ARTIGO Análise do texto dramático Marcos Barbosa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE TEATRO Professor Marcos Barbosa, set-2006

ANÁLISE DO TEXTO DRAMÁTICO Em abordagem actancial O Modelo Actancial no Teatro Falo em abordagem actancial e o termo aponta, de imediato, para o trabalho do lingüista Algirdas-Julius Greimas (1917-1992), nascido na Lituânia e emigrado para a França, onde se formou em direito e lingüística e acabou por prestar significativa contribuição para a formação da Escola Parisiense de Semiótica. Afinal, foi Greimas quem sistematizou a proposta de um modelo esquemático de compreensão de narrativa (e aí se podem incluir as peças de teatro) e o denominou modelo actancial. A aplicação desse ferramental semiótico à análise de peças teatrais ganhou fôlego especial entre a gente de teatro a partir da mediação de Anne Ubersfeld, que dedicou ao modelo actancial de Greimas todo um capítulo do seu já célebre Para Ler o Teatro, lançado em 1977, mas apenas muito recentemente traduzido e publicado no Brasil (2005). Uma premissa fundamental do modelo actancial de Greimas é a de que a narrativa (narrativa teatral, no âmbito deste resumo) é um fluxo propulsionado por um actante que opera movido por um vetor de desejo intenso (uma busca obstinada, uma necessidade). Por exemplo: Diante de uma peste que assola a cidade em que vivem, um grupo de anciãos decide cobrar do Rei uma intervenção que os resgate da calamidade e o Rei, a partir daí, leva obstinadamente a cabo a tarefa de salvar a cidade do flagelo... É a ação de cumprimento desses dois desejos (cobrar uma intervenção do Rei, salvar a cidade do flagelo) que alicerça o início do arcabouço da narrativa de Édipo Rei, de Sófocles. E a continuação dessa tragédia, da mesma forma, será uma linha (e, na maior parte das vezes, uma teia) de operações que visam a alcançar os desejos que brotam desses desejos. Alguns antecedentes O trabalho de Greimas tem antecedentes imediatos nas pesquisas do folclorista russo Vladimir Propp (1895-1970) acerca da morfologia do conto de fadas russo e na teoria das funções dramáticas elaborada na França por Étienne Souriau (1892-1979). Propp e Souriau, cada um a seu modo, também escolheram estudar os personagens das narrativas como vetores de força, desempenhadores de funções. E não é mera coincidência que as categorias divisadas por cada um deles encontre similares nos trabalhos dos outros. Cabe mesmo dizer que já nas primeiras décadas do século XX o teatro ocidental testemunhou, nas salas de ensaio do Teatro de Arte de Moscou, o desenvolvimento de uma intensa pesquisa acerca da interpretação teatral que, da mesma forma que o modelo actancial de Greimas e que os trabalhos de Propp e de Souriau, privilegiava a compreensão do personagem dramático como força ativa empenhada na concretização de uma tarefa motivada por um desejo. Falo do trabalho do diretor e ator russo Constantin Stanislavski (1863-1938), cuja sistematização em torno do que hoje entendemos como ações físicas pressupõe justamente uma execução plena (corpo-mente), por parte do ator, de uma tarefa específica que brota de uma necessidade.

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