Revista SPECTRUM Nº 06

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Revista do Comando-Geral do Ar

Nº 06 - Janeiro 2003

Centros de Gravidade: A Eficácia da Estratégia Institucionalizando a Excelência Inteligência de Imagens como MAGE Baixa Probabilidade de Interceptação (LPI) Requisito Essencial na Guerra Moderna


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Expediente Comandante-Geral do Ar Ten.-Brig.-do Ar José Carlos Pereira Conselho Editorial e Revisão Cel.-Av. Narcelio Ramos Ribeiro Maj.-Av. Fábio Durante Pereira Alves Maj.-Av. Davi Rogério da Silva Castro Cap.-Av. Carlos Alberto Fernandes Cap.-Av. Edson Fernando da Costa Guimarães Cap.-Av. Élison Montagner Cap.-Av. Antonio Ferreira de Lima Júnior Colaboração Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER) Projeto Gráfico e Fotolitos Tachion Editora e Gráfica Ltda. Rua Santa Clara, 552 - Vila Adyanna Tel/Fax: (12) 3921-0121 / 3922-4048 / 3922-3374 CEP 12243-630 - São José dos Campos - SP e-mail: info@tachion.com.br www.tachion.com.br

Índice Editorial ..................................................................... 3 Centros de Gravidade: A Eficácia Estratégica ................................................. 4 Alguns Paradigmas da FAB ......................................... 7 Institucionalizando a Excelência .............................. 11 Programa de Pós-Graduação para a Guerra: Fator de Assimetria Operacional .............................. 14 Gestão do Conhecimento Para a Área da Guerra Eletrônica ........................................ 18 Baixa Probabilidade de Interceptação ...................... 21 Aplicação de Sistemas Eletroópticos na Aviação de Patrulha ................................................. 24 A Inteligência de Imagens como MAGE ................... 27

Impressão Editora Gráfica Ipiranga SIG - Quadra 08 - Lote 2095 tel: (61) 344-2266 - fax: (61) 344-1077 CEP 70610-400 - Brasília-DF

Distribuição interna. Tiragem: 2.000 exemplares. Os conceitos emitidos nas colunas assinadas são de exclusiva responsabilidade de seus autores. Estão autorizadas transcrições integrais ou parciais das matérias publicadas, desde que mencionados o autor e a fonte e remetido um exemplar para o COMGAR. spectrum@comgar.aer.mil.br (Internet)

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Editorial Maj.-Brig.-do-Ar Cezar Ney Britto de Mello Chefe do Estado-Maior do COMGAR

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idéia de publicar a revista SPECTRUM surgiu em 1999, ao final do século XX, justamente quando o campo militar experimentou significativas mudanças ditadas pelas características dos conflitos atuais, conhecidos como “limitados”, ou “não declarados”, ou “de curta duração” (FA-E-01 Estratégia Militar Brasileira – 1998), ou, ainda, de combate direto aos ilícitos transnacionais. O Comando-Geral do Ar, a quem cabe desenvolver, preponderantemente, a atividade-fim da Força Aérea Brasileira, iniciou a sua publicação com a finalidade de contribuir para a divulgação de trabalhos voltados para o preparo e o emprego da Força, pretendendo incentivar a apresentação de temas que viessem a despertar debates e estudos, de forma a realçar o espírito operacional de seus integrantes. Singelamente, é por intermédio do secular binômio HOMEM x MÁQUINA que o COMGAR cumpre a sua missão, de “preparar e empregar as Grandes Unidades Aéreas para a realização de operações militares, reais ou simuladas da Força Aérea Brasileira, como instrumento militar do Poder Aeroespacial.” (1) Dentro deste enfoque, temos, então, quatro variáveis: o HOMEM, a MÁQUINA, o PREPARO e o EMPREGO, e uma única constante, a UNIDADE AÉREA. Esta, em última análise, é a mais importante, pois toda a estrutura e todos os segmentos da FAB somente existem para apoiála. É a “célula mater” de um sistema em que todos devem gravitar ao seu derredor. O HOMEM é o principal ator, a MÁQUINA, o seu instrumento de trabalho (inclusos seus sistemas de navegação, de armas, de defesa), sendo o PREPARO a fase de agregação de valores e o EMPREGO o culminar de todo o processo. Restringindo-se apenas ao PREPARO e ao HOMEM, é possível admitir-se que o PREPARO determinará ao HOMEM a necessidade do saber, da sabedoria desenvolvida pelos conhecimentos adquiridos e pelas reflexões deles decor-

rentes. O PREPARO, enfim, requer motivação profissional, questionamentos, estudos doutrinários, tecnológicos e, cada vez mais, clarividência no aprendizado e humildade para rever dogmas e conceitos. Diante de todo este espectro, a revista SPECTRUM surge Maj.-Brig.-do-Ar como mais um foro aberto a Cezar Ney Britto de Mello nossos(as) militares, proporcionando oportunidade para a apreChefe do Estado-Maior do sentação de um novo tema, de COMGAR um sonho acalentado, de uma opinião que não quer calar, de uma verdade pessoal que ninguém ainda descobriu, sempre tendo como meta a discussão limitada à área operacional, pois é através do entrechoque de idéias e de argumentos que se aprimora a doutrina e se atualiza normas e procedimentos. O gigantesco esforço de uma pequena equipe hoje se materializa em fato concreto com o lançamento de mais um número da nossa SPECTRUM. Artigos diversificados e abrangentes são as suas características mais marcantes. Prezados tripulantes, médicos de Esquadrão, devotados amigos da Logística, gente do Pessoal e da Inteligência, integrantes de um Estado-Maior, guerreiros da Infantaria, leiam, deleitem-se, debatam, criem e, principalmente, critiquem! Este é o primeiro passo para o despertar de uma invulgar, inquestionável e irrequieta inteligência. Junte-se a nós nesta empreitada que objetiva a eficácia operacional de nossas Unidades Aéreas, o aprimoramento de nossos homens do combate, a adequação de nossas necessidades, a busca da excelência e da grandiosidade de nossa Força Aérea. Concito a todos para se lançarem nesta missão! A LUZ VERDE já está acesa! À porta: JÁ, JÁ, JÁ! (1) Dec. nº 60.521, de 31 Mar. 1967

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Centros de Gravidade: A Eficácia da Estratégia Narcélio Ramos Ribeiro, Cel.-Av. COMGAR

“A essência da estratégia consiste em discernir os centros de gravidade do oponente . . . e aplicar nossas forças para atingi-los . . . (mas) isto é problemático...” Carl Von Clausewitz

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o longo da história das guerras, os líderes militares têm aspirado por vitórias rápidas e decisivas. Apesar de, em várias situações, possuírem vantagens numéricas, tecnológicas, doutrinárias e, até mesmo, melhor liderança, muitos falharam nessas tentativas, poucos obtiveram êxito (ainda que às custas de desperdício de energia e excesso de perdas de recursos materiais, humanos e financeiros) e alguns sentiram o dissabor da derrota. À medida que a guerra tornou-se cada vez mais complexa, aumentou a dificuldade de se obter vitórias rápidas e decisivas, contrariando as aspirações dos comandantes e planejadores.

O Enfoque das Forças de Superfícies Segundo Clausewitz e o senso comum, “um exército em tempo de guerra é bem sucedido ao derrotar o exército inimigo. Destruir a capacidade das forças fardadas do inimigo atuar com eficácia, elimina o que se interpõe à vitória militar”.[1] Às vezes um país era afortunado e capaz de aniquilar o exército do oponente, como o fez Napoleão em Austerlitz e nas batalhas de Jena e Auerstad; tal êxito podia produzir uma capitulação rápida. Na maioria das vezes, contudo, as batalhas eram sangrentas e nada decidiam; as guerras eram exercícios de desgaste ou exaustão (para um exemplo mais recente, vide guerra Peru versus Equador na década passada). À medida que as guerras se tornaram progressivamente totais, as forças armadas maiores e as sociedades mais industrializadas, o sonho de que alguma coisa, por si só, seja decisiva, tornou-se comumente uma quimera. Os exércitos se tornaram instrumentos táticos que desgastavam por completo a força armada inimiga, na

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esperança de que um acúmulo de vitórias no campo de batalha os colocasse em posição de conduzir operações estratégicas decisivas.[2] De certo modo, as marinhas também estão condenadas a combater no nível tático da guerra. Tão logo conquista- O Coronel Narcélio Ramos do o domínio do mar, uma es- Ribeiro é piloto de patrulha, quadra pode, em seguida, concluiu o CFOAv em 1980 bombardear fortalezas próxi- e exerce atualmente a função mas à praia, impor um blo- de chefe do Centro de Guerqueio ou conduzir operações ra Eletrônica do COMGAR. anfíbias. No primeiro caso, Possui curso de Guerra Eletrôcontudo, os resultados são li- nica na Inglaterra (“Electronic mitados pelo alcance dos arma- Warfare Directors”) e pós-gramentos dos navios; no segun- duação em Planejamento Esdo, o inimigo só sente os resul- tratégico e Qualidade Total tados indiretamente e com o pela AEUDF (Brasília). O Cel. passar do tempo. É certo que Narcelio tem trabalhos um bloqueio pode privar um publicados nas revistas da beligerante dos itens necessá- UNIFA e “O Patrulheiro”. rios à manutenção do esforço de guerra; contudo, um elemento bloqueado pode substituir e redistribuir seus recursos para compensar o que lhe foi negado. Em suma, a guerra econômica indireta toma muito tempo. Na verdade, raras foram as vezes em que bloqueios levaram o inimigo à submissão.[3] No último caso, as operações anfíbias são geralmente apenas um prelúdio de operações terrestres ininterruptas, mas isso só nos leva de volta ao ciclo de exército versus exército.

A Vantagem do Poder Aéreo O poder aéreo mudou as coisas quando comprimiu a linha que divide os níveis tático e estratégico. As aeronaves podem, rotineiramente, conduzir operações que alcancem efeitos de nível estratégico. Em grande medida, as aeronaves eliminam a necessidade de enfrentar o terreno ou o ambiente devido à sua habilidade de

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voar por sobre exércitos, esquadras e obstáculos geográficos e atacar diretamente os centros de gravidade de um país. Essa capacidade oferece alternativas tanto às batalhas terrestres sangrentas e prolongadas quanto aos bloqueios navais mortíferos. Na verdade, embora os primeiros teóricos do poder aéreo falassem com freqüência do potencial deste conceito (centro de gravidade), constituiu-se ele, em grande medida, num sonho por muitas décadas. O poder aéreo não eliminou a necessidade de uma campanha terrestre na Europa durante a 2ª Guerra Mundial, e embora uma invasão do próprio Japão fosse desnecessária, a evidência disso não era muito nítida (foram necessários quatro anos e as operações combinadas de todas as forças singulares para preparar o cenário para a fase aérea final e decisiva). A Coréia e o Vietnã demonstraram a muitas pessoas que o poder aéreo não era uma arma estratégica eficaz, embora houvesse quem sustentasse que nunca lhes foi dada uma oportunidade de provar a si mesmo.[4] A Operação Tempestade no Deserto, por outro lado, chegou próximo da realização do que sustentavam os primeiros teóricos. Resta ver se isso foi o cumprimento de uma profecia ou uma aberração. Finalmente, e talvez mais importante, a velocidade e o alcance do poder aéreo lhe permitem atacar alvos em toda a profundidade e largura de um país inimigo. As aeronaves não precisam desengajar-se de uma batalha para se engajar em outra, uma manobra extremamente arriscada e complexa para as forças terrestres. Tendo já se desengajado, as aeronaves não têm de percorrer estradas lamacentas, cruzar rios em época de cheias ou redirecionar linhas de suprimentos para combater em outro lugar. Um excelente exemplo disso é o da Força Aérea Israelense na Guerra do Yom Kippur de 1973. Os israelenses remanejaram constantemente o poder aéreo da frente do Sinai para as Colinas de Golan e da interdição

para o apoio aéreo aproximado. Foram capazes de efetuar essas mudanças diariamente no decorrer de várias semanas. Essas operações paralelas podem produzir efeitos simultâneos, submetendo o inimigo a múltiplas crises que ocorrem tão rapidamente que ele não consegue responder com eficácia a qualquer delas. A demonstração mais devastadora desse fenômeno ocorreu durante os dois primeiros dias da Guerra do Golfo, quando centenas de aeronaves da coalizão atingiram, entre outros alvos, o sistema de defesa aérea, usinas de energia elétrica, instalações de pesquisa nuclear, quartel general das forças armadas, torres de telecomunicações, “bunkers” de comando, órgãos de inteligência e um palácio presidencial do Iraque. Esses ataques ocorreram tão rapidamente contra diversos centros de gravidade do Iraque, que o país, em considerável medida, foi imobilizado e a guerra decidida naquelas poucas horas.

Centro de Gravidade Como Instrumento da Estratégia O conceito de centro de gravidade existe, na doutrina militar, para ser utilizado pelos comandantes e planejadores, visando facilitar o caminho para alcançar os objetivos políticos da contenda e, dessa forma, obter a vitória e o sucesso diante do grupo social oponente (estadonação, crime transnacional, grupos terroristas, etc), por meio da análise, da identificação e da concentração de ações contra pontos vitais, a fim de evitar desperdício de energia e de perdas desnecessárias de recursos materiais e humanos, além de desgastes políticos. Esse, no entanto, tem sido um conceito que apenas um grupo pequeno de forças aéreas entende e explora com satisfatória competência. Na maioria delas, o que se percebe é a predominância de um raciocínio tático de uma filosofia de seleção de alvos “baseada na fé” (os planejadores não sabem que Deus é pacifista),

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ao invés de método e experiência empírica que enfatizam a lógica e as incertezas dos cenários operacionais. De modo simplificado, o que se observa, é que as forças aéreas, que nos últimos sessenta anos obtiveram sucesso nos espaços de batalha, consideram a seguinte seqüência nos processos de identificação, análise e busca de solução para a aplicação do poder aéreo: a) objetivo político do estado-nação; b) identificação de centros de gravidade para atingir aos objetivos políticos; c) definição das ações; d) seleção de alvos e de armamentos (quando for o caso); e e) definição dos atores (unidades aéreas e suas missões). A maioria das forças aéreas, no entanto, têm dificuldade para utilizar o conceito de centros de gravidade, o que torna a seqüência do planejamento incompleto e, por conseguinte, acabam concentrando-se no nível tático, em prejuízo do raciocínio estratégico. Entre os vários fatores que contribuem para essa atitude não muito adequada para a condução de uma campanha, alguns merecem destaque: a)quase todas as forças aéreas sabem formar um bom piloto. No entanto, apenas um grupo pequeno possui programa de capacitação que habilita os seus planejadores raciocinarem com centros de gravidade e, consequentemente, atuarem nos níveis operacional e estratégico da guerra com maior probabilidade de sucesso; e b) A maioria das forças aéreas não possui metodologia que possibilite a eficiente exploração do conceito de centros de gravidade. Percebe-se que o domínio de metodologia para identificar e analisar centros de gravidade é que tem permitido um raciocínio estratégico por parte de integrantes de um pequeno grupo de forças aéreas. Na maioria delas, no entanto, isto é feito de modo intuitivo e a maior ênfase recai numa seleção de alvos de efeito duvidoso, quando se tenta

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associar aos objetivos políticos da contenda. O poder aéreo pode produzir efeitos psicológicos. Em seu nível mais fundamental, a guerra é psicológica. Pode ser que a melhor maneira de ampliar o choque psicológico seja aumentar o choque físico, mas deve-se ter cuidado para não equiparar destruição com eficácia. Ao contrário, o comandante deve capitalizar a velocidade e a ubiqüidade do poder aéreo, sua capacidade de aumentar consideravelmente o ritmo das operações de combate, de poder atingir diferentes tipos de alvos em qualquer lugar e associar tudo isto ao conceito de centro de gravidade para obter o sucesso no emprego do poder aéreo.

Notas [1] Martin Blumenson, “A Deaf Ear to Clausewitz: Allied Operational Objectives in World War II,” Parameters 23, no. 2 (Verão 1993): 16. Napoleão afirmou que os generais europeus viam coisas demais, enquanto ele via uma só coisa, o exército inimigo. [2] Para uma visão sombriamente pessimista do caráter intrinsecamente indecisivo da guerra terrestre, em qualquer época, ver Russel Weigley, The Age of Battles: The Quest for Decisive Warfare from Breitenfeld to Waterloo (Bloomington, Ind.: Indiana University Press, 1991). [3] Mancur Olson, Jr., in The Economics of the Wartime Shortages: A History of British Food Supplies in the Napoleeonic War and in World War I and World War II (Durham, N.C.: Duke University Press, 1963), sustenta que as tentativas napoleônicas e posteriormente alemãs nas duas guerras mundiais de, pela fome, levar a Inglaterra à submissão foram fracassos que nunca sequer se aproximaram do êxito. Por outro lado, embargos navais, se impostos por muito tempo, podem provocar grandes sofrimentos, como contra o Iraque desde agosto de 1990. Youssef M. Ibrahim, “Iraq is Near Economic Ruin but Hussein Appears Secure”, New York Times, 25 de outubro de 1994, 1. [4] Para os defensores do poder aéreo, ver Almirante U.S.G. Sharp, Strategy for Defeat: Vietnam in Retrospect (San Raphael: Presidio Press, 1978); e Gen William Momyer, Airpower in Three Wars (Washington, D.C.: Government Printing office, 1978). Para o ponto de vista oposto, veja-se Maj Mark Clodfelter, The Limits of Airpower: The American Bombing of North Vietnam (New York: Free Press, 1989).

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Alguns Paradigmas da FAB Alexandre Fernandes Da Silva Lessa, Ten.-Cel.-Av. EMAER

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enho encontrado ao longo dos anos vá rios colegas que reconhecem que a FAB está sofrendo da Síndrome do Sapo Fervido, da mesma forma outros não sabem nem do que se trata, não reconhecem nenhum problema tão grave, têm certeza de que ela continua cumprindo sua missão, etc. Quem estaria com a razão? Se nos colocarmos na situação do sapo, como poderíamos saber que a situação do nosso meio ambiente está mudando se não houver um ponto de referência? Se há os dois grupos, há certamente diferenças na visão de cada um deles. Talvez um tenha um ponto de referência e o outro não. Se tentarmos olhar a Instituição de fora para dentro e começarmos a fazer perguntas básicas, tais como, qual a sua missão? Para que serve este ou aquele órgão? Para que vocês estão adquirindo este ou aquele sistema ou aeronave? Por que vocês não têm este ou aquele sistema ou aeronave? Vamos encontrar algumas surpresas. Bastam, só para mostrar a “ponta do Iceberg”, algumas referências documentais e alguns fatos do nosso dia-a-dia e vamos encontrar paradigmas que, dadas as suas áreas de atuação, não poderiam ser aceitos em uma Instituição que deveria primar pela modernidade e eficácia.

Paradigma da Missão Antes de identificar esse paradigma é necessário definir “missão” e depois tentar identificá-lo na Instituição. Portanto, aí vão algumas considerações. Segundo a ECEMAR: “Missão, significa a incumbência de realizar determinada tarefa com propósito definido. Pode ser atribuída ou deduzida”. Ainda, “tarefa, é o encargo imposto a alguma autoridade por outra de nível superior (atribuída) ou imposto a si pela própria autoridade (deduzida).” E, “propósito, é o ob-

jetivo a ser alcançado com a realização da tarefa.” Segundo Peter F. Drucker, “Uma declaração de missão precisa ser operacional: caso contrário, não passa de boas intenções. Uma declaração de missão deve focalizar aquilo que a instituição tenta O Tenente Coronel Alerealmente realizar (...)” “Antes de adotar uma es- xandre Fernandes da Silva tratégia de atuação, a organi- Lessa, é piloto de asas zação precisa definir qual é a rotativas, concluiu o CFOAV sua missão. A missão orienta e em 1981 e exerce atualmente delimita a ação da organiza- a função de Adjunto da 3ª ção, definindo o seu propósi- Subchefia do EMAER. Possui cursos de Gerênto. Exprime a razão de sua exiscia pela Qualidade Total para tência.” (US Navy). Para não ser muito Oficiais, de Elaboração e repetitivo, as três abordagens Monitoramento de Projetos, acima já são suficientes para de Gerenciamento de Prograconcluir que a definição da mas e Projetos, de Planejamissão é fundamental para mento Estratégico, dentre ouqualquer planejamento de tros. qualquer que seja a organização, seja ela civil ou militar. Assim, vamos procurar a nossa missão. Consultamos a Doutrina Básica da FAB (DMA 1-1) e encontramos como Missão da Aeronáutica: - “Missão Constitucional • Defender a Pátria; • Garantir os poderes constitucionais; e • Garantir a lei e a ordem, por iniciativa de qualquer dos poderes constitucionais. - Missões Complementares • Orientar, coordenar e controlar as atividades da Aviação Civil; • Prover a segurança da navegação aérea; • Contribuir para a formulação e condução da Política Aeroespacial Nacional; • Estabelecer, equipar e operar, diretamente ou mediante concessão, a Infra-estrutura

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Aeroespacial; e • Cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil.” Fomos além e encontramos exatamente o mesmo texto na DMA 14-5 Política da Aeronáutica e na DMA 15-1 Diretriz Estratégica da Aeronáutica. A Missão da Aeronáutica ou da Força Aérea Brasileira não foi encontrada em nenhum outro documento. O paradigma da missão está justamente aí. Onde? Ora, se há uma Missão Constitucional, que estabelece por que a instituição existe, ou seja, o propósito, segundo a definição acadêmica, está faltando a tarefa. Entre a Missão Constitucional e as Missões Complementares está faltando a declaração da Missão da Aeronáutica ou da FAB. Que precisa ser uma declaração objetiva do que ela realmente faz ou deveria fazer. Um exemplo poderia ser: Controlar, permanentemente,

o espaço aéreo brasileiro a fim de possibilitar o emprego eficaz de recursos típicos de Força Aérea na defesa da soberania do País, na garantia dos Poderes Constitucionais, da Lei e da Ordem. Este é um paradigma que precisa ser quebrado, pois repercute em todos os planejamentos, objetivos e metas da organização. “A missão é a determinação do motivo central do planejamento estratégico, ou seja, a determinação de onde a empresa quer ir” [7]. Enquanto coexistirmos com este paradigma, tudo o que estivermos fazendo hoje pode ser considerado como mero chute, mesmo que intuitivamente estejamos fazendo a coisa certa.

Paradigma do Conhecimento Este paradigma é um dos mais danosos para a nossa organização. Ela remonta às nossas origens e reflete na cultura organizacional atual. Para aquele que não sabe ou não se re-

A Síndrome do Sapo Fervido Vários estudos biológicos provaram que um sapo colocado num recipiente com a mesma água de sua lagoa, fica estático durante todo o tempo em que aquecemos a água, até que ela ferva. O sapo não reage ao gradual aumento da temperatura (mudanças de ambiente) e morre quando a água ferve. Inchadinho e feliz. Por outro lado, outro sapo que seja jogado neste recipiente já com água fervendo, salta imediatamente para fora. Meio chamuscado, porém vivo! Temos vários sapos fervidos por aí. Não percebem as mudanças, acham que está muito bom, que vai passar, que é só dar um tempo! Estão prestes a morrer, porém ficam boiando estáveis e impávidos na água em que se aquecem a cada minuto. Acabam “morrendo” inchadinhos e felizes, sem ter percebido mudanças. Sapos fervidos não percebem que além de serem eficientes (fazer certo as coisas) precisam ser eficazes (fazer as coisas certas). E para que isso aconteça tem que haver um crescimento profissional com espaço para diá-

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logo, para a comunicação clara, para o compartilhamento, para o planejamento e para uma relação adulta. O desafio ainda maior está na humildade de atuar de forma coletiva. Fizemos durante muitos anos o culto ao individualismo e a turbulência exige hoje, o espaço coletivo, que é a essência da eficácia como resposta. Tomar as ações coletivas exige, fundamentalmente, muita competência interpessoal para o desenvolvimento do espírito de equipe, exige saber partilhar o poder, delegar, acreditar no potencial das pessoas e saber ouvir. Há sapos fervidos, que ainda acreditam que o fundamental é a obediência e não a competência, que, manda quem pode e obedece quem tem juízo! Acordem sapos fervidos! Saiam dessa! O mundo mudou! Pulem fora antes que a água ferva. Precisamos estar vivos, meio chamuscados, mas vivos e prontos para agir! Extraído do Livro: Tecnologia do Cotidiano (Rubens Alves)

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corda, a FAB recebeu duas influências históricas distintas, uma francesa e outra norte-americana. A primeira é fundamentada numa hierarquia rígida em que o mais antigo é soberano, manda no mais moderno e ponto-final, sobrepujando inclusive a capacidade e o conhecimento. Se for mais antigo, sabe mais e tem mais capacidade; não se discute. É o conhecido “sim, senhor; não, senhor; quero ir embora, senhor.” A segunda é também fundamentada na hierarquia, porém privilegia a competência. Não que “A” seja mais ou menos competente do que “B”, mas sim, no sentido de estar um determinado indivíduo mais capacitado para desempenhar uma tarefa do que outro, independente de sua antigüidade, em função de capacitação e conhecimentos adquiridos ou habilidades inatas. E é isso que temos hoje: um permanente conflito entre a hierarquia rígida e a competência. Ao se movimentar um militar, seja de uma Unidade ou de uma função, para outra a sua capacitação não é levada em conta – salvo casos isolados. Ele é considerado apenas um número. É um militar no posto “X” excedente, ou não, que irá ocupar uma vaga existente em outro lugar, e mais nada. Ao assumir a nova função, logo lhe são cobrados conhecimentos e capacidades que, praticamente na totalidade das vezes, ele não possui. Para ser mais claro, vamos a alguns exemplos, sem citar nomes: 1)Um oficial que por cerca de 20 anos desempenhou funções diretamente ligadas às atividades operacionais de Unidade Aérea foi transferido para um Comando-Geral para trabalhar com política de pessoal. Esse oficial reportou textualmente não conhecer nada sobre o assunto;

2)Um oficial depois de realizar um curso de pós-graduação no exterior, ao retornar recebeu a notícia de que seria movimentado para outra Unidade onde estavam precisando preencher uma vaga. A função que exerceria nada tinha a ver com os conhecimentos adquiridos. 3)Um oficial após realizar um curso de pós-graduação na área de engenharia foi designado para ser chefe da garagem de uma base. Sem comentários. 4)Um outro oficial, com bastante experiência na área de administração de pessoal, foi transferido para um Comando-Geral para a seção de logística e reportou não conhecer nada das atividades que deveria desempenhar. Essa lista é muito longa e repetitiva, bastando apenas trocar os nomes, as capacitações adquiridas e as datas. Exemplos, como os citados, não precisam nem ser tabulados para serem comprovados, basta virarmos para um lado qualquer que, certamente, fatos similares serão encontrados. Isso representa um custo inaceitável para a Força, tanto em volume de dinheiro desperdiçado quanto em tempo, que é um bem irrecuperável, gerando conseqüências de vários tipos, tais como, desmotivação, erros de avaliação, decisões erradas, atrasos, descontinuidade administrativa, prejuízos financeiros, ações legais e uma lista interminável de contratempos. Tudo isso porque adotamos o paradigma de que o conhecimento está na função, na cadeira que o militar ocupa e não nas habilidades e nas experiências que cada um traz consigo; que cada elemento, integrante da organização é um ser único, que tem seus anseios, suas preferências e características próprias. Todo aquele que estiver lendo este texto e pensando “com seus botões” que o mais importante é a missão da organização, e não as características e preferências de cada um, es-

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tará perfeitamente correto e redondamente enganado ao mesmo tempo. Correto porque não poderia ser diferente; a organização e sua missão são mais importantes do que o indivíduo. E enganado porque a atual forma de gerenciamento de recursos humanos, que não leva em conta as características do homem, encarece a administração e afeta negativamente sua produtividade. A lealdade, o moral elevado, a disciplina, o respeito, o comprometimento com os objetivos da organização, e outras qualidades, são diretamente relacionadas com a satisfação de necessidades básicas do homem, às vezes muito simples e sutis, como afirmava Maslow [6]. “As guerras podem ser lutadas com armas, mas são ganhas por homens. É o espírito dos homens que seguem e do homem que lidera que obtém a vitória” – General George S. Patton [4]. “O principal talento de um general consiste em conhecer a mentalidade do soldado e em ganhar sua confiança”- Napoleão Bonaparte [4]. “Promova as pessoas para posições em que seus talentos possam ser mais bem utilizados e aperfeiçoados”- William A. Cohen, PhD, USAF [4]. Poderíamos listar mais um sem número de citações que ratificam a importância de serem consideradas as habilidades do indivíduo, sangue de qualquer organização, todas ditas por expoentes, desde Sun Tzu até os tempos modernos. E, ainda assim, perseveramos no erro. A capacidade e as habilidades das pessoas precisa ser valorizada e reconhecida durante toda a carreira, de forma efetiva e transparente (para que haja confiabilidade) em todos os níveis da Organização e não de forma subjetiva e inconsistente. Ao conversarmos, ao longo de vários anos, com colegas que passaram para a reserva, to-

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dos, sem exceção, confirmam que o principal motivo pelo qual tomaram aquela decisão foi, em primeiro lugar, a falta de perspectivas palpáveis, ou seja, a visão de futuro que a organização deveria ter para motivar seus integrantes: o paradigma da missão. Em segundo lugar, a falta de motivação, resultado da inexistência de uma política de gerenciamento de recursos humanos moderna e que valorize as qualidades do indivíduo: o paradigma do conhecimento. A FAB vive sob a égide de paradigmas arraigados na cultura organizacional que, encobertos pelos problemas do dia-a-dia, pela rotina e pelo afastamento da sociedade, formam uma cúpula isolante, impedindo a percepção de que está caminhando para uma situação de alto risco, assim como na Síndrome do Sapo Fervido.

Referências bibliográficas 1. BRASIL. Ministério da Aeronáutica. “Diretriz Estratégica da Aeronáutica -DMA 15-1”. Brasília, 1998. 2. ______ . “Doutrina Básica da FAB - DMA 1-1”. Brasília, 1997. 3. ______ . “Política da Aeronáutica - DMA 14-5”. Brasília, 1998. 4. Cohen, William A. “Lições de Liderança em Tempos de Guerra”. São Paulo: Makron Books, 2001. 5. Drucker, Peter F. “Administração de Organizações Sem Fins Lucrativos, princípios e práticas”. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1999. 6. Maslow, Abraham H. “Maslow no Gerenciamento”. São Paulo: Qualitymark, 2000. 7. Oliveira, Djalma de Pinho Rebouças. “Planejamento Estratégico: conceitos, metodologia e práticas”.15. ed. São Paulo: Atlas, 2001.

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Institucionalizando a Excelência Paulo César Guerreiro da Costa, Maj.-Av. EMAER

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or volta de 1761, sob o comando de Frederico, o Grande, as tropas Prussianas obtiveram uma série de brilhantes vitórias sobre inimigos muitas vezes em vantagens numéricas de cinco para um. Não por acaso, o exército da Prússia manteve uma aura de invencibilidade que só veio a desmoronar em 1806, quando foi praticamente dizimado pelas tropas francesas nas batalhas de Jena e Auerstad. Apesar de ter a mesma competência e o mesmo nível de treinamento de cinqüenta anos atrás, os prussianos não eram mais liderados por alguém que hoje consta na maioria das listas dos dez maiores gênios militares de todos os tempos e, pior ainda, tiveram a infelicidade de ver no comando das fileiras inimigas ninguém menos do que Napoleão, considerado por muitos o mais brilhante dentre os que compõem este seleto rol. Atentos à dependência que os exércitos tinham de gênios militares, um insumo de difícil obtenção, o grupo de cinco oficiais responsável pela reconstrução do exército da Prússia, dentre os quais se incluía o então Major Karl Von Clausewitz, tomou como premissa que a única maneira de eliminar tal dependência seria através da “diluição” desta genialidade pela organização militar como um todo ou, em outras palavras, através da institucionalização da excelência. Esta reestruturação teve um maior enfoque nas áreas de gerenciamento da guerra (mobilização, treinamento, supervisão, etc.) e melhoria do processo decisório. Na primeira, foi nítida a preocupação com o controle dos efetivos (ativa e reserva) e com a quantificação da capacitação e eficiência dos mesmos, ao passo que a competência em termos decisórios foi perseguida por intermédio de sensíveis melhorias nas escolas militares e no processo de seleção para os postos de comando. É inegável o legado de sucesso que este

processo obteve, principalmente ao levarmos em conta que, no período que vai do início desta reorganização até 1945, os exércitos prussianos e, posteriormente, alemães obtiveram uma consistente superioridade em termos de eficiência e eficácia em relação a seus inimigos, a despeito das derrotas sofridas nas duas O Major-Aviador Paulo grandes guerras e do fato de não Cesar Guerreiro da Costa é Líterem nenhum gênio militar no der de Esquadrão da aviação de comando1 . Caça. Concluiu o CFOAv em Nestes fatos da história mi- 1986 e serve atualmente na 3ª litar podemos inferir uma corre- Subchefia do EMAER. Possui lação com o período pelo qual cursos nas áreas de guerra elepassa nossa Força. Como sabe- trônica e planejamento estratémos, os fatos do passado são um gico no Brasil e na Inglaterra. É excelente recurso para se anali- Mestre em Engenharia de Sissar os do presente, conquanto os temas pela George Mason consideremos sob a ótica do con- Universtity (Virginia – EUA), texto político, social e com especialização em C3I, e tecnológico onde os mesmos es- atua como colaborador nos tavam inseridos. À luz deste cursos do CGEGAR. enfoque, os episódios supracitados contêm ensinamentos úteis para uma análise de nosso atual estágio, principalmente quando observados sob o contexto do que hoje é a grande força motriz da guerra moderna: a tecnologia. Não é necessário muito esforço para se ter uma noção da importância deste fator em qualquer análise do mundo atual. Ao fazermos uma retrospectiva dos avanços tecnológicos ao longo da história da humanidade é impressionante a constatação da desproporção entre o que se atingiu no último século em comparação com o restante de nossa existência. Um observador mais atento certamente irá notar que dentro do próprio século XX a mesma desproporcionalidade ocorre entre o início e os últimos anos deste período. O passado recente nos mostra algo que

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Maj. Karl Von Clausewitz Fonte: The Clausewitz Homepage (www.clausewitz.com)

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pode ser entendido como um ponto de inflexão, onde claramente a história da evolução tecnológica adquiriu um comportamento exponencial. Em outras palavras, estamos diante de uma época onde as mudanças não seguem um comportamento linear e, portanto, de fácil previsibilidade. No campo militar os reflexos deste fenômeno podem ser observados pela onipresença da tecnologia na arte da guerra, onde o preço da obsolescência é cada vez mais alto frente ao que o seria há alguns anos atrás. Cabe ressaltar que, em função de suas características próprias, a Força Aérea é sem dúvida a arma que mais sente os efeitos do avanço exponencial da tecnologia e, portanto, a que mais deve estar preparada para os mesmos. Considerando os óbices da atual conjuntura nacional e o estágio tecnológico em que se encontra a Aeronáutica, iniciativas como a criação do Programa de Fortalecimento do Controle do Espaço Aéreo (PFCEAB) revestemse de um caráter de rara importância para uma Força Armada em um país em desenvolvimento. Não obstante, ao contrário do que poderia ocorrer no passado, a mera aquisição de equipamentos de última geração não garante a eficiência da Força Aérea em cumprir sua destinação constitucional. A busca pela eficiência militar passa não apenas pela modernidade dos equipamentos, mas também pela otimização das técnicas, táticas, conceitos de emprego e demais campos onde o aprendizado não se encontra à venda no mercado. Neste ponto, o avançado estágio

técnico de grande parte dos equipamentos a serem incorporados ao acervo da FAB tornou inadiável a necessidade de também progredirmos na dimensão metodológica. Em resposta a esta constatação, nossa instituição passou a adotar diversas iniciativas que em muito se assemelham ao processo elaborado pelos reformadores do exército prussiano após 1806. Na busca pela otimização gerencial da guerra, o desenvolvimento de sistemas como o Ópera, o Hércules e o SISGPO têm o mesmo escopo das modificações que garantiram um elevado patamar de eficiência na área de Comando e Controle nos níveis tático, operacional e estratégico do exército prussiano. Já no tocante ao processo decisório em geral, podemos destacar algumas iniciativas estratégicas voltadas para uma melhor capacitação dos recursos humanos. Uma delas é o projeto Marte, que visa obter na área de jogos de guerra, inicialmente focada na ECEMAR, um salto qualitativo equivalente ao que o PFCEAB trará à Força em termos de equipamentos. Novamente é possível retroceder no tempo e constatar que uma das maiores prioridades da reforma prussiana foi justamente nesta área, onde os jogos de guerra da “War Academy” passaram a refletir fielmente o “modus operandi” do exército prussiano em campanha, sendo um bom desempenho nestes um pré-requisito aos postos mais prestigiados da instituição. O nível de excelência alcançado pelo exército alemão fez com que ele servisse como base para muitas instituições militares, algo que também tinha sido previsto pelos reformadores, que buscaram, então, garantir a vanguarda através do constante aprimoramento dos recursos humanos. Hoje, a experiência dos países ditos de primeiro mundo mostra que é cada vez mais necessária a conjunção entre o conhecimento

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operacional e a capacitação científica, sendo possível observar que apenas um grupo seleto de Forças Aéreas produz novos conceitos de emprego, os quais são posteriormente copiados pelas demais. Também à semelhança do exemplo prussiano, recentes iniciativas na Aeronáutica têm tornado evidente a preocupação com a busca pela independência no campo científico voltado para as aplicações operacionais, de forma a poder ingressar no grupo de elite das Forças Aéreas que tem a capacidade de gerar Doutrina. Para tal, a FAB deve buscar a garantia de que sua estrutura de capacitação de recursos humanos seja capaz de forjar Oficiais que possuam o domínio global de todos os conceitos e técnicas necessárias ao emprego pleno do Poder Aéreo. Um dos resultados desta busca é o Programa de Pós-Graduação em Aplicações Operacionais (PPGAO) que, na mesma linha dos reformistas prussianos, enfoca a capacitação tecnológica e metodológica nos assuntos da Guerra, em nosso caso procurando aproveitar a excelência já alcançada pela Aeronáutica em seu complexo tecnológico (CTA) e abrir novas linhas de pesquisa nas áreas onde o conhecimento não é facilmente obtido no exterior ou, quando oferecido, normalmente está desatualizado e redunda em custos muito altos. Seria fácil prosseguir nesta comparação entre uma Força Armada do passado que, partindo de uma situação caótica, se tornou exemplo de excelência por mais de um século, com uma Força Armada do presente que, ao se deparar com uma conjuntura adversa, tem tomado iniciativas bastante semelhantes. Porém as óbvias diferenças entre os dois casos tornam prudente abstrair apenas o sentido geral que está por trás destas semelhanças. Napoleão, durante o armistício de 1808, impôs restrições brutais ao já depauperado

exército da Prússia, na intenção de impedir que aquele país voltasse a ser uma potência militar. Piorando esta situação, o grupo dos reformadores encontrou seriíssimas reações às mudanças por eles pregadas, vindas principalmente dos nobres, casta que dominava a oficialidade do exército e detinha o controle de seus processos. No entanto, a própria necessidade de sobrevivência da Prússia como nação fez com que a busca pela excelência suplantasse todas estas reações. Esta parte da história parece-nos corroborar a noção de que, por mais adversas que sejam as condições, o caminho para a institucionalização da excelência encontra-se na otimização gerencial e no aprimoramento dos recursos humanos, aparentemente um caminho que nossa organização tem procurado trilhar. Economizar nestas áreas significa optar por um alívio em curto prazo em troca da insolvência no futuro, pois os juros cobrados pela estagnação tecnológica a uma Força Aérea deixariam encabulado o mais cruel dos agiotas.

Bibliografia Beason, J. D.; “A Necessidade de Guerreiros Técnicos”, artigo reproduzido na revista Spectrum nº 5, Brasília, 2002. Creveld, M. V.; Command in War; Harvard University Press, Londres, 1985. Dupuy, T. N.; A Genius for War; Nova Publications, 8a ed., Falls Church, 1997.

Notas 1 Líderes como Moltke, nas campanhas de 1866, e Rommel, na Segunda Guerra, foram inegavelmente comandantes brilhantes; porém é consenso que nenhum deles está no patamar de Napoleão ou Frederico, o Grande.

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Programa de Pós-Graduação Para a Guerra: Fator de Assimetria Operacional CGEGAR - COMGAR

“ ... a maior ameaça é a fragilidade intelectual ...” (Ten.-Brig do Ar José Carlos Pereira Simpósio sobre Preparo e Emprego da FAB, 1999)

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ois fatores causam assimetria operacional no espaço de batalha: tecnologia e concepção de emprego. Enquanto aquela depende de aporte financeiro, esta (a concepção de emprego) depende da capacitação dos recursos humanos de uma força armada, para desenvolver, entender e explorar conceitos de guerra, estratégias, modelos, métodos, táticas e procedimentos operacionais. Na guerra do Yom Kippur, por exemplo, as Forças Armadas Árabes possuíam superioridade numérica e até mesmo a surpresa tecnológica (mísseis portáteis, técnica Doppler para guiamento radar de mísseis superfície-ar, o conceito de guarda-chuva de fogo, etc). No entanto, as Forças de Israel saíram vitoriosas naquele embate, pois possuíam recursos humanos melhor capacitados, capazes de inovar, desenvolver, entender, explorar e causar assimetria no espaço de batalha. Por certo, as forças israelenses não se limitaram a formar recursos humanos apenas para repetir estratégias, modelos, métodos, táticas e procedimentos operacionais, eles buscaram a excelência na área de defesa. Este artigo se propõe a analisar, sucintamente, a importância do Programa de Pós-Graduação em Aplicações Operacionais (PPGAO – mestrado e doutorado nas áreas de comando e controle, guerra eletrônica, análise operacional e armamento aéreo) e o Curso de Especialização em Análise de Ambiente Eletromagnético (CEAAE – pós-graduação lato sensu em guerra eletrônica) como um fator de assimetria operacional, a ser utilizado pelas Forças Armadas Brasileiras e, em especial, pela Aeronáutica.

1 – O Enfoque da Pós-Graduação A capacitação de pessoal no nível de pós-

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graduação (mestrado e doutorado) é o principal pilar de sustentação do progresso acelerado das várias atividades humanas dos dias atuais. Métodos e tecnologias têm sido desenvolvidos num ritmo cada vez mais crescenO CGEGAR (Centro de te, permitindo superar barreiEletrônica do ras nos vários campos do Guerra COMGAR) assessora o Comanconhecimento. A principal diferença dante Geral do Ar na gerência entre a formação no nível de do SIGEA (Sistema de Guerra graduação e a pós-gradua- Eletrônica da Aeronáutica). Foi ção é que enquanto aquela criado em 1993 como 1SC7 prepara os recursos humanos (Sétima Seção da 1ª para desempenhar funções Sub-Chefia do COMGAR) e, em conforme métodos, mode- 1995, passou à denominação los, concepções e NuCenCE (Núcleo do Centro tecnologias existentes (for- de Combate Eletrônico do mação do repetidor), esta COMGAR). Em 1997, passou capacita-os a desenvolvê- à atual denominação, sendo los, a pesquisar, buscar a ino- composto das seguintes sevação, superar obstáculos ções: Desenvolvimento de Renovos e antigos, criar condi- cursos Humanos, Inteligência, ções favoráveis para que as Técnica e Análise Operacional. organizações possam competir com maior probabilidade de sucesso. Outra diferença a ser considerada é que o “feed back” de uma pessoa que conclui o curso de graduação só ocorre ao longo do tempo, durante o desempenho das funções, enquanto na pós-graduação poderá ser imediato com o aproveitamento da tese desenvolvida, além de uma melhor preparação para as atividades de síntese, análise e avaliação de soluções. No modelo educacional consagrado no mundo, a Taxionomia de Bloom, no domínio cognitivo, estabelece os seguintes níveis de objetivos operacionais a serem alcançados ao final de um determinado curso: a)conhecimento ou familiarização; b)compreensão; c)aplicação; d)análise e síntese; e e)avaliação (da solução).

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Os cursos, cuja proposta pedagógica visa atingir os três primeiros níveis, limitam-se a capacitar os recursos humanos para responder a estímulos situacionais conforme modelos, métodos e tecnologias desenvolvidos por outrem, ou seja: forma um repetidor. Os dois últimos níveis são melhores alcançados nos cursos de pós-graduação, pois visam, especificamente, a formação de profissionais com pensamento crítico e capacidade de análise, síntese e avaliação de soluções (busca da excelência - inovação). Na Aeronáutica, antes da ativação do PPGAO e do CEAAE, os cursos operacionais atingiam, no máximo, o terceiro nível da Taxionomia de Bloom (aplicação). Isto caracterizava uma preocupação em formar “o repetidor” e pouca ênfase em capacitar os integrantes da Força Aérea a desenvolver ou criticar conceitos de guerra, concepções de emprego, modelos, métodos, táticas e procedimentos operacionais, além de aumentar suas capacidades de análise, síntese e avaliação. Com a ativação do PPGAO e CEAAE, a capacitação dos recursos humanos da Força Aérea Brasileira, para fins de defesa, passou a ser realizada dentro de uma política coerente com as necessidades dos cenários operacionais, norteada pela busca da excelência, cuja proposta pedagógica foi elaborada para atender a todos níveis da guerra, a característica inusitada do combate e visa preparar o homem para entender e explorar as interações que ocorrem no teatro de guerra e, até mesmo, gerar novos conceitos, concepções operacionais, métodos, modelos, táticas, procedimentos e tecnologias voltadas para o emprego militar (“know-why”).

2 - A Pós-Graduação na Área Militar Na área militar a formação no nível de pós-graduação permite a uma Força Armada desenvolver, entender e explorar, com maior probabilidade de sucesso, os conceitos de guerra, as concepções de emprego, os modelos, métodos, táticas, procedimentos operacionais e as tecnologias utilizadas nos cenários de cri-

se, conflito ou guerra. Como exemplo da importância deste tipo de formação, na Força Aérea dos EUA 96/% dos oficiais realizaram, no mínimo, um curso no nível de mestrado, e a Marinha desse mesmo país adota como um dos critérios, para comandar um porta-aviões, que o oficial tenha realizado um curso de doutorado, pois esse tipo de belonave pode tornar-se o navio-capitânia de uma frota inteira e esse nível de curso aumenta a capacidade de análise, síntese e avaliação da solução por parte de quem o realiza, diminuindo a probabilidade de insucesso nas decisões. A Aplicação Militar do Poder Aeroespacial Brasileiro é um monopólio exclusivo da Aeronáutica. Da mesma forma, a Petrobrás possuía o monopólio da exploração e explotação do petróleo no Brasil até pouco tempo atrás. A diferença é que esta empresa tornou-se a melhor do mundo no seu negócio na plataforma marítima. Isso aconteceu principalmente pelo fato da Petrobrás possuir um programa de busca de excelência, que consta basicamente da capacitação de recursos humanos no nível de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado), com os temas das teses direcionados para atender às suas necessidades. A Aeronáutica possui, há muito tempo, programas de busca de excelência na área técnica que tem apresentado resultados de inquestionável valor para o país. Esses programas foram iniciados a partir da criação do ITA. Esse instituto é considerado pelo MEC como a melhor instituição de ensino em engenharia do país e conta com um formidável corpo docente, uma infra-estrutura considerável, além de possuir a melhor biblioteca de engenharia da América Latina. O preparo e emprego eficaz e eficiente de uma Força Aérea dependem das seguintes atividades, consideradas essenciais: a)Logística – que tem a finalidade de fornecer meios e pessoal; b)Inteligência – que trata da segurança das informações referentes ao ambiente operacional amigo e do levantamento das possibilidades e

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limitações do inimigo; c)Comando e Controle – que cuida da gerência e da aplicação dos meios, dos homens e de processos; visando atingir determinados objetivos políticos e operacionais; d)Guerra Eletrônica – que engloba as ações e o estabelecimento de critérios, métodos, modelos, concepções ou táticas militares, destrutivas ou não, de utilização do espectro eletromagnético, que tenham como objetivo a obtenção de assimetria vantajosa sobre o oponente; e)Análise Operacional - que propicia a uma força armada metodologia e ferramentas para identificar as variáveis componentes de um problema operacional, caracterizá-las, mensurá-las, definir indicadores (coeficiente de atrito, probabilidade de sucesso, erro circular provável, etc), avaliar equipamentos, sistemas e armamentos, estabelecer procedimentos e fazer prognósticos de resultados; e f) Operações Psicológicas – que buscam influenciar o comportamento de organizações, governos, estados e pessoas, de modo a facilitar a consecução dos objetivos amigos. Percebe-se que as forças armadas que possuem programa de pós-graduação nessas atividades são as que têm conseguido obter sucesso nos campos de batalha nos últimos sessenta anos.

3 – O PPGAO e CEAAE como Fatores de Assimetria Operacional Todas as forças aéreas no mundo capacitam recursos humanos, poucas, no entanto, atingem os níveis mais altos de conhecimento nesse “negócio” denominado defesa. Isso ocorre devido a vários fatores, dentre os quais, alguns merecem destaque: a)a grande maioria das forças aéreas limitam-se a capacitar os recursos humanos, visando o desempenho das funções a bordo das plataformas ou no solo (formação do repetidor), sem, contudo, considerar a necessidade de evolução, melhoria constante, domínio do conhecimento, desenvolvimento de conceitos, concepções, táticas, métodos, modelos e procedimentos operacionais; e

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b)a maioria das forças aéreas sabem formar bem um piloto, poucas, no entanto, têm programa de pós-graduação nas áreas de comando e controle, guerra eletrônica, análise operacional, armamento aéreo, logística e operações psicológicas. O resultado desse desnível no enfoque de capacitação de recursos humanos, entre forças aéreas de diferentes países, é que apenas um pequeno grupo delas gera a quase totalidade dos conceitos, concepções, táticas, modelos, métodos e, até mesmo, novos procedimentos operacionais, enquanto que a maioria apresenta dificuldade para entender ou, até mesmo, copiar a evolução que ocorre nessas áreas e que afetam a maneira de aplicar a arma aérea. Essa diferença é um dos principais fatores causadores de assimetria entre forças aéreas, pois política de capacitação de recursos humanos sem programa de pós-graduação, pode criar dependência intelectual/doutrinária, corre o risco de deixar a força conceitualmente fraca, com pouco entendimento de emprego e, mesmo que possua recursos tecnológicos, existirá grande probabilidade de cometer erros amadores, por falta de concepção atualizada. Pós-graduar nas várias áreas da guerra é, portanto, muito mais que uma simples política de educação, é querer dividir com as melhores forças aéreas o pódium do campo de batalha, pois, ao contrário da tecnologia que depende de quantidade significativa de aporte financeiro e de decisões que extrapolam os limites da Força Aérea Brasileira, a doutrina e capacitação de recursos humanos são questões confinadas aos muros da caserna, e a opção de estabelecer ou não programas que permitam-na ficar entre as melhores do mundo nessas áreas, dependia da idéia de vitória de seus integrantes. Esta realidade fez com que a Força Aérea Brasileira adotasse uma postura pró-ativa na capacitação de recursos humanos, de modo a criar valores compartilhados, preparar os integrantes da organização para liderança intelectual, capacitálos para desenvolver teoria ou visão de vitória, possibilitar a melhor utilização das características

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da arma aérea (velocidade, alcance e flexibilidade), entender e explorar os conceitos de precisão, conhecimento situacional global e do teatro de operações, estabelecer estratégias e aplicar o poder aéreo como instrumento de política do estado-nação. Numa busca de institucionalização da excelência na área operacional, o Comandante da Aeronáutica emitiu a portaria 941/GC3, de 11 Dez 2001, que cria, no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o Programa de Pós-Graduação em Aplicações Operacionais (PPGAO), nos níveis de Mestrado e Doutorado, nas áreas de Comando e Controle, Guerra Eletrônica, Análise Operacional e Armamento Aéreo, com a finalidade de formar militares e civis para o exercício de atividades de análise, síntese, avaliação, pesquisa e desenvolvimento de concepções, métodos, modelos, conceitos, táticas, procedimentos e tecnologias, todas relacionadas com aplicações operacionais. Esse programa tem por objetivo atender às necessidades operacionais da Aeronáutica, visando à geração e ao domínio do conhecimento nos níveis estratégico, operacional e tático. Os temas das teses de mestrado e doutorado serão definidos pelo EMAER E COMGAR ou outros setores da Força Aérea, caracterizando um retorno quase que imediato do investimento.

4 – Perspectivas Nos últimos sessenta anos, quase todos os conceitos de guerra, concepções de emprego, modelos, métodos, táticas e, até mesmo, procedimentos operacionais para a utilização eficaz da Arma Aérea foram desenvolvidos por, basicamente, três países: Inglaterra, Estados Unidos da América e Israel. Coincidentemente, esses países venceram todos os embates em que se envolveram neste período, pois possuíam um dos maiores fatores de assimetria: programas de busca da excelência em defesa. No caso brasileiro, o CEAAE e o PPGAO serão instrumentos pedagógicos que transformarão o potencial, existente no capital humano, em capacidade, pois resultarão nos seguintes ganhos operacionais:

a) aumentará, de maneira consideravel, a capacidade das FFAA brasileiras de resolverem problemas operacionais e técnicos de ambiente de guerra; b)possibilitará a geração de novos conhecimentos (Know-Why) que resultem em conceitos de guerra, concepções de emprego, modelos, métodos, táticas, procedimentos e tecnologias; c) concorrerá para melhorar o ciclo de decisão nos vários níveis da guerra; d)ampliará a capacidade de otimização e utilização dos meios existentes nas FFAA; e e) aumentará a capacidade de tirar proveito das concepções e dos recursos técnicos do inimigo. Considere-se, ainda que as Forças Armadas Brasileiras serão as únicas, abaixo da linha do equador, a possuírem programa semelhante, que não apenas causa assimetria operacional, mas, principalmente, contribui para aumentar o Poder de Dissuasão. Embora, as matrículas de integrantes das três Forças Singulares Brasileiras tanto no CEAAE (que já está na sua quinta edição) como no PPGAO (que está iniciando em 2003) tenha ocorrido com normalidade, as seguintes ações necessitam ser levadas a efeito: a) implementar um programa de pós-doutorado para os professores do CEAAE e PPGAO, com duração de seis meses a um ano, em estabelecimentos de ensino que atuem em áreas afins (“Naval Postgraduate School”, a George Maison University nos EUA, etc); b)buscar o patrocínio do Ministério da Defesa, vez que o programa atende às três Forças Singulares Brasileira, além da indústria nacional de defesa; e c) ampliar o programa para atender uma maior demanda das FFAA Brasileira e em particular da Aeronáutica. Finalmente, pode-se inferir que esse programa poderá fazer a diferença entre a vitória e a derrota, o sucesso e o fracasso num teatro de guerra, além de tornar fato a busca da excelência operacional dentro da nossa Força.

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Gestão do Conhecimento Para a Área de Guerra Eletrônica David Almeida Alcoforado - Cap.-AV. COMGAR

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Guerra Eletrônica (GE) consolidou-se como uma atividade imprescindível e de extrema importância para a guerra moderna. A FAB, ciente desta realidade, tem investido grandes somas para formar pessoal numa área tão especializada. Um dos grandes exemplos é o Curso de Especialização em Análise do Ambiente Eletromagnético (CEAAE), realizado no ITA, que tem alavancado grande parte do conhecimento hoje existente na Força na área de GE. Recentemente, também foi criado o Programa de Pós-Graduação em Aplicações Operacionais (PPGAO), também no ITA, com cursos no nível de mestrado e doutorado nas áreas de armamento, comando e controle, guerra eletrônica e pesquisa operacional. Some-se a isto, os diversos cursos no nível de especialização e mestrado realizados no país e no exterior. Uma questão que advém desta política de formação de pessoal é como gerenciar toda a bagagem de conhecimentos adquiridos, visando o aproveitamento máximo do que vem sendo investido, fato este agravado por tratar-se de uma área cujo conhecimento se volatiliza num curto espaço de tempo.

A Gestão do Conhecimento Todos os benefícios gerados pelos programas de formação mencionados podem e devem ser potencializados através da utilização de adequadas ferramentas gerenciais. A resposta para este problema pode ser a implantação de uma metodologia que vem sendo empregada por grandes empresas de sucesso em todo o mundo, denominada Gestão do Conhecimento. A gestão do conhecimento pode ser entendida como a maneira como as organizações geram, difundem e alavancam os seus ativos intelectuais, e recentemente emergiu como uma fonte essencial de vantagem com-

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petitiva na economia da informação [2]. A economia do conhecimento segue uma nova lógica econômica, pois o conhecimento difere radicalmente de todas as outras “commodities”, porque não segue a teoria da escassez. O Cap.-Av. David é piloto Segundo esta teoria econô- de Caça, concluiu o CFOAv em mica, um dos quesitos para 1989 e exerce atualmente a que um produto se torne um função de Adjunto ao Centro bem econômico é a sua es- de Guerra Eletrônica do cassez. Assim, num exem- COMGAR. Possui os cursos de plo simples, o ar não é con- especialização em Telecomunisiderado um bem econômi- cações pela Universidade co pela sua não escassez. Já Gama Filho (RJ), Mestrado em o conhecimento, ao contrá- Pesquisa Operacional pela rio, segue o que se pode COPPE/UFRJ e Electronic chamar de teoria da abun- Warfare Simulation na França. dância. Quanto mais se compartilha, mais se tem, quanto mais alguém utiliza um conhecimento, maior será o seu valor. Existem basicamente dois tipos de conhecimento: o conhecimento explícito e o conhecimento tácito. O primeiro é o conhecimento formal e sistemático, facilmente difundido e disseminado nas organizações, através de cursos, palestras, manuais, normas e procedimentos. O conhecimento tácito é um tipo de conhecimento difícil de ser expressado ou formalizado, é o conhecimento pessoal. Normalmente, sabemos muito mais do que conseguimos expressar. Vejamos um exemplo: aquele instrutor de vôo que tem uma habilidade especial para ensinar um aluno a pousar ou voar formatura é aquele que consegue transformar o seu conhecimento pessoal, a sua experiência, em palavras ou numa “fórmula” para que o aluno possa aprender mais rápido. Quantas vezes seguimos um procedimento formal, escrito, cujo resultado não é favorável e temos

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que recorrer a alguém detentor de um conhecimento a mais que acaba por resolver o problema? O operador de um radar que tem um “macete” para identificar precocemente um alvo, um operador de um equipamento MAGE que sabe algo além dos manuais, e tantos outros exemplos, devem ser estimulados a difundir esse conhecimento. A difusão e a formalização de um conhecimento tácito é uma tarefa árdua e se constitui num dos maiores desafios da gestão do conhecimento.

Objetivos da Gestão do Conhecimento A gestão do conhecimento é uma disciplina que promove, com visão integrada, o gerenciamento e o compartilhamento de todo o ativo de informação possuído por uma organização. Esta informação pode estar em um banco de dados, documentos, procedimentos ou em pessoas, através de suas experiências e habilidades. Precisamos gerenciar o conhecimento para: 1. Não repetir os erros ou aprender com a experiência; 2. Registrar o conhecimento; 3. Registrar as melhores práticas; e 4. Disponibilizar o conhecimento gerado na organização. A gestão do conhecimento não é uma tecnologia, mas usa a tecnologia. É uma metodologia e não um produto. Para que um projeto de gestão do conhecimento obtenha êxito é necessário que ocorram mudanças culturais e gerenciais na organização, e a principal tarefa é transformar o conhecimento tácito em conhecimento explícito, através de ferramentas adequadas para disponibilizar o conhecimento para toda a organização. Uma boa estruturação nesta área também permite às organizações transformar uma variada gama de

dados brutos em conhecimento útil e vital para a tomada de decisão.

Modelos de Gestão do Conhecimento O modelo de gestão do conhecimento, adotado pelo Centro de Referência em Inteligência Empresarial (CRIE) da COPPE/UFRJ [2], baseia-se na exploração dos capitais do conhecimento, conforme ilustra a Figura 1. Segundo este enfoque, o conhecimento está baseado no capital de relacionamento, capital estrutural, capital intelectual e capital ambiental. O capital ambiental engloba todo o conhecimento a respeito do ambiente externo à organização, como os fatores políticos, novas tecnologias, mudança nas regras de competição, entre outras, e neste meio estão inseridos todos os outros capitais. O capital estrutural refere-se ao meio físico para que a organização funcione, como os programas de computadores, máquinas, sistema administrativo, rotinas, marcas, patentes, entre outros. O capital de relacionamento é a rede de relacionamentos de uma organização com clientes, parceiros e fornecedores. Por fim, o capital intelectual, que são as pessoas, é o maior patrimônio de qualquer organização. Um projeto de gestão do conhecimento deve contemplar todos os capitais mencionados, e para cada um deles existem ações específicas a serem desenvolvidas.

Capital Ambiental

Capital de Relacion amento

Capital Estrutural

Capital Intelectual

Figura 1 - Modelo de gestão do conhecimento dos quatro capitais do conhecimento - COPPE/UFRJ

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Um outro enfoque interessante foi apresentado por Quinn et al.[3], que é o conceito das “Redes Intelectuais”. Uma aplicação para este conceito na área de GE seria a divisão de especialistas em determinas áreas, por exemplo, a especialização por faixas do espectro. Cada equipe ficaria integrada por meio de “software” adequado para a gestão do conhecimento e teriam tarefas específicas. Teriam como objetivo desenvolver pesquisa sobre os temas de sua área, atualizar e disponibilizar o conhecimento, além de outras tarefas a serem identificadas. Esta seria uma forma interessante para evitar que algum colaborador altamente especializado se isole em alguma unidade e acabe por perder todo o conhecimento adquirido. A chave de sucesso para essas equipes é a motivação, através de incentivos, cursos de atualização, participação em congressos, além de serem submetidos a um processo de avaliação de rendimento.

A Importância do Conhecimento na Sociedade Pós-Industrial

quisa, o cinema e a CNN. A produção por si só não representa mais uma vantagem competitiva. Hoje, 55% da riqueza mundial está baseada no conhecimento. A FAB tem tudo para liderar um grande processo de inovação na área de guerra eletrônica, pois já possui uma massa crítica de pessoal capacitado em vários níveis, desde a pesquisa básica, até o elo operacional, tudo isso com o suporte de uma indústria que se mostra cada vez mais competente. Então, mãos à obra!

Referências: [1] Gomes, E. Fabiane, B. Inteligência Competitiva. Rio de Janeiro, Campus, 2001. [2] Drucker, P. “The Coming of the New Organization”. Harvard Business Review, jan 1988. [3] Quinn, J.B. Anderson, P. Finkelstein, S. “Managing Professional Intellect: Making the Most of the Best”. Harvard Business Review, Mar 1996. [4] De Masi, D. O Ócio Criativo. Rio de Janeiro, Sextante, 2000.

Sem dúvida, muitas outras idéias surgirão para a gestão do conhecimento na área de GE, e também existem várias técnicas para implantar um projeto nessa área, cuja abordagem foge ao escopo deste artigo, mas podem ser facilmente encontradas nas referências citadas. O principal objetivo é alertar que algo precisa ser feito para otimizarmos a aquisição de conhecimentos numa área tão crucial para a guerra. Segundo De Masi [4], na sociedade industrial, o poder dependia da posse dos meios de produção (fábricas). Na sociedade pós-industrial, o poder depende da posse dos meios de ideação (laboratórios) e de informação. Os Estados Unidos são uma potência não porque possuem a Ford ou a Microsoft, mas porque possuem universidades, laboratórios de pes-

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Baixa Probabilidade de Interceptação (LPI – Low Probability of Intercept) Requisito Essencial na Guerra Moderna Antônio Ferreira de Lima Júnior, Cap.-Av. COMGAR

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elemento surpresa sempre representou um fator importantíssimo em ações militares. Imagine um cenário de combate onde uma das forças participantes detecta alvos, guia mísseis e navega emitindo todo o tempo sem ser interceptada eletronicamente por seus oponentes. A evidente vantagem obtida em tal situação explica o fato do número crescente de radares e aviônicos com capacidade LPI que surgiram nas duas últimas décadas, bem como o sempre presente requisito de baixa probabilidade de interceptação que vem sendo inserido em novos projetos de radares aerotransportados ou não. [1] Radares e aviônicos convencionais que realizam qualquer tipo de emissão eletromagnética sempre apresentaram o “efeito colateral” da detecção por parte de receptores de guerra eletrônica. O requisito de baixa probabilidade de interceptação para radares decorre da constante necessidade de superioridade de informações sobre determinado oponente num ambiente de combate, ou, em termos gerais, da necessidade de “ver sem ser visto”. O conceito portanto é bastante subjetivo e está vinculado à possibilidade de utilização de equipamentos MAGE (Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica) e CME (ContraMedidas Eletrônicas) por parte do oponente, com o propósito de localizar, identificar e interferir ou alterar (“jammear”) o sinal radar amigo em benefício próprio, bem como à possível utilização de mísseis anti-radiação ( ARM ) para destruição ou danificação do emissor. Este requisito não vem sendo exigido somente de radares aerotransportados de designação de alvos, guiagem e direção de tiro, mas também de equipamentos bastante conhecidos e largamente utilizados como radialtímetros, radares de vigilância e navegação, equipamentos de pouso de precisão,

radares de mísseis ar-terra e torpedos como o “Spearfish” (em seu modo de guiagem ativa). A baixa probabilidade de interceptação pode ser atingida através de técnicas como o controle da potência de emissão, espalhamento da O Cap.-Av. Antônio banda de transmissão Ferreira de Lima Júnior é instru(“spread spectrum”), diversi- tor de patrulha, concluiu o dade e agilidade de freqüên- CFOAV em 1993 e exerce atucia, e aumento da complexi- almente a função de Adjunto da dade da varredura. [2] Seção de Desenvolvimento de Estas técnicas podem ser Recursos Humanos do usadas em conjunto ou isola- CGEGAR. Possui o Curso de Esdamente, levando inclusive à pecialização em Análise de possibilidade do radar ser in- Ambiente Eletromagnético, no terceptado porém não identi- Instituto Tecnológico de Aeroficado, tornando praticamen- náutica (ITA) e Mestrado em Ente impossível, numa situação genharia de Sistemas pela Nareal, qualquer tomada de de- val Postgraduate School cisão em tempo útil. Como (Califórnia - EUA) , com espeexemplo poderíamos citar o cialização em Guerra Eletrôniproblema no qual um subma- ca. rino chega a interceptar o radar do “Spearfish”, porém não o identifica como tal a tempo de efetuar uma manobra evasiva, imaginando tratar-se de sinal espúrio. Fazendo uma análise rápida das técnicas mencionadas, o controle de potência de emissão visa tornar o “duty cycle” (razão entre a largura de pulso e a freqüência de repetição de pulsos) o maior possível, ao mesmo tempo que a potência é mantida no menor valor que ainda permita a detecção de alvos de interesse do radar. Numa representação gráfica podemos visualizar a relação Tempo X Potência que irá definir o “duty cycle” de um radar LPI, usando transmissão de onda contínua (CW), em comparação com um radar pulsado:

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ção linear em freqüência de sinal de onda contínua (FMCW), possuindo inerente capacidade “spread spectrum”, além de controlar a potência de emissão de acordo com o terreno sobrevoado, diminuindo a probabilidade de interceptação do sinal emitido. [3]

Figura 1: Comparação entre o “duty cycle” de um radar pulsado e de um radar LPI CW.

A diferença entre um radar CW convencional e um radar LPI é, além do controle de potência de transmissão, a modulação do sinal de onda contínua em freqüência ou em fase. Este método, usado para aumentar a banda de transmissão do radar, pode ser dividido em modulação linear ou senoidal em freqüência, modulação em fase (alterando a fase do sinal entre dois valores – bifásica - ou mais polifásica) e formas combinadas das duas técnicas anteriores, usando seqüências pseudorandômicas (principalmente na modulação em fase), dependendo da aplicação. Desta forma a potência irradiada é espalhada por uma larga banda de freqüências, contribuindo para que a densidade espectral de potência no receptor fique abaixo do nível do ruído. [2] O sinal pode até eventualmente ser interceptado, porém a costumeira vantagem temporal e espacial dos receptores MAGE, necessária para uma reação rápida e eficaz, não mais estará presente. Uma outra razão para modular o sinal CW é a detecção de qualquer tipo de alvo (móvel ou estacionário), através do batimento “doppler” gerado pela própria modulação, diferente dos radares CW convencionais onde só é possível detectar alvos que provoquem desvio “doppler” na onda emitida devido ao seu movimento relativo. Um exemplo de aplicação LPI em aviônicos é o radialtímetro AN/APN 232 CARA (“Combined Altitude Radar Altimeter”) da empresa americana NavCom, que usa modula-

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Figura 2: Componentes do NavCom AN/ APN-232 (V) “CARA – Comb. Altitude Radar Altimeter”, Fonte: Jane’s Avionics 2002-2003.

Além do espalhamento espectral devido aos tipos de modulação mencionados, alguns radares também possuem diversidade ou agilidade de freqüência. Este fator torna o trabalho de um receptor MAGE ainda mais difícil visto que o receptor teria que cobrir toda a banda utilizada pela transmissão para que pudesse processar informação suficiente para uma identificação positiva. Existe ainda uma diferença básica entre radares pulsados com diversidade de freqüência e radares LPI com a mesma característica. Os radares pulsados apresentam o salto de freqüência entre a transmissão de um pulso para o outro, ou de um conjunto de pulsos para outro. Radares LPI geralmente utilizam salto em freqüência de sinal de onda contínua, ou seja, durante a transmissão, complicando bastante o seu processamento por outros receptores. O uso de modulações baseadas em processos pseudo-randômicos permite que o radar (conhecedor da seqüência decodificadora do sinal) seja o único capaz de demodular o sinal coerentemente. O receptor convencional que encontrasse este tipo de sinal não seria capaz de processá-lo

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e poderia até mesmo confundi-lo com o ruído.

LPI e a maior consciência situacional, decorrente de sua utilização, além de serem importantes na garantia do fator surpresa e do sucesso de qualquer ação militar, também auxiliarão taticamente numa tomada de decisão rápida e eficaz. Considerando uma corruptela do velho ditado: “Em ‘guerra’ de cego, quem tem somente um olho tem superioridade de informações”.

Referências Bibliográficas:

Figura 3: Antena fixa “active-element phased array” do AN/APG-77 (Radar LPI do F22 “Raptor”). Fonte: http://www.f22fighter.com/radar.htm

O sucesso de um radar LPI depende portanto da dificuldade que os receptores MAGE têm de detectar seus parâmetros de emissão. Do outro lado da moeda, o desenvolvimento de novas técnicas de análise de sinais digitais vem ajudar a diminuir esta vantagem dos radares LPI. Técnicas como o tratamento deste tipo de emissão como um processo aleatório e ciclo-estacionário (tratamento estatístico dos parâmetros do sinal), ou usando filtros de alta ordem permitem extrair parâmetros de sinais com características LPI. [4] Porém estes tópicos são razoavelmente complexos e merecem um novo artigo, talvez para a próxima edição. Por enquanto, fica a idéia da importância deste tipo de requisito tanto para radares como para aviônicos em geral, visto que o ambiente de combate tende a ficar cada vez mais eletronicamente denso, sofisticado e portanto cada vez mais difícil de ser dominado. A superioridade de informações está cada vez mais ligada ao domínio de tecnologia de ponta e ao uso inteligente da tecnologia disponível. A possibilidade de “ver sem ser visto” dos radares e aviônicos

[1] Para uma visão histórica da importância do elemento surpresa nas guerras e evolução da necessidade de baixa probabilidade de interceptação, vide FULLER, K. L. – “To see and not be seen”, IEEE Proceedings, Vol. 137, Pt. F, nº1, p. 2-9, Fevereiro 1990 [2] Para uma compreensão do uso de técnicas de espalhamento espectral na modulação de sinais radar, vide BURGOS-GARCIA M., et al, “Radar Sensor using LPI Spread Spectrum Frequency Hopping Signal”, IEEE AES Systems Magazine, p. 23-28, Abril 2000 [3] Vários exemplos de equipamentos usando tecnologia LPI podem ser encontrados no link da Jane´s Avionics na Intraer: www.janes.intraer

[4] Apresentação e implementação em Matlab® de dois métodos para análise de sinais LPI, sob a ótica do receptor MAGE: LIMA, A. F., “Analysis of Low Probability of Intercept (LPI) Radar Signals Using Cyclostationary Processing”, Master Thesis, NPS, EUA, Setembro 2002

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Aplicação de Sistemas Eletroópticos na Aviação de Patrulha Sidney César Coelho Alves, Cap.-Av. 2º/7º GAv.

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om a aprovação pelo Governo Federal do “Programa de Fortalecimento do Espaço Aéreo Brasileiro”, surgiu na FAB uma expectativa muito grande à respeito das novas potencialidades advindas da aquisição de plataformas de última geração. Porém, esta nova mudança terá que ser feita de forma gradativa, sem nos esquecermos das plataformas hoje existentes, que servirão para a adaptação dos novos pilotos nos diversos sistemas da moderna tecnologia. Certamente, várias aeronaves como o F-5, C-95, T-27 e P-95, entre outras do acervo atual da Força Aérea, poderão ter suas vidas úteis prolongadas com a revitalização ou modernização de seus sistemas d’armas, sensores radar, sistemas de navegação e muitos outros, que aumentarão de forma significativa suas vidas operacionais, contribuindo como um “trampolim” para as aviações de primeira linha. Esta visão certamente torna a aquisição desses “pacotes” de revitalização uma forma mais rápida e econômica de se proporcionar um up-date, sem a necessidade da aquisição de uma plataforma em desenvolvimento, o que demandaria tempo e, principalmente, dinheiro.

Aplicação dos Sistemas Eletroópticos no Ambiente da Patrulha Atualmente, os esquadrões de patrulha dispõem da plataforma P-95, nas versões Alfa e Bravo, sendo que estas duas diferem entre si em apenas alguns componentes do sistema de aviônicos. Tais aeronaves cumprem de maneira satisfatória as tarefas a elas atribuídas, entretanto, suas restrições operacionais poderiam ser minimizadas com o estudo da possibilidade de aplicação de sistemas ópticos, o que proporcionaria um incremento do emprego noturno, além de ser factível o registro através de imagens de plataformas hostis ou ilícitas (com o registro de imagens de interesse), o aumento da capacidade de busca e salvamento e a vigilância contra atos nocivos ao meio ambiente. Como meio primário de esclarecimento marítimo da Força Aérea Brasileira, os esquadrões

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de patrulha dispõem somente de sistemas ópticos rudimentares (binóculos e câmera fotográfica) para a identificação e registro de plataformas de interesse. Sabendo-se que no cenário da patrulha marítima “os sistemas de sensores dessas aeO Cap.-Av. Sidney César ronaves devem ser capazes Coelho Alves é instrutor de patrude detectar, acompanhar e lha, concluiu o CFOAV em 1993 identificar alvos móveis e ese exerce atualmente a função de táticos a grande distância no Chefe da Subseção de Guerra Elear, no solo, na superfície e trônica do 2º/7º Gav. Possui o sob o mar”[1], os sensores Curso de Planejamento de Empreeletroópticos passaram a go de Armamento Aéreo, no Grudesempenhar um papel de po de Instrução Técnica e Especiimportância tática nunca alizada (GITE), Curso Básico de visto anteriormente. Guerra Eletrônica e EspecializaSomando-se a isso, ção em Análise de Ambiente Elecom o incremento da tromagnético, no Instituto tecnologia STEALTH*, a Tecnológico de Aeronáutica (ITA). identificação de plataformas marítimas através de radares está se tornando cada vez mais complexa, requerendo de seus operadores uma aplicação tática cada vez mais aperfeiçoada. Sob esta nova ótica, várias forças armadas viram-se obrigadas a um constante melhoramento das plataformas aéreas, com o agregamento de tecnologias para acompanhamento e vigilância. A partir de 1980, o controle de irradiação termal tornou-se o principal problema das plataformas marítimas devido à crescente proliferação de sistemas eletroópticos FLIR**(Forward Looking Infrared) de longo alcance, além de seekers de armamentos com guiagem na faixa do infravermelho [2]. Sistemas embarcados em navios, como o Vampir IRS&T*** ( Consórcio Holanda/ Canadá), é um bom exemplo desse desenvolvimento visando se antepor às ameaças surgidas com o aparecimento de mísseis anti-navio como o Harpoon(Estados Unidos), Penguin(Noruega) e Exocet(França). O Vampir IRS&T é capaz de realizar a detecção, aquisição e tracking de ameaças com velocidades subsônicas e navegação ao nível das ondas. Tem a capacidade de integração

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com os sistemas de autodefesa, fornecendo determinação de proa e elevação da ameaça[3].

Princípios dos Imageadores Termais Para que possamos compreender alguns termos usados em sistemas de imageamento termal, deve-se ter em mente alguns princípios básicos que regem diretamente a emissão de energia infravermelha no espaço livre (troposfera). Sistemas de imageamento termais baseiam-se na emissão inerente de energia termal de todos os corpos existentes na natureza com temperaturas acima de 0 K ou – 273º C. Baseado nesta característica física intrínseca, os sistemas eletroópticos são dispositivos passivos, que captam essas emissões infravermelhas e as transformam em imagem. Os imageadores termais atuam na faixa de 3 a 5 micrômetros (ambientes com alta umidade e altas diferenças de temperaturas) ou de 8 a 12 micrômetros (ambientes com poeira, fumaça, etc.), faixas em que a atenuação, devida ao vapor d’água e ao dióxido de carbono presentes na troposfera, é menos prejudicial ao infravermelho.

Fig. 1 - Espectro Eletromagnético Fonte: Sistemas Optrônicos do R-99SR Aula Expositiva: Curso de Sistemas de Aeronave - ITA 2001

Fig. 2 - Faixa do Espectro que abrange o Infravermelho Fonte: Sistemas Optrônicos do R-99SR Aula Expositiva - Curso de Sistemas de Aeronave - ITA 2001

Equipamento FLIR Atualmente, várias empresas se especializaram em sistemas FLIR, tanto para fins militares como civis. O emprego militar desses dispositivos logo se direcionou para os mais distintos campos como o da vigilância, guiamento de mísseis ar-ar, combate SAR e como complemento de sistemas antiaéreos de

aquisição e diretor de tiro. Tomando como enfoque principal a vigilância, vários países integraram às suas plataformas de esclarecimento marítimo este tipo de sensor, como por exemplo: P-3 ORION, NIMROD e ATLANTIQUE. Uma característica importante desses equipamentos é a crescente redução de volume e peso, que os tornaram compatíveis com aeronaves de pequeno e médio porte. Um exemplo é o sistema STAR SAFIRE, que equipa o R-99B RS, que tem peso e dimensões compatíveis com o P-95 e, por se tratar de um equipamento de operação independente, sua integração à aeronave torna-se menos complicada. O Sensor Óptico e Infravermelho (OIS), apresentado na Figura 3, é aerotransportado e faz parte do sistema de sensoriamento remoto da aeronave R99B do 2°/6° Fig. 3 - Sistema Star Safire que equipa o R-99 B GAv. O STAR (Staring Array) SAFIRE (Shipboard/ Airborne Forward-Looking Infrared Equipament), modelo AN/AAQ-22, é fabricado pela FSI Company (FLIR Systems Inc. – USA.), possuindo a capacidade de imageamento na faixa do visível e infravermelho termal para operações aerotransportadas de detecção diurna e noturna e identificação de alvos. Consiste de uma Torreta (TFU), Unidade de Controle do Sistema (SCU), Unidade Central Eletrônica (CEU) e Unidade de Visualização (VDU).

Mudança de Concepção de Emprego Imaginando-se uma aquisição operacional de um sistema FLIR nos atuais P-95, uma mudança na concepção de emprego seria necessária. Atualmente, não possuímos condições de identificação noturna de plataformas navais. Com

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Fig. 4 - Imagem Noturna de uma Embarcação

a possibilidade de cumprirmos tais missões, haverá uma maximização do controle aéreo sobre os meios navais, tanto militares como mercantes, que utilizam águas territoriais brasileiras como passagem. O registro de imagens termais poderia nos fornecer vários dados importantes sobre as plataformas, tais como: existência de carga a bordo, leitura do nome de registro no costado (mesmo em condições adversas de tempo), possíveis vazamentos de combustível em águas brasileiras e etc. Por exemplo, na fig. 4 podemos identificar uma embarcação, vista na faixa de infravermelho, sendo possível interpretar vários aspectos como: nome, pessoas a bordo e localização da casa de máquinas. Do ponto de vista tático, a não emissão de energia eletromagnética, característica dos sistemas FLIR, torna nossa plataforma mais segura nas operações em que não possa delatar sua posição, como por exemplo um acompanhamento de uma força naval inimiga. Aliado ao fato de que o emprego em conjunto com sistemas de aproximação de imagem (zoom) e processamento de vídeo(CCD), fazem com que a plataforma fique a uma distância segura dos alvos hostis, não sendo ameaçada pela maioria dos armamentos hoje em emprego na América Latina. O Brasil é privilegiado por possuir mais de 8.000 Km de extensão de mar territorial. Tal patrimônio é fonte de riquezas imensuráveis, porta de chegada e saída de produtos das mais diversas procedências. A guarda e manutenção da Soberania Nacional neste imenso “tapete azul” é de inteira responsabilidade de nossas Forças Armadas. A Aeronáutica sempre cumpriu seu papel de maneira profissional e, sobretudo, buscando efi-

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ciência em suas ações. Para que esta realidade continue a acontecer, temos que procurar cada vez mais evoluir no que há de mais atual no cenário mundial. O primeiro passo já foi dado com o reaparelhamento da Força, porém não nos podemos furtar ao desejo de aprimorarmos aquilo que já possuímos. O estudo de novas aplicações, táticas de emprego, aperfeiçoamento operacional do P-95 é uma proposta viável a ser alcançada, com condições de emprego quase que imediatas, não havendo a necessidade de espera pela entrada operacional das novas aeronaves. Tudo isto visa manter nossa operacionalidade no mais alto nível, para que possamos cumprir bem o papel que a sociedade brasileira espera de cada um de nós militares. Para isto, temos que estar prontos quando for preciso.

Referências Bibliográficas: [1] MATTEI, A. L. P.; ALVES, F. D. P. Tecnologia a serviço da superioridade da informação. SpectrumRevista do Comando Geral do Ar, Brasília, nº4, p. 23, nov. 2001. [2] BROWER, K.S. Stealth and Surface Combatants. Electro-optical FLIR. Naval TechnologyInternational Forum for Maritime Power- nº IV, vol. XIX, p. 107, 1998. [3] LUM, Z. Shipboard IRS&T: Eyes on the Horizon. Journal of Electronic Defense – Official Publication of the Association of Old Crows – nº 6, vol. 18, p. 64, 1995. [4] CENTRO DE GUERRA ELETRÔNICA DO COMANDO-GERAL DO AR. Comando da Aeronáutica. Brasil. Apostila de Sistemas Eletroópticos. In: Curso Básico de Guerra Eletrônica. Natal, 2002.58 p. *STEALTH – Tecnologia empregada visando o emprego furtivo, discreto de plataformas, com a finalidade de se expor o menos possível aos sensores inimigos. **FLIR (FORWARD LOOKING INFRARED) – Possuíam esta denominação porque os primeiros sensores desenvolvidos tinham a capacidade de visada somente para a frente. Nos equipamentos atuais a cobertura ocorre em 360º. ***IRS&T(Infrared Search and Tracking Systems) – Sistema de busca e acompanhamento em infravermelho. Consiste de um telescópio óptico, um mecanismo de varredura, detetores e um equipamento de processamento de sinais.

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A Inteligência de Imagens como MAGE Alexandre Silveira Urquia, 2º Ten. Esp. Fot. COMGAR

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realidade da IMINT (IMagery INTelligence – Inteligência de Imagens) no contexto atual da FAB, consiste na atividade atribuída aos Esquadrões de Reconhecimento, ou seja, sensoriamento de objetivos ou áreas de interesse tático e estratégico, através de equipamentos fotográficos aerotransportados, com a finalidade de obter informações físicas e operacionais dos objetivos que, após a adequada análise por especialistas em fotointerpretação, são difundidas aos órgãos solicitantes através do Relatório de Missão de Reconhecimento – REMIR, ou servirão de matéria prima para fins cartográficos. Entretanto, o desenvolvimento de novas tecnologias como o imageamento orbital e o imageamento através de radares de abertura sintética (SAR), colocam a IMINT como uma das mais importantes fontes de informações para as MAGE (Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica) no cenário da guerra moderna. MAGE “é a parte da Guerra Eletrônica que engloba os processos de levantamento e processamento de dados para satisfazer as necessidades de informações das atividades que envolvam Guerra Eletrônica” [1], isto é, toda e qualquer ação que resulte em apoio à GE, através do levantamento e processamento de dados para obtenção de informações necessárias ao seu funcionamento, pode ser considerada como MAGE. Para as MAGE, constituem-se numa importante fonte de informações as atividades de INTELIGÊNCIA, onde destacamos a Inteligência de Imagens – IMINT, como uma das fontes que mais têm crescido em importância com o desenvolvimento dos sensores orbitais, especificamente na detecção, identificação e levantamento de informações de equipamentos eletrônicos de interesse militar fora do território nacional, pois, no cenário atual, o reconhecimento fotográfico fornece informações de objetivos apenas dentro do país ou, em última instância, obtém-se estas in-

formações dos demais países através de objetivos de oportunidade ou pesquisas pelos mais variados meios de comunicação (jornais, revistas, internet...). Os sensores orbitais varrem toda a superfície da O 2.º Ten. Alexandre Silveira Terra com resoluções tem- Urquia é especialista em Fotografia, porais diversas, sendo capa- concluiu o Curso de Formação de zes de suprir às áreas de In- Oficiais Especialistas em 2001 e exerteligência com informações ce atualmente a função de Adjunto oportunas e atualizadas tan- do A2 do COMGAR. Possui os curto de interesses tático quan- sos de Reconhecimento Visual, to estratégico, indispensá- Fotointérprete e Técnico em Informaveis para o êxito de qualquer ções de Reconhecimento todos no Força Armada na guerra mo- 1.º/10.º Gav, além do Curso Básico de Guerra Eletrônica para Oficiais no derna, a guerra da informaGrupo de Instrução Técnica e Espeção. cializada (GITE). O uso de imagens orbitais que, inicialmente, tinha seu maior emprego nas áreas de pesquisas ambientais, geográficas, biológicas, geológicas, florestais, etc., em função das limitações de suas resoluções espaciais, tem atraído a atenção dos organismos militares com o desenvolvimento e difusão comercial de imagens de alta resolução, capazes de fornecer informações extremamente detalhadas e preciosas sobre o inimigo, inclusive com a possibilidade de obtenção de modelos estereoscópicos (tridimensionais) das áreas de interesse. Atualmente, as imagens mais utilizadas pela FAB para a atividade de IMINT são as obtidas pelo LANDSAT 7, cujos sensores possuem um total de oito bandas espectrais abrangendo desde o visível até o infravermelho termal, porém, sua melhor resolução espacial é de 15m, obtida no modo pancromático (banda 8), na faixa de 0,5 a 0,9 mmm, o que praticamente inviabiliza seu emprego na obtenção de informações sobre equipamentos eletrônicos, restringindo-o ao levantamento de informações de caráter estratégico [2].

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Dentre as plataformas orbitais com sensores de alta resolução, cujas imagens, disponíveis comercialmente, revertem-se em uma excelente fonte de informações para as MAGE, destacamse três: SPOT-4; IKONOS e QUICKBIRD.

1. SPOT-4:

Figura 1: Satélite SPOT-4

O Programa SPOT foi planejado e projetado desde o início como um sistema operacional e comercial de observação da Terra estabelecido por iniciativa do governo francês (SPOT-Satellite Pour L’Observation de la Terre), com participação da Suécia e Bélgica. O SPOT-4 foi lançado em março de 1998, transportando dois sensores HRVIR (High Resolution Visible Infrared) e um sensor Vegetation, com quatro câmeras imageadoras independentes e com resolução espacial degradada (1165m) para o estudo da vegetação [2]. Os sensores HRVIR, possuem detectores com tecnologia CCD (Charge-Coupled Device) com leitura dos sinais por varredura eletrônica, com um total de 6000 elementos detectores por banda espectral, apresentando características mostradas na Tabela 1.

Tabela 1: Características do SPOT-4

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Cada sensor abrange uma faixa de 60Km e, como operam aos pares, são posicionados de forma a imagear faixas adjacentes, sobrepondo 3Km, resultando em uma largura de faixa de 117Km. A resolução temporal (período de tempo entre duas passagens sobre um mesmo ponto na superfície da terra) é de 26 dias, porém, como possui possibilidade de visada oblíqua, pode-se aumentar a freqüência das observações para até um total de onze imagens de um mesmo ponto em órbitas sucessivas, além de permitir a obtenção de estereoscopia [2]. Note-se que para fins de MAGE, a banda com melhor resolução espacial seria a B2, no modo multiespectral, fornecendo imagens codificadas em 8 bits (256 níveis de cinza) e com 10m de resolução, limitando o emprego das imagens SPOT-4 para informações de equipamentos eletrônicos de grande porte.

2. IKONOS:

Figura 2: Satélite IKONOS II

O satélite IKONOS II foi lançado em 24 de setembro de 1999, e está operacional desde o início de janeiro de 2000, gerando imagens com até 1m de resolução espacial, o que veio a revolucionar o emprego militar de imagens orbitais. Encontra-se disponível comercialmente para qualquer área da América Latina tendo, porém, uma grande restrição devido ao alto custo: para imagens com resolução de 1m não existentes em catálogo, o pedido mínimo é de 100Km2 , ao custo de R$ 90,00 o Km2, resultando num total de R$ 9.000,00 por imagem [3].

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Tabela 2: Características do IKONOS-II

O IKONOS tem possibilidade de realizar visadas no sentido de sua órbita e perpendicularmente a sua órbita, aumentando a resolução temporal e permitindo a aquisição de pares estereoscópicos. Constitui-se em uma excelente fonte de informações para MAGE, uma vez que permite, no modo PAN, discriminar objetos de 1m2 através de imagens com resolução radiométrica de 11 bits (2048 níveis de cinza), aumentando o poder de contraste e de discriminação de imagens nas áreas de sombra. Vejamos um exemplo prático de obtenção de informações para MAGE: Através de pesquisa de informações obteve-se as dimensões do satélite e, efetuando-se uma regra de três simples, chega-se a altura da antena (92,6m). Como trata-se de uma antena de grande porte (baixa freqüência), o tamanho da antena equivaleria a 1/2 do comprimento de onda, chegando-se a λ = 370,4m [4]. Como a freqüência é igual a c/λ, chega-se ao valor da freqüência de operação da antena, que é de 810KHz (3x108m/s/370,4m) [4]. Logo, conclui-se que se trata de uma antena de radiodifusão/telecomunicações, operando na faixa de MF, aproveitando-se para transmissão do efeito da vinculação (durante o dia) e propagação ionosférica (durante a noite) [5].

multiespectral (no nadir), permitindo o levantamento das mais precisas informações de interesse à inteligência militar, aqui tratadas do ponto de vista da guerra eletrônica, além da avaliação de danos de bombardeio. Aliada à alta resolução Figura 3: Satélite QUICKBIRD espacial, soma-se a excelente resolução temporal, permitindo um tempo de revista de 1 a 3,5 dias, o que traz como conseqüência a possibilidade de uma elevada taxa de atualização de dados e de acompanhamento da evolução das atividades inimigas. Como nas demais imagens orbitais, o grande obstáculo, face à situação políticoeconômica atual, consiste no custo das imagens: com prazo mínimo de entrega de 100 dias e área mínima de 64Km2 ao custo de R$ 131,00 o Km2, o valor mínimo de uma imagem PAN seria de R$ 8.384,00 [6]. Além da mais alta resolução em termos de sensores óticos disponíveis, fornece imagens com codificação em 11 bits e possui georeferenciamento com erro menor que 23m, possibilitando ainda a tomada de imagens estereoscópicas.

Tabela 3: Características do QUICKBIRD

3. QUICKBIRD: O satélite americano QUICKBIRD II, em órbita desde outubro de 2001, proporciona imagens com a melhor resolução espacial disponível comercialmente na atualidade: 0,61m no modo pancromático (no nadir) e 2,44m no

4. Presente e Futuro: SPOT-5 e RADAR (SAR) do R-99B 4.1 – SPOT-5: Concluído em fevereiro de 2002, o satéli-

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te SPOT-5 foi colocado em órbita na noite do dia 3 para o dia 4 de maio deste ano, dando um grande passo em termos de especificações técnicas em relação ao SPOT-4, trabalhando com resolução de 5m para o modo pancromático, 10m para imagens no modo multiespectral e 2,5m na opção “Supermode”, a qual consiste em duplicar e deslocar de + pixel os detectores de CCD, permitindo que sejam captadas duas vezes mais informações da área imageada. Uma das grandes novidades do SPOT-5 são os dois instrumenFigura 4: Satélite SPOT-5. tos HRS (High Resolution Stereoscopic), com ângulos de visada de 20 graus para frente e para trás do satélite, obtendo imagens estereoscópicas de maneira sistemática e com 10m de resolução espacial [7].

4.2 RADAR (SAR) DO R-99B: O Sistema de Radar de Abertura Sintética (SAR) cria uma antena virtual centenas de vezes maior que seu tamanho físico através de gravações e processamento dos sinais de retorno, resultando em uma resolução em azimute de 0,3 a 3m para sistemas aerotransportados, independentemente da distância entre o radar e o alvo. O radar a bordo do R-99B, em operação no 2.º/6.º GAv, é capaz de imagear em qualquer tempo e a qualquer hora, com quatro antenas em duas diferentes bandas de freqüência: duas na banda L e duas na banda X. Dentre uma gama variada de modos de operação do SAR, destaca-se para fins de informações para MAGE, o modo “B.2 Spot”, disponível na banda X, que alia a

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Figura 5: R99B com radar SAR.

obtenção de imagens radar de alta resolução com um elevado alcance. Dessa forma, uma imagem de resolução adequada poderá suprir os órgãos de Guerra Eletrônica com informações imprescindíveis. Vejamos então, mais um exemplo de aplicação dos dados de IMINT para MAGE, sob esta nova perspectiva: Em uma imagem SAR obtida de uma área de interesse, observa-se um radar com refletor parabólico medindo 10m de largura e 5m de altura. O analista de imagens consegue identificar o tipo de equipamento e, através de consulta em banco de dados, verifica que a freqüência de operação é de 1,5GHz (λ=0,2m). Além da localização precisa do objetivo e da descrição dos aspectos físicos e operacionais através do REMIR, a IMINT poderá fornecer outras informações de interesse à GE, como: a. Largura dos feixes horizontal e vertical: θh = 70λ/L → θh = 1,4° e θv = 53λ/ A → θv = 2,1°, onde “L” é a largura do refletor e “A” a altura [4]; e b. Ganho da Antena: G = 4πAe/λ 2 → G = 38,9dB, onde “Ae” é a área efetiva do refletor (25m 2) e partindo-se da premissa de que pode-se considerar a eficiência de um refletor parabólico em torno de

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50% de sua área física [4]. Logo, a IMINT aliada a um eficiente banco de dados sobre Equipamentos Eletrônicos, alimentado por informações de equipamentos MAGE em plataformas terrestres, marítimas ou aéreas e por pesquisas específicas, torna-se uma poderosa fonte de informações para as atividades de Guerra Eletrônica. Apesar das imprecisões por ventura provocadas pelas melhores ou piores resoluções espaciais dos sensores aqui abordados e das aproximações provocadas pelo empirismo de muitas equações, salienta-se a importância da INFORMAÇÃO atualizada sobre a dinâmica operacional do inimigo, o que justifica, inclusive o elevado investimento na aquisição de imagens. Diante do exposto, evidencia-se a necessidade da estruturação de um eficiente banco de dados sobre os equipamentos eletrônicos de interesse militar, alicerçado pela pesquisa de informações, bem como, a implementação de uma cultura de Inteligência de Imagens voltada não só ao levantamento de informações sobre os objetivos de caráter tático e estratégico, mas também à assessoria dos órgãos de Guerra Eletrônica, com o intuito proporcionar um incremento significativo de dados para as MAGE. Certamente, os recursos que venham a ser dispendidos na qualificação de pessoal e aquisição de equipamentos e imagens orbitais de alta resolução destas áreas de interesse, reverter-se-ão em benefícios incontestáveis e de valor incalculável: informações oportunas e atualizadas sobre áreas de interesse da FAB, subsídios indispensáveis para o melhor cumprimento de sua missão.

Referências: [1] - GITE – Grupo de Instrução Tática Especializada. Guerra Eletrônica – MAGE: Extrato do MCA 500-2. Natal, 2002. p. 1, 3 e 4. [2] - CIAAR- Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica. Estágio Básico de Sensoriamento Remoto. Sistemas de Sensoriamento Remoto – Sistemas Sensores Orbitais. Belo Horizonte, 2001. p. 10, 24 – 28 e 73. [3] - IKONOS. Ficha Técnica Resumida. Disponível em http:// www.engesat.com.br/satelites/ ikonos.htm. Acesso em 05 mai. 2002. [4] - GITE – Grupo de Instrução Tática Especializada. Guerra Eletrônica – Antenas: Extrato do MCA 500-2. Natal, 2002. p. 5, 7 e 21. [5] - COMANDO DA AERONÁUTICA. MCA 200-5 – Manual de Descrição de Objetivo – Equipamentos Eletrônicos. Brasília, 2000. p. 13 e 14. [6] - QUICKBIRD. Disponível em http:// www.intersat.com.br.htm/. Acesso em 09 mai. 2002. [7] - O FUTURO COM SPOT-5. Disponível em http:// www.engesat.com.br/satelites/ spot5.htm. Acesso em 05 mai. 2002. [8] - GOMES, José Carlos. Comando da Aeronáutica. Manual de Fotointerpretação I. Guaratinguetá, 2001. p. 28. [9] - LANDSAT 7 ETM+. Ficha Técnica Resumida. Disponível em http:// www.engesat.com.br/satelites/ landsat7.htm. Acesso em 05 mai. 2002. [10] - O PROGRAMA SPOT. Disponível em http://www.engesat.com.br/satelites/ spot4.htm. Acesso em 05 mai. 2002.

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