente burra. Inteligentes são os que se preparam e treinam exaustivamente para utilizála corretamente”.
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Sistemas de Auxílio à Decisão: Uma Necessidade, Uma Realidade Francisco de Assis Corrêa, Maj. - Eng. - IEAv Fábio Durante Pereira Alves, Maj. - Av. - COMGAR
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Introdução
contínua evolução tecnológica vivida neste século tem exigido constantes mudanças no conceito da guerra. Em particular na última década, presenciouse o apogeu da “Era da Informação” [1], onde a velocidade dos acontecimentos é o limite para a velocidade da informação. Nesse cenário de extrema competição, pressão e incerteza, ocorre o exercício das funções de comando e controle (C2) que, em sua dimensão metodológica, são balizadas pelo ciclo OODA [2], mostrado esquematicamente na Fig. 1.
Fig. 1 – Ciclo OODA, utilizado como metodologia para o exercício das funções de C2.
No campo de batalha moderno, a velocidade dos eventos requer a realização desse ciclo cada vez mais rapidamente. Nesse contexto, identifica-se a importância do processo decisório e a necessidade da utilização de ferramentas de auxílio à decisão. Essas ferramentas permitem antecipar as mudanças do ambiente externo através de simulações e jogos, facilitando o gerenciamento e a pronta resposta. Assim, em um ambiente de guerra, é ponto crítico administrar riscos, mapear conseqüências, antecipar-se aos fatos e visualizar oportunidades. Além disso, a diminuição dos recursos disponíveis determina mudanças drásticas nos processos gerenciais e doutrinários,
sob pena de não sobrevivência da Instituição. Sistemas de auxílio à decisão podem fornecer oportunidades para o gerenciamento da guerra em todos os seus níveis, contribuindo para um entendimento global de todos os seus aspectos relevantes.
Metodologia para Desenvolvimento de SAD no Comando da Aeronáutica
O Major Francisco de Assis Corrêa
Devido à complexidade é Oficial Engenheiro da turma de dos problemas, existe uma 1981 e Mestre em Ciências pelo grande dificuldade técnica em Instituto Tecnológico de Aeronáudefinir as necessidades do Co- tica. Exerce a função de Pesquisador do Instituto de Estudos Avanmando da Aeronáutica em terçados, no Centro Técnico mos de sistemas de auxílio à Aeroespacial, atuando na área de decisão. Sabe-se de sua impor- Auxílio à Decisão. O Major Corrêa tância, do valor de sua contri- foi integrante da equipe de debuição, porém não se têm dis- senvolvimento e gerente do proponíveis os elementos a serem jeto AEROGRAF. modelados. Em outras palavras, há dificuldades para definir os requisitos do sistema de interesse e seu nível de atuação. Em função dessa dificuldade, propõe-se neste artigo uma metodologia de desen- O Major Fábio Durante Pereira volvimento que possa auxiliar Alves é piloto de helicóptero esna definição dos requisitos de pecializado em resgate, concluiu sistemas de auxílio à decisão o CFOAv em 1986 e exerce atualmente a função de adjunto ao que satisfaçam os interesses do Centro de Guerra Eletrônica do Comando da Aeronáutica, esComando-Geral (CGEGAR). O pecificamente nos sistemas Major Durante é Engenheiro Eleque necessitam modelar um trônico e Mestre em Ciências pelo teatro de operações (TO) nos Instituto Tecnológico de Aeronáuvários níveis de decisão. O tica. grande trabalho reside em identificar as variáveis a serem modeladas. De forma a se conseguir um sistema que incorpore o modelo complexo de um teatro de operações, considerando que muitas variá-
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veis não são conhecidas ou totalmente dominadas, um sistema deve ser concebido numa abordagem evolutiva. Por isso, um modelo simplificado deve ser inicialmente produzido, testado e deve permitir que novas variáveis sejam incorporadas à medida que passem a ser dominadas. Esse processo está representado na Fig. 2. Com ele, as áreas operacional e de pesquisa e desenvolvimento podem iniciar projetos, aprender e melhorar os seus desempenhos durante todo o ciclo de vida.
Pontos de Atuação dos Sistemas de Auxílio à Decisão (SAD) e Jogos Para apoiar a tomada de decisão, existem SAD e jogos. Enquanto os primeiros auxiliam os profissionais diretamente nas suas decisões, os jogos permitem treinar executivos em tomada de decisão. Em um aspecto geral, os jogos são considerados SAD e atuam em cinco pontos fundamentais [3]: ·Sincronismo de tempo nas decisões Nesse caso, é dada a oportunidade para que as decisões sejam tomadas baseadas em critérios bem definidos, considerando o objetivo a longo prazo com as restrições da conjuntura atual. A cultura de “apagar incêndios” e a preocupação com resultados a curto prazo deixam de ser os grandes consumidores de tempo nos processos gerenciais. ·Superação da barreira do medo de errar Processos gerenciais, no contexto deste trabalho, exigem uma constante quebra de paradigma. É imperativo, portanto, um preparo adequado, pois o medo de errar e as reações a mudanças podem inviabilizar decisões e bloquear o processo criativo. Com jogos, pode-se treinar, aprendendo com os erros e com as reações adversas, aprimorando a capacidade de inovação. ·Desenvolvimento de visão global da guerra O trato de assuntos de guerra exige profissionais com uma visão do todo, não somen-
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Fig. 2 - Processo evolutivo de desenvolvimento de sistemas de auxílio à decisão.
te especialistas em funções específicas. Perceber os fatores relevantes para o sucesso ou o fracasso de um empreendimento requer conhecer os objetivos globais e estar atento às mudanças do ambiente. Para isso, é preciso muito treino. ·Reflexão crítica com “feedback” imediato O impacto e o resultado de uma tomada de decisão em situação real, com uma análise completa dos erros e acertos, podem demorar anos ou, devido ao ambiente dinâmico e incerto, podem nunca ocorrer. Em sistemas de auxílio à decisão, usando jogos e simulações, o “feedback” pode ser imediato, permitindo realizar uma análise crítica e direcionar os riscos e premissas adotadas, otimizando o resultado de tais decisões. ·Aprimoramento do trabalho em equipe Normalmente, em gerência de guerra ou mesmo de organizações, a tomada de decisão requer a participação de especialistas voltados a um objetivo comum, que devem obter o consenso, sob grande pressão e em curto espaço de tempo. Direcionar os esforços de uma equipe requer um trabalho de liderança, em consonância com o comportamento dos profissionais das diversas áreas envolvidas. Permitir exercícios conjuntos, envolvendo logística, inteligência e demais setores afetos a uma guerra, é de suma importância para o sucesso da equipe. Talvez seja esta a principal contribuição dos jogos.
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A concepção de um modelo evolutivo, por fases, permitirá obter as necessidades de logística, de informações de operacionalidade de cada esquadrão, de inteligência, de comunicação e de sistemas de defesa. Desta forma, poder-se-á chegar gradativamente à tomada segura de decisão nesta área, através da experiência obtida com a simulação e com os dados recebidos de manobras, utilizando o modelo proposto. Isto é de suma importância para quem não tem experiência real.
rentes tipos de missões executadas por aeronaves pilotadas, mísseis de cruzeiro ou mísseis balísticos. Estas missões são executadas seqüencialmente, numa taxa controlada pela quantidade e qualidade da força atacante.
Modelagem de Missões em um Teatro de Operações Modelar missões significa estudar e representar os elementos envolvidos em embates do tipo “muitos contra muitos” entre uma força aérea de ataque e um sistema de defesa aérea em um teatro de operações, mostrado esquematicamente na Fig. 3 [4]. Nesse cenário, devem ser considerados ainda o apoio logístico e a inteligência. A Força Aérea atacante planeja e executa missões para atingir objetivos específicos. Estas missões geralmente envolvem mais do que um meio. O sistema de defesa aérea se opõe à missão com processos de detecção, controle e engajamento que podem ser distribuídos entre vários elementos. O combate toma lugar num ambiente tático que influencia a efetividade de ambos, atacante e defensor. A estimativa dos efeitos de uma missão específica é o que deve ser determinado. Tal resultado mostra, para uma dada configuração de forças de ataque, defesa e TO, qual o vencedor e a que custo. Uma guerra é composta de campanhas. Uma campanha pode ser definida como uma ação militar em grande escala que se realiza dentro de uma área geográfica particular, num determinado período de tempo, com uma dada estrutura de força. Do ponto de vista do poderio aéreo, podese dizer que uma campanha consiste de dife-
Fig.3 - Situação genérica em um teatro de operações.
Numa abordagem inicial, o teatro de operações será definido por missões de ataque aéreo, de defesa aérea, de logística e de inteligência. ·Missões de ataque aéreo Uma missão de ataque consiste de três fases: ingresso na área terminal (área do objetivo), lançamento de armamento e egresso. Os mísseis balísticos e de cruzeiro não têm a fase de egresso. ·Missões de defesa aérea A força defensiva presumivelmente conhece a localização e o valor dos pontos sensíveis que poderão ser atacados. Ela tem um número finito de elementos de sistema de defesa aérea e deve decidir onde e como empregá-los para a maior vantagem. Em geral, elementos defensivos são empregados para algum balanço de cobertura de área e defesa de pontos.
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·Missões de logística As missões de logística têm por objetivo prover armamento, combustível, peças de reposição e demais materiais necessários para manter ativos os sistemas de ataque e de defesa aérea. ·Missões de inteligência As missões de inteligência têm por objetivo obter informações sobre o poderio inimigo. É importante que se saiba sobre a efetividade das missões de ataque realizadas e sobre a entrada em operação de novos componentes do sistema de defesa aérea inimigo. Os resultados de cada tipo de missão de ataque e de defesa aérea podem ser estimados e, considerando o suporte a essas missões (logística e inteligência), a estrutura da força versus tempo durante a campanha pode ser predita, o que leva à identificação de vencedor e perdedor. Cabem ao perdedor as seguintes questões: ·Como atacante: que poderio deveria ter minha força aérea para que saísse vencedora? ·Como defensor: que sistema defensivo deveria possuir para que fosse capaz de conter o ataque adversário, preservando meus pontos sensíveis? A proposta desta modelagem é permitir simulações, de forma a definir a melhor força de ataque para uma dada defesa aérea e vice-versa.
Atividade de Auxílio à Decisão A concepção e implementação de sistemas de auxílio à decisão envolve altos níveis de conhecimento em áreas como: inteligência artificial, teoria dos jogos, simulação e pesquisa operacional. O caráter multidisciplinar, juntamente com o
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desejo de se atingir o estado da arte, exige ambientes adequados de trabalho onde exista grande diversidade de capacitação. O Grupo de Auxílio à Decisão do Instituto de Estudos Avançados (IEAv) do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) atende a estes requisitos. Além disso, através da execução de outros projetos, tais como o AEROGRAF, e de parcerias com os demais Institutos daquele Centro, o Grupo adquiriu experiência para identificar, juntamente com os setores operacionais, as variáveis dos níveis tático e operacional, nec e s s á r i a s p a r a m o d e l a r u m TO aeroespacial. Por tudo isto, essa atividade foi formalizada como parte da estrutura do IEAv, estando o Instituto preparado para realizar pesquisas e desenvolvimentos nesses níveis e para iniciar a busca do conhecimento para apoiar necessidades de nível estratégico. O atendimento aos requisitos desse tipo de sistema deve, necessariamente, ser resultado de pesquisas e de desenvolvimentos de setores como o IEAv, pois não existe disponível nos mercados nacional e internacional um ambiente de jogos, completo e integrado, que atenda a requisitos do Comando da Aeronáutica, possa ser facilmente adaptável à nossa realidade e compense o esforço de aquisição e adaptação [6] .
Conclusão A implementação de modelos e sua composição em SAD permite realizar através de jogos e simulações a predição de resultados de decisões e ações em um TO, agilizando e aprimorando o processo real de tomada de decisão. Os SAD certamente contribuem para a redução do tempo do ciclo OODA de C2, aumentando as chances de sucesso no campo de batalha.
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Apesar de todas as vantagens, esses sistemas só serão viáveis se forem obtidos como resultado da atividade de pesquisa e desenvolvimento na área de auxílio à decisão. A factibilidade de um SAD para atender ao Comando da Aeronáutica depende diretamente dos esforços conjuntos entre áreas operacional e de ciência e tecnologia, atuando num campo onde a maioria das variáveis envolvidas não são divulgadas, por estarem diretamente relacionadas à segurança de quem as domina.
Referências Bibliográficas [1] GUIMARÃES, Edson F. “Network Centric Warfare (NCW) – Uma Revolução no Campo de Batalha” , Spectrum (COMGAR), agosto de 2000.
[2] BRASIL. Ministério da Aeronáutica. “MCA 500-3, Comando e Controle na Guerra”, [sl:sn], novembro de 1999. [3] OLIVEIRA, Maurício H. “Jogos treinam executivos em decisões sob incertezas”. Treinamento e Desenvolvimento, edição 54, pág. 4445, junho 1997. [4] MACFADZEAN, Robert H.M. “Surface-Based Air Defense System Analysis”. New York: Artech House, 1992. [5] CORRÊA, Francisco A. “A atividade de auxílio à decisão no MAer, o papel do C.T.A.”, São José dos Campos, Centro Técnico Aeroespacial, 1997. (Monografia do Curso de Gerência de Projetos). [6] PRATI, Airton & SANTOS, Carmen L. R. “I Simpósio de informatização de jogos estratégicos - Relatório de participação”. IEAv, julho 1997.
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Seminário de Emprego de Mísseis “All Aspect”. Werner Wilhelm Bonnet, Maj.-Av. - III FAe
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oi realizado, nos dias 25, 26 e 27 de outubro de 2000, em Fortaleza, CE, o seminário para emprego de mísseis do tipo “all aspect”, promovido pela III FAE. Os trabalhos enfocaram o desenvolvimento de táticas e técnicas adequadas às possibilidades dos mísseis de guiamento infravermelho de terceira geração, como o PYTHON 3, incorporados ao acervo da FAB. Durante o seminário, foram proferidas palestras sobre fundamentos da radiação e sistemas eletroópticos, O Major Werner Wilhelm pelo Cap. Av. Guimarães do Bonnet é piloto de caça, conCOMGAR (CGEGAR); cluiu o CFOAv em 1984 e guiamento de mísseis e sisteexerce atualmente a função de mas de defesa, pelo Maj. Av. chefe da Seção de Guerra EleFeldens do CATRE; navegação trônica da III FAE. Possui o de mísseis e míssil MAA-1, curso de Planejamento de pelo Eng. Roberto da Guerra Eletrônica do MECTRON e mísseis de 4ª geCOMGAR. ração, pelo Ten.-Cel. Almeida do CGEGAR. Com as palestras procurou-se nivelar e adequar os conhecimentos entre os participantes a fim de permitir o início dos debates. Posteriormente, os grupos de trabalho iniciaram as discussões com o intuito de revisar conceitos. As técnicas em uso para engajamentos ar-ar pouco mudaram desde os anos 70 e permaneciam voltadas para os mísseis de guiamento infravermelho de 1ª geração, já fora de uso, como o Sidewinder AIM9B e o MATRA 530. Contra mísseis de 1ª geração, as aeronaves executavam, como manobras defensivas, mudanças súbitas de direção (alta “carga G”), no momento correto, e eram capazes de evitar a destruição. Atualmente, tais manobras tornaram-se inócuas e podem até facilitar o trabalho dos modernos mísseis.
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A evolução dos mísseis deu-se pelo aumento da capacidade e mobilidade dos sensores eletroópticos, ganhos na manobrabilidade e maior agilidade de seus processadores internos. Tornou-se desnecessário “encaudar” o oponente ou seja, manobrar a aeronave atacante de modo a visualizar o setor traseiro da aeronave inimiga. Mísseis modernos são capazes de atingir alvos em engajamentos frontais ou quase frontais, e possuem grande capacidade de acerto. A carga explosiva, denominada cabeça de guerra, teve sua capacidade aumentada e houve também uma sofisticação na espoleta de proximidade, responsável pela detonação do engenho quando este se aproxima do alvo, em condições de atingi-lo com a explosão. As espoletas mais modernas passaram a empregar tecnologia laser, ao invés de dispositivos na faixa de micro-ondas. Finalmente, os mísseis de 3ª e 4ª gerações são capazes de, em uso integrado com o radar de bordo ou não, “olhar” para baixo e ser disparados nesta condição, distinguindo o alvo de outros sinais provenientes da superfície que desorientavam os mísseis de concepção mais antiga. Essa capacidade foi obtida pela discriminação de uma estreita faixa de freqüência a ser perseguida, destacando as emissões da aeronave de outras. Essa seletividade também auxiliou os mísseis a tornarem-se imunes a dispositivos desenvolvidos com o intuito de iludir seus sensores infravermelhos, como os flare. Adicionalmente, os circuitos internos do míssil fazem uma rápida análise lógica das informações das trajetórias e os dispositivos de flare, por sofrerem uma rápida desaceleração após o lançamento, são eliminados. Além disso, os mísseis tiveram suas distâncias mínimas de ação diminuídas, aumentando as chances de utilização em todas as situações e seus motores-foguete produzem mais
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empuxo com menos emissão de fumaça, o que dificulta ainda mais a detecção visual. Surgem as questões. Que manobras deverão ser empregadas antes e após os engajamentos? No momento em que parece mais importante “apontar” sua aeronave em direção ao inimigo, é necessário continuar treinando táticas de “encaudamento” ? O que deverá ser alterado? Basta adaptar técnicas e táticas ou haverá a necessidade de mudanças mais profundas na doutrina ? Talvez deva-se, inicialmente, diferenciar simples técnicas de “concepções de emprego”. Novos equipamentos exigem novas técnicas mas a principal questão talvez seja: quais as alterações exigidas nas concepções ou métodos de aplicação da Força. Um exemplo mais claro seria o da introdução de mísseis de médio alcance na FAB que, certamente, causaria uma imediata necessidade de revisão na “metodologia” de emprego de nossos aviões, em uma série de situações. Existe, do mesmo modo, a preocupação de implantar-se, paralelamente, as técnicas de emprego de equipamentos de auto-defesa, imprescindíveis ao desenvolvimento de manobras táticas mais eficientes e ao aumento da capacidade de sobrevivência na arena. Entre estes, RWR (Radar Warning Receiver), MAWS (Missile Approach Warning Systems) e lançadores de Chaff e Flare são os mais importantes. Simultaneamente, surge a necessidade de se introduzir na Força novos conceitos, capazes de aprimorar e validar o adestramento das equipagens. O uso de sistemas conhecidos como “Instrumentação para o Treinamento de Combate Aéreo” ou “Air Combat Maneuvering
Instrumentation System” (ACMI), torna-se imprescindível, a fim de reconstituir, de modo fiel, a nova e complexa arena de combate. Trata-se de um conjunto de pods instalados nas asas das aeronaves e uma instrumentação
rastreadora no solo, exibindo, em diversos telões, diferentes apresentações do que está ocorrendo “em combate”. A FAB passaria a ser capaz de acompanhar e gravar treinamentos de todos os tipos, inclusive simulando o lançamento de mísseis, com um importante ganho de operacionalidade. Numa era em que o piloto de combate passa a ser também um operador de sistemas, o termo capacitação adquire real e amplo significado e transcende a pura e simples habilidade na operação dos equipamentos. Para desenvolver recursos humanos deste nível, deveremos incrementar o número de cursos e intercâmbios operacionais. Nossas Unidades Aéreas deverão participar de mais operações com forças aéreas de países mais bem equipados. Internamente, talvez pudéssemos utilizar os conhecimentos adquiridos pela Divisão de Sistemas Bélicos do CTA, com o desenvolvimento do MAA-1. Este “know-how” sobre o desempenho de mísseis poderia ser aglutinado em forma de cursos ou programas de simulação. Há muito a ser feito, e o esforço que o COMGAR vem desenvolvendo, no sentido de qualificar pilotos na área operacional, deverá ser mantido e ampliado. Somente desse modo, e com muito entusiasmo, seremos capazes de galgar o degrau tecnológico que se formou entre a realidade de hoje e a verdadeira operacionalidade que buscamos para a FAB de amanhã.
Referências Bibliográficas [1] LORAL, Aeronutronic, “Sidewinder Family of Missiles”, 32-22-4 [2] MATRA, “Magic 2” DMM nº 103, Setembro 1985. [3] RAFAEL, Armament Development Authority, 30-83-024
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Pronta Resposta – A Força Aérea Pré-Programada Fernando Nogueira Ventura - Cap. Av. - Mestrando no INPE
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or muitos anos, a tomada de decisão foi considerada uma arte pura, um ta lento adquirido e devido unicamente à experiência. No entanto, tomar decisões, hoje em dia, é mais difícil por vários motivos, principalmente porque devem ser tomadas rapidamente.[1] A baixa periodicidade em que nos vemos forçados a tomar decisões tão importantes e tão urgentes é outro fato que merece ser lembrado. Ao delegarmos o treinamento dos tomadores de decisão à experiência e ao estilo pessoal O Capitão Fernando Nogueira estamos nos colocando numa Ventura é piloto de patrulha, con- situação de dependência da cluiu o CFOAv em 1987 e encon- ocorrência de muitas situações tra-se atualmente adido ao Cen- deste nível. Isto poderia funcitro Técnico Aeroespacial. Possui onar em países acostumados a cursos de guerra eletrônica no guerras e conflitos, como IsraBrasil, na Inglaterra e na França, pós-graduação em análise e pro- el e Estados Unidos (o que não jeto de sistemas (UNEB - Brasília) acontece), mas dificilmente e está cursando mestrado em será o melhor modelo para o Sensoriamento Remoto no Insti- Brasil. É necessário estar em tuto Nacional de Pesquisas Espa- constante planejamento e treiciais. namento em Comando e Con2 trole (C ) sobre cenários e situações ora reais, ora simulados.[2] Este planejamento continuado, decorrente das formulações de Hipóteses de Emprego, levaria a um repensamento do modus operandi. Estas concepções estariam em constante evolução e aquelas que se mostrassem adequadas ganhariam força, vindo a compor os planos.[3] A estrutura de veiculação das informações pode ser listada como mais um fator importante. Não se trata da infra-estrutura de redes ou comunicações apenas, mas dos processos envolvidos neste trâmite, políticas de segurança efetivamente implantadas e ativas, e também a habilidade e motivação das pessoas em
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utilizar corretamente esta estrutura. [4] Por fim, aquela estrutura necessita que haja um adequado tratamento aos dados, não apenas para a Guerra Eletrônica, mas para todos os processos gerenciais em todos os níveis da corporação.[5] Como vemos, idéias interessantes e, podemos concordar, indispensáveis para uma Força Aérea no cenário de tendências em que nos encontramos, não nos faltam. A convergência destes conceitos, tendo como foco e direcionamento o Comando e Controle e a necessidade de pronta resposta a eventos de crise, nos leva diretamente à Força Aérea préprogamada.
Figura 1 – Convergência de conceitos.
Força Aérea pré-programada Sistemas desenvolvidos recentemente, como o DÉDALO, o AEROGRAF e a rede TELESAT, nos permitem uma pequena visão das possibilidades e, assim, podemos dizer que estamos mais perto de realizar isto. Estratificando o funcionamento desta nova Força nos níveis de decisão, podemos identificar, em cada um, alguns produtos que servirão como padronização aos processos do nível imediatamente inferior e outros, como fatores de planejamento do nível imediatamente superior. A concepção formulada em determinado nível pode ser vista como resultado
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de uma soma da alimentação dos planejamentos existentes às padronizações recebidas. A análise do que foi formulado, através das ferramentas adequadas a cada nível [6] leva a uma validação. Esta, somada aos fatores de planejamento recebidos, gera um novo planejamento para o nível, sob a forma adequada conforme a tabela 1.
Tabela 1 – Níveis de Decisão e Produtos
Validação Por exemplo, a Diretriz formulada no nível político trará as padronizações de ação para que, no nível estratégico, se possa formular Hipóteses de Emprego, avaliados os planos de emprego e cenários futuros existentes. Estas Hipóteses balizarão a padronização de Cenários Operacionais completos que, em cascata, propiciará a formulação de Concepções de Empregos. Num fluxo inverso, exercícios simulados e reais, realizados por Avaliação Operacional, possibilitarão a validação de Modelos de Sistemas e Missões Pré-Planejadas, as quais formarão a base para o treinamento táticooperacional. A conjunção destas missões em uma ordem e em determinadas condições (validação) dos cenários comporá uma Campanha Pré-Planejada e assim por diante, até que
tudo se resuma em opções de emprego da Força em termos de Parâmetros Políticos de Decisão.
Quebra de Paradigmas Sabemos que não há nada mais difícil de se conseguir, mais perigoso de conduzir, ou de êxito mais incerto do que liderar a introdução de uma nova ordem de coisas. Com certeza, a implantação deste novo jeito de conduzir as atividades trará consigo a quebra de vários paradigmas existentes, em diversas áreas. No planejamento, teremos a mudança mais profunda e a mais importante, da qual todas as demais serão originadas. O planejamento se fará a priori. Assim, dentro do ciclo de Comando e Controle, conforme visto na Figura 2, a decisão poderá, ser tomada imediatamente, uma vez que já se realizou a observação e a orientação continuadamente. Sistemas como o DÉDALO e o AEROGRAF passarão a ser ferramentas do dia-a-dia. O emprego de simulação e sistemas utilizando Técnicas de Construção de Cenários Futuros (TCCF) para auxílio à decisão e à avaliação da doutrina e do planejamento propiciará reduzir o tempo necessário à conclusão do ciclo de Comando e Controle num ambiente de crise. A formação acadêmica será direcionada para um funcionamento moderno e integrado, preparando o homem a trabalhar em um ambiente de tecnologias e informações já desde o início. O treinamento operacional seguirá um planejamento direcionado a missões e campanhas pré-analisadas e aprovadas, atendendo especificamente às diretrizes políticas e hi-
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melhor identificadas se for considerado o relacionamento entre os níveis de decisão. Esse relacionamento, dado a sua importância, merece um estudo científico e aprofundado, a fim de que um modelo possa ser estabelecido. O preparo prévio, o emprego do conhecimento de forma rápida e oportuna através da moderna tecnologia da informação, e a superioridade no Comando e Controle garantem uma vantagem estratégica nos conflitos modernos, e possibilitam a verdadeira Pronta Resposta.
Referências Figura 2 – Ciclo de Comando e Controle
póteses de emprego formuladas. Haverá utilização extensa de jogos e simuladores. O treinamento baseado em um banco de missões e campanhas planejadas e testadas previamente garantirá a agilização do ciclo de Comando e Controle, visando um nível satisfatório de execução, nas condições reais. Na administração, haverá maior controle dos parâmetros envolvidos na Guerra, previsões mais realistas, sistemas de auxílio à decisão, alimentados com dados reais e atualizados. Na área de Ciência e Tecnologia, uso prático e otimizado da tecnologia, com foco na eficiência em ambientes cada vez mais complexos. Em suma, a integração das funções citadas será o dia-a-dia. Pronta Resposta será o dia-a-dia.
Conclusão O desenvolvimento de ferramentas para o planejamento e auxílio à decisão deve ser concebido numa abordagem evolutiva [7]. As necessidades quanto a parâmetros de entrada e dados de saída destes sistemas poderão ser
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[1] Comando da Aeronáutica, “MCA 500-3 – Comando e Controle na Guerra”, 17 de março de 2000. [2] Menezes, Delano T., “Planejando a Guerra”, Revista Spectrum, agosto 2000. [3] Ribeiro, Narcelio R., “O Impacto das Concepções e Tecnologias no Preparo e Emprego da Força Aérea Brasileira”, Revista Spectrum, agosto 2000. [4] Guimarães, Edson F. C., “Network Centric Wafare (NCW) – Uma Revolução no Campo de Batalha”, Revista Spectrum, agosto 2000. [5] Ventura, Fernando N., “Banco de dados Corporativo – Base para a Guerra Eletrônica”, Revista Spectrum, janeiro 2000. [6] Corrêa, Francisco A. “A atividade de auxílio à decisão no MAer, o papel do C.T.A.”, São José dos Campos, Centro Técnico Aeroespacial, 1997. (Monografia do Curso de Gerência de Projetos). [7] Corrêa, Francisco A.; Alves, Fábio D. P., “Sistemas de Auxílio à Decisão: Uma Necessidade, Uma Realidade”, Revista Spectrum, janeiro 2001.
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A Pesquisa Operacional na Solução de Problemas da Força Aérea Davi Almeida Alcoforado, Cap.-Av. - Mestrando na UFRJ
O Conceito de Pesquisa Operacional
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Pesquisa Operacional é uma ciência aplicada voltada para a resolução de problemas reais. Tendo como foco a tomada de decisões, aplica conceitos e métodos de outras áreas científicas para concepção, planejamento ou operação de sistemas para atingir seus objetivos. Através de desenvolvimentos de base quantitativa, a Pesquisa Operacional visa também introduzir elementos de objetividade e racionalidade nos processos de tomada de decisão, sem descuidar no entanto dos elementos subjetivos e de enquadramento organizacional que caracterizam os problemas. A Pesquisa Operacional surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, quando os Aliados se viram confrontados com problemas (de natureza logística, tática e de estratégia militar) de grande dimensão e complexidade. Para apoiar os comandos operacionais na resolução desses problemas, foram então criados grupos multidisciplinares de matemáticos, físicos, engenheiros e cientistas sociais. Esses cientistas não fizeram mais do que aplicar o método científico, que tão bem conheciam, aos problemas que lhes foram sendo colocados. Desenvolveram então a idéia de criar modelos matemáticos, apoiados em dados e fatos, que lhes permitissem perceber os problemas em estudo e simular e avaliar o resultado hipotético de estratégias ou decisões alternativas. O sucesso e credibilidade ganhos durante a guerra foram tão grandes que, terminado o conflito, esses grupos de cientistas e a sua nova metodologia de abordagem dos problemas se transferiram para as empresas que, com o “boom” econômico que se seguiu, se viram também confrontadas com problemas de decisão de grande complexidade. Seguiram-se então grandes desenvolvi-
mentos técnicos e metodológicos que hoje, com o apoio de meios computacionais de crescente capacidade e disseminação, nos permitem trabalhar enormes volumes de dados sobre as atividades das empresas e, através de adequados modelos de base quantitativa, simular e avaliar linhas de ação alternativas e encontrar as soluções que melhor servem aos objeO Cap. Davi Almeida Alcoforado tivos dos indivíduos ou orgaé piloto de caça, concluiu o nizações. CFOAv em 1989. Possui o curso Face ao seu caráter de Guerra Eletrônica do multidisciplinar, a Pesquisa COMGAR e Simulação de GuerOperacional (PO) é uma dis- ra Eletrônica na França (1993). É ciplina científica de caracterís- especialista em Telecomunicações pela Universidade Gama Fiticas horizontais com suas lho, e Mestrando em Engenharia contribuições estendendo-se de Produção, área de Pesquisa por praticamente todos os do- Operacional (COPPE-UFRJ). mínios da atividade humana, da Engenharia à Medicina, passando pela Economia, pela Gestão Empresarial e pelas Ciências Militares.
Modelos Matemáticos O grande enfoque da PO é sem dúvida a modelagem matemática de problemas reais. Os modelos matemáticos são aproximações dos processos encontrados na vida prática. A verdade é que não existem modelos perfeitos, mas sim uma tentativa de representarmos a realidade de uma forma matematicamente tratável, que nos permita tirar conclusões. Nem sempre a complexidade de um modelo é sinônimo de eficiência. Imagine se quiséssemos modelar fisicamente o lançamento de um dado, a fim de prever o resultado. Poderíamos tomar a altura e o ângulo de lançamento, o momento de inércia, o coeficiente de atrito, a resistência do ar, enfim, poderíamos considerar uma série de fatores e obteríamos um modelo tão complexo que sua utili-
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zação seria inviável. Neste caso, um modelo probabilístico seria muito mais simples e adequado, produzindo bons resultados após um certo número de lançamentos. Porém, o objetivo de modelarmos problemas em pesquisa operacional não se limita apenas ao entendimento ou previsão de fenômenos, mas sim a acharmos a melhor solução ou a chamada solução ótima de um problema, principalmente quando os recursos são escassos. Para tornar mais claro o que vem a ser uma modelagem, tomemos um exemplo simplificado e hipotético a seguir: Suponha que durante uma guerra um certo comando aéreo necessita planejar missões de ataque a alvos agrupados em três áreas distintas. As regiões onde encontram-se os alvos foram caracterizadas por sua importância estratégica e receberam uma pontuação que se aplica ao contexto analisado. A tabela abaixo mostra a pontuação, o consumo de combustível médio por missão até os alvos, bem como o número de alvos contidos nessas três regiões: Região 1 2 3
Nº Alvos Consumo Pontuação disponíveis 15 85 unidades 10 20 60 unidades 7 12 40 unidades 5
Suponha ainda que o comando só disponha de 1000 unidades de combustível para empregar nesta campanha e que cada missão seja alocada a um único alvo. Como deve ser o planejamento das missões para que a pontuação atingida seja a máxima? De imediato percebemos que não se dispõe de combustível para atacar todos os alvos, e portanto é necessário determinarmos a quantidade de alvos a serem atacados em cada região, de forma que a pontuação final seja a maior possível. A modelagem matemática deste proble-
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ma seria da seguinte forma: 1) variáveis de decisão: X1, X2, X3: representam a quantidade de alvos a serem atacados em cada região, supondo o sucesso da missão. 2) Função objetivo: maximizar 10X1 + 7X2 + 5X3, ou seja, o total de pontos obtidos deve ser o máximo possível. 3) Restrições: 85X1 + 60X2 + 40X3 <= 1000, ou seja, o total de combustível não pode ultrapassar as 1000 unidades disponíveis. - As variáveis de decisão não podem ultrapassar a quantidade de alvos disponíveis em cada região: X1<=15; X2<=20 e X3<=12; - As variáveis de decisão não podem ser negativas e devem ser números inteiros (0, 1, 2 ...), ou seja, devem pertencer ao conjunto dos números inteiros positivos (Z+), pois não poderíamos atacar 4,337 ou 2,44 alvos, por exemplo. Com esses passos conseguimos exprimir matematicamente o nosso problema: Max W = 10X1 + 7X2 + 5X3 Sujeito a: 85X1 + 60X2 + 40X3 <= 1000 X1<=15; X2<=20 ;X3<=12; X1, X2, X3 ∈ Z+ Este problema pode ser resolvido com técnicas de programação inteira e a solução seria através de algoritmos de corte (Gomory) ou de busca em árvore, conhecido como “branch and bound”, disponível em softwares especializados em otimização, como o CPLEX ou LINDO, por exemplo. A solução ótima do problema acima é a seguinte: 4 alvos na região 1, 3 alvos na região 2 e 12 alvos na região 3 , ou seja, X1 = 4; X2 = 3 e X3 = 12, o que somaria um total de 121 pontos (W = 121). Podemos observar que a nossa intuição
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para resolver um problema simples como este poderia nos levar a soluções possíveis, porém não necessariamente ótimas. Este fato, quando levado para problemas reais de grande porte pode nos levar a tomar decisões muito aquém da melhor solução possível. É justamente através dessas diferenças que ocorrem grandes economias, ou um considerável incremento na eficiência de um processo. O problema das soluções empíricas é que não se tem noção de quanto uma atividade poderia ser melhorada. A fim de tornar o modelo acima mais real, poderíamos incluir a probabilidade do alvo ser atacado com sucesso, a probabilidade do atacante ser interceptado, probabilidade de abortar, enfim, cada modelo deve ser desenvolvido de acordo com as necessidades impostas por um determinado cenário, seja numa guerra, seja num ambiente de negócios. Embora a capacidade computacional hoje disponível seja absurdamente grande, se comparada com a existente há 20 anos atrás, muitos problemas reais não possuem soluções ótimas exatas, mas sim sub-ótimas, justamente por restrições computacionais. Estas soluções quase ótimas são obtidas através das chamadas heurísticas, que podem ser consideradas “algoritmos aproximados”, pois os algoritmos exatos utilizados para a obtenção da solução ótima levariam séculos para resolver certos problemas com a capacidade computacional hoje disponível.
Aplicações A Força Aérea, por sua natureza extremamente complexa, constitui-se em um vasto campo para o emprego das técnicas de pesquisa operacional, com inúmeras possibilidades, onde a visualização do emprego vai depender da experiência operacional vivida por aqueles que entrarem em contato com a área de PO. Este tópico destina-se a dar uma idéia dessas possibilidades. 1) Avaliação operacional de sistemas: utilizado para o levantamento da capacidade
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operacional de sistemas adquiridos pela Força, constituindo-se em uma ferramenta importante para se conhecer a fundo as capacidades, deficiências e planejar a substituição desses sistemas. 2) Avaliação e desenvolvimento de táticas: o conhecimento profundo dos sistemas, como descrito acima, leva ao desenvolvimento da melhor tática para utilizá-lo. As técnicas de PO também possibilitam que as táticas sejam validadas com base científica.
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3) Emprego da Força: alocação ótima dos meios disponíveis; avaliação da eficiência de pilotos; análise de danos; análise de estratégias; problemas de caminho mínimo para o esclarecimento de contatos; planejamento de missões; problemas de roteamento ótimo para aumentar a sobrevivência e outros. 4) Logística: otimização de problemas de transporte; problemas de localização de depósitos de suprimento e parques de manutenção, problemas de alocação de máquinas a tarefas; problemas de corte em chapas, de modo a minimizar o desperdício; modelos de estoque. Os diversos tipos de problemas que envolvem a pesquisa operacional são resolvidos, de acordo com a necessidade, por uma vasta base teórica, como por exemplo: programação linear, programação inteira, simulação, teoria de filas, grafos, processos estocásticos e modelagem estatística, dentre outras. Estas disciplinas são estudadas a fundo em cursos de pós-graduação com enfoque em pesquisa operacional, muitas vezes in-
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seridos em programas de engenharia de sistemas, engenharia de produção, economia ou administração. Porém, para resolver os problemas acima mencionados, é necessário, além da base teórica, a formação de uma grande equipe, a fim de consolidar a experiência necessária para lidar com modelos complexos, envolvendo não só profissionais de pesquisa operacional, como também especialistas nas áreas a serem estudadas.
Conclusão Toda organização pode conduzir o seu processo decisório com bases quantitativas. Isto não significa que o decisor deva acatar as soluções propostas por modelos matemáticos, mas permitirá dar ciência do custo que a sua decisão estará impondo a um determinado processo. Muitas vezes a solução ótima sugere o fechamento de fábricas, agências bancárias, bases de apoio, e o custo social de decisões como estas é muito grande. Cabe portanto ao gerente examinar as variáveis subjetivas, não menos importantes, mas difíceis de serem avaliadas num modelo matemático, para tomar a decisão final.
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O Uso de Data Mining nas Forças Armadas Adriana Beal, Engenheira Eletrônica - Vydia Tecnologia Edson Fernando da Costa Guimarães, Cap.-Av. - COMGAR
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o atual cenário mundial, para que uma estrutura militar possa manterse numa situação vantajosa no ambiente em que opera, é fundamental que atenda a requisitos como capacidade de aprimoramento contínuo, adaptação e inovação, bem como confiabilidade e rapidez de resposta. Estratégias militares bem sucedidas dependem cada vez mais da informação e dos processos de obter a informação certa, colocá-la num formato adequado, e fazê-la chegar onde ela é necessária de forma tempestiva. Durante o curso de uma operação militar seja ela de vigilância, guerra eletrônica, combate aéreo etc. - o ciclo de Comando e Controle (observar, orientar, decidir e agir) ocorre continuamente. A tomada de decisão consciente e baseada em informações e conhecimentos precisos, completos e relevantes é um requisito importante para o sucesso de todas essas operações. O volume de informações disponíveis para servir de fundamento para funções de planejamento, direção, coordenação e controle no âmbito das Forças Armadas tende a crescer consideravelmente, em conseqüência principalmente da evolução tecnológica nas áreas de telecomunicações e informática, que surge acompanhada de uma significativa redução no custo de obtenção, armazenamento e disponibilização de dados, informações e conhecimentos. Nesse contexto, o adequado gerenciamento da informação - de forma a tornar eficiente o seu uso, processamento e aplicação - assume um papel fundamental na preparação da Força Aérea Brasileira para atuar nos cenários de guerra, conflito ou crise contemporâneos. Um requisito fundamental para que ocorra o uso eficiente da informação pelos tomadores de decisão é, obviamente, a existência de uma base de dados válida e não corrompida. A qualidade dos dados disponíveis afeta diretamente a validade das conclusões obtidas da sua análise, e uma tecnologia
emergente que tem assumido o papel de componente-chave na obtenção de uma base de dados íntegra e confiável é o data warehousing. Esse tipo de sistema, que tem sido influenciado significativamente pelos constantes avanços na tecnologia de hardware e software, viabiliza o processo de extração e transformação de dados operacionais em informa- Adriana Beal é graduada em Engeções estruturadas, armazenadas nharia Elétrica pela Universidade de em um repositório central de da- Brasília, e especialista em auditoria de Tecnologia da Informação. É audos, ou warehouse. Mas apenas armazenar in- tora do livro “Manual de Tecnologia da Informação para Gerentes” e formações em um data exerce atualmente a função de conwarehouse, mesmo que de forsultora nas áreas de gestão estratéma bastante organizada e con- gica da T.I. e segurança da informasistente, não representa um ção na Vydia Tecnologia. avanço muito significativo. Retirar a informação contida no data warehouse é o que permite às organizações obter benefícios palpáveis [1], e a tecnologia de data mining é atualmente uma das melhores formas de se extrair tendências e padrões O Capitão Edson Fernando da Cosexistentes em um volume extre- ta Guimarães é piloto de transporte, concluiu o CFOAv em 1990 e exermamente grande de dados. Embora o data mining ce atualmente a função de adjunto à Seção de Desenvolvimento de ainda esteja dando os seus priRecursos Humanos do Centro de meiros passos, empresas de Guerra Eletrônica do COMGAR várias áreas - incluindo o va- (CGEGAR). Possui cursos de Guerrejo, finanças, medicina, in- ra Eletrônica no Brasil e na França, dústria e aeronáutica - já utili- pós-graduação em análise e projeto zam ferramentas e técnicas de de sistemas (GFI/UNB - Brasília) e data mining para beneficiar-se mestrado em Engenharia de Sistemas de Guerra Eletrônica na Naval dos conhecimentos escondiPostgraduate School (EUA). dos nos dados históricos armazenados internamente ou adquiridos de outras organizações. [2] Usando tecnologias de reconhecimento de padrões e técnicas matemáticas e estatísticas para garimpar dados no data warehouse, o data mining auxilia analistas a re-
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conhecer fatos, relacionamentos, tendências, padrões, exceções e anomalias significativas, que de outra forma poderiam passar despercebidos. No que tange à infraestrutura tecnológica exigida, são encontradas no mercado soluções de data mining para sistemas baseados nas mais diversas plataformas, como mainframe, cliente/servidor e PC, sendo que seu tamanho, capacidade de processamento, e, conseqüentemente preço, estão diretamente relacionados à dimensão da base de dados a ser pesquisada, e à quantidade e complexidade das consultas a serem realizadas. As possibilidades de emprego militar das técnicas de data mining são inúmeras, desde a detecção de intrusos em sistemas informatizados nas formas defensivas de Information Warfare, até a solução de ambigüidades em grandes bancos de dados de sinais eletrônicos, capturados por plataformas multisensoriais realizando missões de SIGINT (Inteligência de Sinais) e COMINT (Inteligência de Comunicações). Sistemas informatizados baseados em redes têm sido cada vez mais utilizados pelas Forças Armadas, tornando-se alvos da atividade de intrusos. Para proteger grandes redes, podem ser utilizados Sistemas de Detecção de Intrusos (IDS), baseados em grandes arquivos de auditoria que registram todas as operações realizadas no sistema. Com o uso de data mining, é possível detectar padrões de comportamento de intrusos e diferenciá-los das atividades consideradas normais. A idéia é utilizar técnicas de data mining para extrair características que descrevem cada conexão da rede, e aplicar programas de mineração de dados para se determinar regras que possam identificar a ação de intrusos. [3] Uma aplicação importante das técnicas de data mining na área militar consiste na geração de conhecimento útil às Forças Armadas, extraído de gigantescas bases de dados, ou data warehouses.
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Com a entrada em operação de plataformas equipadas com sensores em diversas faixas do espectro eletromagnético, com capacidade de coleta de sinais desde as faixas de comunicações estratégicas (HF - High Frequency - de 3 a 30 MHz), passando pelos sinais de radares (microondas, já na faixa de gigahertz), até a faixa próxima ao visível dos sensores termais (infravermelho); torna-se imprescindível a sistematização do tratamento da enorme quantidade de dados coletados. Para se extrair uma informação de interesse militar, “escondida” no meio de terabytes de dados, é de extrema importância a utilização de eficientes técnicas de data mining, de forma a abreviar o tempo entre a observação e a orientação no ciclo de comando e controle. Como visto, a aplicação de técnicas de data mining pode oferecer benefícios tangíveis às organizações militares, e o uso de tecnologias e ferramentas voltadas para o tratamento e garimpagem dos significativos volumes de dados encontrados nas mais variadas fontes internas e externas, em busca do conhecimento útil para cada situação específica, pode representar a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma operação militar, qualquer que seja a sua natureza. As técnicas de data mining atualmente disponíveis oferecem oportunidades sem precedentes para que os dirigentes das Forças Armadas tenham à sua disposição informações e conhecimentos precisos, completos e relevantes para fundamentar a tomada de decisão e garantir o êxito de suas operações.
Bibliografia: [1] Davenport, Tom; “From Data to Knowledge”; CIO Magazine; Abril 1999 [2] _______;“Discovering hidden value in your data warehouse”; Pilot Software; White Papers; http://www.pilotsw.com/ news/data_white.htm [3] Lee, Wenke et al; “A Data Mining Framework for Building Intrusion Detection Models”; IEEE proceedings; S&P; 1999
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EL/M-2106NG
Spectrum
Air Defense Search Radar (ADSR) Geral
Características
O EL/M-2106NG é um radar de defesa de ponto de quarta geração, incorporando características avançadas baseadas em trinta anos de experiência da ELTA em radares militares, capaz de detectar qualquer potencial ameaça aérea, mesmo helicópteros em vôo pairado, provendo vigilância aérea confiável.
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Este radar é capaz de diferenciar aeronaves de asa fixa de helicópteros, e ainda classificar helicópteros de acordo com a reflexão de seus rotores principais. O EL/M-2106NG é um radar móvel compacto, desenhado para apoiar o gerenciamento de sistemas de armas superfície-ar, tanto diretamente como através de um centro de Comando e Controle, fornecendo designações precisas de alvos e podendo, também, participar na alocação de alvos para vários sistemas de armas, incluindo soldados com mísseis de ombro.
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Detecção automática de alvos aéreos Modo TWS (Track-While-Scan) para até 60 alvos Operação 24 horas por dia sob quaisquer condições meteorológicas Discriminação e classificação de ameaças Interoperabilidade com sistemas de armas superfície-ar “Built-in-tests” abrangentes, alta “MTBF” e baixa “MTTR” Unidades de Controle e “diplays” de fácil operação, baseados em PC Uso de fontes de energia padronizadas Emprego fácil e rápido Interfaces flexíveis padronizadas
Aplicações • • • •
Defesa Aérea de ponto para unidades militares móveis Proteção de áreas sensíveis Complementação de cobertura em sistemas de defesa aérea Apoio a sistemas de armas superfície-ar
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