Próstata e Coração O Segredo do Vitório De Stonewall à Parada Gay
Quando pensamos em escrever
uma revista voltada ao público gay, a ideia era de tratar o gay como um cidadão como qualquer outro independente de sexo, e que justamente por isso, consome basicamente as mesmas coisas que os heterossexuais. A diferença estaria na forma como esses assuntos seriam apresentados aos futuros leitores, por isso as matérias não se valem das gírias típicas dos gays para falar com clareza a eles. Isso não se faz necessário. Também é muito difícil encontrar nas bancas de jornal, alguma revista direcionada aos homossexuais que não esteja fundamentada ao apelo homoerótico, por vezes pornográfico. Nenhuma crítica a este segmento, mas existe uma lacuna para os leitores que queiram ler assuntos gerais, de cultura, política, economia e entretenimento, numa revista que seja escrita para eles. A princípio foi isso que motivou
a criação da Ssibilado, desde a concepção do nome - uma brincadeira à forma de vários gays pronunciarem as palavras com “s” usando silvos, quase assovios – até a escolha dos temas que iriam ser explorados na primeira edição. No final percebemos que os conteúdos que segmentamos para os jovens gays eram temas interessantes, também, à qualquer sexo. No entanto, não deixamos de lado as questões que falam mais profundamente ao homossexual, como na matéria “Parada Gay”, que faz um resgate histórico da luta pelos direitos da comunidade LGBT até a glamorização da manifestação. Enfim, a você leitor, respondemos: A Ssibilado é uma revista gay? Bom, a Ss é voltada para homens que não se importam com a resposta dessa pergunta.
Vinícius Gallon Lívia Pulchério Ana Luiza de Lima Lorena Oliva
Sumário
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Parada Gay
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Próstata e Coração
Enema
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18
Colaborador
5 Diretores e uma História Circular
Design, Inovação e Sustentabilidade
19
20
24
Invers찾o da Moda
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O Segredo do Vit처rio
Wandula
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Confiss천es dos Velhos Tempos
Dicas de Sites
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41
44
A Sete Palmos do Convencional
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Política
PARADA GAY por Vinícius Gallon box: Ana Luiza de Lima Fotos: Lívia Pulchério e Lorena Oliva
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Em mais uma batida policial ao Bar
Stonewall, localizado no bairro Greenwich Village de Nova York, alegando como sempre a venda ilegal de bebidas alcoólicas e a falta de alvará para o funcionamento, todos os travestis que haviam no local foram presos, mas, desta vez, seus frequentadores resolveram resistir. Em solidariedade aos amigos detidos, gays e lésbicas permaneceram no bar em represália aos policiais. Durante três dias, a comunidade gay se organizou de forma mais politizada, pichando frases nas vitrines e nas paredes reclamando direitos iguais e o fim das batidas em bares gays. Mas nem tudo permaneceu pacífico assim. Com a resistência, os manifestantes atearam fogo em automóveis, atiraram pedras e garrafas contra os policiais, promoveram barricadas, até que a prefeitura da cidade ordenasse o fim dos ataques. Era 28 de junho de 1969, dia que ficou conhecido como a “Revolta de Stonewall”.
Apeloslémdireitos de ter sido o “marco 0” das lutas homossexuais e do surgimento de milhares de movimentos organizados pela temática LGBT, a revolta deu início também a uma das maiores manifestações culturais do planeta, a Parada Da Diversidade Sexual, mais conhecida como Parada Gay. Só aqui no Brasil são 155 cidades que promovem eventos semelhantes. A maior acontece em São Paulo, que no ano passado juntou 3,1 milhões de pessoas. A Parada da Diversidade de Curitiba acontece há 13 anos, e, em 2010 reuniu 150 mil pessoas na avenida Cândido de Abreu no Centro Cívico. Com o tema “Vote contra a Homofobia – Defenda a Cidadania!”, a manifestação aproveitou as eleições para pedir que a comunidade LGBT votasse em candidatos que defendam o combate à homofobia. Apesar de ter nascido com esse caráter político e libertário, a Parada LGBT é também um dia de festa. Para muitos homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais, a Parada simboliza o momento em que finalmente podem se relacionar afetivamente com seus companheiros e companheiras; que os não assumidos podem se misturar à multidão e ser quem realmente são e sentirem-se integrados; que os “seres da noite” podem aparecer à luz do dia como todo mundo, enfim, que o gueto passa a ser maioria. Trata-se de extravasar um ano inteiro de repressão sexual. É quase uma psicologia de conflito,
onde a necessidade de expor o corpo, de se travestir, de se maquiar, de menina beijar menina em público, de mostrarem a todos a própria identidade, é uma forma de impor presença aos intolerantes e preconceituosos, nem que seja na marra. Essa luta pacífica e honesta busca apenas garantir direitos básicos de cidadãos, mas ainda tem gente que duvida do valor político e ideológico de tudo isso. Há também quem diga que independente de Stonewall, mobilizações em prol dos direitos LGBT aconteceriam de qualquer maneira. No entanto, a lenda e o glamour que envolvem a história estão muito marcados nos princípios que movem e dão forma à luta tal como ela é concebida hoje. Por isso é impossível aos herdeiros de Stonewall dissociarem o símbolo da causa. O fato é que , cada vez mais simpatizantes à causa, de todas orientações sexuais saem às ruas para demonstrar solidariedade aos direitos da comunidade LGBT. Esse reconhecimento, no entanto, não caminha no mesmo passo que a conquista de direitos. O que só será possível quando a igualdade entre todos os sexos for, de fato, reconhecida em todas as esferas e as Paradas da Diversidade não forem mais necessárias. Se acontecerem, que seja pela bela festa, se não, que simbolize o marco histórico de mudança de valores e conceitos.
Politicagem na Parada
U m evento que deveria ser uma mani festação da sociedade pela diversidade, a Parada Gay de Curitiba deste ano, que trouxe o tema “Vote contra a homofobia. Defenda a cidadania”, foi intensivamente invadida pela propaganda política das eleições que acontecem no dia 3 de outubro. Mais do que santinhos, balões, cartazes e outras grandes invenções publicitárias para as campanhas, os políticos também patrocinavam três dos nove trios elétricos e circulavam pela parada, distribuindo panfletos com propostas de apelo à comunidade gay. Qualquer desavisado que caminhasse pelo centro cívico na tarde daquele domingo, veria a aglomeração na Av. Cândido de Abreu como mais um ato político, dada a quantidade de bandeiras de candidatos no local. Um enorme balão com a foto de um presidenciável não deixava dúvidas quanto ao motivo da reunião dominical. Era quase impossível enxergar as cores vibrantes do orgulho gay, encobertas por essa indiscreta publicidade. Apesar da inegável necessidade de eleger parlamentares que lutem pelos doreitos dos homossexuais no governo, ficou evidente o oportunismo dos candidatos que utilizaram a parada para discursar suas propostas voltadas especificamente para os homossexuais. Um momento que deveria ser isento de qualquer tipo de declaração política ou de promoção de figuras públicas, acabou se transformando em alguns minutos a mais de horário eleitoral.
C ultura
Próstata e Coração por Vinícius Gallon fotos: Luigi e Luca
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Mais do que a reprodução do cotidiano e da vida conjugal, a arte intimista do casal de fotógrafos italianos Luigi Vitali e Luca Guarini é uma celebração do sexo, da homossexualidade, da juventude e do amor. À primeira vista, o trabalho que parece surreal e evocativo, surge como uma ideia abstrata de imagem que se quer fazer, mas é simplesmente o retrato sobre o que acontece entre os dois, passando pelos problemas, situações de limite, desejos e curiosidades. Quando se conheceram há quatro anos durante um cruzeiro em Florença e depois que passaram a trabalhar juntos, Luca e Luigi resolveram converter a energia do relacionamento em arte. No entanto, utilizam a manipulação das imagens que possibilita moldar a realidade de acordo com as necessidades estéticas e pessoais de cada trabalho, para evitar que o resultado final se torne apenas uma fotografia como expressão ou documento do contingente. O próximo passo para sofisticar esse processo é a utilização de elementos da pintura que Luca aprendeu na Faculdade de Artes de Florença. A identidade representada nas imagens é tão forte, que mesmo quando falam sobre outros assuntos, o retrato é sobre como estão relacionados a
este assunto. Assim como acontece, por exemplo, em um dos primeiros trabalhos, “Love is Dark Hole”, onde o intuito era expressar o que sentiam em relação à nova geração de casais gays e como isso era diferente em gerações passadas. Outros temas abordados são a repressão sexual de uma cultura dogmática, como em “The Flying Carpet”, que tem uma mistura de elementos islâmicos e “Learning”, onde falam sobre o quanto é difícil para um adolescente conhecer o próprio corpo e os sentimentos. Apesar do sucesso internacional das imagens, o casal já sofreu muita censura pelo conteúdo explícito e dito “pornográfico demais”. Contudo, o que difere o trabalho que fazem de pornografia é a referência ao ato sexual e à emoção como única forma possível de interpretação por parte dos receptores. A intenção dos dois caminha na direção oposta, trata-se de ampliar a harmonia entre as emoções, os mitos, as composições e o próprio sexo como forma de entender o mundo. Por isso, o sexo retratado na arte do casal nunca é lúdico, engraçado ou irônico, pelo contrário, sempre aparece denso e sério, como num ato político. Tudo o que fazem é “tentar fazer valer a pena o peso dos próprios corpos”.
Saúde
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ENEMA por Ana Luiza de Lima
D entre os tabus que envolvem a vida sexual, o sexo anal talvez esteja no topo da lista. Mitos, fantasias e acima de tudo dúvidas rodeiam essa prática. A preocupação mais comum entre os “marinheiros de primeira viagem” é quanto ao momento da higienização. O enema é a lavagem da região anal para evitar fatores desagradáveis que podem atrapalhar o andamento da relação, como os constrangedores resíduos de fezes. Para auxiliar na introdução do líquido, pode ser usado um aplicador de borracha (o clister), mas muitos ainda preferem a maneira “caseira”, com o auxílio da mangueirinha do chuveiro. Conhecida também como “chuca” ou “duchinha”, essa prática é desaconselhada por muitos médicos, que alertam que o uso constante do método pode facilitar infecções na região. No entanto, nem todos os especialistas concordam sobre o perigo. Segundo o proctologista Olival de Oliveira Jr. o enema é muito superficial para causar qualquer dano à flora intestinal. “A área atingida pelo método é muito pequena para interferir no organismo dessa forma”, afirma.
Mesmo assim, o médico não recomenda o uso da técnica. “Em primeiro lugar, a própria auto execução do enema pode machucar e causar infecções graves”. Além disso, pessoas que utilizam muito o método, podem “viciar” a musculatura do intestino e impedir o seu funcionamento natural. A água utilizada na limpeza também é prejudicial, pois pode retirar a mucosa protetora e causar microlesões. Além disso, o cloro presente na água pode afetar o equilíbrio do intestino. Para fugir a esse procedimento, muitos acabam utilizando supositórios, mas nesse caso, a limpeza não acontece por completo e corre-se o risco de ainda assim restarem resíduos que atrapalhem o momento. Para quem quer fazer a higienização, o procedimento mais adequado é uma limpeza de forma leve. O proctologista indica o uso de uma seringa auricular para ajudar na introdução de forma a evitar contrações musculares. Não esquecendo da camisinha, indispensável no sexo anal, já que protege contra bactérias.
Colaboradora: Thalita Sejanes thalitasejanes@gmail.com
Avista,o pensar em uma colaboração para a reprocurei algo que realmente pudesse oferecer. Mais que mostrar algo, colaborar com a revista e colaborar com as pessoas. Uma colaboração que se parece mais com uma declaração ou um convite. Declaração porque aqui declaro a minha paixão por cadernos e é do meu amor ao desenho que vem a minha paixão por cadernos. De capa dura, de capa mole, de papel, de tecido, para lembrar e guardar. Ao ver um bonito caderno e a vontade que dá de folhear. Para suprir esse desejo que os ditos bons costumes frustram. Estes desenhos se referem e homenageiam os desenhos e anotações esquecidos em cadernos, mas que preenchem o nosso cotidiano. Em meio às anotações, afazeres, telefones. Desenhos e escritos despreocupados. Convite porque me dediquei a desenhar um modo de tornar uma informação
visível ao outro. E assim espero que outros colaboradores organizem seus fazeres em até dez passos e outros manuais apareçam nas próximas edições. As coisas que todos sabem fazer, são fáceis de fazer, mas a vida sem tempo nos impede de multiplicar. Como alguém que se dedica ao desenho e que através deles chegou aos cadernos, ofereço informações necessárias para fazer um caderno simples com as próprias mãos e dele fazer o que bem pensar. [Ver manual nas páginas 50 e 51].
Cultura
5 diretores e uma história circular por Vinícius Gallon fotos: Rosano Mauro Jr.
Aqualquernarrativa poderia se passar em grande cidade latino-americana, mas nenhuma se identifica tanto com transporte coletivo, nem é tão reconhecida pelo serviço como Curitiba. Além de ser um ícone da cidade, o circular é o cenário diário de milhares de pessoas desconhecidas, todas com suas histórias, cada uma com sua indiferença pelo próximo, mas que pode a qualquer momento ser determinante na vida de todos que ali estão, inclusive dando um novo rumo à história. É com esse clima que o longa “Circular – O Filme”, já em fase de edição, será produzido na capital paranaense e em outras duas cidades da Região Metropolitana durante este ano. Depois de realizarem vários curtas em conjunto, os cinco diretores Aly Muritiba, Fabio Allon, Bruno de Oliveira, Diego Florentino e Adriano Esturilho, resolveram fazer o primeiro longa-metragem. Para continuar
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com a parceria, os diretores pensaram em um esquema de roteiro colaborativo, mas que tivesse a estrutura de um curta-metragem. “Foi a partir disso que surgiu a ideia de interligar as cinco histórias num ônibus, que alem de ser um ícone da cidade é um microcosmos interessante, porque junta a história de um monte de gente diferente, unindo ricos e pobres num mesmo espaço, por exemplo”, conta Fabio Allon. As cinco histórias de que fala o diretor foram pensadas em conjunto num primeiro momento, mas a partir da identificação de cada um deles com os personagens, puderam dar mais corpo às histórias. “Pensamos em retratar o dia anterior de cada protagonista até chegar ao ônibus. Então,
cada um de nós pensou separadamente no perfil desses personagens e em como teria sido esse dia anterior ao desenlace que acontece no interbairros. Depois nos juntamos e identificamos várias coisas em comum que davam liga à narrativa, desenvolvemos melhor a história, criamos mais personagens que transitam entre as cenas e, por fim, bolamos os acontecimentos do ônibus”, relata Fabio. Dessa forma, ’ nasceram’ Carlos (Cesar Trancoso), um bandido estrangeiro que assalta o cobrador e pugilista Lourival (Santos Chagas) e faz Cristina (Letícia Sabatella), uma artista plástica grávida, de refém, e que por sua vez é surpreendido por Samuel, um policial evangélico (Marcel Szy-
manski). A trama conta ainda com uma banda Punk, os Gengivas Podres, lideradas por Vina (Bruno Ranzani). Ao todo, são 50 atores com fala e 500 figurantes. Para a atriz Letícia Sabatella, o convite para participar pela primeira vez de um filme paranaense veio em boa hora. “Estava mesmo querendo fazer alguma coisa aqui em Curitiba, e trabalhar com essa turma de jovens e talentosos diretores emergentes, com este elenco escolhido de forma tão especial, foi uma oportunidade maravilhosa”. A atriz destaca ainda, a liberdade que teve para construir Cristina, seu personagem, em conjunto com os diretores. “Apesar de não ter feito uma emersão como o núcleo Marcel, minha personagem foi pensada através de muita leitura, contato com a arte conceitual, com a casa em que ela mora, etc. A cada dia, a
gente sentava e analisava passo a passo de que forma a Cristina reagiria às situações por que ela iria passar”, descreve a atriz. “Circular”, que dentre outros assuntos fala sobre temas modernos como religião e violência, foi um dos cinco vencedores do prêmio de R$ 1 milhão do Edital de Longa-Metragem de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura (MinC) e deverá ser finalizado em dezembro. Só então começará a fase de negociação para a distribuição. “Essa fase é bastante demorada, provavelmente o filme vai entrar em festivais antes. Inclusive já cogitamos enviar para uma das mostras de Cannes, que é legal, porque ao contrário de outros festivais, como o Oscar, acaba dando espaço para pequenos realizadores”, idealiza o diretor Fabio Allon.
Geral
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Ndo design ão há como negar o valor no contexto cultural e
econômico atual. Há uma sinergia em traduzir os anseios sociais, históricos e identitários em produtos que aliem estética e funcionalidade. Por ter “nascido” com a Revolução Industrial a partir do século XIX, o design está intimamente relacionado à cultura de massa e à reprodução em série. Esta origem possibilitou e potencializou um dos maiores objetivos do segmento: o de trazer a fruição de objetos e equipamentos à vida do maior número de pessoas, independente da classe social. Ainda fez surgir o compromisso com as inovações, sem esquecer a simplicidade, fazendo mais e melhor sem desperdícios.
Foi pensando nestes princípios, que, este ano, Curitiba recebe a terceira Bienal Brasileira de Design, com o tema Design, Inovação e Sustentabilidade. Inclusive, os critérios balizadores para um produto ser exposto na bienal, tiveram que atender alguns critérios de avaliação. Quanto ao material: se utilizava matériasprimas recicláveis ou recursos renováveis. Ao processo: se o projeto permitia reduzir as sobras de material, se a distância entre os insumos e o local de produção era viável, e se havia economia de água e luz na produção . E quanto à atitude: se prolonga o tempo de uso do produto, se previa sistemas de uso compartilhado ou atitudes ecológicas, etc.
Design, Inovação e Sustentabilidade por Vinícius Gallon fotos: Vinícius Gallon
A pesar das discussões que envolvem sustentabilidade serem relativamente novas, passando a ter maior destaque a partir da década de 1990, o Brasil dispõe de certa vantagem em relação a outros países, principalmente quando o assunto é reciclagem. Faz parte da cultura familiar brasileira reutilizar, reinventar e transformar os objetos do cotidiano. É também uma política pública, através da lei aprovada este ano, que criou a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ela responsabiliza fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, de um lado, e União, Estados e Municípios de outro, a darem destino adequado ao lixo. Destaque para os catadores de lixo, responsáveis diretos por esta transformação.
Além de incentivar a busca pela satisfação das necessidades humanas aliada à preservação ambiental, a Bienal é um espaço de identificação das novas tendências, de divulgação da produção nacional e uma oportunidade de avaliação da situação social, econômica, tecnológica e ambiental do Brasil. Isso é possível graças à abrangência da edição deste ano, que acontece não só em um local, mas simultaneamente em vários lugares de Curitiba. O itinerário inclui espaços expositivos institucionalizados, como museus e universidades e espaços públicos com grande movimentação de pessoas, como os parques da cidade.
As 250 mil pessoas que são esperadas para o evento terão até o dia 31 de outubro para participar das mostras, seminários, fóruns, workshops, ações educativas, interativas e culturais paralelas. Há também a expectativa de que 500 mil internautas elejam o produto-destaque da Bienal de 2010.
Moda
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Inversão da Moda por Lívia Pulchério fotos: divulgação
N o início do moda parece
século XXI a marcada por uma máxima: ”nada se cria, tudo se copia”. Modelos e cortes aposentados ressurgem, tornandose peças indispensáveis nas novas coleções. Basta reparar na volta das ombreiras, que anteriormente estavam condenadas à cafonice dos anos 80. Mas essa mania de ressignificar roupas e acessórios não fica somente no resgate de artigos de outras décadas. Uma nova tendência é a inversão da moda entre o sexo feminino e masculino. Homens e mulheres invadem o armário e criam looks com peças que anteriormente eram restritas a cada sexo. As precursoras dessa tendência foram as drag-queens, que já se tornaram o símbolo do mundo fashion da nova geração, ao invés das divas do cinema e da música, como nas décadas passadas. Foi a partir delas que essa mistura passou a ser vista com outros olhos, como algo divertido e possível.
O s primeiros adeptos assumidos da troca de guardaroupas foram as celebridades hollywoodianas. Celebridades começaram a ser flagradas com as calças largas e confortáveis de seus maridos e em contrapartida, eles apareciam vestindo jeans cada vez mais justas.Os saltos altos também retornam aos sapatos masculinos, acessórios indispensáveis na corte de Luís XIV. A lista de adeptos inclui personalidades como presidente francês Nicolas Sarkozy, que apareceu com um modelo com tacão de sete centímetros. A barreira entre o que deve ser usado apenas por um sexo está cada vez mais estreita. Você pode até não ter notado, mas com certeza dentro do teu guarda-roupa, há uma peça que há alguns anos só era usada pelo sexo oposto.
Economia
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O Segredo do Vitório por Lívia Pulchério fotos: divulgação
Fíris,oiquiosques em meio a bandeirolas de arcocriativos e jovens com roupas diferentes que surgiu a ideia da Segredo do Vitório. O casal curitibano Flávia Bley e Paulo Stolfo, estava passeando em 2006 por uma região declaradamente LGBT de San Diego quando ela pensou: quero uma loja colorida e divertida! E de lá pra cá a brincadeira tomou vida. Ela, formada em letras com mestrado em lingüística, um currículo 100% voltado à vida acadêmica e apaixonada por objetos infantis, e ele, designer e desenhista de toy art. Começaram a pesquisar objetos na internet e viram que no mercado brasileiro havia um vácuo de objetos voltados para jovens adultos. Três mil reais foram o suficiente para que eles pudessem transformar o sonho em realidade. Com o dinheiro eles encomendaram os primeiros produtos do exterior, e com a venda destes iam comprando outros tantos até se consolidarem. Desde o princípio tinham a certeza de que a loja seria virtual. “Em nenhum momento passou pela nossa cabeça termos uma loja na rua e ficar esperando alguém passar ali na frente. Ainda mais em Curitiba, onde muitas ideias boas já fecharam”, relembra Flávia. A estrutura da Segredo do Vitório não exige muitos gastos. O escritório onde são estocados os produtos possui aproximadamente 50 metros quadra-
dos e o aluguel custa em torno de R$ 1000. A mensalidade do site é de R$ 600. Há um funcionário, e na alta temporada, como natal e dia dos namorados, é preciso contratar mais um ou dois. Além disso, a loja não gasta com publicidade, pois divulga seus produtos pela internet, e-mails, facebook e twitter. O sucesso é tanto que a loja já possui clientes em todo o país. “De todos os destinos que enviamos nossos produtos diariamente, eu diria que Curitiba não está nem entre os 10 primeiros”, confessa. Mais uma vantagem da loja virtual. O casal sempre recebe pedidos para que abram uma loja ou franquias em outros estados. “Talvez se abríssemos uma loja, teríamos que abrir em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Mas são dúvidas que ainda temos”. Há dois anos em funcionamento, a Segredo de Vitório só recebe elogios. Os cliente sempre parabenizam a loja pela agilidade na entrega, criatividade na embalagem do produto, e satisfação superada. Um dos fatores que o casal prioriza é a relação da empresa com o freguês. “A nossa maior cliente tem mais de 60 anos e mora em Salvador. Ficamos tão amigas, que batemos longos papos por e-mail. Sei que a mãe dela está internada no hospital e ela está sofrendo com isso. Mandamos até presentinho. Isso é mais do que conhecer pessoalmente”, conta Flávia.
Site: www.osegredodovitorio.com.br Facebook: O Segredo Do Vit贸rio Twitter: /segredodovitorio
Cultura
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por Ana Luiza de Lima fotos: divulgação
U ma melodia singular, construída a partir da combinação de variados instrumentos, como o piano, violão, acordeon, guitarra e teclados. Essa é a estrutura das composições do Wandula, que harmoniza as diferentes formações e experiências musicais dos integrantes e cria uma sonoridade atemporal, excursionando pelo pós rock, experimentalismo e minimalismo. O grupo surgiu em 1999, em Curitiba, composto pelo tecladista e pianista Marcelo Torrone, que incorpora na identidade musical, elementos da música minimalista e ambiente, inspirada em Yann Tiersen,
Philip Glass e o pós rock do Labradford. Juntou-se a ele, a cantora e a c o r d e onista Edith de Camargo, suiça radicada no Brasil, que traz influências de grandes intérpretes como Jane Birkin, Edith Piaf e Marlene Dietrich. A banda conta ainda com o guitarrista Rafael Martins, o baterista J.C Branco, o harpista e violinista Felipe Ayres e o baixista Denis Nunes, que agregam novos ritmos que variam entre o lirismo, o folk e o rock alternativo. A primeira apresentação foi em agosto de 1999, no auditório Antônio Carlos Kraide. Durante o X Festival de Inverno da UFPR,
em 2000, o Wandula, diminutivo de Wanda em polonês, despontou com uma das revelações da música contemporânea local e em 2001 foi selecionado para o projeto Itaú Cultural - Rumos Musicais, entre os 30 melhores grupos da região sul do país. Além da versatilidade sonora que contempla do erudito ao pop, uma outra característica marcante da banda é a variedade dos idiomas nas canções, escritas em português, inglês, francês e polonês. Para Torrone, isso amplia ainda mais as possibilidades criativas do Wandula, o que é um dos principais propósitos do grupo: buscar novas experiências sonoras. O primeiro álbum, intitulado “Wandula”, foi lançado em março de 2002. Destaca-se a participação especial de Lúcia Valeska, que acrescentou o som do cello em algumas
composições, como na polca “L’homme Aux Tâches De Rousseur”. Outras faixas do disco são a “A queda de Suzanne”, “Lovetears” e “Som novo”. O projeto rendeu ao grupo o prêmio Saul Trumpet, na categoria revelação, em 2003. “La Récreation”, o segundo trabalho da banda, foi lançado em novembro de 2007, no teatro SESC da Esquina. O CD duplo reúne 23 músicas inéditas, compostas no intervalo de 2003-2007. Entre as canções, “Sad Days” , a primeira experiência do grupo com o eletrônico e “Sans Toi”. Sem o guitarrista Rafael Martins, que excursiona com sua outra banda, o Copacabana Club, o Wandula se apresenta atualmente com um novo integrante: a violista Ana Paula Cervellini, que participa também do repertório novo do próximo projeto.
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Confissões dos velhos tempos por Ana Luiza de Lima fotos: divulgação
O envelhecimento de polêmicos líderes políticos é sempre
acompanhado de declarações contraditórias, súbitas mudanças de posição, demarcado por incoerências com o passado. Só escapam deste infortúnio aqueles que não sobreviveram para serem obrigados a assumir os erros cometidos por seus ideais. Os que permanecem, no entanto, são alvos constantes destes questionamentos que os levam a revisões de antigas ações.
Geral
C aso que comprova esta constatação é uma recente declaração do ex-presidente cubano, Fidel Castro. No início de setembro, durante uma entrevista ao jornal mexicano La Jornada, o líder da revolução cubana pediu desculpas pela intolerância do regime comunista com relação aos homossexuais. “Foram momentos de grande injustiça, e se alguém é responsável, sou eu”, afirmou, assumindo sua culpa com relação à homofobia de seu governo. Mesmo após ter desmentido outra confissão divulgada pela revista norte-americana “Atlantic”, em que declarava que o sistema cubano havia fracassado, o pedido de perdão do “Comandante” permaneceu como de sua autoria. Comunidades gays e ativistas de direitos humanos do mundo inteiro lutavam para que as autoridades cubanas assumissem a perseguição estatal a homossexuais. Em 1971, o Primeiro Congresso Nacional de Educação e Cultura de Cuba decretou que “os desvios homossexuais representam uma patologia anti-social, não admitindo de forma alguma suas manifestações, nem sua propagação, estabelecendo como medidas preventivas o afastamento de reconhecidos homossexuais, artistas e intelectuais do convívio com a juventude, impedindo gays, lésbicas e travestis de representarem artisticamente Cuba em festivais no exterior”. Além desta oficial hostilidade aos homossexuais, foram criadas Unidades
Militares de Ajuda à Produção (UMAP), campos de reeducação cujo objetivo era readaptar sexual e socialmente cidadãos condenados por “conduta imprópria”, através do trabalho forçado em canaviais. Para Fidel, a causa do homossexualismo estava relacionada à indolência do ambiente e o campo era incapaz de gerar o que se referia como “subproduto”. Consagrados artistas e escritores homossexuais cubanos foram enviados a estes centros de recuperação, onde eram submetidos a cerca de dezesseis horas de trabalho forçado, em condições desumanas. Entre eles, Virgílio Piñera, Lezama Lima e Reinaldo Arenas, que retratou o sofrimento durante o período em que esteve retido no romance autobiográfico “Antes que anoiteça” (veja mais no box). Em 1980, milhares de cubanos embar-
caram para os Estados Unidos, com apoio do regime castrista e do governo norte americano. Entre os expatriados, dissidentes, criminosos, doentes mentais e homossexuais. Apesar da homossexualidade ter sido descriminalizada em 1979, a força estatal continua reprimindo pessoas devido a sua orientação sexual, segundo a confederação espanhola LGBT Colegas. Uma simples pedido de desculpas de um dos responsáveis pela opressão do governo não modifica o tratamento deplorável ao qual muitos foram sujeitos. Mas ignorar ou mesmo contestar a marginalização dos homossexuais não é mais uma alternativa frente a quantidade de informações disponíveis sobre os erros do regime. Redimir-se publicamente é o mínimo.
U m dos mais conhecidos escritores cubanos, Reinaldo Arenas nasceu em Holguín (Cuba). Apoiou a revolução cubana e se juntou aos rebeldes quando tinha 15 anos. O totalitarismo do regime castrista, a censura, as prisões de intelecutais e as UMAPs fizeram com que o escritor se posicionasse contra o governo cubano. O fato de ter sua homossexualidade assumida publicamente o classificava como contra-revolucionário. Foi preso em 1973, sob a acusação de ofensa aos costumes, mas conseguiu escapar da ilha nos anos 80. Nos Estados Unidos, concluiu sua comovente autobiografia através de gravações de voz, já que não conseguia mais escrever, debilitado com o avanço da AIDS, diagnosticada em 1990. Suicidou-se em dezembro do mesmo ano, em Nova Iorque. Sua obra foi adaptada para o cinema em 2000, dirigido por Julian Schnabel e com Javier Bardem no papel de Arenas.
Internet
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PEIXE URBANO - Primeiro site de compras coletivas do Brasil, oferece promoções de estabelecimentos de várias cidades, inclusive Curitiba. As ofertas variam de 50 % a 90%, em restaurantes, spas, teatros, bares. O Peixe Urbano envia por email um desconto válido por um determinado período e é necessário que um mínimo de compradores o adquira. Depois de comprar, o cliente deve aguardar a aprovação e esperar o recebimento do cupom, que será enviado em até 24h depois do término da promoção. Para receber os descontos é só se cadastrar no site. Além dos informativos enviados por email, o site conta com perfis no twitter, orkut e facebook. www.peixeurbano.com.br
NEONICO - O portal destaca-se por apresentar assuntos relacionados ao comportamento masculino atual, com ênfase em moda. Comandado por uma equipe formada por diferentes profissionais, entre eles publicitários, fotógrafos, estilistas e jornalistas. A página conta com diferentes espaços, como a Wishlist, que traz uma lista com os melhores produtos da estação selecionados por Guto Magalhães e a Watch, a TV do espaço que traz vídeos, coberturas e outros formatos. Uma das seções mais criativas é o blog, assinado por Felipe Teobaldo, que faz uma análise e contextualiza novas tendências. Outro atrativo do blog são os posts, com abordagem mais intimista que trazem aspectos do cotidiano do autor. www.neonico.com
Entretenimento
Ede stereótipos parecem ser indissociáveis programas de televisão, tanto no enredo, na temática e nos personagens. Essa caricatura excessiva é ainda mais nítida quando o roteiro aborda a homossexualidade. Fanáticos por Madonna, personalidade expansiva, feminilidade exagerada e futilidade são algumas das características que os roteiristas abusam para criar esses papeis, normalmente voltados ao humor. Mas esse não foi o caminho escolhido pelos criadores da premiada série norte-americana, “ A sete
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palmos”, de 2001, que desconstrói esses tipos pré-moldados e resgata os personagens televisivos da superficialidade. Após a morte do pai, o primogênito retorna a casa para ajudar o irmão no negócio da família, uma funerária. É a partir desta premissa que a história da série se desenvolve, desvelando a ambiguidade e complexidade dos membros de uma família aparentemente convencional. Um dos grandes destaques da série, é David Fisher (Michael C. Hall), o filho do meio que abdica seus sonhos para agra-
dar ao pai e trabalha com ele na funerária da família. Logo no primeiro episódio é revelado que David é homossexual e mantém um relacionamento com o policial Keith Charles (Matthew St. Patricks) O roteiro se desfaz de todos os clichês ao criar um personagem que não possui os típicos trejeitos femininos exacerbados e que devido ao preconceito que o rodeia, tem dificuldades para aceitar-se. A moral na qual David se apoia é o principal clichês que o impede de assumir sua homossexualidade e enfrentar a retrógra-
da discriminação ao qual ficaria sujeito Ao propor discussões mais profundas sobre a homossexualidade, “A Sete Palmos” evidencia a hipocrisia de uma sociedade na qual as pessoas ainda se recriminam por não seguirem certas “regras” de uma moral , que na realidade não cabe mais ao mundo em que vivemos.
por Ana Luiza de Lima fotos: divulgação
Editorial Expediente
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Revista Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Edição 01 | Outubro | 2010 PUCPR - Rua Imaculada Conceição, 1.155, Prado Velho, Curitiba-PR Reitor - Clemente Ivo Juliato Diretora do Curso de Jornalismo - Mônica Fort
Jornalista Responsável - Cícero Lira Coord. de Projeto Gráfico - Miriam da Fontoura Editor Geral: Vinícius Gallon Editora de Arte: Lívia Pulchério Diretora de Redação: Ana Luiza de Lima Diretora Comercial: Lorena Oliva Colaboradora: Thalita Sejanes Repórteres: Ana Luiza de Lima, Lívia Pulchério, Lorena Oliva e Vinícius Gallon.
Editorial
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