AVENTAL TODO SUJO DE OVO Peça de Marcos Barbosa
Personagens Alzira Moacir Antero Noélia
1. Um misto de sala de estar e sala de jantar de absoluta modéstia, numa periferia de absoluta modéstia, no interior. Por muito que ainda não seja nem bem cinco da tarde, a mesa já está posta para o jantar. Na sala vazia, o silêncio da tarde do segundo domingo de maio só é rompido quando, fora da casa, ouvimos alguém gritar: NOÉLIA. (fora de cena) Alzira! (após uma pausa, o mesmo chamado) Alzira! (após outra pausa, mais uma vez) Ô, comadre! (mais um tempo e, na falta de uma resposta, entra Noélia, trazendo consigo um véu, um rosário e a conta da luz) Alzira, cadê tu? ALZIRA. (fora de cena, na cozinha) Antero? NOÉLIA. (rindo) Não, mulher, sou eu! Alzira entra e vê Noélia. NOÉLIA. (ainda ri) Está querendo me aleijar, me chamando pelo nome do compadre? ALZIRA. (sem achar graça na piada) Não sabe mais bater na porta, não, Noélia? NOÉLIA. Mas se estava aberta... ALZIRA. Batesse palma! Ninguém entra na casa dos outros sem dizer nada, não. Alzira volta à cozinha. NOÉLIA. Eita, que eu já vi que hoje é dia! ALZIRA. (fora de cena) Dia de quê? NOÉLIA. Que é que adianta eu dizer se tu não está me escutando? ALZIRA. (fora de cena) Espera aí que eu não estou escutando nada! Noélia desiste da conversa à distância e senta para esperar pela amiga. Passado algum tempo, Alzira volta, enxugando as mãos num pano de prato.