LITERATURA BRASILEIRA Textos literários em meio eletrônico Obra de João do Rio A BELA MADAME VARGAS, de João do Rio (Peça em 3 atos) Primeiro Ato O esplêndido terraço da vila de Mme. Vargas. Á direita, avançando sobre o terraço entre grinaldas de rosas e trepadeiras floridas, a fachada da linda casa, com varanda e escadaria. Para essa varanda dão a larga janela e a porta do salão de música. No fundo balaustrada de mármore. Do terraço domina-se um maravilhoso panorama de florestas, deslizando para a baía em baixo, ao fundo. Em baixo os jardins do palacete. Entretanto, são cinco horas de um dia de inverno e há nesse terraço um chá ao ar livre. As pequenas mesas já estão dispostas, com gosto e com muitas flores. Os criados dão os últimos cuidados a organização geral. Ouve-se no salão de música risos, e pedaços de uma cançoneta parisiense. Quando abre o pano estão em cena de casaca, a arrumar as mesas Antônio e Braz. Antônio - A idéia de tomarem chá no terraço c'est três bien. Braz - Pois sim. Desde que te dêem ares e haja palavras estrangeiras, ficas satisfeito. Eu é que não. Estou aqui, estou a deixar isto. Olha que é trabalho. Chá no salão, chá nos quartos, chá no terraço, chá em toda a parte, chá a toda hora... Antônio - É a civilização, rapaz... Braz - Mas de dinheiro, nem cheta. Preferia menos chá e mais massa. Tu a olhar-me com esses modos superiores. Não sou eu só. Na copa todos se queixam. Antônio - Mas ficam? Braz - A ver se recebem... Antônio - C'est très bien. As casas assim, ainda não são as melhores. De repente vem o dinheiro. Olha, eu enquanto houver tapetes, música, chá, comedorias - vou esperando. Ça me vá. Nasci para o luxo. Braz - Palerma! Neste momento aparece no alto da escada, vindo do salão de música, D. Maria Miraflor. D. Maria - Então, meus rapazes. Tudo bem? Antônio - Como V. Exa. vê muito bem. O homem das flores é que não as queria deixar. D. Maria - Muda aquela mesa para o canto. Mas deixou? Antônio - Assim? Deixou. Prometi ir logo lá. D. Maria - Braz, arranja o samovar. Braz - Que samovar? D. Maria - O aparelho de chá. Digo-lhe todos os dias a mesma coisa. Ainda não sabe? Braz - E eu também, senhora D. Maria, digo-lhe todos os dias o mesmo sem ser atendido. D. Maria - Braz, que é isso? Comigo? Vá, olhe que sou eu... Braz parece resignar-se. De resto, chega nervoso e alacre Carlos Vilar. Carlos - Boa tarde. D. Maria - Oh! Carlos... Carlos - Muito ocupada? D. Maria - Dando os últimos toques ao chá. Carlos - Sala cheia, não? D. Maria - Os de costume.