O EUNUCO (THE COUNTRY WIFE)
ORIGNAL DE WILLIAM WYCHERLEY
CINCO ATOS
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO
MAURÍCIO PARONI DE CASTRO colaborou ERIK NOVINSKY
William Wycherley (!670-!746) vinha do interior depois dos estudou dos na França e Oxford, teve uma vida de sucesso em Londres, protegido inicialmente - um dos favoritos de Charles II, aplaudidíssimo no palco, casado com cerimônia secreta com a condessa Drogheda. Love in a Wood (!67!), The Gentleman Dancing Master (!672, copiado depois por Calderon de la Barca), The Country Wife (!675), The Plain Dealer (!676), são as suas melhores comédias: 0 seu nome e famoso por The Country Wife, a sua obra prima editada em !676, The Country Wife teve inúmeras representa coes em todas as épocas, sempre com sucesso de publico. Teve varias edições coes (!683, !688, !695, etc.) e foi adaptada por Garrick (o maior ator inglês do séc. XVIII que rivalizou Shakespeare) como "Country Girl", costume difuso no séc. XVIII. No nosso século merecem menção as representações de !934 (no Old Vic Theatre), de !955 com a direção de Tony Richardson, no ano seguinte com os famosos Laurence Harvey (Horner) e Joan Plowright (Margery). Nos anos sessenta ele muito representado,sempre com sucesso de publico, dada a curiosa linguagem direta e os delicio sos complôs típicos do teatro da Restauração. Mais tarde, uma miscelânea de poesias (Miscellany Poems) valeu-lhe a amizade do Pope. As dividas e a consequente prisão arruinaram o fim de sua vida, depois de dividir com Congreve o título de maior astro do teatro cômico da Restauração.
ATO I
Cena I Interno, Londres do século XVII Entra Corner, seguido por um médico CORNER Então, caro doutor, fez o que eu pedi? DOUTOR Acabei para sempre com a sua fama de corneador de maridos. E fiz circular a voz que o senhor voltou de Paris como um eunuco. Custou-me tanto como se tivesse castrado o senhor de verdade. CORNER Deu a notícia a todas as parteiras de Londres? Às marreteiras dos teatros? Aos maridos, aos moralistas? Sim, porque esses coitados são os que espalharão a noticia por vingança. DOUTOR Fiz mais ainda (rindo): contei de sua desgraça a todas as copeiras, faxineiras e todas as minhas clientes frígidas e portanto fofoqueiras que conheço. Disse ainda que era segredo, para ter certeza de que a noticia se espalhará com perfeição. 0 senhor será odiado por todas as jovens como... CORNER Como a varíola. Ótimo... DOUTOR Será odiado... Será odiado pelas mulheres casadas como... C0RNER Como o demônio. Melhor, como os maridos delas... DOUTOR ... o vosso nome assustará as velhas senhoras, e especialmente as filhas delas...
CORNER O meu único medo é que não acreditem no senhor. 0 senhor disse que isso é o resultado de uma operação feita por um célebre e péssimo cirurgião francês que me havia garantido o fim das doenças e pestes femininas vindas do amor? DOUTOR A sua viagem facilitou a credibilidade dessas [(falsas vozes). Além disso, o senhor levou quinze dias para aparecer em público. Isso está dando a impressão que o senhor tem muita vergonha de não ser mais o mesmo. Mas, permita-me, Mr. Corner, o senhor é o primeiro homem que quer ter a fama de eunuco com as mulheres... CORNER Meu caro, deixemos aos vaidosos estúpidos a fama injustificada de garanhões. Normalmente o prazer deles é só a fama. O meu prazer é mais embaixo. DOUTOR Mas isso ê tão estranho como se eu, para ganhar novos pacientes, colo casse um aviso na porta do meu consultório dizendo que os meus remédios não servem para mais nada. CORNER Meu caro, não se ganha fama com a propaganda de si mesmo. As mulheres não se conquistam contando vantagem. O bom jogador esconde o próprio jogo. Os maridos e os moralistas podem ser melhor enganados com armadilhas novas, pois os sapos velhos não caem tão facilmente na rede. RAPAZ (entrando) Estão subindo duas senhoras e um senhor, (sai) CORNER Essas senhoras querem ouvir que a notícia é falsa para ficarem tranquilas... Não, é aquele moralista ciumento com duas carolas. Entram Sir Jasper Figadle, Lady Figadle e Mrs. Figadle. DOUTOR Sim, são a esposa dele e a sua irmã. SIR JASPER (abusa da palavra) Senhor, tive um problema com a carruagem, senhor, justamente diante de sua casa; considero tal fato, senhor, uma advertência divina por não tê-lo visitado depois de seu retorno da França, senhor, assim o problema foi sorte, senhor; e apresento-lhe minha mulher e minha irmã... CORNER (fingindo desinteresse associado a ironia) Prossiga, senhor...
SIR JASPER Minha mulher e minha irmã, senhor ! (silêncio e aparente indiferença ostentada por Corner) Mulher, este é o senhor Corner. (Idem) LADY FIGADLE Senhor Corner, aí está meu marido ! (Idem) SIR JASPER Lady Figadle, senhor! CORNER (continuando desinteressado) Ah. SIR JASPER (rindo) Não se interessa em conhecê-la, senhor? (aparte). Então a notícia ê verdadeira; vou gozá-lo um pouco, (alto) Por favor, SENHOR, cumprimente a minha esposa. CORNER (grosseiro) Não pretendo mais beijar esposas por conta de maridos, senhor. Tirei licença perpétua das mulheres, senhor (finge contrariedade). SIR JASPER Ah, ah, ah! (aparte) vou torturá-lo. (forte) Não quer conhecer a minha esposa, senhor? CORNER Já conheço a sua esposa, senhor! Além do mais, ê uma mulher e portanto um monstro, senhor, um monstro pior que um marido, senhor. SIR JASPER (tentaser mais espirituoso) Mas por que um marido é um monstro? CORNER Porque não fabrico mais chifres para enfeitá-los, senhor (cruza os dedos). SIR JASPER Ah, ah, ah! Quem diria, o Mr. Corner... LADY FIGADLE Por favor, Jasper, vamos embora deste antro.
CORNER Muito dito, madame, agora não possuo mais o que a madame veio procurar. DOUTOR (aparte a Corner) Chega, ou o senhor vai arruinar completamente a sua reputação com as mulheres... JASPER Ah, ah, ah!, ele realmente odeia as mulheres agora! MRS FIGADLE Que pena. LADY FIGADLE Esse ódio deixa-o assim mal-educado. Lembre-se, cara cunhada, que esse "que pena" assim fingido não fará com que ele te odeie menos, porque agora ele não passa de um eunuco! Além do mais, ele odeia qualquer mulher de princípios, e tu és uma mulher de princípios! CORNER Exato, porque os princípios são o vosso maior fingimento, madame. LADY FIGADLE Como? Insolente, quer ofender os meus princípios? CORNER Só começar, madame... LADY FIGADLE O que quer dizer com isso? SIR JASPER Ah, ah, ah!, ele não pode nem começar a ofender os seus princípios. Escute...(cochicha à mulher)...Mas é um eunuco agora...Ah, ah, ah... LADY FIGADLE Que nojo, o que estamos fazendo aqui, então? Não posso suportar a simples visão desse homem. SIR JASPER Ah, ah, ah. Bem, são onze horas, quinze minutos e quinze segundos. A cã mara já abriu a sessão, e os negócios e o poder público para um homem público têm a precedência sobre o amor. Mas isso é só para quem pode, Mr. Corner. CORNER É também para quem ê impotente. Sir Jasper.
SIR JASPER Exato, é também para os im-po-ten-tes, Mr. Corner, ah, ah, ah! LADY FIGADLE Como? Deixar-nos sozinhas com um nojento em seu próprio antro? SIR JASPER Mas ele é completamente inofensivo, querida. Por favor esperem um pouco, mandarei uma carruagem para vocês. Um seu criado, Mr. Corner. Quando nos dará o prazer de uma sua visita? Por favor, venha almoçar comigo e jogar baralho com a minha esposa depois. Adeus, ah, ah, ah! (Sai Sir Jasper) LADY FIGADLE Não quero perder tempo aqui, bah! CORNER Madame, fique mais um pouco. Verá que sei ser gentil exatamente como as madames desejam. LADY FIGADLE Não, não, bah! 0 senhor não pode ser gentil com mulheres. MRS FIGADLE O senhor? Gentil como as madames desejam? LADY FIGADLE Não, não e não. Bah, bah e bah! (saem) DOUTOR Suponho que o senhor esteja acabado para as mulheres agora. CORNER Burro! Mas não vê que ele acabou de convidar-me para estar com as próprias mulheres em casa dele quando antes não queria nem conhecer-me por ciúme? (muito feliz) Ah, enganarei maridos e desenganarei esposas como quiser, livre da procissão de idiotas que sempre infesta esta casa com seus discursos indignados com a moral! 0 prazer de desfazer-se de débitos e amantes velhas é comparável só ao de começar novos débitos e novos amo res. O amor quando vira amor mesmo compensa muito pouco. DOUTOR Certamente o senhor acabará com as velhas relações. Mas como começará as novas? CORNER Caro doutor, pergunte a qualquer caçador se não se perde mais tempo pro curando a caça que a apanhando. (novamente feliz) Além disso, livrei-me de uma grande
probabilidade de erro; agora posso ver claramente. Aquelas que mostram nojo de mim gostam muito do brinquedinho. São falsas moralistas, exatamente como aquelas que há pouco saíram daqui. Eu pensava que elas eram frígidas de verdade. E tem mais: as mulheres de princípios, como acabou de ser demonstrado, são apenas cuidadosas com a reputação delas. Mas não são com elas mesmas. Elas querem é evitar escândalos, não homens, (em êxtase) E tem mais ainda, poderei gozar de grandes privilégios: poderei ser visto sem nenhum problema no quarto de uma esposa. Poderei beijar virgenzinhas diante de pais e namorados, enfim, ser a chave-mestra da cidade inteira! À sua saúde, doutor ! DOUTOR Esse método pode até dar certo... CORNER "Probatum est"! DOUTOR Muito bem. Boa sorte e boas clientes. Vou cuidar dos meus. (sai) Entram Harcourt e Dorilant e começam a beber. HARCOURT Muito bem, muito bem, a tua aparição no teatro ontem deve ter dado uma amostra do que será o desprezo das mulheres e a gozação dos homens. Es_ pêro que tudo isso te faça voltar atrás. CORNER Fui muito corajoso, não? DORILANT Foi. Indecentemente dramático. Pior que uma atriz grávida. Ou mais indecente que um crítico de segunda mão que copia o que escreve. CORNER Mas o que dizem as mulheres? Não sentem piedade? DORILANT Tu que não tiveste a mínima piedade delas! HARCOURT Dizem que é uma grande perda. DORILANT Pior. Elas não querem mais fazer contigo o que habitualmente fazem com outras sombras de homem, como elas dizem. CORNER Sombras de homem?
DORILANT Os meio homens... CORNER Rapazinhos, suponho. DORILANT Não. Aqueles velhos garanhões aposentados que podem correr â vontade junto com as cavalas, já que não dão mais para nada... CORNER Bah, danem-se o amor e as mulheres. Servem só para impedir que os homens estejam em melhor companhia. Já que não posso estar com elas em público, estarei convosco. Amizade é prazer de homem. Durável e racional. HARCOURT (irônico) Sim, dê-me um desses prazeres de efeminado, que servem para valorizar os outros. CORNER Servem para destruir os outros. HARCOURT Não. Amantes são como os livros. Se te cansas atrás delas dão sono, e se não corres, elas te consideram somente um bom amiguinho. CORNER Muito bem, sabichões. Permitam-me dizer que ê tão difícil ser um bom amante e amigo de uma mulher quanto do vinho. Além do mais, é preciso es_ colher: o vinho dá liberdade, as mulheres levam-na embora. O vinho dá alegria, o amor, dor e tortura; 0 vinho dá espírito, o amor, estupidez; O vinho dá sono, o amor o leva embora... (Harcourt e Dorilant embriagam-se pesadamente) DORILANT O vinho nos dá...hic...nos faz nobres...o amor cafajestes... CORNER Esse aqui já se converteu... não, não, amor e vinho não se misturam, como óleo e vinagre. HARCOURT Conclusão: o amor está acima do vinho. CORNER Certíssimo. Quanto a mim, quero ter os prazeres de homem, então serei bêbado e libertino.
RAPAZ (entra) Está subindo Mr. Brizoler. (sai) HARCOURT Esse daí é um tipo que gosta de mim porque eu o insulto. DORILANT assim. : convencida. mie não encontra muitns nelna miais façam chacota dele e as mulheres o deixem, por mais que pense. CORNER Está um outro prazer que não pude ter antes, além da bebida e das mulheres; serei mal educado de propósito. Será um grandíssimo prazer, ele é um desses que adoram a "inteligência" e se metem em todas as rodas, co mo os piores violinistas. HARCOURT Uh, esse chato vai ê tirar o nosso prazer. É como um lacaio que recita poesias. DORILANT Quer passar por culto. CORNER Azar de quem quer ser o que não é. DORILANT E nós que somos perdulários somos indecentes, porque compramos o prazer. CORNER Sim, o culpado do calote é sempre quem empresta o dinheiro; o ciumento é sempre o maior cornudo; o papa-hóstia o maior ateu; e este indivíduo de "inteligência" barulhenta é a pior companhia, como se verá, porque está chegando... (Entra Mr. Brizoler, que funga sempre) BRIZOLER Como vão as coisas? Ah, vocês já estão brilhando. Como vão as coisas? Ah, ah, ah, (pausa) já estou rindo antes de caçoar, ah, ah, ah, soube da notícia que corre por toda a cidade, ah, ah, ah, já perdi o autocontrole, ah, ah, ah... (silêncio) posso começar? ah, ah, ah... CORNER (pausa) Sim, mas não seja azedo. BRIZOLER Ah, ah, ah, estão aqui os meus doces camaradas.para me compensar, ah, ah, ah. Assim não serei tão azedo, ah, ah, ah. DORILANT (medindo Brizoler) nem ,doce.
CORNER Como? Totalmente sem gosto? BRIZOLER Está bem, se querem bancar os engraçadinhos só para me provocar, ouçam essa: (pausa - todos esses trocadilhos â inglesa são feitos por ele com grande pompa, é um convencido antipático, enquanto os outros se comportam com a naturalidade de verdadeiros malandros) - saibam que eu estava em alegre conversação com algumas senhoras ontem mesmo e por acaso elas mencionaram o nome de um novo troféu aqui na cidade... CORNER Senhoras finíssimas...prossiga. BRIZOLER Então eu disse: "eu sei onde esta guardado o melhor troféu novo da cidade". "Onde?". Aí eu respondi "Em Covent Garden". Uma delas perguntou-me "onde exatamente?". Aí eu respondi: "Em Russell Street"; aí a outra respondeu "Meu Deus, esse novo troféu não é nada bom para nós!" (aí eu acabei: "é, mas é a pura verdade: é um troféu francês e levou quinze dias para ser exposto ali", ah, ah, ah...) CORNER Chega, não quero ouvir mais nada, por favor (finge) DORILANT Não é sem gosto: é vomitável. BRIZOLER Esperem que o melhor está chegando: "não pode ser" disse uma senhora, aí eu respondi "pode, pode", aí uma outra senhora disse... CORNER Por favor, não quero mais saber de senhoras (duplo senso) BRIZOLER (pausa: prepara-se de novo). Ouçam, que é engraçado, ouçam: (toma fôlego) "As senhoras não conhecem o Sr. Corner? Ê um troféu humano, desde que chegou da França, ah, ah, ah ! CORNER A tua classe é que merece um troféu... BRIZOLER (Não entende o trocadilho e continua com ainda mais entusiasmo): aí então elas (toma fôlego) MIJARAM de rir, ah, ah, ah (silêncio embaraça-dor). Mas como? Ninguém ri? Mas isso aqui até parece uma audiência de divórcio sem baixaria ! Mais brilho, mais
brilho ! O que é isso? Onde vamos almoçar? Olha que eu deixei um conde francês esperando-me à toa pai ra vir almoçar convosco ! CORNER Vá almoçar com o conde. BRIZOLER Mas as brincadeiras francesas são as mais nobres e refinadas, e são a minha especialidade! CORNER Mas o que há de mais fino senão ensinar brincadeiras inglesas a um nobre francês? Nós somos amigos e não há problema se tu vais com o conde, creia-me. HARCOURT Por Deus, vai com esse conde. BRIZOLER Mas escutem essa outra, meus caros... CORNER Não, por favor. O conde ficará zangado. BRIZOLER Mas como, meus camaradas... (empurram Brizoler para fora) TODOS Ah, ah, ah!(Brizoler volta) BRIZOLER Almoço com condes bobinhos e (toma fôlego) BICHINHAS silenciosas? Pelo meu critério penso que o humor fino seja necessário ã boa mesa como um bom vinho. Por isso não tenho apetite quando como sozinho. Brilho, brilho, onde vamos almoçar? CORNER Almoce onde quiser. BRIZOLER Bah! Cansei. Já que isto está mais para drama que para comédia, irei assisti-lo em companhia de homens de humor refinado. Irei a casa de minha amante. (Sai. Entra Mr. Pinchwife. Entra Pinchwife descomposto e de mal humor) CORNER Quem é vivo sempre aparece. Bom dia Sr. Enchesposas... PINCHWIFE (desconcertado)
Um vosso criado, senhores. CORNER Meu velho camarada, pelo seu aspecto, vejo que estás realmente casado. Meus sinceros parabéns. PINCHWIFE(aparte) MERDA! Como ele sabe que eu me casei? Minha mulherzinha está em perigo ! (forte) A minha longa permanência no campo é a razão da minha roupa em desordem; tenho um processo no tribunal que me tira o s£ no e me dá mal-humor; e ainda por cima amanhã devo dar cinco mil esterlinas ao Sr. Brizoler para que se case com a minha irmã, Alithea. CORNER O barato sai caro, mas isso é coisa que quem vive no campo não sabe. Então, meu velho, posso dar meus parabéns? Ouvi dizer que agora és um homem CASADO. PINCHWIFE E daí? CORNER Logo chega de presente um troféu de caça com chifres. PINCHWIFE Troféus desse tipo não são a minha especialidade. CORNER Estava dizendo que não esperava tal notícia de um mulherengo como você. De um homem que conhecia as mulheres dessa cidade tão bem e levava mui tos troféus de caça aos maridos... PINCHWIFE Como? Ah, mas não tem perigo. A minha mulherzinha não i daqui de Londres. CORNER Mas é tudo a mesma coisa. É como recusar uma mulher triste da cidade para ser alegremente cornificado no campo. PINCHWIFE Ao diabo ele e as suas analogias! Farei também a minha, (forte) Mas no campo podese ter certeza da raça e de como foi criado, se tem defeito ou não. CORNER Certo, certo, existem mulheres de boa raça no campo, mas existem também juizes, confessores, para não mencionar a raça dos carroceiros... Mas voltemos a nós: a jovem é bonita?
PINCHWIFE (aparte) Está indo longe demais, (forte) Não, não, a sua única beleza é a juventude. Nenhuma atração senão a modéstia: sã, simples, caseira, e isso é tudo. DORILANT Fala como um simplório criador de gado. PINCHWIFE É boba, feinha e muito caipira para sair na cidade (contrariado). CORNER Ótima razão para sair com você pela cidade. Assim ela poderá aprender a comportar-se como uma senhora. PINCHWIFE Comportar-se como uma senhora? Não, obrigado. As melhores esposas,como os melhores soldados, devem ser ignorantes. Eu a protegerei das vossas lições de etiqueta, isso eu garanto. HARCOURT (aparte) 0 nosso amigo já está ciumento como se a sua mulher não fosse tão ignorante assim. CORNER Mas se a jovem é feinha, corre menos perigo aqui na cidade. Aqui temos o nosso paladar satisfeito com tão finas iguarias, que raramente apreciamos a comida rústica do campo. DORILANT É, no campo os carroceiros têm um estômago rude e forte. HARCOURT Comem coisas nojentas. DORILANT E aqui nós somos hospitaleiros. HARCOURT A porta dessa casa está sempre aberta. PINCHWIFE Exatamente, senhores (muito contrariado). CORNER Mas voltemos a nós: se ela é feinha, malcriada e estúpida, por quê casou-se com ela? Deve ser rica.
PINCHWIFE Se calculamos que não gasta dinheiro como essas galinhas da cidade, então é rica; além disso, visto que é feinha, sofrerá menos tentações dos homens; visto que ê malcriada, odiará a boa conversação; e visto que é estúpida e inocente, não entenderá a diferença entre um homem de vinte e um anos e um de quarenta. CORNER ... E nove, se não me engano. Mas voltemos a nós: se é estúpida e ingênua, exigirá de um homem de QUARENTA E NOVE anos como se ele tivesse a inteligência é mais importante HARCOURT Não, garanto que não estou triste por ti. BRIZOLER Mas então pensas que esta menina seja bonita mesmo? (cheio de si) HARCOURT Eu a contemplaria até ficar cego como tu. BRIZOLER Como?!!! HARCOURT Cego de paixão. Os apaixonados são cegos. BRIZOLER Ah, é verdade. Mas, além de bonita, ela é inteligente e espirituosa. Vã num cantinho com ela e diga-lhe o que quiser para experimentar a sua inteligência. Ela se envergonha na minha frente. HARCOURT Bem, se falta inteligência a uma mulher num cantinho com um homem, faltara em qualquer outro lugar. ALITHEA (aparte a Brizoler) Estás me dando liberdade antes do tempo... BRIZOLER Ah, dê-me então uma prova de tua obediência. Vai! Ah, ah, ah, boa essa, não, Harcourt? (Harcourt puxa-a de lado e a corteja descaradamente) PINCHWIFE Como? Já que não te preocupas com a honra da tua mulher, eu defenderei a honra de minha irmã! Colocá-la na rodai Trazer-lhe homens! Instigá-la a namorar na própria frente! É essa a inteligência da cidade?
BRIZOLER Ah, ah, ah que moralista antiquado, ah, ah, ah! Não deixarei que o perturbem! (lutam para que Pinchwife fique longe de Alithea) ALITHEA O contrato de casamento já foi assinado, caro senhor; agora é tarde, já está tudo certo. HARCOURT Então é certa também a minha morte. ALITHEA Não posso ser injusta com ele. HARCOURT Mas comigo pode, não? ALITHEA Não devo nada ao senhor. HARCOURT Deve: o meu amor. ALITHEA Ele amou-me antes. HARCOURT Ele nunca te amou; falta-lhe, como é evidente, o ciúme, que é a única prova infalível. ALITHEA O amor vem da estima, portanto não pode desconfiar da minha virtude. Além disso ele me ama, caso contrário não se casaria comigo. HARCOURT Eu renunciaria ao dote para provar que te amo de verdade. ALITHEA Agora não vale jogar com a dúvida que o dote impõe a uma mulher; além disso romper um contrato prejudicaria a minha reputação. HARCOURT Prejudicará mais ainda se tu te casares com tal indivíduo: as pessoas dirão que tu precisavas de um marido qualquer. ALITHEA
Mas o senhor é muito insolente. Brizoler, venha cá por favor! Esse teu amigo é muito importante e muito apaixonado. HARCOURT (aparte a Alithea) Fica quieta, fica quieta! PINCHWIFE Ouviste aquilo? BRIZOLER E daí, querem por acaso que eu pareça com um camponês bruto e ciumento? HARCOURT Não era necessário fazer isso. ALITHEA Não era necessário trair o amigo. HARCOURT Traí-lo! É impossível, porque ele está abaixo de qualquer nível: um boboca, um covarde, um idiota, um miserável desprezível a não ser para ti que... ALITHEA Chega, não ofenda quem provavelmente será o meu marido; aliás, penso que serei obrigada a dizer-lhe que não é seu amigo. Brizoler, Brizoler! BRIZOLER Que foi, que foi? (aparte a Harcourt) Então, meu caro, não é uma moça inteligente e bem-humorada? HARCOURT (duramente) Não tanto quanto eu pensava. ALITHEA Brizoler, trazes gente para que te ofendam? HARCOURT Mas, senhorita... BRIZOLER Como? Mas se me ofende é só por brincadeira; é um costume entre nós, homens de bom-humor, e não damos importância a essas coisas. ALITHEA
Ele falou tão pesadamente de ti que perdi a paciência; e ainda por cima declarou seu amor. HARCOURT (aparte) maldita fofoqueira! BRIZOLER Bah, para exercitar-se um pouco, como todo homem de bom-humor e inteligência faz. Assim como não temos afeto, não temos malícia... ALITHEA Disse-me que és um miserável desprezível... BRIZOLER Bah... ALITHEA Um covarde... BRIZOLER Bah, bah! ALITHEA Um idiota, um boboca... BRIZOLER Como? Espere um pouco, isso ofende a minha reputação de inteligente. Não posso tolerar isso, amigo! Cunhado, ajude-me a matá-lo... (aparte) posso puxar a espada agora, somos dois contra um... além disso é uma boa ocasião diante da minha noiva, (faz para desembainhar a espada) ALITHEA Pare! Pare! BRIZOLER Que? Que? ALITHEA(aparte) Não posso deixar que matem um cavalheiro por ter sido gentil comigo; ah, gostaria que o meu noivo tivesse um rostinho e a experiência dele ... BRIZOLER Eu serei a tua morte! ALITHEA Pare! Pare! Ele falava assim somente por que te quer bem!
BRIZOLER Como? Diz que não~ sou inteligente por amizade? ALITHEA Sim, para ver se eu realmente gostava de til HARCOURT(aparte) Que generosa. BRIZOLER Se é assim, meu amigo, peço desculpas; mas por que não disseste antes? HARCOURT Realmente não tinha pensado... BRIZOLER Bem, vamos embora, que o Cornifício não chegou. Vamos ao teatro, noivnha. ALITHEA Se tu me deixares sozinha no camarote como de costume para ir até vou.
a platéia, não
BRIZOLER Mas devo estar presente na platéia para ver o que acontece; deixarei meu amigo Harcourt fazendo-te boa companhia. Depois de sua prova de lealdade, certamente estarás em boas mãos. (saem Harcourt, Alithea e Brizoler) PINCHWIFE Ao diabo! Hoje em dia gastam dinheiro antes de ganhá-lo e já são cornudos antes do casamento. Que? (entram Lady Fidget, Mrs Dainty Fidget e Mrs Squeamish) LADY FIGADLE Para ir à estréia hoje . PINCHWIFE Estréia? LADY FIGADLE Enquanto isso o meu marido virá ter companhia ao senhor daqui a pouquinho. PINCHWIFE(aparte) Maldita etiqueta vossa! (forte) de modo algum, senhora; não posso aceitar sir Jasper aqui sem antes ter feito visita ã sua casa; o mesmo fará a minha mulher. LADY FIGADLE
Mas já estamos aqui, meu senhor. PINCHWIFE Imagine, senhora. LADY FIGADLE Esqueçamos as formalidades; permita que a cumprimente. MRS SQUEAMISH Não iremos antes de vê-la. PINCHWIFE Morram todas ! (vai até a porta e volta) Mas ela saiu; a porta está trancada. LADY FIGADLE Mas como poderia ter saído se a chave está deste lado da porta? MRS DAINTY O seu criado disse que ela estava aqui. PINCHWIFE(aparte) Alguma saída eu encontro, ah se encontro! (forte) Está bem, devo confessar: na verdade, minhas senhoras, tive medo de apresentá-la antes para não arriscar as vossas vidas; está com varíola. Não vos as> sustem, mas afastem-se desta casa, por favor. Ê para não arriscar sem necessidade; entendam, minhas senhoras. LADY FIGADLE De forma alguma, todas, nós tivemos varíola. MRS.SQUEAMISH Uma coisa horrível MRS. DAINTY Rápido, deixa-me ver como está ela; tenho prática de varíola. LADY FIGADLE Não se preocupe, Sr. Enchesposas... PINCHWIFE Bom, não há modo de vencer as mulheres com a melhor arma delas, a mentira; baterei em retirada. (sai) MRS. SQUEAMISH Aqui está um ótimo exemplo de ciúme! LADY FIGADLE
Não me surpreendo como não sigam o seu exemplo, pois hoje em dia nem ligam para as mulheres. MRS. DAINTY Para que servem os ciumentos hoje em dia? LADY FIGADLE É verdade; é um mundo indecente. MRS. SQUEAMISH Sim, homens de boa condição que gastam dinheiro e tempo para manter galinhas freqüentadoras de teatro, que coisa nojenta! MRS. SQUEAMISH Isso é unicamente culpa dos homens de bom berço; não querem saber de mulheres honradas e de boa reputação. Não respeitam a etiqueta nem com mulheres da nossa categoria; tratam-nos como se fôssemos as suas esposas . LADY FIGADLE Tens razão; é uma absoluta vergonha que mulheres bem nascidas como nós ler alguma coisa. MRS. SQUEAMISH Exato: homens de bom berço não deveriam amar e muito menos casar-se com mulheres de categoria inferior. MRS. DAINTY Vergonhoso! Vergonhoso! Cruzam-se exatamente como os cães e os cavalos. MRS. SQUEAMISH Não tem amor, somente vaidade. MRS. DAINTY Quanto a vaidade, estamos bem: dizem a todos que vão para a cama conosco. LADY FIGADLE Canalhas! a maior vergonha é dizer isso e não fazer, é um ultraje às mulheres! MRS. SQUEAMISH Mulheres nobre como nós! É uma infâmia! LADY FIGADLE Além disso é uma infamíssima infâmia que uma pessoa nobre contamine-se desejando homens quaisquer. Que nojo!
MRS. DAINTY Eu ainda afirmo que qualquer homem, bem nascido ou não, pode manchar a nossa honra. LADY FIGADLE Como? Não é verdade: um homem bem nascido é mais parecido com um mando para nós; portanto o pecado é menor. MRS. DAINTY Por essa lógica, o prazer também seria menor. LADY FIGADLE Vergonha! Vergonha! Envergonhe-se, irmã! Onde é. que vamos parar? Moderei as suas palavras! MRS. DA Sei alguma coisa. MRS. SQUEAMISH Exato: homens de bom berço não deveriam amar e muito menos casar-se com mulheres de categoria inferior. LADY FIGADLE No teatro com aqueles dois? SIR JASPER Não, bobinhas; com o senhor Cornifício aqui presente; é muito menos escandaloso que acompanhadas de nobres. LADY FIGADLE Com esse indivíduo nojento? Não, não... SIR JASPER Por favor, ouve-me, querida (cochicha a Lady Figadle) CORNER Minhas amadas senhoras... (Corner e Dorilant aproximam-se de Mrs. Squeamish e de Mrs. Dainty) MRS. DAINTY Longe ! MRS. SQUEAMISH Longe!
MRS. DAINTY É a obscenidade em pessoal MRS. SQUEAMISH É preferível olhar um quadro de Adão e Eva sem folhas de parreira; portanto, longe de nós o pecado. DORILANT Mas quem são essas aí? CORNER Estas são como os críticos, pretendem ter inteligência ofendendo os outros. E, como qualquer chato vaidoso versado em estética dá-se ares de pessoa inteligente insultando pessoas de bom senso, essas aí pretendem serem honradas falando mal de suas coleguinhas da Corte. SIR JASPER Então, senhor Corner, peço que acompanhe as senhoras ao teatro. CORNER Eu, senhor? SIR JASPER Ah, ah, ah, exatamente, o senhor. CORNER Peço-vos mil desculpas, mas não quero ser visto com mulheres em público por nada nesse mundo. SIR JASPER Ah, ah, ah, que estranha aversão! MRS. SQUEAMISH Não, ele simplesmente ê visto com mulheres em privado. SIR JASPER Ele? Coitadinho, ah, ah, ah... MRS.' DAINTY Para indecentes como ele, ê uma vergonha ser visto com mulheres honejs tas como nós. É ruim para nós sermos vistas em público com tipos dessa laia. CORNER Tem razão, madame. Antigamente eu odiava somente as mulheres honestas. Agora, odeio todas. Peço desculpas às senhoras.
LADY FIGADLE Não há de que, senhor: não queremos ser incomodadas pelo senhor. SIR JASPER Mas nao há problema, ah, ah, ah! DORILANT Poupe-o, senhor! Se ele não quer, estou pronto a acompanhar as senhoras, visto que estou em melhores condições. SIR JASPER 0 senhor? Não, muito obrigado. 0 senhor Cornifício tem com pouca idade o privilégio que o senhor levará muito tempo para obter. Ele, ele é a companhia perfeita para a minha mulher, ah, ah, ah! Por favor, vá embo ra, as mulheres honestas não têm nada o que fazer com pessoas como o... DORILANT Ele é que não tem nada o que fazer com elas. É muito triste que um ho mem obtenha o privilégio de estar entre mulheres honestas somente na condição dos eunucos. Deus me livre de não ser claro com elas! Mas on de está Enchesposas? (sai) SIR JASPER Vamos, pobre homem ! Por que evitar as mulheres? São criaturas doces, nobres, tenras, feitas para fazer companhia aos homens... CORNER Tens razão. Assim também são essas doces, tímidas e domésticas criaturas, os cocker Spaniards. Têm os mesmíssimos vícios das mulheres: abanam o rabinho, rolam de um lado para o outro, toleram tapas e ainda nos fazem festa; latem para os amigos (olhando Lady Figadle), deixam-nos tensos na cama, transmitem pulgas e doenças. A única diferença é que o cocker Spaniard é fiel e faz festa para um só dono. SIR JASPER Voltaste malvado da França, ah, ah, ahl MRS. SQUEAMISH Que monstro, que animal inqualificável! MRS. FIGADLE Que bruto insolente ! LADY FIGADLE (histérica) Bruto ! Podre ! Fedorento! Cadáver francês castrado... SIR JASPER
Chega, por favor (aparte) Que vergonha, Mr. Corner, recorde-se que a sua mãe também era uma mulher. Assim eu não conseguirei que façam as pazes agora, (forte) Tenham calma, e escutem o meu conselho. Lembrem-se que falta o quarto jogador âs vossas partidas de baralho. Ele, como todo mal jogador, ama o jogo. Lembrem-se também que somente dois velhos decentes se dispõem a acompanhá-las a vossos passeios na cidade. Tomem este terceiro a vosso serviço, pois os outros dois já estão cadu cos. Além disso, senhoras como vocês devem possuir cavalheiros em gran de número, se não querem estar arriscadas a esquentar as cadeiras em casa. LADY FIGADLE Tens certeza que ama jogar e tem dinheiro? SIR JASPER É um burguês, ama o jogo como vós e tem tanto dinheiro quanto eu... LADY FIGADLE Está bem. Faremos pagar na mesa de jogo as ofensas, (aparte) O dinhejl ro compensa todas as falhas dos homens... bom, até um certo ponto...mas aqueles que não podemos usar como amantes, nós os multamos. SIR JASPER(aparte) Muito bem. Vamos agora pacificar o Corner (aparte a Corner) Mr. Corner, quando é que vai decidir-se a comportar-se gentilmente com as mulheres? Já é hora, visto que não serves mais para nada. Vamos, é hora de tomar chazinho com elas, colher-lhes pulgas de suas vestes,pro curar-lhes receitas e assim por diante. CORNER Espero ter com elas uma ocupação melhor, caro senhor. SIR JASPER Eh, eh, eh, é bom começar a praticar bem a sua nova profissão,para ser competente. E como está faltando uma senhora para agradar e uma casa para comer, ofereço-lhe a minha. Pode chamar a minha mulher de querida, não tem problema... CORNER Por consideração ao senhor... SIR JASPER Queridas, aqui está o vosso jogador. Usem e abusem dele. Que importase é um pouco insolente? É um direito do perdedor. LADY FIGADLE Sim, os perdedores tem sorte com as mulheres. CORNER Sempre pensei o contrário. Isso porque quando o perdedor é mulher, não perdem só o dinheiro, mais outras coisas também. Aliás, perdem tudo o que tem.
SIR JASPER Eh, eh, eh, perdendo ou ganhando eu garanto que o senhor gozará de liberdade com elas . . . LADY FIGADLE Depende de seu comportamento. Em consideração ao meu marido, concederei acesso e liberdade. CORNER Qualquer liberdade, madame? SIR JASPER Qualquer liberdade... que o senhor tem condições de usufruir, ah, ah, ah... portanto, comece logo, aproxime-se dela, conheçam-se melhor, brinque um pouquinho... CORNER(aparte) Suponho que já a conheça. Portanto posso arriscar o meu segredo contra o dela. (CORNER E LADY FIGADLE apartam-se cochichando -e rindo) SIR JASPER Querida cunhada, o Jasper aqui providenciou-vos um ótimo e inofensivo companheiro de jogo. MRS. FIGADLE Quem? Aquele ali? MRS. SQUEAMISH (ciumenta) Ótimo mesmo ! SIR JASPER É bom no baralho, na mosca cega, e de vez em quando, até um pouco picante! MRS. SQUEAMISH Eih!Não precisamos de companhia dessa laia! MRS. FIGADLE (ciumenta) Não queremos que o senhor escolha os nossos companheiros ! LADY FIGADLE Então espalhaste o boato da castração somente por amor à nossa honra e reputação? Que cavalheiro nobre e honrado! Mas és perfeitamente ,per_ feitamente igual a antes? CORNER Perfeitamente, perfeitamente igual a antes. Aliás, não vejo a hora de provar a minha palavra de honra.
LADY FIGADLE Muito bem, isso é falar como um homem honrado, que não vê a hora de dar provas a uma senhora. Hoje em dia náo se pode acreditar em mais ninguém. Mas eu tenho tanta fé em sua palavra de honra, que não hes_i taria em trocar a minha honra pela sua a qualquer momento, meu pobre amigo. CORNER Não, madame, isso não será necessário. A senhora será protegida pela minha reputação. LADY FIGADLE Mas se eu confiasse a outra pessoa o que eu confio ao senhor, o senhor trairia o pacto? Quer dizer, se o senhor permite que eu troque em miúdos, se eu desse a xoxota para outro, o senhor poria a boca no trombone? CORNER Se pusesse a boca no trombone, perderia a credibilidade, (impassível) Hoje em dia, madame, a fama de impotente e invertido é bem mais fácil de mudar que a fama de covarde. LADY FIGADLE Então, pau nela! Faça as piores coisas que quiser fazer comigo, querido. Shhhh... aí vem meu marido, (sussulta e treme). SIR JASPER Muito bem, muito bem. Estão reconcilhados? Já escolheram o tipo de jogo? Que bom, porque eu devo sair a negócios. LADY FIGADLE Sim, marido, mister Corner é um homem melhor do que eu pensava. Querei das prima e cunhada, agora finalmente posso pronunciar o seu nome sem medo de pronunciar uma palavra obscena. Antes, eu renunciaria...
SIR JASPER Muito bem, muito. Que és uma mulher honesta, a cidade inteira sabe. E continuará assim. Bem, agora esteja ã vontade com seu negócio, quero dizer, ao prazer, ah» ah, ah, que eu vou dedicar-me ao meu, ou seja, os negócios, ah, ah, ahl LADY FIGADLE (fingindo brincar) Venha, querido! CORNER Venha, querida!
SIR JASPER Isso, isso, brinquem bastante. Calma, Mr. Corner, é um consolo, é como se tivesse conquistado minha mulher, ah, ah, ah! (sai) CORNER É exatamente como se tivesse conquistado a sua mulher, ah, ah, ah! LADY FIGADLE "Quem por negócio da mulher se vai Pelo negócio a própria mulher cai." FIM DO II ATO ---------------------------------ATO III Cena 1 Quarto na casa de Mr. Pinchwife (entram Alithea e Mrs. Pinchwife) ALITHEA Cara cunhada, qual é o problema? Por que estás tão melancólica? MARGERY E quem é que não estaria melancólico ao ver-te indo e vindo por aí como uma borboleta livre, enquanto eu sou um pobre passarinho triste na gaiola? ALITHEA É mesmo. Mas tu vieste diretamente do ninho para a gaiola, como um passarinho crescido em cativeiro. Eu pensava que tu pudesses viver a. legremente assim mesmo. MARGERY Confesso que eu vivia alegre até que o meu marido não me mostrasse a boa vida que levam as senhoras de Londres, com seus bailes, reuniões, roupas de domingo. Acho que jogam até palitinho. (entra Mr. Pinchwife) PINCHWIFE Mas do que se está falando aqui? Tu contas a ela os prazeres da cidade e lhe atiças o desejo... ALITHEA ... de jogar palitinho... mas se é você quem lhe conta tudo. PINCHWIFE Não, eu lhe conto as vaidades da cidade como o faria um confessor. PINCHWIFE
É o teu exemplo, as liberdades que tu tomas fora desta casa que faz com que ela as sonhe, e a deixa de mal humor em casa. Coitada! Ela não queria vir para cá; fui eu quem quis. ALITHEA Muito bem. PINCHWIFE Ela esteve toda a semana na cidade, e nunca quis sair até esta tarde ALITHEA Ontem ela não foi ao teatro? PINCHWIFE Sim, mas não foi ela quem me pediu; fui eu quem quis ir. ALITHEA Então se ela quer voltar lá, é por tua causa e não pelo meu exemplo. PINCHWIFE(percebendo um novo erro na sua lamentação) Está bem, mas amanhã es tarei livre de ti, e depois de amanhã, antes do sol nascer, nos li^ vraremos desta cidade; e eu me livrarei deste pesadelo. Vamos, minha querida, ão esteja triste: depois de amanhã voltaremos ao campo. ALITHEA Belo consolo! MARGERY Que horror!Por que me falas do campo? PINCHWIFE Como? Horror da vida do campo? MARGERY Deixa-me em paz, não estou boa hoje. PINCHWIFE Só isso? Que estás sentindo, querida? MARGERY Não sei bem, mas sinto-me mal desde que tu me disseste que no teatro tinha um rapaz apaixonado por mim. PINCHWIFE AAAh!...
ALITHEA Isso também é por causa do meu exemplo, não?
PINCHWIFE(tentando agir com psicologia) Mas se estás mal porque aconteceu de um indivíduo corrupto mentir e dizer que está apaixonado por ti, tu também me deixarás doente. MARGERY De qual doença? PINCHWIFE De uma doença que é pior que a peste, o ciúme. MARGERY Que horror, tu estás brincando comigo! Tenho certeza de que não exijs te uma doença assim. PINCHWIFE(aparte) Não, minha pobre inocente, tu não conheces mesmo tal doença... bom, se me corneias será minha culpa; os cornudos são os auto res dos próprios chifres. MARGERY Bom, meu querido brotinho, vamos ao teatro esta noite. PINCHWIFE Querida, por que tens tanta vontade de ir ao teatro? MARGERY Não me interessa sinceramente o espetáculo; gosto de olhar para os atores e gostaria de olhar, se possível, para o rapaz que tu dizes que me ama, meu brotinho querido. PINCHWIFE Só isso, brotinho? ALITHEA Isso é o meu exemplo também? PINCHWIFE Infelizmente a essa hora o espetáculo já acabou, querida. MARGERY Então vamos sair assim mesmo, caro brotinho. PINCHWIFE Tenha um pouquinho de paciência: daqui a dois dias você poderá passear no campo.
MARGERY Por isso mesmo: quero contar alguma coisa nova Às nossas vizinhas. Quero sair, só uma vezinha! ALITHEA Desse desejo também eu sou a culpada? PINCHWIFE Pensando bem, de quem é a culpa de o senhor Corner ter vindo aqui em casa? Tua. ALITHEA Não, é tua, porque foste tu quem fez com que ele a visse. MARGERY Ai, meu Deus! É verdade que aquele rapaz veio aqui para me ver? PINCHWIFE Não! E não és tu a causa desta pergunta, senhorita Alithea? (aparte) Ele se apaixonou de verdade pela minha mulher... e a persegue .... mas eu corto o mal pela raiz. Conheço essas coisas. MARGERY Vamos, vamos, brotinho, antes que fique muito tarde. Quero sair, digo claramente. PINCHWIFE(aparte) Ótimo! Manifesta já a obstinação das mulheres da cidade. Enquanto ela estiver aqui a tratarei como tal. (forte) Como faremos, irmã, para que ela não seja vista ou reconhecida? ALITHEA Coloque-lhe uma máscara. PINCHWIFE Sim, serve para deixar as pessoas ainda mais curiosas. Reconhecerão a sua estatura, as suas roupas. E se ainda por cima encontrássemos o senhor Corner, seria horrível. Não, não usará máscara. As máscaras cornearam mais homens que os rostos lindos que elas já esconderam. ALITHEA Como fazer então? MARGERY Vamos? Senão a Bolsa de Valores fecha, e tenho vontade de ir até lá. (Ver o meu irmão)
PINCHWIFE É isso! Vamos vesti-la com a roupa de homem. Sou mesmo um expert desta cidade, ah, ah, ah! Uma mulher mascarada é como uma travessa coberta, que aguça o apetite; se não estivesse coberta talvez faria até vomitar, ah, ah, ah! ALITHEA Que trocadilho de mau-gosto! Um meu pretendente costumava dizer:"uma moça bem mascarada é como o Sol em eclipse; atrai mais admiradores do que quando brilha..." ---------------------CENA 2 (Na Bolsa de Valores. Entram Harcourt, Dorilant e Corner) DORILANT Um encontro com mulheres ! E não vens jantar conosco. Que afronta! HARCOURT Mas esta manhã mesmo estavas frontalmente contra elas! DORILANT Quem diria... tu, sair com mulheres sem alvo certo. CORNER Sem alvo certo? Não... quer dizer, o meu alvo certo é poder vingar-me delas. HARCOURT Que coisa... perdeste o ferrão... No camarote eras como um zangão entre as vespas. Estavam todas em cima de ti, empurrando-te de um lado para o outro. DORILANT E apesar disso, continuas zanzando entre elas, como quem não consegue nada e então as odeia. CORNER Exatamente porque as odeio que as frequentarei ainda mais. Como no casamento, nada mais odioso que a conversa constante com a esposa. DOLIRANT Mas eu não janto com uma mulher se não posso levá-la para a cama. Como não se janta com um rico se não se pode embrulhá-lo. CORNER Mentira. Já te vi jantando com um rico pelo vinho que ele punha na mesa. HARCOURT
Mas isso era como jogar dados com um lacaio para treinar a mão. Mas voltemos a ti; as mulheres não bebem... CORNER Bebem e como... e terei o prazer de adormentá-las com uma garrafa na mão e provocar os mesmos escândalos de antes. DOLIRANT Que nojo! beber com mulheres é tão contra a natureza como bater neas. É coisa para fornicadores decadentes e o modo mais vulgar de saciar o amor. HARCOURT De afagar o amor, e não de saciar. Separadamente o vinho e as mulheres são bons, mas juntos são nauseabundos como vinho velho e açúcar. Mas, antes de ir embora, dême um conselho, porque general velho e mutilado é ótimo conselheiro. Apaixonei-me pela noiva de Brizoler, que deve casar-se com ela amanhã. Portanto como posso chegar até ela? (entra Brizoler olhando de lado) CORNER Aí está quem a levará até ela. HARCOURT Eh, eh. Mas é o meu rival apesar de tudo, e aposto que será um obstáculo. CORNER Um rival bobo ou um marido ciumento ajudam os concorrentes, porque conseguem ser odiados rapidamente pela próprias mulheres. 0 que é o primeiro passo para um amor por outro homem. HARCOURT Mas ainda assim não posso chegar perto dela sem ele do lado. CORNER Para um noivo bobo, basta pouco para ser embrulhado. BRIZOLER(aparte) Embrulhado? Seria bom mesmo, desde o Natal passado que não embrulho ninguém HARCOURT (aparte a Corner). Espero que ele não tenha ouvido mais do que deveria. BRIZOLER Vamos, canalhas embrulhões, onde vamos jantar?... Oh, Harcourt, a minha noiva contou-me que tu a namoraste ardentemente durante todo o tempo do espetáculo! ah,ah,...Mas eu...
HARCOURT Eu? namorar a sua noiva? BRIZOLER Mas eu te perdoo, penso de conhecer-te, conhecê-la e conhecer a mim mesmo! HARCOURT Foi ela quem disse? Constato que as mulheres sejam como os agentes da Bolsa; fazem aos clientes preços que na verdade nunca foram antes oferecidos à elas. CORNER (aparte) As mulheres falam de um caso antes; os homens depois (auto) Tens mesmo uma noiva Brizoler? é tão difícil de acreditar nisso como de acreditar que estás metido num embrulho, como afirmas há pouco. BRIZOLER Oh, não o havia visto, senhor. Está sempre fazendo pouco dos outros, senhor? Mas alguns homens de bom humor como nós já nos antecipamos. Éramos audaciosos com o senhor, não ouvia as risadas? CORNER Mas eu penso que se vai ao teatro para rir da comédia, e não do senhor. BRIZOLER Eu vou a uma comédia como se vai a um "pic-nic". (Leva-se o lanche neste, na primeira o mesmo bom humor e como a cesta do lanche levo o meu bom humor). E falo mais alto que os atores porque sou mais engraçado que eles. Para dizer a verdade, odeio os atores e as suas imbecilidades no palco, e por tanto falo mais alto que eles na plateia. CORNER Como, o senhor odiar os autores? Tens tanto bom humor quanto eles e o mesmo espírito: brigas com os teus semelhantes como uma puta. Além do mais acho que odeia escrever, não? BRIZOLER Saiba que odeio mesmo. CORNER Mas quem está chegando, Brizoler? (entram Mr. Pinchwife, Margery em roupas de homem, Alithea. BRIZOLER Depressa, escondam-me! a minha namorada! (esconde-se atrás de Harcourt)
HARCOURT Aqui ela te vê. BRIZOLER Mas eu não quero vê-la. É hora de ir ã Corte, não posso faltar ã recepção . HARCOURT Por favor, reapresente-me a ela e faça-me fazer as pazes. BRIZOLER Da próxima vez; o Rei já deve estar jantando. HARCOURT Não terá pior digestão pela tua ausência. (Tua ausência fará bem à digestão) . BRIZOLER Bah, conheço bem os meus interesses. Por favor, escondam-me. CORNER (cumprimentando Pinchwife) às suas ordens, senhor (prefiro esta fórmula que um seu criado; é mais coloquial no Brasil) Como? Não me reconhece? PINCHWIFE (aparte para a mulher) Vamos embora. MARGERY (ao homem de uma banca de jornais) por favor, dê-me uma antologia de comédias... do tipo "As Astúcias do Tarugo" ou "A Dama com Dor de Cotovelo" . . . PINCHWIFE Não lhe dê coisa alguma; as comédias não são leituras para ela. Vamos embora, (aparte) Queres ser reconhecida? CORNER (do outro lado do palco) Quem é aquele bonito rapaz com ele, Brizoler? BRIZOLER Acho que é o irmão de sua mulher, porque a lembra muito; mas o vi somente uma vez. CORNER Extremamente bonito; eu também vi alguém parecido. Sigamo-los. Saem Pinchwife, Margery, Alithea e Lúcia; Corner e Dorilant os seguem. HARCOURT
Vamos, Brizoler, a tua noiva já te viu e ficará zangada se não fores até ela. Além disso eu gostaria de reconciliar-me com ela, e só tu, amigo, pode conseguí-lo. BRIZOLER Não deveria fazer isso por ninguém, mas a ti não se pode negar nada, porque és um meu amigo,' reconheça. por ti que por mim. Por que nutro a ti talvez não me privaria da vocês. HARCOURT Eu aprecio muito este gesto, mas o faço mais que assim posso continuar a manter a amizade eu me resigne a que tu a gozes de noite, mas sa companhia de dia. BRIZOLER Tu gozará de minha companhia de dia, amigo, por que eu não exitaria a divorciar-me dela mas não de ti. Vamos, portanto. HARCOURT(aparte) Seu irmão jamais permitiria que eu chegasse perto dela; eri fim, um rival é o caminho mais insuspeitado e rápido para chegar jun to; e depois, é só derrubar o biombo, visto que já não nos serve. (Brizoler sai, seguido por Harcourt. Retornam ao palco Pinchwife e sua mulher). PINCHWIFE (a Alithea, fora do palco) Irmã, se não queres vir, deveremos deixar-te. (aparte) Aquele idiota do seu noivo e ela atrairão todos os gaviões daqui; e estes deixarão todas as sua vaquinhas e virão atrás de nós. É bom mesmo que nos separemos, conheço muito bem este lugar. Que eri xame de cornudos e corneadores. Vamos, vamos embora, querida. MARGERY Mas ainda tenho que ver tantas lojas! PINCHWIFE Então vamos por alil MARGERY Meu Deus, que letreiros e decorações lindíssimos por ali; "Ao pulo do Alce", "a cabeça do carneiro", "Ao Cervo de Ouro". PINCHWIFE Não, vamos então por ali! Sao nomes apropriados para os maridos das clientes dessas lojas. MARGERY
O que queres dizer com isso, querido brotinho? PINCHWIFE Não tem importância, nao tem importância, querida. MARGERY Por favor, diga-me, quero saber, quero saber, brotinho! PINCHWIFE Os maridos são alces, carneiros, cervos. MARGERY Ainda não entendi, é difícil a cidade para mim. (saem. Entram pelo outro lado Brizoler, Harcourt, Alithea e Lúcia) BRIZOLER Vamos, querida, faça as pazes com ele, pelo amor que tens por mim. ALITHEA Pelo amor que tenho por ti que eu o odeio. HARCOURT É mais cruel ainda: odiar-me pelo amor que tens por ele. BRIZOLER Sim, querida, ele tem razão: odiar o meu amigo pelo amor que tens por mim. ALITHEA Eu o odeio por que é teu inimigo, e se tu me amas, deverias odiá-lo porque ele me paquera. BRIZOLER Essa é boa! eu odiar um homem porque esse homem te ama! Mas se ele te amasse é porque não consegue não amar-te; e a culpa é da tua beleza e não dele se isso acontece! Eu? odiar um homem porque tem a mesma opinião que eu? Mas que idiotice! ALITHEA Mas a tua honra tolera que ele paquere a mim, que me caso contigo amanhã?. BRIZOLER Mas a tua ou a minha honra toleram que eu seja ciumento? Se ele te paquera é porque tu és bonita; e se eu não sou ciumento é porque tu és honesta. E isso aumenta a tua honra, penso. ALITHEA Mas é na tua honra que eu penso.
HARCOURT Mas porque, querida senhorita, tu te preocupas mais que pela sua honra mais que ele mesmo? Deixa de lado a sua honra pelo nosso amor. Ele? Ele não tem honra nenhuma... BRIZOLER Como? HARCOURT ...que ele mesmo não possa defender sozinho. BRIZOLER Ah, esta é uma grande verdade! HARCOURT O fato que tu te preocupas pela sua honra não honra por nada a honra do meu caro amigo. Portanto, minha querida senhorita, deixa que a sua honra passeie livremente por aí. BRIZOLER Isso mesmo. Eu não teria honra se me casasse com uma mulher que se preocupa com ela, e que não a pudesse confiar cegamente a um amigo meu. ALITHEA Não tens medo de perder-me? HARCOURT Ele, ter medo de perder-te, querida? Não, não. Por aí se vê quanto a mais explendida criatura do universo é amada por ele. Mas será possível que tu não percebes? BRIZOLER Exato, meu amigo, eu a amo tanto que não posse ter ciúme dela. ALITHEA Tu não entendes o teu "amigo": ele está dizendo que não cuidas de mim. BRIZOLER Por Deus, querida Alithea, tu és realmente ciumenta. Queres interpretar as palavras dele de acordo com o teu próprio ciúme? ALITHEA E eu estou impressionada com a tua falta de ciúme. BRIZOLER E eu fico bobo com o teu ciúme, medo, honestidade e honra. Por Deus vejo que a honestidade deixa as mulheres tão chatas como a leitura ou a cultura.
ALITHEA Que coisa monstruosa! LÚCIA(aparte) Mas que sorte têm essas mulheres de classe! Eu nunca seria tão sortuda assim. E ela desperdiça uma benção dessas. O azar não é ser cornudo; o azar é ser pobre! ALITHEA Estou te dizendo que ele está querendo casar comigo! BRIZOLER Bah! HARCOURT Por favor, querida amiga, perceba que estás em vão querendo que ele tenha ciume de ti, mas o meu amigo é a pessoa mais generosa do mundo comigo. BRIZOLER Viste, querida? HARCOURT Mas a sua generosidade não basta sem um empurrãozinho teu. Ele, como um bom amigo, acredita em tudo o que eu digo; fostes tu como ele! Ele! Ciúmes de mim? Eu nunca diria mentiras a ele ou a ti! BRIZOLER Ouça, ele quer fazer as pazes, ele é um amigo. Não fique nervosa. (Alithea caminha nervosa de um lado para o outro) HARCOURT Eu te amo tanto, tanto... BRIZOLER Como, como? Agora começas a ir longe demais de verdade! HARCOURT ... tanto, quer dizer, que confesso que não queria que tu fosses desperdiçada com um indivíduo tão insignificante como este aqui. (Bate no próprio peito mas antes indica Brizoler; duplo sentido). BRIZOLER Mas é claro que não queria; agora está claro o que o amigo quer dizer. Mas, Harcourt, eu sei que tu nunca trairias a mim. HARCOURT
Não, não, que os Céus proíbam que a glória do teu sexo caia tão lá embaixo a ponto de jogar-te nos braços deste desprezível, miserável e infimo homem... que este amigo... eu? traí-lo (sempre em duplo sentido, abraça Brizoler mas o indica como o objeto de suas falas, e Alithea vê isso) . ALITHEA ótimo... BRIZOLER Não, não é preciso que tu faças isso, eu sei que tu és leal. Veja minha querida, que trairia a si mesmo para não me trair, ofendendo-se assim. ALITHEA Mas tu ainda não estás percebendo? BRIZOLER Claro que percebo, como fala humildemente de si mesmo, coitadinho. ALITHEA Mas me parece que ele esteja falando de ti, e na tua cara ainda por cima; tanto que não posso mais aguentar os insultos que ele dirige a ti, como não aguento mais o seu amor por mim. (acena a ir embora). BRIZOLER Não, não, querida, fique mais um pouco... O seu amor por ti? será que ele não foi claro o suficiente?
Meus Deus, querida,
ALITHEA Sim, foi claro de verdade. BRIZOLER Vamos, mas será que um homem não pode ser gentil com uma mulher, hoje em dia, que logo pensam que a está paquerando? Não, querida, continuarás pensando por si mesma dessa forma até que ele não seja obrigado a exclarecer de uma vez por todas de que tipo de amor se trata? Meu amigo, responda de verdade: amas a minha noiva? HARCOURT Sim, e queria que ela não duvidasse. BRIZOLER Mas como a amas? HARCOURT Com toda a minha alma. ALITHEA Obrigada. Parece que agora ele esteja falando claro o suficiente.
BRIZOLER(a Alithea) Ainda não entendeste, (a Harcourt) Mas de que gênero de amor? HARCOURT Do mais verdadeiro amor do mundo BRIZOLER Ouça, ouça isto: esse com certeza não é amor de casamento... ALITHEA Como? estás dizendo que o amor de casamento não é o melhor? BRIZOLER Acho que exagerei um pouco. Mas defende-te, Harcourt, dizias há pouco que nunca trairias nem a mim nem a ela. HARCOURT Não, por amor dos Céus, estou dizendo a verdade. BRIZOLER Veja isso, querida. HARCOURT ... estou dizendo a verdade, aquele que te ama mais (bate no peito e indica si mesmo sem que Brizoler perceba). ALITHEA Veja isso, Brizoler! Quem é ele? BRIZOLER E quem deveria ser?... prossiga, Harcourt. HARCOURT (indicando Brizoler, sempre fazendo os mesmos sinais) aquele que te ama mais que o dinheiro, ou os troféus em forma de mulheres. BRIZOLER Isso mesmo. HARCOURT Que sabe se é possível avaliar tanta beleza e honestidade. BRIZOLER Isso mesmo.
HARCOURT Cujo amor não pode ser igualado por nada neste mundo a não ser por tuas formas divinas. BRIZOLER Não, não pode. HARCOURT Que poderia tolerar um rival somente por não tolerar a tua ausência. BRIZOLER Sim, poderia. HARCOURT Que, enfim ama mais do que os próprios olhos, que antes já o empurraram para esse amor. BRIZOLER Isso mesmo! Não, querida, tu não nos deixarás até que... HARCOURT Por favor, querida, não me faça sofrer aqui por muito tempo. BRIZOLER ... Não nos deixarás até que não o beije, para que eu fique certo que vocês fizeram as pazes... depois de uma declaração de tamanha sinceridade. Por favor, faça as pazes com ele. (entram Mr. Pinchwife e Margery) ALITHEA Peço desculpas, meu futuro marido, se não sou ainda tão obediente. PINCHWIFE Como? pedir a tua mulher que beije um outro homem? Monstro! Nao tens vergonha? Não te perdoarei jamais! BRIZOLER Não te envergonhas tu, que eu tenha mais confiança na castidade da tua família que tu mesmo? Tu não tens nada a ensinar-me; sou um homem honrado, senhor, mesmo que eu seja franco e aberto, sou franco, senhor... PINCHWIFE Muito franco, senhor, tanto que divides a tua noiva com os amigos, senhor! BRIZOLER
Mas ele é somente um daqueles indispensáveis amigos que reconciliam as brigas típicas de um casa; é sabido que marido e mulher nem sempre se dão bem. E eu o uso para a reconciliação, e é por isso que gostaria que tivesse relações com a minha noiva. PINCHWIFE Um amigo muito humilde e serviçal; terás muitos amigos assim se mostrar a sua noiva desse jeito. BRIZOLER E pode até ser que eu goste, como gosto de mostrar as minhas roupas finas nas estreias e contar dinheiro na cada dos outros. PINCHWIFE Quem desfila mulher e dinheiro arrisca-se a emprestá-los de vez em quando. BRIZOLER Adoro ser invejado, e não me casaria com uma mulher que somente eu fosse capaz de amar; amar sozinho é tão chato quanto comer sozinho. Não vivemos uma época aberta? E eu sou uma pessoa aberta, e para dizer a verdade, pode ser que eu goste de ter concorrentes com a minha própria mulher; eles fazem com que ela pareça sempre como uma conquista difícil. E boa noite, porque devo ir ã Corte. Espero, querida, que tenhas feito as pazes com o meu amigo, boa noite a ti também, e duram bem se puder; porque amanha devo visitar-te com um padre. Boa noite, caro Harcourt, meu amigão. (sai) HARCOURT Espero, querida, que não recusarás também a minha visita com outro padre, se eu viesse mais cedo que Brizoler. PINCHWIFE Esta virgem ainda está sob a minha tutela. Freie a sua liberdade com ela, senhorl (divide os dois) HARCOURT Sério, senhor? PINCHWIFE Sim, meu senhor: é a minha irmã. HARCOURT ótimo, porque seremos parentes, então. Meus respeitos. PINCHWIF Vamos embora. Já deveria ter ido antes, se não fosse por vós, e assim evitado esses corruptos que parecem nos perseguir. (entram Corner e Dorilant)
CORNER Como, Enchesposas? PINCHWIFE (sempre cada vez mais contrariado) Um seu criado. CORNER Como? Vejo que mesmo pouco tempo passado no campo deixa um homem rústico, e capaz de conversar com cachorros, cavalos e suas cabeças de gado. PINCHWIFE Tenho negócios lá, e devo ocupar-me deles, senhor. Os vossos cios são a diversão e portanto temos caminhos diferentes. CORNER Pode ir se quizer, mas este jovenzinho bonito... (assegura Margery) HARCOURT A senhora... DORILANT E a empregada... CORNER Ficarão conosco, porque suponho que os negócios deles sejam iguais aos nossos: o prazer. PINCHWIFE(aparte) Meu Deus, ele a está reconhecendo; ela está se comportan-do como uma bobai (Ou se não não a reconhece, cairei numa armadilha sem falta e revelarei o segredo). ALITHEA Por favor, vamos embora. PINCHWIFE Vamos. CORNER (a Margery): Não preferes ficar conosco? (a Pinchwife) Mas venhamos a nós: diga, quem é este gracioso jovem? PINCHWIFE Um jovem em minha tutela, (aparte) gostaria de mantê-la longe imundas. CORNER Nunca vi em minha vida uma coisinha tão graciosa.
das suas mãos
PINCHWIFE Bah, não olhe muito para ele, é um pobre rapazola tímido, ele vai se envergonhar, (aparte a Margery) Vamos embora, (faz para levá-la em-bora) irmão. CORNER Ah, mas é seu irmão! PINCHWIFE É, é o irmão de minha mulher. Vamos, vamos, que ela nos está espe-rando para jantar. CORNER Imaginava que era seu irmão, porque parece muito com aquela me apaixonei no teatro.
jovem que eu vi e
MARGERY(aparte) Caramba! é ele quem se apaixonou por mim! Estou contente, porque é um elegante e fino cavalheiro; e eu já gosto dele também. (a pinchwife) É ele, meu caro brotinho? PINCHWIFE (aparte â mulher): Vamos embora, vamos embora... CORNER Como? Que pressa é essa? Porque não quer que eu fale com ele? PINCHWIFE Porque és um corrupto, e ele é jovem e inocente, e não queria por nada no mundo que ele fosse corrompido, (aparte) Como olha para ele, essa diaba! HARCOURT Que tem ele? Por que está tão preocupado? Ah, querida... ALITHEA Eu já disse para deixar-me em paz; a minha paciência já acabou. HARCOURT Não pensas em meu sofrimento e nem tens piedade? ALITHEA Pensar em teu sofrimento sem poder curar não é piedade, é crueldade; portanto não nos veremos nunca mais. (atenção ao duplo sentido) HARCOURT Conceda-me então, o privilégio de um amante mal-sucedido, ou seja, lamentar-me, censurar-me e dar a ti uma razão final, porque se não podes aceitar meu casamento, não podes casar com aquele meu rival miserável.
ALITHEA Não és tu, mas somente o teu rival, quem pode dar uma razão com ele. Se ele é fiel a mim, eu sou a ele. Boa noite.
para não casar-me
HARCOURT Mas essas mulheres são fiéis somente aos bobos? DORILANT (lutando com Lúcia) Quieta, criatura robusta! (Volta Pinchwife) PINCHWIFE Fugiraml fugiraml Maldição! Para onde foram? ALITHEA Foram só ali do lado, meu irmão (irónica) LÚCIA O que eles foram fazer termina logo. ALITHEA Foram só ali do lado, meu irmão. CORNER Harcourt e Dorilant, olhem! Ele é igual ã doce criatura que eu vi no teatro; já viram uma criatura mais atraente? Esse camarada tem razão de ter ciúme da mulher, proque este rapazola se parece com ela, que apaixona todos aqueles que a vêem. HARCOURT Agora estou lembrado: ela parece mesmo com o rapazola. DORILANT É igual ! CORNER É uma criatura magnífica, a coisa mais linda que já viram meus olhos. PINCHWIFE Mais ou menos. HARCOURT Mais linda que a primeira musa de um poeta! CORNER Mais linda que a última amante de um homem velho (alusão a Pinchwife) MARGERY
Vamos, parem de brincar, por favor. PINCHWIFE Vamosí Vamos! (aparte) Meu Deus, se fará reconhecer! CORNER Mas estou falando de tura irmã, meu rapaz. PINCHWIFE É, mas se ele se parece com a irmã, e com esses elogios, o rapaz fji cou vermelho! (tenta consertar as coisas) (aparte) estou sendo durja mente torturado. CORNER Mas esse rapaz é tão bonito que não parece um homem. PINCHWIFE(aparte) Ah, acabou, ele a reconheceu, não aguento mais. (aparte) Estou dizendo para irmos embora ! CORNER Não, por favor, ele não irá embora ainda, (aparte a Harcourt e Dorilant) Vamos infernizar um pouco este nosso amigo ciumento. HARCOURT e DORILANT Como? CORNER Já vão ver como. PINCHWIFE Por favor, deixem em paz o menino, não posso perder mais tempo. Recordo que a sua irmã nos está esperando para jantar. CORNER Então iremos jantar todos juntos, com ele e com ela. PINCHWIFE (desesperado): Bom, pensando melhor, acho que ela esperou tanto que já foi dormir, (aparte) gostaria que ela e eu estivéssemos longe do alcance de suas mãos. (a Margery) vamos embora, amanhã devo acordar muito cedo, vamos embora! CORNER Então, se ela já foi para a cama, desejo a ela e a voces boa noite. Mas por favor, rapaz, mande lembranças minhas â sua irmã. MARGERY
Agradeço de todo o meu coração, meu senhor. PINCHWIFE(aparte) Por Deus, acabara por fazer-se reconhecer, por mais que eu me esforce, (forte) Pelo que me parece ele é mais agradecido a ti que a mim. CORNER Diga a ela, meu caro e doce jovem, deixando de lado este teu cunha-do, que tu me aumentaste o amor que tenho por ela desde que a vi no teatro. MARGERY O senhor a havia amado de verdade? PINCHWIFE (aparte) Mais ou menos, (forte) Para casa, ordeno!!
CORNER Não! Esperem. De verdade. Diga a ela e dê-lhe este beijo por escandalosamente).
mim (beija-a
PINCHWIFE (aparte) Meu Deus, o que estou tolerando ! Ê claro que ele a reconheceu, mas... CORNER E este; e este. (Beija-a seguidamente) MARGERY Mas porque me beijas? Não sou uma mulher. PINCHWIFE(aparte) Acabou! (forte) Para casa! Não posso e não quero ficar mais aqui. CORNER Não! Eles também devem mandar um beijo â senhora sua esposa Harcourt! Dorilantl Não querem? (eles a beijam). PINCHWIFE (aparte) E eu tolero issol E eu que agora há pouco estava acusando aquele idiota de permitir que beijassem a própria mulher na cara! Que a lepra lhes consumem a caral (forte) PARA CASAI PARA CASA! CORNER
Boa noite, doce rapaz! Boa noite, madame. Adeus Enchesposas. (aparte a Harcourt e Dorilant) não disse que teria feito ferver a sua bi lis ciumenta? (saem Corner, Harcourt e Dorilant) PINCHWIFE Finalmente! Esperem, vou ver se a carruagem chegou. (Sai. Retornam Corner, Harcourt e Dorilant). CORNER Como? Ainda aqui? Farás de verdade o que eu pedi, querido rapaz? MARGERY Querido senhor, que me darás em troca? (aqui começa a ser menos indecente) CORNER Qualquer coisa. Venha cá na vila ao lado. (sai chamando-a). ALITHEA Pare! Que estás fazendo? LÚCIA Pare! HARCOURT Pare tu também! Deixe que eu te dê... logo ele volta. Não, não te deixarei ir antes de responder à minha pergunta. LÚCIA Pelo amor de Deus, meu senhor, devo seguí-los! (Alithea e Lúcia se debatem contra Harcourt e Dorilant) DORILANT Não, eu também tenho um presente para til Não os seguirás. (Volta Pinchwife) PINCHWIFE Onde? Como? Como foi que aconteceu? Digam onde estão indo! LÚCIA Com sua licença, ela foi até ali receber um presente daquele outro senhor. PINCHWIFE Presente! Peste! Onde estão?
ALITHEA Foram só ali do lado, meu irmão (irónica) PINCHWIFE Ao lado? Onde, onde? (sai, volta e torna a sair) HARCOURT Que tem ele? Por que está tão preocupado? Ah, querida... ALITHEA Eu já disse para deixar-me em paz; a minha paciência já acabou. HARCOURT Não pensas em meu sofrimento e nem tens piedade? ALITHEA Pensar em teu sofrimento sem poder curar não é piedade, é crueldade; portanto não nos veremos nunca mais. (atenção ao duplo sentido) HARCOURT Conceda-me então, o privilégio de um amante mal-sucedido, ou seja, lamentar-me, censurar-me e dar a ti uma razão final, porque se não podes aceitar meu casamento, não podes casar com aquele meu rival miserável. ALITHEA Nao és tu, mas somente o teu rival, quem pode dar uma razão com ele. Se ele é fiel a mim, eu sou a ele. Boa noite. HARCOURT Mas essas mulheres são fiéis somente aos bobos? DORILANT (lutando com Lúcia): Quieta, criatura robusta! (Volta Pinchwife) PINCHWIFE Fugiraml fugiram! Maldição! Para onde foram? ALITHEA Foram só ali do lado, meu irmão (irónica) LÚCIA 0 que eles foram fazer termina logo. ALITHEA Foram só ali do lado, meu irmão.
para não casar-me
PINCHWIFE Tui Tu sabes aonde eles foram, miserável infame, vergonha da nossa família, restaure a nossa honra, safada! ALITHEA Mas, querido irmão... PINCHWIFE Maldita, maldita irmã! ALITHEA Olhei Está de volta. (volta Margery com a peruca cheia de laranjas e frutas secas nos braços. Corner a segue). MARGERY Querido brotinho, olha só o que eu trouxe! PINCHWIFE (aparte) (tocando a testa) Olha só o que eu tenho aqui, mas é invisível. . . MARGERY Este distinto cavalheiro deu-me coisas melhores ainda! PINCHWIFE Ah, é? (aparte) Ofegante e corada! Tenho que me controlar! CORNER Presenteei com laranjas o seu cunhadinho, meu senhor! PINCHWIFE (a Corner) Obrigado, meu senhor, (aparte) Não presenteou, espremeu as laranjas, e agora devolve o bagaço. E ainda por cima tenho que ter a paciência da cidade, (ã mulher) por favor, vamos embora. MARGERY Espere, que tenho que arrumar as laranjas, querido brotinho. (entra Sir Jasper) SIR JASPER Ah, senhor Corner, venha, venha que as senhoras já estão esperando-o. A sua namorada, a minha mulher, estranho que faça-as esperar, ah, ah, ah. CORNER Hã meia hora que eu estou aqui, e é culpa sua se não estou com a sua mulher.
SIR JASPER Por favor, não diga nada; estava propondo um projeto a S. Majestade sobre... conto mais tarde. CORNER Vamos, saberei em sua casa (a Margery). Boa noite, doce rapaz, mais um beijo, lembre-se sempre de mim... (beija-a). DORILANT Sir Jasper, se ele vai à sua casa, devemos ir também. SIR JASPER A minha casa não é o lugar melhor para os senhores, visto que só ejs tão senhoras decentes. Ele, sabem, pode estar com senhoras decentes, ah, ah, ah, e além disso, ele é da família, ah, ah, ah! DORILANT Da família do senhor? SIR JASPER Mas se querem mesmo saber, ele é o meu eunuco, ah, ah, ah! (saem Sir Jasper e Corner) DORILANT Eu gostaria que tu fosses o meu trouxa! Ah, Harcourt, olha que troii xa desperdiçado por falta de homem! 0 Corner tem privilégios agora que não pode usar... HARCOURT Sim, para o nosso pobre Corner é o mesmo que herdar quando já se ej5tá velho. PINCHWIFE Vamos... MARGERY Já vou, querido brotinho. DORILANT Vamos embora também, (a Alithea) Boa noite, senhora, (a Lúcia) Boa noite, fortona. HARCOURT Mesmo que não me desejes um dia ou uma noite boa, desejo-te uma boa noite. Não ouso mencionar a outra metade do meu desejo. ALITHEA Boa noite, senhor, para sempre.
MARGERY Não sei onde colocar esta laranja, caro brotinho, coma-a. Aliás, deverás comer parte das coisas boas que aquele senhor me deu, ou das suas ofertas como vocês dizem aqui na cidade, quando chegarmos em casa. PINCHWIFE Certo, eu mereço. Fui eu que ofereci a parte melhor, (joga fora a laranja) "Convida o rapaz e dá a bola paga o pedágio e não rebola" FIM DO III ATO --------------------------------RESUMO DO FINAL Cena IV Margery aprende a escreve cartas de amor. Pinchwife a surpreende e£ crevendo uma a Corner, onde ela lhe diz que quer o divórcio do man do. Com muita ironia, o marido se prepara para matá-la e suicidar-se quando... entra Brizoler, que vem buscar Alithea mas não a encori tra. Pinchwife a informa que o está corneando, mas ele não liga e convida Margery para o almoço. Pinchwife a tranca e segue Brizoler. FIM DO IV ATO -------------------------------------------------[ 70 ATO IV Cena ! Manhã seguinte, casa de Pinchwife LÚCIA Senhora, vesti-a com quilos de jóias, pó de arroz e perfumes; e tudo isso para nada mais que uma tumba fedorenta de segunda mão, que é o que parece a cama do senhor Brizoler. ALITHEA Quieta, insolente. LÚCIA Não senhora. Quero somente saber por qual razão deu um fora tão solene no senhor Harcourt; como o seu coração pode ser assim duro? ALITHEA
Exatamente porque o meu coração não é duro. LÚCIA Não é duro? ALITHEA Tu não me entendes. Sou noiva de um homem que, pelo meu senso de justiça, não posso enganar ou ofender. LÚCIA E qual maior engano senão dar o corpo sem o coração a um homem? ALITHEA Compensarei o dano que fiz depois de algum tempo de casada. LÚCIA A mulher que se casa antes pensando amar depois se engana tanto quan to um mulherengo que se casa tentando melhorar a vida. Casar-se para aumentar o amor é como jogar para ficar rico; perde-se o pouco que se tinha antes. ALITHEA Acho que encontraste um pretexto para trair-me, pelo jeito que falas. LUCIA A senhora traiu-se por si só, pela própria palavra e pela própria honra. Mas que diabo é esta honra? Como a enchaqueca: faz mal a si mesma. ALITHEA Por favor, chega de falar de honra e de Harcourt; quero que o outro venha logo legalizar a situação. LÚCIA Casará com ela então? ALITHEA Dei-lhe a minha palavra e darei a minha mão confirmando, quando ele chegar. LÚCIA Mas em comparação com Harcourt é um completo idiota! ALITHEA Reconheço que falta a ele a inteligência de Harcourt. Renuncio a ela para ficar com a falta de ciúme de Brizoler. Harcourt é ciumento. LÚCIA 0 que não se faz por um marido bobo!
ALITHEA É a confiança de Brizoler que me obriga a ser tão fiel. Além do mais, o céu me proteja de um marido ciumento: produz a peste; a perda da honra, da paz, da... LÚCIA A perda do prazer. ALITHEA O que queres dizer, insolente? LÚCIA A liberdade é um grande prazer, senhora. ALITHEA E eu quero dizer que o ciúme causa a perda dessa cidade, porque acaba mandando a mulher para o campo,_ que é a pior cureldade que um marido pode fazer com a sua mulher. LÚCIA(aparte) Ah, então é naquilo que ela pensa? (aparte) Então, a senho ra acha que um marido inteligente manda a mulher para o campo? (entram Brizoler e Harcourt disfarçado de padre) BRIZOLER Bom dia a vós e a nós! HARCOURT Amen ! ALITHEA Quem é esse? BRIZOLER O meu capelão. Ah, querida, o pobre Harcourt, para obedecê-la, não quis vir comigo. ALITHEA Mas esse aqui não é ele? BRIZOLER Imagine, não é! E para mostrar que não pretende atrapalhar o nosso casamento, mandou o seu irmão para.Ele é o meu capelão. ALITHEA Seu irmão... BRIZOLER
Eu sabia que nem isso tu irias acreditar, (a Harcourt) Eu vos disse, reverendo, que ela vos confundiria com o vosso irmão Harcourt... ALITHEA Confundiria!... LÚCIA (aparte) irmão, ah, ah, ah! BRIZOLER Vamos querida, antes que passe a hora canónica. ALITHEA Que vergonha! Mas uma vez te enganaram. BRIZOLER Meu Deus, mas é muito estranho que ainda estejas tão incrédula. ALITHEA É muito estranho que tu estejas tão crédulo. BRIZOLER Minha vida, escuta-me: este aqui é o Rev.Eduardo Harcourt, irmão de Franco, por Deus !; observe que tem aspecto hipócrita de seminário. E é claro que parecem a mesma pessoa: são gémeos! LÚCIA Ah, Ah, Ah! ALITHEA Eu não me deixo enganar. Quais são as provas que ele deu como reve-rendo? BRIZOLER Está bem, confesso tudo; como Franco Harcourt veio cumprimentar-me pelo casamento e oferecer-se a ajudar-te, querida, pedi a ele que me providenciasse um padre. Imediatamente ele disse que por coincidência o seu irmão que é padre estava na cidade, foi procurá-lo e logo depois chegou este padre que tu estás vendo ali. ALITHEA Traduzo eu: Franco foi colocar uma batina preta, e depois apresentou-se a ti como um sacerdote; estas são as tuas provas? BRIZOLER Bah, Bah! estou te afirmando com a mesma confiança que a parteira deles quando nasceram, tanto são parecidos.
ALITHEA Disse, e este padre também; essa é a maior prova de todas. ALITHEA Mais ou menos; é uma prova boba, suponho. BRIZOLER Por Deus, se tu não acreditas em mim,■pergunte ã tua criada: prática de padres...
elas tem muita
LÚCIA Vejamos: realmente ele tem o sorrisinho canónico e a mão melada de um sacerdote. ALITHEA Está bem, reverendíssimo doutor, acabemos de uma vez por todas com a brincadeira. HARCOURT Com toda a minha alma, quando quiseres, ó alma celeste. ALITHEA Fala exatamente como um padre. BRIZOLER Como? mas não falava de alma e do céu? Mas como és desconfiada ! ALITHEA De uma vez por todas, insolentíssimo, pare de perseguir-me e concluamos este ridículo amor. HARCOURT (aparte) Ui, esqueci de adaptar meu estilo à batina, senão
estou vestindo-a em vão.
ALITHEA A minha paciência está no fim; acabe de uma vez por todas com este secante amor, ordeno. HARCOURT Assim seja, ó criatura seráfica, quando a sua honra achará oportuno . BRIZOLER Grandíssimo, somente um padre pode falar assim. Que bom! ALITHEA Permita-me dizer, meu senhor, que este truque ridículo de nada adiantará; mesmo se atrapalha este casamento, não o impedirá.
HARCOURT Longe de mim a intenção, minha celeste padroeira; não desejo outro bem que aquele de casá-la logo, e estou pronto a fazê-lo se a senhora assim o quer; porque o meu nobre benevolente senhor, que é três vezes gentil, não colocaria nenhum obstáculo. ALITHEA Não, pobrezinho, e nem eu, para falar a verdade. HARCOURT Então permita-me dizer, senhorita, que nenhum outro casar-se-á contigo, por todos os santos I prefiro morrer senão, mesmo porque todos nós deveremos morrer um dia. LÚCIA(aparte) Quanto o amor o fez esquecer de suas funções; lembra-me os padres verdadeiros ! ALITHEA Está também é uma linguagem de padre? Espero que tu definitivamente compreendas. BRIZOLER Coitadinho, está amargurado por não ser correspondido; não o censures, é uma crueldade inestimável.. .Mas, com: a tua permissão, quer_i da, ele nos casará! vamos, vamos, querida! LÚCIA Mas tem mais uma complicação: está ficando tarde, ah, ah, ah! ALITHEA Mas que estupidez interminável! Ele vai nos casar como rival, não como um padre de verdade! BRIZOLER (puxando-a) Vamos, vamos, queridal LÚCIA Por favor, senhora, não recuse a este reverendo sacerdote a honra e a satisfação de casar-vos; porque, ouso dizer, o bom padre deseja de coração. BRIZOLER Vamos, querida, é já meio dia, e a minha mãe aconselhou-me a não me casar depois da hora canónica. Vamos, vamos. (saem) CENA II Quarto na casa de Pinchwife
PINCHWIFE Vamos, conte tudo! MARGERY Santo Deus, não te repeti mais de cem vezes? PINCHWIFE (aparte) Quero somente ver se a estória não muda nem um pouco, por_ que se mudasse, pelo menos esta estória seria falsa, (a mulher) Vamos, embrulhona, como foi a coisa? MARGERY Meu Deus, que estranho gosto tens a ouví-la! PINCHWIFE E que estranho gosto tens a repeti-la !, diga logo, como foi a coIsa? MARGERY Ele levou-me para a parte de cima de uma casa perto do Banco. PINCHWIFE E assim voces ficaram sozinhos num quarto. MARGERY Sim, porque ele mandou o rapaz que estava lá buscar frutas secas e laranjas chinesas. PINCHWIFE Ah, muito bem. Que ele seja maldito e... MARGERY mas logo depois subiu a dona da casa. PINCHWIFE Ela fez muito bem em subir; mas venhamos a nós: o que vocês fizeram enquanto estavam esperando a fruta chinesa? MARGERY Ele beijou-me penso que mais de cem vezes, dizendo que parecia que ele estava beijando a minha bela irmã, mas entenda, ele pensava que a minha irmã fosse eu; disse, sempre pensando na minha irmã, que a amava com toda a alma; e a mim ordenou que não deixasse de dize-lo e pedir que ela estivesse esperando-o na janela ãs onze horas desta manhã. PINCHWIFE E pelo visto ele cumpriu a sua palavra, e tu também. Que ele se arruine por isso!
MARGERY E ele disse que, se tu não estivestes em casa, ele teria subido no quarto da minha irmã, entenda, ele estava me confundindo, querido brotinho. PINCHWIFE(aparte) Ele com certeza a reconheceu, mas esta confissão eu a devo pela sua inocência, (forte) Mas, então tu te mantivestes parada enquanto ele a beijava, confundindo-se, naturalmente? MARGERY Claro! querias que ele me reconhecesse? Eu não sou tão bobinha assim, querido brotinho. PINCHWIFE(torturado) Mas venhamos a nós: tu disseste que ele fez coisas sujas, como vocês chamam no campo. O que eram essa sujeiras? MARGERY Ufa, ele meteu... PINCHWIFE (desesperado) 0 que? MARGERY ...ele meteu a ponta da sua lingua entre os meu lábios, e por isso lambusou-me toda...então eu disse a ele que se ele fizesse aquilo de novo eu morderia a sua língua. MARGERY Mas, não fique assim tão bravo por minha causa. Ele não me machucou; pelo contrário, ele tem o hálito mais fresco que eu já vi. PINCHWIFE Ao diabo ! Tu gostaste daquilo e o faria de novo então, ignorante? MARGERY Somente se eu me esforçasse. Somente se ele me forçasse de novo, querido, não sou tão bobinha assim, já disse. PINCHWIFE Se ele te forçasse, sua ignorante! Eu afirmo que nenhuma mulher pode ser forçada. MARGERY Mas claro que sim, brotinho, porque ele é um homem de verdade, forte e galhardo. É difícil resistir assim, creia-me.
PINCHWIFE (aparte) Então é claro que ele a ama, mas não tanto para escondê-lo, conheço essas coisas, também fui como ele. Mas ainda assim, se ela continua a vê-lo ela aumentará a sua aversão a mim, e o amor a ensinará a enganar a mim e a contentar a ele, por mais idiota que ela s£ ja. O amor! é isso o que ensina estúpidas, e escravas, como quer Deus; mas o maldito amor...bem, vou estrangular esse monstro enquan-to eu tiver condições para tal. (forte) Vai buscar uma pena, tinta e papel no quarto ao lado. MARGERY Pois não, meu querido brotinho! (sai) PINCHWIFE (diante da inocência de Margery) Porque as mulheres ganham sempre dos homens no amor? Só pode ser porque elas tem mais desejo, mais estímulos passionais, mais sem-vergonhice (em progressiva raiva), e mais o Diabo! (volta Margery) Vamos, minha gatinha, senta e escreve. MARGERY (submissa) Está bem, meu brotinho, mas eu não escrevo muito bem. PINCHWIFE Para falar a verdade, eu gostaria que tu fosses analfabeta. MARGERY Mas porque tenho que escrever? PINCHWIFE Escreverás uma carta ao teu amante. MARGERY Que bom! escreverei uma carta àquele cavalheiro! PINCHWIFE Sim, àquele cavalheiro. MARGERY Meu Deus, não posso acreditar: tu estás brincando comigo. PINCHWIFE Anda, escreve que não estou com muito bom humor. MARGERY Brotinho, por acaso pensas que sou boba?
PINCHWIFE(aparte) Tem medo que eu não lhe dite palavras de amor, e por isso não quer escrever, (forte) É melhor começar. MARGERY Não tenho mais vontade de brincar, não quero escrever e portanto não o farei. PINCHWIFE Por que? MARGERY Porque ele mora na cidade; se queres falar com ele é só mandá-lo chamar. PINCHWIFE Muito bem, e tu queres que ele venha até aqui. A esse ponto chegamos? Estou dizendo para pegar essa pena e escrever, senão me zango de verdade MARGERY Outra vez estás brincando comigo? como se eu não soubesse que as cartas se escrevem somente do campo até Londres, e de Londres até o campo. Ele está na cidade agora, e eu também estou; portanto, tu sabes, eu não posso escrever. PINCHWIFE(aparte) Ah, não era tão ruim como eu pensava, que bom...ela ainda é doce e inocente, o que faz aumentar a minha raiva, (forte) Pode escrever cartas ã cidade quando o teu marido te ordena. MARGERY Ah, é chie? Posso mesmo? que bom; agora estou convencida de que não estás brincando. PINCHWIFE Vamos, começa: (ditando) "Senhor..." MARGERY Não deveria escrever "caro senhor"? aprendi que sempre se escreve alguma coisa a mais que um seco "senhor". PINCHWIFE Escreve como estou mandando senão escreverei "vagabunda" na tua aquele estilete! MARGERY Ai, que horror, meu querido brotinho, (escreve) "senhor...". PINCHWIFE
cara com
"Se bem que tenha tolerado os seu beijos e abraços nauseabundos e odiosos" Escreva! (tem raiva quando diz nauseabundos, etc.) MARGERY Porque eu deveria escrever assim? mas não me ouviste contar que o seu hálito era fresco!? PINCHWIFE (sempre mais desesperado entre a raiva e a ternura pela Escreva!
inocência da mulher):
MARGERY Deixe-me omitir pelo menos a palavra "odiosos"! PINCHWIFE Estou falando para escrever. MARGERY Está bem (escreve) PINCHWIFE Vejamos o que escreveste, (toma a carta nas mãos e lê) "se bem que eu tenha tolerado os seus beijos e abraços ontem ã noite". Desavergonhada! onde estão "Nauseabundos" e "odiosos"? MARGERY Não posso aguentar escrever tais palavrões. PINCHWIFE Pela última vez, escreva como te digo sem mais frescuras, senão vou começar a escrever com isso (Levanta o estilete de afinar penas) . Farei saltar fora da órbita esses olhinhos que causaram a tua doença. MARGERY (sempre meio inocentemente): Ai, meu Deus, escrevo, escrevo, (escreve). PINCHWIFE Vejamos agora... (lê) "Se bem que tenha tolerado os vossos nauseabundos e odiosos beijos e abraços de ontem ã noite"... Prossiga... "nunca mais tenha a petulância de renová-los"... assim... escreve) MARGERY Pronto, escrevi. PINCHWIFE
Prossiga então..."Não fiz com que o senhor me reconhecesse para evitar outras insolências"... isso... (escreve) MARGERY Pronto, escrevi. PINCHWIFE "Pela mesma razão, agora que estou longe das suas garras..."(torce e vibra com o que dita) (escreve) MARGERY Pronto, escrevi. PINCHWIFE "...confesso ao senhor a minha infeliz mas inocente brincadeira de ter-me travestido de homem...". (escreve) MARGERY Pronto, escrevi. PINCHWIFE "... porque o senhor deve, para sempre, deixar de perseguir quem o odeia e detesta...". (continua a escrever) MARGERY Pronto, escrevi... AAAAAAAHI (suspira). PINCHWIFE Como? Estás suspirando? Muito bem..." "... DETESTA...exatamente quanto ama o seu marido e a sua respeitabilidade...". MARGERY Juro, marido, que ele jamais acreditará que eu tenha escrito uma carta assim. PINCHWIFE Como? Esperaria uma carta de amor pelo teu comportamento, não? Anda, põe o teu nome embaixo. MARGERY Como? Mas não posso assinar como aprendi? "Sua fiel e humilde serva até a morte?" PINCHWIFE Não, torturadora bastarda, (aparte) Ai, vejo que o seu estilo seria tão terno...(forte) Anda, dobra a carta, enquanto vou pegar o carimbo e a cera laca; e escreva no verso "Ao Senhor Corner".
(sai) MARGERY "Ao Senhor Corner". Bem, estou muito feliz porque pelo menos sei o nome dele. Querido Senhor Córner! Mas por que eu tenho que mandar-te uma carta destas, que te irritará e fará com que tu te zangues comigo? Bem, nao a mandarei, ah não!... é, mas aí o meu marido vai me assassinar, porque vejo claramente que ele não vai permitir que eu ame o senhor Corner; mas o que me importa o meu marido? ... não quero, e então não mandarei ao senhor Corner uma carta dessas...mas aí o meu marido...ah, e se eu escrevesse com tinta branca que foi o meu marido quem me obrigou a escrever isso? ...e, mas aí o meu man do vai perceber...mas será mesmo que não tenho saída? Ah, uma mu lher de Londres teria pensado umas cem saídas...um momento I... e se eu escrevesse uma outra carta e a dobrasse igualzinho, colocando também o endereço? É, mas aí o meu marido perceberia... não sei o que fazer. Mas tentarei uma escapatória, ah se tentarei ... porque não vou mandar esta carta ao pobre senhor Corner, aconteça o que acontecer. (Escreve, dizendo em voz alta o que está escrevendo)"Que rido senhor Corner"... isso..."Meu marido queria que eu lhe mandasse uma carta vulgar, maldosa e mal-educada; mas não o farei"... isso.... "...e queria também que eu lhe proibisse de me amar; mas não o fa rei"... isso..."...e queria que eu dissesse que o odeio, pobre senhor Corner; mas não quero dizer uma mentira por causa dele"...isso ..."porque tenho certeza que se o senhor e eu jogássemos baralho no campo"... isso..."...eu não poderia deixar de tocar os seus pés com os meus embaixo da mesa..."... isso...".. .ou de encostar os meus joe? lhos aos seus e olhar fixo ao senhor até que o senhor percebesse..." ... isso..."...e depois ficar vermelha e abaixar o olhar juntos..." ... isso..."mas devo apressar-me antes que o meu marido volte; e a. gora que ele me ensinou a escrever cartas, o senhor receberá ainda mais longas de mim, que sou, querido, querido, querido senhor Cor ner a sua humilde amante e serva às suas ordens até a morte, Margery Pinchwife" . Um momento (beija a carta) ...e agora dobrar igua_l zinho a outra ... assim...e agora escrever..."para o senhor Corner"... mas, o que é que eu faço, meu Deus, ele está voltando... (entra Pinchwife) PINCHWIFE aparte Demorei lá embaixo por causa de um fofoqueiro que pretendia visitar-me...mas temo que ele também queria visitar minha mu lher. (forte) Então, terminou? MARGERY S...Sim, brotinho, agorinha. PINCHWIFE Vejamos. . .mas por que estás tremendo? Ah, gostaria que eu não a levasse, não é? PINCHWIFE Aqui está ela. (aparte) Ah, não, não lhe dou a minha carta: ele me mata. (Pinchwife abre e lê a primeira carta)
PINCHWIFE Está bem, dá-me o selo e o carimbo. MARGERY(aparte) Ai, é agoral (forte) Mas tu pensas que eu sou tão bobinha que não sei fechar uma carta? Vou fechar, eu quero, eu quero! (toma a carta de suas mãos, troca-a com a outra que fecha e carimba, e lhe entrega) PINCHWIFE Penso que estás aprendendo coisas demais nesta cidade... MARGERY(aparte) Não fui esperta? Bem feito, o senhor Corner vai receber uma carta minha, já que ele me obriga a fazê-lo. PINCHWIFE(satisfeito) Aposto que tu não gostarias que eu fosse agora. MARGERY Não, para falar a verdade, gostaria sim. PINCHWIFE Então és uma boa menina. Vamos, vai para o quarto e não chegue perto da janela até que eu volte; coloquei um guarda lá fora.(Margery sai, Pinchwife a tranca)Bom, é só para assustar; se não embrulhamos as mulheres, elas nos embrulham; e tal fraude pode ser usada pelo inimigo, entre os quais a mulher é o mais perigoso. E quem deve defender uma mulher ou umacidade de fronteira, tem que tomar mais cuidado com as traições do que com a força bruta. Bom, agora que estou certo da segurança interna, vou levar ao inimigo de fora falsas informações. Conheço esta cidade, ah, ah, ah. ------------------
Cena 3 Casa de Mr. Corner (entram Corner e o médico) CORNER (entra Lady Figadle e olha toda a sala) ... mas já que estamos falando de mulheres honradas, aí está uma. Esconda-se atrás do biombo e observe com os seus próprios olhos se já não gozo de privilégios junto à nobreza, vai, vai. (o médico se esconde) LADY FIGADLE Então, Sr. Corner, não sou uma mulher honrada? Como vê mantive a palavra. CORNER
E eu não sou diferente quanto à honra: se a senhora retirar-se no quarto ao lado, manterei a minha honra com a senhora. LADY FIGADLE Mas antes deve prometer tomar muito cuidado com a minha honra. LADY FIGADLE Mas uma pessoa só mantém melhor um segredo. Por favor, não revelo-o a ninguém, querido.(abraça-o. entra Sir Jasper) SIR JASPER 0 que? Como? LADY FIGADLE(aparte) Ai, meu marido... atrapalha tudo... e o que é pior, é um exagero que ele me veja abraçando assim o Corner. Que direi? (forte) Venha cá, marido, estou torturando o Sr. Corner com cócegas, ajude-me a fazê-lo sofrer. SIR JASPER Não, esposa, torturas melhor sem mim, suponho. Mas são estes os "biscuis" que desejavas comprar? Eu imaginei que tivesses ido à lo_ ja para isso. CORNER(aparte) Ir â loja comprar "biscuis"! É essa a desculpa que eu pre-cisava, (forte) Maldição! Os senhores não mandam para casa as vos sas mulheres impertinentes? Existem homens atormentados pelos mari_ dos; eu sou torturado por mulheres. Mas saiba que se eu não posso trabalhar ã noite, não posso trabalhar de dia também. Não sou um espantalho para que os passarinhos não mordam os frutos proibidos; falta pouco para que eu vire a cinta de castidade da cidade inteira! SIR JASPER Ah, ah, ah, coitado, tens razão. É como contar o dinheiro dos outros. Ah, ah, ah, fique calmo Sr. Corner LADY FIGADLE Eu é que devo ter raiva, que me deixas indecentemente sozinha, frequentar um tipo mal-educado como esse! SIR JASPER Vamos, o que fez ele? LADY FIGADLE Não fez nada SIR JASPER Mas se ele não fez nada...
a ponto de ter que
LADY FIGADLE Ah, ah, ah, mas no final das contas eu até rio. Esse coitado nem desceu para acompanhar-me na compra de um biscui, porque ele não só entende do assunto, mas possui ótimos exemplares. Tanto que tem me do que eu lhe peça algum deles. Mas vou procurar e obter o biscui que vim buscar. (entra em um dos quartos) CORNER(aparte â Lady Figadle) Feche com a chave, madame, (ela se tranca numa das portas. Corner continua em voz alta) Entrou no meu quarto e trancou a porta. Impertinência feminina! Bem Sir Jasper, serei sincero: se o senhor continua a tolerar que sua esposa venha incomodar aqui, levará para a sua casa um par de cor nos, ah se levará...; mesmo que eu não possa ser o autor, como o Sr. sabe, ela encontrará um meio. SIR JASPER Ah, ah, ahl (aparte) Quando entrei e a vi coçando este eunuco, tive ciúme, mas estava fazendo uma idiotice, (forte) Ah, ah, ah, pobre Sr. Corner! (Esta é a famosa cena do biscui. Risada na certa!) CORNER Ria, daqui a pouco chegará a minha vez. Ah! mulheres: tão astutas e malandrinhas quanto os cachorrinhos delas! Quase iguais ! Agora está jogando para o alto todas as minhas coisas e saqueando tudo o que tenho; mas vou entrar pela porta de trás e a saquearei assim, por revanche. SIR JASPER Ah, ah, ah, pobre Corner furioso! CORNER Espere aqui um momentinho. Vou dar-lhe uma lição. (sai pela outra porta. Sir Jasper fala com a mulher através do ba tente. Ela responde do outro lado). SIR JASPER (sussura) Shhhh... querida! querida! Ele está (duplo sentido) entrando pela porta de trás! LADY FIGADLE Que entre ã vontade, seja benvindo por todos os lados! (ri e sussura) (duplo sentido) SIR JASPER Ele está furioso; vai te agarrar e tratar brutalmente; é muito grari de para ti! LADY FIGADLE Não te preocupes, se ele consegue, deixe-o à vontade, ah, ah, ah!
O medico (aparte) Não acredito no que estou vendo! (entra Mrs. Squeamish) MRS. SQUEAMISH Onde esta aquele odeiador de mulheres, aquele urso feio, gorduroso e feio? SIR JASPER(aparte) É sempre assim, as mulheres o querem feio assim. A mim parece apresentável, mas como lhe falta o principal elas o acham feio. MRS. SQUEAMISH Sir Jasper, onde esta aquela besta odiosa? SIR JASPER Em seu quarto, onde a minha mulher esta gozando dele. MRS SQUEAMISH Como? Mas ele e uma fera que nao dará chance a ela; garanto que ele e que gozara dela. Rápido, vamos ajuda-la... Como? A porta esta tranca-da? SIR JASPER Sim, foi a minha mulher quem trancou. MRS. SQUEAMISH Mandemos a porta abaixo, então'. SIR JASPER Mas não, ele nao faz mal a ninguém... MRS. SQUEAMISH (aparte) Mas será que não tra outra porta? Tenho que incomoda-los. (sai por urna outra porta; entra Lady SQUEAMISH) IADY SQUEAMISH Onde está aquela putinha, aquela desavergonhada indecente, aquela mariposa? Ah, Sir Jasper, estou feliz ao encontrá-lo aqui; não viu a minha infame neta passar por aqui? SIR JASPER Sim. LADY SQUEAMISH Onde está ela? Onde? Mas o que o senhor está fazendo aqui? Disseram-me lá embaixo que não mora nenhuma mulher por aqui. SIR JASPER
Não. LADY SQUEAMISH Não? O que faz aqui, então? O senhor tem certeza de que aqui não mo-ra nenhuma mulher? SIR JASPER Não. Não mora nenhum homem tampouco; este é o apartamento do Sr. Corner. LADY SQUEAMISH O senhor tem certeza? SIR JASPER Tenho sim. LADY SQUEAMISH Ah, então fico mais calma. Mas onde está ele? SIR JASPER No quarto ao lado com a minha mulher. LADY SQUEAMISH Ah, bem, se o senhor lhe confia a sua mulher, então eu posso con-fiar-lhe a minha Brigitte. Dizem que é um castrado, como aqueles ar tistas que vêm da Itália: uma serpente sem dentes. SIR JASPER É mesmo, coitado. (volta Mrs. Squeamish) MRS. SQUEAMISH Não consigo encontrá-los. Ah, estás aqui, vovó? Olha, eu estava seguindo a Sra. Figadle; este ê um gracioso apartamento e vim apreciar os quadros... (volta Lady Figadle com um "biscui" de forma duvidosa; segue-a Mr. Corner). LADY FIGADLE ... e eu estou cansadíssima, porque estava procurando um biscui, querida. CORNER Ai, foi muito cansativo para mim, por mais que quisesse. MRS. SQUEAMISH Ai, meu Deus, eu também quero um biscui. Senhor Corner, nem pense que dá biscui para as outras e não dá para mim; vamos lã dentro pegá-lo. CORNER Palavra de honra, acabou-se o meu biscui.
MRS. SQUEAMISH Ah, não, o senhor já me negou outras vezes, mas agora não tem saída.Vamos. CORNER A senhora pegou o último biscui disponível. LADY FIGADLE É verdade, querida, tenho certeza que acabou o seu biscui. MRS. SQUEAMISH Ah, talvez esteja escondido onde não conseguiste encontrar. LADY FIGADLE Como? Mas, querida, achas que se tivesse ainda biscuis eu já não te ria achado? Nós mulheres de alta classe nunca temos biscuis o bastante. CORNER Não me leves a mal; não posso ter biscuis para todas de uma só vez, mas outro dia, darei uma porção de biscuis. MRS. SQUEAMISH Obrigada, querido URSO. LADY FIGADLE (aparte a Corner) O que queres dizer com essa promessa? CORNER(aparte a Lady Figadle) Coitada, ela tem uma mente inocente e literal. LADY SQUEAMISH Pobre senhor Corner, vejo que tem trabalho para contentar todas elas. CORNER Sim, madame, veja só como me tratam, (está destruído) LADY SQUEAMISH Pobrezinho, causa-me piedade. CORNER Obrigado, madame; nunca encontrei piedade senão na senhora; as jovens não poupam os homens. MRS. SQUEAMISH Vamos, besta, venha almoçar conosco, porque precisamos de um cavalheiro para brincar depois do almoço no jardim. CORNER
É só isso o que sabem fazer de mim, vê, senhora? MRS. SQUEAMISH Venha, urso, segurarei pela coleira (agarra-o pela gravata). LADY SQUEAMISH Ai, coitado, como o está tratandol Beije-a, beije-a, que é o únicmodo para acalmar as mulheres direitas. CORNER Não, madame, é um remédio que para mim é pior que a doença; toleraria qualquer coisa para não usá-lo.
sabem que eu
LADY SQUEAMISH Por favor, beije-a, que eu lhe darei o retrato dela que o senhor admirou ontem à noite. Beije-a... CORNER Essa é a única coisa que pode corromper-me; mas o farei, porque poderia adorar o Diabo se ele for bem pintado (beija Mrs. Squeamish). MRS. SQUEAMISH Bah, besta nojental Agora chega de brincadeiras (e se afasta). LADY SQUEAMISH Ah, ah, ah, eu aviseil MRS. SQUEAMISH Bah, um beijo dele... SIR JASPER Faz menos mal do que um dos meus cachorros. MRS. SQUEAMISH E nem é melhor. 0 MÉDICO É um génio! (entra Mr. Pinchwife) LADY FIGADLE Ai, um homem! Onde está a minha máscara? A máscara? Jasper, não quero ser vista aqui por todo o ouro do mundo! SIR JASPER Mas eu estou contigo! LADY FIGADLE
Não... a minha honra... vamos. MRS. SQUEAMISH Vamos vovó, rápido... quem sabe o comentário... LADY FIGADLE Vamos! (saem Sir Jasper, Lady Figadle, Lady Squeamish, Mrs. Squeamish) O MÉDICO Quem vem lá? Um outro cornudo? Tem o jeito, porque somente cornudostem negócios aqui. CORNER O que o traz aqui, amigo? PINCHWIFE A vossa impertinência. CORNER A minha impertinência? Como? Os senhores que têm belas esposas crêem ter direito de dizer qualquer coisa e de ser brutais como os nossos credores. PINCHWIFE Não, senhor, não lhe acredito por nada. CORNER Por que? 0 senhor me conhece tão bem... PINCHWIFE Exatamente porque o conheço tão bem. CORNER Mas não fui sempre seu amigo no amor e na luta, sempre servindo. PINCHWIFE Isso: quer ajudar-me também com a minha mulher. CORNER Muito bem, caro John, por que és tão agressivo comigo? Vamos, dá-me um beijo, camarada. Repito que sempre estive e estarei a teu serviço... PINCHWIFE Como eu a teu. Gostaria de mandar um beijo à minha mulher, não? CORNER
Mas não se pode exprimir amizade a um homem casado sem que ele nos fale da mulher. Esquece-a e lembras-te dos nossos velhos tempos. E desconfias da minha gentileza. PINCHWIFE Mas tu és gentil como se me tivesse trazido um troféu com chifres. Mas olha aqui. (dá-lhe a carta). CORNER O que é ? PINCHWIFE Somente uma carta de amor, amigo. CORNER De quem? ... Como? Tua mulher?... hum...hum (lê) PINCHWIFE Exatamente, de minha mulher; não sou cortês consigo? (aparte)Mas não pense que serei gentil ou generoso. CORNER (aparte) Mas este é um truque dele ou dela? PINCHWIFE Parece que o senhor está surpreso. Esperava uma carta mais gentil? CORNER Não, como poderia ser possível? PINCHWIFE Muito bem; um homem do mundo como o senhor com efeito se surpreende quando uma mulher não lhe declara imediatamente a paixão, não é? CORNER (aparte) Mas o que significa isso? Espere, não li o post scriptum. (lê a parte) "não deixe de me amar, qualquer coisa diga em contrário o meu marido, e não dê esta carta para ele ler, para que ele não se enfureça e volte para casa para torturar e matar o esquilinho". Acho que ele não sabe o que esta carta contém. PINCHWIFE Vamos, não esteja a pensar tanto numa simples carta como essa. CORNER Sinceramente, não posso deixar por menos. PINCHWIFE
Espero ter demonstrado que sou um bom amigo e ao mesmo tempo um marido consciencioso. Não é assim, se estou trazendo uma carta de minha mulher ao seu pretendente? 9CORNER Pelos diabos, tu és o marido mais consciente e o amigo mais gentil e generoso do mundo, ah, ah, ah! PINCHWIFE Ria ã vontade, mas aviso que a minha honra não tolera brincadeiras. CORNER O que queres dizer com isso? PINCHWIFE Esta carta precisa de mais algum comentário? Saiba que mesmo que eu tenha trazido uma carta de minha mulher ao senhor, que mesmo que te_ nha tolerado que o senhor a tenha paquerado e beijado na minha cara, não pretendo virar um cornudo, isso nãol CORNER O ciúme te deixa louco. Nunca mais vi a tua mulher depois do teatro. Eu? paquerar e beijá-la? PINCHWIFE Não pretendo virar cornudo; será perigoso cornear-me. CORNER Por que? Não te recuperaste ainda da última ressaca? PINCHWIFE Eu ando com a minha espada. CORNER Deveriam tirá-la de ti; poderias machucar-te. Tu estás louco, homem. PINCHWIFE Por mais louco que eu estja, e por mais alegre que esteja o senhor, quero ainda uma satisfação. Repito que se bem que o senhor a tenhas beijado e paquerado em roupas de homem ontem ã noite, como admite na sua carta. . . CORNER Ah.., (aparte) PINCHWIFE ... tanto ela como eu advertimos para não tentar outra vez, pois julgou mal seja a mulher, seja o homem.
CORNER(aparte) Começo a entender alguma coisa, (forte) Aquele rapazola era a tua mulher; mas por que não quiseste avisar antes que era? Ora, as liberdades que eu tomei foram tua culpa e não minha, (cínico) PINCHWIFE(aparte) E foram mesmo. CORNER Que vergonha estou sentindo; nunca mais farei mais nada com nenhuma mulher na cara do marido... PINCHWIFE Ainda assim, prefiro que o faça na minha cara, e não nas minhas cós tas; coisa que o senhor nunca fará. CORNER Não, tu me impedirias. PINCHWIFE E mesmo se eu não o impedisse, a minha mulher o impediria, como se deduz dessa carta. CORNER Devo então estar tranquilo e satisfazer-me somente com o que ela ejscreveu? PINCHWIFE E tem mais: afirmo que ela escreveu a carta espontaneamente, creia- me. CORNER Acredito, sério! PINCHWIFE E acredite nela também, porque é uma inocente criatura, sem fingimentos. Boa noite, meu senhor. CORNER Peço-te somente que tu leves de minha parte os meus parabéns, e que digas a ela que obedecerei literalmente esta carta, cumprindo os seus desejos, por quanto isso me possa custar; e garanto a ela e a ti que não terás mais ciúme de mim. PINCHWIFE Muito bem, e adeus; e brinque, paquere e beije qualquer outra mu-lher de qualquer outro homem, menos a minha, e viva feliz, (sai) CORNER (gargalhada) Ah, ah, ahl Doutor!
0 MÉDICO Não posso acreditarl CORNER Mudou de opinião? O MÉDICO Deixe-me ver esta carta ... hum...hum... "porque, querido...te amo..." CORNER Não consigo imaginar como ela fez. É muito original. O MÉDICO Os teus cornudos também são muito originais; e disso deduzo que o senhor é um grande campeão, enganaria o sultão mais feroz. CORNER Quanto a esta carta, é a primeira carta que recebo sem desenhos, flechas, entrelinhas, que mentem e fingem. (entra Brizoler puxando Mr. Pinchwife) BRIZOLER Venha comigo, estranho cunhado que não assiste e nem festeja o casamento da irmã. PINCHWIFE Minha irmã renega o casamento. E veja que deixou o senhor sozinho. BRILHANTE Bah, por um capricho besta, só porque o nosso padre não era regular; mente ordenado, e não sabia rezar direito a Missa. Mas ela voltará a si hoje â noite. Venha, junto com o amigo Corner, almoçar; ceie brarei o casamento em casa de minha tia. CORNER O teu casamento? Que mulher está tão desesperada para casar contigo? BRIZOLER A irmã deste senhor.,. Mas não é uma desesperada! CORNER Que pena, coitada ! PINCHWIFE (aparte) Por que ele se preocupa tanto com a minha irmã? BRIZOLER Tens pena dela? Mas aconteceu alguma coisa com ela?
CORNER Tenho pena dela por que te conheço, e por outra pessoa que a ama. BRIZOLER Outro? Outro? Como se chama? CORNER Agora já passou, não preciso nem dizê-lo. (aparte) Coitado do Harcourt, ele já a perdeu. PINCHWIFE(aparte) O Corner está preocupado demais com esse casamento. BRIZOLER Diga-me, por favor!... não vá embora, cunhado. PINCHWIFE Devo resolver um problema, mas almoçarei contigo. (sai) BRIZOLER Como, tenho já um rival? Diga quem é, por favor, pois poderá servi: me mais tarde. Porque agora o desejo me serve como tempero, e nã-preciso de um rival. Mas depois de estabelecida a rotina, pode se que ele sirva como tempero de minha mulher, como a pimenta numa feijoada. CORNER Ah, meu camarada, a tua pimenta faz com que eu não possa abrir a boca. BRIZOLER Então vamos almoçar, finalmente. CORNER Mas quem vem almoçar contigo? BRIZOLER Meus amigos e parentes, meu cunhado Pinchwife, que tu já conheces, vamos, implorote. CORNER Com a mulher dele? BRIZOLER Jamais. Esses tacanhos senhores do interior trancam as mulheres em casa, como a garrafa de cerveja, para depois beber sozinhos,sem dar nada a um cavalheiro que lhe peça um gole. Mas quando eles saem os lacaios a lambem até a última gota, ah, ah, ah!
Ah, como sou brincalhão e inteligente, como se eu não estivesse casando hoje. Venha, venha. CORNER Não vou, a menos que tu a faças vir ao almoço. BRIZOLER Bah, o que as mulheres podem dar a ti ainda, amigo? CORNER Não perdi ainda a visão. Ainda gosto de olhar e não irei se tu não a convidar, mas não diga a seu marido que é uma exigência minha. BRIZOLER Bem, não custa tentar. Enquanto isso venha estar em casa de minha tia, que é caminho da casa de Pinchwife. CORNER Ah, essa pobre velha pediu ajuda e estendeu a mão, e não posso negar a gozar este mundo. Cena IV Margery aprende a escreve cartas de amor. Pinchwife a surpreende e£ crevendo uma a Corner, onde ela lhe diz que quer o divórcio do man do. Com muita ironia, o marido se prepara para matá-la e suicidar-se quando... entra Brizoler, que vem buscar Alithea mas não a encori tra. Pinchwife a informa que o está corneando, mas ele não liga e convida Margery para o almoço. Pinchwife a tranca e segue Brizoler. FIM DO IV ATO ------------------------------------------------------------ATO V Cena ! (entram Pinchwife e Margery - uma mesa e uma vela) PINCHWIFE Vamos, pega a pena e acaba de escrever exatamente como estavas fazendo. Se eu perceber que tu mudas a carta só de um milímetro, vou punir-te como mereces (põe a mão na espada). Escreve o que está faltando... vejamos... (lê)... "Deves apressar-te e ajudar-me a ir embora antes de amanhã, caso contrário me perderás para sempre, porque não aguento mais adiar o nosso..." Vamos, o que viria depois do "nosso..."? MARGERY Quer que eu continue de verdade, brotinho? Olha então, (continua a escrever) PINCHWIFE (lê) Vejamos... "porque não aguento mais adiar o nosso casamento: a sua triste e abandonada Alithea". Mas o que significa isso? A minha irmã? Fale, quero a solução desse rebus!
MARGERY Mas é verdade, brotinho! PINCHWIFE Por que o nome dela no final? Falei Estou mandando, fale! MARGERY Mas tu contarás tudo a ela. Se não contas, eu falo. PINCHWIFE Não contarei nada, estou tonto, não entendo mais nada, fale, peço-te, fale! MARGERY Tens certeza de que não contarás nada? Nadinha? PINCHWIFE Nadinha. Fale, fale. MARGERY Ela ficará brava comigo, mas é melhor ela que tu te zangues, brotai nho. E, para falar a verdade, foi ela quem pediu para escrever esta carta, e também o conteúdo. PINCHWIFE(aparte) Ah! Bem que notei que o estilo estivesse melhorando, (forte) Como ela pode fazer isso se eu te tranquei no quarto? MARGERY Ah, através do buraco da fechadura, brotinho. PINCHWIFE Mas por que pediu para ti, se ela podia ela mesmo escrever a carta? MARGERY Porque ... porque ... eu não queria escrevê-la... PINCHWIFE Por que o quê? 0 quê? MARGERY Ah, ...porque caso o Sr. Corner fosse malvado e a recusasse, ou se a mostrasse a outros para contar vantagens, ela negaria a autoria, não sendo escrita com a sua caligrafia... PINCHWIFE(aparte) Como é isso? ...ah, bom, penso que posso retornar a mim... essa desgraçadinha não saberia inventar uma estória tão perfeita as_ sim. E se soubesse, pra que faria uma
coisa dessas? Um momento .... acho que estou entendendo... o Corner estava contrariado ao saber do casamento da minha irmã com o Brizoler; e a Alithea renegando o casamento. (forte) Mas, ouve-me, querida esposa, a tua cunhada saiu desde a ma nhã e ainda não a vi nesta casa hoje. MARGERY Coitadinha, parece que chorava o dia inteiro num cantinho qualquer lá em cima. PINCHWIFE Onde está ela? Quero falar-lhe. MARGERYaparte) Meu Deus, ela revelará tudo se ele a encontrar ! (forte) Um momento, brotinho ! Queres acabarcomigo? Ela vai entender quem contou. Por favor, brotinho, deixe que eu a encontre antes. PINCHWIFE Devo conversar com ela para saber se o Corner já lhe fez alguma promessa ou se ela realmente se casou com o Brizoler. MARGERY Mas ela tem que saber da minha boca que eu te contei tudo, senão ela me mata. PINCHWIFE Está bem. Vá e depois diga-lhe que quero vê-la. MARGERY Pois não, pois não, brotinho. PINCHWIFE(hesitando) Vejamos onde tudo vai parar... MARGERY(aparte) Ela não está em casa, para ir ter com o meu marido. Quero falar com Lúcia, que me colocou nesta enrascada, para saber o que inventar, porque não sei o que fazer. (sai) PINCHWIFE Já decidi. O Corner casará com a minha irmã. Prefiro dar a mão dela que emprestarlhe a minha mulher. Assim se eles são parentes, ele não pensará mais nela. Conheço esta cidade. (volta Margery) MARGERY Ai, brotinho, que ódio terias tu feito nascer entre eu e minha cunhada!
PINCHWIFE Não quer falar comigo? MARGERY Não, tadinhal Tem vergonha... diz que se tu for lã em cima, e ela mesma irá ao Sr. Corner, que prometeu casar-se com ela, pelo que ela diz; e ela não quer nenhum outro, não quer! PINCHWIFE Ah, é? Prometeu casar-se com ela? Então ela será satisfeital Vá e diga a ela que está tudo bem e que a estou esperando para acertar os detalhes, o dote e a forma. Vã. (Margery sai) No final das contas está tão bem quanto Brizoler, é de família me lhor e muito mais inteligente; mas o melhor é que serei parente com o nome de "cunhado" e não com o nome de "cornudo". (volta Margery) PINCHWIFE Bom, o que ela respondeu? MARGERY(ofegante preocupada) Pede-te para que a leve até a casa do Sr. Cor; ner, com quem quer falar antes de falar contigo, porque se envergo nha muito, e que, coitada, está tão envergonhada que virá com a más_ cara. Pede perdão porque também não quer respoder a nenhuma tua per; gunta, até que fale com o Sr. Corner; e que, se assim form, ela dejs cera imediatamente. PINCHWIFE Diga a ela que farei como ela deseja, sem tirar nem por. MARGERY Ah, estava esquecendo: ela diz que não pode olhar na tua cara nem com a máscara. Portanto, pede que tu apagues a tua vela até a casa do Sr. Corner. PINCHWIFE Está bem, está bem! (apaga a luz) Viste? (black-out - até o fim da cena ou luz fraquíssima). (Margery sai) PINCHWIFE A minha situação está melhorando. É melhor brigar com o Corner po£ que não come a minha irmã em vez de brigar porque come a minha mu lher; conheço esta cidade e sou esperto o bastante, ah, ah, ah. (volta Margery mascarada, e com o capuz, saia, vestido e cachecol de Alithea). PINCHWIFE
Ah, voltaste, irma? Vamos, então. Ah, espere que eu tranque a minha mulher. Margery, onde estás? MARGERY Aqui, brotinho (ou Lúcia) (OFF) PINCHWIFE Vã para dentro! (tranca a porta). Vamos, irmã querida! (Margery dã-lhe a mão para trancá-la no quarto; mas quando as mãos se separam, ela silenciosamente vai até o outro lado dele, e é em purrada e conduzida como se ela fosse a irmã Alithea). ATO IV CENA 2 (Casa de Pinchwife. Margery, sozinha, com a cabeça apoiada em uma das mãos. Sobre a escrivaninha, tinta, pena e papel). MARGERY Então é isso: estou empesteada por uma doença aqui de Londres; meu marido me deixa doente, meu amiguinho me deixa doente. Diz que pare ce uma febrinha, mas para mim é pra lá de maleita. Porque quando eu penso no meu marido eu tremo, suo frio e tenho anciã de vomito. Mas quando eu penso no meu queridinho, ai Córner!, me dá uma quenturinha aqui dentro, e vem uma febrinha não sei aonde, e ai a minha ca becinha roda, e dá um delírio; ah, fui removida pro quarto dele, e já me sinto melhor. Ai, coitadinho do Corner? Bom, não posso e não ficarei aqui! Eu tenho que terminar essa car ta de qualquer jeito... e essa será ainda melhor que a outra, por; que eu estudei pra burro ! Ai, que calor, ai que febre! (Pega a pena e escreve) Entra Pinchwife por trás e lhe toma o papel. PINCHWIFE Aha, escrevendo outra vez!? MARGERY Ai, brotinho, que susto! (tenta fugir. Ele a segura e começa a ler) PINCHWIFE Ah, não! Desta vez você não escapa, madame! "Querido, querido, que-ri-do Mr. Corner!”Muito bem, está melhorando. Mas vamos adiante. "Em primeiro lugar, mil perdões pela ousadia em escrever-lhe: eu jamais teria feito isso se o senhor não tivesse me confessado um amor tão extremo. É preciso que o senhor saiba que eu estou nos braços de um homem que me causa desgosto (aperta-lhe os braços - reação de Margery), que me enoja (idem), que me dá ódio (idem) . 'Sofisticou' o vocabulário. Mas vamos adiante. "Portanto, espero que o senhor encontre rapidamente uma maneira de libertar-me desta união infeliz, que nunca, eu lhe asseguro, foi de minha escolha; Mas talvez já seja tarde. De qualquer maneira, se o senhor me ama, como eu amo o senhor, o senhor tentará de tudo, mas que seja hoje mesmo, porque senão estarei para sempre fora do alcance do senhor. Não posso adiar a nossa..."
(*)Como continua? Falei Como continua? A nossa mudança para o cam-po, suponhol Ah, maldita, mulher maldita! Amor, maldito seja o amor ! (tirada romântica) A saudosa tentação. Porque este é um dos seus milagres; em um segun do ele pode cegar os que vêem e fazer ver os que são cegos; em mu dos os falantes e em tagarelas os mudos; e acima de tudo tornar es-ses animais (aponta para Margery com a espada) indóceis e insens_í veis, para nós homens, estadistas e legisladores da vida. Vamos, falei, como termina a carta?, e então terminarei contigo e todas as minhas pragas de uma vez por todas ! MARGERY Meu senhor!, meu senhorl o senhor é tão, tão...passional, brotinho !... (Entra Brizoler) MR. BRIZOLER Então o que há de novo? PINCHWIFE Esse imbecil, agora ! (cobre-a com o lenço) MR. BRIZOLER O que? Batendo na mulher? O Sr. não deve fazer isso! Brilho, mais brilho! Só de noite, no escurinho, com cuidadinho para não machucar. Ah!, mas esta é a minha tão falada cunhadinha. (descobre-a). A so-ciety precisa conhecê-la. (desgosto de Pinchwife). Venham, vamos ao jantar em minha casa. Mas... onde está a minha noiva? Já chegou? On de está ela? PINCHWIFE Fazendo do Sr. o mais novo cornudo da society! É o que esses ani-mais fazem na primeira oportunidade. MR. BRIZOLER Como? No dia do meu casamento? Não! A mulher que deseja fazer do ma rido um otário ganha primeiro a confiança dele (desgosto de Pinch-wife) . Pense um pouco. Brilho, mais brilho, estão todos esperando por nós. Apresento eu a nossa querida Margery. * Até aqui chega acrescendo de violência sobre o braço da menina, que já está de joelhos. PINCHWIFE Vá primeiro, iremos em seguida. MR. BRIZOLER Ah, não, recuso-me a ir sem o senhor. PINCHWIFE
Esse excremento perfumado é o pior tormento dentre todas as pestes da história, (aparte) MR. BRIZOLER Venha, venha, madame. PINCHWIFE Deixe-a em paz! O senhor quer cafetinar a minha esposa como faz com a sua noiva?(empurra-a para dentro e tranca a porta) Finalmente uma pausa para o meu ódio! (aparte) MR. BRIZOLER Mas eu convidei o Córner! PINCHWIFE Essa não! MR. BRIZOLER Mas como o senhor é reservado com a sua mulher! Deixe-me ensiná-lo; nós, 'bons vivents!, temos entre nós um lema: que os troféis, como as doenças, estão sempre acompanhados pelo medo. Quanto mais temos medo de infecção, maior o risco. Além do mais, está no ar, e a doen ça chega mais cedo ou mais tarde. PINCHWIFE (desgosto) (aparte) Que coisa é um cornudo ! Qualquer idiota pode g£ zá-lo. Bem meu senhor, não tenha medo, porque o pior dos cancros já está incubado em sua cabeça. "Assim é a natureza Se a tua mulher é faceira o teu troféu chegará com certeza". ------------------------------ATO V Cena 2 Casa de Corner (Corner e Médico) MÉDICO Sozinho? Nenhum cornudo, nenhuma esposa? Eles estão sempre se revê zando por aqui! CORNER É verdade, normalmente um corno é o espião de sua mulher, e exerce mais as suas obrigações conjugais como estraga prazeres do amante do que quando está em casa cuidando de sua esposa. Mas o maior far_do que a mulher impõe ao amante é obrigálo a fazer média com o marido. MÉDICO E a amizade do marido é mais pegajosa... CORNER
Um saco! Aturar a companhia do corno, depois que já comeu sua mu-lher é tão chato quanto aguentar um caipira rico depois de ter- lhe extorquido até o último centavo. MÉDICO É, e como é preciso ganhar primeiro a confiança do marido para che gar na mulher, no final você acaba tendo que dar o fora nela para poder se livrar dele. CORNER A maioria dos fabricantes de "chifre" são verdadeiros cortesãos; e quando um pobre, idiota encerra o seu crédito, é impossível suportar sua presença. MÉDICO Mas no início, quanta simpatia! Quanta amabilidade! Exatamente como você para Pinchwife. E então, como vai com a mulher dele? CORNER Difícil... Ele é como um vereador populista, e a esposa, apesar de ser uma delícia, chega a parecer burra de tão inocente que é. MÉDICO Mas ela não te mandou uma carta através dele? CORNER Sim, mas esta é uma charada que ainda não decifrei... Como ele permite isso se não larga do pé dela um minuto? MÉDICO É justamente o ciúme e o desejo de vingança do marido, que alimentam o amor da moça... É um círculo vicioso... CORNER Que sempre acaba aqui no eunuco, como queríamos demonstrar: aí vem ele... (Entra Pinchwife trazendo Margery que está disfarçada e mascarada vestindo a camisola de Alithea.) MÉDICO Demonstratum est. Após a carta de amor, o próximo passo será trazer a mulher, (aparte p/Corner). CORNER 0 que significa isto? PINCHWIFE Da última vez, vim lhe trazer uma carta de amor; hoje, como pode ver, lhe trago esta dona. Acho que agora pode dizer que sou um siujeito civilizado. CORNER
O diabo me carregue, se não disser que é o homem mais civilizado que já conheci. E olha que já conheci muitos! Gostei bem mais disso do que da carta. Mas, aqui entre nós... PINCHWIFE O quê ? CORNER Ela sabe o que está fazendo? PINCHWIFE Como? Você a toma por vagabunda, e a mim por cafetão? CORNER Cafetão?... vagabunda... que palavras rudes senhor? Sei de sua hc> nestidade, e de sua reputação entre as mulheres. Imagino que pref^e riria me namorar a me ver namorando sua mulher. PINCHWIFE Sejamos mais diretos, não estou para brincadeira! CORNER Nem eu. Antes de mais nada, vejamos seu rosto. Tem certeza de que não a conheço? (olha seus dentes). PINCHWIFE Sei que a conhece. CORNER Então porque a traria até mim? PINCHWIFE Porque é uma parente minha... CORNER É mesmo, Senhor? Então você é ainda mais civilizado e amável do que eu poderia imaginar, meu caro. PINCHWIFE ... ela manifestou-me o desejo de ser conduzida até aqui.(irónico) CORNER Neste caso, amável da parte dela, meu caro. PINCHWIFE 0 senhor a receberá bem por consideração a mim, suponho.
CORNER E eu suponho que ela seja muito bonita para merecer ser bem recebida. Peça a ela que mostre o rosto. PINCHWIFE Fale você com ela; ela nunca me obedeceria. CORNER Madame (Margery cochicha no seu ouvido). Ela diz que particular. Com sua licença, meu caro...
quer falar comigo em
PINCHWIFE(aparte) Parece que ela está refugando. Imagino que faz parte da conduta indecente que resolveu adotar. (Alto) Bem, vou deixá-los a sós, e espero que entrem em acordo enquanto estiver fora; senão eu é que não estarei em acordo com o senhor. CORNER 0 que quer este imbecil? Se ela e eu concordamos, que acordo posso ter com ele? (cochicha para Margery, que sinaliza para que Pinchwife vá embora). PINCHWIFE Enquanto isso, eu buscarei um padre e vou procurar Brizoler para insultá-lo e me divertir um bocado. Vocês querem um padre, não é mesmo? Bem, finalmente estou livre dela, que só me traz problemas - irmãs e filhas, como dinheiro emprestado, estão mais seguros fora de casa. Mas esposas só estão seguras quando trancadas a sete chaves.(sai) (entra garoto e anuncia) GAROTO Senhor, Sir Jasper está subindo, (sai) CORNER Outro corno. Caralho! Não satisfeito em estragar a diversão de sua esposa, vem atrapalhar a dos outros! Esconda-se aqui, querida. (sai Margery) JASPER Meu querido amigo! CORNER(aparte) Vamos voltar ao primeiro papel (Alto) Bem, seja breve, esou ocupado. 0 que quer agora sua esposa impertinente? JASPER Adivinha, sabichão! Venho da parte dela...
CORNER Para convidar-me ao jantar! Diga que não vou! Adeus. JASPER Sem chance, meu caro. Minha mulher e "A Liga das Senhoras Virtuosas" (como elas se denominam), resolveram por diversão, encontrar o se nhor fantasiadas e já estão todas prontas. CORNER Não estarei em casa. JASPER(aparte) Ele não suporta mesmo as mulheres! (Alto) Não, não as desaponte, elas pensarão que a culpa é minha. Eu providenciarei o ban-quete e tudo que for necessário. Mas não espalhe isto, porque elas não fariam um Baile À Fantasia a não ser para o senhor. CORNER Está bem, pode ir. Mas diga-lhes, que se vierem, estarão pondo em risco sua própria honra. JASPER Ah, ah, ahi É tão divertido! Não posso deixar de... confiar no senhor! Ah, ah, ah! (sai) CORNER Doutor, em breve será também meu convidado, mas agora é particular a festa para a qual sou chamado, (sai) Cena 3 Covent Garden BRIZOLER Com uma carta na mão, seguido por Pinchwife BRIZOLER Quem poderia pensar que uma mulher teria me enganado. Eu não posso acreditar nisso! PINCHWIFE É nisso que dá, dar e tomar liberdades. Ela preferiu tomar, como pode ver pela carta. Você é sincero, e ela também, está escrito! BRIZOLER Não, esta não é sua letra, tenho certeza. PINCHWIFE
Se é ou não sua letra, não interessa; o que interessa é que está lá com Mr. Corner de livre e espontânea vontade, esperando o padre que vai casá-los e separar você dela para sempre... Ê colega, teu casa mento era mesmo fajuto! BRIZOLER Agora entendo... Fajuto mesmo! Foi Harcourt disfarçado de padre quem nos casou... ou teria mesmo sido seu irmão gêmeo? PINCHWIFE Esta é a prova maior da tua ingenuidade - você caiu nesta história, ela não. Mas preciso ir andando. Vá até a casa de Corner e veja com seus próprios olhos, (sai) BRIZOLER Não! Irei ã ela e evocarei todos os crocodilos, harpias, lacraias, e outros seres pagãos, como um poeta faz â dama ingrata que recusa os seus versos (interrompendo a lamentação). Mas o que é aquilo? Ela segue uma tocha do outro lado da praça! Está indo em direção ao Córner! (Entram Alithea e Lúcia, seguindo uma tocha) BRIZOLER Que alegria em vê-la, madame, embora creio que não possa dizer o mesmo. E então, fazendo "visitinhas" ao senhor Corner? Deve estar com pressa; a esta altura o padre já deve ter chegado. ALITHEA Padre? Mr. Corner? BRIZOLER Deixemos de lado a dissimulação e a falsidade; já não sou tão ingênuo quanto pareço. LÚCIA (aparte) Vejo que ele engoliu a história... BRIZOLER Não podia abusar de um caipira estúpido? Tinha que escolher a mim, um homem de espírito refinado e sensível? Deve ter orgulho em mago ar um homem de posses, já que você mesma não vale nada, mulher falsa! Falsa como um amigo que empresta, gasta e não devolve! Falsa como um par de dados de um cassino ordinário, onde tudo se aposta, tudo se perde! LÚCIA (aparte) Nossa, está babando e espumando, como se diz por aíl ALITHEA Pelo jeito, o senhor se divertiu muito no jantar...
BRIZOLER Que ironia é esta? ALITHEA Ou então foi iludido. BRIZOLER Por você. ALITHEA Não consigo entendê-lo. BRIZOLER Você ainda tem a cara de pau, depois de tudo o que fez, de fingir inocência? E aquela carta obscena e pornográfica que escreveu ao Corner? Aposto que criaram juntos a suposta "aversão por mulheres", na qual ingenuamente acreditei, para que não o tomasse por rival. LÚCIA(aparte) Acredita agora madame, que até um cavalheiro pode ser ciumento? ALITHEA Eu, escrevi uma carta para Mr. Corner? BRIZOLER Não venha querer me embrulhar! Não neguei Seu irmão acabou de mos-trá-la, e ele mesmo foi providenciar o padre para casá-los; e eu lhe desejo felicidade; muita, muita felicidade; e para ele também, muita felicidade ! E para mim, mais felicidade ainda, por não casar com você! ALITHEA(aparte) Então, meu irmão resolveu estragar tudo; e percebo que ele tem toda razão, pelo ciúme deste homem (Alto) Lúcia, pelos modos rudes deste senhor, chego quase a ter medo de ter-me casado com ele. Você tem certeza que foi Harcourt, e não o padre, que nos casou? BRIZOLER Por favor, madame... Imagino que também foi combinação sua e de Corner deixar Harcourt bancar o padre. Por que não o chamou para casá-los agora? Quer saber outra verdade? Nunca tive paixão nenhuma por você até es_ te momento, porque agora eu te odeio. Eu poderia casar-me com o seu dote, como fazem muitos. E para provar minha indiferença, irei a seu casamento, e lhe desejarei felicidade, como o faria â uma vagabunda amanhecida e a um corno novo-em-folha. Tanta felicidade, como a que eu teria no dia seguinte do nosso casamento. Um seu criado,ma. dame... Adeus, (sai)
ALITHEA Quanta decepção! LÚCIA Agora você acredita que mesmo um trouxa pode ser ciumento? Porque do mesmo jeito que não se deixará liderar pela mulher também será influenciado contra ela pelos outros. ALITHEA Mas casar com Mr. Cornerl Meu irmão não pode estar falando sério; se assim fosse eu teria aceito o conselho e Harcourt por marido. Se existe na cidade alguma outra mulher que como eu quisesse se ca sar com um bobo por fortuna, liberdade ou título, antes de mais na da que seu marido tenha espírito esportivo; que a fortuna cuide de sua carteira; por liberdade ele entenda mandá-la ao campo, com a sogra; e o título seja somente o de... cornudo. LÚCIA E a maior maldição madame, seria ele não merecer tal título. ALITHEA Vamos, criada impertinente. LÚCIA Sim senhora (aparte) Espero que a gente encontre Mr. Harcourt. (saem) Cena 4 Casa de Corner Mesa, banquete, garrafas, etc. (Entram Corner, Lady Figadle, Mrs. Figadle, Mrs. Squeamish, vestidas de preto. Abrem depois com fantasias indecentíssimas) CORNER(aparte) Praga! Chegaram cedo - antes que eu pudesse tirar daqui a minha nova aquisição. Tudo o que me resta é trancá-la para que não a vejam. LADY FIGADLE Para ter certeza de sermos bem recebidas, trouxemos conosco estamos resolvidas a gozá-la, caro sapinho.
nossa diversão, e
MRS. FIGADLE E para ter certeza que ninguém nos aborrecerá, deixamos a velha La dy Squeamish jogando gamão com Sir Jasper.
MRS. SQUEAMISH Então vamos aproveitar o tempo, antes que eles tenham chance de nos interromper. LADY FIGADLE Sentemos. CORNER Bem, então eu vou trancar esta porta e aquela, para que tenham ainda mais privacidade. Logo me juntarei a vocês. LADY FIGADLE Não, apenas as feche, e os seus lábios para sempre, para que possamos confiar no senhor como se fosse uma de nós. CORNER Vocês sabem que toda vaidade para mim é morta. Não terei nem a oportunidade de falar sobre isso. LADY FIGADLE Agora, madames, façamos de conta que bebemos cada uma duas garrafas, e podemos, sem falsos pudores, abrir nosso coração. (tiram os vestidos pretos). MRS.DAINTY E MRS:SQUEAMISH De acordo! LADY FIGADLE Em honra ao sapinho, porque em nenhum outro lugar poderemos sermos mais verdadeiras (aparte a Corner), embora você seja mesmo um falso! CORNER(aparte para Lady Figadle) Aposto que você gostou da minha "mentira" (apontando os seus genitais) LADY FIGADLE (aparte) Mas ainda não foi o suficiente.(Alto) Cantemos! Como poderiam nos obrigar os tiranos a viver Das migalhas de prazer que nos dão para sofrer Não podemos nos contentar Com vinho e caviar Em vão acordaremos uma bela noite sozinhas Enquanto nossos maridos se aquecem com aquelaszinhas Deixemos de lado a frescura Vamos apelar prá grossura Este vinho só dá aos homens coragem e "pressão", E como estamos sempre sóbrias, nos tratam pior que o cão
Se por beleza você passa Tome logo toda a taça Vão sumir os teus complexos, e quando estiver bem alta Verá que o vermelho mais bonito é o da garrafa Me diga se não é bravata E foda-se a dieta da alfafa ! MRS. DAINTY Caro sapinho! Em pagamento â nossa sinceridade, em honra ao jogo aberto, deixemos cair a mascarai CORNER (aparte) Depois vão dizer que a culpa é do vinho... MRS. SQUEAMISH Sapinho querido! Quero experimentá-lo primeiro!
LADY FIGADLE Não, eu não sei repartir sem provar antes. Ai, sapinho! É o vinho que faz nossos maridos cegos. MRS. DAINTY E os amantes tímidos, ousados. MRS. SQUEAMISH E por falta de homem, até um mordomo parece lindo - beba, Eunuco! LADY FIGADLE Beba, rascunho de marido!Ao diabo com os maridos! (grita) MRS. DAINTY Um marido é como um velho guardião... MRS. SQUEAMISH Uma tia velha... CORNER Um inglês indecente... um cirurgião francês... LADY FIGADLE Ah, temos todos os motivos para xingá-los. CORNER Mas por que?
LADY FIGADLE Por afastar de nós os jovens galãs. MRS. DAINTY E os tornam ousados apenas as mulheres comuns. MRS. SQUEAMISH Preferem o risco de conquistar uma péssima reputação junto a elas ao risco de uma negativa nossa. MRS. DAINTY Esses cretinos escolhem as mulheres como se fossem coisas, coisas que já foram cobiçadas e usadas por outros. MRS. SQUEAMISH Porque são comuns e baratas. LADY FIGADLE Enquanto as mulheres de qualidade, como a mercadoria valiosa ficam empoeiradas nas estantes. CORNER É, as jovens ordinárias costumam ser as favoritas. MRS. DAINTY É mais fácil reconhecer uma besta pela sua companhia do que por sua roupa MRS. SQUEAMISH E não apenas pelo seu mau gosto. LADY FIGADLE Não, os paspalhos se embebedam e as põem num pedestal. Mas eu fico curiosa em saber qual é o apetite depravado de um "homem espirituo so". Eles adoram sair dos trilhos, mas detestam ser imitados. D_i ga-me, sua besta, quando você era um homem, porque preferia divji dir com muitos uma casa ordinária, a ser o único convidado numa boa mesa. CORNER Porque a cerimónia e a expectativa não surtem efeito naqueles que tem estômago para isto. Come-se mais e melhor em mesas comuns, ori de todos disputam o melhor pedaço. LADY FIGADLE Mesmo que ele possa perder um dedo - mas também já me disseram que come-se melhor o que é do outro, ou seja, de graça. CORNER
Mas só quando há certeza de ser aceito sem pudores; a cerimónia no amor e na mesa é tão ridícula quanto na briga; qualquer escorregão se torna grotesco. LADY FIGADLE Então vou lhe contar uma coisa: não há lugar no mundo onde se possa ser mais livre do que em nossas casas, interpretamos ser a !iberdade nos jovens sinal de boa educação; portanto, um homem em liberdade. CORNER Mas então porque nem ao menos uma piscadinha para um amigo? LADY FIGADLE Do mesmo modo que nossa reputação o assustava, a sua nos repugnava, tamanha a sua notoriedade na cidade. CORNER E vocês, um exemplo de honestidade. LADY FIGADLE E isto era tudo o que o detinha? CORNER Muito caras. Vocês permitem liberdade, não é mesmo? LADY FIGADLE Ai, ai. CORNER Eu tinha medo de perder meu pouco dinheiro e meu pouco tempo, ambos empenhados em meus outros prazeres. LADY FIGADLE Dinheiro! Agora baixou o nível I Você acha que estamos interessadas nisso? CORNER Já ouvi dizer que as grandes damas, como os grandes mercadores, estabelecem os mais altos preços porque não precisam aceitar a primei-ra oferta. MRS. DAINTY Acha que comerciamos nossos corações? MRS. SQUEAMISH Que nosso amor é subornável? CORNER Com sua licença, senhoras, eu sei que como os grandes homens de negócios vocês apenas exigem lisonja de seus seguidores; mas vocês, grã-finas, tem credores acima
de vocês, e tantas taxas para pagar que um homem tem medo de lhes passar garantias. Além do mais, temos que deixá-las ganhar no jogo, se não perdemos nossa casa pode ser tão livre, tão selvagem, quanto possa desejar. CORNER Mas agora mesmo vocês reclamavam da selvageria dos homens! LADY FIGADLE Mas apesar de tudo que falamos, achamos a selvageria uma qualidade tão boa num homem quanto num pato ou num coelho: um homem manso, bah! CORNER Eu não sei como, mas suas reputações me assustam tanto quanto os seus rostos me convidam. LADY FIGADLE Reputação ! Mas como é que vocês homens não percebem que usamos a nossa reputação da mesma maneira que vocês, apenas para enganar a todos sem causar suspeita? Nossa virtude é como a palavra de um po lítico, um padre, um jogador, um homem de honra. MRS. SQUEAMISH E o recato, timidez e modéstia que vê em nossos rostos na platéia do teatro é como a virtude que os atores fingem ter no palco. MRS. DAINTY Eu lhe asseguro que o rosto nu de uma mulher é menos mascarado do que a que usa um véu. LADY FIGADLE Você só nos acharia modestas em nossas negativas. MRS. SQUEAMISH Nossa timidez é apenas o reflexo da dos homens. MRS. DAINTY Nós apenas coramos enquanto eles morrem de vergonha. CORNER Eu peço desculpas, senhoras, se as confundi com demónios. Mas por que tanta justificativa para a honra? LADY FIGADLE
Pelo mesmo motivo que os homens alegam estar envolvidos em nego cios quando querem evitar má companhia, ou estar com quem realmente gostar de seu apreço... presentinhos, ouro, jóias... MRS. DAINTY Você acha que nossos amantes não podem nos empenhar seu amor? MRS. SQUEAMISH Porque é mais própria ao amor a liberdade do que o ciúme. LADY FIGADLE Porque o amor pode ser dissimulado, o ciúme não (aparte) E eu já es^ tou arrebentadal (Alto) Vamos dizer em alto e em bom tom o nome dos bois, digo de nossos amantes. Eu começo (batendo nas costas dele) este é o meu falso velhaco. MRS. SQUEAMISH Mas como? CORNER(aparte) Pronto, agora tudo vem ã tona. MRS. SQUEAMISH Mas você não disse que era apenas por minha causa que você bancava o brocha? (aparte para Corner). MRS. DAINTY 0 que!? Você jurou que era apenas pelo meu amor... (aparte para Corner) . CORNER Pois é... LADY FIGADLE Então, digam amigas. Este ê o meu patife mentiroso. MRS. SQUEAMISH E o meu também. MRS. DAINTY Idem. CORNER Então está tudo certo, eu sou falso, vocês são falsas, assunto encerrado. LADY FIGADLE Realmente, não há mais remédio; irmãs, ainda temos nossa honra, a jóia de maior valor e utilidade, que continua brilhando intacta ao mundo, apesar de contrafeita.
CORNER Já seria lucro se o mundo pensasse assim, uma vez que a honra, como a beleza aqui, depende da opinião de terceiros. LADY FIGADLE Diga, seu Zé Ninguém, seja sincero às três. Jure, mesmo que a sua palavra não tenha valor nenhum. CORNER Madame, vamos nos perdoar a todos; a única diferença que vejo entre os homens e as mulheres é que juramos no início de uma batalha, vo ces no final. Entram Sir Jasper e a velha Lady Squeamish. JASPER Ah, minha Lady Figadle danada veio encontrar Mr.Corner sem mim? Mas você não esteve vestida assim em nenhum outro lugar, espero. LADY FIGADLE Não, Sir Jasper. LADY SQUEAMISH E veio direto para cá, nené? MRS. SQUEAMISH Sim, vovó. SIR JASPER Muito bem, muito bem. Eu sabia que uma vez que elas se acostumassem ao pobre Corner, elas não se desgrudariam dele. Mas fique sossegada, a reputação delas está a salvo. (Entra um garoto.) GAROTO Sr. Aquele cavalheiro que o sr. pediu que não subisse sem avisá-lo está aí, com uma mulher e outros senhores. CORNER Entrem, entrem todos enquanto os mando embora. E você garoto, peça-lhes para esperarem, irei imediatamente, (saem todos, menos Corner e o garoto). GAROTO Sim senhor (sai) (Corner, sai pela outra porta e volta com Margery). CORNER
Você não aceitou meu conselho de voltar para casa antes do seu marido chegar; agora ele está aí. Por favor querida, vá para casa e deixe o resto por minha conta. MARGERY Eu não sei o caminho de casa. CORNER O garoto a levará. MARGERY Não vou de jeito nenhum! 0 que há, você já está cansado de mim? CORNER Não, vidinha, eu te amo para sempre, faço isto por sua segurança e sua reputação junto a seu marido; ele não a receberá de volta. MARGERY Mas eu não ligo! Você pensa que isto me assusta? Eu não quero voltar para ele, você é meu homem agora. CORNER Não posso ser seu homem, querida, você casou com ele! MARGERY E daí? Todos os dias vejo aqui em Londres as mulheres abandonarem os maridos para viver com outros homens! Ai, eu ficaria brava se não te amasse tanto. CORNER Eles estão chegando. Entre outra vez. (Ela sai). Bem, uma amante estúpida é como dinheiro achado: vem fácil, vai fácil, um homem tem pouco tempo para pilhagem. Primeiro ela trai o marido, logo vai trair o amante. (Entram Pinchwife, Alithea, Harcourt, Sparkish, Lúcia, um padre) PINCHWIFE Venha, irmãzinha. Apesar da rápida troca de roupas, da confiança no que diz e de suas testemunhas mentirosas, você não me convence de que eu não a trouxe agora a pouco; aqui está minha testemunha, que não vai mentir, porque irei confrontá-los Mr. Corner, não estava em companhia desta dama agora mesmo? CORNER(aparte) Agora terei que desmentir uma mulher em favor de outra -mas isso para mim não é novidade, porque parece que estou sempre do lado errado. ALITHEA Por favor, fale senhor.
CORNER E agora? Devo ser imprudente, e jogar a sorte; e a imprudência não combina com a verdade (aparte). PINCHWIFE O que há? Está estudando uma evasiva ou uma desculpa. Desembucha! --------------------------------ATO V CENA 4 CORNER Não... sabe como é... prefiro não me envolver nestas briguinhas femininas... PINCHWIFE Ela espera sua palavra. ALITHEA Fale duma vez, senhor. CORNER Então, falando a verdade, realmente, o que vocês querem saber, o que aconteceu foi que... você trouxe essa dama aqui agora há pouco. PINCHWIFE Ahá! ALITHEA Como, senhor? HARCOURT Mas como foi isto, Corner? ALITHEA Mas qual o seu interesse nisto? Sempre pensei que fosse um homem honrado! CORNER(aparte) Tão honrado que entrei nesta gelada para salvar minha garo ta e agora vou até o fim, venha o que vier. SPARKISH Estão vendo? Se eu a levasse a sério ela seria capaz de me provar que a lua é feita de fubá! LÚCIA(aparte) Já é quase hora de falar e solucionar a charada que eu mes^ ma criei.
ALITHEA Não é possível, o que eu fiz para merecer esta tramóia? 0 que mais me preocupa agora é a censura do senhor, que compartilha comigo ejs ta desgraça, do que o olhar duro que recebo dos outros. HARCOURT Querida, não tema, você verá que tenho a capacidade de amar sem ser ciumento. Não apenas acredito na sua inocência, como farei o mundo todo acreditar nela também, (aparte a Corner). Você precisa fazer algo pela honra desta moça. CORNER Mas eu já estou fazendo algo pela honra de uma outra moça. HARCOURT Precisamos acobertá- la! CORNER Mas eu já estou cobrindo outra! HARCOURT Não estou entendendo... CORNER Melhor para você! MARGERY (espirrando de seu esconderijo) Mas que diabos está acontecendo? PINCHWIFE Vamos Mr. Corner, acabou o fingimento. Aqui está o padre, e ele não veio aqui à toa. HARCOURT Não! Sr. eu farei bom uso deste padre, se Alithea concordar. PINCHWIFE Como é que é? SPARKISH Mas do que ele está falando? CORNER É isso mesmo, eu estava "reservando" sua irmã para ele; ele tem meu consentimento. PINCHWIFE Mas não o meu, senhor! A honra de uma mulher só pode ser remendada por aquele que a injuriou; por isso é melhor casar logo, senão... (puxa a espada)
Entra Margery MARGERY Não machuquem o meu Cornerzinhol Nem o casem com outra na minha frente, eu não suportaria isso! PINCHWIFE Não posso crer em meus olhos ! ALITHEA Minha cunhada! Em minhas roupas! SPARK Ah! MARGERY Parem de brigar! Quem vai fazer este padre trabalhar agora sou eu; ele vai casar-me com Corner! (Pinchwife assiste aparvalhado) CORNER (aparte) Acabou-se tudo ! Danou-se. MARGERY Perdoe-me, querida, por ter espalhado tantas mentiras sobre você. CORNER Parece que já não há mais nada a esconder. LÚCIA Não, ainda preciso esclarecer algo. Mr. Pinchwife, ouça-me por favor. (Pinchwife permanece estático, com o chapéu cobrindo seus olhos) PINCHWIFE Nunca ouvirei uma mulher novamente, feche sua matraca, antes que eu. . . (Avança em direção à sua mulher) CORNER Não faça issol PINCHWIFE Então você é o primeiro, para mim tanto faz. (Avança para Corner, Harcourt o detém)
HARCOURT Esperei Entram Sir Jasper, Lady Figadle, Lady Squeamish, Mrs. Dainty Figa-dle, Mrs. Squeamish. SIR JASPER O que foi? O que foi? Por favor, o que está acontecendo? Eu imploro ao senhor, qual é o problema? PINCHWIFE (ofegante) A minha mulher é o problema, senhor, e penso que a sua mulher também, senhor, se o senhor a conhece ao menos um pouco, senhor... SIR JASPER ... com isso aí, ah, ah, ahl he, he, hei PINCHWIFE 0 senhor está me gozando? Mas esses cominhos são uma bestas mesmo. Tenha cuidado, senhor! SIR JASPER Mas se é o senhor quem está me gozando. Ele cornear o senhor ! Não pode ser, ah, ah, hei Bem, vou contar-lhe uma coisa... (quer cochichar-lhe) PINCHWIFE Eu vou contar-lhe outra coisa. Ele prostituiu a sua e a minha mu-lher, como faz com qualquer uma que lhe chegue perto. E a sua hipo cirisia não me enganai É um impostor I Cafetãol SIR JASPER Hipócrita? Impostor? Cafetão? Em que sentido, mulher, irmã, respondam! LADY SQUEAMISH Hipócrita, Impostor? Cafetão? Vamos, falem, em que sentido! SIR JASPER Ai, que dor na cabeça... ah, suas vagabundas I LADY SQUEAMISH Devassas! SIR JASPER Por favor, meu Cornerzinho, diga que não é verdade que o senhor é um importor, um cafetão...
CORNER Não é verdade. LÚCIA (aparte a Corner) Eu vou dar cobertura a vocês, mas cale a boca dela. CORNER (aparte a Lúcia) Mesmo? Eu darei... LÚCIA (a Pinchwife) Por favor, senhor, ouça-me. Sou eu a causa desta con fusão toda. Sua mulher é inocente. Eu sou a única culpada. Eu arqui. tetei todas essas mentiras para acabar com o noivado de minha pa-troa com Mr. Brizoler, e dar o sinal verde ao senhor Harcourt. MR. BRIZOLER Você fez isso, sua desdentada eterna? Quer dizer que a minha ex-noi va é honesta, que você me enganou? Mas o senhor também, que levou a própria mulher ao seu amante ! LÚCIA Eu juro que ela não veio até o Sr. Corner por amor, ela disse não amá-lo... MARGERY Cale-se, eu menti para o senhor. Eu amo Mr. Corner com toda a minha alma, e ninguém poderá impedir. Não quero que Mr. Corner pense o contrário...
CORNER (aparte a Margery) Quieta, cara idiota. MARGERY Não, não me calo. PINCHWIFE (com a espada) Até que eu te cale! (Entram Dorilant e o Doutor) DOUTOR 0 que foi cavalheiros? Por todos os santos, o que está se passando por aqui? CORNER Oh, benvindo! Este é o mundo hipócrita em que vivemos: estou sendo acusado por um crime que não cometi, o melhor de mim já morreu, e estas inocentes senhoras estão sofrendo comigo. Portanto, dê alguma satisfação a estes valorosos, honrados e ciumentos cavalheiros que... (cochicha ao doutor)
DOUTOR Ah, mas é só isso? Sir Jasper, o senhor confia na ciência e na palci vra de um médico? (cochicha a Jasper) JASPER Ah, claro... Desculpem as senhoras, ofendi a vossa honra e virtude. LADY SQUEAMISH Ah, claro, então está tudo certo de novo? JASPER Ah, claro, estava esquecendo... (cochicha a Pinchwife) PINCHWIFE Eunuco?!!! Por favor, tenha piedade. DOUTOR O senhor por acaso quer consultar outros especialistas? PINCHWIFE Especialistas! Esses aí são capazes, de jurar que um homem sangrou até a morte e ele morreu de uma unha encravada. DOUTOR (agitado) Ouça-me, senhor, a cidade inteira já ouviu falar disso. PINCHWIFE (mais calmo) Mas a cidade inteira, digamos, acredita nisso? DOUTOR Comece a ouvir os presentes. PINCHWIFE Mas quando encerrei a minha carreira aqui na cidade, ele era o homem mais sujo dela. DOUTOR Ouça, até que ele não fosse até a França. Pergunte Mr. Dorilant, senhoras e senhores, ouviram por acaso sobre a desgraça que se abateu sobre o nosso pobre Mr. Corner? TODAS AS MULHERES (Com grande transporte) Ai, Ai, Ai!!! DOUTOR Então, seus ciumentos cretinos, ouviram? Ele não passa de um frango capão ã francesa.
MARGERY É mentira, senhores, não subestimem o meu pobre Cornerzinho, eu jã experimentei... LÚCIA Cale-se! MRS. SQUEAMISH Segura essa matraca! (aparte a Lúcia) LADY FIGADLE Pela minha honra, senhor, é apenas um eunuco! MRS. FIGADLE 0 senhor acha que nos deixaríamos ser vistas na companhia dele? MRS. SQUEAMISH Jogando fora a nossa famosa reputação assim? LADY FIGADLE (aparte a Corner) É nisso que dá confiar o seu segredo a uma louca. CORNER Calma, madames (aparte ao Doutor) Eu não disse que o plano era per_feito? Bastou uma palavra tua e fiquei salvo. PINCHWIFE Bom, talvez, seja verdade mesmo. Mas a minha mulher... (aparte) (Dorilant cochicha a Margery) ALITHEA Bom, irmão, a sua reputação está salva, pense bem. Seja crédulo e não aguce tanto a imaginação. Não seja ciumento, as mulheres e a sorte são confiadas a quem confia nelas. LÚCIA Quanto mais forte a coleira, mais feroz é a fera. ALITHEA Mr. Harcourt, não pensa que esse é o lema dos bons maridos? HARCOURT Oh, madame, acredito tanto, que quero ser um deles. DORILANT E eu acredito tanto também, que não quero ser nenhum deles.
MR. BRIZOLER E eu, também sou um homem de espírito, também não quero ser um deles. CORNER E eu, também não. Estou livre? PINCHWIFE E eu tenho que ser um deles, com uma boa mulher no campo. MARGERY (aparte) E eu tenho que ser uma boa mulher do campo, já que se eu. E eu devo virar uma mulher do campo também, acho; Não posso, como uma mulher dessas de cidade, desafiar o meu marido e fazer o que quiser. CORNER E agora, senhor, declare que a sua mulher é inocente, já que eu declarei o mal que me aflige; e que eu seja o únivo homem aqui exposto ao vexame., vou me afogar direto no vinho, como o senhor já prevê. E agora vamos divertir as senhoras aqui presentes com uma balada – Doutor, onde estão os nossos mascarados? LUCIA Ela é mesmo inocente, senhor, eu sou testemunha disso. Agora vamos organizar o casamento desta sua irmã. E o que ela disse diante do senhor sobre seu amor pelo senhor Corner era simples vingança de uma jovem tomada pelo ciume... Foi ou não, fale? MARGERY [aparte a Lucia e Corner]. Já que vocês me contram mais mentiras—[Alto.) Foi assim mesmo, brotinho... PINCHWIFE Por minha tranqüilidade: acredito em tudo. Que os cornudos, e os amantes, morram todos ![Soluça. Sua honra está salva (tarde demais, acho) Quem confia bobamente na mulher ou no amigo... Dança de cornudos tranqüilos. CORNER Bem, que cada um passe a propria mulher ao outro, com graça, antes os homens, como se vê, sejam despistados. Saem.
Pano