UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA
Stephanie Caroline Santos
O HABITAR CONTEMPORÂNEO: Moradias Coletivas e Flexibilidade Arquitetônica Trabalho de conclusão de curso apresentando à Universidade Metodista de Piracicaba, como requisito para o requisito para o reconhecimento da Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Orientador(a): Prof. Dr. Renata La Rocca.
Santa Barbára d’Oeste 2019
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer primeiramente a minha orientadora, Prof. Dr. Renata La Rocca, pelo apoio, dedicação e conhecimento compartilhado durante todos esses anos que esteve presente em minha graduação e na elaboração desse trabalho. Agradeço meus pais, por todo apoio, dedicação e por não medirem esforços para a minha formação profissional. Aos meus avôs por todos os ensinamentos que me passaram ao longo da vida. Ao André por todo o amor, carinho, paciência e apoio durante todo o desenvolvimento desse trabalho. Também agradeço a todos os meus amigos, em especial, ao Guilherme Spiller, por me ajudar e apoiar em todos os dias dessa caminhada e a todos os profissionais e colegas de trabalho com quem tive a oportunidade de aprender e me apaixonar cada vez mais por essa profissão.
Agradecimentos | 03
RESUMO
O presente Trabalho Final de Graduação I objetiva propor um projeto de um edifício contemporâneo com uso misto para a região central de Piracicaba - SP. O trabalho baseia se em uma revisão bibliográfica acerca do estudo das mudanças ocorridas ao longo da história na habitação coletiva, focando nas mudanças que ocorreram dentro das unidades habitacionais e no conceito de flexibilidade na arquitetura. Objetiva-se levantar estudos de casos de edifícios contemporâneos a fim de analisar deste de sua implantação até seu programa de necessidades, entendendo melhor como a teoria estuda e aplicada na prática, possibilitando o desenvolvimento projetual do edifício.
Resumo | 05
ABSTRACT The objective of this undergraduate work is to propose a project of a contemporary building with mixed use for the central region of Piracicaba - SP. The work is based on a bibliographical review about the study of the changes that have occurred throughout history in collective housing, focusing on the changes that occurred within the housing units and on the concept of flexibility in architecture. The objective is to study case studies of contemporary buildings in order to analyze this from their implantation to their needs program, understanding better how the theory studies and applied in practice, enabling the design development of the building.
Abstract | 07
S UM ÁR IO 03.
A GRADE CI M E N TO S
5. A S M U D A N ÇA S O COR R I D A S N A H A B IT A Ç Ã O A O L O N G O D A H I S TÓR I A ................................................................ 21 5.1. A N Á LI S E
D E A LGU MA S A LTE R A Ç Õ E S S IG N IF IC A T IV A S N A S
S É CU L O XXI ............
25
6. F LE X I B I LI D A D E A R QU I TE TÔN I CA ...............................
39
7. E S TU D O
45
P LA N TA S B A I X A S D O S É CU LO
05.
R E SU MO
13.
I N T RO DU ÇÃO
DE
1910
AO
C A S OS .............................................
7.1. P R OJ E TO VM H OU S E S - BIG +J D S ........... 7.1.1. F I CH A T É CN I CA ............................. 7.1.2. E S TU D O D A I MP LA N TA Ç Ã O ................. 7.1.3. C ON CE I TO E F OR MA ........................ 7.1.4. P R OGR A MA , S E TOR I Z A Ç Ã O E C IR C U L A Ç Ã O 7.1.5. A N Á LI S E C ON S TR U I TI V A ................... 7.2. P R OJ E TO M OU N TA I N D W E LLI N G S - B IG .... 7.2.1. F I CH A T É CN I CA ............................. 7.2.2. E S TU D O D A I MP LA N TA Ç Ã O ................ 7.2.3. C ON CE I TO E F OR MA ........................ 7.2.4. P R OGR A MA , S E TOR I Z A Ç Ã O E C IR C U L A Ç Ã O 7.2.5. A N Á LI S E C ON S TR U I TI V A ....................
46 46 47 48 49 51 52 52 53 53 55 56
21.
C APÍ TU L O 5
39.
C A P Í TU LO 6
7 . 3 . P R OJ E TO P OP M A D A LE N A - IDE !A ZA R VOS ......... 7.3.1. F I CH A T É CN I CA ................................... 7.3.2. E S TU D O D A I MP LA N TA ÇÃ O ..................... 7.3.3. C ON CE I TO E F OR MA .............................. 7.3.4. P R OG R A MA , S E TOR I Z A ÇÃ O E C I R CU LA Ç Ã O 7.3.5. A N Á LI S E C ON S TR U I TI V A ......................... 7 . 4 . P R OJ E TO T R I O L I N D E N B E R G - M CA A A R QU I TE TO S 7.4.1. F I CH A T É CN I CA .................................... 7.4.2. E S TU D O D A I MP LA N TA ÇÃ O ...................... 7.4.3. C ON CE I TO E F OR MA ............................. 7.4.4. P R OG R A MA , S E TOR I Z A ÇÃ O E C I R CU LA Ç Ã O 7.4.5. A N Á LI S E C ON S TR U I TI V A ......................... 8 . P RO POS TA P R OJ E TU A L ................................................. 8.1. O TE R R E N O E S U A S CA R A CTE R Í S TI CA S ............... 8.2. E S TU D O D O E N TOR N O .......................... 8.3. E S TU D O B I OCLI MÁ TI CO ................................ 8.4. P R OG R A MA D E N E CCE S S I D A D E S E D I R E TR I ZE S .....
45.
C A PÍT U L O 7
57 57 58 59 60 62 63 63 64 64 64 68 73 73 76 80 80
9 . C O N SI D E R A ÇÕE S F I N A I S ................................................ 85 1 0 . R E FE R Ê N CI A S B I B LI OGR Á FI CA S ...................................... 87
73.
C A PÍT U L O 8
85.
C O N S ID E R A Ç Õ E S F IN A IS
87.
R E F E R Ê N C IA S
B IB L IO G R Á F IC A S
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO O habitar é um ato imemorável, eis que o instintivo de se proteger das intempéries e dos predadores são atos dos primeiros seres humanos. Tal atitude, pode ser um dos motivos mais importantes para estarmos vivos até hoje, sabendo que possa existir predadores maiores. Desde as espécies irracionais, abrigar-se aparenta ser uma necessidade biológica, da qual todos os seres ainda praticamos. (REBELLO, Y. LEITE, M. 2007). O abrigo por sua vez, desde os primeiros seres humanos até os dias atuais se modificou em aspectos estéticos e dimensionais. Essas modificações, geralmente acontecem relacionadas a cultura e a economia de cada época em que foi construído. (REBELLO, Y. LEITE, M. 2007). Vamos analisar como um exemplo dessa influência cultural e econômica na modificação as residências da burguesia europeia do século XIX, as quais se caracterizam pela estrutura da tripartição - Íntimo, social e de serviços. A hierarquização social vigente na época era visivelmente presente na estrutura dos ambientes das residências, impondo assim a separação dos funcionários e patrões, onde a cozinha e sanitários se enquadravam como espaços de rejeição e ficavam ao fundo das residências, como menciona Tramontano (1997). O mesmo autor, aponta que posteriormente a isso, já no Introdução | 13
século XX, o Movimento Moderno europeu se constituiu como
unipessoais, constituídas por um único individuo, as família
o primeiro movimento em toda a história da arquitetura em que o desenho e a produção dos espaços de morar foram revistos e avaliados de acordo com critérios claramente reformulados, visando o emprego social que os integrantes das famílias tinham nesse momento e o uso dos espaços.
monoparental, composta apenas pelo pai ou pela mãe, as famílias reconstituídas, que são divorciados que já possuem filhos, as famílias amorfas, constituídas por pessoas que não possuem vínculos sexuais, amigos ou parentes, ou até mesmo as famílias homoafetivas, formada por pessoas do mesmo sexo, só vem crescendo dentro da sociedade atual e estas, assim como qualquer outra família, necessita de novos programas no seu habitar para suprir suas necessidades nos dias de hoje. (SUAREZ, F. FARIAS, R. 2016).
Mas pode-se dizer que a tipologia residencial moderna, que surge nesse período do modernismo europeu, na qual vemos como resultado a incorporação da sala de estar e a cozinha fundidas entre si, tornando esse espaço de convívio familiar, se infiltrou no mercado da construção civil e com o crescimento imobiliário acelerado é possível observá-la como cerne da reprodução dos empreendimentos residenciais até os dias de hoje. (TRAMONTANO, 1997). As mudanças sociais, econômicas e familiares não pararam por aí, vivemos em constante alterações. Mas eventualmente vemos a moradia se modificando conforme as necessidades do ser humano contemporâneo em aspecto estrutural, funcional e estético, após o surgimento da estrutura residencial produzida no movimento moderno europeu e na burguesia europeia como mencionadas acima. Além disso, o conceito de novas formações familiares é um tema que vem sendo pautado por profissionais de diversas áreas. Quiçá essas novas estruturas familiares, como muitas vezes: as famílias
Pode se dizer que de forma ainda tímida, o redesenhar da moradia está ganhando destaque em novos empreendimentos no Brasil, geralmente nas metrópoles é notório que o habitar flexível, ou seja, que se adeque as diversas formações familiares e usos dos espaços, vem sendo empregado pelos arquitetos no momento de projetar uma habitação. Impulsionada por essa preocupação com a adaptação das moradias ao estilo de vida das famílias atuais, que neste trabalho apresenta-se um estudo sobre as mudanças que aconteceram na habitação ao decorrer do tempo, o conceito de moradia flexível e adaptável, o estudo de casos de moradias contemporâneas já existentes no mundo que propõe programas de necessidades diferentes, que visam se adequar e atender a sociedade contemporânea.
2. OBJETIVO GERAL O objetivo da presente pesquisa do Trabalho Final de Graduação I baseia-se em uma revisão bibliográfica acerca do estudo das mudanças ocorridas ao longo da história nas habitações familiares, o modo de habitar flexível e adaptável, como também o estudo de casos em relação a edifícios contemporâneos. 2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Contextualização das mudanças ocorridas na habitação ao longo da história. • Revisão bibliográfica referente ao conceito de morar flexível e adaptável. • Seleção e análise de estudo de casos de moradias contemporâneas. • Levantamento, análise e mapeamento do local proposto e definição do programa de necessidades.
3. JUSTIFICATIVA Assim como tendências de moda, arquitetura e design, as tendências comportamentais também se alteraram nas últimas décadas. O historiador Eric Hobsbawn (1997) descreve diversas alterações que ocorreram após a segunda metade do século XX, chamando-as de “revolução social”. Com o aumento da população urbana nessa época, o desenvolvimento social aconteceu de forma acelerada. A introdução da mulher no mercado de trabalho, o acesso à escolaridade da população, as mudanças nas formas de empregos e relações de trabalho, o acesso ao nível superior, os movimentos feministas e o livre árbitro dentro das relações pessoais, foram também aspectos marcantes que devido a mudança do papel empregado pela mulher, alterou-se a rotina das famílias e sua estrutura. Todos esses fatores desencadearam em novas formações familiares, como diz Tramontano (1997), a tendência dessa sociedade composta por pessoas solteiras, viúvas e divorciadas ainda tende a aumentar cada vez mais. Outra relação que talvez possa ser dita como importante e atual, é a relação entre o trabalho e a residência. Geralmente as oportunidades de trabalhos em “home-office” com o avanço da tecnologia e a fácil comunicação tornam mais presentes em diversas profissões e cargos. Como Requena (2007) ressalta em sua tese sobre o habitar Justificativa | 15
híbrido, o ritmo das inovações do espaço doméstico não está
necessita ser enfatizada.
no mesmo das transformações familiares e das necessidades dos moradores, por isso, que esse assunto ainda tem que ser evidenciado quando se pensa em espaços habitacionais, uma vez que a produção continua ativa. Para saber um pouco mais sobre esses dados pesquisas são realizadas regularmente e em São Paulo, as pesquisas sobre o Mercado Imobiliário realizadas pelo Secovi-SP1 (sindicato da habitação), apurou que houve crescimento na comercialização de unidades residenciais novas (2.176 unidades) em fevereiro de 2019, resultando um aumento de 34,2% superior as 1.622 unidades de janeiro do mesmo ano. Este resultado é superior ainda as vendas em relação ao mês de fevereiro do ano de 2018 (1.448 unidades).
Localizada no interior de São Paulo, Piracicaba, por ser uma cidade em crescimento, segundo informações do IPPLAP de 2018, nas quais identificamos o aumento na densidade de habitante por km² em relação aos anos anteriores, sendo no ano de 2017 277,79 hab/km² e no ano de 2018, 279,49 hab/km², a cidade foi escolhida pelo seu potencial em crescimento e pela predominância na faixa etária jovem, como mencionado. Segundo dados do IBGE 2010, os jovens de 25 a 29 anos predominam a população da cidade, idade na qual geralmente começa a busca por uma moradia independente e sua independência, para formação de sua família.
Motivada pela importância do assunto que está tomando espaço nas discussões de arquitetura e urbanismo, que este presente trabalho busca aprofundar-se acerca dessa pesquisa na temática, visando ter engajamento para transmitir tais cuidados e técnicas no momento de projetar uma edificação para a cidade de Piracicaba, na qual já podemos observar alguns modelos de edifícios com o olhar contemporâneo, como serão mencionados no decorrer dos estudos de caso, mas por ser uma cidade jovem como aponta os dados coletados, a demanda dessa tipologia na edificação tem potencial de crescimento e
Propõe-se realizar este trabalho através da consulta a fontes segundarias de pesquisa bibliográfica sobre o tema abordado, em artigos, livros, revistas, consulta a fontes primárias através de entrevistas em profundidade necessária para entender as mudanças das tipologias de moradia no decorrer das décadas até os dias atuais, o conceito de moradias adaptáveis e flexíveis como proposta que se pode dizer, estão surgindo nas metrópoles brasileiras.
1 SECOVI-SP – Sindicato da Habitação. Disponível em: http://www. secovi.com.br/pesquisas-e-indices/pesquisa-mensal-do-mercado-imobiliario
4. METODOLOGIA
Analise qualitativa de estudos de casos que abrangem temáticas pertinentes a pesquisa proposta.
Metodologia | 17
AS MUDANÇAS OCORRIDAS NA HABITAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA.
5. AS MUDANÇAS OCORRIDAS NA HABITAÇÃO AO
LONGO DA HISTÓRIA.
A partir de gravuras registradas nas cavernas e todo o estudo destas é que a evolução da história da moradia é datada por volta de 25 mil anos A.C., quando o homem utilizava as cavernas como local para proteção das intempéries e de predadores. (SERPA, 2015). Yopanan Rebello e Maria Amélia D’Azevedo Leite (2007) em seu artigo “As Moradias”, falam sobre a importância do habitar desde os primórdios, que tal ato, definido por ação de permanecer ou de tardar em determinado local, permitiu à nossa espécie e diversas outras estarmos aqui até hoje. Sendo, o abrigo, uma necessidade biológica entre os seres vivos das mais diferenciadas espécies. (AURÉLIO, 2010). A evolução dessas habitações possivelmente não ocorreu só por mudanças sociais e tecnológicas ao longo das décadas, mas também de acordo com as condições climáticas e do solo de cada local, pois é notório identificarmos diferentes métodos construtivos no mesmo período em condições bioclimáticas distintas. Branco e Lourenço apontam alguns tipos de construções que serviam de habitação ou abrigo temporários registrados no período neolítico, ou seja, por volta de 5.000 a.C., como: 5. As Mudanças Ocorridas na Habitação ao longo da História. | 21
a cabana (formada por uma estrutura de suporte feita com ramos e canas, com uma cobertura composta por mistura de folhas com argila, colmo ou peles de animais), a palafita ou habitação lacustre de madeira (elevada sobre pilotis ancorados no fundo dos lagos ou em zonas pantanosas) e os terramares, descobertos em Itália (cabanas de madeira e argila que se encontraram em lugares pantanosos). Em qualquer lugar onde se encontrassem materiais provenientes da envolvente próxima, propícios à construção, eram aproveitados pelas tribos primitivas para serem utilizados na construção e revestimento de abrigos. (BRANCO; LOURENÇO, 2012, p.202.)
Esses abrigos, construídos pelos primitivos se desenvolviam a partir do local de permanência do momento e dos matérias que este possuía. Permitindo encontrar vestígios de diferentes tipos de abrigos desenvolvidos pelas tribos, conforme suas ferramentas.
Dando um salto na história, chegamos na Idade Média, período do século V ao XV. Nesse período pode-se dizer que as habitações e o local de trabalho dividiam o mesmo espaço e, as famílias por sua vez não conviviam apenas com pessoas de laços parentais. Suas terras eram divididas também com funcionários, seus familiares e empregados assalariados. Todos residiam num mesmo espaço e algumas vezes dividindo um único cômodo, pois as moradias da época não se compunham com a divisão de ambientes que conhecemos nos dias atuais. (TRAMONTANO, 1998). A partir do início processo de industrialização e o surgimento da burguesia, ao longo do século XVIII, é possível notar mudanças gradativas na habitação. O local de trabalho não se encontrava mais no cenário habitacional, assim as pessoas que habitavam a moradia passaram a possuir algum laço ligação estreito, laço sanguíneo, o que consolidou a família nuclear, composta pelo casal e seus filhos. (TRAMONTANO, 1998). Com essas mudanças no modelo familiar surgem as residências da burguesa europeia do século XIX, que se caracterizaram pela estrutura da tripartição - Íntimo, social e de serviços. Nesse contexto, havia a separação dos funcionários e patrões, a cozinha, sanitários, área de serviço e dependências dos funcionários, que se enquadravam como espaços de
rejeição e localizavam-se áreas do fundo das residências.
diminuir. Foi notável que o ano de 1965, apresenta um declive
(TRAMONTANO, 1998).
na nupcialidade, iniciando-se na Suécia e Dinamarca e foi se estendendo aos outros países. A partir deste pode-se dizer que a mulher começa a empregar um novo papel na sociedade e ganhar cada vez mais o seu espaço no mercado de trabalho e na autonomia de querer ou não procriar (BELQUÓ, 1989).
O processo de industrialização não parou, e assim se iniciou a inserção da mulher no mercado de trabalho, em razão do avanço e crescimento da industrialização, período no qual a implantação de várias industrias e maquinários atrai cada vez mais o homem do campo à cidade, gerando assim um grande crescimento urbano e busca por novos empregos. A mulher também vai para o mercado de trabalho, muitas vezes para compor a renda familiar, mudando assim seu tempo permanente no papel empregado dentro do lar, como dona de casa. Eis que então o desenho da residência precisa ser repensado, refletindo-se nos primeiros modelos de cozinhas fundidas nas salas de estar, possibilitando assim, à mulher realizar seus afazeres domésticos próxima aos outros membros da família, principalmente dos filhos, uma vez que sua permanência na residência diminui notoriamente. (TRAMONTANO, 1998). O espaço da mulher dentro mercado de trabalho, suas novas funções dentro da sociedade e o avanço das informações sobre métodos anticoncepcionais gera maior independência da mulher em escolher o momento no qual ter filhos e quantos filhos ter, uma vez que, como já mencionado, os afazeres dela passam a aumentar e seu tempo de permanência nas residências
Apresenta-se abaixo um gráfico sobre as taxas de fecundidade do ano de 1950 a estimativas para o ano de 2100, onde podemos notar estatisticamente a diminuição no número de filhos ao decorrer dos anos.
Gráfico 01 – Taxa de Fecundidade Total para regiões do mundo. Disponivel em: <http://www.ufjf.br/ladem/2018/04/20/a-lenta-transicao-da-fecundidadena-africa-subsaariana-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/>
Por volta de 1950 e 1960 a informatização dá seus 5. As Mudanças Ocorridas na Habitação ao longo da História. | 23
primeiros sinais, mas segundo Tramontano, só após trinta anos
compostas por amigos e parentes que não possuem relações
que a comunicação a distância começa a ser completamente modificada. Propaga-se por meio dessas telecomunicações o chamado modo de vida metropolitano, iniciando nas grandes capitais e seguindo em direção as cidades menores.
sexuais, famílias reconstruídas após divórcio que possuem filhos e pessoas que optam também por viverem só. (SUAREZ, F. FARIAS, R. 2016).
Com essa dinâmica na comunicação os habitantes passam a se assemelhar aos seus congêneres de outros países, na formação familiar, no modo de se vestir e agir, nos equipamentos utilizados e até nas suas fontes de comunicação. Pode-se dizer que com essa padronização no modo de vida, a influência da cultura local se vê diminuída e a informação em massa se potencializando, gerando uma enorme transformação de hábitos. (TRAMONTANO, 1998). Essas transformações de hábitos e informatização refletem também no surgimento de novos grupos domésticos, pois neste momento a busca pelo conhecimento, reconhecimento no mercado de trabalho e crescimento pessoal vem mais a tona e pode-se dizer que muitas vezes o objetivo de formar uma família compostas por pais e filhos, como era nos períodos anteriormente mencionados, tomam outros valores para algumas pessoas. Vemos então o surgimento dos novos formatos de grupos domésticos, como as famílias monoparentais, composta apenas pelo pai ou pela mãe; casais que optam por não terem filhos; famílias homossexuais, famílias
Esse período correspondente a segunda metade do século XX, destaca-se também por estar se equipando de meios mais performáticos de comunicação à distância. O espaço de trabalho volta novamente a ocupar o espaço de habitação, que por sua vez tende a ter sua estruturação no seu cenário. Mas como cita Tramontano em seu artigo: No que concerne o desenho do espaço doméstico para esta população em transformação, o ritmo das inovações tem sido bem mais lento. Paulistanos, parisienses e toquioítas habitam casas e apartamentos cujos espaços tendem a assemelhar-se a tipologias que vão do modelo da habitação burguesa europeia do século XIX, caracterizado pela tripartição em áreas social, íntima e de serviços, ao arquétipo Moderno da habitação-para-todos, com sua uniformidade de soluções em nome de uma suposta democratização das características gerais dos espaços. Mesmo que agora tendam a habitá-la grupos domésticos cujo perfil difere cada vez mais da família nuclear convencional, e
cujos modos de vida apresentam uma diversidade cada vez maior, o desenho dos espaços desta habitação permanece intocado. (TRAMONTANO, 1998. p.02).
Uma das justificativas que temos sobre o uso desses dois modelos até os dias atuais é o de serem os modelos economicamente viáveis que encontramos no mercado. Esses dois modelos foram originalmente concebidos para a família nuclear, do século XVIII a XIX, no momento em se predominava a família tradicionalmente formada por pais e filhos. Mas após todos esses processos nas formações familiares, informatização, do local de trabalho, do tempo de permanência na moradia e inúmeros outros fatores que se alteraram, o modelo de habitação não foi mais alterado a ponto de ser adotado como formato padrão como tal. (TRAMONTANO, 1998).
1.1. Análise de algumas alterações significativas nas
plantas baixas do século 1910 ao século XXI A construção dos primeiros edifícios de apartamentos iniciando o processo de verticalização urbana em São Paulo data da década de 1910, por meio de investimentos do capital cafeeiro e a modernização da cidade. (ANITELLI, 2010). Uma das primeiras edificações deste contexto, foi o edifício localizado na rua Formosa, em São Paulo, de propriedade do Conde Prates (figura 01). Projetado pelos arquitetos Samuel e Cristiano das Neves, na sua tipologia podemos observar a presença de um pátio interno no centro dos três apartamentos, permitindo a ventilação da cozinha, copa e banheiro, pois estes não têm janela na fachada. Além disso outra característica presente é a estrutura da tripartição, onde a área de serviço composta pela cozinha, copa e o banheiro ficam segregados na planta baixa, como foi identificado na figura abaixo. (VILLA, 2002). Em vermelho identificamos a área do pátio interno presente em todos os pavimentos superiores com a função de ventilação e em azul identificamos a localização das áreas consideradas de serviços pela estrutura tripartidária (cozinha, copa e banheiro).
5.1. Análise das principais alterações. | 25
comerciantes para a locação do seu espaço. O acesso desses edifícios geralmente era feito de forma independente por meio de escadas. A maioria dos apartamentos desse período são uma versão dos palacetes, com um programa reduzido, eles trazem mais de um cômodo social, muitas vezes nomeados como salão, sala de visitas, sala de estar, sala e a sala de jantar. Outra característica que observamos é que no ano de 1920, começamos a observar uma mescla das referências das habitações francesas, caracterizada pela setorização, mas ao mesmo tempo a desconstrução da área intima, que seria pertencente aos quartos, tendo esses cômodos espalhados pelo apartamento sem segregação como a área de serviços. (VILLA, 2002). Fig. 01 – Planta baixa do edifício da rua Formosa, São Paulo, Samuel e Cristiano das Neves, 1912. Adaptação autoral. FONTE: Anitelli (2010, p. 27).
Na década de 1910 e 1920, o pavimento térreo da maioria das edificações apresentavam algum tipo de comércio. Villa (2002) então levanta duas hipóteses que justificam esse uso misto na época. Uma delas é o resquício dos sobrados coloniais, que possuíam ocupação comercial no térreo e, no pavimento superior a residência desse comerciante. A outra hipótese de interesse financeiro, uma vez que esses edifícios estão implantados em uma área de forte comercialização, o proprietário além de atrair moradores, atraía também
No ano de 1927 foi construído o primeiro edifício modernista de São Paulo 2, O Edifício Angel, projetado pelo arquiteto Júlio de Abreu Júnior, apresenta uma linguagem mais despojada de ornamentação; o acesso às unidades são dadas por um único local, demonstrando tendência à padronização dos acessos.
2 Xavier, J; Lemos, C; Corona, E. Arquitetura moderna paulistana. São Paulo: Pini, 1983.
cômodos oferecidos ou não como um ambiente de uso coletivo. Surge então nessa época uma espécie de kitnet, destinada a pessoas sozinhas e de passagem. (VILLA, 2002).
Fig. 02 – Planta baixa tipo, Edificio Angel, avenida Angélica, 172, Júlio Abreu Júnior, 1927. (Arquivo FAU-SP). FONTE: Villa (2002).
Podemos observar que houve uma perda de alguns cômodos comuns como a sala de jantar, o salão, o gabinete, a copa – que foram presentes nos edifícios da década de 1910 e 1920. A copa e a sala de jantar se fundem a cozinha e deixa de existir um espaço destinado aos empregados. Esse fato é citado pelo autor Villa (2002) como a racionalização e otimização dos apartamentos da época, muitas vezes estes destinados para o aluguel pela classe média e baixa. Até o ano de 1940, mais de dois terços das edificações eram ocupados por inquilinos. Por tal motivo, os apartamentos construídos para fins lucrativos começam a apresentar uma diversidade nas tipologias, variando a quantidade de quartos, ou até mesmo possuindo apenas quarto e banheiro e os outros
No ano de 1950 vemos a redução no formato das áreas de serviços. Villa (2002) aponta que essa redução se inicia devido a chegada de eletrodomésticos, móveis planejados e produtos cada vez mais industrializados. Com isso, há uma redução no tempo permanente no local de serviço, uma vez que as máquinas estão auxiliando nas tarefas diárias executadas neste local. A popularização do aparelho televisor também influenciou no uso e na disposição dos ambientes. A princípio a TV foi inserida nas salas, mas assistir aos programas de televisão se tornaram parte do cotidiano das famílias. Assim, a sala de estar se uniu a sala de jantar, vinculando assim a refeição ao momento de assistir televisão. (VILLA, 2002). Neste período, chegam ao lar diversas novidades apresentadas pelas publicidades, que nesse momento eram vistas por toda a família, através dos comerciais de televisão. Foram de automóveis a geladeiras, ferro de passar roupas, chuveiro, liquidificador, aparelho de barbear, secador de cabelos, enceradeira, máquina de lavar e etc., além dos alimentos industrializados, que facilitavam a vida das donas de casas com o preparo das refeições.
5.1. Análise das principais alterações. | 27
estanques e compartimentados seus espaços”. Analisando uma planta dessa época (figura 04), notamos a divisão do programa aumentada em diversos cômodos nos edifícios de alta classe, identificamos assim as suítes, em azul, a biblioteca, ou em alguns casos o escritórios, em vermelho, espaço destinado à despensa em amarelo e a presença de terraço no apartamento, em verde.
Fig. 03 – planta do edifício de propriedade da Companhia Seguradora Brasileira, projetado Rino Levi. 1948. Adaptação Autoral. FONTE: Anitelli (2010, p.158).
Na planta baixa projetada por Rino Levi acima, podemos observar identificada pela tonalidade rosa a junção da sala de estar com a sala de jantar que ocorreu na época. Também é notório mencionar a aproximação da cozinha que antes segregada e agora se torna parte desse conjunto – sala de estar, jantar e cozinha. Nos anos 1960 os apartamentos grandes, diferentemente dos mencionados até então, que vinham cada vez mais otimizando espaços, começavam a ganham destaque no cenário paulistano. Eles por sua vez obedeciam tal relação mencionada por Villa (2002): “quanto maior sua área, mais
Fig. 04 – Edificio de apartamentos, alameda Rio Claro, Mauricio Kogan e Samuel Szigel. 1961. Planta tipo. Adaptação autoral. FONTE: Villa (2002, p. 144).
Nas décadas seguintes, 1970 e 1980, foram anos que marcaram grandes transformações econômicas e sociais no mercado paulistano; foi então oferecida uma gama maior de tipologias de apartamentos, visando garantir os fins lucrativos. Em alguns exemplares observamos a volta da presença da
copa nas tipologias propostas, mas estas por sua vez estão
dormitório passam a ser adotados pelos empreendimentos,
integradas com a cozinha e o dormitório de empregados aparece com função flexível. Apesar de ser destinado à função de quarto, já apresentava certa estratégia, ficando localizado no final do corredor próximo a outro dormitório, permitindo a flexibilidade de se tornar um closet.
estes por sua vez eram destinados a jovens executivos. Esses edifícios, na sua maioria, traziam uma gama de serviços e entretenimentos nos pavimentos de usos comuns, como por exemplo as academias. Como diz Villa (2002) este foi apenas o início do que temos nos dias atuais, aproximando-os da configuração de flats.
Fig. 05 – Planta baixa Edificio Vila Romana, rua Croata, sem identificação do autor, publicada na folha de São Paulo, 17/07/1984. Adaptação autoral. FONTE: Villa (2002, p. 171).
No projeto apresentado acima, podemos claramente perceber a adoção dessas alterações mencionadas pelo autor, a inclusão de uma pequena copa na cozinha e a opção da flexibilidade que o terceiro quarto permite. Também em 1980, os apartamentos com apenas um
Fig. 06 – Edifício Studium 77, rua Edson, sem identificação do autor, 1982, planta tipo publicada no mesmo ano no Jornal Folha de São Paulo. FONTE: Villa (2002, p. 172).
Com a padronização dessas plantas tipo dos anos 1980, viu-se um crescimento gradativo na lista de equipamentos coletivos dentro dos edifícios. Os empreendimentos, destinados à alta sociedade principalmente, passam a investir na área de lazer, trazendo ao morador uma espécie de clube nas áreas 5.1. Análise das principais alterações. | 29
térreas do edifício. Esses itens eram os pontos culminantes
não apenas hospedes passageiros, mas também permanentes,
para se comprar um apartamento em tal local, sabendo que nesta época há grande padronizações nas tipologias, e essas por se assemelharem muito umas as outras deixam de ser o atrativo para a compra do imóvel. Sendo assim, quanto mais fosse equipado de segurança e itens de uso coletivo se assemelhando a clubes, mais se tornava um atrativo para comprador do imóvel. (Villa, 2002).
como idosos solitários, famílias com ou sem filhos e solteiros.
Em 1990, a inclusão dessa gama de equipamentos já havia se popularizado nos novos empreendimentos, da alta à baixa renda e neste momento então o mercado imobiliário precisa trazer um novo atrativo a esse comprador. Surgem então os condomínios verticais, que além de trazer segurança, equipamentos de uso coletivo, agora possuíam áreas verdes, atraindo uma população carente dessas áreas, propondo melhorias no bem-estar ilustrando a imagem de um pequeno paraíso para essas pessoas estressadas dos males da cidade. (VILLA, 2002). Quanto às tipologias dos apartamentos, segundo Tramontano (1987) em meio às configurações convencionais, vemos os surgimentos dos flats, lofts e a valorização das kitnets. Apesar do surgimento do primeiro edifício de flats ter sido no ano de 1975, foi nesse período dos anos 90 que houve grande repercussão desse estilo de moradia, atendendo
Os lofts brasileiros ganhavam espaço no mercado imobiliário, trazendo uma versão reduzida do loft norteamericano, geralmente composto por dois pisos e com a presença de um mezanino, variando nos tamanhos de 30m² a 120m². Esses edifícios expressavamm a estratégia dos empreendedores imobiliários de vender mais caro, espaços menores, pela razão que esses empreendimentos tem a oferecer ao morador diversidade nos serviços de usos comuns destinado às classes altas.
Fig. 07 – Perspectiva Ilustrada, peça piblicitária do Loft São Paulo I, 1999. (Publicada no Jornal Folha de S. Paulo, 14/05/1999). FONTE: Villa (2002, p.183).
As chamadas plantas flexíveis surgem nesta época, como solução encontrada para atender à diversidade dos perfis familiares. Essas plantas então são apresentadas na préconstrução como opções na organização dos compartimentos dentro do imóvel. Villa (2002) aponta como problema destas plantas, o uso da mesma estrutura convencional em todas as opções, travando assim algumas possibilidades dentro do espaço e a falta de questionamento se esta é a melhor reorganização para o modo de vida contemporâneo. Podemos relacionar esse tipo de situação na hora da compra dos imóveis com o que temos nos dias atuais onde vários empreendimentos nos trazem algumas tipologias já pré-estabelecidas das possibilidades de distribuição do apartamento.
Fig. 08 – Planta tipo e opções de plantas do Edificio à rua Aimberê, Roberto Candusso, 1999. Adaptação autoral. FONTE:: Villa (2002, p. 184).
O autor traz então algumas opções de plantas expostas ao comprador no projeto do Edifício do arquiteto Roberto Candusso(1999), como podemos observar acima, nas quais podemos notar ainda a presença da tripartição na habitação, conseguindo setorizar em área social, em rosa, área intima em amarelo, as áreas de serviços em azul e em verde a ideia que já vinha sendo proposta do terceiro cômodo, no qual surgem diferentes usos, como podemos identificar nas 5.1. Análise das principais alterações. | 31
plantas. Concluindo que esses partidos arquitetônicos ainda
compartimentação dos ambientes não é tão intensa como nas
dominam as moradias, mesmo se tratando de um apartamento com uma proposta de ambientes pré determinados, mas de flexibilidade nas divisões das acomodações. Mas não podemos desconsiderar que dentro dessas novas configurações apresentam-se soluções para espaços menores, onde há a sobreposição das funções, como as cozinhas americanas que foram fundidas em 1920 e ainda estão presentes nas propostas de apartamentos.
décadas anteriores, possibilitando a integração dos ambientes. Atualmente é comum verificar essa sobreposição nas cozinhas e área de serviços, ocupando praticamente o mesmo espaço nos apartamentos; a copa também perde sua função e espaço, se transformando normalmente em balcões que servem para uma refeição rápida e como divisória da cozinha da sala de estar e jantar, permitindo mesmo assim a integração dos ambientes.
A intensificação da internet, no século XXI, influência fortemente o comportamento humano; estes buscam pela autonomia e individualidade, tornando mais introspectivos e criam formas de relacionamento não físicas já que a comunicação à distância se tornou mais fácil. Com essas mudanças no comportamento os espaços residenciais precisam atender essas necessidades. Vemos então o quarto, espaço íntimo, tomando novas funções e sendo equipados com espaços para estudo, televisão e o banheiro privado, a suíte. Assim, o usuário consegue suprir varias das suas necessidades em um único local da residência. (ZROJEWSKI, 2014). Além das novas funções que os dormitórios ganham, as tipologias de apartamentos do século XXI apresentam em geral a sobreposição de funções e os espaços persistem na ideia da flexibilidade nos empreendimentos, notando que a
Fig. 09 – Planta baixa do Edifício Alameda Jardins by Tishman Speyer, 2019. Adaptação autoral. FONTE: http://www.alamedajardins.com.br/.
Como podemos observar ao lado, na proposta de uma das plantas tipos do Edifício Alameda Jardins (2019), em São Paulo, identificamos as características dos apartamentos contemporâneos, na parte intima em rosa, a atribuição do espaço de trabalho ou estudo ao quarto e a inclusão do banheiro privado. E nas áreas de serviço a junção da lavanderia com a cozinha, em azul, e sua integração com a área social composta pela sala de estar e jantar.
5.1. Análise das principais alterações. | 33
5.1. Análise das principais alterações. | 35
FLEXIBILIDADE ARQUITETÃ&#x201D;NICA
6. FLEXIBILIDADE ARQUITETÔNICA O tema da flexibilidade ligado à habitação é algo que transcende a interminável modificação de elementos no interior da habitação. A flexibilidade não consiste numa mera permutação de alvenaria por divisórias leves, ou na utilização de estruturas modulares com painéis em vidro e mobiliário estandardizado, nem tão pouco com a oferta de espaços amplos. Este conceito é mais abrangente, estende-se a noções de versatilidade, polivalência e mutabilidade. É necessário portanto esclarecer este conceito tão amplo e complexo que é a flexibilidade. (SANTOS, 2012, p. 09).
Diversas são as definições quando falamos em arquitetura flexível ou da flexibilidade na habitação, por autores que estudam esse conceito na arquitetura. A palavra flexibilidade no dicionário Aurélio3 tem como definição: “1. Qualidade de flexível. 2. Elasticidade, destreza, agilidade (...) 3. Facilidade de ser manejado; maleabilidade. 4. Aptidão para várias coisas”. Ou seja, podemos entender como algo que permita diversas possibilidades de forma ágil, maleável e que permita diversas coisas serem realizadas ao mesmo tempo. Barbosa (2016), sintetiza em seu mestrado, que o conceito de flexibilidade está ligado diretamente à forma estrutural e 3
Médio Dicionário Aurélio, Editora Nova Fronteira, 1980, p.798.
6. Flexibilidade Arquitetônica. | 39
aos usos dos espaços no momento de desenvolvimento do
assim um novo conceito, a polivalência no uso dos espaços,
“layout”, com base nos autores dos artigos “Housing Flexibility?” (1973) e “Housing Flexibility Adaptability?” (1974).
ou seja, que apresentem várias possibilidades, invés de ser totalmente mudável. (SANTOS,2012).
Esta, transcende as mudanças físicas e espaciais, estendendo as noções de adaptabilidade, participação, elasticidade, evolução, entre outros. Podemos dizer que este conceito sempre esteve presente nas discussões de arquitetura, mas é recente que notamos a importância que vem ganhando na forma de projetar novos espaços. (BARBOSA, 2016).
O projeto da Diagoon Housing Delft de Hertzberger é um exemplo do emprego do conceito de polivalência. Onde permite ao usuário definir os usos dos espaços conforme sua necessidade, sem perder a identidade do edifício, uma vez que cada uma das funções que os espaços possam adquirir, já foram pensados no momento da projeção.
O arquiteto Herman Hertzberger (1963), descreve a mais antiga definição sobre flexibilidade na arquitetura que se sabe, “parece inerente à relatividade, mas, na verdade, está ligada apenas a incerteza, à falta de coragem em nos comprometermos [...]“. Seu olhar crítico sobre esse conceito menciona também que essa formulação flexível dos espaços soluciona a problemática naquele momento, mas que nunca é a melhor solução, ou seja, que o espaço flexível não atende todas as necessidades dos indivíduos, ela só atende momentaneamente. Mas quando vemos tal ponto de vista critico, é necessário levarmos em conta a época em que estamos falando sobre esta, pois havia pouca experimentação e industrialização de materiais, como estruturas para grandes vãos e até mesmo móveis adequados para compor o ambiente e trazer funcionalidade e versatilidade. Portanto o arquiteto propõe
Fig.10 – Desenho esquemático da possibilidade de funções dos ambientes do projeto de Hertzberger. FONTE: https://www.hertzberger.nl/images/ nieuws/DiagoonHousingDelft2016.pdf.
Teóricos como Andrew Rabeneck, David Sheppard e Peter Town4 defendem que a flexibilidade na arquitetura está relacionada a técnicas construtivas e distribuição de layouts, devendo assim estar apto a oferecer a capacidade de escolha e personalização dos espaços. Os mesmos autores por sua vez, definem em outro artigo5 a diferença entre o ambiente flexível, no qual o morador rem responsabilidade total na definição do espaço interno, e o ambiente adaptável, aquele com capacidade de variação, planejada previamente no momento de projetar pelo arquiteto. (SANTOS, 2012). Já em 1998, Maccreanor6 afirma que a flexibilidade é um tema de interesse dos arquitetos a um longo tempo já, e afirma ainda que a flexibilidade não se limita e sim implica na necessidade da constante mudança dos ambientes simultaneamente com o cotidiano, enfatizando também que a flexibilidade inclui a adaptabilidade, que esses conceitos estão relacionados entre si. Já, Forty no ano de 2000, menciona que a flexibilidade não é um espaço que permite mudanças sem fim e identifica três tipos de flexibilidade arquitetônica. (BARBOSA, 2016.p.37): 4 Andrew Rabeneck, David Sheppard, Peter Town, Housing Flexibility/Adaptability?, vol 43. Architectural Design, Londres 1973, p. 698. 5 Andrew Rabeneck, David Sheppard, Peter Town, Housing Flexibility/Adaptability?, vol 44. Architectural Design, Londres 1974, p. 86. 6 Maccreanor, G. Adaptability. A+T Magazine. n.12. p.40-45. 1998
Flexibilidade por meios técnicos – incorporação de elementos móveis; Flexibilidade por redundância espacial – envolve um espaço tão amplo que cria condições ideias para acomodar usos diferenciados; e por fim, a Flexibilidade como estratégia política – possibilitando a multifuncionalidade.
Encontramos diversas definições de flexibilidade, algumas até mesmo contraditórias, tornando o conceito de flexibilidade abrangente. Mas que consegue nos passar uma ideia central do que é este termo dentro da arquitetura, uma definição que para Santos (2002) a qual engloba e conclui todas essas ideias é a de Joan Villá, que sintetiza em “ toda a configuração construtiva e formal que permita uma diversidade de formas de uso, ocupação e organização do espaço, ao longo da vida do edifício, como resposta às múltiplas e mutáveis exigências da sociedade sobre o Habitat Contemporâneo”7 .
7
Joan Villá, Flexibility: a contemporany habitat demand. p.8.
6. Flexibilidade Arquitetônica. | 41
ESTUDOS DE CASOS
7. ESTUDOS DE CASOS Os estudos de caso foram selecionados com o intuido de analisar diferentes propostas de edifícios que empregrem o conceito, forma ou usos que serão empregados na proposta projetual. Por tal motivo, foi escolhido então dois projetos internacionais famosos, um projeto na metrópole paulista e um projeto na cidade foco da pesquisa. O levantamento desses projetos tem como objetivo entender o local de implantação, conceito volumétrico, o programa de necessidades, a circulação e a setorização dentro de cada possibilitando ter parametros de como os conceitos levantados anteriormente são empregados na prática.
7. Estudo de Casos. | 45
7.1. Projeto VM HOUSES – BIG + JDS
consolidada no stúdio PLOT, onde buscavam praticar uma arquitetura que transformasse intensas pesquisas e análises em um novo design. O escritório PLOT se subdividiu no ano de 2006, de onde surge então o famoso BIG, Bjarke Ingels Group e o JDS. (ARCHDAILY, 2019)
Fig.11 – Fachada Edifício VM Houses. FONTE: https://www.archdaily. com/970/vm-houses-plot-big-jds.
O projeto VM Houses, localizado em Copenhagem, na Dinamarca, assinado pelos arquitetos Bjarke Ingels e Julien De Smedt, parte da ideia de propor diferentes tipologias de apartamentos para diferentes personalidades e necessidades em um único local. (ARCHDAILY, 2019) A proposta do projeto é atender com mais de 80 tipos de plantas diferentes e flexíveis todas as necessidades da vida contemporânea de diversos tipos de grupos familiares. (ARCHDAILY, 2019) A união de Ingels e Smedt em alguns projetos foi
7.1.1. Ficha Técnica Projeto de Arquitetura: BIG +JDS = PLOT Ano: 2004 Quantidade de unidades: 230 unidades. Endereço: Copanhagem, Dinamarca. Área construída ao total: 25.000m²
7.1.2. Análise da Implantação
Analisando o entorno de onde fica localizado o edifício, pode-se concluir que este edifício fica numa periférica de Copenhagem, com grande volume de casas unifamiliares, possuindo também alguns outros edifícios, como mostra na região oeste da implantação. Em contrapartida na outra fachada lateral, a leste, encontram-se diversos comercios e usos que suprem a necessidades desses moradores e agitam esse local, como supermercados, sorveterias, padarias, escola, estacionamento e biblioteca. (ARCHDAILY, 2019)
Fig 12 - Análise da Implantação. Adaptação autoral. Fonte: Google Maps. Acesso em 14 de abril de 2019.
A oeste é identificado também um grande parque da cidade, shopping-center, diversos comércios e serviços e vários outros edifícios, concluindo-se que este local consegue suprir quase ou todas as necessidades dos moradores, além de possuir possibilidades de trabalho próximo a residência, o que torna mais atrativo ainda o local para se morar. (ARCHDAILY, 2019) 7. Estudo de Casos. | 47
7.1.3. Conceito e Forma Agora quando falamos sobre conceito e forma, vale destacar a metodologia utilizada na criação da volumetria deste edifício, ondeos blocos residenciais vistos de cima se assemelham as letras VM por isso dado tal nome, como mencionam os autores do projeto. Eles foram constituídos desta forma para permitir a entrada de luz do dia pelas duas fachadas nas residências, mas mantendo a privacidade do morador e permitindo ter belas vistas diagonais do entorno. (ARCHDAILY, 2019).
A tipologia para a criação das unidades foi uma reinterpretação da Unite d’ Habitation feita por Le Corbusier em 1947, no qual se utiliza do método de unidades como módulos, células para compor o edifício. (ARCHDAILY, 2019).
Fig. 14 – Desenho esquemático de um exemplo da junção dos módulos e formação do corredor central. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/0169820/residencias-vm-plot-igual-a-big-mais-jds.
Fig. 13 – Esquema demonstrativo das direções de visibilidade com a conspecção da forma semelhante as letras V e M. FONTE: https://www. archdaily.com.br/br/01-69820/residencias-vm-plot-igual-a-big-mais-jds. Acesso em 15 de maio de 2019.
Os módulos, assim como no projeto de Le Corbusier, possuem vista para as duas fachadas e um corredor central que dá acesso aos apartamentos. Como mostrado no desenho acima, esses corredores são curtos e recebem iluminação de ambas extremidades. Todos os apartamentos possuem pé direito duplo voltados para a fachada norte do edifício e vista panorâmica na fachada sul, permitindo sempre existir a ventilação cruzada dentro das unidades. (ARCHDAILY, 2019). Os diagramas abaixo identificam os módulos na formação dos blocos V e M, foram ao total 80 módulos diferentes para
constituir as duas torres. (ARCHDAILY, 2019).
7.1.4. Programa, Setorização e Circulação Este edifício é exclusivamente residencial. A analisando as plantas encontradas do projeto não foi identificado nenhuma área de uso coletivo, com exceção das áreas de circulação. (ARCHDAILY, 2019). A circulação é feita por meio de escadas e elevador. No bloco V identifica-se a circulação coletiva feita apenas por um local ao centro da torre, que está identificado na planta abaixo desta torre. (ARCHDAILY, 2019).
Fig. 15 – Diagrama do Bloco V. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/0169820/residencias-vm-plot-igual-a-big-mais-jds.
Fig. 17 – Plantas baixa do bloco V do edifício. Adaptação autoral. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/01-69820/residencias-vm-plot-big-jds/ mhusmatrix/.
Fig. 16 – Diagrama do Bloco M . FONTE: https://www.archdaily.com.br/ br/01-69820/residencias-vm-plot-igual-a-big-mais-jds.
7. Estudo de Casos. | 49
A circulação recebe iluminação natural das duas fachadas
A estrutura do edifício é feita de forma independente dos
diagonais e ventilação cruzada.
fechamentos internos dos apartamentos, permitindo assim o uso da planta livre, integrando os ambientes e permitindo a autenticidade de cada proprietário na divisão dos espaços. Está é uma característica presente em todos os apartamentos, nos quais apenas a circulação interior, o banheiro e a área de serviço são determinados em todas as plantas. (ARCHDAILY, 2019).
Fig. 18 – Fotografia tirada da circulação por meio das escadas do bloco V. FONTE: //www.archdaily.com.br/br/01-69820/residencias-vm-plot-big-jds/ mhusmatrix/.
Foi recortado das plantas baixas do bloco V, disponíveis no site, dois apartamentos duplex para analisar essa situação mencionada. Em vermelho localiza-se o corredor de acesso aos apartamentos, em laranja o apartamento nomeado como A, em azul o apartamento nomeado como B e em verde as áreas que já são determinadas, banheiros e áreas de serviço.
Já no bloco M a circulação coletiva é feita por meio de dois acessos, também sendo por meio de escadas e elevadores, como foi identificado na planta a seguir. (ARCHDAILY, 2019).
Fig. 19 – Planta baixa 04 do bloco M do edifício. Adaptação autoral.FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/01-69820/residencias-vm-plot-big-jds/ mhusmatrix/.
Fig. 20 – Recorte da planta baixa 02 e 03. Adaptação autoral. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/01-69820/residencias-vm-plot-big-jds/ mhusmatrix/.
7.1.5. Análise Construtiva Os materiais predominantes na construção da estrutura do edifício foram o concreto e o metal. É possível identificar a forte presença desses elementos empregados por meio dos prémoldados. Para o acabamento foi forte o uso de esquadrias de metais, formando a fachada de vidro e as grandes janelas das unidades, além da presença dos guarda corpos de metal das sacadas. O uso do concreto permite essas varandas em balanços, com formatos diferentes e pontiagudos, sem contar que, fazendo uso de alguns materiais pré-fabricados, o tempo de obra diminui significativamente, concluindo a mesma em apenas um ano. (ARCHDAILY, 2019).
7. Estudo de Casos. | 51
Group
7.2. Projeto Mountain Dwellings – Big-Bjarke Ingels
todas as unidades, e sua cobertura verde, formando vários jardins. O projeto inova também na ideia de ter sua vaga de estacionamento na porta de seu apartamento, sendo o primeiro edifício que permitiu tal possibilidade, através de seu formato, essas vagas ficam no mesmo nível do apartamento ou bem próximas, dando a sensação de ter uma garagem na porta do seu apartamento. (ARCHDAILY, 2019). 7.2.1. Ficha Técnica Projeto de Arquitetura: BIG +JDS = PLOT Ano: 2004 Quantidade de unidades: 230 unidades.
Fig. 21 – Fotografia do edifício, mostrando sua volumetria. FONTE: (ARCHDAILY, 2019).
Localizado ao lado do VM HOUSES, feito pelo mesmo arquiteto e solicitado pelo mesmo cliente do projeto do edifício VM. O Mountain Dwellings, ou como a tradução diz, apartamentos da montanha, o que faz jus a sua forma, foi escolhido como um estudo de caso por sua forma similar a módulos e conceito de construção de um edifício de uso misto um pouco diferente do que estamos acostumados a encontrar, uso residencial e de estacionamento particular. (ARCHDAILY, 2019). Os apartamentos iniciam se no 11º pavimento e descem até a altura da rua, possibilitando uma vista incrível de
Endereço: Copanhagem, Dinamarca. Área construída ao total: 25.000m²
7.2.2. Análise da Implantação Localizado ao lado do edifício VM HOUSES, como mencionado, ficam localizados numa região periférica de Copenhagem que permite de um lado tranquilidade das residências e do outro lado do terreno a agitação com diversos espaços destinados ao comércio e serviço. (ARCHDAILY, 2019).
3.2.3. Conceito e Forma Como o próprio nome diz, o conceito e a forma parte da ideia de unidades habitacionais sob uma montanha, então temos uma base inferior composta pelo estacionamento de 10 pavimentos, formando a “montanha” e na parte superior os apartamentos como se estivessem sobre pilotis nesta montanha. Segundo o arquiteto, ele parte da ideia de ao invés de ter dois edifícios, um bloco de estacionamento, que tem como função também suprir os moradores, e um bloco residencial, realizar uma sobreposição dos dois edifícios em um, como podemos entender no processo de criação abaixo. (ARCHDAILY, 2019).
Fig. 22 – Recorte da implantação do edifício Mountain. Adaptação autoral. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/601342/mountain-dwellingsslash-big-and-jds.
Acima foi identificado a localização, em vermelho, do edifício Mountain Dwellings em relação ao projeto VM Houses sublinhado em vermelho. (ARCHDAILY, 2019).
Fig. 23 – Diagrama da concepção da forma do edifício. FONTE: https:// www.archdaily.com.br/br/601342/mountain-dwellings-slash-big-andjds/530bad37c07a80c45f0001c0-mountain-dwellings-slash-big-and-jdsimagem.
7. Estudo de Casos. | 53
No primeiro desenho, os dois edifícios como seriam se
são cobertas por placas de alumínio perfuradas formando o
fossem separados; no segundo desenho um estudo de como poderia acontecer essa sobreposição da parte residencial sobre a volumetria do estacionamento e nas seguintes a fundição das duas partes em uma só, gerando a volumetria da montanha.
desenho do Monte Evereste, protegendo do sol e permitindo a entrada de luz natural. A noite essas placas são iluminadas pela parte interna do estacionamento criando o efeito do mesmo desenho presente na luz do dia. (ARCHDAILY, C. , 2019).
Fig. 24 – Corte do edifício. FONTE: Fonte:https://www.archdaily. com.br/br/601342/mountain-dwellings-slash-big-andjds/530bad37c07a80c45f0001c0-mountain-dwellings-slash-big-and-jdsimagem.
Nesse outro diagrama identificamos a semelhança com o projeto do VM, no qual há presença do uso das diagonais qualificando as vistas dos apartamentos. As rampas e volumetria do estacionamento se ilustra no desenho 06 e a modulação das unidades habitacionais nos desenhos seguintes, na qual parecem ser módulos que vão se sobrepondo gerando a sensação de cascata. (ARCHDAILY, 2019). As fachadas que mais recebem incisão solar, oeste e norte,
Fig. 25 – Fachada Norte. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/601342/ mountain-dwellings-slash-big-and-jds/530bad22c07a806b060001c8mountain-dwellings-slash-big-and-jds-fachada-norte.
Fig. 26 – Fachada Oeste. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/601342/ mountain-dwellings-slash-big-and-jds/530bad22c07a806b060001c8mountain-dwellings-slash-big-and-jds-fachada-norte.
7.2.4. Programa, Setorização e Circulação Tratando do programa desse edifício, como já foi mencionado, ele parte da ideia de 2/3 estacionamento e 1/3 de residenciais, ou seja, este edifício é de uso misto, no qual há um estacionamento privado para uso público e de moradores. (ARCHDAILY, 2019).
E a outra tipologia com uma menor área livre de jardim, apenas um quarto e possuindo um lavabo, sendo também presente a planta livre na região destinada a cozinha, sala de estar e jantar e a setorização da área de serviço. (ARCHDAILY, 2019).
Ao total são disponibilizadas 480 vagas, sendo 80 delas destinadas as unidades de habitação, que totalizam em 80 unidades, e as outras 400 para uso privado de usuários externos. Dentro das 80 unidades residenciais foram encontradas duas plantas que mostram as tipologias de apartamentos, sendo uma delas com dois quartos, um banheiro e uma planta livre que permite a distribuição e integração da sala, cozinha e sala de estar. (ARCHDAILY, 2019).
Fig. 28 – Recorte da planta baixa de uma tipologia habitacional do edifício. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/601342/mountain-dwellingsslash-big-and-jds/530bad92c07a806b060001d0-mountain-dwellingsslash-big-and-jds-planta-do-apartamento.
Fig. 27 – Recorte da planta baixa de uma tipologia habitacional do edifício. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/601342/mountain-dwellingsslash-big-and-jds/530bad92c07a806b060001d0-mountain-dwellingsslash-big-and-jds-planta-do-apartamento.
7. Estudo de Casos. | 55
Todos os apartamentos possuem cobertura verde com sistema de irrigação do próprio edifício e grandes portas e janelas de vidro permitindo ar fresco e uso máximo da iluminação natural. (ARCHDAILY, 2019).
Fig. 29 – Fotografia da varanda dos apartamentos. FONTE: https:// www.archdaily.com.br/br/601342/mountain-dwellings-slash-big-andjds/530bb25bc07a80c45f0001d1-mountain-dwellings-slash-big-and-jdsimagem.
7.2.5. Análise Construtiva Sobre os métodos construídos desse edifício não foram encontrados muitos dados, mas analisando os cortes é possível identificar no projeto estrutural a presença do concreto nas grandes lajes, pilares e vigas e como acabamento além das grandes esquadrias de vidro que permitem a entrada de luz natural aos apartamentos e as placas de alumínios perfuradas, é marcante o uso da madeira na fachada e cobertura das habitações. (ARCHDAILY, C. , 2019).
7.3. Projeto Pop Madalena – IDEIA!ZARVOS
o arquiteto Luiz Felipe Carvalho. Há 14 anos no mercado, a incorporadora trabalha com alguns dos mais nomeados e talentosos arquitetos, como é o caso desse projeto assinado pelo escritório Andrade Morettin Associados. (IDEA!ZARVOS, 2019) O escritório nasce em 1997 a partir da associação dos arquitetos Vinicius Andrade e Marcelo Morettin, atuando com projetos de diversas escalas e naturezas, de setor público e privado, a equipe conta atualmente com outros profissionais da área, conquistando algumas premiações importantes nacionais e internacionais, ganhando forte reconhecimento na cidade que se está instalado, São Paulo. (ANDRADE & MORETTIN, 2019)
Fig. 30 – Perspectiva da Fachada do Edifício Pop Madalena. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/867005/edificio-pop-madalena-andrademoretin-arquitetos-associados.
O Edifício Pop Madalena é um dos projetos realizados pela Idea!Zarvos, fica localizado na Vila Madelena, local típico de vida urbana, assinado pelo escritório Andrade Morettin Associados, o empreendimento traz o uso misto dos espaços, servindo para morar e trabalhar. (IDEA!ZARVOS, 2019) A Idea!Zarvos é uma incorporadora, que tem como conceito produzir construções, a fim de tornar a vida de quem habita mais feliz, pensando na flexibilidade e bem-estar do morador. Ela é dirigida atualmente por dois sócios, Otávio Zarvos e
7.3.1. Ficha Técnica Projeto de Arquitetura: Andrade Morettin Associados Paisagismo: André Paoliello Ano: 2015 Quantidade de unidades: 34 unidades + 3 lojas. Endereço: Rua Madalena, 32 – Vila Madalena, São Paulo. Área do terreno: 1.532m² Área construída ao total: 7.682m²
7. Estudo de Casos. | 57
7.3.2. Análise da Implantação Localizado no bairro Vila Madalena, local conhecido pela vida boêmia, congregado de edifícios residenciais, lojas, bares, restaurantes e escritórios, é um dos lugares mais tradicionais de São Paulo. É um local de uso misto e vida urbana agitada, o edifício fica estrategicamente localizado com sua entrada principal para a rua Madalena, rua de grande movimento e agitada, e a fachada posterior, na qual possui uma loja, virada para a rua Simpatia, rua mais tranquila quando comparada a outra. Isso permite aos moradores acesso a vida intensa e metropolitana e uma vista da vida mais calma e residencial. (ANDRADE & MORETTIN, 2019)
Fig. 31 - Implantação do edifício. Adaptação autoral. FONTE: https://www. google.com/maps/place/R.+Madalena,+32+-+Vila+Madalena.
Como podemos identificar o edifício se localiza num entorno de comércios, tendo bem a frente dois restaurantes, algumas lojas ao redor, alguns bares. Em tom de cinza claro, na imagem acima, observamos residências e em laranja claro observamos estabelecimentos comerciais, justificando bem o uso misto do bairro e a agitação metropolitana. (ARCHDAILY, A. , 2019). O projeto atende o desafio de um desnível de 18 metros existente no terreno como podemos ver no corte abaixo, o que permite estrategicamente as duas fachadas em ruas diferentes. (ARCHDAILY, 2019).
7.3.3. Conceito e Forma O conceito do projeto parte da ideia dos autores de transmitir a energia e o espírito descontraído do local, buscando uma linguagem leve e permeável com seu entorno. Assim a volumetria é propositadamente explodida, com vários volumes compondo um conjunto arquitetônico articulado e coerente, integrando-se com a topografia acidentada. Os vazios na fachada proporcionam permeabilidade e visibilidade para a vizinhança. (ARCHDAILY, 2019).
Fig. 33 – Vista lateral, podendo visualizar os cheios e vazios da fachada feito pelos brises. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/867005/edificiopop-madalena-andrade-morettin-arquitetos-associados/58c4b0cae58 eceee16000029-edificio-pop-madalena-andrade-morettin-arquitetosassociados-foto.
Fig. 32 – Corte transversal do edifício. Adaptação autoral. FONTE:
Sob pilotis o edifício consiste em um formado de L no terreno, proporcionando uma vista ampla para a região mais baixa. (ARCHDAILY, 2019).
https://www.archdaily.com.br/br/867005/edificio-pop-madalena-andrademorettin-arquitetos-associados.
7. Estudo de Casos. | 59
encontramos áreas coletivas como lavanderia e sala de ginástica.
Fig. 34 – Planta Térrea do Edifício. Adaptação autoral. FONTE: https://www. archdaily.com.br/br/867005/edificio-pop-madalena-andrade-morettinarquitetos-associados.
7.3.4. Programa, Setorização e Circulação O edifício composto na parte principal por sete pavimentos residenciais, possui ao todo trinta unidades habitacionais, sendo seis delas duplex, com tamanhos que variam de 54m² a 253m², com a intenção de atender diferentes programas de necessidades, tanto para solteiros e casais. Todos providos de infraestrutura em prumadas, permitindo maior flexibilidade interna na definição dos espaços. (ANDRADE & MORETTIN, 2019) Além do térreo composto por uma área comum denominada praça com vista para do mirante do edifício temos abaixo mais dois subsolos, no qual no primeiro subsolo,
Fig. 35 – Planta baixa primeiro subsolo do edifício. FONTE: https://www. archdaily.com.br/br/867005/edificio-pop-madalena-andrade-morettinarquitetos-associados.
Já no segundo subsolo abre para a rua Simpatia uma loja toda envidraçada com pé direito duplo, como podemos ver na planta abaixo. (ARCHDAILY, 2019).
Fig. 36 – Planta baixa do segundo subsolo. Adaptação autoral. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/867005/edificio-pop-madalena-andrademorettin-arquitetos-associados/58c4b19de58eceee1600002b-edificiopop-madalena-andrade-morettin-arquitetos-associados-planta.
Agora quando falamos das unidades habitacionais, temos um pavimento tipo que se repete do primeiro ao quarto pavimento, no qual possui duas tipologias uma menor com apenas uma suíte e uma maior com dois quartos, sendo um suíte. Os acessos a esses pavimentos são feitos por dois elevadores e escadaria, identificados na cor rosa. (ARCHDAILY, 2019)
Fig. 38 e 39 – Planta baixa quinto e sexto pavimento, seis duplex. FONTE: https://www.archdaily.com.br/br/867005/edificio-pop-madalena-andrademorettin-arquitetos-associados/58c4b564e58eceee1600002e-edificiopopin-arquitetos-associados-planta.
E por fim no sétimo pavimento temos mais algumas unidades residenciais com diferentes tamanhos, totalizando 15 tipologias diferentes ao total do edifício. (ARCHDAILY, A. , 2019).
Fig. 37 – Planta baixa tipo do primeiro ao quarto pavimento. Adaptação autoral. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/867005/ edificio-pop-madalena-andrade-morettin-arquitetos-associados/58c 4b231e58ece278c000073-edificio-pop-madalena-andrade-morettinarquitetos-associados-foto.
No quinto e sexto pavimento temos as seis unidades de duplex, com conceito bem aberto de loft. (ARCHDAILY, A. , 2019).
Fig. 40 – Planta baixa sétimo pavimento. FONTE: https://www.archdaily. com.br/br/867005/edificio-pop-madalena-andrade-morettin-arquitetos-as sociados/58c4b57ce58ece278c000074-edificio-pop-madalena-andrademorettin-arquitetos-associados-planta.
7. Estudo de Casos. | 61
Quanto a distribuição interna das unidades habitacionais, em todas as tipologias há a presença da cozinha americana integrada com a sala de tv, em alguns duplex que a metragem é maior é possível notar a possibilidade de uma sala de estar na planta baixa humanizada ilustrando as possibilidades do imóvel. Como há 15 tipologias diferentes, seleciona-se duas, abaixo, uma de um duplex e outra de um apartamento comum, permitindo notar tal semelhança mencionada. (IDEA!ZARVOS, 2019)
Fig. 41 – Planta baixa apartamento duplex de 122m². FONTE: https:// ideazarvos.com.br/pt/empreendimento/pop-madalena/#plants-12.
7.3.5. Análise Construtiva O sistema construtivo principal é o concreto armado, a partir de um sistema convencional de pilares e vigas, permitindo nas bordas um discreto balanço. Esse sistema permite grande flexibilidade na divisão dos ambientes. (ARCHDAILY, A. , 2019) O fechamento da volumetria é composto por materiais industrializados como painéis de telhas metálicas termo acústicas de diversos perfis, caixilhos de vidro e acabamentos e guarda-corpos em alambrados galvanizados. Esse repertório construtivo, aliado a estratégias simples de condicionamento passivo, contribui para o bom desempenho bioclimático do edifício. (ARCHDAILY, A. , 2019)
7.4. Projeto TRIO LINDENBERG – MCAA Arquitetos O projeto Trio Lindenberg, localizado na região central de Piracicaba – SP, é o primeiro edifício mixed-use, que une residência, trabalho e conveniência. (GRUPO LDI, 2019)
essa é a proposta do empreendimento para a cidade publicado na sua própria revista. (GRUPO LDI, 2019) Esse estudo de caso se torna mais interessante por ser um edifício no qual tenho oportunidade de trabalhar, assim convivendo com moradores e trabalhadores do local. Atualmente estágio em um escritório de arquitetura e urbanismo que se instalou em uma das salas comerciais desse empreendimento e estamos executando no momento alguns projetos residenciais no mesmo. 7.4.1. Ficha Técnica Projeto de Arquitetura: MCAA Arquitetos Paisagismo: Neusa Nakata Ano: 2017 Quant. : 130 salas comerciais + 116 apartamentos. End.: Rua Professor Curiacos, 79 – São Dimas, Piracicaba.
Fig. 43 – Perspectiva do edificio, entrada de moradores. FONTE:http://www. grupoldi.com.br/empreendimentos/trio-by-lindenberg.
Área do terreno: 3.000m²
Feito pela construtora Adolpho Lindenberg, há mais de 59 anos no mercado, esse projeto da equipe MCAA Arquitetos é um dos 700 empreendimentos que a Lindenberg possui. Trazendo modernidade e tendência das metrópoles, como São Paulo, do uso do edifício misto que permite mais de duas funções num mesmo local, evitando-se assim o trânsito para chegar ao trabalho, ganhando mais tempo e menos estresse, 7. Estudo de Casos. | 63
7.4.2. Análise da Implantação Implantado na região central, o edifício se localiza próximo ao principal eixo viário de Piracicaba, em um bairro nobre e tradicional. A localização é privilegiada e o edifício ganha bastante destaque no terreno que está implantando bem ao lado do Clube de Campo de Piracicaba, próximo de diversas lojas e serviços, posto de combustível, restaurantes, o shopping center e o Rio Piracicaba.
7.4.3. Conceito e Forma O conceito desse empreendimento é trazer as novas tendências a cidade, como é o uso misto do edifício para diversas funções e serviços no mesmo local da moradia, além disso a inclusão do pay-per-use, serviço de limpeza, personal trainer e lavanderia que o proprietário contrata direto com uma equipe que já atende o condomínio, facilitando ainda mais o dia-a-dia e em breve haverá o serviço de manobristas também, proporcionando mais rapidez e agilidade para os proprietários. A cobertura do edifício traz um espaço de convivência bem estruturado, denominado como sky-club por sua vista panorâmica da cidade, esse espaço pode ser alugado por proprietários ou atender alguns eventos externos. Em relação a forma do edifício não se nota algo inovador, mas sim seguindo os padrões de empreendimentos Lindenberg, com o uso de caixilhos de alumínio avantajados e com isolamento acústico, pois devido a proximidade da avenida o barulho se torna incomodo ao edifício.
Fig. 44 – Mapa de localização. Adaptação autoral. FONTE: Google Maps. Acesso em 20 de maio de 2019.
Observando as imagens anteriores pode-se identificar as semelhanças presentes nos empreendimentos da construtora. O Trio Lindenberg por sua vez possui duas volumetrias diferentes na torre, a mais larga identificada de vermelho é pertinente as salas comerciais e a identificada em amarelo as unidades residenciais do edifício, podendo assim ser diferenciado os espaços de usos na arquitetura da torre. (GRUPO LDI, 2019). Fig. 45 – Empreendimentos da construtora. FONTE: http://www.grupoldi. com.br/empreendimentos/trio-by-lindenberg.
3.4.4. Programa, Setorização e Circulação O programa de necessidades da parte comercial do edifício conta com 130 salas, distribuídas em 10 pavimentos, possuindo 44m², mas dentro dessa metragem há algumas unidades já com a opção da junção totalizando em 88m². (Edifício Pop Madalena / Andrade Morettin Arquitetos Associados, 2019)
Fig. 46 – Fachada da entrada residencial do edifício. Adaptação autoral. FONTE: http://www.grupoldi.com.br/empreendimentos/trio-by-lindenberg. Fig. 47 – Planta tipo office 54m². FONTE: http://www.grupoldi.com.br/ empreendimentos/trio-by-lindenberg.
7. Estudo de Casos. | 65
Cada pavimento contém dois banheiros para uso coletivo,
A entrada destinada ao residencial do edifício tem o acesso
acesso por três elevadores e escadas de emergência. Na fachada contém espaço para 5 lojas com entrada individual para a Rua Professor Curiacos, como pode-se ver na imagem a seguir, ao lado da entrada de pedestres para o office. Neste hall de entrada encontra-se a portaria para cadastro de acesso ao edifício e esse acesso fica restrito por meio de cancelas que desbloqueiam com o uso do cartão de cadastro, tanto funcionários como clientes das salas comerciais devem possuir este. (GRUPO LDI, 2019).
de pedestres e veículos por meio de outra portaria que fica localizada na rua Samuel Neves, o subsolo -1 e o subsolo -2, é destinado exclusivamente as vagas dos moradores, porém estes não tem nenhum acesso que dê a parte comercial deste edíficio. (GRUPO LDI, 2019).
Fig. 46 – Implantação do Office. Adaptação autoral. FONTE:http://www. grupoldi.com.br/empreendimentos/trio-by-lindenberg.
Fig. 48 – Implantação do Office. Adaptação autoral. FONTE:http://www. grupoldi.com.br/empreendimentos/trio-by-lindenberg.
As unidades habitacionais possuem três tipologias diferentes, 54m², 62m² ou 100m², cada uma delas possuem uma ou duas vagas de estacionamento e todas com vista panorâmica para a cidade. A cobertura por fim é destinada ao uso coletivo e pode ser alugada por meios externos também para eventos, ela possui espaço de festas e cozinha para atender buffet, piscina descoberta, gourmet lounge, gourmet
com churrasqueira, sauna, sala de massagem e spa. (GRUPO LDI, 2019).
Fig. 49 – Planta da Cobertura. FONTE: http://www.grupoldi.com.br/ empreendimentos/trio-by-lindenberg.
As unidades residenciais predominantes possuem entre 54m² e 62m², possuindo poucas unidades com a metragem estendida para 100m². Em todas as unidades encontramos o mesmo conceito de planta livre, limitando apenas as áreas molhadas, banheiro, cozinha e lavanderia, exceto nos apartamentos de 100m² no qual por ter mais de uma suíte a divisão dos quartos são feitas delimitando os espaços. (GRUPO LDI, 2019).
Fig. 50 – Planta tipo residencial 54m². FONTE: http://www.grupoldi.com.br/ empreendimentos/trio-by-lindenberg.
A tipologia de 100m² por sua vez possui duas suítes e a inclusão de dois terraços descobertos, além do lavabo. Foi permitido pela assembleia dos moradores o fechamento desses terraços descobertos permitindo ao proprietário maior aproveitamento desses espaços e possibilidade de ampliação desses ambientes. (GRUPO LDI, 2019)
Fig. 51 – Planta baixa apartamento de 100m². FONTE:: Manual do proprietário do Trio.
7. Estudo de Casos. | 67
7.4.5. Análise Construtiva A construção desse edifício foi feita com fundações em concreto armado e os fechamentos de alvenaria, porém não foram encontradas muitas informações sobre os materiais empregados, mas pela analise das plantas baixas estruturais, foi identificado também o uso de paredes de dry-wall para alguns fechamentos. (GRUPO LDI, 2019) Esteticamente, como já mencionado o edifício não traz uma forma inovadora, mas se destaca na cidade pela sua altura, sendo um dos mais altos, e uso das grandes esquadrias e guarda-corpos de vidro, além de sua parede verde na fachada lateral oeste do edifício.
Fig. 52 – Lateral Oeste, parede verde. Fonte: Acervo pessoal.
Porém ao ter contato com alguns moradores eles apontaram dois pontos críticos do edifício, o acesso dificultado dos moradores as salas comerciais, onde é necessário sair do edifício para conseguir acessar as salas, não possuindo nenhuma ligação direta e segura para os moradores e as esquadrias menores das residencias, que seriam supostamente dos dormitórios não possuírem nenhum tipo de veneziana para inibir a entrada direta do sol. Já a parte comercial os pontos negativos no meu ponto de vista e de alguns colegas da parte comercial do edifício é a falta de banheiro e bebedouro no hall de entrada e espera, falta de uma copa coletiva ou espaço que se possa ficar durante o horário de almoço quando os funcionários permanecem no edifício, pois um edifício com essa quantidade de salas não possui nenhuma área de estar em comum para os proprietários e funcionários da ala comercial.
7. Estudo de Casos. | 69
PROPOSTA PROJETUAL
8. PROPOSTA PROJETUAL A cidade alvo para a proposta projetual escolhida foi a cidade de Piracicaba, localizada no interior do estado de São Paulo e a aproximadamente 157km de distância da metrópole paulista. A intenção de realizar tal projeto parte da observação de novas propostas de empreendimentos que visam atender o estilo de vida contemporâneo e esses edifícios estarem aparecendo na cidade de Piracicaba, mesmo que ainda de forma mais intima quando se comparado as grandes metrópoles brasileiras. A cidade é um polo econômico muito importante para região, atraindo cada vez mais pessoas, o que a caracteriza como uma cidade em constante crescimento. Com a oportunidade de estar trabalhando no primeiro edifício que traz o uso misto de salas comerciais, residências e espaços de conveniências, como foi mencionado e analisado como um dos estudos de caso dessa pesquisa, o entusiasmo pelo tema só cresceu, observando na convivência com os proprietários e moradores o sucesso do empreendimento na cidade. A proposta projetual visa trazer um espaço que atenda de forma flexível os grupos familiares que temos nos dias atuais, possibilitando um espaço que se adeque a diversos estilos de
vida. Além disso, como programa fundamental o uso misto deste mesmo edifício. 8.1. O terreno e suas características Para escolher o melhor local para a implantação desse projeto foi necessário a análise dos locais onde foram empregados os estudos de caso e alguns outros empreendimentos que fizeram parte deste momento de estudo. Como resultado, notamos a predominância destes edifícios em regiões centrais, uma vez que na maioria dos estudos obtinham algum tipo de uso misto no edifício, essa região da cidade proporciona maior número de usuários para os usos mistos e facilidade na locomoção dos moradores ao trabalho e as suas necessidades, por ser a região com maior número de equipamentos urbanos. Na cidade de Piracicaba essas características não são diferentes, por tal motivo, foi escolhido um terreno no principal eixo viário da cidade, na Avenida Armando Salles, no qual antes da demolição possuía uma construção antiga que já foi sede de alguns partidos políticos. Tal terreno, localizado a duas quadras do Terminal Central de Integração (TCI) da cidade e do Terminal Rodoviário Municipal, com aproximadamente 2.548m², localizasse entre a Rua São José e a Rua Moraes Barros, como podemos ver na figura 53. 8. Proposta Projetual. | 73
R. Benjamin Constant
R. São José
R. Moraes Barros
Av. Armando Salles
16.62
70.70
12.40
R. José Pinto de Almeirda
28.88
45.36
44.76
Fig. 53 - Mapa de Localização. Fonte: Desenvolvido pela autora.
Possuindo uma forma um pouco irregular, por antigamente ser um espaço dividido em vários terrenos menores, de acordo com a planta da quadra encontrada no site do Geoprocessamento Corporativo de Piracicaba. O mapa da quadra da Prefeitura de Piracicaba datado no ano de 1997, mostra a divisão dessa área em seis terrenos, compondo o espaço que temos atualmente. A topografia do local é bem plana, possuindo pouco desnível na área total.
5.00
10.88
31.90
Fig. 54 - Terreno com medidas. ESC 1:100. FONTE: Desenvolvido pela autora.
Está inserido na zona ZAP ou Zona de Adensamento Prioritário, é identificado na Lei Complementar nº186 do Plano Diretor de 2006 como “(...) zona mais consolidada da cidade, que não apresenta fragilidade ambiental e possui as melhores condições de infraestrutura (água e esgoto), acesso a transporte, educação, lazer e cultura”, ou seja, região que promove o adensamento e qualidade aos cidadãos.
Fig. 55 - Foto tirada da Rua São José. FONTE: Acervo Pessoal.
Outro fator importante para a escolha do terreno foi a partir da observação pessoal e das conversas com moradores da cidade, o fato do centro estar degradado e como um dos objetivos da proposta projetual é trazer a requalificação do centro por meio desse tipo de empreendimento, atraindo novos moradores e trabalhadores ao local. Com relação aos parâmetros urbanísticos que devem ser respeitados na realização do trabalho, são estes detalhados na tabela criada a seguir.
Fig. 56 - Foto tirada da Rua Moraes Barros. FONTE: Acervo Pessoal.
8. Proposta Projetual. | 75
Já em relação aos recuos a zona exige um recuo frontal de 4 metros para edifícios até dois pavimentos ou nove metros de altura, podendo dispensar os recuos laterais e de fundo. E quando superior a dois pavimentos ou nove metros de altura, é necessário o mesmo recuo frontal e três metros de recuos laterais e de fundo.
PARÂMETRO
VALOR
CAB (Coeficiente de Aproveitamento Básico)
4
CAM (Coeficiente de Aproveitamento Máximo)
5
TO (Taxa de Ocupação para uso Residencial)
70%
TO (Taxa de Ocupação para uso não Residencial)
80%
TP (Taxa de Permeabilidade)
10%
8.2. Estudo do entorno Para entender melhor os potenciais da área e as características da região do terreno escolhido foi necessário o levantamento do uso do solo da região, estudo das vias que passam no seu entorno e uma breve analise sobre o gabarito das construções já existente do entorno. Aponta-se com o levantamento do uso do solo uma região de predominância de usos comerciais e mistos, no recorte realizado, essa tendência já era esperada por se tratar da região central da cidade.
COMERCIAL RESIDENCIAL SERVIÇO MISTO INSTITUCIONAL DESOCUPADO VAZIO ÁREA VERDE ÁREA DE INTERVENÇÃO
Fig. 57 - Mapa Estudo do Entorno do Terreno. ESC 1:2500. FONTE: Desenvoldido pela autora.
8. Proposta Projetual. | 77
Além disso com o levantamento do gabarito desse mesmo recorte é resultante que há a presença de alguns edifícios com mais de 5 pavimentos no entorno, apesar de a predominância das construções serem de até 4 pavimentos
de altura. Fig. 58 - Mapa de Gabarito do Entorno do Terreno. ESC 1:2500. FONTE: Desenvoldido pela autora.
1 - 4 PAVIMENTOS 5 OU MAIS PAVIMENTOS VAZIO OU DESOCUPADOS ÁREA DE INTERVENÇÃO
Já com o estudo de vias foi comprovado a importância da via arterial da cidade, na qual as vias coletoras ao redor desembocam o tráfego, este sendo o principal eixo viário da
cidade permite fácil acesso ao local e excelente atendimento do transporte público. Fig. 59 - Mapa de Estudo de Vias do Entorno do Terreno. ESC 1:2500. FONTE: Desenvoldido pela autora.
VIA ARTERIAL VIA COLETORA VIA LOCAL ÁREA DE INTERVENÇÃO
8. Proposta Projetual. | 79
8.3. Estudo Bioclimático
8.4. Programa de Necessidades e Diretrizes Projetuais
Foi realizado o estudo bioclimático e a orientação dos ventos para seguir como parâmetros para a implantação do edifício a ser projetado, para obter bons resultados no conforto térmico do projeto. OESTE Sol da Tarde Av. Armando Salles
NORTE Maior incidência Solar
O foco principal do projeto é trazer para o centro da cidade, requalificando-o, um edifício moderno com o conceito de flexibilidade arquitetônica abrangendo diversos formatos familiares e rotinas de uso da residência, mas sem esquecer que o terreno escolhido fica numa das melhores regiões centrais quando se tratando de fluxo de pessoas e automóveis, pensando nisso é primordial que o edifício tenha uso misto, valorizando o espaço e a principal região atividade da região.
SENTIDO DOS VENTOS
SUL Menor incidência Solar
Diante de todo o levantamento bibliográfico realizado e da observação pessoal e de proprietários sobre a proposta já existente para a cidade de Piracicaba, que parte a ideia da implantação do edifício contemporâneo para a cidade, uma vez que como já mencionado, o potencial de crescimento da cidade é forte e como as cidades maiores o estilo de vida se alterou com o tempo, é necessário atender também a esses novos formatos de habitar.
LESTE Sol da Manhã
Fig. 60- Estudo da Ensolação do Terreno. FONTE: Acervo Pessoal.
Para desenvolver o programa de necessidades primeiro fiz o levantamento com alguns moradores e alguns proprietários do Trio Linderberg sobre os pontos positivos do empreendimento e os pontos negativos, que podem repensados e ficar atenta a essas coisas, como forma de entender um pouco mais sobre as necessidades dos moradores e trabalhadores.
A princípio então a proposta projetual parte de um edifício
estacionamento do edifício ficará destinado aos moradores e
com o espaço térreo mais acessível a todos, com a fachada ativa composta por espaços destinados a comércio e dois halls de acesso aos pavimentos superiores com amplo espaço de estar e cafeteria, para tornar mais confortável o momento de espera para o cadastro do edifício ou mesmo uma espera.
proprietários das salas comerciais, ficando localizado em dois subsolos do edifício.
Com 19 pavimentos, o edifício contará com três pavimentos de salas comerciais, distribuídas 5 tamanhos diferentes, permitindo diferentes usos, como escritórios, consultórios, agências, estúdios, etc. Espaço de uso coletivo dos funcionários possuindo uma copa e uma sala de estar com amplo espaço livre, para que se possa fazer suas refeições e relaxar durante o horário de almoço, evitando assim o transtorno do trânsito nos horários de pico do almoço. A parte residencial será composta por treze pavimentos e um total de 77 unidades e 7 tipologias diferentes de apartamentos, dentro deles duas modalidades de lofts. A ideia é que haja tamanhos diferentes para se adequar a famílias diferentes que possam viver num mesmo local, variando assim também o valor do imóvel e podendo atender mais pessoas. Como a ideia é o conceito de arquitetura flexível, a planta das residências será realizada de forma mais livre e flexível possível, as possibilidades internas dos apartamentos se tornam inúmeras para se adequar a cada estilo de vida pessoal. O
Com tudo, foi tabelado o pré-dimensionamento desses espaços para atender as atividades que acontecem em cada um, como segue abaixo. AMBIENTE HALL DE ACESSO 01 LOJAS HALL DE ACESSO 01 SANITÁRIO 01 ADMINISTRAÇÃO GUARITA SALA TIPO 01 SANITÁRIO 02 SALA TIPO 02 SALA TIPO 03 COPA/SALA DE ESTAR SANITÁRIO 03 SALA DE DEPÓSITO SALA TIPO 04 SALA TIPO 05 SANITÁRIOS LOFT 01 AP. TIPO 01 AP. TIPO 02 AP. TIPO 03 AP. TIPO 04 AP. TIPO 05 LOFT 02
UNIDADES 01 08 01 01 01 01 08 01 19 02 01 01 01 01 02 01 02 10 05 11 27 12 10
PÚBLICO
MEDIDAS 219M² 57M² 379,70M² 41,50M² 78,70M² 16M² 60M² 52,7M² 44M² 80M² 69M² 48M² 13M² 80M² 65M² 47M² 130M² 60M² 87M² 130M² 65M² 100M² 103M²
TOTAL 219M² 456M² 379,70M² 41,50M² 78,70M² 16M² 480M² 52,7M² 836M² 160M² 69M² 48M² 13M² 80M² 110M² 47M² 260M² 600M² 435M² 1.430M² 1.755M² 1.200M² 1.030M²
USO
PRIVADO
Tabela 01 - Pré-Dimensionamento. FONTE: Desenvolvido pela autora.
8. Proposta Projetual. | 81
O pré-dimensionamento foi aplicado ao estudo da implantação do projeto do pavimento térreo, de forma a facilitar o entendimento dos locais de acesso ao edifício e as lojas. HALL
Av. Armando Salles
LOJA
Acesso Hall
ADMINISTRAÇÃO SANITÁRIOS GUARITA Entrada de Veículos Estacionamento Subsolo
ACESSO ELEVADORES E ESCADAS
R. São José
R. Moraes Barros
Acesso Hall
Fig. 61 - Estudo da Implantação. FONTE: Acervo Pessoal.
O estudo preliminar da volumetria parte da inspiração do conceito de módulos do Le Corbusier, também utilizados pelo Bjarke Ingels, então inicialmente foi feito estudos manuais com peças LEGO, que foram simbolizando os módulos na formação do projeto, como registrado. Fig. 62 a 66 - Estudo Voluemtrico de LEGOS desenvolvidos pela autora. FONTE: Acervo Pessoal.
A volumetria preliminar segue a sinueta existente do terreno, como forma de melhor aproveitamento do espaço. Com os módulos foi possível criar uma forma composta por cheios e vazios, criando uma volumetria irregular em quase todos os pavimentos, havendo apenas repetição de dois pavimentos tipos. A ideia é que esse conceito de edifício e usos possa ser replicado em outros terrenos, mas como cada terreno é único e possui suas particularidades, cada edifício também será autêntico. A abaixo o estudo da volumetria em 3D facilita o entendimento da locação dos usos. RESIDENCIAL COMERCIAL COMERCIAL
Fig. 67 - Estudo Voluemtrico em 3D desenvolvidos pela autora. FONTE: Acervo Pessoal.
8. Proposta Projetual. | 83
CONSIDERAÇÕES FINAIS
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As pesquisas realizadas durante essa primeira etapa do Trabalho Final de Graduação, bem como a visita ao terreno e o levantamento pessoal de informações com proprietários do primeiro empreendimento que traz o conceito contemporâneo ao projeto na cidade de Piracicaba foi necessário e importe para detectar as necessidades a serem supridas no projeto proposto. Com esse levantamento foi possível desenvolver um plano de necessidades bem completo e funcional para todos os usuários do edifício. Foram realizados alguns estudos volumétricos a fim de definir melhor os espaços ocupados por cada atividade. Os estudos de caso, foi muito importante para tomar como partido os programas de necessidades que eles atendem e a região que são implantados esses tipos de empreendimentos. Foi escolhido então edifícios nacionais e internacionais a fim de entender essas características. Já durante a realização do trabalho, surgiu uma proposta de estágio em um dos escritórios que se localizam no edifício com esse conceito existente na cidade de Piracicaba, o que tornou a pesquisa ainda mais interessante e possibilitou o contato direto com alguns dos proprietários. Nessa etapa então foi desenvolvido o programa de necessidades para o projeto e o estudo preliminar da implanta-
ção e sua volumetria, mas que serão retomados na segunda etapa do trabalho. Apenas do conceito adotado ser o de planta livre, ainda não foi determinado os pontos estruturais e hidráulicos do projeto, o que pode alterar um pouco sua volumetria na próxima etapa. Os matérias e métodos construtivos também serão detalhados na etapa a seguir, buscando as melhores soluções para atender ao conceito de planta livre. Na próxima etapa também, prevê-se o estudo de interiores das possibilidade de algumas das tipologias habitacionais a fim de exemplificar o conceito do habitar contemporâneo, que se adequa a diferentes famílias e usos.
9. Considerações Finais. | 87
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