Revista Giro Cultural

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n.1 outubro 2014

POR QUE NÃO NÓS? Deixada de lado em boa parte dos grandes shows, Curitiba precisa melhorar em alguns pontos importantes para tentar voltar ao circuito nacional dos grandes eventos musicais.

Frida Kahlo

Cristovão Tezza

Simplificar ou não?

Exposição fotográfica mostra a vida e a personalidade da artista.

Escritor conta sobre suas obras e sua relação com a literatura.

Versões adaptadas para novos leitores causam polêmicas. outubro/2014 giro cultural

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PROPAGANDA

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PROPAGANDA

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PROPAGANDA

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EDITORIAL

Conheça a Giro Cultural É com alegria que lançamos, agora em outubro, a revista Giro Cultural. Desde o principio, nosso objetivo era proporcionar conhecimento e disseminar a cultura para diversas esferas da sociedade e, agora, finalmente estamos no caminho para este ideal. Foram meses de pesquisa e trabalho, pensando de que forma poderíamos construir este produto e que assuntos iriamos abordar. De início, percebemos a carência de publicações voltadas para o jornalismo cultural que falassem para o público curitibano. Decidimos apostar nisso, criando conteúdo sobre variados assuntos, mas que sempre dialogassem com os moradores da capital paranaense. Queremos que você, leitor, descubra o que há de interessante na nossa cidade. Porém, nosso objetivo é também proporcionar reflexões a respeito de outros assuntos, provocando-o para que você pare e reflita sobre o que está acontecendo no universo cultural. Na Giro Cultural, falaremos sobre as sete artes universais, são elas: arquitetura e escultura, dança, literatura, música, pintura, cinema e teatro. Todas elas terão espaço, dando destaque a todos os assuntos. Também temos entrevistas, perfis, indicações culturais e críticas. Tudo pensado para trazer conhecimento, informação e entretenimento. Em nossa matéria de capa, buscamos entender porque Curitiba saiu do circuito dos grandes shows realizados no Brasil e o que ela precisa fazer para ingressar novamente neste meio. Falamos sobre os problemas enfrentados para se realizar eventos de pequeno e médio porte. Além disso, trouxemos um texto sobre a famosa artista Frida Kahlo. A exposição “Frida Kahlo – As Suas Fotografias” fica em Curitiba até novembro e mostra um pouco mais do lado pessoal da mexicana, seus dramas e amores. Nesta edição trazemos uma matéria sobre as principais casas históricas de Curitiba e em quais movimentos artísticos foram inspiradas, além de uma matéria sobre o grafite na capital paranaense. Você ainda confere um perfil com o colecionador de discos Horácio de Bonis e uma coluna, especial para a revista, escrita por Raphael Montes, promessa da literatura policial brasileira. Boa leitura!

EXPEDIENTE: Editoras-chefes: Camila Tuleski Tebet, Maria Luiza Britto de Paula e Stephany Moreira Guebur. Repórteres: Camila Tuleski Tebet, Maria Luiza Britto de Paula e Stephany Moreira Guebur. Fotos: Camila Tuleski Tebet,

Maria Luiza Britto de Paula e Stephany Moreira Guebur. Colunistas: Raphael Montes Projeto Gráfico: Charles da Silva Orientadora: Ana Paula Mira Coordenadora do curso de Jornalismo: Zaclis Veiga Reitor da Universidade Positivo: José Pio Martins Tiragem: 5000 exemplares Contato: girocultural@girocultural.com.br www.facebook.com/girocultural www.instagram.com/girocultural www.twitter.com/girocultural 1ª edição, outubro 2014 A revista Giro Cultural faz parte de um projeto acadêmico, como parte do Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da Universidade Positivo. Não tem como objetivo nenhum lucro comercial. Todo o material é de direito autoral de seus editores.

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SUMÁRIO 06 07 08 10 12 16 22 23 24 28 Espaço do leitor

O que é cultura para você?

Drops Cultural

Indicações Culturais

Entrevista

Cinema

Crítica de cinema

Perfil

Capa: Esqueceram de nós?

Música

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30 33 35 42 44 50 54 58 64 66 Crítica de música

Coluna de Raphael Montes

Literatura

Crítica literária

Arquitetura e Escultura

Pintura

Dança

Teatro

Fora do eixo

Agenda

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ESPAÇO DO LEITOR Olá, a “Giro Cultural” é uma revista feita especialmente para você e leva muito em conta a sua opinião! Mande para nós, por meio das redes sociais ou do e-mail girocultural@girocultural.com.br, as suas sugestões, reclamações e opiniões sobre as matérias. Você pode também dar dicas de livros, filmes e outros produtos que valem a pena conhecer! Não deixe de escrever para nós.

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a r u ? ê t c l o cu para v

é e u Oq

Tem a ver com o modo de ver das pessoas. Cada um tem a sua própria cultura, uma cultura diferente. Começa da base, com a educação que ela tem pelos outros, por exemplo.

Culturas são práticas que seguem o padrão de uma sociedade, ou de grupos dentro dela. Podem ser: musicais, literárias, religiosas, políticas, entre outras.

(Vitor Luiz, 20 anos, Lojista)

(Renan Alves, 21 anos, Sistemas de Informação)

Cultura é a pessoa estar aberta às possibilidades. Não adianta apenas estudar, precisa ter a mente aberta. As pessoas precisam ser cultas neste sentido. (Salete Machado, 40 anos, Recepcionista) Eu acho que cultura não existe mais na nossa sociedade, não consigo achar em lugar nenhum. Nem mesmo nos livros, hoje em dia. (Luana Oliveira, 31 anos, Balconista) A cultura é a essência de um povo, que começa com os pais, que ensinam quem ele é e formam a maneira de pensar. É uma parte importante da vida. (Antoni N. N. Martins, 51 anos, Lojista) Cultura é um bem imaterial, que todos nós adquirimos ao longo da vida e que ajuda a formar nossas opiniões e ideias. (Maiara Rossi, 23 anos, Assistente de Produção em Áudio) É o conjunto de crenças, conhecimentos e costumes de determinado meio social que confere o modo de agir, pensar e realizar atividades conforme os princípios norteadores da cultura propriamente dita da sociedade na qual o indivíduo está inserido. Nesse contexto, a cultura é responsável por ditar as condutas na esfera social das pessoas nela envolvidas e evidenciar a essência de certo grupo social.

Eu consumo principalmente coisas relacio-

nadas ao cinema. Acho que cultura tem um conceito muito amplo, é difícil de definir, mas podemos dizer que ela é a representação do povo. (Ivanicio Luiz de Almeida, 50 anos, Bancário)

Cultura pode ser entendida de várias maneiras, mas, para mim, ela desenvolve o entendimento e costumes de um grupo que o denomina pelo que é. É necessário sempre buscar seu aperfeiçoamento. (Beatriz Nery, 21 anos, Estudante) Eu, como professora de dança, bailarina há 13 anos e amante de teatro, acho que posso conceituar a cultura como um ramo da educação, no qual se aprende de forma muito simples e prazerosa sobre as coisas práticas da vida. (Débora Moreno Ribeiro, 22 anos, Professora de Dança) Eu acho que cultura é um conjunto de valores e ideias que cercam um grupo de pessoas. Apesar de ser importante, acho que pode ser interpretada erroneamente. Muitas vezes eu vi a cultura ser usada como desculpa para atitudes preconceituosas e violentas, por isso acho que o assunto vai longe. (Felipe de Lara, 20 anos, Estudante)

(Renato Gusso, 21 anos, estudante de Direito)

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DROPS CULTURAL

“O Pintassilgo”, romance vencedor do Pulitzer, chega ao Brasil Vencedor do prêmio Pulitzer de ficção, um dos principais em língua inglesa, o romance “O Pintassilgo”, da autora Dona Tartt, foi lançado no país em agosto, pela editora Companhia das Letras. O livro, publicado em 2013 nos Estados Unidos, vem ganhando a atenção positiva tanto do público quanto da crítica. Vendeu mais de 1,5 milhão de cópias em seu país de origem, foi publicado em 28 línguas e será adaptado em breve para o cinema pelo estúdio Warner Bros. A obra conta a história de Theo Decker, um nova-iorquino que tem a vida virada do avesso quando perde a mãe ainda garoto. Após o acidente que a matou, Theo passa por uma série de infortúnios e em determinado momento se vê encantado por uma pequena pintura do pintor holandês Carel Fabritius, de 1654, que exerce importante papel na história.

‘Faroeste Caboclo’ vence Grande Prêmio do Cinema Brasileiro O filme “Faroeste Caboclo” foi o grande vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, que aconteceu no dia 26 de agosto, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O longa, baseado na canção homônima da banda Legião Urbana e feito por René Sampaio, foi premiado em sete das 13 categorias nas quais concorria. Além de melhor longa-metragem de ficção, venceu as categorias de melhor ator para Fabrício Boliveira, melhor roteiro adaptado para Marcos Bernstein e Victor Atherino, melhor direção de fotografia para Gustavo Hadba, entre outras. Agora, Sampaio pretende adaptar “Eduardo e Mônica”, também do Legião Urbana.

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Álbuns póstumos de Jimi Hendrix são relançados Dois álbuns póstumos do guitarrista americano Jimi Hendrix (1942-1970) foram relançados no dia 15 de setembro, em formatos de CD, vinil e digitais. “The Cry of Love” e “Raibow Bridge” foram inicialmente lançados em 1971. As músicas que compõem os discos foram gravadas entre dezembro de 1969 e o início de 1970, em Nova York. Quem deseja saber mais sobre a vida do artista poderá, em breve, assistir ao documentário “All Is By My Side”, dirigido por John Ridley e lançado nos Estados Unidos no dia 26 de setembro, ainda sem previsão de lançamento no Brasil.

Banda do Mar lança primeiro disco A Banda do Mar, formada por Marcelo Camelo, Mallu Magalhães e Fred Ferreira, lançou no dia 25 de agosto o seu primeiro álbum. O disco, que leva o nome do grupo, conta com 12 músicas inéditas, como “Mais Ninguém”, que é também o primeiro videoclipe do trio. Em outubro e novembro, o grupo faz a sua primeira turnê pelo Brasil. A estreia será em Porto Alegre, no dia 10 de outubro. Em Curitiba, o show está marcado para 22 de novembro.

Boa notícia: público de cinema cresce 10% no país De acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), em relatório lançado no dia 25 de agosto, o público de cinema no Brasil cresceu 10% no primeiro semestre de 2014. Os dados são em relação ao mesmo período do ano passado. Enquanto em 2013, de 3 de janeiro a 2 de julho, 73,2 milhões de pessoas foram ao cinema, neste ano o número subiu para 80,6 milhões. O público deste ano deu preferência a filmes estrangeiros, que tiveram maior oferta. Do total de espectadores, 85,8% assistiram a filmes de fora do Brasil. Em relação ao ano passado, houve redução de 15,8% no público do cinema brasileiro.

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Crédito:: Acervo Pessoal

INDICAÇÕES CULTURAIS Jeff Koons é considerado um dos artistas mais importantes, populares e controversos do pós-guerra. Ao longo de sua carreira, ele questionou os limites entre a arte e a cultura de massas, desafiou as limitações da fabricação industrial e colaborou para alçar os artistas ao status de celebridades. Jeff se interessa por símbolos, por arquétipos da humanidade: o coração, o balão, os brinquedos. Ele se conecta a histórias relevantes de nossa cultura e investiga o que desperta nossos desejos. Uma de suas obras mais conhecidas é o Cão-Balão, que representa os bichinhos feitos com balões para crianças, mas é feito em aço com polimento perfeito e precisão rara.

Crédito:: Acervo Pessoal

(Zilda Fraletti, especialista em artes plásticas e escultura)

Rogério Borges ė um artista surpreendente. E até mesmo essa palavra é apenas uma, dentre as tantas escolhidas para decifrar seu trabalho. Ele pinta com som alto, muito alto, até de madrugada e, às vezes, quando vou até a janela do seu atelier, já tarde da noite, ele está concentrado com seus pincéis e comendo pipoca. Seu estilo, a meu ver, é steam punk, dark, exótico e altamente lúdico, com seus fundos negros que lembram o universo e suas galáxias, com figuras que parecem ter nascido de planetas distantes e ao mesmo tempo perto de todos nós... ah, a dualidade que nos acompanha, que aliás, também está muito presente em sua obra. E percebo claramente quando alguém vê algum quadro do Rogério, as nuances corporais mudam: os olhos brilham, a boca abre, os pelos arrepiam e com certeza sonharão colorido.

Crédito:: Acervo Pessoal

(Maureen Miranda, artista plástica)

Rodrigo Lemos é um cara que já está no cenário curitibano e nacional há algum tempo. Além de produtor (ele dirigiu nosso último registro chamado “(sic)”), é fundador das bandas Poléxia e Banda Mais Bonita da Cidade, participa de projetos como Naked Girls and Aeroplanes (com o pessoal do Esperanza) e tem seu projeto solo genial chamado Lemoskine. Esse último talvez tenha sido o nosso álbum curitibano favorito. As músicas do disco Toda Casa Crua (2012) são impecáveis na produção e na melodia e possuem um estilo bastante próprio dentro do que está sendo feito no Brasil. Indicamos de olhos fechados e ouvidos abertos. (Will França, Luciano Costa, André Gonçalves e Bruno Lopes, integrantes da banda Colorphonic)

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Crédito:: Acervo Pessoal

Eraserhead (1977), dirigido por David Lynch. A estreia do diretor David Lynch em longas-metragens não é apenas um filme, mas uma experiência audiovisual. A estranha e enigmática trama sobre um homem e seu bebê mutante é apenas acessório em uma produção que desafia o espectador ao emular os aspectos sombrios de um pesadelo, em uma fotografia em preto e branco repleta de trucagens visuais. Perturbador e por vezes grotesco, Eraserhead não é para ser compreendido, mas sim vivenciado – por isso, continua acessível para poucos, àqueles dispostos a mergulhar nesse universo surreal onde a própria imaginação do espectador é elemento fundamental.

Crédito:: Acervo Pessoal

(Rafael Waltrick, crítico de cinema)

Com tantas opções de entretenimento, ir ao teatro parece ser um hábito muito velho... e é! Mais que isso, o teatro é antigo e moderno ao mesmo tempo, pode ignorar ou acompanhar as novidades tecnológicas, mas seu diferencial está na magia que, em tantos tempos, encanta pessoas e oferece experiências únicas, efêmeras, como viagens que levamos dentro de nós. Rir, chorar, pensar, sentir... Sentir-se humano! Como diria Drummond: “Ir ao teatro é como ir à vida sem nos comprometer!”

Crédito:: Acervo Pessoal

Crédito:: Acervo Pessoal

(Sônia Morena, profissional com 30 anos de teatro)

Tudo do Dalton, é claro. Mas se for para apontar um título, dá para começar pelo óbvio mesmo, “O vampiro de Curitiba”, que foi o meu primeiro, a primeira mordida que levei, lá na infância. Tem também uma coletânea clássica, “Em busca de Curitiba perdida”, que junta todos aqueles poemas incríveis e incontornáveis do Dalton, como “Receita de Curitibana”, “Lamentações da rua Ubaldino”, “Canção do Exílio”, “Lamentações de Curitiba” e “Curitiba Revisitada” — aquele que mete bronca no Lerner. (Luís Henrique Pellanda, contista e cronista curitibano)

Uma ótima pedida para quem se interessa pelo mundo da dança é o filme “Flashdance”, pois retrata os anos 80 com qualidade e fala um pouco daquilo que gosto de chamar de “mundo tóxico da dança” e de como uma jovem operária consegue driblar determinados estereótipos em sua luta para entrar numa determinada escola de dança. É um romance musical que nos faz perceber diversos paradigmas sociais. Em três palavras: cativante, emocionante e motivador. Um filme que nos inspira a construir outras realidades, sem dúvida. (Danielle Kuchla, professora de dança)

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ENTREVISTA

CRISTOVÃO TEZZA Por Stephany Guebur

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ristovão Tezza é um ícone na literatura paranaense. Apesar de ter nascido em Lages (SC), o escritor se mudou para a capital paranaense com oito anos de idade. Talvez esse seja um dos porquês de na sua literatura os personagens visitarem as ruas da cidade de Curitiba e pontos turísticos. “Gran Circo das Américas” foi o seu primeiro livro publicado em 1979, pela Editora Brasiliense. Porém as suas obras mais conhecidas são: Trapo (1988), O Professor (2013) e O Filho Eterno (2007). Este último fala sobre a relação entre um pai e seu filho, que possui síndrome de Down, algo que o escritor vivenciou na vida real. Além de escritor, está sempre participando de eventos sobre literatura, é professor universitário e escreve crônicas para jornais. Tezza deu uma entrevista exclusiva para a Giro Cultural. O resultado você confere abaixo.

01 O que te levou para a literatura? Você sempre sentiu a necessidade de escrever? Não sei exatamente o que me levou à literatura - como no caso dos desastres de avião, a razão nunca é uma só. O que eu sei é que lá pelos 13 anos comecei a escrever os primeiros poemas e logo comecei a me ver como um “escritor”. E não parei mais.

02 Quais são as obras literárias que mais marcaram para você? Por quê? Quais são as suas principais influências? Cada época da vida tem suas influências. Na infância e juventude comecei lendo Monteiro Lobato, Júlio Verne, Conan Doyle. Em seguida fui abrindo o leque de leituras e referências. Em outro momento, passei a ler Dostoiévski, Gabriel Garcia Márquez, Jorge Luiz Borges, Júlio Cortázar, William Faulkner, Albert Camus. Dos brasileiros, mergulhei em Graciliano Ramos e Carlos Drummond de Andrade. Mas há sempre algo de miseravelmente incompleto nessas listas da memória. Em cada década, surge todo um novo conjunto de preferências. Nunca me senti influenciado por este ou aquele escritor. O que faz o escritor é muito mais do que apenas suas leituras.

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03 No início de sua carreira, você escreveu contos que estão reunidos no livro “A Cidade Inventada”. Em 2011, também lançou uma coletânea de contos, mas não escreve mais esse gênero. Tem alguma razão para isso? É um mistério, mas sou substancialmente um romancista. Quando começo uma narrativa, ela sempre acaba ganhando um fôlego de 200 páginas, por assim dizer. Escrevi outro livro de contos, “Beatriz”, que saiu em 2011, mas foi um caso à parte. E, curiosamente, todos os contos têm a mesma personagem, Beatriz. O que é mais uma ideia de romancista do que de contista.

04 Você lê de tudo ou não? Bem, de quase tudo. Leio muita ficção, muito ensaio, muita história. A leitura para mim é um prazer maravilhoso.


05 Nos seus livros, temos contato com outras artes, como teatro e pintura. As experiências que você teve nessa área ajudou-o a desenvolver o seu estilo na literatura? Sem dúvida. O teatro foi uma experiência fundamental para mim - eu comecei escrevendo peças de teatro, trabalhei com teatro, fui ator e diretor. Isso deixou marcas no meu texto. Há um toque de “oralidade” em tudo que escrevo, e sinto que isso veio do teatro. Já a pintura foi um hobby de juventude; e, é claro, todo escritor precisa conhecer pelo menos algumas referências da história da arte. Mas o estilo, a nossa linguagem, essa nasce de um impulso estritamente literário. Uma voz que amadurece ao longo de muitos anos.

06 A maioria dos autores diz que é preciso uma certa solidão para escrever. Você concorda? Sem dúvida. Escrever é um ato de solidão. Você passa muito tempo lidando com a própria cabeça, mesmo quando aquilo que nos povoa são os outros.

07 Você está satisfeito com os livros que escreveu? Se pudesse reescrevê-los, mudaria alguma coisa? Não, nunca estou muito satisfeito. Às vezes mais, às vezes menos, mas parece que sempre falta algo. Bem, estou relançando todos meus romances pela editora Record, e isso me levou a rever e retrabalhar alguns dos romances antigos. Alguns deles foram relançados sem que eu trocasse uma única palavra, como “Trapo” e “Uma noite em Curitiba”. Outros foram bastante revisados, com algumas mudanças importantes, como “Aventuras provisórias” ou “Breve espaço”. Não sei bem por quê.

08 Como você cria um personagem? Comigo, acontece assim: eu “vejo” mentalmente alguém numa situação qualquer, e dali vou acrescentando informações, até que eu sinta que o personagem “fica em pé”. É um processo demorado, às vezes de anos, e fundamentalmente intuitivo. É a imaginação temperada pela experiência e pelo senso de realidade.

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09 Quanto tempo, em média, você leva para escrever um romance? Você costuma realizar pesquisas antes de começar a escrever? Escrevo um romance em um ano e meio, dois anos; essa é a minha média. O tempo entre escrever a primeira palavra e entregar o livro à editora. Mas a ideia do livro sempre vem antes, às vezes muito antes. O projeto de “O professor”, por exemplo, já estava há cinco anos na minha cabeça. Sobre a pesquisa, ela sempre acontece durante o livro, se o livro exige. “O professor”, por exemplo, exigiu bastante pesquisa, mas eu só pesquisava quando o momento romanesco assim o exigia.

10 Alguns de seus livros contém traços autobiográficos. Como é separar acontecimentos reais da ficção? A ficção é um impulso muito forte - quando eu entro nela, o elemento autobiográfico perde o sentido “biográfico” e se torna, simplesmente, tema ou referência. Para o leitor, a suposta “verdade” de um romance deixa de ser importante. O único livro realmente autobiográfico que escrevi foi “O espírito da prosa”, porque ali havia uma intenção objetivamente factual e biográfica. Nesse caso, o fidelidade factual é relevante.

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11 Como você decidiu escrever “O Filho Eterno”? Foi difícil contar uma história tão próxima da sua vida pessoal? Decidi escrever porque o problema pessoal não existia mais - era um fato distante da minha vida. E de repente eu senti que não queria passar a vida sem enfrentar esse tema, pela vida da literatura. Sim, foi difícil, não tanto por ser pessoal, mas porque o desafio literário era muito grande - como dar qualidade literária a um livro que, pelo tema, teria tudo para cair no sentimentalismo e na pieguice? Aquele “pai” na terceira pessoa, e o narrador que se afasta e se aproxima dele o tempo todo, foram as chaves do romance.

12 “O Filho Eterno” ganhou vários prêmios. Você esperava este reconhecimento pela obra? Sinceramente, não. Eu achava que o livro teria algum impacto, mas achava que poderia não ser tão positivo. Assim, a sequência de prêmios, o sucesso junto aos leitores e as traduções que surgiram foram surpresas ótimas.


13 Você coloca bastante da cidade de Curitiba na sua literatura. Como é a sua relação com a cidade? À medida que meu texto se aproximou de uma observação mais realista e menos onírica do mundo, uma virada que aconteceu com “Trapo” (escrito em 1982 e publicado em 1988), Curitiba começou a entrar nos meus livros como um espaço literário privilegiado. De certa forma, a atmosfera curitibana acabou por dando um toque importante ao meu texto, embora eu não saiba dizer exatamente como.

14 Escrever crônicas para o jornal mudou sua relação com o leitor?

No livro “O Professor” você fala do tema envelhecimento. Tem alguma razão para isso? Bem, envelhecer é parte substancial e incontornável da condição humana. Por isso mesmo, é um tema literário por excelência. Bem, e como estou ficando velho, comecei a pensar mais detidamente neste processo...

16 Como você avalia a produção literária no Brasil? Está faltando alguma coisa? A literatura brasileira está passando por um renascimento muito interessante, depois de um bom tempo de refluxo. São várias causas, começando pelo advento da internet, que alavancou muito fortemente o trânsito da literatura, passando pelos blogs e a venda dos livros, até o aumento da base de leitores pelo crescimento e urbanização do país desde a implantação do Plano Real. No mais, falta o de sempre: melhorar o padrão educacional brasileiro, que está muito aquém do que o Brasil precisa para realmente se civilizar.

Crédito:: Guilherme Pupo

Bem, são relações bastante diferentes com o leitor. A crônica se faz sobre um leitor “imediato”, por assim dizer; o meio, o jornal, influencia brutalmente a crônica. Eu penso objetivamente no leitor quando escrevo uma crônica. É quase uma conversa social em voz alta, num momento concreto. Já a literatura tem uma pegada completamente diferente. O leitor do romance que escrevo sou eu mesmo; é um processo lentíssimo. Entre a ideia e o livro pronto, se vão anos de trabalho. E a expectativa de um leitor de romance é completamente diferente da expectativa do leitor de uma crônica, com o jornal do dia diante dele.

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CINEMA

VOCÊ SABE O QUE É UMA BOA ADAPTAÇÃO LITERÁRIA? Nem sempre a melhor adaptação literária para o cinema é a mais fiel ao livro. É preciso trazer diferentes visões para a história. Por Camila Tebet

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ara você, o que representa uma boa adaptação literária para o cinema? Ao contrário do que muitos pensam, um bom filme adaptado não é basicamente igual ao livro, e sim aquele que traz novas visões para a obra. Cineastas e críticos destacam que, ao se realizar uma adaptação literária, deve-se ter a consciência de lidar com linguagens diferentes, a literária e a cinematográfica, sendo que ambas possuem suas respectivas especificidades. Portanto, roteiristas e diretores têm a liberdade de alterar fatos da história original, não possuem a obrigatoriedade de se prender às palavras exatas dos livros a serem adaptados.

De acordo com Aly Muritiba, diretor do festival Olhar de Cinema e administrador da Grafo Audiovisual, não é qualquer adaptação que pode ser considerada boa. “Um filme excessivamente literário é ruim. O importante é se basear na obra e criar outras formas de apresentar a história”, afirma. O curador do festival e também administrador da Grafo Audiovisual, Antônio Júnior, concorda. Para ele, uma boa adaptação é “aquela que incorpora alguns aspectos do livro, mas que seja algo novo, diferente, seja de fato adaptada ao cinema e não somente uma tentativa de reprodução do escrito, agora com personagens e cenários reais”.

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Antônio Júnior destaca que as adaptações trazem diferentes visões e releituras da obra original. Porém, apesar de serem interessantes, carregam também bastante responsabilidade, ainda mais quando a obra já é famosa. Segundo Matheus Guimarães Borges, estudante de Cinema e Audiovisual na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e criador da página “365 filmes em 1 ano” no Facebook, uma boa adaptação é aquela que entende o material a ser adaptado e encontra no cinema, nas imagens e sons, meios de representá-lo. “O intercâmbio entre artes é sempre interessante e bem vindo. Realizar adaptações permite que uma obra seja explorada segundo diferentes critérios artísticos e, portanto, traz novas possibilidades de apreciá-la, além de torná-la acessível a outros públicos”, enfatiza. Para o cineasta Pedro Merege, que possui mais de 30 anos de carreira, é preciso se libertar do rótulo “adaptação”. O filme deve ser inspirado no texto literário, mantendo a sua essência e espírito, os climas narrativos e as características mais marcantes. “O importante é o que a obra pode suscitar que ela gere o interesse e permita a criação de outra obra importante”, explica. Antônio Júnior também destaca que, às vezes, o que funciona no papel é completamente diferente no audiovisual: “O importante é fazer um bom filme, e não se preocupar o quanto mudou ou não o livro”.


O que pode ser mudado? Na hora de realizar uma adaptação literária, é permitido mudar suas características originais, acrescentando ou retirando elementos da história. Porém, vale destacar que a sua essência deve ser mantida. Para Borges, o único critério a ser seguido na adaptação de um roteiro é o bom senso. “Cada obra exige um processo de adaptação próprio. Muita coisa precisará ser deixada de lado, e tantas outras inseridas para não deixar lacunas”, explica. Além disso, o estudante destaca que os responsáveis pela adaptação devem ter um conhecimento amplo da linguagem literária, para que interpretem corretamente as intenções do autor e da construção narrativa, de forma que não sejam replicadas, e sim adaptadas. Para Antônio Júnior, o critério é pensar que um audiovisual deve ser elaborado de maneira diferente. A cineasta curitibana Carla Pioli concorda. De acordo com ela, não há problema em alterar fatos da história, desde que se transmita a sua essência. “Estamos falando de linguagens diferentes, portanto é natural que uma adaptação não seja necessariamente fiel ao texto original”, explica. “Uma adaptação consiste em uma interpretação da obra. Uma vez que se lida com diferentes linguagens, aquilo que funciona em uma poderá não funcionar em outra, e, portanto, cabe à equipe responsável pela adaptação priorizar elementos relevantes”, destaca Borges. Para ele, não há um limite na alteração de fatos da história. Cada obra exige uma interpretação individual e os elementos podem ser trabalhados com diferentes níveis de

liberdade. O estudante cita, por exemplo, a adaptação do filme “O Nevoeiro”, de 2007, realizado por Frank Darabont e adaptado de um conto de Stephen King. Na versão cinematográfica o final foi modificado, o que dividiu as opiniões do público, gerando revolta para alguns, e aclamação para outros. “Em momento algum as opiniões divergentes descaracterizam os méritos do filme, ou desvalorizam a obra original já que o final está em sintonia com a abordagem adotada por Darabont”, afirma Borges, que complementa dizendo que a adaptação, apesar de ter mudado o final da obra, é bastante fiel ao conto de Stephen King. Para Antônio Júnior, é possível mudar tudo, se isso for transformar a adaptação em um grande filme. Entretanto, alguns livros possuem uma ampla gama de fãs, que geralmente não gostam de modificações. “Vários cineastas falam que o melhor é adaptar livros medíocres, porque são aqueles que não são muito lidos e não têm grandes fãs, então é possível mexer em tudo em busca de um grande filme”, explica. Entretanto, ao assistir a qualquer adaptação, Borges e Antônio Júnior destacam que alguns fatos devem ser levados em consideração: cada pessoa terá uma interpretação diferente. Essa interpretação depende da bagagem cultural, experiências vividas, formação, entre outros fatores, que fazem com que cada um tenha uma experiência diferente. Portanto, ao assistir a uma adaptação, deve-se pensar se o julgamento não está atrelado à imagem criada durante a leitura, que pode ser semelhante ou diferente da dos realizadores do filme. É preciso manter a mente aberta e não julgar outras interpretações.

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O Iluminado (The Shining), 1980 Direção: Stanley Kubrick Indicado por: Antônio Júnior O longa, do gênero terror, foi lançado três anos depois do livro escrito por Stephen King, em 1980, sendo estrelado por Jack Nicholson. A história fala sobre um homem que é contratado para vigiar um hotel em Colorado e muda-se para lá com sua mulher e filho. Após algum tempo, o isolamento passa a causar problemas para a família. Kubrick ficou marcado pelo fato de melhorar os enredos que inspiravam seus filmes, transformando-os em obras cinematográficas. Neste filme, Antônio Júnior afirma que o diretor buscou elementos de linguagem cinematográfica que enfatizaram a atmosfera de terror psicológico contida no livro.

O Nome da Rosa (Ill Nome Della Rosa), 1986 Direção: Jean-Jacques Annaud Indicado por: Pedro Merege O Nome da Rosa é baseado no romance homônimo do italiano Umberto Eco, publicado em 1980. O filme se passa em 1327, num mosteiro da Itália medieval, e conta a história de um monge franciscano chamado para solucionar o mistério da morte de sete monges, em sete dias e noites, em circunstâncias diferentes e insólitas. “Filme e livro são diferentes, mas ambos são muito bons”, destaca Merege.

A Língua das Mariposas, 1999

Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), 1971 Direção: Stanley Kubrick Indicado por: Antônio Júnior e Aly Muritiba Dentre as histórias de maior destaque e mais conhecidas adaptadas por Kubrick está Laranja Mecânica, baseada no livro homônimo de Anthony Burgess. O livro foi lançado em 1962, nove anos antes do filme. Contando a história de Alex, em um ambiente futurista, a história fala sobre uma sociedade em que a violência atinge proporções gigantescas e provoca uma resposta agressiva de um governo totalitário. No filme, Kubrick transforma o final redentor, dando um desfecho mais pessimista à história. “O filme se apropria do livro de maneira bem livre, sem preocupação”, explica Antônio Júnior.

Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness), 2008 Direção: Fernando Meirelles Indicado por: Matheus Guimarães Borges Baseado na obra homônima de José Saramago, o filme retrata uma epidemia de cegueira que se prolifera em uma cidade moderna, resultando no colapso da sociedade. Borges indica a película pelo fato de o autor sempre ter tido muita resistência a adaptações, cuja autorização, com muito custo, o diretor Fernando Meirelles conseguiu. “No lançamento, Saramago e Meirelles estavam juntos e, quando o autor viu o resultado, pela primeira vez, chorou e disse que sentiu com o filme a mesma emoção que sentiu ao escrever o livro”, afirma Borges.

Direção: José Luis Cuerda Indicado por: Carla Pioli O filme é uma adaptação de um conto escrito por Manuel Rivas e traz a história de Moncho, uma criança que descobria aos poucos os prazeres da infância, até o início da Guerra Civil Espanhola, quando passa a conhecer a dura realidade de seu país. Para a cineasta Carla Pioli, que conta ter sempre receio de se decepcionar ao assistir uma adaptação literária de uma obra que tenha gostado, este é um exemplo de um livro que se tornou um belo filme.

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INVESTIMENTO EM CONFORTO Cada vez mais comuns, os Cinemas VIP buscam trazer algo de novo para as salas de exibição Por Maria Luiza de Paula

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ssistir a filmes em casa se tornou uma experiência tão fácil e cômoda que muitos podem se perguntar se ir ao cinema parece ainda ser uma boa ideia. Em Curitiba, há alguns cinemas que procuram unir o conforto com a alta qualidade de imagem e som, como é o caso do Espaço Itaú de Cinema (Shopping Crystal) e o Cinépolis Curitiba (Shopping Pátio Batel). Esses espaços são chamados de Cinemas VIP, mas será que vale a pena para o espectador? A Revista Giro Cultural foi conhecer e testar ambos os espaços e compará-los com as salas tradicionais. O resultado você confere aqui:

Ingresso

Serviço

Talvez o ingresso foi o que mais nos deixou em dúvida sobre as salas VIP. Em comparação com uma sala de cinema convencional, os preços das entradas inteiras variam entre R$ 16,00 e R$ 22,00, dependendo do dia e da hora. Já no VIP o preço vai de R$ 33,00 até R$ 40,00. Os assentos são marcados, por isso é bom comprar com antecedência para conseguir um bom lugar.

No Cinépolis, é possível pedir os comes e bebes sentado na própria cadeira, basta chegar com um pouco mais de antecedência (cerca de 10 minutos) e solicitar o atendimento apertando um botão localizado ao lado do assento. É um conforto a mais oferecido, já que não precisamos aguardar na filas para comprar comidas e acaba com o desconforto de ficar equilibrando a pipoca de um lado enquanto procura o ingresso para entrar. O atendimento foi rápido e organizado. Já no Espaço Itaú de Cinema, o atendimento não é tão personalizado e é necessário fazer os pedidos no balcão.

Comidas e bebidas Os preços dos produtos mais tradicionais, como refrigerantes e pipocas, não mudam muito entre os cinemas comuns. Mas o diferencial está na variedade de produtos. No Cinépolis, por exemplo, há um cardápio com opções mais refinadas, como hambúrgueres, nachos, peixes, entre outros. Coquetéis, cervejas e vinhos também podem ser encontrados. Nossa equipe preferiu o clássico: pipoca salgada com manteiga, que, aliás, vem separada e permite dosar melhor a quantidade. Ao nosso lado havia pessoas comendo pratos mais elaborados, com garfo e faca, mas não é difícil assistir o filme enquanto come e também não atrapalha os outros espectadores.

Sala Cadeiras mais largas e confortáveis, que podem ser inclinadas até o espectador ficar praticamente deitado. Esse é um dos grandes diferenciais das salas VIP. Porém, ao início do filme, a opção de movimentar as cadeiras fica desativada. O motivo seria, talvez, para evitar que os visitantes ficassem fazendo muito barulho. Entretanto, em nossa experiência, sentimos que poderia ser melhor que ela estivesse ligada, pois ficar muito tempo em uma única posição (mesmo que em uma cadeira confortável) pode ser cansativo. Ao lado de cada cadeira há uma bandeja de apoio e um abajur. Como possuem menos lugares do que as salas tradicionais, há mais espaço entre as cadeiras, o que possibilita uma experiência mais intimista a quem vai assistir ao filme. No Espaço Itaú de Cinema, o número de assentos varia de 37 a 49, já no Cinepólis varia de 52 a 82 lugares. Um ponto negativo que nossa equipe identificou é que os primeiros assentos ficam bem próximos à tela, sendo um pouco desconfortável.

O Filme O som e a imagem dos cinemas são de alta qualidade, superiores aos cinemas comuns. 100% digital, o som é bem regulado e a imagem não possui nenhum tipo de problema. A tela também é maior.

Vale ou não a pena? Para um consumidor comum e sem muitas exigências, os pequenos luxos que o cinema VIP oferece talvez não sejam muito compensatórios, principalmente para aqueles que compram a entrada inteira. Entretanto, a qualidade dos serviços condiz com o preço pago e nossa equipe sentiu que o investimento valeu a pena. Vale uma visita para conhecer e experimentar algo de novo.

IMAX Não necessariamente um Cinema VIP, mas também diferente das salas convencionais, o IMAX (Shopping Palladium) é uma boa opção para assistir filmes com grandes efeitos especiais. A tela é seis vezes maior, enquanto o som é quatro vezes mais potente. A sensação é que você entra dentro do filme e participa da ação. Mas, para ter uma boa experiência, o ideal é escolher um filme em 3D, para realmente sentir o poder de uma sala diferenciada. As entradas inteiras neste cinema variam de R$ 30,00 a R$ 35,00, dependendo do dia da semana. outubro/2014 giro cultural

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APRENDENDO COM A SÉTIMA ARTE Festival Internacional de Cinema da Bienal de Curitiba alia produções cinematográficas à ações pedagógicas Por Stephany Guebur

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inema, para o dicionário Aurélio, é a “arte de compor e realizar filmes destinados a serem projeções cinematográficas”. Desde o seu surgimento, no final do século XIX, a sétima arte segue divertindo, emocionando e provocando diversas sensações no público. É também importante ferramenta de instrução e é a partir disto que o FICBIC – Festival Internacional de Cinema da Bienal de Curitiba, ganha mais uma edição na cidade, começando no dia 28 de

outubro, até dia 8 de novembro. Além de incentivar

novas produções, o festival tem o objetivo de mostrar para as pessoas que a sétima arte, além de divertir, é também forte instrumento de educação. A mostra principal conta com a curadoria do crítico de cinema e jornalista Sérgio Alpendre e a curadoria pedagógica de Minom Pinho. Este ano, serão exibidos gratuitamente mais de 100 filmes, em diversos locais da cidade. Além disso, terá diversas ações pedagógicas. O festival contará com seis mostras, são elas: Panoramas do Cinema Mundial e Brasileiro, Cinema em Retrospectiva, Universo Z, Circuito Universitário e +Circuitos. Luiz Ernesto Mayer, diretor geral do FICBIC, afirma a proposta é levar ao público os melhores filmes da atualidade, apresentando, inclusive, filmes inéditos. Além disso, deve-se trabalhar com a história da sétima arte e realizar um trabalho de inclusão, levando a escola até o cinema, por meio de uma seleção de filmes com temas atraentes e, ao mesmo tempo, questionadores. O objetivo é também incentivar novas produções e produtores. Paralelamente às mostras haverá uma exposição no Portão Cultural, assinada por Rony Bellinho, sobre um personagem de um dos filmes do cineasta Eugène Green.

As diferentes mostras O Panorama do Cinema Mundial pretende, por meio de seus longas-metragens selecionados, estimular o

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público a conhecer novas linguagens do cinema. Esta mostra estará em cartaz no Espaço Itaú de Cinema (Shopping Crystal) entre os dias 3 e 8 de novembro. Já o Panorama Brasileiro vai apresentar curtas nacionais que estimulem a liberdade criativa de produtores quanto à linguagem cinematográfica, estética e narrativas. Será exibido entre os 3 e 6 de novembro, também no Espaço Itaú de Cinema (Shopping Crystal). O Circuito Universitário vai acontecer entre os dias 28 e 31 de outubro. Esta mostra é dividida em cinco partes, são elas: Mostra Competitiva Nacional, Mostras Universitárias da FAP e da UFPR; Mostra do Centro Europeu; Mostra Roda Aí! – RPC TV; e III Seminário Nacional Cinema em Perspectiva e VI Semana Acadêmica de Cinema. A Mostra Competitiva Nacional premiará os melhores trabalhos em cada categoria, divididas em Ficção, Documentário e Vídeo Experimental. Os melhores filmes serão selecionados por uma banca e o primeiro colocado de cada categoria será premiado com um troféu, um certificado e um workshop de uma semana de duração na New York Film Academy, uma das mais importantes academias de cinema do mundo. Os ganhadores serão revelados no dia 1º de novembro. Conforme explica o diretor geral do FICBIC, Luiz Ernesto Mayer, a bolsa para a New York Film Academy “foi escolhida por ser uma das três mais importantes escolas do âmbito cinematográfico”. Além disso, o vencedor ainda terá a oportunidade de conviver com pessoas de grande influência na área e conhecer oportunidades que a cidade de New York proporciona. A mostra Cinema em Retrospectiva apresentará seis filmes representativos da carreira do cineasta francês Eugène Green e, para encerrar, haverá uma palestra sobre seu trabalho. Os filmes serão exibidos no Cine Guarani (Portão Cultural). O festival também conta com a +Circuitos, programação própria dos parceiros: Sesc I Serviço Social do Comércio e


Crédito:: http://filmint.nu/

Cena de “Toutes les nuits” de Eugène Green Goethe-Institut apresentam encontro com o cinema alemão; Mostra Museu da Imagem e do Som – MIS; Mostra AVEC; Mostra do Cinema Japonês em Comemoração aos 30 anos da Irmandade Himeji-Curitiba; e Branco e Preto – Cinema Clássico Espanhol. Além disso, o festival contará com uma programação feita especialmente para o público infanto-juvenil, o Universo Z.

FICBIC aposta em ações de cunho pedagógico O Universo Z é a programação infanto-juvenil do FICBIC. Simultaneamente ocorrerão cinco ações educativas, que são: palestras de sensibilização para professores; o “Cinema vai à Escola I”, em parceria com instituições estaduais; o “Cinema vai à Escola II”, em parceria com o programa Comunidade Escola; a “Escola vai ao Cinema”, em parceria com instituições municipais e estaduais; e a “APAE vai ao cinema”. As quatro últimas ações funcionam com a ida da programação do FICBIC até comunidades da capital paranaense, com exibições aos finais de semana, e sessões para escolas municipais no Cine Guarani, no Portão Cultural. A mostra tem cunho pedagógico e, conforme explica a curadora Minom Pinho, possui o objetivo de dinamizar o aprendizado transversal e multidisciplinar a partir do cinema. “A magia da sala escura e das narrativas audiovisuais cria curiosidade e interesse por parte de crianças e adolescentes a respeito de

temas que dialogam com o currículo escolar. Neste sentido, dar vida ao conteúdo pedagógico a partir do cinema é uma abordagem inovadora e necessária”, explica. A proposta é também levar às crianças e jovens oportunidades de acesso cultural, de maneira a ampliar repertórios e estabelecer reflexões, sentimentos, impressões e conexões com o mundo. “O cinema e outras expressões artísticas e culturais nos ajudam a compreender a complexidade do mundo à nossa volta e colaboram significativamente para a formação de crianças e adolescentes. O cinema é um excelente disparador de curiosidades e novos aprendizados”, complementa. A mostra também conta com o objetivo de fazer com que professores, crianças, adolescentes e seus familiares possam conhecer diversos gêneros e formatos cinematográficos, para ampliar a compreensão sobre elementos dessa linguagem, como o imaginário e a diversidade da produção brasileira. O diretor-geral do festival diz que “acredita na força dessas ações (educacionais), devido ao grande alcance e mudanças que podem levar ao ambiente educacional, estimulando crianças e jovens e proporcionando envolvimento com a arte cinematográfica e audiovisual como um todo”. As palestras para os professores aconteceram nos dias 7 e 8 de agosto, com a presença de Minom Pinho e de professores da rede municipal e estadual de ensino. O tema abordado foi “Cinema e Imaginário Brasileiro: Fruição e Afeto. Linguagem e Aprendizado”.

Eugène Green é um cineasta francês, nascido no ano de 1947, ele é diretor e escritor. Ele formou uma geração de atores com técnicas no teatro barroco francês e a na arte da declamação. Os seus filmes mais conhecidos são “A Religiosidade Portuguesa” (2009), “Toutes les nuites” (2001) e “Le monde vivant” (2003). Começou a produzir filmes em 2001, mas desde a década de 90 já participava da área cultura, porém mais na parte do teatro.

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CRÍTICA DE CINEMA

Por Camila Tebet

ENTRE A LÓGICA E A FANTASIA

A comédia romântica “Magia ao Luar”, de Woody Allen, passa longe das melhores produções do diretor, mas encanta pela simplicidade

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om trilha sonora impecável e fotografia belíssima, chegou ao cinemas brasileiros no fim de agosto o mais novo filme de Woody Allen, “Magia ao Luar”. Conhecido por lançar a cada ano uma nova produção, o diretor e roteirista trouxe, em 2014, um longa de época que mescla romance, comédia e, como de costume, um texto com muita ironia. O filme, protagonizado por Colin Firth, vencedor do Oscar 2011 por sua memorável atuação em “O Discurso do Rei”, e Emma Stone, fala sobre a quebra de convicções, as transformações pelas quais passamos e a necessidade, que muitas vezes surge, de deixar a lógica de lado e acreditar em algo superior para suportar os obstáculos e infortúnios da vida. O longa, ambientado nos anos 20, traz a história do ilusionista Wei Ling Soo, interpretado por Firth, que é convidado pelo amigo de infância e também mágico Howard Burkan (Simon McBurney) a desmascarar a médium Sophie, interpretada por Emma Stone. Wei Ling Soo ruma então, com sua verdadeira identidade, Stanley Crawford, à Côte d’Azur, França, local onde a médium está. Ela já conquistou a confiança de muitos, principalmente dos mais ricos, que nem mesmo pensam em tomar difíceis decisões sem consultá-la primeiro. Considerando que não passa de uma bela vigarista, Stanley coloca o objetivo de desmascará-la como sua prioridade, como já fez com tantos outros charlatões e impostores.

Certo de que irá descobrir seus truques, ele não evita distribuir farpas e frases sarcásticas a cada cena. As melhores tiradas do filme são feitas por ele, mas a um certo ponto a dose exagerada de ironia passa a incomodar. Seu ceticismo é inegável, porém depois de acompanhar a médium por algum tempo e ter fatos de sua vida revelados, ele mesmo passa a questionar suas convicções. Fica em dúvida se tudo em que acreditou durante sua vida não passa de besteira e se realmente pode baixar a guarda e questionar a existência de um plano espiritual, deixar-se levar pela fantasia e pela magia. Com 98 minutos de duração, o filme não entretém aqueles que buscam um ritmo mais acelerado. Como em outras produções do diretor, o importante não é a ação, mas sim os questionamentos que o longa provoca e as batalhas intelectuais travadas pelos personagens. Discute até que ponto devem-se manter as convicções e

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até que ponto questioná-las, estar aberto a novas possibilidades. Apesar de não estarem extraordinários em cena, Firth e Stone destacam-se com suas atuações. Ele interpreta com bastante realismo o desespero de Stanley que, sempre muito cético, vê suas certezas desmoronarem. Já ela diverte com suas expressões e encanta o espectador que, assim como Stanley, se deixa levar por seus encantos, sem se atentar para o fato de ela ser ou não uma impostora. Além disso, a diferença de idade de 28 anos entre os atores passa despercebida, até mesmo quando o romance se desenrola. De grande valor em cena estão a fotografia, a direção de arte, o figurino e a trilha sonora. A primeira, feita em 35mm por Darius Khondji, destaca as belas paisagens do sul da França, como as praias de Côte d’Azur e os belos jardins franceses. Já a direção de arte de Anne Seibel e o figurino de Sonia Grande reconstituem perfeitamente a época. Juntos, esses elementos tornam o filme esteticamente impecável. A trilha sonora composta por jazz e músicas de cabaré, contando com artistas como Cole Porter, torna o ambiente ainda mais real. Diferente de sua última obra, o drama “Blue Jasmine”, o novo filme de Allen é mais descontraído. Com leveza, o diretor traz uma boa comédia romântica para passar o tempo e alguns questionamentos, embora se atenha mais ao entretenimento. Apesar de passar longe de suas melhores produções, o diretor ainda é mestre em retratar as relações humanas.

Ficha Técnica Elenco: Colin Firth, Emma Stone, Marcia Gay Harden, Hamish Linklater, Jacki Weaver, Erica Leerhsen, Eileen Atkins, Simon McBurney Direção: Woody Allen Gênero: Comédia Duração: 98 min. Classificação: 12 Anos


PERFIL

COLECIONAR É UM ESTILO DE VIDA Colecionador de Curitiba tem cerca de quatro mil discos e transformou sua paixão em trabalho Por Maria Luiza de Paula

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Horácio de Bonis, dono de cerca de 5 mil discos, é uma dessas pessoas. Ele fez de seu hobbie um estilo de vida. Em sua casa confortável no centro de Curitiba, acompanhado da gata Sagu, ele transformou sua paixão em trabalho. Nos anos 90, chegou a ter uma loja física, mas vendeu em 1999, pois com a chegada da era digital ficou inviável mantê-la. Hoje ele ainda segue como importador de discos, mantendo a clientela fiel que conservou dos tempos passados. Cada disco é único e muitas vezes o que conta não é a quantidade, mas a qualidade. Ele define que o primeiro requisito que um disco precisa ter para entrar em sua coleção é o gosto pessoal. Comprar apenas pelo hábito de puro consumismo não é importante. Horácio lembra que a motivação de um verdadeiro colecionador de música é poder pegar um disco na mão e, principalmente, desfrutar das edições especiais. Algo que o mp3 jamais poderá oferecer. São capas personalizadas, embalagens mais volumosas, desenhos no próprio disco. Horácio abre seu armário e tira seis edições do disco “In Through the Out Door”, da banda inglesa Led Zeppelin. Cada uma delas mostra na capa a fotografia de um homem sentado em um bar, mas por seis diferentes ângulos. O colecionador descobre que uma delas está repetida, fica decepcionado. Vai precisar achar esta sexta cópia de algum jeito. Consumidor tanto de discos de vinil como de CDs, cada um desperta um interesse diferente. O famoso “bolachão” permite o uso de imagens com mais detalhes, enriquecendo o trabalho. Horácio tem alguns deles emoldurados e pendurados pela casa. Afinal, se as capas parecem quadros, por que não usá-los como tal? Na parede de sua cozinha está o disco “The Velvet Underground & Nico”, da banda nova-iorquina Velvet Underground, cuja capa foi feita pelo artista Andy Warhol. Horácio define que o vinil permite que ele tenha acesso não apenas à arte por meio do som, mas também pela imagem. Permite que uma pessoa comum tenha acesso a uma obra de arte de um artista famoso. Embora menores, os CDs têm também a sua importância.

Crédito:: Camila Tebet

os últimos tempos, vimos a diminuição no número de vendas de CDs e, principalmente, os LPs. São raras as lojas de rua que ainda se dedicam a este segmento, o que não significa que estas mídias estejam morrendo. Ainda há quem goste de pegar um disco na mão, analisar todos os seus detalhes, ler o seu encarte e dedicar boa parte de seu tempo para tal atividade.

Ele diz que há colecionadores mais puristas que ficam presos aos vinis. Mas a praticidade de manuseio e a eliminação das interrupções fazem do Compact Disc um companheiro melhor no dia a dia. Assim, Horácio aproveita o melhor dos dois mundos. Ele sempre soube que era um consumidor de música diferenciado. Começou por influência do irmão mais velho, que o levou um dia para a casa de um de seus amigos. Ainda bem jovem, o disco “Lizard”, do Kim Crimson, o encantou pela capa, com imagens lembrando desenhos medievais. Horácio diz que não é do tipo que fica alucinado atrás de alguns exemplares difíceis de serem encontrados ou com preços exorbitantes. Às vezes, coisas surpreendentes acontecem e ficam marcadas na memória. Uma delas aconteceu no ano de 2001, quando ele e mais alguns amigos resolveram ir até o Rio de Janeiro assistir à terceira edição do Rock In Rio. Parado na rodoviária do Rio, o jovem foi atraído por uma loja de discos, na qual se recorda de uma péssima trilha sonora. Entre os vários LPs de gosto duvidoso, qual não foi o espanto dele ao encontrar uma edição raríssima de um disco do compositor italiano Nino Rota, com a capa desenhada pelo diretor italiano Federico Fellini. Como ele mesmo diz, assim como ninguém que tem uma coleção de livros conseguiu ler todos eles, ele não ouviu todos os discos que possui. Em cada nova organização que resolve fazer descobre que tinha algo que nem fazia ideia. Montando um novo móvel para que seja possível reunir todo seu acervo em um mesmo lugar, Horácio segue aumentando sua coleção, e o prazer de desfrutar de uma boa música sempre permanece. outubro/2014 giro cultural

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ESQUECERAM DE NÓS? Diversas atrações confirmam shows no Brasil, mas o público curitibano sente que a cidade é deixada de lado Por Maria Luiza de Paula

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ó em 2014, o Brasil já recebeu inúmeros shows internacionais de peso: Metallica, Queens Of The Stone Age, Imagine Dragons, Lorde, só para citar alguns. Outros grandes nomes já estão confirmados para os próximos meses e para 2015: Foo Fighters, Panic! At The Disco, Paramore, Linkin Park, etc. Mas o que todos eles têm em comum? Nenhum pisou em Curitiba. O problema não é de hoje, já faz algum tempo que a capital paranaense não figura entre os principais destinos de shows no país.

substituir a Pedreira. Em janeiro de 2014, a Justiça do Paraná revogou a liminar, afirmando que as exigências já haviam sido cumpridas. Um acordo feito para que ela tivesse condições de ser reaberta prevê um limite de até dois shows de grande porte em um intervalo de 30 dias. Além disso, os shows de segunda a quinta devem acabar até às 23 horas e nas sextas, sábados e vésperas de feriados até 1 hora. Outra exigência é que os eventos não coincidam com clássicos ou decisões de futebol na cidade, assim como devem atender a todas as normas de segurança e saúde para realização das apresentações.

O empresário Hélio Pimentel foi um dos principais personagens desta inclusão da capital paranaense no cenário de grandes shows internacionais do Brasil. Ele foi responsável pela abertura O primeiro show da volta da Pedreira foi feito da Pedreira Paulo Leminski no final dos anos 80 no aniversário de Curitiba, no dia 29 de março, e o espaço se tornou uma referência de enorme com a apresentação de Roberto Carlos. O local importância dentro do cenário musical da cidatambém foi palco da FIFA Fan Fest, durante os de. “Na década de 90, Curitiba chegou a ser o jogos da Copa do Mundo de 2014. Mas, o atual segundo lugar no Brasil que mais recebia evenresponsável pelo espaço, Hélio Pimentel, disse tos internacionais”, diz Hélio Pimentel. AC/DC, que não está sendo fácil retornar as atividades. Iron Maiden, Paul McCartney, entre outros, foram “Parece que estou voltando ao final da década atrações que marcaram presença na Pedreira. de 80, tendo que reestruturar tudo novamente”, Para a tristeza de muitos curitibanos, o local foi explica. fechado em 2008, após o Ministério Público ter Curitiba viu também diminuir o número de seus conseguido o acolhimento de uma liminar da 2ª grandes festivais. “O público sente falta de granPromotoria do Meio Ambiente que pedia que fosdes eventos”, conta a ex-produtora do festival sem feitas adequações no local. Muitos moradoLupaluna, Marielle Loyola, que teve quatro edires do bairro Abranches reclamavam do barulho ções anuais na cidade, sendo a última em 2012. e dos tumultos que aconteciam durante os dias Muito querido pelos fãs e que trouxe diversas de apresentações. Com a ausência de um granbandas, tanto nacionais quanto internacionais, o de espaço, o número de atrações internacionais festival deixou de existir devido a uma separacaiu drasticamente. ção entre a produção do evento, que ficava nas Alguns espaços alternativos chegarama a ser mãos de Hélio Pimentel, dono da Pedreira Paulo usados, como o Expotrade, em Pinhais e o Bio Leminski, e a dona do nome do festival, o grupo Parque. Mas, por questões de localização, acús- GRPCOM, da qual Marielle faz parte. tica ruim e espaço, ambos nunca conseguiram

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Crédito:: Maria Luiza de Paula

Pedreira Paulo Leminski

Depois que o Lupaluna deixou de existir, o calendário de shows em Curitiba ganhou mais uma lacuna que ainda não foi preenchida. Em 2013, o Circuito Banco do Brasil passou pela cidade, mas não retornou neste ano. Já em 2014, para a reinauguração da Pedreira Paulo Leminski, o local sediou o festival Estação Pedreira. Porém, fora esses, não há nenhum outro evento anual.

O que deu errado O jornalista cultural Cristiano Castilho, que escreve para o blog Pista 1 da Gazeta do Povo, diz que grandes shows e eventos de música são a maior parte do consumo cultural de músicas pessoas. “Mas isso é uma consequência, não uma causa”, explica. Segundo o ele, sua percepção sobre a falta de shows mudou ao longo do tempo. Hoje ele sente que a mudança deve partir do público. “Valorizar o que temos e o que nos é oferecido é o primeiro passo”, explica Castilho, dizendo que muitos shows de pequeno e médio porte que acontecem na capital paranaense têm uma audiência baixíssima. Contribuindo, assim, para que os maiores pensem duas vezes antes de se apresentar na cidade. “Acredito que essa impressão seja uma falha na comunicação entre organização de eventos e pessoas”, é o que diz a produtora independente Luana Gonçalves, uma das fundadoras da Brasucas Música e Entretenimento. Os dois pontos que ela destaca como fundamentais para realizar bons eventos em Curitiba são a fidelização

do público e dar confiança para a banda de que há pessoas na cidade querendo vê-la. O estudante de direito Rodrigo Busnardo, fã principalmente de rock e que sempre está indo a shows tanto em Curitiba como em outras cidades, acha que o publico curitibano é muito limitado a certos tipos de evento, deixando de ir em muitos shows. Lembra também que muitos eventos confirmados acabam sendo cancelados posteriormente. “Creio que isso se deva ao fato de que o público deixe para a última hora para comprar o ingresso, daí os produtores têm que cancelar para não saírem prejudicados”, diz Busnardo. A estudante Larissa Queirolo, que também sempre frequenta diversos shows na cidade, explica que o público muitas vezes deixa de ir em grandes eventos por questões financeiras. “Aqui não tem público o suficiente pra dar conta dos shows”, afirma Larissa.

Casas de shows Mas não se pode dizer que a culpa esteja somente na mão daqueles que frequentam os shows. Na opinião do empresário Hélio Pimentel, a falta de um espaço adequado para receber esses eventos é também um fator que acaba por afastar ainda mais a audiência. “Hoje o curitibano perdeu o hábito de frequentar grandes eventos”, conta o empresário. Segundo a produtora de shows Luana Gonçalves, é preciso oferecer ao público condições adequadas para assistir ao evento e que ele sinta-se outubro/2014 giro cultural

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em um ambiente de hospitalidade. “É necessário sempre observar o mercado de Curitiba e suas tendências, caminhando em parceria com os fornecedores, que são peças básicas, porém fundamentais para produzir o evento com qualidade”, explica. Os fornecedores aos quais Luana se refere são as casas de shows, os meios de transporte, entre outros. Engana-se, porém, os que pensam que os problemas param nos grandes eventos. A produtora diz que é difícil encontrar um espaço bem organizado e com bons serviços para realizar eventos de até 800 pessoas. Ela explica que muitas casas estão apenas focadas em seus lucros do bar e não trabalham na melhoria do atendimento e dos serviços. “Isso acarreta o bloqueio da vinda de variados artistas mais de uma vez ao ano na cidade, sequer no mínimo conseguem vir uma única vez”, disse Luana, que afirma que não se encontra na cidade uma casa de show com um custo x benefício que valha a pena. “Temos casas grandes e ultrapassadas, com problemas de acústica e de infraestrutura; e espaços pequenos que abrem as portas para as bandas da cidade, mas que não oferecem muito mais do que isso”, diz Cristiano Castilho, jornalista cultural. Dono do site CWB Live, Marcos Anubis comenta que muitos produtores também não respeitam as bandas, principalmente as menores. “Um fator terrível é que casas normalmente não pagam as bandas. Na cabeça delas, abrir espaço para a música autoral já é uma forma de pagamento”, diz Anubis.

Mudança Reverter essa situação não é tarefa fácil, mas algumas coisas já estão sendo feitas. Ter um espaço adequado para a realização de grandes shows é uma das principais mudanças que se deve ocorrer para que a cidade volte ao circuito dos grandes shows. Hélio Pimentel, responsável pela Pedreira Paulo Leminski, diz que o processo de abertura está sendo bastante dispendioso. A Pedreira faz parte de um parque, na qual além dela também está a Ópera de Arame. Quando voltou a assumir o comando sobre o espaço, Hélio conta que precisou fazer muitos reparos em toda a estrutura do lugar, que estava bem precária. Hoje, reformada, ele conta que a Pedreira possui o maior palco ao ar livre da América Latina.

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O empresário diz que agora o objetivo é trabalhar em cima de três pilares: recuperar a estrutura da Pedreira, criar um modelo de gestão que se torne referência na realização de grandes eventos e ter uma agenda de atividades culturais. Mas apesar do espaço já estar em plenas condições para receber shows, voltar a ter uma agenda deve ainda demorar. “Como a Pedreira foi efetivamente liberada apenas em janeiro deste ano, é muito difícil conseguir encaixar os eventos internacionais, pois a maioria das turnês são fechadas com muita antecedência”, conta Pimentel. Junto com sua empresa DC Set Eventos, a construção da agenda está sendo focada principalmente nos próximos dois anos. O público curitibano também deve fazer a sua parte. “Todo esse esforço depende também que o público prestigie, ele precisa entender que trazer um show internacional é resultado de um esforço brutal”, diz. Além da Pedreira Paulo Leminski, o estádio do Atlético Paranaense, a Arena da Baixada, que foi reformada para receber os jogos da Copa do Mundo de 2014, também pretende se tornar um ponto de realização de grandes eventos. “Os dois espaços fazem parte da idealização da cena musical de Curitiba”, conta o jornalista Cristiano Castilho. Mas, após nossa entrevista, ele escreveu em seu blog uma notícia que iria contrariar a ideia otimista de mais um espaço. Uma das bandas mais aguardadas pelos fãs para 2015 é o grupo Foo Fighters. Chegou a se falar sobre a possibilidade dos americanos se apresentarem na Arena da Baixada, mas a notícia de que eles não viriam mais pegou muitos fãs de surpresa. Segundo informações de Cristiano Castilho, o motivo teria sido o preço cobrado pelo aluguel do estádio. O presidente do Atlético Paranaense, Mário Celso Petraglia pediu R$ 1 milhão. Ainda segundo Castilho, a banda preferiu ir para Belo Horizonte, onde sua margem de lucro seria maior. Este caso, em especial, também mostra que Curitiba precisa se tornar mais competitiva, já que compete diretamente com outras capitais fora do eixo Rio-São Paulo. Resta agora para os curitibanos aguardar e ver se nestes próximos anos a Pedreira Paulo Leminski voltará a ter uma agenda cheia de eventos e a Arena da Baixada será também um lugar viável para receber os shows de grande porte, tanto nacionais como internacionais.


Crédito:: Maria Luiza de Paula

Arena da Baixada, reformada para a Copa do Mundo, pode receber grandes shows nos próximos anos.

Se Maomé não vai à montanha... Percebendo que havia interesse do pú- vais com duração de mais de um dia. blico de Curitiba em conseguir assistir Heloisa, da Amplitur, diz que muitos a shows em outras capitais, especial- curitibanos acabam utilizando o servimente São Paulo, algumas empresas ço mesmo quando há shows na cidade. investiram em excursões exclusivas “Já aconteceram vários casos de alguns para levar fãs de música. Atuando há fãs não se sentirem satisfeitos com 20 anos nesse setor, a agência de tu- a infraestrutura dos shows aqui em rismo Amplitur resolveu investir no Curitiba e resolverem viajar”, explica. segmento de shows. “Hoje em dia, de“A maior vantagem está na praticidade, pendendo do evento, chegamos a levar pois a própria excursão te leva ao local até 400 pessoas”, explica a auxiliar addo show e te espera ao final, não sendo ministrativa Heloisa Correr. necessário sair correndo para pegar um Os serviços de excursão acontecem ônibus ou um avião”, explica o estudanprincipalmente no esquema bate-vol- te Rodrigo Busnardo, que diversas vezes ta, no qual um ônibus sai de Curitiba já utilizou os serviços de excursão. O durante a noite, deixa os passageiros preço também é atrativo, pois em geral na porta do show e retorna ao fim do ficam abaixo de R$ 200,00. Algumas emespetáculo para levá-los de volta ao presas inclusive já começaram a investir seu lugar de origem. Algumas exceções no mercado internacional, levando braacontecem, como no caso de festi- sileiros para ver festivais europeus.

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MÚSICA

UMA AULA COM

DAVE LOMBARDO

Ex-baterista do Slayer e atualmente no Philm, músico mostra suas habilidades no instrumento e responde pergunta dos fãs

Por Maria Luiza de Paula

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Crédito:: drummagazine.com

m diversos países da Europa e nos Estados Unidos, é muito comum que músicos conhecidos façam o que é chamado de “clínicas”: demonstrações de habilidade no instrumento, ensinando ao público determinadas técnicas e também respondendo perguntas da plateia sobre os mais variados assuntos. Ao final, os fãs podem tirar fotos e pedir para que o músico autografe seus CDs. Aqui no Brasil, esses eventos estão ficando mais comuns. Durante o fim de agosto e início de setembro, o ex-baterista da banda Slayer e atualmente no Philm, Dave Lombardo, esteve no país para dez eventos neste estilo. No dia 27 de agosto, uma quarta-feira, foi a vez de os curitibanos verem o músico de perto.

Mas a fama do músico veio graças a um estilo de música totalmente diferente. Lombardo ajudou a formar a banda Slayer, uma das pioneiras bandas do estilo Thrash Metal, no início dos anos 80. Sua carreira com o grupo californiano foi longa, porém marcada por idas e vindas do baterista. Sua saída definitiva ocorreu em fevereiro de 2013; entre os motivos alegados estava a distribuição injusta dos lucros da banda. De acordo com o músico, a equipe de empresários estava ficando com mais da metade do dinheiro que deveria ser dividido entre os quatro integrantes do Slayer. Agora, longe do grupo que o consagrou, Lombardo tem dedicado seu tempo à Philm, banda de metal com influên-

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Dave Lombardo, nascido em Havana, Cuba, imigrou para o sul do estado americano da Califórnia ainda com três anos de idade. Mesmo longe da ilha caribenha onde nasceu, sua família manteve algumas das tradições locais. O jovem músico começou a tocar instrumentos de percussão e bateria, inspirado em canções que ouvia nas festas de imigrantes latinos que seus pais costumavam frequentar.

cias progressivas e também do hardcore, além de tocar como convidado em diversos projetos. O evento foi realizado pela rádio Rock Freeday, de Salvador. Assim que foi anunciada a vinda do cubano ao Brasil, mais de vinte cidades demonstraram interesse na apresentação das clínicas, segundo o gerente da turnê, Alexandre Afonso, da Rock Freeday. Porém, mesmo com a empolgação do baterista, sua agenda concorrida não permitiu mais do que dez apresentações. Mesmo assim, a turnê é bastante extensa. Começando em Salvador, ela passou por Brasília, Guarapuava, Curitiba, Joinville, Florianópolis, Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.


Crédito:: drummerworld.com Crédito:: drummerworld.com

Crédito:: drummerworld.com

Em Curitiba, a clínica aconteceu no John Bull Pub, na Rua Mateus Leme. Aproximadamente 150 pessoas compareceram ao evento. O bar abriu às 19h30 e boa parte do público já havia chegado. Lombardo entrou no palco por volta das 21h45, tocou a música “War Ensemble” do Slayer, apenas ele e sua bateria, com o resto do instrumental em volume mais baixo, já pré-gravado. Por cerca de 15 minutos, o baterista tocou pequenos trechos de algumas das músicas que marcaram sua carreira. Mas as que realmente animavam o público eram obviamente os sucessos de sua banda original.

A maior parte dos assuntos girou em torno do seu começo no instrumento, suas principais influências e como o músico criou um estilo próprio. Apesar de ser mundialmente conhecido por tocar em bandas de rock e metal, Dave Lombardo é bastante eclético no seu gosto musical, algo que ele acredita que seja o seu grande diferencial. Em especial os ritmos latino-americanos, incluindo o samba e o maracatu. O baterista explica que esses estilos em especial possuem muito “groove”, termo usado para definir músicas que tenham movimento, que são contagiantes.

Por sua origem latina, Dave Lombardo fala fluentemente espanhol e entende um pouco de português. Mesmo falando inglês na maior parte do tempo, por vezes arriscava algumas palavras no idioma local e em sua língua materna. Brincando, disse que ia falar em “espanglês-português”. O baterista ficou cerca de uma hora e meia respondendo perguntas do público e tirando dúvidas sobre o seu estilo de tocar.

O único tema do qual o baterista não queria comentar era os motivos que o levaram a sair do Slayer. Lombardo afirma que parou de falar sobre o assunto, pois os sites especializando em música adoravam criar polêmicas com base em suas declarações. Ao final da sessão de perguntas e respostas, o músico tirou fotos com os fãs e distribuiu autógrafos.

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A MÚSICA E SEUS INCENTIVOS Há anos em vigor no Brasil, as leis de incentivo já ajudaram muitos artistas, mas também geram polêmicas e vêm passando por mudanças Por Maria Luiza de Paula

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s Leis de Incentivo à Cultura que estão atualmente em rigor apareceram pela primeira vez na década de 90. A Lei Federal de Incentivo à Cultura, que popularmente ficou conhecida como Lei Rouanet, graças ao nome do então secretário da cultura do governo de Fernando Collor, Sérgio Paulo Rouanet, hoje é a mais conhecida delas, mas não foi a primeira lei do gênero no país. Em 1986, durante o governo de José Sarney, foi proclamada a primeira Lei de Incentivo no Brasil, lei que levava o nome do então presidente da república. Ela funcionava com o objetivo de incentivar empresas a investir em produtores culturais, onde 70% do valor do projeto seria deduzido do Imposto de Renda devido e 30% seria pago com fundos da própria empresa. Assim, se o patrocinador investisse 100 reais no projeto, ele recebia de volta em incentivos 70 reais. Mas com a chegada de Collor, a Lei Sarney deixou de existir e foi substituída pela Lei Rouanet. Proclamada em 23 de dezembro de 1991, ela possibilita que pessoas físicas (o cidadão comum) e jurídicas (empresas) apliquem parte do Imposto de Renda devido em ações culturais. Podem ser elas de diversos segmentos: teatro, dança, circo, música, literatura, artes plásticas e gráficas, gravuras, artesanato e patrimônio cultural (museu e acervo). Quem faz uso das Leis de Incentivo não está recebendo dinheiro diretamente do Governo Federal, mas está tentando captar o valor determinado pela lei em empresas privadas ou não. A Fundação Cultural de Curitiba trabalha com a Lei Municipal de Incentivo à Cultura, de 2005, que tem duas derivações. A primeira, o Fundo Municipal de Cultura, trabalha com o valor orçamentário e o apoio direto aos projetos. Já o segundo, o Mecenato, envolve a renúncia fiscal através da capitação de recursos. As inscrições são realizadas por meio de editais.

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“No Fundo Municipal, nós temos editais específicos por área de ação cultural”, explica Maria Angélica Carvalho, diretora de Incentivo à Cultura da Fundação Cultural de Curitiba. Segundo ela, já foram lançados 28 editais em 2014 e mais um deve ser lançado no final do ano. “Após se inscreverem, elas passam por um processo de seleção, entregando a documentação necessária, para então a assinatura de um contrato com a Fundação Cultural”, diz Maria Angélica. Já no caso do Mecenato é lançado um único edital por ano, o candidato faz a sua inscrição, passa por uma análise de mérito e recebe uma pontuação. Se essa pontuação passar de oitenta, ele recebe uma carta de incentivo, que é o documento que o habilita a ir atrás do patrocínio.

Leis para música Em setembro deste ano, o Ministério da Cultura aprovou 461 dos 526 projetos que foram analisados pela Lei Rouanet. Destes, 23% eram projetos ligados a música. Existem também projetos ligados a algumas empresas que promovem editais para artistas musicais. É o caso da Natura, com o Natura Musical. Entre os artistas que já lançaram seus trabalhos por meio deste edital estão Fernanda Takai e Elba Ramalho. Curitiba também tem empresas que promovem eventos culturais ligados à música, como é o caso da Volvo. Durante todo mês de agosto a empresa promoveu a Estação Volvo, com uma série de eventos culturais, como shows e peças de teatro, acontecendo por toda a cidade. “Por Curitiba ser ‘a nossa casa’, procuramos desenvolver algo especial”, conta Anaelse Oliveira, que trabalha com as leis de incentivo no grupo Volvo. Quem já teve um trabalho aprovado pelas Leis de Incentivo diz que a experiência foi válida. Porém, houve


Trabalho de Edith de Camargo demorou quatro anos entre a sua composição e lançamento.

algumas dificuldades ao longo do processo. Cantora profissional há 15 anos e professora de canto, Edith de Camargo terminou de compor o disco “Sing Song” ainda em 2010, mas conseguiu aprovar o seu projeto apenas em 2012. Ele foi lançado somente em 2013. Ela afirma que todo esse tempo é muito frustrante para o artista, que não vê a sua obra sendo lançada e nem pode alterá-la. “Nesse tempo de espera você fica inativo como artista e não consegue lançar a sua obra no momento em que gostaria”, explica. O músico Guto Horn, teve uma experiência bastante parecida com a de Edith. Assim como ela, não houve nenhuma limitação no que diz respeito ao conteúdo do disco ou qualquer outra questão artística. Entretanto, concorda que a demora se torna um fator negativo para quem produz. “Quando o projeto fica pronto dois anos depois, existem determinados serviços que o artista necessita que já subiram de preço e você precisa negociar com eles para que eles mantenham aquele valor”, conta. Outro fator negativo, segundo Edith de Camargo, é que os processo para que ela pudesse realizar algumas mudanças no projeto, como a contratação de novos músicos, por exemplo, eram bem burocráticos. Ela acredita, contudo, que esse rigor é necessário para que o orçamento se mantenha no limite. Mas, mesmo com todas as dificuldades, ambos dizem acreditar que as leis de incentivo acabam ajudando o artista a conseguir chegar aos seus objetivos, como lançar um trabalho próprio.

Polêmicas A Lei Rouanet é marcada por muitas críticas de especialistas. Cristiane Olivieri, mestre em Política Cultural pela USP, em seu artigo “As Leis de Incentivo à Cultura: uma Visão Crítica”, afirma que a cultura

Músico Guto Horn lançou seu CD pela lei de incentivo em 2014.

muitas vezes encontra uma certa censura quando o projeto está em fase de aprovação e capitação de recursos com as empresas, pois elas vão escolher financiar apenas aqueles projetos que sejam interessantes segundo o ponto de vista delas. “Eles não querem correr riscos. Por isso rejeitam projetos que sejam experimentais, com artistas desconhecidos pelo grande público”, afirma Cristiane. Um dos pontos que gera mais polêmica é o uso das Leis de Incentivo por artistas que, teoricamente, não necessitariam de nenhum tipo de Incentivo cultural para realizar seus projetos. É o caso do cantor sertanejo Luan Santana, que em agosto deste ano conseguiu capitar R$ 4 milhões através da Lei Rouanet para a realização de uma turnê. Luan Santana, em teoria, teria condições de conseguir realizar shows sem a ajuda de incentivos. Porém, em termos legais, ele (assim como qualquer outro artista) possui o mesmo direito de procurar auxilio nas Leis de Incentivo. O que explica essa situação? Os investidores se interessam por artistas que possam lhe dar destaque na imprensa. “É mais fácil captar R$ 500 mil ou R$ 1 milhão do que R$ 5 mil ou R$ 10 mil”, explica Cristiane. As empresas que usam as Leis de Incentivo também são poucas. Segundo dados do Sistema de Apoio à Lei de Incentivo (Salic), menos de 1% das 10 milhões de empresas atuantes no Brasil apoiam projetos culturais por meio das leis. Há também uma centralização dos maiores investidores e também dos projetos aprovados. Ainda segundo o artigo de Cristiane Olivieri, 92% de toda a verba investida vêm das regiões Sul e Sudeste. O destino deste dinheiro acaba ficando nesses mesmos locais: 87% dos projetos aprovados são destas duas regiões. Mais especificamente no eixo Rio-São Paulo.

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CRÍTICA DE MÚSICA

Por Maria Luiza de Paula

Disco: Pale Communion Artista: Opeth

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peth é uma banda sueca, formada em 1990, porém seu primeiro disco, Orchid, só seria lançado em 1995. No começo, o estilo do grupo era voltado ao metal extremo, com bastante influência de Death Metal. Com o passar dos anos, essa característica foi sendo deixada de lado e o Opeth assumiria uma identidade mais voltada ao rock e ao metal progressivo. O que vemos em seu décimo primeiro álbum de estúdio, Pale Communion, lançado no dia 26 de agosto pela gravadora Roadrunner, mostra que os suecos já fizeram sua transformação completa.

Produzido pelo vocalista e guitarrista da banda, Mikael Akerfeldt, o grupo procurou trazer elementos mais melódicos, como ficam bem claros em faixas como “Elysian Woes” e “Eternal Rains Will Come”. Os vocais são inteiramente limpos, nada de distorções ou guturais. De certa forma, a banda já tinha trabalhado dessa forma quando lançou o disco Damnation, em 2003. Mas a parte instrumental de Pale Communion é que faz o disco ganhar um ar diferente. O Opeth é um exemplo claro de uma banda que não tem receio de mesclar outros estilos com suas características próprias. Na música “River”, por exemplo, o grupo traz elementos do folk rock e até mesmo do country. Pale Communion é um grande acréscimo na carreira da banda e coroa o mérito de o Opeth ser um dos poucos artistas dentro do metal que não tem medo de inovar o seu próprio estilo. Mas se há algo que permanece dentro dos “velhos padrões” do grupo é a grande duração de suas músicas, já que todas passam dos quatro minutos, chegando até os 10 com a música “Moon Above, Sun Below”. Entre tanto, esse último detalhe pode causar desanimo em alguns ouvintes.

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Disco: Royal Blood Artista: Royal Blood

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o dia 25 de agosto foi lançado o disco homônimo de estreia da banda inglesa Royal Blood, que chegou a ficar em primeiro lugar nas paradas do Reino Unido. O duo é formado pelo vocalista e baixista Mike Kerr e pelo baterista Ben Thatcher. Os dois chamaram a atenção da mídia ainda em 2013, graças ao baterista do Arctic Monkeys que usou a camiseta do grupo em uma apresentação no festival Glastonbury, um dos mais importantes da Europa. Desde então o grupo vem ganhando reconhecimento próprio.

O som do Royal Blood segue a influencia clara de grupos como The Black Keys e The White Stripes, e comparações são inevitáveis. Porém, limitar o som deste novo grupo a isso é injusto. Para começar, os ingleses, ao contrário de seus dois primos americanos, optou por deixar de lado o som das guitarras. O resultado é energético; o baixista Mike Kerr forma riffs poderosos e usa muitos falsetes em seu vocal. Destaque para a faixa “Figure It Out”, com influências diretas de blues americano e a forma como Kerr usa a distorção de seu instrumento, formando um som quase de uma guitarra elétrica. O que vemos neste lançamento é uma banda com bastante talento e preocupada com a qualidade, sem medo de esconder suas principais referências. Ainda muito jovem, talvez seja necessário esperar um pouco mais para ver a relevância do Royal Blood para a música e o rock atual. Porém, já começaram com o pé direito.


COLUNA

CADÊ A LITERATURA POLICIAL BRASILEIRA? Por Raphael Montes

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á alguns meses, numa conversa, um amigo me veio com a pergunta: cadê a literatura policial brasileira? Ainda que eu já tivesse bebido alguns chopes, entendi o que ele quis dizer: cadê a tradição de romances policiais no Brasil? Cadê os escritores policiais? Cadê os prêmios, os eventos, os workshops, as palestras? Cadê os leitores? Cadê?

O gênero policial é um dos mais populares no mundo. Com frequência, obras de mistério estão na lista de mais vendidos. Nos Estados Unidos e na Europa, há centenas de feiras voltadas para o gênero, há prêmios para romances publicados e para inéditos, além de associações de autores, clubes de leitura, revistas especializadas e grandes seções exclusivamente dedicadas a policiais. Por consequência, há escritores. O que acontece nas bandas de cá?

narrativa de suspense, sem prejuízo da linguagem ou da densidade do texto e das personagens. Apesar disso, por muito tempo, a força das investidas não foi suficiente para emplacar uma “escola brasileira de policial”. Estudiosos defendem que a literatura de mistério dialoga diretamente com o romance urbano e, por isso, a frágil presença do gênero em nossa tradição literária se deve à tardia formação das grandes cidades. Há certa pertinência no argumento. Num país de dimensões continentais como o nosso, é uma pena que seja tão difícil encontrar uma narrativa detetivesca que não se situe no Rio ou em São Paulo.

Ao mesmo tempo, a imagem desgastada da polícia brasileira e a descrença na eficiência de nossos sistemas penal e judiciário dificultam a criação de heróis tradicionais, com valores firmes de justiça e A primeira narrativa policial brasileira foi publi- ordem social. Por isso, muitos autores optam por cada em capítulos pelo jornal A Folha em 1920. romances protagonizados por detetives particulaChamava-se O mistério e foi escrita a oito mãos res ou escrevem uma espécie de romance policial por Coelho Neto, Afrânio Peixoto, Medeiros e “sem polícia”. São raros os exemplos de romances Albuquerque e Viriato Corrêa. A partir daí, vários policiais protagonizados por um oficial da lei (hoje, autores se aventuraram no gênero; alguns com temos principalmente Luiz Alfredo Garcia-Roza, afinco, outros com disfarçada vergonha. Lamenta- com seu delegado Espinosa, e Joaquim Nogueira, velmente, ainda impera por aqui certa noção de com o investigador Venício). que literatura policial é subliteratura, algo menor. Apesar dos percalços, a situação está mudando. Trata-se de um engano. Além de Rubem Fonseca, um mestre do gênero Em países periféricos, é comum que o enredo das desde os anos 70, diversos autores passaram a narrativas policiais seja pretexto para uma análi- escrever literatura policial, como Marçal Aquise da sociedade, um instrumento de reflexão das no, Patrícia Melo, Flávio Carneiro, Alberto Mussa relações de poder. Ao mesmo tempo, há autores e Felipe Pena, entre outros. Nomes fortes como que buscam tramas mais universais, com foco na Jô Soares, Tony Bellotto, Veríssimo, Mário Prata e arquitetura da trama, ainda sem perder de vista Nelson Motta também investiram na criação de a identidade brasileira. De um modo ou de outro, tramas policialescas. Nos anos 90, Luiz Afredo os prêmios e a crítica têm reconhecido a qualida- Garcia-Roza venceu os prêmios Nestlé e Jabuti de dessas histórias: é possível, sim, escrever uma com seu romance de estreia, “O silêncio da chuva”.

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E mais importante: manteve uma produção periódica com aventuras do delegado Espinosa. Há ainda bons autores publicando por editoras pequenas e médias, como Vera Carvalho Assumpção, Luiz Biajoni e Tailor Diniz. Há, por fim, outros com longa e feliz carreira em editoras médias, como Luis Eduardo Matta e Roger Franchini. Nesse cenário, uma literatura policial brasileira começou efetivamente a se definir. E, como num ciclo natural, o maior número de autores deu repercussão ao gênero e fez crescer o interesse da imprensa, das feiras literárias e, mais importante, dos leitores. Ano passado, por exemplo, aconteceu o Pauliceia Literária, um evento literário paulistano com foco em literatura policial, com autores como Patrícia Melo e Scott Turow. O gênero também foi capa do Caderno 2 do Estadão. Pessoalmente, tive a felicidade de ter “Suicidas”, meu romance policial de estreia, finalista de dois prêmios importantes em 2013 - o São Paulo de Literatura e o Machado de Assis da Biblioteca Nacional. “Dias Perfeitos”, meu segundo romance, publicado em abril de 2014 pela ed. Companhia das Letras, também teve trajetória inesperada. Antes, uma breve sinopse: Dias Perfeitos conta a história de Téo, um solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e dissecar cadáveres nas aulas de anatomia. Certo dia, ele conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema. Clarice está escrevendo um road movie de nome “Dias perfeitos”. Obcecado por Clarice, Téo começa uma aproximação doentia que culmina num sequestro e num plano para forçá-la a gostar dele a qualquer custo. Em poucos meses, Dias Perfeitos esgotou a tiragem inicial de 10 mil exemplares; o livro virou hit na internet, resenhado em centenas de blogs, teve

os direitos de tradução vendido para 8 países (EUA, Canadá, Inglaterra, França, Holanda, Espanha, Itália e Alemanha) e para o cinema. Apareci nos principais veículos de comunicação e passei a ser chamado de “revelação” ou “promessa” da literatura policial brasileira. Fiquei muito feliz com isso tudo, claro. Mas evito me deslumbrar. Sei que cheguei até aqui através de muito trabalho e paciência. Em um dos eventos a que compareci, uma leitora, pretendendo fazer um elogio, me disse: “seu livro é tão bom que nem parece livro nacional”. O comentário dá o que pensar. Em geral, literatura nacional é ruim, chata, mal escrita? Parece-me que o leitor brasileiro está redescobrindo o prazer de ler livros nacionais e, com muita surpresa, tem se deparado com obras de qualidade elevada, muitas vezes melhor do que algumas obras estrangeiras que chegam por aqui. Comentei a positiva aceitação do meu trabalho para exemplificar que existe, sim, um ambiente propício para a consolidação de uma literatura policial brasileira. Infelizmente, tudo ainda é muito disperso e frágil. Parece faltar união entre os escritores, um movimento unificado para que a literatura policial brasileira chegue ao gosto do leitor (como tem sido feito, por exemplo, por alguns autores de literatura fantástica e chicklit). Façamos mais eventos, clubes de leitura, workshops, palestras. Talvez até uma associação de autores ou uma revista especializada pra promover o gênero, que tal? Meu texto não é uma cobrança (afinal, o elemento sorte faz parte da fórmula do sucesso e não tenho direito de cobrar nada de ninguém), mas uma convocação aos autores para que persistam, se unam e busquem uma consolidação do gênero policial. É um convite a todos para tomarem parte neste ótimo momento da literatura policial. E é também um apelo. Escritores policiais, cadê vocês?

QUEM É ELE

- Raphael Montes é um escritor brasileiro. Sua estreia na literatura foi em 2009 e em 2012 publicou seu primeiro romance, “Suicidas”, finalista de vários prêmios. Este ano, pela Companhia das Letras, lançou “Dias Perfeitos”, vendido para oito países. Seus romances serão adaptados para o cinema em breve.

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LITERATURA

VLOGS LITERÁRIOS CRESCEM NO BRASIL E INFLUENCIAM LEITORES Vídeos motivam a ler mais e contribuem para a formação de novos leitores Por Camila Tebet

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ais de 56 mil inscritos no Youtube e 110 Também na ativa, há quase cinco anos, está a doumil seguidores no Facebook. É essa a tora em Literatura e professora de Literatura da quantidade de gente que o pessoal do Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Cabine Literária atinge. Criado por Danilo Leonardi, (PUCMinas) Juliana Gervason. Quando criou o blog de 26 anos, o canal literário surgiu em 2010, com literário O Batom de Clarice, falava também de ouo intuito de registrar suas leituras e aumentar a tros assuntos, como moda. “Era uma válvula de quantidade de livros lidos por ano. Produzir con- escape para o doutorado que eu fazia na época teúdo para o Youtube foi a maneira que Leonardi – estava cansada, focada demais em um assunto e encontrou para compartilhar suas opiniões sobre precisando de um espaço para espairecer”, conta. os livros lidos por ele, já que sabia que os blogs No final de 2011, surgia o vlog no Youtube, como existentes na época iriam, logo, trilhar o mesmo mais um canal de comunicação. caminho. O Cabine Literária, um dos pioneiros no Juliana lembra com carinho do primeiro vídeo que ramo, é também um dos canais que mais possui fez, para os leitores do blog, com o intuito de mosseguidores. trar a sua biblioteca particular. Alguns meses deAlém de críticas literárias, a equipe produz outros pois, descobriu o canal Tiny Little Things, produzitipos de vídeos, como o Literanews, divulgando as do por Tatiana Feltrin, e percebeu que o Youtube últimas novidades do mundo literário; vídeos de era um espaço bacana para se falar de literatura e leituras realizadas no mês; dicas; lançamentos li- interagir com outros leitores. Atualmente, o canal terários; o Literatudo, vídeo em que os integrantes conta com mais de dez mil inscritos. “Não imagidiscorrem sobre os mais variados assuntos; e as nava que havia tanta gente que gostava de ouvir TAGS, vídeos nos quais a equipe responde a per- falar de literatura. Nem com os meus amigos eu guntas determinadas por outros videologs, mais consigo esse diálogo”, afirma. conhecidos por vlogs. Cada vídeo conta, em média, Com um formato diferente, a vlogueira grava vídecom sete mil visualizações. os sobre assuntos variados relacionados à literaPor mês, são resenhados cerca de 10 livros. “A tura, como preconceito literário, e os já tradicioequipe é rotativa, mas regularmente temos qua- nais “Tudo Junto e Misturado”, nos quais fala sobre tro pessoas fazendo críticas todo mês”, conta o os livros que adquiriu, recebeu de parceria com criador do vlog. Escolhidos de acordo com a pre- editoras, além de tecer comentários sobre as leiferência de cada integrante, as críticas se baseiam turas recentes. Cada vídeo conta, em média, com em critérios como impacto, originalidade, uso da três mil visualizações. Já seu blog recebe, mensallíngua, coerência, relevância histórico-cultural, mente, cerca de 20 mil visitas. entre outros.

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A jornalista curitibana Gisele Eberspächer também se encantou pelo universo dos vlogs literários. Em setembro de 2012 criou o canal “Vamos falar sobre livros?”, que hoje atinge a mais de cinco mil pessoas no Youtube. Por mês, ela resenha cerca de oito livros, escolhidos pela sua preferência pessoal. Em cada vídeo, ela gosta de comentar sobre a sinopse, sobre o autor e sobre a maneira com que ele constrói a narrativa. “Uma das coisas que mais gosto no Youtube é a informalidade. É diferente de uma crítica acadêmica ou mais estruturada. No Youtube, os critérios são muito subjetivos, gosto de pensar nele como uma conversa entre vários leitores em um café ou um bar”, explica Gisele, que fala também que a experiência de conversar sobre livros com outras pessoas e trocar sugestões é muito positiva.

Influência positiva ou negativa? Amanda Angelozzi, estudante de Letras da Universidade de São Paulo (USP), começou a ler livros de literatura desde pequena, por volta dos cinco anos. Atualmente, aos 20, se obriga a ler pelo menos um livro por mês. Em meses mais tranquilos, quando tem mais tempo, lê de três a cinco obras. Foi em 2013 que descobriu o mundo dos vlogs literários, quando assistiu, por meio de um colega, um dos vídeos do canal Tiny Little Things. Desde então, passou a acompanhar mais canais, como O Batom de Clarice, e o Ainda MininaMá, da vlogueira Patrícia Pirota.

Além disso, os vídeos também despertaram a estudante a ler alguma obra que antes ela não tinha interesse, ou, ao contrário, fizeram com que ela perdesse a vontade de realizar a leitura. Para a atendente de farmácia Tayara Casemiro de Olmena, de Bauru (SP) e para a estudante Karoline Melo de Oliveira, de Osasco (SP), os vlogs literários brasileiros contribuem bastante para a formação de novos leitores. Tayara começou a ler livros de literatura aos 13 anos e Karoline aos 12 e, desde então, as duas leem, em média, três livros por mês. Tayara, que acompanha os canais Cabine Literária, Tiny Little Things, O Show do Luan e Aviviu, conta que tem vontade de ler quase todos os livros que são indicados pelos vlogueiros. “Eles falam do livro com muita empolgação e me deixam curiosa, me fazem querer sentir o que eles sentiram lendo o livro”, declara. Karoline também diz sentir essa vontade, principalmente quando a crítica é positiva: “Eles falam com uma emoção que atrai”. Segundo Danilo Leonardi, do Cabine Literária, a influência que os vlogs literários causam nos leitores é mais positiva do que negativa. “Recebo mensagens toda semana sobre pessoas que começaram a ler por indicação do canal, ou que começaram a ler mais por conta do nosso exemplo. Isso é muito bacana e é um grande incentivo para o nosso trabalho”, destaca. Para ele, os vlogs trazem outros pontos de vista para o leitor, que deve se sentir desafiado a buscar a sua própria opinião sobre as leituras que faz.

A curitibana Gisele, do “Vamos falar sobre livros?”, conta que ela mesma já foi influenciada por vlogs literários. Antes de criar o seu próprio canal, ela “O gosto das pessoas que fazem estes vlogs são parecidos com os meus, então as indicações da- acompanhava alguns e a maioria de suas leituras eram feitas com base em indicações de vlogueiros. das de livros são compatíveis ao que procuro, o que é ótimo. São pessoas também que confio, Depois de ler alguns livros que não eram tão comque tem uma bagagem de leitura que me agrada, patíveis com seu gosto literário, passou a acompanhar canais com um perfil parecido com o dela. falam sério, gostam do que fazem e sempre têm “Quando nos empolgamos com uma leitura, fica muito cuidado com os vídeos, as dicas e o contemuito claro em um vídeo. Cabe ao leitor relativiúdo”, explica Amanda, que se sente mais motivada a ler por conta dos vídeos. Para ela, o formato des- zar, buscar outras opiniões”, afirma. Além disso, ela acredita que os vlogs motivam as pessoas a ler contraído das produções torna a literatura mais acessível, já que é possível encontrar dicas de lei- mais, a comprar mais livros e a também criar um ambiente de debate: “a sensação que tenho é que turas para todos os gostos. os leitores estão achando maneiras de se expresAo mesmo tempo em que os vlogs a motivam a sar mais, independente se for um canal, blog, ou ler mais, também despertam seu lado consumista. qualquer outra maneira”. “Eles contam a história do livro, tecem pequenos comentários sobre o enredo e o autor, fazem crí- Para a criadora d’O Batom de Clarice, Juliana Gervason, os vlogs influenciam as pessoas de diticas, falam de outras produções relacionadas e versas maneiras. “Hoje as pessoas trocam figumostram a obra – e, se for um livro bonito e bem rinhas, compartilham gostos, incentivam. Sinto feito, já dá vontade de ter na estante”, explica.

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que a leitura virou um objeto de consumo – num sentido positivo para o termo”, afirma. Entretanto, Juliana alerta para algo que vem acontecendo com os canais literários, assim como também acontece em diversos outros meios: “não sei se a pessoa indica porque realmente gostou ou porque está sendo paga, ganhou, está fazendo propaganda”. Por conta disso, ela conta que procura manter o vlog como um hobby, sem lugar para lucro ou pro-

paganda. Além disso, está revendo algumas parcerias com editoras, que antes enviavam os livros solicitados pelos vlogueiros e hoje enviam obras determinadas, quase “obrigando a fazer resenha”. Ela deixa claro que o objetivo do canal não é esse e dá uma dica para aqueles que acompanham ou pretendem acompanhar vlogs literários: é importante ouvir opiniões diversas para não cair no erro de se ater a apenas ao que determinado vlogueiro achou de cada obra.

Conheça e acompanhe Os vlogs literários caíram no gosto dos leitores conectados e promovem cada vez mais interação. Por meio deles, é possível entrar em contato com pessoas com o mesmo gosto literário que o seu e trocar ideias e sugestões. Conheça os seguintes vlogs:

Tiny Little Things

Vlogueira: Tiny Little Things No ar desde: 2007 Blog: http://frappuccinomochabranco.blogspot.com.br/ Estilo: Variado. A vlogueira lê e resenha best-sellers, clássicos e também quadri-

nhos. Possui algumas colunas semanais, como a “Poesia da Semana” e participa de alguns desafios, como o “Lendo Proust”.

O Batom de Clarice

Vlogueira: Juliana Gervason No ar desde: 2011 Blog: http://www.obatomdeclarice.com/ Estilo: Possui vídeos como os tradicionais “Tudo Junto e Misturado”, nos quais fala

sobre os livros que comprou e recebeu e tece comentários sobre os livros lidos. Além disso, em alguns vídeos discorre sobre alguns assuntos relacionados à literatura, como preconceito literário. Também possui um gosto literário muito eclético, lendo de clássicos a best-sellers.

Cabine Literária

Criado por: Danilo Leonardi No ar desde: 2010 Blog: http://cabineliteraria.com.br/ Estilo: As resenhas são feitas com base nos livros lançados no momento e o canal é

mais voltado para o público jovem. Além de críticas, o canal possui vídeos de novidades, dicas, listas e também possui algumas críticas de adaptações literárias para o cinema.

Vamos falar sobre livros?

Criado por: Gisele Eberspächer No ar desde: 2012 Blog: http://giseleeberspacher.wordpress.com/ Estilo: Faz resenhas de títulos que atraem mais o público adulto. Além disso, faz vídeos

falando sobre os novos livros, indicações de outros produtos e alguns vlogs, quando como esteve na Feira Literária Internacional de Paraty.

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SIMPLIFICAR O CLÁSSICO É PREJUDICIAL? Adaptação de grandes clássicos da literatura brasileira gera opiniões divergentes Por Maria Luiza de Paula “Todos os dias vejo pessoas de todas as faixas de renda que não se interessam pela leitura”, diz a escritora Patrícia Secco, especializada em obras infantis, que tomou as manchetes de grandes jornais brasileiros quando anunciou que lançaria uma versão simplificada dos livros “O Alienista”, de Machado de Assis, e “A Pata da Gazela”, de José de Alencar. Nela, a escritora faria algumas mudanças no texto, trocando algumas palavras por sinônimos (como “esperteza” em vez de “sagacidade”, por exemplo) e usando frases mais diretas.

tribuídas gratuitamente. “O público de uma maneira geral não participou desta polêmica e aceita muito bem o trabalho”, diz Patrícia. Nem todos aprovam a escritora. Professor de literatura há mais de 30 anos em Curitiba, Braz Ogleari diz que acha errado modificar a obra do escritor. “A escola precisa levar o aluno a crescer e não nivelar por baixo”, explica. Na opinião do professor, é o aluno que deve se adaptar, desenvolver a sua capacidade de interpretação e formar uma mentalidade crítica.

Discutir o modo como o jovem vai ler os grandes clássicos da literatura nacional é um tema rele- O jornalista Yuri Al’Hanati, especializando em litevante, já que a última pesquisa do Instituto Pró Li- ratura, lembra que diferentes formatos de adaptação de grandes obras já foram usados, como vro, feita em 2011, mostra que os brasileiros leem os quadrinhos. Para ele, apesar de se demonsem média apenas três livros por ano. Outra pesquisa, feita pela NOP World Culture Score Index, trarem interessantes na hora de atrair a atenção dos jovens, deve haver um certo cuidado com eles. diz que o brasileiro lê, aproximadamente, apenas “Quadrinhos não são literatura, são outra lingua5 horas por semana. São índices preocupantes, ficando abaixo de alguns de nossos vizinhos sul-a- gem”, diz Al´Hanati. O jornalista também acredita que, no caso das adaptações feitas por Patrícia mericanos, como Argentina e Venezuela. Secco, mesmo mudando apenas algumas palavras, “O projeto em questão visa ao acesso de pessoas perde-se algo da obra original no meio disso. não leitoras, já fora do sistema educacional, aos clássicos da literatura brasileira”, explica a escri- Apesar das críticas, Patrícia não está sozinha. O tora. Ela afirma que não reescreveu os livros, ape- escritor carioca Carlos Heitor Cony, por exemplo, já realizou algumas adaptações como “O Ateneu”, nas coordenou todo o projeto. Patrícia disse que de Raul Pompeia. Na tese de doutorado de Raquel chamou profissionais com grande experiência no mercado editorial para conseguir fazer a transpo- Bueno, “Os Invólucros da Memoria na Ficção de Carlos Heitor Cony”, o escritor explica que adaptasição da linguagem. ções fazem parte da literatura mundial e que não Lançados em junho, os livros foram distribuídos se pode obrigar um adolescente a aceitar uma linpelo Instituto Brasil Leitor e foram bem recebidos guagem que não faz parte do seu cotidiano. pelo público. No início seriam 600 mil cópias, dis-

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Brasileiro lê ou não lê? Para o professor de literatura Braz Ogleari, não só o Brasil, mas o mundo hoje vive uma situação que não estimula a leitura. “A vida corrida que se leva hoje não combina com a leitura, pois para ler você precisa parar tudo o que está fazendo e se concentrar apenas no livro”, afirma o professor. Apesar do baixo índice de leitura dos brasileiros, alguns dados recentes podem trazer um pouco de otimismo para a discussão. Segundo informações do Ministério da Cultura, 82% dos gastos com o Vale-Cultura, um cartão-magnético pré-pago que disponibiliza R$ 50,00 para que trabalhadores de baixa e média renda de empresas com lucro real possam gastar com cultura, foram com livros, jornais e revistas. O Ibope também divulgou que os brasileiros devem gastar cerca de R$ 9,3 bilhões com livros em 2014. Os números altos com as vendas, entretanto, também refletem a compra de livros por escolas e instituições de ensino, como lembra o jornalista especializado em literatura, Yuri Al’Hanati. Segundo ele, pode-se dizer que muitas mudanças aconteceram nas últimas décadas, inclusive a diminuição do analfabetismo. “Esse aumento no número de vendas pode ser um reflexo das feiras literárias que se popularizaram nos últimos anos e que promovem uma interação dos autores com o leitor”, afirma Al’Hanati. Grandes best-sellers internacionais, como a trilogia “Jogos Vorazes”, de Suzanne Collins, por exemplo, são responsáveis pelas vendas expressivas, segundo afirma o jornalista.

Ler, segundo Ogleari, é um hábito que se adquire desde pequeno. “A falha muitas vezes começa com os próprios professores, que não têm um boa preparação”, explica. Mal remunerados e sem tempo para se dedicarem a uma especialização, o professor não consegue passar o conhecimento necessário para o aluno. Os que mais sofrem, segundo afirma, são os educadores do ensino fundamental, justamente aqueles que deveriam preparar a base. Na opinião do professor de literatura, apesar de alguns sinais de mudança, ainda há muito a ser feito. “Precisaria haver uma mudança de mentalidade, mas, mesmo que isso acontecesse, só veríamos o resultado disso daqui vários anos”, explica. Ogleari diz que o Brasil precisa amadurecer a forma como trata o estudo, as pesquisas e também a literatura.

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VAMOS CELEBRAR A LITERATURA Em sua segunda edição, festival Litercultura busca estimular a leitura por meio de eventos e discussões Por Camila Tebet

U

ma grande festa literária, com a direito a música, recitais e acaloradas discussões a res-

peito de um dos temas que sempre pautou

O Litercultura também realiza ações socioeducativas. O festival conta com uma parceria com a Fundação

Cultural de Curitiba, pela qual disponibiliza uma cota

debates: a literatura. Fazer uma grande celebração

de ingressos para professores de escolas municipais.

está em sua segunda edição. Assim como nos livros,

estimula a doação de livros, e de algumas instituições

é o objetivo do festival curitibano Litercultura, que

o festival foi formulado para ser dividido em capítulos, distribuídos ao longo do ano. Os dois primeiros

já aconteceram, o primeiro em maio e o segundo em

agosto. Já o terceiro acontece em outubro e o quarto

em novembro, em formato de um grande festival, coroando o que foi realizado ao longo do ano.

Para a diretora geral do festival, Manoela Leão, é im-

Além disso, é parceiro da ONG “Freguesia do Livro”, que

educacionais, para as quais serão ofertadas oficinas

e leituras com os alunos no último capítulo. Em 2013,

doou cerca de 200 livros para as Tubotecas, pontos de

empréstimos de livros nos tubos de ônibus de Curitiba.

1º Capítulo O primeiro capítulo do festival aconteceu em maio

portante que a aproximação dos leitores com os au-

deste ano e contou com o tema “Futebol e Cultura: da

o Litercultura possui esse formato. Além disso, ela

de Rogério Tavares, girou em torno da cultura futebo-

pre existiram várias ações literárias na cidade, mas

respondente esportivo da BBC de Londres, e Adolfo

ta, é um espaço para celebrar a literatura”, afirma.

nhol Real Madrid.

tores e com o mundo literário seja contínua, por isso

destaca que o festival é pioneiro na cidade. “Semcomo o Litercultura não existia. Ele tem clima de fes-

Já em sua primeira edição, e nos dois primeiros capí-

História Real e do Mito”. A discussão, com mediação

lística no Brasil e teve a presença de Tim Vickery, cor-

Montejo, poeta, artista e ex-jogador do time espa-

Nesta etapa, o festival exibiu também o documentá-

tulos deste ano, os eventos estiveram lotados. Para

rio “Dossiê 50 – comício a favor dos naufrágos”, feito

gramação de qualidade. “Mais do que discutir a lite-

gadores que disputaram a Copa do Mundo de 1950.

Manoela, a boa recepção do público se deve à proratura, é preciso que se leia. Por isso, nosso objetivo é estimular a leitura por meio de eventos que sejam

focados no leitor, no que é interessante para ele”,

destaca. Todas as mesas, conferências e palestras

seguem o mesmo critério: temas que gerem identifi-

cação no público leitor.

Além disso, segundo Mário Hélio Gomes, curador do

festival, é importante promover a literatura relacio-

nada com outras linguagens, como a música, o futebol

e o cinema. “O festival todo é um grande estímulo à leitura, para que as pessoas busquem a literatura em

suas mais diversas formas”, afirma. Os palestrantes,

além da qualidade técnica, foram escolhidos com o intuito de mostrar que a literatura não é estática.

pelo jornalista Geneton Moraes Neto sobre os 11 jo-

Além disso, o jornalista Sérgio Rodrigues apresentou,

em um bate-papo, sua obra “O Drible”, falando também sobre sua experiência profissional.

2º Capítulo Em seu segundo capítulo, “Simplesmente Humano”, bastante esperado pelos leitores curitibanos e com os

ingressos esgotados em poucas horas, o Litercultura

recebeu o escritor radicado em Portugal Valter Hugo

Mãe para uma conferência. Mãe lotou a Capela Santa Maria, local em que o evento aconteceu, no dia 7 de

agosto, e falou sobre a sua carreira e produção literária, em uma conversa mediada pelo jornalista Manuel

da Costa Pinto. Além disso, o escritor leu um texto inédito, preparado especialmente para o festival, no qual falou sobre memória e tempo, prendendo a atenção

dos presentes por exatos 27 minutos.

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Crédito:: Maria Luiza de Paula

No ano passado, Litercultura trouxe, para a conferência de abertura, o escritor argentino Alberto Manguel Após a leitura do texto, foi exibido um trecho de

“cantes”. O cantor espanhol mostrará em sua apre-

Gonçalves Mendes, ambientado na Islândia, local que

repertório que inclui fandangos, tangos, martinetes,

oito minutos do filme “O Sentido da Vida”, de Miguel

sentação a variedade dos estilos de flamenco, num

também serve de pano de fundo para o mais recen-

entre outros. Antes do recital acontecerá uma pales-

página 42). Além disso, Mãe conversou com o público

contexto. Participam da apresentação o guitarrista

te livro do autor, “A Desumanização” (veja a crítica na

e falou sobre sua carreira como escritor, que começou

em 2004, com a publicação do livro “O Nosso Reino”,

começo da tetralogia que fechou em 2010, com “A Máquina de Fazer Espanhóis”.

Sobre a tetralogia, o autor afirmou que está sempre em

busca de livros que o assombrem, que contestem seus

ideais, e que isso dificilmente acontece. Em sua obra,

tenta alcançar esse objetivo. Nos quatro livros, abor-

dou a vida de pessoas diferentes, mas que refletem sobre a concessão da vida. Com bom humor, durante

a conferência, afirmou que só percebeu depois que o

motivo dos quatro romances foi inútil. “Nós todos vamos morrer muito cedo. O propósito não é perdurar, é completar. Sempre ficarão arrependimentos”, disse.

Mãe falou também sobre as suas principais influên-

cias brasileiras, citando autores como Clarice Lispector, Guimarães Rosa e Ferreira Gullar. A partir da lite-

ratura brasileira percebeu que existe uma distância

entre o português brasileiro e o de Portugal, sendo

que o primeiro o atraiu por ser mais livre. Além disso,

destacou a importância da poesia em sua vida. “Eu

queria ser um poeta. Acho que eles têm a razão”, afirmou, revelando que nunca imaginou ser romancista.

“Tudo o que sei aprendi com a poesia. É a arte suprema do discurso”, completou. No fim da conferência,

que abrigava um público de diversas idades, o autor

tra a respeito da cultura flamenca e da poesia nesse

Raúl Mannola e a bailadora Eleonora Bayaz.

4º Capítulo De 20 a 23 de novembro, no Clube Curitibano – Sede Concórdia, acontecerá o Grande Festival do Litercultura, feito para celebrar as ações realizadas ao longo do ano. Apesar de não estar com a programação completamente fechada, alguns participantes já foram confirmados. A conferência de abertura ficará por conta do autor chileno Antonio Skármeta, que falará sobre “O leitor como poeta: a inesperada aventura da poesia narrativa de Antonio Skármeta”. O autor tem a poesia como a força motor de sua narrativa e trará isso para o festival, com exemplos escolhidos especialmente para a ocasião. O 4º capítulo contará também com uma conferência com o romancista e escritor israelense Ioram Melser, que analisará a Bíblia como obra literária; uma palestra de Fernando Báez, poeta, ensaísta, ativista e romancista venezuelano, que falará sobre histórias curiosas de leituras de todos os tempos e de diferentes povos; uma conferência de Eric Nepomuceno, escritor, jornalista e tradutor, que falará sobre “O exercício da solidão”; uma palestra do músico e escritor Luiz Tatit, que irá descrever a atividade do cancionista brasileiro; entre outros temas.

permaneceu no local por mais algumas horas, auto-

grafando os livros de quem esteve presente.

3º Capítulo O terceiro capítulo do festival acontecerá no dia 30

Vale lembrar que, assim como no ano passado, os ingressos são gratuitos. Para saber como participar dos eventos e consultar a programação, acesse www.litercultura.com.br.

de outubro, a partir das 19h30, na Capela Santa Maria, e trará a apresentação do cantor de flamenco Manuel Lorente, reconhecido por seu estilo inspirado nos

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CRÍTICA LITERÁRIA

HÁ QUE SE MANTER A ESPERANÇA Por Camila Tebet O livro pode ser fino, mas sua história passa longe da leveza e superficialidade. “A Desumanização”, de apenas 160 páginas, é um relato cruel, inquietante e sensível. Porém, ao mesmo tempo em que traz assuntos um tanto pesados, o autor Valter Hugo Mãe imprime uma poesia sem igual na obra, tornando-a bastante tocante e bonita. Ambientado em uma pequena aldeia da Islândia, o livro traz a história da pequena Halla, que com onze anos perdeu sua outra metade, a irmã gêmea Sigridur. A obra é um relato, narrado em primeira pessoa, de como Halla tenta reencontrar a si mesma após a morte da irmã. Ela, que se sente muito perdida, tem que lidar também com a ruptura da própria família, já que a mãe não aceita a morte da filha e o pai fica desnorteado com a situação. Buscando o seu sentido na vida, Halla tenta sobreviver, embora se sinta como a “menos morta”. Em sua própria solidão, ela lida com diversas situações, como a crueldade da mãe, que quase não suporta olhar para a filha que está viva. Seu único aliado em casa é o pai poeta, que tenta explicar para a filha que nós somos o que nós vemos, portanto, é preciso buscar a beleza da vida. Além de explorar a situação de dentro da própria casa, o autor insere as reações dos poucos moradores da aldeia e de que forma lidam com a pequena. Em meio a seus percalços, Halla aproxima-se de Einar, um rapaz do qual vivia fugindo, entre brincadeiras, junto com a irmã. Como o achavam nojento e grotesco, Sigridur pediu, antes de morrer, que Halla nunca desse bola para ele. Porém, devido

aos tristes acontecimentos, é em Einar que a pequena Halla busca consolo. Juntos, os dois estranhos buscam um complemento. É com ele que ela passa a amadurecer e deixa de ser uma criança. E, nela, Einar reencontra a esperança. O romance mais recente de Valter Hugo Mãe mantém o lirismo e a poética de suas outras obras. Desnudando o interior de Halla, o autor expõe a personagem e suas principais batalhas e faz com que o leitor sinta-se arrebatado pela menina, que amadurece muito rápido perante as situações vividas. É difícil não se comover com tanta dor sentida por ela. São inúmeros os sentimentos que a leitura desperta. Além de falar sobre o amadurecimento de Halla, o livro traz as muitas descobertas feitas por ela na passagem da infância para a fase adulta. Ela, aos poucos, vai descobrindo o mundo e seus prazeres e desprazeres. Descobre também que só querer não é o bastante para esquecer as marcas deixadas pelo tempo. Para enfrentá-las, é preciso saber lidar com cada uma delas. Fazendo-se valer de uma prosa poética e de muitas metáforas, que em alguns pontos tornam a leitura um pouco enfadonha, Valter Hugo Mãe traz uma história capaz de despedaçar o coração do leitor, ao mesmo tempo em que gera um turbilhão de pensamentos a respeito da vida, do amor, da compaixão, e de tantos outros temas que permeiam a nossa existência. Ao fim da leitura, fica o questionamento e a vontade de que a desumanização esteja tão longe quanto esperamos.

“O inferno não são os outros, pequena Halla. Eles são o paraíso, porque um homem sozinho é apenas um animal. A humanidade começa nos que te rodeiam, e não exatamente em ti. Ser-se pessoa implica a tua mãe, as nossas pessoas, um desconhecido ou a sua expectativa. Sem ninguém no presente nem no futuro, o indivíduo pensa tão sem razão quanto pensam os peixes. Dura pelo engenho que tiver e perece como um atributo indiferenciado do planeta. Perece como uma coisa qualquer”.

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PROPAGANDA

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ARQUITETURA

O PARANÁ EM FORMA DE ESCULTURA Exposição conta com 130 peças que visitam a trajetória do artista paranaense. Algumas de suas obras podem ser vistas também nas ruas da capital Por Stephany Guebur

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om a vinda do Papa Francisco em 2013 para o Brasil, a presidente Dilma Rousseff o presenteou com uma escultura feita pelo paranaense João Turin, batizada de “Frade”. A obra também pode ser vista na exposição “João Turin - Vida, obra, arte”, que se encontra no Museu Oscar Niemeyer até o dia 2 de novembro. Além dessa, outras peças conhecidas e outras inéditas do escultor estão expostas. Além de escultor, Turin se aventurou em outras artes, como a de moldar, desenhar e modelar. Com curadoria de José Roberto Teixeira Leite, a exposição foi inaugurada no dia 6 de julho e conta com 130 obras em bronze. Na visita, os admiradores da arte do paranaense podem ter uma visão completa de quem ele foi, o que fez e o que produziu. O passeio é guiado por 50 anos de carreira, possibilitando que os visitantes conheçam variadas obras do criador e maior representante do Paranismo – um movimento artístico baseado na valorização do indígena e na estilização de elementos da fauna e da flora do Paraná.

Considerado o pai da escultura paranaense, Turin sempre trabalhou com peças animalescas, principalmente aquelas que tinham felinos. Também colocava um pedaço do Paraná na maioria de suas obras, para retirar o estilo europeu que predominava nas esculturas feitas por outros brasileiros, conforme explica Ricardo Freire, historiador de arte do Museu Oscar Niemeyer. Essa arte de representar o Paraná nas suas obras ficou conhecida como movimento Paranista, idealizado por ele juntamente com os pintores Lange de Morretes e João Ghelfi.

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Além de expostas dentro do espaço museu, suas obras podem ser vistas também em ruas da capital paranaense e até mesmo fora do Brasil. Em 2011, as obras do escultor foram tombadas pela Secretaria de Cultura do Estado do Paraná e recentemente começaram a passar por um processo de restauração feito pelo Ateliê João Turin.

A exposição Na exposição “João Turin – Vida, obra, arte”, é possível conhecer tanto o lado pessoal de Turin, quanto seu lado como artista. Existem obras inéditas e outras pouco conhecidas, que revelam o seu lado como desenhista, pintor, arquiteto, design de móveis e de roupas. Esse vasto acervo hoje pertence a Samuel Ferrari Lago. A exposição tem curadoria de José Roberto Teixeira Leite, que também escreveu um livro sobre o artista, com o mesmo nome da exposição. Teixeira Leite diz que a sua relação com o artista João Turin é “de um crítico e historiador da arte ao se deparar com a produção tão pouco estudada de um importante escultor brasileiro”. Ele relembra que foi há cerca de 12 anos que começou a mostrar grande interesse pela obra do paranaense e que, no ano de 2012, o dono do acervo, Samuel Lago, convidou-o para ser curador da exposição, simultaneamente ao convite que recebeu para redigir o livro. A preparação, conta, levou cerca de dez meses, unindo pesquisa e a redação final. O principal critério para a seleção das obras, conforme explica, era buscar o que tinha de mais re-


Crédito:: Stephany Guebur

Crédito:: Stephany Guebur

O monumento “Tiradentes” que se localiza no centro da cidade de Curitiba, na praça Tirandentes, feito por João Turin.

Estatua em bronze feita por Turin, nomeada de “O Tigre Esmagando a Cobra”, acabanda em 1944.

presentativo em cada um dos gêneros (animais, figuras, monumentos, bustos, entre outros). Além disso, o curador procurou mostrar as diversas facetas da atividade artística do paranaense, como os projetos de arquitetura, as artes decorativas e os estudos de traje. “Os critérios foram os de qualidade, antes e acima de tudo, singularidade (pois Turin em certas ocasiões revela-se único) e representatividade”, explica.

e passadas para o bronze, uma maneira de evitar que fossem destruídas pelo tempo. Maurício Appel, gestor do acervo do artista, afirma que a principal agressão sofrida nas peças de Turin expostas na cidade não foi a falta de manutenção, mas sim o fato de a obra ter apanhado sol apenas de um lado da peça, o que ocasionou uma dilatação desproporcional do metal, e que, com o tempo, tem apresentado fissuras, rachaduras e perdas, que por muitas vezes podem ser irreparáveis.

A mostra pode ser visitada tanto por quem já possui um vasto conhecimento das obras do artista, quanto para quem ainda está descobrindo-o. “O “A dificuldade de uma obra pronta de ser restaufundamental desta exposição é mostrar aos virada é sempre o manuseio dela e, também, a mão sitantes, aos jovens principalmente, um grande de obra qualificada para restaurar com a devida artista paranaense e brasileiro do qual devem se qualidade”, explica Appel sobre a restauração orgulhar”, afirma Teixeira Leite. Depois do Museu das obras. Além disso, ele afirma que durante a Oscar Niemeyer, a exposição segue para a Pinacoexposição no MON as pessoas podem tocar nas teca, em São Paulo, e depois para o Museu Naciocriações do artista e isso pode ser perigoso para nal de Belas Artes no Rio de Janeiro. Deve passar as peças. Porém, destaca, para o artista era mais também por outros estados e países. importante que as pessoas sentissem o trabalho. “Ele deixou por escrito que as obras dele deveriam ser tocadas”, complementa.

Restauração

A maioria das peças expostas são inéditas. Isso porque grande parte de suas obras não passou da fase inicial, em gesso. Quando o artista morreu, em 1949, as esculturas foram encontras em seu ateliê. Agora, 65 anos depois, foram restauradas

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Obras espalhas pela cidade Algumas das produções de Turin podem ser encontradas nas ruas das capitais paranaense. São elas: “Tigre esmagando a cobra” – localizada na Av. Manoel Ribas, em frete à Secretaria do Meio Ambiente -, “O rugir do tigre”, popularmente conhecida como “Luar do Sertão” – na rótula viária do Centro Cívico, quase em frente à prefeitura -, “Monumento à Rui Barbosa” – na praça Santos Andrade, em frente ao prédio da Universidade Federal do Paraná - e “Tiradentes”, na praça Tiradentes. Além de Curitiba, as obras dele podem ser encontradas no Rio de Janeiro e em Paris, na França.

Crédito: http://debonatenhodito.blogspot.com.br/

No livro “João Turin - vida, obra, arte”, escrito por Teixeira Leite, o autor mostra que em uma visita ao ateliê de João Turin, Valfrido Pilotto, o primeiro ocupante da cadeira número 1 da Academia Paranaense de Letras, viu o escultor trabalhando na obra “Tigre esmagando a cobra” e anos depois a descreveu como “o espírito criador irado contra o veneno das mentalidades rastejantes”. Por essa obra, o artista recebeu em 1944 uma medalha de prata no Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Em 1947 recebeu medalha de prata no Salão Paulista de Belas Artes pelo busto de Dario Veloso, que havia lhe rendido também medalha de ouro no Salão Paranaense de Belas Artes, e a

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cobiçada medalha de ouro pelo “O Rugir do Tigre”, conhecida também por “Luar do Sertão”, no Salão Nacional de Belas Artes. Em 1936, Turin passou a receber encomendas de peças. Foram estudantes de Direito da Universidade Federal do Paraná que encomendaram o Monumento a Rui Barbosa. “Ao retratar Rui Barbosa, Turin impôs sua vontade aos que o desejavam em outras poses ou atitudes, mantendo-o com o braço direito erguido, em gesto de quem discursa”, descreve o crítico José Roberto Teixeira Leite em seu livro. Já a estátua de Tiradentes é uma contribuição do Paraná ao centenário de nascimento de Benjamim Constant. A escultura foi exposta pela primeira vez no Salão Nacional de Belas Artes em 1926, quando ainda era de gesso. Para Maurício Appel, o artista é de vital importância para o país, sendo considerado um grande escultor moderno, que se preocupou em retratar e dar valor à fauna e à flora brasileiras. “Ele representava o Paraná por meio de índios, onças, elementos da flora, como o pinhão e a araucária, mas também esteve sempre presente quando a arte lhe convocou para fazer personalidades brasileiras e paranaenses em praças públicas”, afirma.

João Zanin Turin, mais conhecido como João Turin, nasceu em 1878, no litoral do Paraná. Descobriu o que era escultura ainda quando criança, quando colocava argila sob seu corpo e deixava secar para depois remover e brincar com os moldes obtidos. Com apenas nove anos, mudou-se para a capital com os pais. Em 1905, ganhou uma bolsa do governo do Paraná e foi para Bruxelas (Bélgica) estudar na Real Academia de Belas Artes. Em 1912, ganhou menção honrosa, com a obra “Exílio”, no Salom des Artistes Français, na cidade de Paris. Mas, somente no ano de 1922, é que ele retorna ao Brasil, fixando-se novamente em Curitiba. Foi um dos idealizadores do estilo Paranista de ornamentação arquitetônica, baseado na estilação do pinheiro e de outros elementos da fauna e flora paranaense. Turin faleceu em 1949, em Curitiba.


UMA HISTÓRIA ENTRE QUATRO PAREDES Construídas em diversos momentos históricos e baseadas em variados movimentos artísticos, casas históricas são importantes para a arquitetura, cultura e história da cidade Por Stephany Guebur

C

asas históricas sempre remetem à arquitetura de uma determinada época e muitas vezes traçam paralelos com histórias que marcaram a cidade. Algumas dessas casas já são reconhecidas pelo Estado como Patrimônio Histórico Cultural. Pode-se, muitas vezes, ligar a arquitetura com o movimento artístico da época em que ela está inserida, já que a arquitetura é produto do próprio tempo, conforme explica a coordenadora do curso de Arquitetura da Universidade Positivo e historiadora da arte Maria da Graça Rodrigues dos Santos. “A qualidade de uma arquitetura e a qualidade de uma linguagem arquitetônica vão ter um determinado valor se for construída no tempo devido daquele movimento de arte e arquitetura”, afirma.

A historiadora destaca também que há períodos em que há uma produção mais rica na arquitetura da cidade, com bons exemplares, enquanto há períodos que ela não é muito significativa. Em Curitiba, o ápice é o momento da virada para o século XX, em que se pode observar a arquitetura eclética, elementos da neogótica, igrejas decoradas, casas alemãs, entre outros. Também é o período do enriquecimento dos barões do mate, que construíram diversos palacetes na cidade. Outro momento de grande importância é o surgimento da arquitetura moderna, patrocinada pelo governo do Estado e desencadeada no centenário da emancipação política, em 1953, no qual surgem casas belíssimas e diversos prédios institucionais.

Crédito: Stephany Guebur

Casa dos Arcos A Casa dos Arcos, localizada na Avenida Manoel Ribas, em Santa Felicidade, foi construída no ano de 1895, pelo imigrante italiano Marco Mocelin. É uma das primeiras construções da região e é uma casa colonial, porém, é a casa do colono italiano, representando a ocupação deles no bairro de Santa Felicidade, assim como outras construções presentes ali perto. Geralmente, são mais modestas, constituídas por dois pavimentos, telhas de duas águas e são mais simples, feitas com telhas francesas. A Casa dos Arcos é uma construção mais requintada e traz alguns elementos dos clássicos, como as colunas, o pórtico, uma sacada com balaústres e poteiras. Hoje em dia, funciona como um restaurante no piso térreo, e o segundo andar é reservado para a moradia. Ela é protegida pelo Patrimônio Histórico de Curitiba e conserva seus traços originais. Para Maria da Graça, esta seja talvez a casa mais importante do bairro. “É a arquitetura e expressão da imigração italiana”, destaca. outubro/2014 giro cultural

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Crédito: Stephany Guebur

Casa Romário Martins

Crédito: Maria Luiza de Paula

A casa considerada como a mais antiga de Curitiba é a Romário Martins, localizada no Largo da Ordem. Ela foi construída ainda no século XVIII e é o único exemplar da arquitetura colonial brasileira da cidade. Rosina Coeli Alice Parchen, coordenadora do Patrimônio Cultural do Estado, diz que ela também se insere na arquitetura de imigração portuguesa. Casas do período colonial geralmente foram construídas até o início do século XIX. Apesar de ter sido restaurada no ano de 1973, a Romá-

Casa Andrade Muricy Fazendo parte do repertório eclético da arquitetura de Curitiba está a Casa Andrade Muricy, construída em 1926 e situada na Alameda Dr. Muricy, no centro da cidade. “O que caracteriza a arquitetura eclética é a liberdade de composição dos elementos decorativos. O ecletismo busca elementos de arquiteturas de períodos diferentes

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rio Martins ainda tem uma expressão sobre o que era arquitetura colonial. Durante esse período, a cidade ainda era muito pequena e, conforme foi ocorrendo a sua expansão, tornou-se a capital do Estado. Segundo Maria da Graça, na época as pessoas não se preocuparam em preservar suas antigas casas, por isso é raro encontrar exemplares como este. Atualmente, funciona como centro de exposições da Fundação Cultural de Curitiba e promove a história de Curitiba por meio de exibiçoes artísticas, além de ser uma referência histórica. A casa recebeu este nome devido ao historiador e cronista Alfredo Romário Martins (1874-1948), que fazia inúmeras menções em suas obras à cidade de Curitiba, entre elas a Lei que instaurou o aniversário da cidade dia 29 de março. A construção foi tombada pelo governo do Estado do Paraná em 1971 e incorporada ao Patrimônio Histórico de Curitiba no ano de 1972. “O valor dela é cultural, ela é representativa do período colonial de Curitiba”, afirma a coordenadora Maria da Graça. No imóvel, há elementos muito próprios da época, como beiral, telha capa canal e arcos abatidos.

e de locais diferentes, e traz para a composição do edifício. Quanto mais elaborado e decorado o edifício, mais bonito seria”, explica Maria da Graça. A casa traz elementos da Bellé Époque, que surgiu na Europa e veio para o Brasil na virada do século XIX e início do século XX, com o intuito de embelezar as cidades; e da arquitetura neoclássica, que é mais rígida e ordenada. Dessa forma, podem-se identificar no edifício ornamentos como compoteiras, balaústres, escadas em mármore branco, vitrais, dentilhas, entre outros. O prédio foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Estado no ano de 1977 e o seu nome é uma homenagem a José Cândido Andrade Muricy (1895-1984), escritor e crítico literário e musical. No ano de 1998, após passar por uma reforma, passou a receber exposições, porém, no mês de março de 2014, encerrou suas atividades por tempo indeterminado para realizar outras reformas. O seu espaço era utilizado para exposições de artes visuais, não possuindo um acervo próprio.


Crédito: panoramio.com

Crédito: Stephany Guebur

Palácio São Francisco

Palacete Gomm

Construído um pouco depois da Casa Andrade A Casa Gomm, conhecida também por Palacete Muricy, pelo empresário Julio Garmatter em 1928, Gomm, teve a sua conclusão finalizada em 1913. Ela o Palácio São Francisco localiza-se na Rua Kellers. segue o estilo da Nova Inglaterra (EUA) e foi habiApesar de ser semelhante à Casa Andrade Muricy, tada por uma família inglesa. É uma das poucas o palácio é um pouco menos decorado. Esta obra arquiteturas de origem americana. Em Curitiba, o é uma réplica de uma mansão alemã situada na momento era de expansão urbana e das construcidade de Wiesbaden. Entre os anos de 1929 e 1938, ções dos palacetes dos barões do mate, que em a família Garmatter residiu ali, e posteriormente sua maioria estendiam-se pela antiga Estrada do o governo do Paraná adquiriu o prédio, transfor- Mato Grosso – hoje formada pela ruas Comendador mando-o no Palácio São Francisco, que se tornou Araújo, Av. Batel e Eduardo Sprada. Foi tombada sede do governo estadual até o ano de 1953, quan- pela Patrimônio Cultural do Paraná no ano de 1989. do foi inaugurado o Centro Cívico. No ano de 1987, “A casa traz consigo a técnica construtiva com o foi tombado pelo Patrimônio Cultural do Paraná e uso apurado da madeira, já industrializada”, exatualmente abriga o acervo do Museu Paranaense. plica Rosina Coeli Parchen. Atualmente é a sede da “Ele é menos trabalhado e foi construído no início Secretaria do Estado da Cultura. do movimento moderno, que não conta mais com tantos ornamentos”, explica Maria da Graça.

Patrimônio Cultural O Patrimônio Histórico Cultural de Curitiba conta com 630 imóveis cadastrados, conforme mostra o decreto 2044/2012. A arquiteta Camila Celinski, da Secretaria Municipal de Urbanismo, conta que “é imposível contabilizar os imóveis que estão à espera do reconhecimento pelo patrimônio histórico, já que estes dependem de um estudo de tipologia”. Todas as casas citadas são importantes para a arquitetura, história e cultura paranaense e foram reconhecidas como Patrimônio Cultural do Paraná, exceto a Casa dos Arcos, que é reconhe-

cida como Unidade de Interesse de Preservação pela Prefeitura Municipal. Roseli Coeli Alice Parchen diz que faltam ações integradas para as pessoas conhecerem esses espaços culturais que possuem valor histórico. Além disso, é preciso preservá-los, já que há muita especulação imobiliária, que às vezes se interpõe e os destrói antes que se possa preservá-los. “É preciso ter uma educação voltada para a preservação deste patrimônio desde a infância, para as crianças criarem uma consciência a respeito dos patrimônios históricos e culturais”, afirma.

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PINTURA

FRIDA: A IMORTAL Exposição traz para Curitiba as fotografias do acervo de Frida Kahlo e revisita a sua importância como artista e personalidade Por Camila Tebet

“P

és para que os quero se tenho asas para voar”. De 17 de julho a 30 de novembro, quem vai ao

Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, pode con-

templar 241 fotos do acervo pessoal de uma das artistas

mais importantes que já deixou sua marca pelo mundo.

“Frida Kahlo – as suas fotografias” traz registros fotográficos da mexicana desde a infância até a sua maturida-

de. Alguns dos retratos foram também tirados por ela

e algumas imagens, tiradas por outras pessoas, representam o que a pintora gostava de se inspirar e admirar.

A exposição passa por seis grandes momentos da trajetória de Frida. A primeira parte contempla a vida de seus

pais Guilherme e Matilde, a forma como viviam e como se encontraram. Por grande parte da vida viveram na

chamada “A Casa Azul”, que dá espaço à segunda parte da exposição. Foi lá que Frida viveu durante quase toda

a sua existência. A casa marcou a trajetória da mexicana

como pintora, assim como influente na política, quando hospedou, com seu marido, Diego Rivera, o foragido

Trotsky, com quem chegou, entre as paredes da casa azul, a viver um caso de amor.

O terceiro capítulo da exposição fala sobre algo que de-

com essas questões.

O passeio reflete o interior de Frida, contando sobre

sua vida, seus amores e anseios. Segundo Ricardo Frei-

re, historiador da arte do Museu Oscar Niemeyer, as fotografias revelam uma parte intimista da artista, que

mostra sua preocupação em guardar lembranças de sua

família, de si mesma, dos seus amores e dos aconteci-

mentos da época. “A exposição permite que a pessoa

conheça a intimidade de Frida, seus pensamentos e

desejos”, afirma. Por meio da exposição, complementa,

o visitante conhece a personalidade da artista. “É possível perceber que ela tinha uma personalidade forte e

dominadora”, explica, citando o fato de que em muitas

das fotos a artista recortou a cabeça de pessoas que ela não gostava, ou até mesmo a sua.

Percalços e desalentos A irreverente Frida Kahlo, mexicana nascida no ano de

1907, não esperava que, aos 18 anos, ao entrar em um

ônibus para voltar para casa, teria a sua vida completa-

mente revirada. Durante o trajeto, o veículo chocou-se

finiu a sua vida: o acidente que sofreu quando tinha ape-

com um trem e fez com que a jovem recebesse o baque

íntimo e seu profundo sofrimento, por meio de imagens

e teve o abdome, a coluna e a pélvis transpassados

qual elimina pessoas das fotos em um simples recorte.

para andar, decorrente da poliomielite que teve quando

nas 18 anos. Nesta seção, as fotografias revelam o seu

do acidente. Como resultado, sofreu múltiplas fraturas

mutiladas, intervenções fotográficas feitas por ela, na

por um ferro. Antes do acidente, já possuía dificuldade

O quarto debruça-se sobre os seus amores. São fotogra-

pequena, aos seis anos. As 35 cirurgias e o tempo que

seu amado Diego Rivera. “Eu tive dois acidentes na mi-

curá-la completamente, mas bastaram para deixar mar-

fias de amigos, parentes, amantes e, principalmente, de

nha vida. O primeiro foi o bonde e o segundo foi Diego”,

já dizia sobre o amado, que a fez sofrer tanto quanto as

dores físicas.

A quinta seção, “A fotografia”, traz fotos que Frida gosta-

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o que fez com que a mexicana também se envolvesse

passou presa em uma cama não foram suficientes para

cas não só físicas, como também em seu interior.

Deixada pelo noivo e com dores que nunca mais a aban-

donaram, Frida Kahlo encontrou na pintura uma forma

de assassinar os monstros que a acompanhavam. Suas

va de guardar junto a seus pertences. Eram imagens que

obras refletem as batalhas interiores, angústias e anseios

seu valor simbólico. A última, “A luta política: o olho de

brios. A maior parte de suas pinturas consiste em autorre-

marido, Diego, era um extremo defensor do socialismo,

e porque sou o assunto que conheço melhor”, já dizia.

guardava tanto pela sua qualidade visual, como pelo

que travava, tendo traços muitas vezes sangrentos e som-

Diego”, retrata a ligação da artista com a política. Seu

tratos. “Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha

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quelas do acidente que sofreu. Muitos de seus quadros

refletem essa angústia, como “A cama voadora”, de 1932,

que retratou ao sofrer o seu segundo aborto. No quadro,

a pintora se retrata completamente sozinha, deitada no

leito de um hospital, no momento em que ocorre a perda

do filho. Perto da cama, que é muito maior, ela parece

frágil e desamparada. Sua nudez reflete a sua comple-

ta exposição, e elementos como a lágrima e o seu rosto

sombrio mostram a desesperança e a tristeza profunda

em perder um filho, uma parte de si mesma. Outros tantos elementos podem ser analisados, mas todos revelam

a situação de vulnerabilidade e desolação da pintora.

Com o passar dos anos, sua saúde foi piorando e substituiu o colete de gesso que usava por um de ferro; em

1946, precisou realizar uma nova cirurgia de coluna. As fortes dores que sentia na perna direita resultaram na

amputação do membro, o que fez com que Frida entrasse em uma profunda depressão. Em 1954, com 47 anos, foi encontrada morta em seu leito. A causa oficial de seu falecimento é embolia pulmonar. Em seu diário, a última frase: “Espero alegre a minha partida – e espero não

retornar nunca mais”.

Apesar de sua vida complicada, Frida buscou amenizar

o sofrimento em suas pinturas, retratando tudo o que

sentia. “A Frida Kahlo mostrou riqueza ao se retratar, de forma bastante curiosa, utilizando elementos que

faziam parte de seu mundo psicológico, que era muito dramático. Ela conseguiu extravasar para a arte um

pouco do sentimento que tinha em relação à dor física

e emocional”, afirma o historiador da arte Ricardo Freire.

Além disso, Freire destaca que, apesar dos inúmeros

“Frida – Uma Biografia” foi escrito por Hayden Herrera e traz para seus leitores a intimidade da vida da pintora que transformou sua própria história em arte. O livro traz além dessa intimidade na vida da artista, interpretações de seus quadros com detalhadas descrições. “O Diário de Frida Kahlo”, de José Olympio, é o seu diário publicado na íntegra contando os dez anos que antecedem sua morte. A vida de Frida era turbulenta, o que torna essa leitura cativante, assombrosa, íntima. Somente foi revelado 40 anos depois. E refere-se à complexa personalidade da artista mexicana. Já para as crianças, o livro “Frida”, escrito por Jonah Winter e ilustrado por Ana Juan, é uma boa escolha. Também conta com episódios da infância e juventude da artista. Conta como o pai conseguiu despertar nela uma curiosidade, que foi fundamental nas suas obras e também ajudaram a superar o seu acidente. O livro é escrito de um modo simplista e superficial. Porém, o principal intuito do autor é fazer com que as crianças conheçam Frida Kahlo, uma das maiores artistas latino-americanas e fazer despertar a arte dentro delas. As ilustrações também são feitas com cores fortes e passam para o papel a cultura mexicana e a obra da artista.

Divulgação

desgosto para a mexicana, que sentiu ainda mais dor

ao se descobrir incapaz de ter filhos, por conta das se-

Conheça alguns livros que contam a história de Frida Kahlo:

Divulgação

velho. As traições constantes do marido trouxeram mais

Divida em seis seções, a exposição revela a intimidade de Frida Kahlo

Divulgação

Em 1929, casou-se com o artista Diego Rivera, o grande

amor dos amores de sua vida, apesar de 21 anos mais

Crédito:: Camila Tebet

Crédito:: Camila Tebet

O museu reúne 240 fotos do acervo pessoal da artista

obstáculos pelos quais passou, a artista buscou superar

e resistiu até o fim, deixando um legado difícil de ser es-

quecido, tanto como sua produção artística, como sua forte personalidade, que repercute até hoje.

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É TUDO ARTE Nos muros ou em salas de exposições, o grafite ganhou força e hoje é parte importante do cenário artístico curitibano e mundial Por Maria Luiza de Paula

A

ndando pela rua XV de novembro em Curitiba, próximo ao famoso Teatro Guaíra, vê-se um enorme mural escrito “Só trabalho, sem diversão, faz do Jack um bobão”. Ao lado, está uma imagem de Jack Nicholson, interpretando Jack Torance, o famoso protagonista do filme O Iluminado, de 1980, dirigido por Stanley Kubrick. Como este, existem milhares de outros, sejam eles provocantes, engraçados ou apenas belos. Assim, os grafites foram incorporados à paisagem urbana. Durante seis anos, a professora especialista em História da Arte, Elizabeth Prosser, da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, fotografou e analisou cerca de 5 mil grafites em Curitiba. “Meu interesse começou quando eu notei que o grafite e as outras formas de intervenção urbana tinham muito conteúdo e muita coisa a dizer”, explica a professora. Ela lembra que, por um bom tempo, toda essa comunicação visual das ruas passava despercebida. O grafite é um formato muito mais antigo do que muitos imaginam e existe desde o Império Romano. A origem do nome é italiana, sendo graffito o sigular e graffiti o plural. Considera-se como grafite uma inscrição caligrafada ou um desenho pintado ou grafado sobre um suporte que não é normalmente previsto para essa finalidade. Na era moderna, essa forma de arte urbana começou a ganhar força no final da década de 60 em cidades como Nova Iorque e Filadélfia. “O movimento tem início com a assinatura de nomes de adolescentes em paredes, trens e metrôs”, explica Elizabeth. O grafite começou a ganhar força principalmente pelo surgimento do estilo hip-hop e a popularização do rap entre os jovens das grandes cidades americanas.

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Uma forma de arte O estilo foi evoluindo com o passar dos anos. “As letras se tornaram cada vez maiores, depois elas assumiram duas dimensões, seguido pelo surgimento de pequenos adornos, a formação de personagens e assim foram chamados de grafitti arte”, conta Elizabeth. Porém, o movimento tem algumas restrições do meio acadêmico, mas, segundo a professora, o preconceito já diminuiu bastante. O grafiteiro curitibano Fungo (seu apelido e nome artístico) começou a participar desse movimento no ano de 2000 e viu várias mudanças ao longo dos anos na forma como o grafite é visto pela sociedade. “Você chegava nos lugares para pintar e as pessoas te olhavam torto e te comparavam a um bandido”, diz. Ele acredita que, pelo fato de o grafite ter sido incorporado dentro da cultura de rua em Curitiba depois de grandes cidades como São Paulo, a região já começou mais evoluída. Pessoas de outras cidades, muitas delas torcedoras de futebol, começaram a vir para a capital paranaense e deixavam suas inscrições nas paredes e muros. Formado em design, Fungo hoje tenta fazer uma ponte entre o trabalho de grafiteiro e designer. A popularização dessa forma de arte possibilitou que muitos artistas hoje vivam de seu próprio trabalho, como João Paulo Rotava, que também usa o apelido de Bolacha. “Nunca imaginei ganhar a vida fazendo grafite, sempre foi tão discriminado, sempre visto como vandalismo, hoje tomando toda a cena mundial, e ainda valorizando tantos artistas brasileiros”, diz. Os apelidos, aliás, são parte importante do mundo dos grafiteiros, que acabam utilizando-os como nome artístico e para assinar seus trabalhos.


Crédito: Maria Luiza de Paula

O centro de Curitiba concentra boa parte dos grafites da cidade.

Fungo e Bolacha não estão sozinhos em seus trabalhos. Curitiba se tornou uma referência dentro do Brasil, e recebe importantes eventos, como o Street of Styles, que aconteceu em abril deste ano, contando com mais de 250 artistas de 17 estados brasileiros e 16 países. O encontro de grafiteiros já está em seu terceiro ano. Dentro do cenário nacional, Otavio e Gustavo Pandolfo, conhecidos como Os Gêmeos, ganharam fama internacional com seus trabalhos diferenciados, e seus grafites tomaram não somente as ruas, mas também galerias e museus; inclusive, já tiveram seus trabalhos expostos no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.

Crédito: Maria Luiza de Paula

Na Inglaterra, um artista cuja real personalidade nunca foi revelada, sendo conhecido apenas como Banksy, ganhou fama mundialmente por seus trabalhos em estêncil, diferenciados tanto pelo traço artístico como pelo conteúdo. Desenhos policiais britânicos tendo relações homossexuais, Jesus Cristo segurando sacolas da Disney, são alguns exemplos. Em 2010, foi listado como uma das cem pessoas mais influentes do mundo pela revista Time, ao lado de gente como Barack Obama e Steve Jobs. Os desenhos de Banksy se tornaram pontos turísticos de grandes cidades inglesas e muitos pagam milhares de libras para ter uma obra do artista.

Os grafites servem, muitas vezes, como forma de protesto

Permissão? Apesar de ser muito mais aceito hoje pela população, o grafite por vezes ainda esbarra na lei. No ano de 2013, a Guarda Municipal recebeu 1.182 denúncias de grafites ilegais e foram feitos 177 flagrantes. Pedir ou não autorização é um tema que divide não só as autoridades e a população, mas os artistas também. “Alguns acham que o verdadeiro grafite é sem autorização, não acho errado, mas em dias como hoje, que ser pego pintando sem autorização leva uma multa de R$ 1.693,84, quem gostaria de ser pego?”, diz o artista João Paulo Rotava. O prejuízo por ser pego também é grande, já que o material utilizado inclui muitas latas de spray e que seu preço médio varia de R$ 11,00 a R$ 19,00. “Se fosse pego, meu prejuízo seria de pelo menos R$ 550,00, por causa das apreensões que eles fazem”, explica João Paulo. Já a professora Elizabeth Prosser diz que em suas pesquisas percebeu que boa parte dos artistas pensa diferente. “Muitos deles dizem que a obra que está na galeria é outra coisa, que o grafite mesmo é aquele que ocorre nas ruas e sem permissão”, explica. A discussão sobre grafite e pichação também divide opiniões. Segundo Elizabeth, nos Estados Unidos tudo seria chamado como grafite, mas aqui no Brasil há essa separação. Para o designer e grafiteiro Fungo, o grafite seria justamente aquele que representa uma forma de arte, enquanto o piche é somente um escrito, uma assinatura. Algo considerado feio por muitos. Para tentar acabar com o problema da pichação, um grupo de comerciantes do centro de Curitiba resolveu tratar o problema justamente com o grafite. Em 2013, 23 comerciantes cederam suas faixadas na Rua São Francisco para que grafiteiros fizessem suas imagens. O resultado é que hoje a rua se tornou uma galeria de arte a céu aberto.

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DANÇA

UM APRENDIZADO EM QUALQUER IDADE Praticar balé quando adulto deixou de ser tabu e traz inúmeros benefícios Por Stephany Guebur

O

balé sempre foi sinônimo de dança para crianças ou pessoas magras, estampando assim um estereótipo, porém hoje vemos muitos adultos que não se encaixam nessas características na pratica dessa atividade. Praticar balé quando adulto já não é mais incomum . Muitas escolas de dança passaram a oferecer a opção ao perceberem a crescente procura pela modalidade. Entre os motivos dessa maior demanda, está o fato de que as pessoas começaram a notar que o balé não precisa ser iniciado apenas na infância, pode-se começar em qualquer idade e aperfeiçoar a prática. Além disso, outro fator é bastante levado em conta, conforme explica a professora Carla Bandeira Amorim, da escola de dança Flor de Lotús: “Muitas pessoas nunca fizeram balé na infância e isso se transforma em um desejo muito grande na vida adulta”.

lidades, afirma a professora de dança Miriam Lamas Baiak, da escola de dança Cecconello. A professora explica que a atividade ajuda a manter as características citadas acima e conseguir aperfeiçoa-las ao longo da vida. Para a professora Camila Alexandre Boschini, do estúdio de dança Tânia Moralles, os benefícios são muitos. “Além de proporcionar uma vivência corporal, liberar endorfinas e exercitar o corpo e a mente, a pessoa realiza a sua vontade, sonho ou desejo com um nível de maturidade que rompe certas barreiras e estereótipos. Se permitir aprender outras possibilidades sobre si mesmo é uma das maiores vantagens”, explica. Porém, apesar da grande procura, Camila diz que muitas vezes falta coragem por parte dos alunos interessados em fazer aula, porque receiam começar em uma idade que consideram mais avançada.

De acordo com Carla, o bom de começar a atividade em uma idade adulta é que as alunas já contam com uma consciência corporal maior, o que facilita o entendimento do próprio corpo e o aprendizado. “O balé é indicado para todas as idades e para todo tipo de pessoas. Quando bem direcionado, pode servir como atividade física, artística e também como socialização”, destaca. Para a professora, os fatores que aumentam o interesse de adultos pela modalidade é a procura por qualidade de vida e lazer, e a desmistificação do estilo, já que a noção de que o balé deve ser praticado por crianças ou pessoas muito magras, com o corpo moldado para a dança, vem se perdendo. “Todas as pessoas que desejam dançar estão se permitindo a esse prazer, sem se preocupar com estereótipos e preconceitos que existem ainda hoje”.

A aluna Lorena Bavia, de 31 anos, foi uma das que criou coragem e decidiu começar a praticar a atividade há aproximadamente um ano e meio. Lorena diz que optou pelo balé por uma série de fatores benéficos, como a correção de postura, atividade física e mental, além do condimento físico. Apesar de ter feito quando criança, ela afirma que “era algo somente recreativo”. Já a contadora Larissa Felicita Siebert, de 23 anos, que também pratica a atividade faz seis meses, afirma que os benefícios foram a redução do stress, o aumento da autoestima, perda de peso e flexibilidade.

O balé auxilia no desenvolvimento da coordenação e habilitação motora, equilíbrio, raciocínio rápido, memória, alongamento, expressão, força e outras habi-

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Claro que, para essas mulheres, a escolha do balé se deu por alguns motivos. Larissa fala que começou a praticar porque achava bonito, por ser uma arte e por ter música. Lorena afirma que fez essa escolha pelo condicionamento físico, postura, música, como uma atividade física e mental. Para praticar a atividade não existem contraindicações. O necessário é que as pessoas tenham a saúde em dia e respeitem os limites do seu corpo. Entretanto, um requisito é obrigatório: a vontade de aprender, não importa a idade.


Crédito: Maria Luiza de Paula

Crédito: Maria Luiza de Paula

As alunas se preparam para a apresentação de fim de ano da Cecconello Escola de Dança.

Antes das aulas, há sempre o aquecimento.

Conheça algumas academias de dança que contam com aulas para adultos: Tânia Moralles – Escola de Dança

Local: Rua Simão Brante, 555 – Uberaba Telefone: (41) 3284-1057 ou (41) 9982-7772 Site: http://escoladedancacuritiba.com.br/

Quebra Nozes – Academia de Ballet

Local: Rua Itupava, 1511 – Alto da Rua XV Telefone: (41) 3362-6874 ou (41)3263-1070 Site: http://academiaquebranozes.com.br/

Flor de Lótus Estúdio

Local: Rua João Bettega, 499, sobreloja 03 – Portão Telefone: (41) 3095-1757 ou (41) 9826-6650 Site: http://www.estudioflordelotus.com/

Cecconello Escola de Dança

Local: Rua João Bettega, 449 B – Portão Telefone: (41)3039-0610 Site: http://cecconelloescoladedanca. wordpress.com/

Cena HUM

Local: Rua Senador Xavier da Silva, 166 – São Francisco – Curitiba Telefone: (41) 3333-0975 ou (41) 3016-0975 Site: http://www.cenahum.com.br/

Le Grand Ballet

Local: Rua Augusto Stresser, 882 – Juvevê – Curitiba Telefone: (41) 3027 -7902 Site: http://www.legrandballet.com.br/

Studio D1

Local: Sede Batel – Rua Teixera Coelho, 262 – Batel Sede Bom Retiro – Rua Carlos Pioli, 144 – Bom Retiro Telefone: (41) 3243-0212 ou (41) 3253-6335 Site: http://www.studiod1.com.br/ Ballet Coppélia do Brasil Local: Rua Carmem Maito Stinglin, 75 – Portão Telefone: (41) 3078-6557 Site: http://balletcoppeliabrasil. wix.com/centroballetcoppelia

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“DECIFRANDO O FANDANGO”: DOS TAMANCOS AOS RUFADOS Lançado em setembro, o filme idealizado por Sebastião Interlandi Junior e Graciliano Zambonin explora o movimento artístico do litoral paranaense Por Camila Tebet

D

ança típica, regional, colorida, folclórica e ensaios da orquestra, falavam bastante sobre o popular. Essas são algumas das caracterís- fandango. “Fiquei fascinado por este mundo que ticas que definem o fandango, dança de na- o Graciliano me narrava”, afirma Interlandi, que a tureza popular praticada principalmente no litoral partir daquele momento quis realizar um projeto paranaense. Pensando em divulgar o estilo pouco sobre as histórias que tanto escutava. conhecido, Sebastião Interlandi Junior e Graciliano No filme, aparecem diversos personagens fandanZambonin lançaram, nos dias 3 e 4 de setembro, o gueiros, amigos pessoais de Graciliano Zambonim. documentário “Decifrando o Fandango”, dirigido “São pessoas bastante conhecidas no meio fanpor Lelo Penha. O evento foi realizado na Cinematedangueiro e bastante procuradas por turistas”, ca de Curitiba. O filme tem como objetivo revelar ao conta Interlandi. Além disso, na apresentação feita espectador o mundo cultural do litoral do Paraná e no Mercado Municipal de Antonina, surgiram oumostrar um olhar diferenciado desse tipo de dança. tros artistas que quiseram falar sobre o assunto, As gravações do documentário foram feitas na também incluídos no documentário. Dessa forma, cidade paranaense de Paranaguá e arredores. O o projeto retrata as diversas ‘modas’ do fandango filme explora casas de caiçaras fandangueiros, ba- paranaense, expondo uma arte muito vasta. res e becos, e conta com personagens que falam Nos dias do lançamento do filme estiveram exum pouco mais desse estilo de dança e sua imporpostas na Cinemateca algumas fotos dos bastitância para a cultura brasileira. Além disso, conta dores do documentário, de autoria da fotógrafa com uma apresentação completa de fandango feiFlavia Wolf. Após as primeiras sessões, algumas ta no Mercado Municipal de Antonina, com vários cópias do filme foram disponibilizadas nas faculgrupos. dades de artes de Curitiba, na Fundação CultuDe acordo com o idealizador e diretor-geral ral de Curitiba e pelo litoral. Algumas, em breve, Sebastião Interlandi Junior, a ideia de fazer o fil- também estarão disponíveis para venda ao públime surgiu de uma curiosidade dele. “Conheci o co. Para a publicitária Marina Schmidt, que esteve Graciliano pela música, pois sou flautista e ele ba- presente na estreia do evento, o documentário terista e tocamos no mesmo grupo, a Orquestra explorou bem o movimento e mostrou que ele à Base de Sopro de Curitiba. Eu percebia que ele não deve ser esquecido: “Eu não conhecia bem frequentava semanalmente o litoral para ‘bater o fandango e, depois de ver o filme, fiquei feliz tamanco’, como dizem, ou seja, festar com os fan- ao ver que estão tentando disseminá-lo. É um dangueiros do litoral”, conta. Os dois tornaram-se símbolo muito forte da cultura paranaense, reamigos e, em conversas que tinham depois dos presenta a nossa riqueza”, afirma.

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Sobre o fandango “O fandango é uma manifestação muito localizada, com pouca penetração na cultura brasileira como um todo. Apesar do alcance pequeno, é uma arte que deve ser mais divulgada e preservada pela sua beleza e peculiaridade, pois envolve música, fabricação de instrumentos e dança”, explica Sebastião Interlandi Junior, idealizador do documentário. O fandango paranaense é uma das manifestações artísticas mais representativas do estado. A dança desembarcou em praias paranaenses em meados de 1750, por meio de portugueses açorianos, que se inspiravam fortemente na cultura espanhola.

Crédito: Flavia Wolf

Crédito: Flavia Wolf

A equipe de filmagem em uma das locações.

“Decifrando o Fandango” fala sobre o estilo que faz parte da história e cultura paranaenses.

Características O fandango paranaense constitui-se de danças denominadas marcas ou modas que se dividem, geralmente, em duas categorias: os valsados ou bailados e os batidos ou rufados. A primeira modalidade é composta por homens e mulheres, que dançam em pares com ou sem coreografias específicas. Já nos batidos ou rufados, os homens utilizam tamancos de madeira e intercalam o sapateado com palmas. De acordo com o Museu Vivo do Fandango, instituição que se dedica ao estudo e à propagação do movimento, a sua prática sempre esteve ligada à organização de trabalhos coletivos, como mutirões, nos roçados, colheitas e nas construções de benfeitorias, quando o organizador oferecia como pagamento aos voluntários um fandango, um baile com comida farta. Atualmente, este estilo de dança é mais comum em clubes de baile e formação de grupos artísticos.

Na Espanha, a dança era realizada em roda, com a participação de homens e mulheres, com apenas um casal no centro. A dupla que ficava no centro alternava os movimentos do corpo com sapateados e braços erguidos, simulando uma conquista, mas sem estabelecer contato físico. O som era fei- Para Interlandi Junior, a riqueza do movimento é de to a partir das castanholas, pandeiros e palmas. fundamental importância para a cultura brasileira: No Brasil, o fandango está presente em diversas “Quando você começa a olhar de perto, percebe a sua regiões, mas cada uma delas conta com caracte- riqueza, como nas letras das canções. São versos antigos que passam por várias gerações pela tradição rísticas diferenciadas. O fandango paranaense é oral. No documentário ‘Decifrando o Fandango’ pronormalmente realizado em lugares fechados com curamos fixar através de imagens esses aspectos: chão de madeira, de modo a ressaltar o sapateado dança, fabricação de instrumentos e música”. masculino. As danças são finalizadas com fortes sapateados. Geralmente, o grupo musical do fanDecifrando o Fandango (2014) dango é composto por dois tocadores de viola, que Direção Geral: Sebastião Interlandi Junior também cantam as melodias, um tocador de rabeProdutora: Spina ca e um tocador de adufo. Alguns grupos também Direção de Imagens: Lelo Penha utilizam outros instrumentos, como o pandeiro, o Assessoria de Conteúdo: Graciliano Zambonin bandolim e o violão. Além disso, os instrumentos Captação de Som: Ricardo Janoto Captação de Imagens: Bruno Zoto costumam ser feitos artesanalmente. Fotografia: Flavia Wolf

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TEATRO

O LIMITE ENTRE A FAMA E A LOUCURA Peça, ambientada em um manicômio, introduz o público no ambiente Por Stephany Guebur

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á pensou em chegar para assistir a uma peça de teatro e, ao invés de se sentar nas convencionais poltronas, ser direcionado ao palco? É isso que propõe a peça “A Diva e o Maestro sem Conserto”, um espetáculo diferente. A montagem leva o espectador até o palco e faz com que ele seja parte do cenário, ocupando macas e outros elementos de um hospital psiquiátrico. Dessa forma, o público se sente parte do ambiente e cria uma proximidade com os atores e o enredo, que fala sobre o que uma pessoa faz pela fama, proporcionando reflexão sobre temas como medicações e o sucesso. Como a peça se passa dentro de um hospital psiquiátrico, o responsável pela dramaturgia, Rhenan Queiroz, explica que “a plateia fica como se fosse o cenário, as pessoas se sentam em cadeiras de rodas, macas e outras coisas que são típicas desses ambientes”. Por isso, em cada sessão, é permitida a entrada de apenas 40 pessoas. O público, então, é levado a participar do espetáculo sem que perceba que se insere em um cenário nada convencional. Segundo Queiroz, algumas pessoas saem da peça um pouco chocadas, mas, em geral, gostam bastante do que presenciam. “Algumas acabam se identificando e saem meio pasmas. O espetáculo é bem reflexivo”, destaca. A ideia de colocar o público para participar partiu da vontade de aproximá-lo da produção. “Nós queríamos que o público tivesse a visão de palco que o artista tem. A visão é sempre da plateia para o artista, pois é invertida. Diminuímos o número de espectadores para criar um clima mais intimista e utilizamos isso para transferir as pessoas para dentro do palco”,

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explica o diretor. Para ele, a interação entre o espectador e o espetáculo é importante porque efetua uma troca de energia entre os dois elementos. Apresentada no Teatro Regina Vogue, a trama se passa em torno de três personagens: a Diva (Rosana Stavis), o Maestro (Maurício Vogue) e o pianista (Sérgio Justen), que estão em um hospital psiquiátrico, pois almejaram a fama e não conseguiram alcançá-la. “As pessoas quiseram tanto aparecer dentro do mundo, quiseram tanto ser famosas e paparicadas, que acabaram surtando”, afirma Queiroz. A Diva e o Maestro têm uma ligação muito forte um com o outro. A primeira é bem autoritária, já o segundo é completamente dependente dela, apesar de ser fora de si, egocêntrico e interesseiro. E o pianista, que não fala nada durante a peça inteira, faz tudo o que os outros dois mandam. Porém, ele seja talvez o mais lúcido em cena. A montagem mostra o sonho dos personagens de sair do hospital e ainda fazer apresentações pelo mundo, tornando-se famosos. A montagem traz ainda um olhar reflexivo sobre o uso excessivo de medicamentos, que está presente na vida de todas as pessoas, que muitas vezes acabam tornando-se dependente sem que percebam. Fala também sobre o que uma pessoa é capaz de fazer para alcançar aquilo que ela mais deseja na vida, neste caso, a fama. A ideia principal dessa peça surgiu de um DVD chamado “A Diva e o Maestro” (1997), estrelado por Nathalie Choquette. Porém, algumas adaptações foram necessárias, pois o filme não tinha conexão em certas partes e foi adaptado para três pessoas completamente “desconcertadas” em um hospital psiquiátrico, afirma Queiroz.


Crédito: Chico Nogueira

Os atores reúnidos no espetáculo. Os atores Rosana Stavis e Maurício Vogue surpreendem neste espetáculo, pois normalmente fazem peças no estilo da comédia, e não drama. “Como nós somos do Denorex 80, a gente faz muita palhaçada e as pessoas acham que virão uma peça de comédia e, na verdade, é um drama, é uma peça séria”, explica o ator Maurício Vogue. A montagem, entretanto, tem seus toques de humor, porém é o humor patético – aquele que o público deve rir porque quer e não porque foi induzido ao riso. Sérgio Justen, também do grupo Denorex 80, também faz uma atuação muito forte no espetáculo, mesmo que seu personagem não fale nada. Segundo o médico Márcio Wamber, que esteve presente como espectador e que está acostumado

Crédito: Chico Nogueira

Crédito: Chico Nogueira

A atriz Rosana Stavis em cena, interpretando a Diva.

“A Diva e o Maestro sem Conserto” leva o público para outra perspectiva, para dentro dos palcos. com ambientes de hospitais, “a peça é muito reflexiva para os pacientes de hospitais psiquiátricos, pois mostra como o medicamento é usado em excesso nesses lugares e muitas vezes acabam sendo válvula de escape de pacientes tanto de hospitais psiquiátricos como quanto das pessoas que tomam muita medicação em casa”. Wamber também fala sobre outros pontos da peça que lhe chamaram atenção. Segundo ele, apesar de sua pitada dramática, o espetáculo deixa claros valores como amor, amizade e alegria, isso tudo estando dentro de um manicômio. Ele ainda completa afirmando que, por a peça ser vista do próprio palco, propicia que os espectadores mergulhem na história, pois nem sempre as pessoas sabem como funciona um hospital psiquiátrico.

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SUCESSOS DE PÚBLICO, PEÇAS PODEM PERMANECER EM CARTAZ POR DIVERSOS ANOS Em tempos em que as produções são exibidas por menos tempo, algumas se destacam, permanecendo em cartaz por décadas Por Stephany Guebur

P

eças de teatro podem ficar muito tempo em cartaz, mas alguma vez você já se perguntou o porquê de elas ficarem tanto tempo em exibição? A maioria dos espetáculos brasileiros está ficando cada vez menos tempo em cartaz, devido a uma série de fatores. Entretanto, alguns conseguem superar as dificuldades e se consolidam como peças de sucesso, sendo apresentadas por muitos anos. “Trair e Coçar, É Só Começar”, por exemplo, foi escrita Marcus Caruso e é dirigida por Attílio Ricco. As apresentações acontecem há 28 anos. O espetáculo estreou no ano de 1986, no Teatro Santa Izabel, no Rio de Janeiro. Já esteve no Guiness Book, o livro dos recordes, nos anos de 1994, 1995, 1996 e 1997, por ser a peça há mais tempo em cartaz, com mais de nove mil apresentações para o público, desde que foi encenada pela primeira vez. Em 2006, também foi adaptada para o cinema e, em 2011, para comemorar os 25 anos, o autor da peça escreveu um livro homônimo. A trama é do gênero vaudeville – comédia ligada na intriga e equívoco -, e se fundamenta em supostas infidelidades. A empregada Olímpia é o fio condutor que, por meio de hipóteses de adultérios, geradas por equívocos e confusões, leva seus patrões, amigos e vizinhos a pensar que todos estão traindo todos.

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Outra peça de muito sucesso nos palcos brasileiros, aclamada pela crítica durante muitos anos, foi “O Mistério de Irma Vap”, estrelada por Marco Nanini e Ney Latorraca. Produzida e dirigida por Marília Pêra, teve a sua estreia no ano de 1986. Esta peça foi um sucesso de público nos palcos cariocas e paulistas, fazendo também uma turnê pelo Brasil. Em 1994, o espetáculo saiu de cartaz e dois anos depois voltou para uma curta temporada. Durante 12 anos, “O Mistério de Irma Vap” não foi apresentada, mas, em 2008, foi novamente exibida, dessa vez com os atores Cássio Scapin e Marcelo Médici, contando com a mesma diretora. O espetáculo sempre contou com atores que já tinham mais experiência no ramo, e o seu talento foi colocado em jogo. A troca rápida de figurino acontecia diversas vezes durante a apresentação, pois são dois atores no palco tendo que interpretar vários personagens ao mesmo tempo. Exigia que todos os integrantes da equipe cênica tivessem um timing muito preciso, deixando a narrativa em segundo plano. “Às vezes, a troca acontecia em menos de dez segundos. Esse foi um dos grandes diferenciais da produção”, afirma o diretor de teatro George Sada, da escola e companhia curitibana Cena Hum. A peça é uma comédia de humor pastelão – cuja principal intenção é realizar paró-


dias às clássicas histórias de terror, aos populares melodramas e às narrativas fantásticas. Na maioria das vezes, uma peça com este tipo de humor não iria agradar ao público e à crítica ao mesmo tempo. De acordo com Sada, para que uma peça se torne um sucesso, deve ter qualidade e contemporaneidade. “O público gosta de assistir a peças que tenham humor, boa produção e que possua conteúdo. Também se deve prezar o comprometimento por parte de toda equipe, criadores e elenco, que faz a obra perpetuar”, afirma. Segundo o diretor, é importante também que a obra seja atemporal e tenha estética e inteligência cênica. “É fundamental que o texto seja atual, provoque reflexão e possua humor para todas as idades”, explica. Já para o coordenador de linguagem de teatro da Fundação Cultural de Curitiba, Clóvis Severo Brudziniski Junior, as três principais razões para manter uma peça em cartaz por um longo período é o seu potencial temático, artístico e econômico. “Períodos maiores ou menores das temporadas de teatro estão diretamente relacionados ao potencial econômico das montagens. Este potencial pode estar ligado à arrecadação da bilheteria do espetáculo e/ou a apoios privados ou estatais”, explica. Além disso, o coordenador salienta que, apesar de todos os artistas teatrais buscarem o segredo do sucesso, talento, competência e muito trabalho não costumam falhar.

O teatro Lala Schneider também conta com algumas produções que estão em cartaz há bastante tempo. A peça “A Tarada do Boqueirão”, por exemplo, é encenada há sete anos. Interpretada por apenas uma atriz, o solo conta a história de uma prostituta que ficou na cidade em pleno feriado, o que a deixou sem clientes e solitária. Assim, ela começa a falar para o público suas experiências de vida. Para Sonia Bacila, que interpreta a tarada, o sucesso da peça se deve muito à empatia criada com a plateia. “É importante que você entre no palco e coloque seu melhor, criando uma empatia com o público, pois é ele que vai indicar para outras pessoas”, explica. Segundo a atriz, atuar em um monólogo de 70 minutos não é fácil. “Tem dois lados. É mais difícil porque você não pode cansar, você não pode nada, você está ali e tem que fazer, aconteça o que acontecer. Mas, por outro lado, é muito mais fácil você decorar, você faz o que você quer, se você errar você pula, volta e não está atrapalhando ninguém”, afirma. A peça é uma comédia para todos os tipos de público, pois “a brincadeira não tem idade”, conforme afirma a atriz Sônia. Assim como “A Tarada do Boqueirão”, o Teatro Lala Schneider abriga mais duas peças que já completaram mais de uma década em cartaz. São elas: “A Casa do Terror – parte 1” e “A Casa do Terror – parte 2”, todas escritas e dirigidas por João Luiz Fiani.

“A Casa do Terror – parte 1” está no teatro há 19 anos. A peça conta a história de um vampiro tarado, de um mordomo e de um A companhia de teatro Cena Hum realiza, em média, grupo de mortos-vivos 80 peças por ano, sendo 70 de cunho amador e 10 de que habitam a casa. Por cunho profissional. Dessas, as que mais se destacam ordem de um demônio, o tornam-se parte do Cardápio Cena Hum, que reúne grupo de vampiros e mortos-vivos sai em busca de as montagens permanentes. As peças encenadas há uma virgem para sacrificar o Mestre das Trevas. Sônia, mais tempo pela companhia são “A Fabulosa Cozinha que também atua nesta peça, diz que gosta muito de de Pierre”, desde 2006, e “A Fábula do Vento do Sul”, fazer parte do elenco. “É uma delícia, pois sabemos desde 2009. A primeira, um musical infantil, conta a que a peça é um sucesso, não é uma coisa nova que história do cozinheiro Pierre, que, com o passar dos você não sabe se vai dar certo, é muito tranquilo. Os anos, foi perdendo sua habilidade culinária e precisa atores têm bagagem, têm o prazer de fazer isso para colocar seu talento à prova o público”. Já na peça da “A para participar do concurso “É importante que o texto seja atual, Casa do Terror – parte 2”, que “Le Grand Chef”. O segundo que provoque a reflexão e que posestreou em 1998, o diretor espetáculo é um infantosua humor para todas as idades” João Luiz Fiani prestou uma -juvenil, que fala sobre Aira George Sada, diretor da escola e homenagem ao clássico do tentando desvendar a si companhia teatral Cena Hum. cinema “O Exorcista”. O mormesma e seus dilemas intedomo da casa é possuído por riores. A peça foi indicada a cinco troféus Gralha Azul, um espírito bom e os habitantes da casa tentam fazer prêmio paranaense de teatro, levando as categorias um exorcismo às avessas. Enquanto isso, o vampiro “Revelação em Caracterização” e “Melhor Direção de leva uma freira acreditando ser a virgem que fora proEspetáculos para Criança”. metida ao Mestre das Trevas.

Sucessos curitibanos

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Espetáculos ficam pouco tempo em cartaz São exceções as peças que contam com longas temporadas de exibição. Geralmente, as montagens têm uma vida útil de poucos meses. De acordo com George Sada, vários fatores contribuem para isso, entre eles a inexistência de uma política cultural e acompanhamento social. Além disso, a dificuldade de se manter por longo tempo em um mesmo espaço teatral também impede a construção de um público fiel. “Pautas reduzidas, a necessidade de o ator estar em busca de outros trabalhos para garantir o seu sustento, falta de planejamento e produção executiva, cachês reduzidos, pouco incentivo e patrocínio de forma espontânea também dificultam a realização do espetáculo e impedem que a produção se mantenha em cartaz durante muito tempo”, aponta. Contrapondo a visão acima, o coordenador Severo diz que “não se pode avaliar a “vida” de uma peça teatral como estar em cartaz num teatro público ou privado, mas participar de mostras, ciclos e festivais regionais e nacionais”. Ele também afirma que os grupos teatrais, por diferentes razões, contam com uma produção artística de ciclo muito rápido: “Ou seja, produzem uma ou mais peças por ano o que faz uma peça ter um ciclo público de menor duração”. Além disso, Severo destaca que as Leis de Incentivo voltadas para o teatro são umas das únicas fontes de financiamento existentes na cidade, o que também prejudica as produções.

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Crédito: http://regradostercos.com/ Crédito: http://regradostercos.com/

Fiani diz que sempre que começa a escrever ou a dirigir um espetáculo se questiona a respeito do segredo do sucesso. “É muito complicado fazer qualquer peça objetivando o sucesso. Ele é reflexo de muita dedicação, de muito trabalho. Vários fatores devem estar envolvidos. Não existe uma regra para isso”, afirma. Ele também diz que tem certeza de que está diretamente relacionado ao amor pelo o que fazem. Segundo o diretor, é sempre preciso rever o texto quando alguma peça fica muito tempo em cartaz, mas isso só é possível em algumas comédias. “Em espetáculos mais abertos, mais soltos, essa liberdade de atualização é altamente saudável. Em outros gêneros fica mais complicado”. Fiani explica que sempre é preciso pensar no que se quer dizer com o texto, fator que deve estar acima de tudo.

Desde a sua estreia, “A Tarada do Boqueirão” teve muitas mudanças. A principal delas ocorreu no ano de 2011, com a mudança de atriz. Inicialmente, a peça era estrelada por Nane Narineski, já que Fiani escreveu o texto especialmente para ela. Mas, agora, Sônia Bacila que assume o papel, após Nane ter sofrido um acidente. Sônia diz que a substituição foi bem difícil, já que ocorreu 15 dias antes da estreia do espetáculo no Festival de Teatro de Curitiba. Além disso, a atriz afirma que a preparação não foi tão fácil, aliado ao fato de que Nane já era bastante reconhecida pelo papel. “Decorar um monólogo é difícil, ainda mais quando a peça não foi pensada para você e sim para outra pessoa”. Para Nane, Sônia foi “uma guerreira por pegar o personagem em tão pouco tempo”.


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FORA DO EIXO

BUM, BUM, BUM, CASTELO RÁ-TIM-BUM Mostra realizada pelo Museu da Imagem e do Som recria ambientes do Castelo, promovendo uma experiência lúdica e sensorial Por Camila Tebet

“P

assarinho... que som é esse?”. Com certeza, essa música marcou a infância de muitas pessoas. É difícil não reconhecer, mesmo se você for pai, mãe, avó ou avô. O programa Castelo Rá-Tim-Bum foi veiculado pela TV Cultura entre 1994 e 1997 e ainda hoje conta com muitos fãs nostálgicos. Com o intuito de agradar a essas eternas crianças e homenagear a produção, que em 2014 completa 20 anos, o Museu da Imagem e do Som – MIS, instituição da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, inaugurou em julho a mostra “Castelo Rá-Tim-Bum – A exposição”. Prevista para ser encerrada no dia 12 de outubro, o sucesso da exposição foi tanto que ela só fechará no dia 16 de novembro.

pecialmente para a exposição, como objetos de cena, figurinos de personagens, além de bonecos originais dos personagens Gato Pintado, monstro Mau, cobra Celeste e botas Tap e Flap. Além disso, o quarto do Nino, personagem principal, também foi recriado. Os visitantes podem ter acesso ao ambiente passando por uma porta giratória idêntica ao mecanismo utilizado na cenografia original. Ao chegar ao Castelo, os visitantes são recebidos pelo personagem Dr. Victor, o proprietário do local. O audioguia, narrado pelo ator Sérgio Mamberti, insere curiosidades por meio de apresentações em cada espaço expositivo. Além da recriação de ambientes, a exposição é composta aproximadamente por 200 fotografias inéditas, 19 figurinos e 31 peças originais de Centro de Memória da TV Cultura e do acervo pessoal de integrantes do elenco e da equipe. Também estão expostos documentos originais que registram o projeto e todos os seus ajustes, bem como testes de elenco, as diretrizes pedagógicas do programa, roteiros originais, trechos marcantes do programa e depoimentos de atores e da equipe de produção.

De acordo com Gabrielle Araújo, curadora-assistente da mostra, a ideia partiu do desejo do MIS de realizar uma apresentação com exposições internacionais, mas com conteúdo brasileiro. “As primeiras conversas aconteceram no primeiro semestre de 2013, com a TV Cultura e profissionais que estiveram envolvidos no programa. O trabalho completo de curadoria e produção envolveu diversas etapas, mas sem dúvida a mais desafiadora foi “Toda pessoa que assistia ao programa tinha juntar todo o material a ser exibido”, explica. imensa vontade de poder acessar pessoalmente A mostra é um tributo ao programa e recria os os cômodos do Castelo. Pensando nisso, criamos ambientes do Castelo. Os visitantes podem inte- ambientes puramente interativos e sensoriais ragir com os objetos expostos, em uma experiên- para o público. Os visitantes se conectam de cia sensorial e lúdica. Ocupando os dois primeiros forma mais plena com os personagens e cenáandares do museu, a exposição conta com mais rios, tornando a visita mais enriquecedora e ende dez ambientes, como o saguão e a biblioteca, volvente”, afirma Gabrielle. Além disso, a mostra recriados de forma fiel. Nas salas, os visitantes conta com uma programação paralela: a Maratona entram em contato com peças do acervo da TV Infantil Especial. Entre as atrações estiveram o Cultura, recuperadas e restauradas pelo MIS es- espetáculo “Penélope, a repórter cor-de-rosa”, en-

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Crédito:: Letícia Godoy

cenado por Angela Dip; e as oficinas “Stop Motion: Ratinho Castelo Rá-Tim-Bum” e “Que som é esse?”, de instrumentos musicais. O Núcleo Educativo do Museu ofereceu também, para o público geral e professores, oficinas artísticas gratuitas e cursos

relacionados ao Castelo. Para a curadora, esta é uma oportunidade de fazer com que as pessoas se envolvam, de fato, na prática e discussão dos temas levantados pelo programa.

Exibido durante quatro anos, programa ganhou diversos prêmios O programa Castelo Rá-Tim-Bum, voltado para o

amigos animais e sobrenaturais no Castelo, Nino

do pela TV Cultura entre 1994 e 1997. Criado por

zar um feitiço que aprendeu com o tio, trouxe para

público infanto-juvenil, foi produzido e transmiti-

sentia falta de amigos como ele e, um dia, ao reali-

Cao Hamburger, também diretor geral do progra-

o Castelo três crianças que haviam acabado de

zado por Dionisio Jacob, Cláudia Dalla Verde, Anna

os dias para brincar e recebiam também a visita

ma, e pelo dramaturgo Flávio de Souza, era roteiriMuylaert, entre outros.

Durante a sua exibição, contou com a colaboração

de 250 profissionais, como diretores, atores, cenógrafos, equipe de efeitos visuais, músicos, espe-

cialistas em pedagogia, pintores etc. Em 1994 foi

eleito o melhor programa infantil pela Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA. No mesmo ano

e também em 1995 recebeu a medalha de prata na

categoria melhor programa infantil do Festival de

Nova York. Além desses, recebeu outros grandes

prêmios e foi exibido em toda a América Latina pelo canal a cabo Nickelodeon.

A série contava a história de Nino, um garoto de

300 anos que vivia em um castelo em São Paulo

com seu tio, o Dr. Victor, e com sua tia avó Morgana, uma feiticeira de 6 mil anos de idade. Aprendiz de feiticeiro, Nino nunca frequentou a escola e não

tinha contato com outras crianças. Apesar de ter

sair da escola. Assim, o quarteto se reunia todos

de outros personagens, como o entregador de pizza Bongô, a repórter Penélope, a lenda folclórica

Caipora, e o extraterrestre Etevaldo. Além disso,

enfrentavam constantemente as ameaças do Dr.

Abobrinha, especulador imobiliário que desejava,

a todas as custas, dominar o castelo e construir em seu lugar um enorme prédio.

“O Castelo Rá-Tim-Bum foi, desde a sua estreia,

um programa muitíssimo inteligente que respeitava profundamente a sensibilidade e a capaci-

dade de absorção de conhecimento por parte das

crianças”, explica a curadora-assistente da mostra sobre o programa, destacando a sua importância para a cultura brasileira. Ainda de acordo

com ela, a resposta do público foi extremamente surpreendente e positiva. Por conta disso, em

breve a exposição deve passar por outras cidades brasileiras.

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AGENDA

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Música – Dream Theater

Até

Exposição – Esporte Movimento

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de novembro

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A mostra traz fotografias, objetos e documentos para contar sua história. Ney Braga foi ex-governador e prefeito, além de militar, deputado federal, e ministro da Agricultura e da Educação. A exposição encontra-se no Museu Paranaense e a entrada é gratuita.

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Exposição – Frida Khalo

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Até

de novembro

O principal objetivo dessa exposição é discutir questões relativas ao Patrimônio Material e Imaterial e ver a arquitetura além de seus aspectos visuais. A exposição encontra-se no Memorial de Curitiba até o dia 30 de novembro, com entrada gratuita.

Exposição – Ney Braga – Acervo pessoal e político

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Até

de dezembro

Com a turnê “Nunca Tem Fim”, O Rappa apresenta na capital paranaense as músicas do mais recente CD lançado pela banda, que dá nome à turnê. O show acontece no Spazio Van e os ingressos podem ser adquiridos no site do Disk Ingressos ou pelo telefone (41)3315-0808.

Exposição – Arquitetura dos Sentidos: Uma viagem pela Estrada do Mato Grosso

Divulgação

Até

de novembro

Na Caixa Cultural encontram-se em exposição mais de mil itens da maior coleção esportiva privada do mundo, que pertence a Roberto Gesta Melo. A exposição fica em cartaz até o dia 30 de novembro. A entrada é gratuita e a exposição funciona de terça-feira a sábado, das 9h às 20h e domingo, das 10h às 19h.

Música – O Rappa

17 18 e de outubro

A banda norte-americana de metal traz para sua turnê na América do Sul o seu mais novo trabalho, autointitulado Dream Theater. O show acontece no Curitiba Master Hall e os ingressos podem ser encontrados no site e quiosques Disk Ingressos, bilheterias do Master Hall e Arsenal do CD.

A mostra reúne 240 fotos do acervo pessoal de Frida e é dividida em seis seções: “Os pais Guilherme e Matilde”, “A Casa Azul”, “O corpo acidentado”, “Os amores de Frida”, “A fotografia” e “A luta política: o olho de Diego”, que revelam sua intimidade. A exposição encontra-se no Museu Oscar Niemeyer e os ingressos custam R$3 e R$6.


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