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inflamatória intestinal

Abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da doença inflamatória intestinal

Diogo Caetano*, Duarte Cruz**, Rui Joaquim***, & Rosa Lopes****

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* Licenciado em Enfermagem; Enfermeiro; SCMV - UCC António Francisco Guimarães, Av. Bombeiros Voluntários, Apartado 48, 4815-394 Vizela, Portugal. diogocae@gmail.com ** Licenciado em Enfermagem; Enfermeiro; Clínica Reequilibra, 3020-088 Coimbra, Portugal. duartecruz7@hotmail.com ***

Licenciado em Enfermagem; Enfermeiro; Unidade de Saúde de Coimbra, 3000-176 Coimbra, Portugal. joaquim.rui97@gmail.com ****Doutora em Ciências de Enfermagem; Professora adjunta; ESEnfC, Avenida Bissaya Barreto, Apartado 7001, 3046-851 Coimbra, Portugal. rlopes@esenfc.pt

RESUMO

CONTEXTO: Doença Inflamatória Intestinal (DII) desencadeia múltiplas repercussões na saúde da pessoa, nomeadamente na dimensão psicológica. O impacto psicológico pode funcionar como variável na evolução da doença, potenciando a exacerbação de sintomatologia aguda da doença. OBJETIVOS: Identificar necessidades percecionadas pela pessoa com DII; Conhecer instrumentos de avaliação que permitem a identificação/monitorização de alterações da dimensão psicológica; Avaliar efeitos da abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da DII; Identificar a função do enfermeiro enquanto elemento da equipa multidisciplinar e Compreender a intervenção do enfermeiro na promoção da saúde da pessoa com DII. MÉTODOS: Revisão Integrativa de Literatura (RIL), com estratégia metodológica P[I][C]OD na questão investigação: Qual a abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da DII no adulto?. Pesquisa bibliográfica: maio 2019; bases de dados: MedicLatina, MEDLINE, Psichology and Behavioral Sciences Collection, CINAHL, Academic Search, através plataforma EBSCOhost; horizonte temporal: janeiro 2010 a maio 2019. Amostra: 5 artigos. RESULTADOS: Iliteracia é fator indutor de sofrimento psicológico, sendo informação em saúde relevante para adoção de estratégias de coping; utilização de instrumentos de avaliação simples permite ao enfermeiro a identificação de fatores de risco para alterações do foro psicológico; Mindfulness-based Cognitive Therapy(MBCT) produz efeitos psicoterapêuticos; enfermeiro deve adotar competências relacionais promotoras de respeito, empatia e confiança gerando parceria nos cuidados. CONCLUSÕES: A avaliação clínica holística, respeitando individualidade da pessoa, fornecendo cuidados de enfermagem

de qualidade e atribuindo igual relevância à dimensão psicológica, oferece desta forma uma abordagem psicoterapêutica na prevenção da agudização da DII obtendo ganhos em saúde. Palavras-Chave: Doença inflamatória intestinal; enfermeiros; adaptação psicológica; stress.

ABSTRACT

BACKGROUND: Inflammatory Bowel Disease (IBD) triggers multiple repercussions on a person's health, including the psychological dimension. Psychological impact may function as a variable in the evolution of the disease, potentiating the exacerbation of acute symptomatology of the disease. AIM: To identify needs perceived by the person with IBD; Know assessment tools that allow the identification/monitoring of changes in the psychological dimension; To evaluate the effects of the psychological approach focused on the prevention of acute IBD; Identify the nurse's role as a multidisciplinary team member and Understand the nurse's intervention in promoting the health of people with IBD. METHODS: Integrative Literature Review (RIL), with methodological strategy P[I][C]OD in the research question: What is the approach focused on the psychological dimension in the prevention of acute IBD in adults?. Bibliographic search: May 2019; databases: MedicLatina, MEDLINE, Psychology and Behavioral Sciences Collection, CINAHL, Academic Search, through the EBSCOhost platform; time horizon: January 2010 to May 2019. Sample: 5 articles. RESULTS: Illiteracy is a factor that induces psychological distress, being relevant health information for the adoption of coping strategies; the use of simple assessment tools allows nurses to identify risk factors for psychological disorders; Mindfulness-based Cognitive Therapy(MBCT) produces psychotherapeutic effects; the nurse must adopt relational skills that promote respect, empathy and trust, generating partnership in care. CONCLUSIONS: The holistic clinical evaluation, respecting the individuality of the person, providing quality nursing care and giving equal importance to the psychological dimension, thus offers a psychotherapeutic approach to preventing the acute onset of IBD and achieving health gains. Keywords: Inflammatory bowel disease; nurses; psychological adaptation; stress.

RESUMEN CONTEXTO:La enfermedad inflamatoria intestinal (EII) desencadena múltiples repercusiones en la salud de una persona, incluida la dimensión psicológica. El impacto psicológico puede funcionar como una variable en la evolución de la enfermedad, potenciando la exacerbación de la sintomatología aguda de la enfermedad. OBJETIVO(S): Identificar las necesidades percibidas por la persona con EII; Conocer herramientas de evaluación que permitan identificar/monitorear cambios en la dimensión psicológica; Evaluar los efectos del enfoque psicológico centrado en la prevención de la EII aguda; Identifique el papel de la enfermera como miembro del equipo multidisciplinario y comprenda la intervención de la enfermera para

promover la salud de las personas con EII. METODOLOGÍA: Revisión Integral de Literatura (RIL), con estrategia metodológica P[I][C]OD en la pregunta de investigación: Cuál es el enfoque centrado en la dimensión psicológica en la prevención de la EII aguda en adultos?. Búsqueda bibliográfica: mayo de 2019; bases de datos: MedicLatina, MEDLINE, Psychology and Behavioral Sciences Collection, CINAHL, Academic Search, através de la plataforma EBSCOhost; horizonte temporal: enero de 2010 a mayo de 2019. Muestra: 5 artículos. RESULTADOS: El analfabetismo es un factor que induce angustia psicológica, siendo información de salud relevante para la adopción de estrategias de afrontamiento; El uso de herramientas de evaluación simples permite a las enfermeras identificar factores de riesgo para trastornos psicológicos; La terapia cognitiva basada en la atención plena (MBCT) produce efectos psicoterapéuticos; La enfermera debe adoptar habilidades relacionales que promuevan el respeto, la empatía y la confianza, generando una asociación en la atención. CONCLUSIONES: La evaluación clínica holística, respetando la individualidad de la persona, brindando atención de enfermería de calidad y otorgando la misma importancia a la dimensión psicológica, ofrece un enfoque psicoterapéutico para prevenir la aparición aguda de EII y lograr beneficios para la salud. Palabras Clave: Enfermedad inflamatoria del intestino; enfermeras; adaptación psicológica; estrés.

INTRODUÇÃO

A DII da qual a doença de Crohn (DC), a colite ulcerosa (CU) e a colite indeterminada são subtipos, é uma condição gastrointestinal crónica, cuja etiologia envolve resposta imune desregulada da mucosa intestinal, desencadeada por fatores ambientais associados à predisposição genética (Mikocka-Walus, Pittet, Rossel & von Känel, 2016) Tem-se assistido a um aumento da incidência a nível mundial da DC e da CU, com especial destaque para os países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. “Em Portugal estimase que existam cerca de 150 pessoas com DII por cada 100.000 habitantes, distribuídos igualmente por ambas as doenças, com predomínio no sexo feminino, atingindo na maioria o escalão etário 17-39 anos na DC e 40-64 anos na CU. Esta prevalência é intermédia entre os países em que a doença é mais frequente e os países de mais baixa frequência, embora exista a perceção de que os novos casos estão a aumentar” (Cotter, 2016, p.40). Ambos os subtipos da patologia são caracterizados por períodos sintomáticos (surtos), combinados com períodos menos sintomáticos (remissão). A sintomatologia é caracterizada por episódios inflamatórios agudos, por vezes imprevisíveis, que incluem dores intestinais intensas, diarreia, tenesmo, incontinência fecal, hematoquesias, perda de peso, alterações do humor, fadiga, estenoses, fístulas e/ou abcessos (Burkhalter, Birgit & Lorenz, 2015).

Friedli, Johnson, Price, Swart, & Wood (2014) referem que cerca de 30% de pessoas com DII revelam sofrimento psicológico. Na maioria das circunstâncias é temporário, mas pode permanecer descontrolado, tendo potencial de evolução para uma condição psicológica ou doença mental mais debilitante e grave. Este estudo teve como objetivos: identificar as necessidades percecionadas pela pessoa com DII; conhecer instrumentos de avaliação que permitem a identificação/monitorização de alterações da dimensão psicológica; avaliar os efeitos da abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da DII; identificar a função do enfermeiro enquanto elemento da equipa multidisciplinar; compreender a intervenção do enfermeiro na promoção da saúde da pessoa com DII.

Foi realizada uma RIL,

MÉTODOS

com recurso à estratégia metodológica P[I][C]OD (Tabela 1)

na elaboração da questão de investigação: Qual a abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da DII no adulto?.

Tabela 1 - Questão de investigação segundo a metodologia P[I][C]OD

P I C O D Participantes Intervenção Comparação Resultados Desenho de estudo Pessoas de idade adulta com DII Abordagem centrada na dimensão psicológica Não se aplica Prevenção da agudização da DII Primário, qualitativo e/ou quantitativo

A pesquisa bibliográfica foi realizada durante o mês de maio de 2019, nas bases de dados: MedicLatina, MEDLINE, Psichology and Behavioral Sciences Collection, CINAHL e Academic Search, disponíveis na plataforma EBSCOhost, com horizonte temporal de janeiro de 2010 a maio de 2019, mediante a combinação de expressões booleanas OR e AND, utilizando Descritores em Ciências da Saúde - DeCS (compatível com Medical Subject Headings MeSH), construiu-se a seguinte expressão de pesquisa: (inflammatory bowel diseases) AND (nurs*) AND (psycholog* OR psychological distress OR psychological adaptation OR emotion* OR mental health OR anxiety OR mood disorders OR depression OR intervention). No motor de busca EBSCO, foram selecionadas as bases de dados supramencionadas e inserida a expressão de pesquisa formulada, tendo sido obtidos 512 artigos. De forma a cumprir os critérios de inclusão, foi utilizado o cursor para definir a janela temporal (20102019), resultando em 376 artigos. De seguida, selecionou-se a opção “Revistas Académicas”,

o que se traduziu em 337 Artigos. Por fim, aquando da seleção do cursor “Full Text”, obtivemos 236 artigos, tendo passado a 161 após a exclusão dos repetidos. A partir dos resultados da pesquisa, iniciou-se por dois investigadores a primeira análise dos documentos, pelo seu título, tendo sido selecionados 64 artigos. Após esta seleção, foi analisado o resumo dos mesmos, tendo sido apurados 27. Posteriormente, após realizada a leitura integral dos documentos restantes, foram selecionados para a presente RIL 5 artigos.

RESULTADOS

A síntese dos resultados de cada artigo da amostra é apresentada em tabela.

Tabela 2-Disease-specific knowledge, coping and adherence in patients with inflammatory bowel disease (Estudo1)

Autores: Dudley-Brown, S., Kerwin, L., Moradkhani, A., & Tabibian J. Local e data: Estados Unidos da América, 2011 Objetivo: investigar relação entre conhecimento da DII e uso de estratégias de coping com a adesão ao regime terapêutico.

Participantes Intervenção/ Instrumentos

111 adultos com DII, residentes nos Estados Unidos da América, recrutados online. Variável independente: conhecimento sobre DII – avaliação: questionário CCKNOW; Variáveis dependentes: coping e adesão ao regime terapêutico – avaliação: Brief COPE e Morisky Adherence Scale, respetivamente.

Comparador Outcomes

Desenho

Não aplicável -

Relação significativa entre conhecimento de DII e coping ativo, suporte instrumental,

planeamento e apoio emocional. - Relação significativa entre apoio instrumental e género; uso de substâncias e emprego; uso de substâncias e estado civil; auto culpabilização e auto perceção da doença. Estudo quantitativo, de corte transversal

Tabela 3 – Early identification of patients with psychological distress: the role of inflammatory bowel disease nurses (Estudo 2)

Autores: Friedli, K, Johnson, M., Price, T., Swart, N., & Wood, G. Local e data: Inglaterra, 2014 Objetivo: apresentar um conjunto útil de ferramentas de rastreio que possam ser usadas para identificar sofrimento psicológico e ajudar na decisão sobre encaminhamento para profissional de saúde complementar.

Participantes

Um participante (n=1) diagnosticado com DII.

Intervenção/ Instrumentos

Comparador

The Patient Health Questionnaire-2- avalia a presença de sintomas de depressão; Distress Thermometer - avalia o seu nível de sofrimento na última semana; Generalized Anxiety Disorder-2 - avalia transtornos de ansiedade; The Acceptance and Action Questionnaire - avalia a aceitação e adaptação à doença. Não aplicável

Outcomes

Desenho

As ferramentas utilizadas, por enfermeiro especialista em DII, permitiram a identificação de um caso de sofrimento psicológico; a discussão entre o profissional e a pessoa sobre os seus problemas psicológicos; e o encaminhamento para outro profissional de saúde. Estudo quali-quantitativo e descritivo.

Tabela 4 – Mindfulness-based cognitive therapy for inflammatory bowel disease patients: findings from an exploratory pilot randomised controlled trial (Estudo 3)

Autores: Atherton I., Schoultz M., & Watson A. Local e data: Escócia, 2015 Objetivo: Testar a eficácia da Mindfulness-based Cognitive Therapy (MBCT) na DII e avaliar a viabilidade da realização de um estudo aleatório controlado em maior escala.

Participantes

Intervenção/ Instrumentos

Comparador Outcomes

Desenho

24 participantes com DII distribuídos aleatoriamente - grupo alvo (grupo MBCT) e grupo controlo (grupo lista de espera) numa proporção direta de 1:1; randomização informática estratificada em duas variáveis - tipo de doença e sexo O programa MBCT baseou-se no manual de 8 semanas MBCT, desenvolvido por Segal et al. como referido por Atherton, Schoultz, & Watson (2015). Estudo avaliado em três momentos (inicio, final da intervenção e 6 meses após a intervenção) em: depressão, ansiedade, mindfulness disposicional (que expressa importância e disposição para a terapia), atividade da doença e qualidade de vida. Grupo controlo (GC) - Melhoria no score de depressão no grupo MBCT no pós-intervenção e 6 meses após; - Melhoria no score de ansiedade-estado no grupo MBCT durante o período de pós-intervenção e 6 meses após (embora sem diferença estatisticamente significativa); -

Relação estatisticamente significativa no grupo MBCT entre disposicional e a ansiedade traço; o tempo de mindfulness

Embora no grupo MBCT a atividade da doença tenha apresentado melhorias, não foi significativa entre o tempo de MBCT e o tempo nos scores de atividade das DII’s; - Houve evolução positiva na qualidade de vida nas pessoas com DII (6 meses após), que não foi estatisticamente significativa entre o grupo MBCT e a variável ‘tempo’, que pudesse ter impacto nos scores de qualidade de vida. Estudo quantitativo, experimental e longitudinal

Tabela 5 – Stress, coping and support needs of patients with ulcerative colitis or Crohn’s disease: a qualitative descriptive study (Estudo 4)

Autores: Larsson, K., Lööf, L. & Nordin, K. Local e data: Suécia, 2016

Objetivo:

Examinar o stress

relacionado à doença, as estratégias de coping informação/apoio em pessoas com DII. e a necessidade de

Participantes

15 pessoas com UC ou DC, mulheres e homens de várias idades e duração da doença, recrutados em serviço de gastroenterologia de hospital universitário sueco.

Intervenção/ Instrumentos

Comparações Resultados

Desenho

Realizadas entrevistas, duração 50-60 minutos, gravadas e transcritas pelo autor principal. Análise qualitativa de conteúdo: leitura analítica das entrevistas; identificação de conteúdo relevante e organização em três áreas de conteúdo (stress, coping e necessidade de apoio). Não aplicável. Evidenciaram temas ligados às três áreas centrais: Stress: relacionado à doença e relações com os outros; Coping: estratégias comportamentais, estratégias sociais e estratégias emocionais; Necessidade de ajuda/apoio: apoio instrumental e apoio emocional. Estudo qualitativo com abordagem descritiva.

Tabela 6 – Health care as perceived by persons with inflammatory bowel disease – a focus group study (Estudo 5)

Autores: Borjesson, S., Frisman G., Hjelm, K., Hjortswang H., & Lesnovska K. Local e data: Suécia, 2017 Objetivo: Explorar as perceções de cuidados de saúde nas pessoas com DII.

Participantes

Intervenção/ Instrumentos

Comparador Outcomes

Desenho

26 pessoas com DII (igual distribuição entre DC e CU) maiores de 18 anos, recrutados por uma enfermeira, com base no sexo, diagnóstico, tempo desde o diagnóstico e idade. Participaram 14 homens e 12 mulheres com idade entre 19 e 76 anos; média de idades de 62 anos. Os dados foram colhidos entre janeiro e junho de 2014. Foi elaborado um guia com 5 questões para orientar a entrevista. Todas as entrevistas foram conduzidas pelos investigadores principais e enfermeira especialista em DII. As entrevistas foram gravadas e transcritas na integra, duração entrevista do grupo focal 15 minutos, entrevistas individuais duração de 30 minutos. Não aplicável Emergiram duas categorias: atitudes do profissional de saúde nas instituições de saúde e estrutura organizacional das instituições de saúde. A primeira categoria inclui: respeito, confiança mútua, receção de informações no momento certo, tomada de decisão compartilhada, competência do profissional e comunicação. A segunda categoria inclui: acesso aos cuidados de saúde, acomodação, continuidade de cuidados e prós e contras dos cuidados especializados. Estudo qualitativo de caracter exploratório.

DISCUSSÃO

Os estudos 4 e 5 referem necessidades associadas à DII: receber informações, opções ou estratégias de gestão/tratamento da doença e possíveis impactos nas suas vidas. O estudo 4 mostra que a falta de conhecimento relativa à condição de saúde da pessoa é um preditor de sofrimento psicológico, comprometendo a capacidade de coping perante a patologia e, consequentemente, a adesão ao tratamento e adoção de comportamentos promotores de saúde. Também o estudo 1 evidencia que pessoas com DII com maior literacia relacionada à doença são mais propensas a empregar estratégias de coping. No entanto, não foi encontrada relação entre o conhecimento sobre a DII e a adesão ao tratamento.

O estudo 4 ao investigar sobre as estratégias de coping, revelou que as mais utilizadas são as focadas no problema (DII) e as focadas nas emoções. Foram relatadas outras estratégias: pensamento positivo, distração, comparações sociais e aceitação da doença. Ficou claro neste estudo, que os participantes empregaram e combinaram uma ampla variedade de estratégias, no sentido de enfrentar a situação indutora de stress, a DII. No entanto, não foi examinada, na referida investigação, a eficácia do coping ou a existência de relação entre as estratégias e o bem-estar dos participantes. Assim, a promoção da literacia terá um efeito psicoterapêutico na pessoa, permitindo atuar na prevenção de sofrimento psicológico, através da aprendizagem/promoção das estratégias eficazes de coping. Deste modo, serão fomentados, ganhos em saúde. Uma das estratégias, descritas no estudo

1,

é a criação de cursos/módulos on-line educacionais. Outro dos métodos defendidos pelos autores é o encaminhamento para profissionais relacionados com a saúde mental. Estes profissionais possuem conhecimentos e competências especializadas para ajudar pessoas com doenças crónicas, de modo a melhorar as estratégias de coping e providenciando suporte emocional/psicológico. Devido a este aumento do consumo de informações on-line, os autores afirmam que uma melhor utilização da internet, com o apoio dos profissionais relacionados com a saúde mental, poderá ser uma mais valia, contribuindo para uma melhor compreensão da DII. Friedli et al. (2014), estudo 2, referem que, pelas características da doença, as pessoas com DII são particularmente suscetíveis a transtornos de ordem psicológica. O sofrimento psicológico aparentou encurtar o tempo até um evento de recorrência clínica, resultando em exacerbações/complicações. Salientam o potencial benefício da identificação precoce da pessoa com sofrimento psicológico. A utilização de ferramentas de rastreio que avaliam os potenciais indicadores de doença, pesquisando fatores de risco (sintomáticos ou não), permitem ao enfermeiro detetar objetivamente fatores de risco para alterações psicológicas. Desta forma, é possível uma maior comunicação e articulação com as várias equipas disciplinares, a fim de decidir sobre um possível encaminhamento da pessoa para cuidados especializados de saúde mental. Os resultados obtidos pelos investigadores demonstraram a eficácia destes instrumentos, proporcionando uma compreensão da problemática e facilitando, consequentemente, ao enfermeiro o diagnóstico e encaminhamento da pessoa. No estudo 3, Atherton et al. (2015) desenvolveram um programa de intervenção psicoterapêutica em grupo baseada no mindfulness. Os scores de depressão no grupo MBCT melhoraram a longo prazo, comparados ao GC. Além disso, a terapia teve efeito significativo na ansiedade-traço (embora sem efeito significativo na ansiedade-estado). A longo prazo, considerando a DII é uma condição cronica com sintomas angustiantes, o potencial da MBCT em ajudar a pessoa a responder a situações quotidianas poder ser relevante, produzindo efeitos psicoterapêuticos e promovendo a qualidade de vida das pessoas com DII.

O estudo evidenciou a necessidade de uma equipa de saúde multidisciplinar especializada, para obter suporte emocional e psicológico, discutindo e partilhando estratégias facilitadoras para viver com a doença, com especial enfoque nos momentos do diagnóstico e recidivas. O estudo 3 salientou a importância de estabelecer um relacionamento de respeito, confiança e empatia, é, sendo um fator facilitador para que a equipa multidisciplinar e a pessoa com DII consigam trabalhar em cooperação, atendendo às suas necessidades. Esta relação é fundamental para a formação de uma parceria de cuidados e, por sua vez, a tomada de decisão em conjunto não só otimiza as decisões, como combina as preferências individuais de cada pessoa, conferindo satisfação, adesão e qualidade aos cuidados de saúde.

CONCLUSÃO

A exploração da evidência permitiu, nesta RIL, expor respostas à questão de investigação formulada “Qual a abordagem centrada na dimensão psicológica na prevenção da agudização da DII no adulto?”, assim como aos objetivos formulados. A DII origina necessidades para a pessoa ao longo da sua vida, nos períodos de agudização e na fase de remissão. Destaque para a necessidade de informação/conhecimento, sendo a iliteracia um fator indutor de stress e sofrimento psicológico, passível de desencadear transtornos psicológicos. O aumento da literacia relacionada com a doença e as estratégias de coping produzem efeitos psicoterapêuticos. As estratégias focadas no problema (DII) têm maior eficácia, aumentando o bem-estar/qualidade de vida da pessoa. As fontes de informação em saúde, no meio eletrónico, têm a potencialidade de aumentar a literacia das pessoas, providenciando ferramentas que as ajudam a tomar decisões, bem como oportunidades de gestão pessoal do estado de saúde. Os estudos revelam a necessidade de uma equipa especializada de saúde para obter apoio emocional e psicológico, discutindo e partilhando estratégias facilitadoras para viver com a doença, que tenha especial enfoque nos momentos do diagnóstico e recidiva. A utilização de instrumentos de avaliação simples e intuitivos para a prática de Enfermagem, permitem o entendimento básico da temática e a identificação/compreensão objetiva das necessidades da pessoa, detetando fatores de risco para alterações psicológicas. Estes instrumentos potenciam melhorias na atuação interdisciplinar e decisão sobre um possível encaminhamento da pessoa para cuidados mais especializados em Saúde Mental. Assim, a prevenção e deteção precoce de sofrimento psicológico, permite ganhos em saúde para a pessoa/família, pela otimização de custos associados aos cuidados de saúde. Em complementaridade às terapêuticas ‘convencionais’, existem terapias focadas no controlo de fatores indutores de stress e sofrimento psicológico da pessoa. A MBCT revelou ganhos para a pessoa, nomeadamente a longo prazo, produzindo efeitos psicoterapêuticos e melhoria da gestão dos sintomas e da qualidade de vida.

IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA CLÍNICA

A evidência confirma a importância dada pela pessoa/família ao respeito, empatia e confiança na relação com o enfermeiro/profissional de saúde, com efeitos positivos para a sua saúde. Deve-se proporcionada uma avaliação clínica global, respeitando sempre a individualidade da pessoa, tal como preconiza o modelo biopsicossocial, fornecendo cuidados de enfermagem de qualidade, centrados na pessoa/família. Através da prática baseada na evidência, avaliação e raciocínio clínico, o enfermeiro deverá ponderar o encaminhamento da pessoa para cuidados especializados, no sentido de maximizar ganhos em saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Atherton, I., Schoultz, M., & Watson, A. (2015). Mindfulness-based cognitive therapy for inflammatory bowel disease patients: Findings from an exploratory pilot randomised controlled trial. Trials, 16(1), 1–14. https://doi.org/10.1186/s13063-015-0909-5 Borjeson, S., Frisman, G. H., Hjelm, K., Hjortswang, H., & Lesnovska, K. P. (2017). Health care as perceived by persons with inflammatory bowel disease – a focus group study. 3677–3687. https://doi.org/10.1111/jocn.13740 Burkhalter, H., Birgit, S., & Lorenz, S. (2015). Assessment of Inflammatory Bowel Disease Patient’ s Needs and Problems from a Nursing Perspective. https://doi.org/10.1159/000371654 3, 128–141.

Cotter, J. (2016). Doença inflamatória intestinal – realidade atual. Jornal Médico.pt, 40–46. Dudley-Brown, S., Kerwin, L., Moradkhani, A., & Tabibian, J. (2011). Disease-Specific Knowledge, Coping, and Adherence in Patients with Inflammatory Bowel Disease. 2972–2977. https://doi.org/10.1007/s10620-011-1714-y Friedli, K., Johnson, M., Price, T., Swart, N., & Wood, G. (2014). Early identification of patients with psychological distress: the role of inflammatory bowel disease nurses. Gastrointestinal Nursing, 12(1), 36–43. https://doi.org/10.12968/gasn.2014.12.1.36 Larsson, K., Loof, L., & Nordin, K. (2016). Stress, coping and support needs of patients with ulcerative colitis or Crohn’s disease: a qualitative descriptive study. 648–657. https://doi.org/10.1111/jocn.13581 Mikocka-Walus, A., Pittet, V., Rossel, J. B., & von Känel, R. (2016). Symptoms of Depression and Anxiety Are Independently Associated with Clinical Recurrence of Inflammatory Bowel Disease. Clinical Gastroenterology and Hepatology, 14(6), 829–835.e1. https://doi.org/10.1016/j.cgh.2015.12.045

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