TCC arqurbuvv Ausência de lugar no Centro histórico de Vitória- Reabilitação do Mercado da Capixaba

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UNIVERSIDADE VILA VELHA – UVV CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

STHÉPHI LUBKI WAGMACKER

AUSÊNCIA DE LUGAR NA PRESERVAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE VITÓRIA – ES: O CASO DA REABILITAÇÃO DO ANTIGO MERCADO DA CAPIXABA EM VITÓRIA – ES.

Vila Velha 2016


STHÉPHI LUBKI WAGMACKER

AUSÊNCIA DE LUGAR NA PRESERVAÇÃO DO CENTRO HISTÓRICO DE VITÓRIA – ES: O CASO DA REABILITAÇÃO DO ANTIGO MERCADO DA CAPIXABA EM VITÓRIA – ES.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo como requisito para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. Orientador: Prof. Me. Luiz Marcello Gomes Ribeiro

Vila Velha 2016



AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me permitido alcançar este objetivo, além da força e sabedoria que me concedeu ao longo da jornada em busca desta conquista. Serei eternamente grata aos meus pais que sempre me apoiaram com muito amor e carinho me ensinando valores que terei o prazer de carregar e repassar. A eles eu dedico este título pois acima de qualquer coisa permaneceram ao meu lado me orientando, enfrentando comigo todas as minhas lutas diárias, não medindo esforços para me auxiliar na concretização deste sonho. A todo o corpo docente do curso de Arquitetura e Urbanismo e em especial ao Me.

Luiz Marcello

Ribeiro

que

contribui

significativamente

com

seu

conhecimento, sempre prestativo, paciente, exercendo sua profissão com excelência e dedicação. Agradeço carinhosamente a todos os meus amigos que estiveram do meu lado diante todas as dificuldades me auxiliando e me incentivando a persistir. A todos os meus sinceros agradecimentos!


RESUMO

O mercado público é um local que se mantem desde os primórdios das cidades, proporcionando não só a comercialização de mercadoria, mas também a troca social, o diálogo, o encontro, além de se conservar como um espaço de exposição dos produtos da região. Assim, atento a este princípio, esta pesquisa visa levantar questionamentos e reflexões objetivando a reabilitação do Mercado da Capixaba e, consequentemente requalificar seu entorno, o Centro do município de Vitória. Esta edificação representa um marco na história do desenvolvimento da capital, pois era responsável por manter o abastecimento da cidade no passado. O seu estilo eclético foi marco de uma época em que a cidade passou por uma série de transformação na busca pelo desenvolvimento e modernização. Estudos com base nos principais teóricos do restauro, patrimônio cultural, memória, identidade, permearam o entendimento sobre as propostas a serem feitas para a valorização e reconhecimento deste patrimônio visando uma integração deste com os demais presentes no entorno; e sua restauração de forma crítica, que não venha comprometer sua espacialidade e conjunto, tampouco forjar falsos históricos. Devido à falta de locais no Centro dedicados aos aspectos culturais, sociais, lazer e entretenimento; a principal intenção para o mercado consiste em torná-lo um lugar onde todos os aspectos citados anteriormente se encontrem de forma integrada, dispostas numa área de comércio alimentício dinamizando as atividades e atraindo pessoas no período diurno e noturno, trazendo assim mais vitalidade, valorização e reconhecimento do patrimônio cultural local. Em resumo, torná-lo mais uma referência positiva para a região.

Palavras chave: Vitória. Centro. Mercado da Capixaba. Reabilitação. Patrimônio Cultural.


ABSTRACT

The public market, is a social human construct. It is present from the very early stages of humanity, as it encompasses not only commercial goods, but also social elements. Public markets allow for exchanges of dialogue, ideas, and values, as well as acting as an entity to showcase local resources sourced from within the community. Therefore this work is aimed at revitalising the Mercado da Capixaba [Capixaba’s Market], consequently affecting its position in central Vitória. This monument, celebrates the modernisation, urbanisation, and the historical importance of this capital city as a hub for the state as a whole. The city's eclectic style, is evidence of its transformation through the decades. Using simple restoration techniques some of the heritage is made anew. Important elements that shape this evolving city, are grounded in its culture and history, both steeped with the flavours and memories of those who inhabit it. This ensures the city has its own identity, and life force, essential and integral to those in it. This research aims to address the needs of the inhabitants in having a place, sensitive to current market needs and responsive to the needs of the locals, providing an area accessible all around the clock, ensuring its vitality. The ultimate aim is therefore to turn the attitudes to this area, into a more positive, and consequently more profitable, one. Keywords: Vitória. Central. Capixaba’s Market. Renovation. Heritage.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

COMDEVIT

Conselho Metropolitano de Desenvolvimento da Grande Vitória

ES

Espírito Santo

IBGE

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

ICOMOS

Conselho Internacional de Monumentos e Sítios

IJSN

Instituto Jones dos Santos Neves

IPHAN

Instituto Brasileiro Histórico Artístico Nacional

PDM

Plano Diretor Municipal

RMGV

Região Metropolitana da Grande Vitória

SECULT

Secretaria de Estado da Cultura

SEMC

Secretaria Municipal de Cultura

UVV

Universidade Vila Velha


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa de localização da região Sudeste no Brasil, com destaque no ES. ......................................................................................................................... 18 Figura 2: Mapa do estado do Espírito Santo com destaque na RMGV. ........... 19 Figura 3: Mapa da RMGV com destaque na capital Vitória. ............................. 19 Figura 4: Delimitação do bairro Centro e localização da área de estudo. ........ 20 Figura 5: Abertura da Avenida Capixaba (atual Jerônimo Monteiro - 1912). .... 21 Figura 6: Fachada do Mercado voltada para a Avenida Capixaba (apx. Década de 1940). .......................................................................................................... 23 Figura 7: Área interna do Mercado de Artesanato Capixaba. .......................... 25 Figura 8: Entrada de vendas de artesanatos, separada do estacionamento por um gradil........................................................................................................... 25 Figura 9: Fachada do Mercado voltada para a Av. Jerônimo Monteiro. ........... 26 Figura 10: Acesso ao Mercado pela fachada voltada para a Av. Jerônimo Monteiro. .......................................................................................................... 26 Figura 11: Saguões de aeroportos são os típicos casos de ''não-lugar'' abordados por Augé. .......................................................................................................... 28 Disponível

em:

<http://veja.abril.com.br/noticia/economia/governo-podera-

ceder-mais-em-leilao-de-aeroportos-diz-casa-civil>. Acessado em 22 de abril de 2016. Figura 12 – Seoul, Singapura e São Paulo – “Cidades Genericas”.................. 29 Figura 13: O “Velho” Bazaar de Skopje, Macedônia. Herança da antiguidade. Autor: Dina Maria. 2014 ................................................................................... 40 Figura 14: A ágora romana de Atenas. Herança da antiguidade. Autor: Luiz M G Ribeiro. 2016 .................................................................................................... 41 Figura 15: Planta do térreo do Mercado de Campo de Ourique do ano de 1990. ......................................................................................................................... 55 Figura 16: Interior do Mercado de Campo de Ourique, 2004. .......................... 55


Figura 17: Planta do Mercado de Campo de Ourique, 2014. ........................... 56 Figura 18: Distribuição interna da área central do Mercado remodelada pela intervenção, 2014. ............................................................................................ 57 Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1696583>. Acessado em 05 de maio de 2016. Figura 19: Novos usos implantados na área central do Mercado de Campo de Ourique, 2014................................................................................................... 58 Figura 20: Área internamente movimentada e atrações musicais sendo oferecidas ao público. ...................................................................................... 58 Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1696583>. Acessado em 05 de maio de 2016. Figura 21: Área do comércio tradicional nas extremidades do Mercado, 2014. 59 Figura 22: Diversificação do comércio no interior do Mercado. ........................ 60 Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1696583>. Acessado em 05 de maio de 2016. Figura 23: Espaço interno de comercialização de produtos do Mercado, 2014. ......................................................................................................................... 60 Disponível em: <http://mercadosanmiguel.es>. Acessado em 07 de maio de 2016. Figura 24: Indicação das áreas de culinária distintas, 2016. ............................ 62 Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1696583>. Acessado em 07 de maio de 2016. Figura 25: Espaço interno do Mercado, 2016................................................... 62 Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1696583>. Acessado em 07 de maio de 2016. Figura 26: Restaurante renomado em SP atualmente presente no Mercado de Pinheiros, 2016. ............................................................................................... 63 Disponível em: <http://juliahortifrutas.com.br/>. Acessado em 07 de maio de 2016. Figura 27: Espaço de venda de produtos típicos no Mercado de Pinheiros, 2016. ......................................................................................................................... 63


Disponível

em:

<http://vilamundo.org.br/2011/08/mercado-municipal-de-

pinheiros-recebe-mais-consumidores-apos-reforma>. Acessado em 07 de maio de 2016. Figura 28: Mercado da Capixaba ocupado por empresas privadas na década de 1980. ................................................................................................................ 71 Figura 29: Recorte do mapa do Zoneamento Urbano, com destaque no objeto deste trabalho................................................................................................... 72 Figura 30: Estacionamento rotativo localizado na Rua Josué Prado. .............. 78 Figura 31: Estacionamento Rotativo localizado na Rua Alda Maria Lyra Vicentini. ......................................................................................................................... 78 Figura 32: Ponto Nodal existente na Av. Jeronimo Monteiro, em frente ao Sesc Glória. ............................................................................................................... 80 Figura 33: Morro do Penedo, possível de ser visto apenas pela Av. Mal. Mascarenhas de Moraes. ................................................................................. 87 Figura 34: Visual para o Porto de Vila Velha. ................................................... 87 Figura 35: Vista para a Baía de Vitória e para Vila Velha, obtida através da Av. Princesa Isabel. ................................................................................................ 87 Figura 36: Praça Costa Pereira com o Teatro Carlos Gomes ao fundo. .......... 88 Figura 37: Entorno da Praça Costa Pereira e os remanescentes históricos ainda presentes.......................................................................................................... 88 Figura 38: Área frontal do Mercado da Capixaba com vista para a Baía de Vitória. ......................................................................................................................... 89 Figura 39: Área frontal do Mercado da Capixaba. Avenida Princesa Isabel. ... 89 Figura 40: Edificações ecléticas no entorno da Praça Costa Pereira. .............. 92 Figura 41: Teatro Carlos Gomes e Sesc Glória, localizados no entorno da Praça Costa Pereira. .................................................................................................. 93 Figura 42: Escadaria São Diogo: monumento eclético localizado no entorno da Praça Costa Pereira. ........................................................................................ 93


Figura 43: Edificação eclética de uso misto, localizado no entorno da Praça Costa Pereira. ............................................................................................................. 93 Figura 44: Igreja do Rosário, localizada no Centro. ......................................... 94 Figura 45: Edificações históricas e de uso misto localizadas no entorno da Praça Costa Pereira. .................................................................................................. 94 Figura 46: Edificação eclética localizada na Rua do Rosário. .......................... 95 Figura 47: FaFi e MAES: edifícios ecléticos localizados na Av. Jerônimo Monteiro. .......................................................................................................... 96 Figura 48: Edificações ecléticas localizadas na Av. Jerônimo Monteiro. .......... 96 Figura 49: Edifício histórico, descaracterizado localizado na Av. Jerônimo Monteiro. .......................................................................................................... 97 Figura 50: Escadaria Djanira Lemos, responsável pela conexão entre a Avenida Jerônimo Monteiro e a rua Wilson Freitas. ....................................................... 97 Figura 51: Edificação com estilo protomoderno, localizado na Av. Jerônimo Monteiro. .......................................................................................................... 98 Figura 52: Edificação contemporânea localizada na Av. Jerônimo Monteiro. Antiga Sede da Empresa Arens & Langen (Companhia Marítima e Aviação). . 98 Figura 53: Edifício protomoderno localizado na Av. Jeronimo Monteiro. Sede dos Correios. ........................................................................................................... 99 Figura 54: Edificação Modernista, Receita Federal, localizada na Av. Mal. Mascarenhas de Moraes. ............................................................................... 100 Figura 55: Edificações com gabarito elevado e arquitetura contemporânea. . 100 Figura 56: Fachada do Mercado voltado para a esquina da Rua Araribóia com a Princesa Isabel. .............................................................................................. 105 Figura 57: Detalhe do teto do vão de acesso, voltado para a Av. Jerônimo Monteiro. ........................................................................................................ 105 Figura 58: Paredes do pátio central, onde ocorreu o bloqueio das aberturas com alvenaria. ........................................................................................................ 105


Figura 59: Paredes com fissuras, manchas e umidade voltadas para a área central. ........................................................................................................... 105 Figura 60: Paredes com patologias e janelas com ausência de vidros. ......... 106 Figura 61: Ausência de telhado no andar superior. ........................................ 106 Figura 62: Fachada voltada para a rua Des. O. Reile. ................................... 106 Figura 63: Vão de acesso ao pavimento superior. ......................................... 107 Figura 64: Estacionamento na área interna do Mercado com restos de materiais presentes........................................................................................................ 107 Figura 65: Piso de concreto intertravado de formato hexagonal e o eixo central marcado pela pedra portuguesa..................................................................... 107 Figura 66: Contrapiso de concreto na área de vendas de artesanato e o eixo central revestido pela pedra portuguesa. ....................................................... 107 Figura 67: Parede com pintura suja e descascada, causado pela umidade e falta de manutenção............................................................................................... 108 Figura 68: Parede com fissuras, pintura suja e descascada, causado pela umidade e falta de manutenção. .................................................................... 108 Figura 69: Parede com crostas negras, pintura suja e descascada, causado pela umidade, infiltração e falta de manutenção. ................................................... 109 Figura 70: Parede com pintura suja, descascada e com crostas negras, causado por infiltrações, umidade e falta de manutenção. ........................................... 109 Figura 71: Paredes com fissuras, crostas negras, descascada e com perda de substrato nos adornos. Estes foram causados pela umidade, infiltração, falta de manutenção e o incêndio do ano de 2002. .................................................... 109 Figura 72: Parede com pichação, pintura suja e descascada causados por infiltrações, presença de umidade, falta de manutenção e vandalismo. ........ 110 Figura 73: Parede com pintura suja e descascada causadas por infiltrações, presença de umidade e falta de manutenção................................................. 110 Figura 74: Quadro Conceito [Mood Board] proposto para a Requalificação do Mercado. ........................................................................................................ 113


Figura 75: Acessos internos e externos do térreo do Mercado. ..................... 115 Figura 76: Setorização geral do térreo. .......................................................... 116 Figura 77: Setorização geral do segundo pavimento do Mercado. ................ 117 Figura 78: Fachadas voltadas para a Av. Princesa Isabel e para a rua Des. O’ Reile, do ponto de vista do observador. ......................................................... 119 Figura 79: Fachada voltada para a rua Des. O. Reile. ................................... 119 Figura 80: Fachada voltada para a rua Des. O. Reile vista de um ângulo mais distante. .......................................................................................................... 120 Figura 81: Vista geral do projeto para o do Mercado. .................................... 120 Figura 82: Fechamento de vidro feito na fachada voltada para a Av. Princesa Isabel, para privacidade e funcionalidade do espaço de utilização restrita dos funcionários. ................................................................................................... 122 Figura 83: Proposta cromática utilizada no projeto do Mercado..................... 123 Figura 84: Vista total da fachada. ................................................................... 123 Figura 85: Fachada voltada para a Av. Princesa Isabel. ................................ 124 Figura 86: Vista noturna da fachada voltada para a Av. Princesa Isabel. ...... 124 Figura 87: Vista noturna da proposta cromática para a fachada lateral. ........ 125 Figura 88: Vista noturna da fachada voltada para a rua Des. O. Reile. ......... 125 Figura 89: Acesso do Mercado, voltado para a Av. Jerônimo Monteiro. ........ 126 Figura 90: Acesso voltado para a Av. Jerônimo Monteiro a direita e parte do interior do Mercado. ....................................................................................... 126 Figura 91: Área do Pátio interno do Mercado. ................................................ 127 Figura 92: Acesso Principal a direita e acesso lateral, voltado para a rua Araribóia. ........................................................................................................ 127 Figura 93: Acesso voltado para a Rua Araribóia com o funcionamento de comércio alimentício. ...................................................................................... 128 Figura 94: Acesso lateral a direita e trecho do interior do Mercado. .............. 128 Figura 95: Espaço de exposições e acesso vertical para o nível do pátio. .... 129


Figura 96: Recepção da Escola de Culinária, ambiente de espera e a intervenção feita nas aberturas para criar portas. .............................................................. 130 Figura 97: Esquadrias restauradas e contraste entre cobertura e a fachada voltada para o pátio interno do Mercado. ....................................................... 130 Figura 98: Quiosque de uso alimentício no segundo pavimento e elevador ao fundo. ............................................................................................................. 131


SUMÁRIO

Sumário 1. APRESENTAÇÃO ..................................................................................... 14 2. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 18 3. CAPÍTULO I: A AUSÊNCIA DE LUGAR NA PRESERVAÇÃO DE ÁREAS DE INTERESSE DE PRESERVAÇÃO E PATRIMÔNIOS HISTÓRICOS. ....... 27 3.1.

LUGAR X NÃO-LUGAR .................................................................... 27

3.2.

PATRIMONIALIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO ....................................... 32

3.2.1. 3.3.

Vitória e sua noção de patrimonialização ................................ 36

MERCADOS E O ESPAÇO URBANO ................................................ 39

4. CAPÍTULO II: REFERÊNCIAIS TEÓRICOS E CONDICIONANTES NO PROCESSO DE RESTAURO E INTERVENÇÃO CONSERVATIVA. ............. 44 4.1.

CONCEITO DE RESTAURAÇÃO E TEORIAS DO RESTAURO ........ 44

4.1.3. Princípios essenciais para o desenvolvimento de um projeto de intervenção e restauro. ...................................................................... 53 5. CAPÍTULO III: A REQUALIFICAÇÃO DOS MERCADOS NA ATUALIDADE – ESTUDOS DE CASO. .......................................................... 54 5.1.

MERCADO CAMPO DE OURIQUE – LISBOA – PORTUGAL. ....... 54

5.2.

MERCADO DE SÃO MIGUEL – MADRID – ESPANHA. ................. 59

5.3.

MERCADO DE PINHEIROS – SÃO PAULO – BRASIL ................... 61

5.4.

CONCLUSÃO DOS ESTUDOS DE CASOS .................................... 63

6. CAPÍTULO IV: DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL DO ENTORNO IMEDIATO DO MERCADO DA CAPIXABA-ES. ............................................. 69 6.1.

ANTECEDENTES HISTÓRICOS ........................................................ 69

6.2.

LEGISLAÇÃO URBANA...................................................................... 72

6.3.

MORFOLOGIA URBANA .................................................................... 73

6.4.

USO DO SOLO ................................................................................... 75

6.5.

POTENCIALIDADES DE USOS E FUNÇÕES .................................... 77

6.6.

VIAS DE CIRCULAÇÃO...................................................................... 80

6.7.

GABARITO.......................................................................................... 83

6.8.

PAISAGEM CULTURAL...................................................................... 85

6.9.

SEMIÓTICA DO AMBIENTE URBANO............................................... 91

6.10.

CONCLUSÃO DO DIAGNÓSTICO ................................................ 102

7. CAPÍTULO V: PROJETO BÁSICO DE RESTAURO/ REVITALIZAÇÃO PARA O MERCADO DA CAPIXABA. ........................................................... 104 7.1.

Situação física: Diagnóstico .............................................................. 104


7.2.

Levantamento métrico ....................................................................... 107

7.3.

Danos (consistência e conservação)................................................. 108

7.4.

Proposta - Novo Uso ......................................................................... 110

7.4.1.

Programa de necessidades ........................................................ 111

7.4.2.

Diretrizes para layout de ocupação do espaço pré-existente ..... 111

7.4.3.

Diretrizes gerais da intervenção ................................................. 112

7.4.4.

Diretrizes específicas dos conjuntos funcionais.......................... 112

7.5.

PROJETOS DE ARQUITETURA ...................................................... 112

7.5.1.

Memorial Justificativo ................................................................. 113

7.5.2.

Recomendações de projeto ........................................................ 117

7.5.3.

Especificações técnicas .............................................................. 122

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 132 9. REFERÊNCIAS ....................................................................................... 133 10. APENDICES ............................................................................................ 138


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1.

APRESENTAÇÃO

Desde a antiguidade as atividades de comércio sempre estiveram em um espaço que recebesse um contingente considerável de pessoas. Desde o século XVIII, o comércio passou a influenciar no sentido da linha de tráfego de veículos, destacando sua importância dentro do contexto formal das cidades. (MUMFORD, 2004). Assim, segundo o autor, mercados públicos são locais historicamente importantes para compreender o desenvolvimento e transformação das cidades. Suas atividades comerciais eram fundamentais para o processo de evolução do espaço urbano e suas relações sociais. Contudo, ao longo do tempo e com o desenvolvimento do capitalismo, uma nova tipologia de mercado se estabeleceu, mudando as relações entre o consumidor e o produto, tornando-a muito mais distante, pois entre as figuras do produtor e consumidor existiam os intermediários que arrecadavam a maior parte do lucro, vínculo que se estabelece até os dias de hoje. (MUMFORD, 2004). Desta forma foi notado que com o passar dos anos a impessoalidade dos supermercados e centro comerciais veio tomando maiores proporções fazendo com que as funções originais da tipologia de Mercado de transações pessoais e entretenimento social se perdessem. Apesar dessas mudanças, a sua figura e representatividade por ser um forte elemento de atração de público ainda apresenta potencialidades que podem ser explorados mesmo com o modo de vida contemporâneo, marcado por relações virtuais e impessoais, se tornando uma importante ferramenta de promoção de utilização do espaço público e interação social. Seguindo este viés e com o raciocínio de exaltar a figura do Mercado, elemento fundamental dentro do espaço urbano; esta pesquisa visou a compreensão da importância e significado desta pratica nas áreas centrais e de interesse de preservação, atribuindo novas qualidades e a reconexão do equipamento edificado com suas vocações naturais de lugar do encontro e dinamização do seu entorno. O objeto de análise e intervenção deste trabalho é o Mercado da Capixaba, localizado no Centro do Município de Vitória, capital do ES, que com o passar dos anos foi perdendo suas qualidades, se tornando um espaço subutilizado e caracterizado como


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um ‘’Não-lugar’’ (AUGÉ, 1994) dentro do contexto urbano em que está inserido. Atualmente o mercado é marcado pelo baixo movimento de pessoas na área interna da sua edificação, sendo algo contrastante com o constante movimento de passagem do comércio de rua do centro da capital. Pode-se afirmar que a edificação, assim como outras de âmbito cultural localizadas no Centro, se encontram desconexas com essa atual dinâmica do bairro. Desta forma percebe-se a falta de um caráter dinamizador e de coalizão entre tais edificações e a vida cotidiana nesta centralidade. A prevalência de um sentido de passagem na área torna invalidada a percepção de um organismo vivo e referencial para a cultura local. Vitória, tantas vezes resignificada em seus aspectos históricos, culturais e paisagístico carece da compreensão do valor simbólico destes monumentos e da apreensão da população pelo sentido vivo e identitário do lugar. A partir da trajetória histórica do Mercado da Capixaba foi possível identificar um potencial deste edifício como eixo central para uma realidade pré-existente dentro do Centro Histórico, tornando este objeto um Lugar propriamente dito e não apenas ponto de passagem. Assim justifica-se então, a manutenção das atividades comerciais e culturais no Mercado da Capixaba, permanecendo ligado à sua função original, porém dando ao mesmo um caráter contemporâneo devido ao novo fenômeno imposto pelos tempos atuais. Desta forma o mantem vivo e ativo em constante diálogo com as linguagens, gostos e costumes dos dias atuais, porém referenciadas nas tradições, gastronomia e memórias da cultura Capixaba. Em todas as fontes de pesquisa se destaca a vocação mercantil dessa edificação, marcado pelo encontro de pessoas, pela circulação de mercadoria, sensações, histórias, cultura e arte. No âmbito de uma intervenção crítica de restauro (BRANDI, 2004), entende-se que o projeto de reabilitação de um espaço histórico deve necessariamente ter como elementos centrais aspectos fenomenológicos, tais como: a integração com as necessidades da comunidade, as potencialidades da área, a vocação da edificação e os vínculos históricos culturais das pessoas com o local. Desta forma justifica-se a pesquisa voltada a solucionar problemas acarretados pelo abandono do monumento e sua atual configuração como Não-lugar, reaproveitando


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seus espaços existentes para abrigar novos usos e atividades afins com sua tradição em benefício amplo da comunidade local. Sendo assim, foi importante analisar todo o processo de degradação do Mercado da Capixaba, as medidas governamentais que ocorreram durante sua existência, destacando também todo o seu histórico, utilização, potencialidades, visando uma proposição de como essa edificação retomaria uma posição de âncora dentro do contexto atual do Centro da cidade de Vitória. O objetivo geral deste trabalho foi pesquisar e compreender a importância do Mercado Capixaba no Centro de Vitória e seu entorno imediato visando propor uma função útil para a sociedade de maneira que haja harmonia entre a preservação das características do edifício e as adaptações necessárias para o novo uso em um novo momento. Para isto, seus objetivos específicos foram assim definidos: 

Exaltar os aspectos culturais, visando a valorização da memória social local, resgatando sua relação de pertencimento e identidade cultural, passando assim, a desfrutar de um local adaptado à cidade contemporânea que vive e reconhece a importância de sua história coletiva na preservação do seu patrimônio e tornar elemento de referência urbanística;

Identificar possíveis aspectos culturais, notadamente a gastronomia como fio condutor para uma reabilitação de uso para o monumento, visando ajustá-lo ao novo contexto sociocultural do século XXI; viabilizando tanto o abastecimento localizado quanto a pratica cotidiana da alimentação, caracterizada por uma opção diferenciada, de forma saudável, rápida e acessível para um público de diferentes classes sociais e intergeracional da área do Centro;

Tornar o local ativo, também com uso noturno e finais de semana; visando valorizar a região, com possibilidades de desdobramentos de happy hour, apresentações musicais instrumentais, exposições de arte e o funcionamento de atrativos como bares, petiscarias, tapas, finger food, enoteca, cervejaria artesanal e outros;

Valorização do espaço e seu entorno através do tratamento paisagístico e luminotécnico com possível integração com os demais roteiros de interesse


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cultural na área, tais como a FAFI, o MAES, a “Rua 7 de setembro”, o Palácio Anchieta e a Catedral de Vitória. O corpo do trabalho foi desenvolvido em cinco capítulos. Inicialmente foi realizada uma análise do contexto e história local - Centro de Vitória, seguindo autores como Letícia Beccali Klug (2009), Peter Ribon Monteiro (2008) e José Teixeira de Oliveira (2008). No capítulo I, levantou-se a questão da relação entre Lugar e Não-lugar conforme os estudos de Marc Augé (1994), buscando uma compreensão deste fenômeno para as intervenções de Centros Históricos. Complementou a estas considerações o sentido de patrimonialização na atualidade impresso por Choay (2006), assim como buscouse uma compreensão das tipologias dos mercados públicos através de estudos de autores como Raquel Rennó (2006), Heliana Comin Vargas (2001) e Bauman (2001). No capítulo II foi exposto as teorias do restauro bem como o conceito de restauração e os seus documentos atuais que permeiam este tipo de intervenção. O capítulo III foi dedicado a análises de estudos de caso que contribuíram significativamente para a elaboração e a valorização do projeto de intervenção do edifício do Mercado da Capixaba, em parte arruinado. Para contextualização e compreensão das características urbanas em que o Mercado da Capixaba se inseriu, foi exposto o capítulo IV, onde é exibido o diagnóstico completo de suas imediações. Com base em todos estes dados, foi elaborado o capítulo V que apresenta as propostas e o memorial justificativo acompanhado com o projeto da reabilitação e restauro do Mercado. Vale ressaltar que também foram citados os autores Jacobs (2000) e Jan Gehl (2013), que debatem temas atuais e adjunto à espacialidade dos Lugares: a Humanização dos Espaços Urbanos, para permear todo o trabalho.


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2.

INTRODUÇÃO

O estado do Espírito Santo se localiza na região sudeste do Brasil (Fig. 1). Sua história se iniciou a partir da chegada de Vasco Coutinho, português, que desembarcou na capitania em dia 23 de maio de 1535, na atual Prainha de Vila Velha, onde fundou o primeiro povoamento. Como era oitava de Pentecostes, o donatário batizou a terra de Espírito Santo, em homenagem à terceira pessoa da Santíssima Trindade. A Vila Nova do Espírito Santo, como era denominada, foi fundada em 8 de setembro de 1551 e posteriormente denominada Vitória, em memória da vitória em uma grande batalha comandada pelo donatário da capitania, Vasco Fernandes Coutinho, contra os índios (VENTORIM, 2010). Figura 1: Mapa de localização da região Sudeste no Brasil, com destaque no ES.

Fonte: Gráfico elaborado pela autora, 2016.

Vitória, é a capital e quarta cidade mais populosa do ES1 (Fig. 2). Integra uma área geográfica

denominada

Região

Metropolitana

da

Grande

Vitória

(RMGV),

compreendida pelos municípios de Vitória, Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana 1

Vitória apresenta-se também com sua economia baseada nas atividades portuárias, no comércio e na prestação de serviços. Com uma posição geográfica estratégica, é considerada um dos principais pontos de escoamento da produção nacional. Sua infraestrutura logística se articula entre portos, ferrovia e um aeroporto.


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e Vila Velha, conforme os dados do último censo realizado todos estas localidades juntas concentram quase a metade da população de todo o estado (IBGE 2010).2 (Fig. 3). Figura 2: Mapa do estado do Espírito Santo com destaque na RMGV.

Figura 3: Mapa da RMGV com destaque na capital Vitória.

Fonte: Gráfico elaborado pela autora, 2016.

Fonte: Gráfico elaborado pela autora, 2016.

Segundo Oliveira (2008), a área central do município de Vitória foi onde ocorreu o início do processo de urbanização, portanto é considerado um local de extrema relevância para a história de formação deste estado. Neste contexto metropolitano, esta centralidade caracteriza-se como local de passagem e conexões entre os demais municípios da Grande Vitória, devido a sua localização, proximidade e interligação com os municípios vizinhos obtidos através de vias de grande importância para a região metropolitana como: a Carlos Lindemberg, Avenida Brasil, Rodovia Governador José Sete, Avenida Beira mar, Avenida Jerônimo Monteiro, dentre outras. Sendo o fluxo principal de veículos concentrado na parte baixa do Centro, onde as vias são em sua maioria planas e abrigam grande parte das atividades de comércio e serviços na região, o que contribui para o aumento do tráfego no local. Tornando-se um eixo de 2

A Região Metropolitana de Grande Vitória (RMGV), instituída pela Lei complementar n o 204, de 22 de junho de 2001.[...] Apresenta-se como o principal pólo de desenvolvimento urbano e industrial do Estado do Espírito Santo, concentrando uma população de 1.438.596 habitantes, o que representa cerca de 46,45 % da população de todo o estado. IBGE, Censo de 2010.


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ligação e atratividade de pessoas, sendo o fluxo constante e intenso durante o horário comercial em dias úteis. Além destes aspectos, esta centralidade abriga vários exemplares arquitetônicos tombados e importantes para a história e formação do estado, como casarios, igrejas, palácios, escolas, escadarias etc. No que se refere a sua estrutura física, o Centro de Vitória está localizado entre o maciço da fonte Grande e a baía de Vitória, possuindo um platô onde havia sido fixado o núcleo primitivo de ocupação, a Cidade Alta (Fig. 4). Ao decorrer do processo de consolidação urbana foram efetuados aterros que possibilitavam a expansão do território. O primeiro aterro ocorreu entre os anos de 1812 e 1830 principalmente nas regiões alagadiças que existiam na vila. Dois importantes aterros dessa época foram o do Largo da Conceição (área conhecida hoje como Praça Costa Pereira) e da Lapa do Mangal, depois conhecida como Campinho e atualmente Parque Moscoso. Há de se ressaltar que os aterros não foram feitos de uma só vez, foi um processo gradativo. Essa decisão de aterrar foi tomada também em função do crescimento econômico e a necessidade de aumentar espacialmente a vila, devido ao aumento da população (KLUG, 2009). Figura 4: Delimitação do bairro Centro e localização da área de estudo.

Fonte: Gráfico elaborado pela autora, 2016.


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Foi a partir do final do século XIX, que grandes modificações aconteceram, como aterros de grandes proporções, elaboração de projetos, um processo de grande expansão que se estendeu até a década de 1950. Em 1895 criou-se a Comissão de Melhoramentos da Capital, liderada pelo engenheiro sanitarista Francisco Saturnino de Brito, que projetou a construção de um novo arrabalde com área cinco vezes maior que a capital Vitória. Outro ponto relevante além da expansão urbana foi a questão sanitária, já que muitas áreas dentro da cidade eram consideradas insalubres e tornavam-se foco de frequentes epidemias. Para Saturnino de Brito, tocado pelas experiências europeias de renovação e expansão urbana do final do século XIX, eram necessárias ruas retas, amplas e longas, com quadras grandes e sem áreas alagadiças, como brejos e mangues, visando à manutenção da higiene e boa saúde dos cidadãos. Adiante, obras de expansão e embelezamento sensíveis foram realizadas no governo de Jerônimo de Souza Monteiro (1908-1912) com o Plano de Melhoramento de Vitória. Tinha-se o intuito de modernizar a cidade, pois uma cidade moderna era um símbolo do ideal republicano, em vigor na época (Fig.4). Figura 5: Abertura da Avenida Capixaba (atual Jerônimo Monteiro - 1912).

Fonte: MIRANDA, Clara Luíza. Memória Visual da Baía de Vitória. 2001.

Com essas mudanças, na parte mais antiga da cidade, conhecida como Cidade Alta, ficaram os edifícios religiosos e administrativos e, na parte “nova”, a parte baixa da cidade, o comércio em geral (KLUG, 2009).


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Outro presidente importante no processo de melhoramento e expansão da cidade de Vitória foi Florentino Avidos (1924-1928), que deu continuidade aos trabalhos de Jerônimo Monteiro. A conformação territorial original foi bastante alterada em função de extensos aterros sobre manguezais e mar ocorridos como parte do Plano de Melhoramentos de Vitória. Sendo assim, algumas mudanças significativas foram realizadas, as principais são: o aterro de uma área alagável localizada nas proximidades do Forte São João, em meados de 1920, como um indicativo do crescimento da cidade para a região leste; o reinicio das obras do porto, que desde 1906 estavam paradas, transformando a relação do centro da cidade com a baía através da interrupção no acesso físico e visual; a construção da Ponte Florentino Avidos (conhecida como Cinco Pontes), para facilitar o transporte de carga entre o continente e a ilha; o aterro para construção do porto com a retificação das quadras que margeavam a baía com construção de uma via litorânea; e a abertura da Avenida Capixaba (Fig. 05), atualmente Avenida Jerônimo Monteiro. Assim, a tipologia das vias do período colonial original passa por um processo de retificação, paralelismos e ortogonalidades, principalmente nas áreas de expansão construídas sobre os aterros (KLUG, 2009). Vitória, em menos de três décadas, se transformou em nova cidade burguesa num acelerado processo de urbanização, mesmo que atrasada em relação às principais cidades do país. Nesse período, houve grandes investimentos, principalmente na parte baixa da cidade, ocorreu o surgimento de uma nova ambiência marcada pela arquitetura eclética. Iniciada no governo de Muniz Freire, continuada por Jerônimo Monteiro e concluída por Florentino Avidos, há uma profusão de construção de edificações voltadas para funções que antes eram inexpressivas, como instituições educacionais e de lazer - parques, teatros e cinemas. Exemplos das edificações remodeladas ao novo estilo padrão são a Igreja de São Tiago e Colégio de São Maurício que deu lugar ao Palácio do Governo; a Igreja matriz que foi substituída pela Catedral Metropolitana e a Igreja da Misericórdia que cedeu lugar ao edifício do Congresso Estadual, além da substituição das ladeiras do período colonial pela construção das escadarias como elementos símbolos dessa transformação (MONTEIRO, 2008). Quanto a produção arquitetônica desse período, ainda que apresente certa elegância, não pode, segundo Monteiro, se comparar a dos principais polos do país.


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[...]o que ocorreria agora era apenas uma mera mudança estética, em que os novos objetos — quase sempre idealizados por artistas de origem estrangeira - representavam mais um modismo do que uma produção preocupada com uma relação mais estreita com a singularidade do território sobre o qual estavam sendo construídos (MONTEIRO, 2008)

Alguns exemplos da produção arquitetônica dessa época no Centro de Vitória são a sede dos Serviços de Melhoramentos de Vitória (atual Museu de Artes Plásticas MAES), a antiga Faculdade de Filosofia (Fafi), o Teatro Carlos Gomes, as diversas escadarias, o Cineteatro Glória e o Mercado da Capixaba, caso do estudo desta pesquisa (MONTEIRO, 2008). O Mercado da Capixaba, foi construído utilizando da área acrescida de um dos aterros feitos que possibilitou a abertura do novo boulevard da cidade, a Avenida Capixaba, prolongamento da rua da Alfândega e da ladeira Pernambuco (atuais avenida Jerônimo Monteiro e a rua Wilson Freitas, respectivamente). Edifício composto por um só pavimento, com exceção da ala disposta sobre a Avenida (Fig. 7), o Mercado da Capixaba, segue uma tradicional configuração morfológica, está implantado sobre os limites de uma quadra de perímetro rígido. Decorrente dessa situação, o volume edificado apresenta franca regularidade, responsável por grande parte do papel representado pelo mercado na constituição do novo padrão estético que havia sido proposto para Vitória nas três primeiras décadas do século XX (HERMANY, 2009). Figura 6: Fachada do Mercado voltada para a Avenida Capixaba (apx. Década de 1940).

Fonte: Arquivo da PMV/SEDEC/GPU.


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Em 1982 o Mercado da Capixaba passou pelo procedimento de tombamento realizado pelo Conselho Estadual de Cultura através do processo de no 05/82. Isso ocorreu devido a sua história e expressividade como edificação da década de 1920 existente na cidade e pelo uso cultural que nela havia consolidado. Além disso, outra resolução foi realizada no ano seguinte (1983). Esta última aprova o tombamento desta e de outras edificações que apresentavam relevância histórica de um mesmo âmbito, tais como: Palácio Anchieta, Palácio Domingos Martins, Arquivo Público Estadual, Escola Maria Ortiz, Teatro Carlos Gomes e a Secretaria de Administração (antigo Serviço de Melhoramentos Urbanos de Vitória, atualmente Edifício ocupado pelo MAES). Conforme o parecer: ‘’Os imóveis aqui relacionados além de seu valor arquitetonico próprio, estão integrados num sítio histórico e guardam a noção de conjunto ou são marcos de referência notáveis para a cidade de Vitória. A conservação destas edificações é de grande importância para a comunidade capixaba dos pontos de vista artístico e histórico. Artistico porque são edificações neoclássicas ou ecléticas construídas com propriedade, bom gosto e, forte espírito de unidade. Histórico, porque são edificações de caráter público e que testemunharam em seus interiores muitos processos e acontecimentos ligados intimamente a nossa história. São raros os exemplares que marcaram a época; são documentos autênticos de um período em que ocorreu grande aceleração da história do nosso estado.’’

Contudo, depois de anos de funcionamento abrigando usos diversificados, ocorreu em 2002 um incêndio iniciado em uma loja do andar térreo, na esquina do mercado, ocasionando o desabamento da estrutura do telhado do primeiro andar. Entretanto o sinistro não se espalhou pela área interna onde permanecia a venda de artesanato (PMV/SEDEC/GPU, 2016). Notou-se que após este acontecimento não ocorreu nenhuma nova obra que reparasse os danos causados pelo fogo, apenas foram retirados os resquícios do incêndio, deixando exposto e vulnerável o arcabouço estrutural da edificação. Desde então o desinteresse da população, a estrutura de trabalho precária e o abandono da administração pública são problemas que fazem das atividades naquele espaço um constante desafio para a atualidade da preservação de memória e identidade do Centro de Vitória.


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Figura 7: Ă rea interna do Mercado de Artesanato Capixaba.

Fonte: Acervo pessoal, 2016. Figura 8: Entrada de vendas de artesanatos, separada do estacionamento por um gradil.

Fonte: Acervo pessoal, 2016.


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Figura 9: Fachada do Mercado voltada para a Av. JerĂ´nimo Monteiro.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016. Figura 10: Acesso ao Mercado pela fachada voltada para a Av. JerĂ´nimo Monteiro.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.


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3.

CAPÍTULO I: A AUSÊNCIA DE LUGAR NA PRESERVAÇÃO DE ÁREAS DE

INTERESSE DE PRESERVAÇÃO E PATRIMÔNIOS HISTÓRICOS.

Pretende-se neste capítulo apresentar e desenvolver uma linha teórica para a investigação da relação entre arquitetura e ‘’lugar‟, conforme Augé (1994), relacionando e fundamentando diretrizes e ações para a intervenção em áreas de interesse de preservação, notadamente o Centro Histórico de Vitória e o edifício remanescente da ocupação Mercado da Capixaba. Assim, expõe-se a atual situação do monumento histórico que pertence a um ambiente urbano denominado Centro Histórico, bem como a forma com que este tipo de monumento é percebido pela população usuária de seu entorno imediato e a maneira com que ele é tratado pela administração pública do município de Vitória. 3.1.

LUGAR X NÃO-LUGAR

O debate sobre o problema do ‘’lugar’’ teve início nos anos 1950/60, como crítica à cidade moderna, projetada para um homem ideal e universal, que desprezava a história e teria destituído o espaço urbano tanto da sua escala humana quanto dos seus valores simbólicos. A cidade contemporânea, muitas vezes interpretada como dispersão caótica de coisas e pessoas, é, também, o palco onde se manifestam os problemas que têm de ser enfrentados pela arquitetura e que se inserem em diferentes contextos, sendo estes políticos, econômicos, sociais e culturais (MARTINS, 2009). A partir da difusão da teoria de supermodernidade levantada por Marc Augé (1994), muito se discutiu sobre os novos locais que se inauguravam a partir da cultura do excesso que se explicitava na época: com a popularização das comunicações via dispositivos informacionais e em rede, com a explosão da facilidade de deslocamento ao redor do globo em meios de transporte cada vez mais rápidos e acessíveis à grande parte da população, e o surgimento de novos lugares visando acolher esses sujeitos em trânsito permanente – tanto em aeroportos e estações de trens, em autoestradas, em templos de consumo desenfreado e frenético, como os hipermercados e os shopping centers, quanto nos globalmente conectados e em rede (Fig.11). Para o autor, esses eram indícios de que estaríamos entrando numa era de


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individualismo e velocidade excessiva, bem como eram abertas novas frentes de consumo, sobretudo de informação. Figura 11: Saguões de aeroportos são os típicos casos de ''não-lugar'' abordados por Augé.

Fonte: www.veja.abril.br

Ainda segundo o autor, o surgimento da supermodernidade é responsável pelas principais transformações de sentido na relação espaço e sociedade. Ele se refere a este termo como uma marca de nossa época. Sua origem está ligada a três aspectos relacionados ao excesso: a superabundância factual, a superabundância espacial e a individualização das referências. Estes fatores podem encontrar sua materialização plena nos “não-lugares”. Para Augé os não-lugares correspondem aos espaços funcionais construídos com determinadas finalidades objetivas (comércio, transporte, lazer) e o tipo de relação e de experiências transitórias, supérfluas, funcionais que os indivíduos e grupos mantém com esses espaços. São lugares que apresentam uma espécie de qualidade negativa do lugar, vazios de conteúdo, sem história, são neutros, são transitórios, em geral, de uma arquitetura de desnudamento. O pensamento do autor confirma que os não-lugares podem provocar uma perda de nós mesmos como grupo e sociedade, prevalecendo agora apenas o indivíduo “solitário”. Assim, para Augé, os não-lugares definem: Espaços que em si mesmos não são lugares antropológicos e que (…) não integram os lugares antigos: inventariados, classificados e promovidos a ‘’lugares de memória‟ (AUGÉ, 1994).


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Correspondendo, portanto, a um desvirtuamento das emoções legítimas e autênticas da memória e da afetividade, estando em oposição ao lugar antropológico capaz de reter e ser espaço criador de identidade. São realidades complementares e em oposição aos espaços antropológicos, onde, este último é capaz de criar um social orgânico o outro cria uma tensão solitária, no qual o sujeito não consegue estabelecer vínculos relacionais durante a sua ocupação (AUGÉ, 1994). Augé, em sua teoria, defende ainda que os não-lugares tenderiam à generalização de suas características, justapondo-se, criando assim uma falsa sensação de familiaridade em meio à transitoriedade que lhes é característica: aeroportos que se assemelham a shoppings; televisões e, mais recentemente, acesso à internet em aviões, ônibus e trens. Eles transformaram os particularismos das cidades onde se inserem em uma uniformidade global, sendo possível reconhecer facilmente um shopping, seja em Nova York, seja em Hong Kong, e a partir disso o autor se apropria da expressão “cidade genérica” (Fig.12) para descrever essas arquiteturas similares e uniformes ao redor do globo, ou seja, elas seriam o resultado da imbricação da vida urbana com o ciberespaço resultado do processo de modernização das cidades (AUGÉ, 1994). Figura 12 – Seoul, Singapura e São Paulo – “Cidades Genericas”.

Fonte: www.veja.abril.br

Augé entende que: (...) se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não lugar (AUGÉ, 1994).

Sob tal perspectiva, o autor afirma que o lugar antropológico está carregado de sentido social. Se privilegiamos o desejo individual, perde-se a relação com a sociedade. Inclui


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ainda a possibilidade dos percursos que nele se efetuam, dos discursos que nele se pronunciam e da linguagem que o caracteriza. Contudo a supermodernidade em si, é produtora de não-lugares, que não integram os lugares antigos ou de memória. Todos esses tipos de espaços produzidos pelos nãolugares visam ao consumo do homem “médio”, que é, como exemplo, um usuário dos sistemas rodoviário, comercial ou bancário. De acordo com a percepção de Augé essa nova dinâmica das cidades colaborou com a súbita e rápida substituição dos lugares pelos não-lugares, tornando a cidade cada vez mais um espaço de anonimato e solidão, ou seja, fazendo prevalecer a liberdade (indivíduo) sobre o sentido (sociedade). Seguindo essa linha de pensamento de Augé, pode-se considerar o Centro do município de Vitória como um local que demonstra, de forma clara, as características daquilo que se denominou supermodernidade, com algumas exceções de ‘’lugares’’ como por exemplo o Palácio Anchieta. Vitória, foi uma cidade alvo de mudanças que ocorreram em função das transformações urbanas, tomadas pelo conceito de salubridade, modernização e velocidade abrigando diversas edificações que, na atualidade, não dialogam nem com o contexto urbano remanescente, nem entre si. É visível, a não integração entre lugares assinalados por patrimônios históricos e culturais. Tais edificações existem, dotadas de história e identidade, porém se encontram exclusas da dinâmica deste local. De maneira geral, entende-se que este local hoje apresenta características de passagem e não produz o diálogo necessário entre o que representa o patrimônio e os indivíduos que compõe essa sociedade, gerando uma forte sensação de não pertencimento com o local, impossibilitando uma interação maior com as edificações, consequentemente com a história do lugar, tornando-as desconexas deste meio, fechadas em si mesmas, não estabelecendo assim a função social que poderia ser de lugar do encontro e interação entre a comunidade e seus aspectos culturais já que estes igualmente não são explorados em outros pontos da cidade; apresentando-se apenas caracterizados pela finalidade objetiva de comércio, serviço e transporte


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originados a partir da nova modelagem do espaço através de elementos tais como uso do solo e sistema viário. Quando se observa a dinâmica recorrente do Centro Histórico de Vitória, marcado por uma morfologia própria, definida pela limitação entre a baía e o maciço rochoso, segmentada pela parte alta e baixa, destaca-se o Mercado da Capixaba localizado na Av. Jerônimo Monteiro, grande eixo viário que atravessa o centro histórico da capital do Espírito Santo. Neste contexto, atualmente, o remanescente arruinado do Mercado não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico, podendo ser enquadrado dentro do conceito de um não-lugar. Este local não possui uma interação com o contexto urbano e suas relações com o entorno e os indivíduos não foram mantidas com o passar do tempo. O que antigamente foi símbolo de convívio social, referência e ponto de encontro para tantos, agora se encontra em situação de total decadência, com a falta de atratividade e vitalidade. Diagnostica-se esse processo de mudança de lugar para um não-lugar a partir da constante alteração de usos que edificação sofreu, gerando expressivos impactos sobre a condição e conservação do edifício, resultantes, especialmente, da locação de sua área para estabelecimentos comerciais sem vínculos com sua destinação original. Atrelado ao comércio que o denigre e que se faz presente, está a falta de interesse do poder público em mantê-lo como um local dotado de qualidade e identidade que contribua com preservação do patrimônio e a própria história de formação do povo capixaba. Ainda que neste local esteja erigido, praticamente, 100 anos de arquitetura e ter sido significativo para o processo de desenvolvimento da capital Vitória do ponto de vista histórico, o mercado encontra-se em amplo processo de degradação que aos poucos se apaga no coração da cidade. Na situação atual ressalta-se apenas a qualidade negativa do lugar, que não mantem suas relações históricas, nem tampouco se constitui como lugar de memória; seus laços com estes aspectos foram rompidos com a degradação, descaracterização e


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subutilização do monumento, comprometendo sua noção de documento conforme preconiza Le Goff (1990). Destaca-se ainda neste meio a perda da razão de ser do mercado, se configurando hoje como mais um local de comércio em meio a tantos outros. Sendo assim, de lugar de encontro e convívio intenso, o Mercado da Capixaba se transformou em espaço de passagem ausente. Contudo é visível que esta situação atual não condiz com o objetivo do seu projeto, onde sua intenção não se restringia a ocupação de um espaço, mas se preocupava em se afirmar como um lugar relacional, identitário e histórico dentro do contexto urbano; tampouco a noção de patrimônio atribuída mediante processo de tombamento efetivado pelo CEC/Secult-ES em 1983. 3.2.

PATRIMONIALIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO

A noção de patrimônio é algo muito recente, juntamente com as políticas de preservação cultural. O conceito de patrimônio histórico passou a ser corrente no século XX, mas, antes disso, usava-se o critério de “Monumento” para selecionar edificações que mereciam cuidados e admiração. Em um primeiro sentido, Monumento são os artefatos edificados por uma comunidade de indivíduos que pretende manter na memória acontecimentos, sacrifícios, rituais. Ele é uma forma de mediação com o passado que por ele é invocado, convocado (CHOAY, 2006). Ao longo do século XX, monumento histórico e patrimônio histórico deixaram de ser sinônimos. O termo “Patrimônio” passou a ser utilizado também para indicar todo o tecido urbano de uma cidade que fizesse parte da história nacional. Com isso, cada vez mais os governos e a administração pública encarregavam-se tanto da escolha quanto da preservação (CHOAY, 2006). Choay (2006) defende o patrimônio ligado à ideia de monumento histórico, como um dos “personagens da alegoria” patrimonial, mas que, a partir de uma função antropológica, não seria somente uma representação de um tempo, um meio que levaria a uma informação, mas sim uma forma material de se tocar uma memória viva. Para esta autora a ideia de patrimônio está atrelada à materialidade. O monumento é testemunha do passado, e deve ser conservado e preservado para estar “vivo” no presente, possibilitando que os indivíduos possam presenciar o passado (CHOAY, 2006).


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Os conceitos atuais de patrimônio cultural, de forma ampliada, passam pelo entendimento de que o patrimônio cultural deve ser entendido como o conjunto dos bens que constituem os testemunhos de uma sociedade e contribuem para a construção da identidade e para a representação do pensamento e das realizações. Para Choay (2006), essa noção vincula-se à capacidade simbólica de mobilizar a memória de determinado grupo, através da afetividade, possibilitando a vinculação com o passado e a preservação da identidade da comunidade. De um conceito que se referia somente aos grandes monumentos artísticos do passado a uma concepção de patrimônio entendido também como o conjunto dos bens culturais, referente às identidades coletivas integram-se, ao conceito, paisagens, arquiteturas, falares, lugares, tradições, formas de expressão, modos de fazer, documentos, sítios arqueológicos, dentre outros, que passaram a ser reconhecidos e valorizados pelas comunidades e órgãos governamentais. Choay (2006) compreende o patrimônio cultural como algo que está ligado a estruturas familiares, econômicas e jurídicas de uma sociedade, situadas no tempo e no espaço. De acordo com ela: A expressão designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas-artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos (CHOAY, 2006).

Sendo assim, o patrimônio cultural nos remete às questões relacionadas com a identidade, a memória, a coletividade e a herança. Este é delimitado em duas categorias: a de natureza material e de natureza imaterial – o primeiro é tido como um ‘’produto da cultura’’ e o último como o saber fazer juntamente com a expressão e tradição cultural do grupo social. Determinados objetos e monumentos patrimoniais, saberes, técnicas, festividades e lugares abrigam em si tais aspectos, estes necessários para entender e compreender toda a cultura local. Portanto é através do patrimônio cultural podem-se conhecer as particularidades de uma determinada cultura.


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Contudo, nos dias atuais, a essência do patrimônio é determinada e produzida de acordo com os propósitos da indústria cultural. Parece ser um consenso entre estudiosos de temáticas relativas ao patrimônio de que interesses econômicos têm sobrepujado interesses culturais, no que diz respeito à proteção de objetos considerados representativos da cultura material e imaterial. A historiadora francesa aponta para a existência de uma tendência mundial de transformar o patrimônio em produto econômico. Tal pressuposto se confirmado também por Luchiari: A revalorização das paisagens constituídas por elementos históricos, como o patrimônio

arquitetônico,

tem

atribuído

às

paisagens

urbanas

contemporâneas um novo sentido no campo do consumo cultural. O patrimônio arquitetônico tornou-se, hoje, cenário revestido de valores mercadológicos, descompromissados com o passado e com o lugar – tendência global que reflete a mundialização das relações, dos valores e das manifestações culturais. (LUCHIARI, 2005).

Assim, para uma afirmação da patrimonialização, conta-se com estratégias voltadas para a mercantilização do patrimônio cultural, principalmente porque, “os monumentos e patrimônio históricos adquirem dupla função – obras que propiciam saber e prazer, postas à disposição de todos; mas também produtos culturais, fabricados, empacotados e distribuídos para serem consumidos” (CHOAY, 2006). O espetáculo, promovido com esse tipo de patrimonialização, é claramente perceptível na relação com o patrimônio visto por imagem transformada de ideia para objeto, desligada de sua consistência material. Choay mostra as relações que se construíram, no mundo pós-moderno, entre a indústria cultural - baseada no simulacro e o patrimônio, discutindo a forma como sua conservação passa, muitas vezes, apenas pelo interesse econômico-financeiro e, não mais, por sua relação com a identidade de uma determinada população ou sua relevância histórico-cultural. Em suma, pode-se perceber que a patrimonialização de bens patrimoniais é influenciada pelas conjeturas atuais, pelas especificidades dos bens e de seus usos, pelas condições de memória e identidade envolvidas, pelos conflitos de interesses em jogo, os usos da espetacularização (com a ponderação de seus riscos e vantagens),


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e pela própria memória no interior das comunidades e os referentes que essas fixam suas identidades. A autora chega a perceber que o processo de patrimonialização é um risco ao qual é colocado o patrimônio histórico, já que vislumbra essas questões a partir da materialidade dos bens patrimoniais. Assim, a autora teme as “metamorfoses” que tal processos provocam nos bens patrimoniais, podendo essas estarem nos usos que são dados ao espaço, na interferência de guias que apresentam o monumento, nos shows de luzes e sons agregados, entendendo-os como “dificultantes” do diálogo entre o visitante e o monumento (CHOAY, 2006). Pondera ainda que a reutilização do patrimônio é um processo complexo, deve levar em conta os usos originais, a comunidade a que pertence e, especialmente pensando em seu estado material, o fluxo dos utilizadores, pois isso pode levar a intensificação da degradação do bem. Muitas vezes o patrimônio é dotado de aparatos que buscam apenas sua valorização estética, esse procedimento pode dificultar o diálogo livre do visitante com o monumento e o seu entorno. Essa “maquiagem” da edificação acaba por transformar o bem em um artigo utilitário descolado de seu sentido original. Levada ao extremo, essa falsa animação torna-se o reverso exato da encenação do monumento que ela transforma em teatro ou cenário esvaziando seu conteúdo histórico. Esta abordagem do patrimônio histórico, constantemente associada a eventos destinados ao consumo turístico da memória, os quais muitas vezes esvaziam desta o seu real conteúdo, vem se tornando muito frequente, inclusive dentro de ações promovidas pelos próprios órgãos de gestão pública, pois argumentam que o turismo é um eficaz instrumento de valorização de bens patrimoniais e de captação de recursos para sua conservação. Choay destaca que estes problemas são extremamente atuais e nem sempre têm seu impacto reconhecido ou discutido dentro do campo disciplinar específico da restauração. Esse processo pode levar à criação e a reconstrução de elementos que se “pretendem” históricos simplesmente para atraírem turistas (CHOAY, 2006).


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Atualmente essa prática se mantem motivada pela dinâmica da globalização, que abrange questões econômicas, políticas e culturais. Contudo essa tendência de se tornar globalizado cria fortes relações com a impessoalidade, sendo o oposto do significado sentimental, de pertencimento ao lugar que tem uma história, uma memória. 3.2.1.

Vitória e sua noção de patrimonialização

Dentro de um contexto modernizador, fomentado pela busca da evolução e desenvolvimento é que a capital do Espírito Santo se transformou ao longo de sua história, buscando sempre alcançar essa pré-globalização que já ocorria em outras capitais do Brasil (MONTEIRO, 2008). Contudo, essa busca contribuiu para que houvesse mudanças no Centro da cidade e, conforme aponta a sua história, ocorreu um processo de descentralização neste local deixando de ser o exclusivo centro econômico, cultural, político e imobiliário. Desta forma, o processo de urbanização foi avançando, a região central foi se transformando em um local menos valorizado devido às muitas degradações próprias do abandono e, diante dessa realidade imposta pelo processo de metropolização, o centro da capital virou local de passagem. Vitória, principalmente na região central, é portadora de um rico acervo patrimonial, tanto material como imaterial. Está marcada por construções significantes visualmente e historicamente. Inúmeros são os exemplos que passam, muitas vezes, despercebidos pela população, que na maioria, utiliza o Centro como posto de trabalho ou ponto de passagem; uma população que olha, mas não enxerga; não percebe a riqueza e relevância desta história e de seus monumentos. Com o esvaziamento do Centro, consequentemente a região também sofreu com essa nova dinâmica da sociedade Capixaba, e passou a ser vista como uma região degradada, perigosa e inóspita. Muitos foram os projetos de revitalização do Centro da cidade, através de parcerias públicos–privados, contudo não se obteve avanços significativos para o Patrimônio Histórico da região. Durante a administração Paulo Hartung (1993-1996), foi elaborado um projeto de plano estratégico para a cidade, a cargo da Companhia de Desenvolvimento de Vitória


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(CDV), concluído apenas no início da gestão seguinte, do prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (1997-2000). Publicado como documento “Vitória do Futuro: Plano Estratégico da Cidade, 1996-2010”, incorporou de forma ampla o tema da revitalização do centro da cidade (Prefeitura Municipal de Vitória, 1996). O sítio histórico, portanto, surge como elemento central na redefinição dos usos do centro, já que forneceria o diferencial que garantiria a posição única da região na nova configuração assumida pela cidade. O Centro passaria à condição de chancela da identidade cultural de Vitória (BOTELHO, 2005). No início de 2002, o Plano Plurianual 2002-2005 do município apresentava orientações estratégicas “preservar e restaurar os patrimônios histórico, cultural e ambiental, dinamizando e democratizando seu aproveitamento pela sociedade”. O tema da revitalização do Centro aparece, embora não exclusivamente, associado ao tema do patrimônio cultural. No caso do Plano Estratégico, esta dimensão da vida da cidade deveria ser contemplada porque seria o elemento que diferenciaria a cidade dentro do cenário globalizado (BOTELHO, 2005). Em 2006 tem início mais uma medida cujo fim principal é o de enaltecer o patrimônio e a memória do município, chamado Projeto Visitar, passou a levar à risca o potencial turístico, incentivando a visitação e capacitando diversos profissionais em prol da manutenção e difusão do conhecimento acerca dos monumentos existentes na cidade. O crescente número de visitantes e os resultados efetivos, em termos de procura por opções culturais, fizeram do Centro Histórico da capital capixaba uma referência, em números, nos quesitos restauração de fachadas. As mais de 150 mil visitas registradas nos monumentos do Centro Histórico, juntamente com a implementação de uma sinalização patrimonial interpretativa, concretizaram o Projeto como parte essencial do plano de “turistificação” daquela área do município (CUNHA, 2010). De acordo com a pesquisa ‘’Revitalizar o Centro de Vitória (ES): O Que Dizem os Moradores?’’, realizada pelo curso de ciências sociais da UFES no ano de 2008 (ANJOS E LIMA, 2008), para se compreender o Centro as palavras-chave usadas pela população podem ser resumidas em “proximidade, comércio, facilidades e convivência”, citadas como aspectos positivos do lugar. Como aspectos negativos há a “violência, o trânsito, a falta de atividades de lazer/cultura e a decadência”, esta


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última configurada na perda, ou ausência de atrativos se comparado a outros bairros e regiões, devido a falta de atenção do poder público. Estes levantamentos comprovam que, mesmo depois de mudanças promovidas neste local, não se notam melhorias significativas no âmbito cultural para a região. Percebese que as intervenções ocorridas privilegiam a mera “maquiagem” dos edifícios, sem, contudo, manter as edificações e suas relações mais próximas com o espaço em que vivem, com as instituições em sua volta, com elas mesmas e a população. Sob a ótica dessas transformações é possível afirmar que o processo de patrimonialização dos monumentos pode ser presenciado no Centro Histórico da cidade de Vitória. As obras executadas visaram apenas obter uma mudança superficial, transformando a matéria sem ter o trabalho de rearticular estas edificações com um entorno que se caracteriza pela disponibilidade de comércio e serviços. Mesmo entre as intervenções realizadas não houve nenhum tipo de conexão, sendo assim caracterizadas por uma realidade fragmentada. Gerando assim lacuna de atratividade e conectividade pois as pessoas não são conduzidas a prestigiar este patrimônio, mantendo-se sempre o público de cada uma delas orbitando em seu próprio eixo; devido à ausência de um trabalho que buscasse uni-las de alguma forma, prestigiando a interação e o dinamismo entre estes projetos. Observa-se ainda a necessidade de se intervir nessas práticas, provocando mudanças desejadas pelos os que vivem o cotidiano do lugar e não se restringir apenas para o público visitante, para que a impessoalidade não sobressaia diante do pertencimento e da convivência que deve haver nestes locais. Vale ressaltar que todas as ações de restauração e obras executadas carregam fortemente o discurso da patrimonialização, mas, no entanto, dizem o oposto da realidade revelando que algumas coisas não se concretizam na prática, prevalecendo a linguagem dos núcleos isolados, enfatizados apenas como local de visitação turística ou com a espetacularização do seu patrimônio. Da mesma forma que o patrimônio histórico foi sendo tratado apenas sob a ótica do potencial econômico, com o passar dos anos, os mercados públicos também foram sendo modificados em função disto. Os seus valores antigos foram se alterando, permitindo que o modelo atual se configure como templos de consumo, onde o


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objetivo é apenas suprir as necessidades do comércio propriamente dito, sem ceder locais de sociabilização e interação entre públicos completamente distintos como ocorria antigamente. 3.3.

MERCADOS E O ESPAÇO URBANO

A trajetória histórica dos mercados está diretamente relacionada com o histórico da consolidação das cidades. Estes espaços respondiam às necessidades de abastecimento da população urbana e das regiões mais próximas, o que garantiam a articulação política, territorial e econômica da sua região de influência, prestando o papel de verdadeiras referências urbanas e de vitalidade nas cidades (VARGAS, 2001). Ainda segundo esta autora, a palavra mercado, proveniente do latim mercatu, significa lugar de venda de gêneros alimentícios e outras mercadorias, ou seja, lugar de trato, de compra e venda ou de troca. O encontro e o contato direto entre vendedores, compradores, transeuntes, viajantes permite um mútuo jogo de trocas, pois a troca pressupõe a conversa para que o negócio seja efetivado. É possível reconhecer os lugares de mercado enquanto espaços de sociabilidade, uma vez que estes constituem um locus de interação recíproca entre indivíduos, através de costumes predominantes ou pelo comportamento relacionado às múltiplas atividades, as quais neles, historicamente teceram seu lugar (VARGAS, 2001). Os mercados cobertos ou em praça aberta, a rua de barracas ou de lojas, já tinham encontrado sua configuração urbana por volta de 2000 a.C. Encontrava seu lugar dentro do templo, pelo qual assumia a condição de centro, seja da aglomeração ou de uma “economia totalizadora controlada”. (MUMFORD, 2004). Com o crescimento da população e a complexidade das operações econômicas, esta condição centralizadora passa a se fragmentar em outras partes da cidade antiga, agregando outras atividades (religiosas, jurídicas, morais, artísticas, esportivas e econômicas) (VARGAS, 2001). Os bazaars, bem como as casas atacadistas eram “o ponto de partida e chegada das caravanas [dos povos árabes no Oriente Médio], e eram também os locais de descanso, de troca e de armazenagem de mercadorias” (VARGAS, 2001). Não apenas mercadorias eram negociadas no bazar, opiniões também (RENNÓ, 2006).


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Os princípios morais e filosóficos do islamismo - que tolera a sociedade com diferenças sociais, associados à cultura árabe - que olha para o comércio como uma profissão honorável e fazem dos bazaars (Fig. 13) um monumento público, parte essencial da sociedade e o coração da cidade islâmica”, onde até a mesquita se junta ao complexo (RENNÓ, 2006). Figura 13: O “Velho” Bazaar de Skopje, Macedônia. Herança da antiguidade. Autor: Dina Maria. 2014

Fonte: https://dinamariablogs.com

Na Grécia Antiga, o lugar do mercado era conhecido como Ágora (Fig.14). De acordo com Mumford (2004), nestes locais as funções eram diversas. As Ágoras gregas eram inicialmente em forma de U e incorporavam o entorno da cidade em sua construção3. Após a influência romana, elas foram fechadas. Para os romanos, os locais públicos deviam ser fechados de modo a se criar um ambiente de tranquilidade (RENNÓ, 2006). Raquel Rennó afirma que : Pode-se encontrar as raizes dos mercados públicos atuais nos bazaares árabes, com seus produtos expostos em excesso, a idéia de circularidade dos

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A Agorá era centro dinâmico da cidade grega, visto que os templos gregos não eram lugares para moradia e utilização, mas sim de contemplação (LAMAS, 2000).


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sucks, a profusão de odores, sons e cores entre outros elementos. Também podemos entender, a partir das ágoras, alguns valores que ainda regem formas de comércio bastante comuns nas cidades de hoje em dia.

(RENNÓ, 2006). Figura 14: A ágora romana de Atenas. Herança da antiguidade. Autor: Luiz M G Ribeiro. 2016

Fonte: Arquivo pessoal do Orientador.

Além dos vários tipos de construções que serviam para receber os mercados públicos (cobertos ou não), a praça também desempenhou um papel importante de concentração social na Europa ocidental, sendo que algumas eram específicas para acolher o mercado ao ar livre. Rennó (2006) cita que "para deixar de ser apenas um simples agrupamento humano, a cidade necessita de um centro social, seja ele interno ou externo. Nesta época a praça fazia o papel deste elemento de sociabilização". No início do século XIX surgem dois grandes tipos de estabelecimentos comerciais: os mercados fechados e as galerias (VARGAS, 2001). Estes mercados acolhiam um grande número de lojas, as quais cercavam um perímetro sólido, onde os produtos eram comercializados em barracas, sem coberturas e divisões. Preocupados com as condições sanitárias dos mercados abertos, estes visavam o abastecimento de uma demanda cada vez maior nos núcleos urbanos. As suntuosas galerias e arcadas, por sua vez, adotaram um novo padrão arquitetônico, decorrente do uso do ferro e do vidro, característico nestes empreendimentos;(VARGAS, 2001). Transformaram-se


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em um centro de atividade comercial de vital importância, dando início ao fenômeno da “vida noturna” (VARGAS, 2001). Contudo, Rennó (2006) ressalta que, para garantir mais "sofisticação e classe", houve a iniciativa de torná-las privativas, proibindo certos tipos de produtos, de modo a não "contaminar" as lojas e passagens com o forte "odor das especiarias”, bem como o acesso das prostitutas e dos mendigos. A divisão social também se estabelecia nas construções ostentosas, pelas quais os menos abastados se sentiam constrangidos em acessá-las. O objetivo era “só chamar a atenção daquilo que interessa, os produtos e a compra propriamente dita". Sendo assim, o desenvolvimento desses modelos comerciais virá a influenciar, no século posterior, a criação de novos tipos, tais como, os supermercados e os shopping centers. Desde a segunda metade do século XX, observa-se uma crise da vida social urbana. Desta forma, o contexto atual, pode ser identificado como uma nova realidade social caracterizados pela falta de significado dos espaços públicos, privatização dos espaços e segregação urbana, identificados na cidade por meio de “enclaves” que demonstram um padrão de vida social que rejeita “a vida das cidades, a co-presença e a imprevisibilidade do encontro” nos espaços públicos (BAUMAN, 2001). No contexto comercial, surgiram neste ínterim, novos estabelecimentos e formas de comercialização, tais como, os supermercados, centros comerciais e os shopping centers. Espaços privados que trouxeram uma nova alternativa de consumo, assim como de vida social, em especial os shoppings; uma ameaça aos centros urbanos tradicionais e seus mercados públicos (FILGUEIRAS, 2006). Trata-se da arquitetura do isolamento (RENNÓ, 2006), caracterizada pela produção de simplórias construções em série, das quais não passam de imensos pavilhões fechados sobre si mesmos, sem nenhum interesse arquitetônico (VARGAS, 2001). Os supermercados foram uma iminente necessidade de redução de custos e manutenção das vendas do pós-Crise de 1929 (VARGAS, 2001). Facilita o movimento rápido de uma grande quantidade de consumidores e atendimento ao cliente realizado pela técnica do self-service, excluindo a figura do vendedor (RENNÓ, 2006) onde se encontram funcionários treinados para seguir um discurso padronizado, simulando a naturalidade e a espontaneidade nas relações (RENNÓ, 2006).


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Por outro lado, os centros de compras planejadas – os shopping centers – foram resultados de inovações do sistema varejista, bem como da preocupação com o planejamento territorial das cidades europeias e norte-americanas, congestionadas nas primeiras décadas do século XX (VARGAS, 2001). Bauman (2001) afirma que os shoppings são verdadeiros "templos de consumo", destaca também que por mais cheios que possam estar eles nada possuem de "coletivo", apenas trazem um falso sentimento de pertencimento, ou uma fictícia sensação de fazer parte de uma comunidade. Neste sentido, os lugares de mercado, ainda que tenham se tornado uma “alternativa”, se distinguem claramente da frieza destes "templos de consumo" ditos "purificados" (BAUMAN, 2001). A vitalidade urbana produzida pelos mercados públicos é reconhecida pela concentração de atividades comerciais e pela convergência de indivíduos presentes nos lugares onde estes estão inseridos, qualificando os espaços públicos da cidade com a presença de pessoas em diferentes horários do dia. Os mercados e a presença de atividades outras, nesta ótica, seriam, apenas, uma parcela significativa da riqueza e diversidade urbana, uma vez que eles não assumem sozinhos esta condição, mas se incluem, significativamente, na constituição da vitalidade do lugar.


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4.

CAPÍTULO II: REFERÊNCIAIS TEÓRICOS E CONDICIONANTES NO

PROCESSO DE RESTAURO E INTERVENÇÃO CONSERVATIVA.

Neste capítulo é apresentado o conceito de restauração, assim como as principais teorias que foram desenvolvidas ao longo da história para o trato da preservação do patrimônio. Desta forma são abordadas as teorias de Viollet Le Duc, John Ruskin, Camillo Boito, Cesare Brandi, entre outros, assim como as recomendações da Carta de Veneza. É também fornecido todas as recomendações básicas para os procedimentos de restauro, para o ambiente e/ou entorno da obra de forma a garantir sua adequada conservação física, integridade e também sua leitura geral como obra de arte. Sendo assim, todo este levantamento teórico fundamenta as diretrizes e ações utilizadas em um projeto de intervenção em áreas de interesse de preservação. Por fim, serão destacados os princípios essenciais para o desenvolvimento de um projeto de intervenção e restauro com base em todas as discussões e recomendações abordadas neste capítulo. 4.1. CONCEITO DE RESTAURAÇÃO E TEORIAS DO RESTAURO O conceito de restauração para Brandi (2004): é qualquer intervenção destinada a devolver a eficiência a um produto da atividade humana. A partir disso ele ensina que o restauro se constitui no momento metodológico do reconhecimento da obra de arte na sua consistência física e na dupla polaridade estética e histórica, em vista de sua transmissão para o futuro (BRANDI, 2004).

Outrossim, a Carta de Veneza, em seu 9º artigo define restauração como: Operação que deve ter caráter excepcional. Tem por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese; no plano das reconstituições conjeturais, todo trabalho complementar reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da composição arquitetônica e deverá ostentar a marca do nosso tempo (ICOMOS, 1964).

Além disto, apontando uma ação multidisciplinar, a Carta de Veneza recomenda que a conservação e a restauração dos monumentos se constituam como disciplina que


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reclame a colaboração de todas as ciências e técnicas que possam contribuir para o estudo e a salvaguarda do patrimônio monumental. Outro documento importante, no âmbito das recomendações internacionais de restauro, a Carta do Restauro (MIP, 1972), afirma que restaurar significa reparar e refazer com formas mais grandiosas baseadas nas exigências do momento. Desta forma conclui-se que essas conceituações possuem pensamentos em comum no trato da preservação das características do patrimônio, preservando as suas características para que elas perpetuem ao longo do tempo levando a mensagem de diferentes épocas às gerações futuras. O restauro de monumentos, entendido como consolidação e conservação é um conceito moderno, que exige não só um interesse pelo objeto a ser restaurado, mas também um elevado grau de maturidade histórico artística (CARTA DO RESTAURO, 1972). Entretanto, no século antecedente, foi marcado por momentos em que conviveram simultaneamente outras linhas de conduta, ou pensamentos teóricos, totalmente divergentes. Na França o arquiteto-restaurador Eugène Viollet-le-Duc (1814-1879), defendia a restauração do estilo, ou restauração estilística, pela qual o profissional deveria refazer a edificação procurando a perfeição formal, respeitando as características estilísticas primitivas e desconsiderando aspectos históricos posteriores. Nesta busca pela perfeição era permitido que as partes desaparecidas fossem reconstruídas a partir da profunda análise e compreensão do bem e suas partes existentes. Le Duc defende também a necessidade da restauração, interpretando a arquitetura a partir de uma postura racionalista e não sensitiva (ELIAS, 2007). Apresentando-se com uma vertente contemporânea a Viollet-le-Duc, destaca-se o escritor e crítico de arte inglês John Ruskin (1819-1900) – representante da teoria romântica, ou anti-restauro, que defende a intocabilidade do monumento degradado (MIRANDA, 2014). Sua postura influenciou as tendências modernas em matéria de reconstrução e reintegração, além de despertar o interesse para a conservação preventiva. Na década de 1880 surgem na Itália duas teorias baseadas nas de Viollet-le-Duc e Ruskin, a restauração científica, formulada e defendida por Camillo Boito. Ele defende,


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entre outros pontos, a consolidação das partes existentes e não sua reconstrução. Considera a coexistência dos diferentes estilos que se somam ao monumento, sem buscar nunca sua unidade estilística, assim como, diferenciar claramente o antigo e o novo, o restaurado e o acrescido, afirmando que desta maneira iria se tratar da autenticidade histórica do monumento (ELIAS, 2007). No decorrer do século XX, mais precisamente na década de 1960, a evolução do pensamento e as considerações de Cesare Brandi nos trouxe o Restauro Crítico. Através dele se formou um conceito diferente das teorias anteriores, nele se podia visualizar o restauro como fonte de desenvolvimento filosófico na intervenção da obra de arte (BRANDI, 2004). Considerado o mais atualizado justamente por sua teoria não apenas baseada em um método científico (como fizeram os seus teóricos antecessores), mas principalmente por ter traduzido sua teoria em princípios operativos válidos até os dias de hoje. (MIRANDA, 2014). Ele reafirma a singularidade de cada obra, portanto prega que devam existir soluções únicas para cada restauração. Brandi desenvolve sua Teoria da Restauração que delimita preceitos teóricos que servirão de embasamento à prática do restaurador, aliando suas pesquisas teóricas nos campos da estética e filosofia da arte com as práticas e experiências obtidas na área. Em seu conceito de restauro, exposto em sua obra Teoria da Restauração, Brandi extrai dois axiomas: 1º. axioma: restaura-se somente a matéria da obra de arte”, que se refere aos limites da intervenção restauradora, levando em conta que a obra de arte, em sua acepção, é um ato mental que se manifesta em imagem através da matéria e é sobre esta matéria – que se degrada - que se intervém e não sobre esse processo mental, no qual é impossível agir. Desta forma, evita-se suposições acerca do estado original da obra assim como recriações fantasiosas. 2º. axioma: A restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo. Na busca da unidade estilística, jamais deve-se sacrificar a veracidade do monumento criando falsificações históricas. (BRANDI, 2004).


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Assim, é o estado de conservação da obra de arte no momento da restauração que irá condicionar e limitar a ação restauradora, a qual deverá, sob o ponto de vista da instância histórica, “limitar-se a desenvolver as sugestões implícitas nos próprios fragmentos ou encontráveis em testemunhos autênticos do estado originário”. E em relação à instância estética, os limites da ação do restaurador estão postos em função da matéria original da obra e de sua definição mesmo como obra de arte, pois “a unidade figurativa da obra de arte se dá concomitantemente com a intuição da imagem como obra de arte” (BRANDI, 2004). O que deve guiar a intervenção é, portanto, um juízo crítico de valor, ideia que virá integrar a Carta de Veneza, complementada pela seguinte ressalva: “O julgamento do valor dos elementos em causa e a decisão quanto ao que pode ser eliminado não podem depender somente do autor do projeto”. Daí a afirmação da restauração como processo coletivo, que não pode depender do gosto ou do arbítrio de um único indivíduo, antes deve ser sustentado por profundos conhecimentos, seja do ponto de vista da técnica a ser empregada, seja do ponto de vista humanístico, relacionado com o domínio da história, estética e filosofia, sem os quais não se pode assegurar a legitimidade das escolhas efetuadas nos procedimentos de restauro (CUNHA, 2004). Brandi também define como princípios para intervenção restauradora mais dois aspectos fundamentais: 1º. “a integração deverá ser sempre e facilmente reconhecível; mas sem que por isto se venha a infringir a própria unidade que se visa a reconstruir”; 2º. “que qualquer intervenção de restauro não torne impossível, mas, antes, facilite as eventuais intervenções futuras”. (BRANDI, 2004).

Com esses pontos, mantém-se, como já havia sido posto – desde o século XIX – por Camillo Boito ou Gustavo Giovannoni, a regra da reversibilidade e distingüibilidade das intervenções contemporâneas nos monumentos do passado, datando a restauração como fato histórico indissociável do presente histórico que o produziu. Também no texto de Brandi, assim como nas recomendações da Carta de Veneza, fica clara a extensão dos procedimentos de restauro para o ambiente ou entorno da obra como forma de garantir sua adequada conservação física e também sua leitura como obra de arte. (CUNHA, 2004).


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Sob esta ótica, é importante ressaltar que Brandi pode ser considerado como um dos teóricos mais proeminentes do campo da Restauração devido a sua inovadora reflexão acerca das premissas filosóficas e conceituais que fundamentam esta disciplina. Sua obra publicada, ‘’Teoria da Restauração’’ se baseia em conceitos de fenomenologia. Isto se evidencia através das suas referências, onde percebe-se um notável enraizamento na fenomenologia de Husserl e de Heidegger. Diferentemente das teorias anteriores acerca do restauro, que são pré-concebidas por normas fixas ou dogmas fragmentadores que generalizam os monumentos, Brandi sugere um “método para se chegar ao conhecimento” onde a percepção do objeto estudado se dá em sua totalidade e a formulação do juízo de valor, conforme citado anteriormente, é determinante nas escolhas para a preservação (BRANDI, 2004). É a partir dessa inspiração “fenomenológica” que o teórico italiano fundamentou suas principais teses sobre o conceito de restauração, sendo isto a novidade apresentada em sua abordagem neste campo disciplinar (MENDES, 2012). No estudo da filosofia o conceito de fenomenologia é a tentativa de resgate do contato original com o objeto perdido em sofisticadas especulações abstratas ou em reduções matemáticas e quantificadoras do campo de vivência do ser humano enquanto ser cognoscente ou seja, capaz de fornecer conhecimento. A fenomenologia possui uma história, porém, ela sempre tem que começar de novo pois não se contenta com os conhecimentos descobertos e guardados no passado visando em primeiro lugar a compreensão nova e atual, sendo assim, a fenomenologia não existe uma sequência contínua de crescimento. Neste sentido, não pode ocorrer a existência de seguidores, pois é sempre preciso sempre de novo chegar a visualização e a análise de fenômeno. O fenômeno não pode ser visto e/ou preservado ele deve ser visto sempre de novo. (GREUEL, 1996). Ribeiro (2013) assegura que a fenomenologia e restauração se encontram em duas linhas de atuação de desenvolvimento de preservação: o discurso e a prática. Assim, com a existência deste arsenal teórico, existiram documentos importantes, como a Carta de Veneza que aparentemente exibe um referencial teórico resumido que favorecem ações sustentadas em juízo de valor, potenciais produtores de conflitos de interpretações.


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A partir disto, conclui-se que se amplia, atualmente, de forma radical, a noção do patrimônio como documento, como valor etnográfico, como bem cultural ligado ao grupo social a que pertence. Assim, tudo é história e tudo pode ser então, potencialmente documento histórico de conservação. 4.1.1. Carta de Veneza No trato de bens culturais e necessário, cada vez mais, efetuar menções às chamadas Cartas patrimoniais, frutos de discussões internacionais que desenvolveram a temática de intervenções e salvaguarda do patrimônio histórico. Tais documentos não possuem a pretensão de ser um sistema teórico desenvolvido de maneira extensa e com absoluto rigor, nem de expor toda a fundamentação teórica de um período. As cartas são documentos concisos e sintetizam os pontos a respeito dos quais foi possível obter consenso, oferecendo indicações de caráter geral. Seu caráter, portanto, é indicativo ou, no máximo, prescritivo. A atuação, em vez de partir, como ocorria antes, de uma via empiricamente induzida a partir do objeto, passa a ser pautada numa via deduzida a partir de fundamentação ética e científica, voltada a todos os tipos de manifestação cultural, para depois abordar as particularidades de cada obra. As cartas relacionadas à preservação atuam como um documento de embasamento acerca da conduta dos profissionais da área (HENNING, 2015). O intuito das organizações internacionais em reuniões com especialistas, era, como indica Brandi, "tirar o restauro das obras de arte mais importantes - que como tal pertencem à cultura universal - do arbítrio dos conservadores singulares" e tratar a questão de maneira fundamentada, vinculando-a ao pensamento crítico e às ciências. Fruto do II Congresso Internacional de Arquitetos e de Técnicos de Monumentos Históricos, realizado em Veneza de 25 a 31 de maio de 1964. A Carta de Veneza permanece como documento-base do ICOMOS4, criado em 1965, e acolhido pela Unesco como órgão consultor e de colaboração. Consiste em ser um documento sintético, que apresenta algumas indicações; diferentemente da Teoria da Restauração, de Brandi, que é formulação de maior complexidade e envergadura,

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O ICOMOS é uma associação civil, não-governamental, com sede em Paris. É ligado à UNESCO, onde propõe os bens que receberão classificação de Patrimônio Cultural da Humanidade. Foi criado em 1964, durante o II Congresso Internacional de Arquitetos, em Veneza, ocasião em que foi escrita a Carta de Veneza (ICOMOS, 2011).


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oferecendo bases filosóficas de atuação. Contudo a Carta de Veneza é herdeira direta do restauro crítico e, indiretamente, também da teoria Brandiana (KÜHL, 2010). Atualmente nenhuma outra carta foi feita ou aprovada para substituir a Carta de Veneza porque seus princípios são, ainda, considerados fundamentalmente válidos para o trato de edifícios de interesse para a preservação, continuando a ser o documento-base da instituição. Contudo, suas indicações devem ser interpretadas e aprofundadas para as diversas realidades culturais de cada país. (KÜHL, 2010). No Brasil, este documento é basilar para as intervenções no trato do patrimônio histórico do país. Conforme declara o IPHAN5, através da Carta de Veneza é possível conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e também obter uma postura equilibrada que leva em conta tanto os aspectos histórico-documentais quanto estéticos, por meio de uma reflexão histórico-crítica. No âmbito das intervenções no corpo físico de monumentos históricos a Carta de Veneza oferece considerações importante para nortear os projetos. Afirma que o objetivo das ações de restauro é conservar e revelar os aspectos históricos e estéticos, respeitando os materiais autênticos que, como visto, é a matéria como transformada pelo tempo. Orienta que, caso seja necessário adicionar algum elemento, o acréscimo deverá ser feito com linguagem contemporânea. Sendo necessário aplicar o princípio da distinguibilidade da ação contemporânea: ou seja, qualquer nova inserção deverá colocar-se como novo estrato, que não induza o observador ao engano de confundi-la com a obra como estratificada antes da intervenção, não propondo o tempo como reversível e devendo documentar a si mesma. Segundo KÜHL (2010): (...) na Carta de Veneza, não aparece de maneira explícita outro preceito considerado basilar para a restauração, a "reversibilidade’’ - que juntamente com a distinguibilidade da ação contemporânea, a mínima intervenção e a compatibilidade de técnicas e materiais - é um dos pilares da restauração, a serem respeitados, sempre, conjuntamente. Talvez pelo fato de, na restauração arquitetônica, ser muito difícil de ser alcançada a literal

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Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de âmbito federal, regulamenta as intervenções nos bens tombados em nível nacional.


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reversibilidade - como em tratamentos, feitos com aquarela, de lacunas em afrescos -, a exemplo de determinadas consolidações estruturais. No entanto, esse tema tem sido tratado, mais recentemente e de maneira mais precisa, como "retrabalhabilidade", algo que, mais uma vez, já havia sido enunciado por Brandi, na Teoria da Restauração, em que afirma ser necessário. (KÜHL, 2010).

Acerca de outras recomendações apontadas para a temática do restauro a Carta de Veneza considera que o escopo essencial da restauração não é apenas assegurar a subsistência da obra no presente, mas também assegurar a transmissão no futuro; dado que ninguém poderá jamais estar seguro de que a obra não terá necessidade de outras intervenções no futuro, mesmo que simplesmente conservativas, para tanto, deve-se facilitar e não impedir as eventuais intervenções sucessivas (KUHL, 2010). Com este pensamento, as contribuições válidas oriundas de todas as épocas para a edificação do monumento devem ser respeitadas, visto que a unidade de estilo não é a finalidade a alcançar no curso de uma restauração, a exibição de uma etapa subjacente só se justifica em circunstâncias excepcionais e quando o que se elimina é de pouco interesse e o material que é revelado é de grande valor histórico, arqueológico, ou estético, e seu estado de conservação é considerado satisfatório. Porém, o julgamento do valor dos elementos em causa e a decisão quanto ao que pode ser eliminado não podem depender somente do autor do projeto (KUHL,2010). No que diz respeito de substituição de partes faltantes e acréscimos as recomendações são bem claras. No primeiro caso é aceitável desde que este seja distinguido das partes originais a fim de que a restauração não crie falsificações. E o ultimo são tolerados a medida em que respeitarem todas as partes interessantes do edifício, seu esquema tradicional, o equilíbrio de sua composição e sua relação com o meio ambiente. 4.1.2. Restauro Crítico e Conservativo Voltando ao objeto de estudo, o Mercado da Capixaba, inserido no município de Vitória, será necessário analisá-lo evocando conceitos do restauro crítico conservativo. Essa linha pertence às tendências atuais do restauro que, de acordo com Kühl (2006), está alicerçada na teoria brandiana e na releitura de aspectos do chamado restauro crítico.


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Desenvolvida por Giovanni Carbonara, arquiteto italiano, histórico da arquitetura e teórico da restauração. Considera o restauro um ato de cultura, renega o ripristino6 e levanta questões como a importância do juízo crítico e do entendimento histórico e estético da obra de intervenção (Carsalade apud BELLADONA, et al; s/d). Nesta teoria também, a restauração assume postura conservativa e propõe, quando necessário, o uso de recursos criativos na reintegração de lacunas quando os elementos remanescentes forem insuficientes no fornecimento dos traços para a restituição as partes faltantes durante uma obra de restauro. A vertente críticoconservativa deve ter juízo-crítico baseado na história da arte e da estética (BELLADONA, et al; s/d). Cunha (2010) aponta o posicionamento de Carbonara acerca das intervenções, para uma aproximação entre esta e o contemporâneo: As ações de inserções contemporâneas em áreas ou em bens históricos podem seguir as sugestões da própria obra a ser restaurada, agindo em consonância com esta, ou ainda, de modo dissonante, estabelecendo um contraste. Todavia, essas adições devem ser claramente distinguíveis e efetuadas de modo reversível, sem destruir a matéria original e estudando atentamente a forma de menor impacto e dano ao bem. Para Carborana o meio mais eficaz de se manter a preservação de um bem é através da Reutilização, Reabilitação e Recuperação. A opinião de Carbonara é que a "Reutilização é o meio mais eficaz para a preservação de um bem, pois um monumento sem uso se deteriora rapidamente enquanto que aquele mantido em funcionamento pode durar séculos" (BELLADONA, et al; s/d, apud KÜHL, 1998). Desta forma conclui-se que a teoria crítico-conservativa, aliada ao estudo fenomenológico atual do bem de interesse de preservação é uma das melhores opções quando se fala em intervenção, pois fomenta a proposição de um uso para o espaço a ser restaurado, evitando a acentuada degradação física do patrimônio histórico, pois a reutilização do espaço exige uma manutenção periódica, que mantém um bom estado de conservação do local.

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Reconstituição idêntica do objeto restaurado, que acaba falsificando a realidade e "enganando" o observador, fazendo-o acreditar que a porção acrescida é original. (Carsalade apud BELLADONA, et al; s/d).


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Outro ponto forte na visão crítico-conservativa é o princípio de manter o existente e construir o novo de forma independente, sem mascarar a edificação reverenciando a história. 4.1.3. Princípios essenciais para o desenvolvimento de um projeto de intervenção e restauro. No âmbito de uma metodologia de restauro crítico-conservativo, conforme os referenciais teóricos supracitados, será necessário e possível realizar a intervenção desde que não seja descaracterizada a forma inicial do bem patrimonial dotado de valores e referencias na história do desenvolvimento do município de Vitória. Contudo, será preciso adotar medidas que auxiliem no enquadramento do bem ao novo fenômeno atual das cidades contemporâneas, garantindo sua atualização. Sob a ótica de que a sociedade contemporânea reclama constantemente por cidades aprimoradas com os aspectos culturais e urbanos valorizados; pode-se considerar o patrimônio um agente diretamente ligado a esta resposta. Mas para isso, este último deve exercer uma função social para com a comunidade e também divulgar a importância daquele monumento com o intuito de transmitir conhecimento para a população, ressaltando o valor que este possui. Nesta conjuntura a figura principal e responsável por manter a vitalidade do edifício é a própria população, a partir do reconhecimento de que o local em questão possui um papel importante para a própria sociedade. Desta forma, é de responsabilidade do profissional que atua na preservação, assegurar essa transmissão do conhecimento e garantir que a memória do bem seja mantida, preservando os testemunhos do fazer humano passados e atuais mantendoos respeitados em sua plenitude (CARBONARA apud KÜHL, 2006). Por fim, para viabilidade e conhecimento do monumento é necessário realizar estudos específicos sobre a sua história, o contexto em que foi inserido; as condições atuais da edificação, com destaque em suas patologias e carências; para assim se elaborar um projeto de intervenção capaz de atribuir aspectos positivos ao novo momento.


54

5.

CAPÍTULO III: A REQUALIFICAÇÃO DOS MERCADOS NA ATUALIDADE –

ESTUDOS DE CASO.

Com a finalidade de embasar o desenvolvimento de intervenções para o Mercado da Capixaba e pontuar suas reais necessidades, partindo da análise de situações bemsucedidas, foram estudadas alguns exemplares de Mercados e suas requalificações, conforme aponta o quadro síntese e a conclusão dos estudos realizados. Tais edificações foram selecionadas a partir das suas qualidades arquitetônicas e da operação realizada nos edifícios como medida de valorização da cultura local e salvaguarda de seu patrimônio, atuando juntamente com o novo fenômeno sociocultural nas cidades em que estão inseridos. 5.1.

MERCADO CAMPO DE OURIQUE – LISBOA – PORTUGAL.

Em Lisboa, Campo de Ourique situa-se num planalto que permite uma ampla vista panorâmica sobre a cidade. O Mercado de Campo de Ourique é um dos mais antigos de Lisboa. Da autoria do arquiteto A. Couto Martins, o mercado é inaugurado em 1934. A sua planta de forma trapezoidal (Fig. 15) deve-se às características do terreno em que foi implantado. Nas elevações do edifício desenvolvem-se lojas com comunicação para o exterior e interior. Interiormente, o pé direito elevado, de aproximadamente seis metros, favorece a boa ventilação e a iluminação natural, sendo a cobertura constituída de três telhados de duas águas. A concepção do edifício visou a funcionalidade e praticidade de modo que possa atender às necessidades da população local (Fig. 16).


55

Figura 15: Planta do tĂŠrreo do Mercado de Campo de Ourique do ano de 1990.

Fonte: PORTUGAL, 2014, adaptado pela autora. Figura 16: Interior do Mercado de Campo de Ourique, 2004.

Fonte: PORTUGAL, 2014.


56

Por volta da década de 1980 foi efetuado um projeto de remodelação do mercado objetivando sua ampliação para responder às necessidades e exigências da população. No ano de 2011, ocorreu a requalificação do mercado, aplicando um novo conceito, mais moderno e adaptado por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa (PORTUGAL, 2014). A intervenção remodelou os setores de hortifrúti transformando-os em quatro setores centrais do mercado tradicional, somado a quatro quiosques com novos usos ligados à gastronomia (Fig. 17). Paralelamente foi melhorada a imagem das bancas criando uma nova ambiência. Figura 17: Planta do Mercado de Campo de Ourique, 2014.

Fonte: PORTUGAL, 2014, adaptado pela autora.


57

Assim, estabeleceram-se as condições necessárias para se dar uma nova qualidade ao Mercado, com uma dinâmica que proporciona um funcionamento em horário ampliado, permitindo a instalação de serviços de alimentação e bebidas de qualidade, ligados à gastronomia gourmet (Fig. 18), a presença de chefes de cozinha (Fig. 19) e degustação de bebidas, espaço de apresentações musicais (Fig. 20), distribuídos na área central tendo o comércio tradicional nas extremidades (Fig. 21). Desta forma foi garantida a diversidade de serviços, atraindo públicos variados, facilitando também a interação entre as diferentes faixas etárias (PORTUGAL 2014, apud PROFICO, 2011). Figura 18: Distribuição interna da área central do Mercado remodelada pela intervenção, 2014.

Fonte: skyscrapercity.com. Adaptado pela autora.


58

Figura 19: Novos usos implantados na área central do Mercado de Campo de Ourique, 2014.

Fonte: skyscrapercity.com

Figura 20: Área internamente movimentada e atrações musicais sendo oferecidas ao público.

Fonte: http://smoothfm.iol.pt/


59

Figura 21: Área do comércio tradicional nas extremidades do Mercado, 2014.

Fonte: skyscrapercity.com.

Em relação a implantação, aspectos funcionais, programa e características arquitetônicas foi realizada uma análise detalhada presente no Quadro 1 (pág. 65).

5.2.

MERCADO DE SÃO MIGUEL – MADRID – ESPANHA.

O Mercado de São Miguel está localizado na Praça de São Miguel, parte antiga de Madrid, Espanha; onde se encontra a parte mais importante da cidade, com comércio, cultura e lazer. O edificio é o unico mercado de “arquitetura do ferro” (GIEDION, 2004) existente na região, sendo considerado um patrimônio cultural local. As atividades de comércio no local se iniciaram com bancas ao ar livre em 1835, porém com o aumento da população e as exigências sanitárias o mercado necessitava de adequação. A estrutura vista hoje foi construída em 1915, pelo arquiteto Alfonso Díez Bubé, inspirado em projetos de mercados franceses, utilizando a arquitetura serial do ferro fundido, pós revolução industrial. (MERCADO SAO MIGUEL, 2013) Sua tipologia apresenta uma nova relação urbana pois promove a ligação e continuidade do espaço público, reforçada através da arquitetura empregada que se


60

apropriou de materiais como o ferro e o vidro tornando a edificação ainda mais atraente. Atualmente é um elemento importante para a cidade e atrai um grande número de moradores e turistas, além disto é situado na Praça de São Miguel tornando o seu acesso facilitado. Se configura como um local de comércio de iguarias de vários locais o mundo e um local certo para ser encontrados produtos típicos da culinária espanhola, apresentando para os turistas os costumes e tradições do país (Fig. 22 e 23). Figura 22: Diversificação do comércio no interior do Mercado.

Fonte: http://www.minube.com.br/. Figura 23: Espaço interno de comercialização de produtos do Mercado, 2014.

Fonte: skyscrapercity.com.


61

A análise geral do mercado obtida através de informações da implantação, aspectos funcionais, programa e características arquitetônicas se encontra presente no Quadro 1 (pág. 65). 5.3.

MERCADO DE PINHEIROS – SÃO PAULO – BRASIL

O Mercado Municipal Engenheiro João Pedro de Carvalho Neto, popularmente conhecido como Mercado Municipal de Pinheiros, por se localizar no bairro do mesmo nome. Foi fundado em 1910; naquele tempo era conhecido como ‘’mercado dos caipiras’’, pois era utilizado por muitos comerciantes e produtores do interior de São Paulo (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2016). Inaugurado em 1971, o mercado acabou constituindo um exemplo de projeto de arquitetura que ensejou construção sólida, equilibrada, equacionada com as possibilidades do concreto na época: esbeltez dos pilares, da cobertura e do conjunto da estrutura. Trata-se da edificação que abriga as instalações do mercado distrital de Pinheiros. São 4.196 m² de área construída distribuídos em 52 boxes em dois pavimentos e estacionamento com 1.742 m². Ele atrai olhares pela concepção inteligente do projeto, formato ovoide, pé-direito elevado e espaços no térreo e subsolo que recebem ventilação e iluminação naturais, proporcionadas pelos amplos acessos laterais e pela cobertura peculiar. (O EMPREITEIRO, 2014) Contudo, com o passar dos anos este mercado foi sendo degradado e seus estandes começaram a permanecer vazios. No final do ano de 2012 o cenário de decadência em que o mercado se encontrava foi sendo revertido com a chegada ao local de alguns chefs de cozinha famosos entre a gastronomia da capital paulista. Além disto, novos boxes foram criados dividindo os produtos por Biomas Brasileiros (Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado e Pampas) demonstrando a forma de viver e se alimentar das comunidades que vivem em cada área (Fig. 24). Desde a adoção da nova configuração (Fig. 25) os comerciantes afirmaram ter um aumento de 40% das vendas obtidas (VEJA, 2016).


62

Figura 24: Indicação das áreas de culinária distintas, 2016.

Figura 25: Espaço interno do Mercado, 2016.

Fonte: www.blogdafal.com.br.

Fonte: www.blogdafal.com.br.

O processo foi obtido através de uma parceria com o Instituto ATÁ7 em parceria com a Prefeitura de São Paulo. Esta última, dona da posse do edifício, bancou uma reforma de 1,6 milhão de reais, iniciada em outubro de 2015. As obras incluíram a remodelação do deque, pintura interna e externa e manutenção das redes hidráulica e elétrica, com instalação de iluminação de LED. Com a intervenção, o Mercado de Pinheiros também passa a ser utilizado para cursos, demonstrações e degustações, além de manifestações artísticas e espaço de exposição de artistas plásticos. Para contribuir com a movimentação, divulgação e com o próprio comércio instalado (Fig. 26 e 27) foram criados eventos como feiras de gastronomia com diversidade de pratos da culinária oferecidos a preços acessíveis aumentando assim a rotatividade de pessoas. De acordo com o secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo a proposta busca intervir e incrementar com novos usos, sem descaracterizar o tradicional uso do lugar.

1.1.

7O

Insituto Atá, liderado pelo Chef de cozinha Alex Atala, mundialmente famoso atua com o objetivo de incentivo à pratica de uma culinária sustentável.


63

Para obter informações mais detalhadas quanto à implantação, aspectos funcionais, programa e características arquitetônicas foi realizada uma análise detalhada presente no Quadro 1 (pág. 65). Figura 26: Restaurante renomado em SP atualmente presente no Mercado de Pinheiros, 2016.

Figura 27: Espaço de venda de produtos típicos no Mercado de Pinheiros, 2016.

Fonte: vejasp.abril.com.br.

Fonte: www.blogdafal.com.br.

5.4.

CONCLUSÃO DOS ESTUDOS DE CASOS

A partir da pesquisa e análise desses casos, assim como a aplicação de uma metodologia fundamentada em temas de composição (PAUSE E CLARK, 1983) foi possível observar questões comuns entre os mercados abordados a partir da analogia de edificações distintas com a mesma função e inseridas em contextos urbanos diferentes. Tal avaliação foi efetuada se baseando em questões como: implantação, conteúdo, perspectivas dominantes, composição, definição espacial, estrutura, hierarquia, equilíbrio, ritmo, sequência de cheios e vazios e circulação. Os casos estudados sofreram problemas de abandono e falta de público ao longo dos anos, contudo, encontraram uma solução para preservação e requalificação a partir de sua modernização e adequação aos fenômenos atuais e dinâmica das cidades contemporâneas (Quadro 1). Foi perceptível a grandiosidade que todos os casos apresentaram no quesito implantação, ocupando a totalidade do lote e quadra na qual se situam. Além disto, ficou claro que tais edifícios, apesar de serem completamente distintos, exibem princípios semelhantes, porém trabalhados com elementos diferentes, conforme


64

apresentam as características de ritmo, hierarquia e equilíbrio, presentes em todas as situações estudadas, mas que foram evidenciadas da forma que melhor se adaptavam ao contexto urbano local. É notório que o sucesso na requalificação desses mercados ocorreu em função dos usos aplicados - diversificados e atuais - possibilitando a frequência de um público mesclado entre classes sociais e faixas etárias distintas, contribuindo assim, no processo de revitalização, interação social e a existência de lugares com vitalidade.


ANÁLISE

MERCADO DE CAMPO DE OURIQUE - LISBOA

MERCADO DE SAN MIGUEL - MADRID

MERCADO DE PINHEIROS – SÃO PAULO

CONTEXTO/ SITUAÇÃO

R. Coelho da Rocha, Lisboa, Portugal. Via principal de bairro.

Praça de São Miguel, Madrid, Espanha.

R. Pedro Cristi, Pinheiros, São Paulo, Brasil. Via local de bairro.

IMPLANTAÇÃO

Ocupação inteira do lote, no limite da testada.

CONTEÚDO

VISUAIS E PERSPECTIVAS DOMINANTES

Comércio de especiarias; Café; Bar; Comércio de Carnes (branca, vermelha); Locais de convivência e mesas; Comércio de bebidas (gelados, garrafeira); bancas de hortaliças, frutas, flores; Restaurantes de comida japonesa, pizzaria, pastelaria, petiscaria, marisqueira e hambúrgueres, dentre outros.

Ocupação inteira do lote, no limite da testada. Comércio de especiarias; Café; Bar; Comércio de Carnes (branca, vermelha); Locais de convivência e mesas; Venda de cosméticos; Bancas de hortaliças, frutas, flores e produtos orgânicos; Enoteca; Restaurantes de massas, pastelaria, petiscaria, pescados e docerias.

Implantação recuada em relação ao limite da testada do lote, dando lugar a uma calçada ampla para conforto dos pedestres. Café; Comércio de Carnes (branca, vermelha); Locais de convivência e mesas; Bancas de hortaliças, frutas, ervas, cereais, laticínios; Tabacaria; Comércio de assas e Restaurantes de pratos típicos regionais.


COMPOSIÇÃO: COMPLEXA OU SIMPLES

A composição do edifício é complexa externamente e internamente. O exterior é composto por volumes acoplados e fachadas distintas. No interior, o local apresenta um espaço inesperado, com qualidade e A composição da edificação é simples, harmônica e A composição da edificação é simplória, funcional e se detalhes que se revelam apenas para quem se adentra no possibilita fácil entendimento e percepção da totalidade da destaca pela forma como foi concebida a sua cobertura, sendo algo diferenciado na localidade. espaço, os locais de comércio apresentam volumes obra. simples, retangulares e sua composição são destacadas pela iluminação natural e artificial do local.

Composto por um volume único e uma predominância de linhas verticais que se destacam na fachada, através dos elementos de vedação e cobertura que foram utilizados.

DEFINIÇÃO ESPACIAL

Composto por um volume único de formato trapezoidal e marcação de planos que avançam e recuam se destacando em todas as fachadas.

Composto por um volume único e uma sequência de linhas retilíneas predominantes nas fachadas.


ESTRUTURA E FORMA

Sua forma é composta por um trapézio (conforme o Sua forma é simplificada e é marcada pelo uso de do ferro desenho da quadra), quatro cilindros acoplados a ele e fundido como elemento estrutural e o vidro tornando o Seu volume é simples, sem adornos de formato uma torre na centralidade de uma das fachadas. A edifício mais atraente, criando vitrines além de promover uma sensação de continuidade do espaço público ovóide. Se apresenta mais ligado a questões estrutura utilizada foi em concreto. funcionais do edifício e qualidade do espaço interno. existente na área frontal do edifício.

HIERARQUIA

Destaca-se os volumes cilíndricos cobertos por cúpulas nas extremidades do edifício, assim como a torre disposta na parte central da fachada voltada para a R. Coelho da Rocha.

Apesar de seu volume possuir uma homogeneidade em O edifício apresenta uma clareza na hierarquia sua composição, o edifício apresenta percepção de marcada pelo elemento de vedação constituído de hierarquia em suas colunas de ferro distribuídas ao longo gradis, alvenaria e vegetação. das fachadas e através dos adornos aplicados, se destacando da totalidade.

EQUILÍBRIO: SIMETRIA E ASSIMETRIA

E uma edificação formada por um único volume simétrico e equilibrado.

É um edifício simétrico e harmônico de maneira geral.

É um edifício simétrico e equilibrado. Utiliza adornos na parte superior das fachadas para marcar exteriormente os acessos.


Os elementos em uso na fachada são constantemente repetidos e dispostos numa mesma ordem: jardim, alvenaria e gradil de vedação.

RITMO

As fachadas possuem elementos centrais distintos, entretanto, todas elas possuem uma sequência ritmadas Apresenta a repetição constante de elementos decorativos de aberturas. na fachada e as colunas que possibilita um caráter distinto e monumental.

CHEIOS E VAZIOS

CIRCULAÇÃO E USO

As aberturas de esquadrias se encontram bem As aberturas não se encontram evidenciadas em forma de evidenciadas nas fachadas, marcando em sua totalidade esquadrias, o volume se encontra com total transparência por cheios e vazios. e somente os acessos são destacados nas fachadas com o nome do mercado.

As aberturas marcadas nas fachadas são aquelas que determinam o acesso de pedestres. Os locais de ventilação e iluminação não são evidenciados na fachada, sendo eles proporcionados pelos amplos acessos laterais e pela cobertura peculiar.

O térreo deste edifício foi destinado para o mercado de abastecimento e sua circulação principal é feita pelo centro e pelas extremidades, onde estão localizadas as rampas, responsáveis pela circulação vertical. O centro do mercado de abastecimento possui pé direito duplo. O primeiro pavimento atende Os acessos evidenciados nas fachadas foram dispostos ao uso gastronômico e sua circulação se restringe pela na posição central do edifício, assim como sua circulação lateral, a frente dos boxes que foram construídos A circulação principal é feita de maneira centralizada com principal. Os corredores entre os comércios foram voltados para a área interna do edifício, onde se é o comércio disposto nas laterais, evidenciando assim a destinados apenas para a circulação secundária. possível ver todas todas as bancas de hortifruti simetria e o ritmo característico deste edifício. localizadas no térreo.


69

6.

CAPÍTULO IV: DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL DO ENTORNO

IMEDIATO DO MERCADO DA CAPIXABA-ES. Neste capítulo é relatado todo o caráter investigativo desenvolvido em prol do objeto de estudo desta pesquisa. Apresenta-se os antecedentes históricos do Mercado da Capixaba, bem como o diagnóstico urbanístico desenvolvido em sua área de entorno. Desta forma expõe-se a legislação vigente no local em questão, sua morfologia urbana, uso e ocupação do solo, potencialidades de usos e funções, vias de circulação, gabarito, paisagem cultural e semiótica do ambiente urbano. Para tanto, foi analisado um recorte de área que compreende um raio de aproximadamente 250 metros da área circunvizinha do Mercado. Isto ocorreu em função das percepções, sensações e análises do ponto de vista das pessoas que vivenciam esta localidade e a forma como todas as características influenciam na vida das mesmas. 6.1.

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Segundo Hermany (2009), o Mercado foi projetado pelo arquiteto Joseph Pitilick 8 em uma composição estética carente de referências históricas precisas. Tinha o objetivo comercial e de abastecimento, era também uma referência na vida econômica e social de Vitória. Constituía uma “praça comercial” protegida por quatro alas dispostas sobre o perímetro de uma das quadras resultantes das recentes urbanizações, além de entreposto de secos e molhados, de carnes e frutas, de verduras e legumes frescos, era um ponto de encontro e de convívio intenso. Internamente, o espaço, organizado a partir de um pátio central, é o principal responsável pela ligação do interior com o exterior, por meio de suas múltiplas portas. Sua fachada principal foi especialmente tratada com rusticações no reboco, faixas lisas com molduras retangulares na altura do peitoril do pavimento superior e relevos horizontais na platibanda. Em uma discreta elevação, à título de frontão, associada à posição central do vão de acesso ao pátio interno, o brasão do Estado do Espírito Santo marca o caráter público da edificação. Inicialmente a principal função do mercado era o abastecimento alimentício da cidade. Pela avenida Capixaba, atual Jerônimo Monteiro, no térreo e no seu pavimento

8

Arquiteto tcheco responsável pela produção arquitetônica de outras obras de grande importância no município de Vitória. (VENTORIM, 2010).


70

superior funcionava o “Hotel Avenida” de propriedade particular.9 Contudo, na década de 1920, houve a transferência de parte das atividades do Mercado da Capixaba, para a Vila Rubim. Numa segunda fase (décadas de 1950 e 1960), duas alterações promovem concorrentes dinamismos. Vinculada à dinâmica de usos, a ocupação do piso superior da ala da avenida pelo auditório da Rádio Espírito Santo agitava sua audiência. Enquanto isso, no térreo, a atividade comercial vinculada ao abastecimento alimentício se mantinha. Ao mesmo tempo, a execução de aterros visando expandir a cidade e melhorar sua ligação com os bairros litorâneos, e o incremento do fluxo de veículos automotivos, ensejava sutis mudanças para o futuro. Com a conclusão dos galpões para o novo mercado da Vila Rubim, em 1969/1970, o Mercado da Capixaba foi aos poucos sendo desocupado, perdendo sua função de abastecimento alimentício da cidade que, à época, retirou-se totalmente desse local. Sendo assim, de lugar de encontro e convívio intenso, o Mercado da Capixaba se transformou em espaço de passagem ausente. (HERMANY, 2009). Até o ano de 1970 a posse do Mercado era do Município, depois, esta condição passa ao Governo do Estado do Espírito Santo que repassa o direito de uso, por tempo indeterminado, para duas empresas privadas de direito público, a Fundação de Esporte Amador e Recreação do Espírito Santo, e a Empresa Capixaba de Turismo – Emcatur (Fig. 28). Essa é uma alteração com expressivos impactos sobre a condição de uso e de conservação do edifício, resultantes, especialmente, da locação de sua área para estabelecimentos comerciais sem vínculos com sua destinação original.

9

Nesta mesma época de funcionamento do mercado alimentício, o mar batia próximo de sua fachada posterior, atualmente Av. Princesa Isabel, onde havia um atracadouro. Esta solução era ideal, pois facilitava o acesso de pequenas embarcações, proporcionando transporte barato aos produtos da pequena lavoura. (BONI E MELLO, 2003).


71

Figura 28: Mercado da Capixaba ocupado por empresas privadas na década de 1980.

Fonte: Arquivo da PMV/SEDEC/GPU.

Em 1979 foi iniciado a venda de artesanatos no edifício do mercado. Suas instalações foram dispostas na parte interior, no pátio central do edifício. O processo de retomada da posse do Mercado da Capixaba pela Prefeitura Municipal de Vitória foi mobilizado a partir de 1993 (HERMANY, 2009). No ano de 1995, o Mercado foi submetido a um processo de reforma que tinha o objetivo de adaptar o segundo andar do edifício para receber a Secretaria Municipal de Cultura. Em 1996 ocorreu a inauguração do espaço como abrigo da Semc, iniciativa do então prefeito Paulo Hartung. (PREFEITURA DE VITÓRIA, 2010). Em 2002, um incêndio iniciado em uma loja do andar térreo, na esquina do mercado, ocasionou o desabamento da estrutura do telhado do primeiro andar, sendo este local o mais atingido pelas chamas. Esse fato levou com que a SEMC deixasse de operar suas atividades naquele local, mudando-se para um novo endereço. Contudo, a área interna onde permanecia a venda de artesanato não foi atingida. (PMV/SEDEC/GPU, 2016).


72

Desde então o primeiro pavimento não foi mais ocupado e a edificação não passou por reformas de reparo, tendo em seu térreo apenas poucos estabelecimentos comerciais que ainda permanecem em funcionamento juntamente com a venda de artesanatos no seu interior. 6.2.

LEGISLAÇÃO URBANA

O Mercado da Capixaba está situado no Centro da capital espírito santense, nas proximidades das margens da Baía de Vitória. O trecho deste bairro em que esta edificação está situada é definido pelo Plano Diretor Urbano como Zona de Ocupação Preferencial (ZOP2/02). Ela é composta por áreas de transformação urbana acelerada e por grandes áreas desocupadas. Além disto, são toleradas atividades de todos os tipos de grupos dentro desta Zona. (LEI Nº 6.705, de 2006). Figura 29: Recorte do mapa do Zoneamento Urbano, com destaque no objeto deste trabalho.

Fonte: PLANO DIRETOR URBANO (2006).

Segundo o PDU, os objetivos desta zona são: I - Induzir, sob a coordenação do Poder Público, os processos de transformações urbanas; II - Preservar visuais de marcos significativos da paisagem urbana;


73

III - Estimular o uso múltiplo, com interação de usos residenciais e usos não residenciais. Os índices urbanísticos impostos permitem que a taxa de ocupação (TO) seja de 60% da área total do lote, a taxa de permeabilidade (TA) de 10%, o CA de 2,4 para empreendimentos de outros grupos, desde que não sejam residências unifamiliares. Os afastamentos mínimos permitidos são de quatro metros na área frontal do terreno e o lateral só é exigido quando a edificação ultrapassa o segundo pavimento, sendo necessário 1,5 metro. Nesta zona também, não foi limitado o gabarito máximo para cada lote. 6.3.

MORFOLOGIA URBANA

Conforme demonstra o Mapa 01 as áreas planificadas, oriundas dos aterros, possuem uma malha viária distinta das outras regiões do entorno, devido a via apresentar dimensões ampliadas e de forma mais ortogonal. Observou-se também que os lotes ocupados possuem em sua maioria edificações que preenchem toda a área do lote, aparentemente sem respeitar os afastamentos mínimos e os coeficientes impostos no PDU atual. Estes lotes mais próximos da baia de Vitória, oriundos dos sucessivos aterros no século XX, foram dispostos em uma malha mais regular e também com maiores dimensões, seguindo os princípios modernizadores de diferentes gestões, enquanto na parte mais primitiva da ocupação do território da Villa da Vitória os lotes possuem dimensões menores, herança do período colonial. Devido a malha urbana implantada neste trecho analisado ser mais retilínea, notouse que os lotes seguiram esta característica, entretanto apresentam dimensões bem diferentes uns dos outros, provavelmente tiveram alteração do microparcelamento original. Os lotes que possuem formatos totalmente irregulares são os da região de topografia mais acentuada, como visto, onde se percebe um traçado mais irregular herdado das primeiras ocupações na área. Notou-se também que há um adensamento na área de estudo, com algumas exceções de lotes vazios ou parcialmente ocupados.


360600,000000

0,1

KM 0,2

7752400,000000

7752400,000000

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7752600,000000

0

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BAÍA DE VITÓRIA

360600,000000

Sistema de Referência: SIRGAS_2000_UTM_Zone_24S WKID: 31999 Authority: EPSG Projection: Transverse_Mercator Fonte: Vitória em Mapas; Data: 21 de maio de 2016 Data: 21 de maio de 2016 Elaboração: Sthéphi Wagmacker

360900,000000

361200,000000

M A PA 0 1 : M O R F O L O G I A U R B A N A

Universidade Vila Velha

Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho de Conclusão de Curso

Área de Projeto

Lote

Área de Estudo

Estrutura Viária

Edificação

Curvas de Nível

±


75

6.4.

USO DO SOLO

Com base no levantamento obtido da área foi observado que o principal uso da poligonal de estudo é o comercial, concentrado nas três principais vias. Destaca-se uma grande diversidade de atividades comerciais como: vestuário, calçados, eletrodomésticos, farmácias, equipamentos eletrônicos, esportivos, dentre outros pela avenida Jerônimo Monteiro. Há também, pela avenida Princesa Isabel, uma concentração de agências bancárias e edifícios de salas comerciais responsáveis por grande parte da movimentação de pessoas na região. Nota-se também que os usos residências se concentram em sua maioria nos locais de topografia mais acentuada conforme destaca o Mapa 02, sendo caracterizados também como uma região que não sofreu grandes modificações de seu traçado, após os aterros ocorridos ao longo do processo de desenvolvimento de Vitória. Com base em todo o levantamento obtido percebe-se que as diversas atividades implementadas nesta poligonal são compatíveis com a legislação vigente, pois segundo o PDM, as atividades de todos os tipos de grupos são compatíveis com esta Zona (ZOP2/02).


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BAÍA DE VITÓRIA

360600,000000

Sistema de Referência: SIRGAS_2000_UTM_Zone_24S WKID: 31999 Authority: EPSG Projection: Transverse_Mercator Fonte: Vitória em Mapas; Data: 21 de maio de 2016 Data: 21 de maio de 2016 Elaboração: Sthéphi Wagmacker

360900,000000

361200,000000

M A PA 0 2 : U S O D O S O L O

2 Universidade Vila Velha

Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho de Conclusão de Curso

Área de Projeto

Residencial Unifamliar

Praça

Sem uso

Misto

Área de Estudo

Residencial Multifamiliar

Comércio

Curvas de Nível

Outros(Ensino, saúde etc)

Lote

±


77

6.5.

POTENCIALIDADES DE USOS E FUNÇÕES

Foi observado que o local oferece uma ampla oferta de comércios e serviços e escassos os locais voltados ao lazer e cultura. Dentro da poligonal de estudo existem três praças, contudo elas são caracterizadas de maneira geral como ambientes de passagem de transeuntes e não como ambientes de permanência. Todas possuem boa localização, se apresentam com boa infraestrutura, mas, no entanto, faltam ser exploradas conexões com o resto da cidade. A Praça Princesa Isabel e a Costa Pereira, apresentam vocação para a realização de eventos e atividades noturnas por se localizarem nas proximidades de equipamentos culturais. Nas imediações da primeira se encontram o Teatro Carlos Gomes e o Centro Cultural Sesc Glória. Esta última, no entanto, se localizará nas redondezas do Mercado da Capixaba, o objeto deste trabalho. Conforme o Mapa 03 apresenta, o público frequentador desta região é geralmente atraído pelo comércio ofertado assim como outras instituições: Tribunal Regional do Trabalho, Receita Federal, OAB, Agências Bancárias, Faculdade de Música, Igreja Batista, PROCON, SECON, CESAN, além de instituições culturais no entorno da Praça Costa Pereira aqui citadas anteriormente. No quesito infraestrutura, a área atualmente se encontra bem servida de energia, água e tratamento de esgoto. Desta forma, neste quesito o local é avaliado como de boa qualidade. Vale ressaltar que no âmbito das atividades comerciais, fortemente atrativas de público na área, o ramo alimentício, dentro da categoria de restaurantes, apresentase limitado a existência de quatro estabelecimentos apenas (Mapa 3), sendo um de ‘’fast food’’ e os demais classificados na categoria de ‘’self service’’. Quanto as áreas de estacionamentos existentes no entorno do objeto deste estudo, O Mercado da Capixaba, notou-se que grande parte dos empreendimentos atratores de público se localizam nas três principais vias, porém elas são definidas pelo Plano diretor urbano como arteriais e por isso não contam com áreas lateral destinada para estacionamento. Todas as demais vias são utilizadas para estacionamento e além disto, empreendimentos de porte maior contam com seus próprios estacionamentos dentro do limite de seus terrenos. Há também outras opções como os estacionamentos rotativos (Fig. 30) que acontecem dentro de terrenos vazios ou como


78

ocorre no caso da Rua Alda Maria Lyra Vicentini a Rua foi totalmente fechada para ceder lugar para tal, a fim de atender a demanda (Fig. 31). Figura 30: Estacionamento rotativo localizado na Rua JosuĂŠ Prado.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.

Figura 31: Estacionamento Rotativo localizado na Rua Alda Maria Lyra Vicentini.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.


360600,000000

0,15

RESTAURANTES DA ÁREA DE ESTUDO

KM 0,3 7752800,000000

0,075

361200,000000

7752800,000000

0

360900,000000

01

05

02

2

03

7752600,000000

7752600,000000

03

04

02

04

7752400,000000

7752400,000000

01

05

BAÍA DE VITÓRIA

360600,000000

Sistema de Referência: SIRGAS_2000_UTM_Zone_24S WKID: 31999 Authority: EPSG Projection: Transverse_Mercator Fonte: Vitória em Mapas; Data: 28 de maio de 2016 Data: 28 de maio de 2016 Elaboração: Sthéphi Wagmacker

360900,000000

361200,000000

M A PA 0 3 : P O T E N C I A L I D A D E S D E U S O S E F U N Ç Õ E S Estacionamentos rotativos

Universidade Vila Velha

Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho de Conclusão de Curso I

) )

Sebrae Cons. Reg. de Enfermagem Procuradoria da República Ordem dos Advogados do Brasil

9

:

Receita Federal Tribunal Regional do Trabalho Igreja Batista Agência Bancária Praça

2 ! ! ! !

Área de Projeto Teatro Carlos Gomes MAES FAFI C. Cultural Sesc Glória

Edificação Curvas de Nível Área de Estudo

±


80

6.6.

VIAS DE CIRCULAÇÃO

Segundo Lynch (1997) as vias podem ser definidas como: Canais de circulação ao longo dos quais o observador se locomove de modo habitual, ocasional ou potencial. Podem ser ruas, alamedas, linhas de transito, canais, ferrovias. Para muitas pessoas, são estes os elementos predominantes em sua imagem. (LYNCH, 1997).

Sendo assim e através dos levantamentos obtidos, conclui-se que o trecho em análise é composto por três vias importantes para o Município de Vitória pois são classificadas como arteriais de abrangência metropolitana, elas são: Jerônimo Monteiro, Princesa Isabel e Mal. Mascarenhas de Morais. Tais vias assim são definidas por promoverem ligações intermunicipais que funcionam na coleta e distribuição dos fluxos de veículos que circulam pelos centros metropolitanos com maior concentração de atividades. (PLANO DIRETOR URBANO, 2006). Em dias úteis (segunda a sexta) onde todo o funcionamento do comércio ocorre de maneira recorrente, ocorre um ponto nodal entre a Praça Costa Pereira e a Av. Jerônimo Monteiro. Segundo Lynch (1997) o ponto nodal pode ser definido como pontos em locais estratégicos de foco intensivo, que o observador pode identificar, sendo funções, ou locais bloqueados pelo transporte, cruzamento de vias ou sendo uma concentração de adensamento de veículos e pedestres (Fig. 32). Figura 32: Ponto Nodal existente na Av. Jeronimo Monteiro, em frente ao Sesc Glória.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.


81

Foi observado também que em todas as três avenidas, existe um fluxo intenso nos dias úteis em função do comércio, tendo nos finais de semana uma concentração e movimentação de carros reduzida, sendo na maioria das vezes utilizadas por pessoas que estão de passagem neste trecho da cidade. As demais vias perpendiculares às três avenidas arteriais são consideradas como vias locais de médio a baixo fluxo, importantes por promoverem ligações entre as vias de âmbito metropolitano. Além disto, estas vias possuem estacionamento com sistema de controle rotativo obtido através de parquímetro instalado pela prefeitura, gerando, aproximadamente, 800 vagas. Vale ressaltar que não foi constatado na área de estudos a presença de ciclovias. Conforme aponta o Mapa 04, apenas foi apontado no PDU o trecho da Av. Mal. Mascarenhas de Morais como local onde se prevê um projeto como este.


360600,000000

0,1

KM 0,2

7752400,000000

7752400,000000

7752600,000000

0,05

361200,000000

7752600,000000

0

360900,000000

BAÍA DE VITÓRIA

360600,000000

Sistema de Referência: SIRGAS_2000_UTM_Zone_24S WKID: 31999 Authority: EPSG Projection: Transverse_Mercator Fonte: Vitória em Mapas; Data: 21 de maio de 2016 Data: 21 de maio de 2016 Elaboração: Sthéphi Wagmacker

360900,000000

M A PA 0 4 : V I A S D E C I R C U L A Ç Ã O

Escadarias Concentração de Pedestres

Universidade Vila Velha

Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho de Conclusão de Curso I

Ciclovia - Projeto

/

Nós viários

361200,000000

Via Local - Fluxo Médio

Edificação

Via Local - Fluxo Baixo

Lote

Via Arterial Metrop. - Fluxo Intenso

Curvas de Nível

Área de Projeto

Área de Estudo

Praça

±


83

6.7.

GABARITO

De maneira geral a área de estudos apresentada no Mapa 05, a predominância de gabarito baixo, de 1 a 3 pavimentos sendo a outra parcela das edificações com gabarito que variam de 4 a, aproximadamente, 20 pavimentos. Observou-se que nos locais de topografia mais acidentada as edificações foram implantadas com altura menor, em função de serem fruto de uma ocupação mais antiga, enquanto nos locais de aterro, onde a ocupação ocorreu mais recentemente, percebeu-se a presença de muitos edifícios acima de 4 pavimentos e outros chegando a ultrapassar 20 pavimentos. A Avenida Jerônimo Monteiro, fruto das primeiras grandes modificações ocorridas na área, comporta edificações mais baixas, tendo algumas poucas exceções contrárias a isto. As quadras voltadas para a Jerônimo Monteiro apresentam altura moderadas já aquelas voltadas para a beira mar apresentam alturas mais elevadas, concentrando muitos edifícios de serviços e instituições. Na avenida Mal. Mascarenhas de Morais se encontra num trecho mais valorizado, por se tratar de uma área integrada a uma forte componente da paisagem cultural do lugar: a baía de Vitória. Desta forma, se apresenta com gabarito diversificado, predominando edifícios com uma altura maior que 8 pavimentos. Essa característica pode ser relacionada com o fato destas edificações terem sido construídas num período onde se dispunha de mais tecnologia, ideal modernizador e políticas de crescimento vertical para se obter um melhor aproveitamento do lote na área central. De maneira geral, foi verificado que a altura das edificações presentes, seguem o que está disposto no Plano Diretor Urbano (LEI Nº 6.705, de 2006), pois ele afirma que nesta Zona (ZOP2/02) não existe um limite para o gabarito máximo.


360600,000000

0,1

7752600,000000

0,05

361200,000000

KM 0,2

7752600,000000

0

360900,000000

7752400,000000

7752400,000000

1

BAÍA DE VITÓRIA

360600,000000

Sistema de Referência: SIRGAS_2000_UTM_Zone_24S WKID: 31999 Authority: EPSG Projection: Transverse_Mercator Fonte: Vitória em Mapas; Data: 21 de maio de 2016 Data: 21 de maio de 2016 Elaboração: Sthéphi Wagmacker

360900,000000

Universidade Vila Velha

Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho de Conclusão de Curso

M A PA 0 5 : G A B A R I T O 1 a 3 PAV.

16 a 20 PAV.

4 a 7 PAV.

12 a 15 PAV.

8 a 11 PAV

Maior que 20 PAV.

1

361200,000000

Área de Projeto Estrutura Viária Área de Estudo

±


85

6.8.

PAISAGEM CULTURAL

Vitória é uma cidade de antigas edificações. Mesmo antes de tornar-se a capital do Espírito Santo, seu território já comportava capelas, fortes e espaços articulados com a paisagem natural, entre o mar e a montanha. Atualmente este conjunto é percebido como patrimônio histórico que trazem à ilha a história da dominação religiosa, a luta dos nativos e o desenvolvimento a partir da proclamação da república. (PREFEITURA DE VITÓRIA, 2010). Os lugares que abrigam parte do patrimônio nos contam histórias, nos levam ao passado, nos fazem pensar que o que temos hoje é fruto desse passado. As construções são marcas dessa história e memória do lugar. Essas construções são a materialização dessa memória e contribuem para que a história local possa ser contada para futuras gerações. É de fácil identificação estes locais da cidade, suas formas construídas denunciam a passagem do tempo, são tipos de construções específicas, tipologias, vocabulários arquitetônicos, materiais de fácil percepção e distinção dos demais espaços da cidade. Os patrimônios (materiais e imateriais) são elementos/objetos que carregam em si as marcas do tempo e oferecem uma identidade urbana; são testemunhos de todos os processos de transformação que ocorrem na cidade. Juntos formam a Paisagem Cultural da cidade. De acordo com o IPHAN ela pode ser definida como uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores. (IPHAN, 2014) Sendo assim, conclui-se que para a percepção da Paisagem Cultural se faz necessário materializar a cultura em forma de patrimônio formando a memória urbana, que é um importante agente na constituição da identidade de um lugar. De maneira geral, o Centro de Vitória está carregado dessa memória coletiva urbana, por ser marcado pelo processo de formação e desenvolvimento da capital capixaba. A parte mais antiga da ilha, é plena de um acervo patrimonial tanto material, como imaterial. Edifícios históricos, igrejas e antigos conventos, casarões e teatros, são algumas das construções marcantes visualmente e historicamente do Centro de


86

Vitória que ordenam esta percepção junto à paisagem local e as práticas e tradições da população. A área definida por “Cidade Alta” é onde estão concentrados os locais que mais guardam a memória histórica de Vitória. Ali, estão localizadas as igrejas católicas, palácios e outras edificações de grande valor cultural. Esta área é compreendida como um lugar de memória através das edificações, significados, características e singularidades que não encontramos em outro ponto da cidade de Vitória. Dentro da delimitação da área de estudo são encontrados alguns exemplares importantes do patrimônio de Vitória. Atualmente não se pode definir a paisagem cultural do município por um conjunto, assim como se tem em outras cidades históricas, pois não se existe a ideia de salvaguarda do sítio histórico nesta região, o que ocorre é apenas a preservação de edificações isoladas que por fim se definem como a paisagem cultural desta localidade. Desta forma destaca-se o Museu de Artes do Espírito Santo (MAES), A Escola Técnica Municipal de Teatro, Dança e Música (Fafi), O Centro Cultural Sesc Glória, o próprio Mercado da Capixaba, a Praça Costa Pereira, o Teatro Carlos Gomes e a Igreja do Rosário, estes dois últimos apesar de não estarem diretamente dentro da poligonal de estudo, se encontram bem próximos e influenciam no tema em análise, conforme aponta o Mapa 06. Conforme já foi dito anteriormente, percebeu-se que com o passar dos anos as relações que esta região tinha com o mar foi se perdendo em função dos aterros que foram sendo executados consecutivamente com objetivo de aumentar e retificar a orla da Baía. Toda a paisagem e aproximação que as edificações tinham com o mar foram sendo esquecidas pela população. Atualmente, o que se encontra são pequenos trechos onde pode ser avistado o mar e o morro do Penedo10 (Fig. 33 a 35). Um local onde se percebeu muitos remanescentes históricos e que fizeram parte da vivência da cidade durante anos foi a Praça Costa Pereira (Fig. 36 e 37). No caso do Mercado da Capixaba toda a sua paisagem composta entre edificação e mar foi perdida (Fig. 38 e 39) devido ao porte das edificações e o traçado da região, não favorecendo qualquer contato visual que de certa forma o aproximasse do mar.

10Maciço

Rochoso litorâneo de extrema beleza, coberto por vegetação remanescente de Mata Atlântica. É um monumento natural de referência turística e cultural para todo o Estado do Espírito Santo.


87

Figura 33: Morro do Penedo, possível de ser visto apenas pela Av. Mal. Mascarenhas de Moraes.

01

Fonte: Acervo Pessoal, 2016. Figura 34: Visual para o Porto de Vila Velha.

02

Fonte: Acervo Pessoal, 2016. Figura 35: Vista para a Baía de Vitória e para Vila Velha, obtida através da Av. Princesa Isabel.

03

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.


88

Figura 36: Praรงa Costa Pereira com o Teatro Carlos Gomes ao fundo.

04

Fonte: Acervo Pessoal, 2016. Figura 37: Entorno da Praรงa Costa Pereira e os remanescentes histรณricos ainda presentes.

05

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.


89

Figura 38: Área frontal do Mercado da Capixaba com vista para a Baía de Vitória.

06

02

Fonte: Acervo Pessoal, 2016. Figura 39: Área frontal do Mercado da Capixaba. Avenida Princesa Isabel.

07

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.


360600,000000

0,1

KM 0,2

7752600,000000

0,05

361200,000000

7752600,000000

0

360900,000000

2

07 06

04 05

03

7752400,000000

7752400,000000

02

01

BAÍA DE VITÓRIA

360600,000000

Sistema de Referência: SIRGAS_2000_UTM_Zone_24S WKID: 31999 Authority: EPSG Projection: Transverse_Mercator Fonte: Vitória em Mapas; Data: 28 de maio de 2016 Data: 28 de maio de 2016 Elaboração: Sthéphi Wagmacker

360900,000000

361200,000000

M A PA 0 6 : PA I S A G E M C U LT U R A L

2 Universidade Vila Velha

Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho de Conclusão de Curso

Área de projeto

Edificação

Litoral

Visadas

Lote

Área de Estudo

Praça Costa Pereira

Curvas de Nível

±


91

6.9.

SEMIÓTICA DO AMBIENTE URBANO

O Centro de Vitória se apresenta como um bairro singular. Em sua totalidade, conforme se observa no local, é composto por resquícios de uma ocupação colonial, somado com edificações de um tempo de mudanças e embelezamentos, impostos pelos governantes, destacada pelos estilos eclético, adotado no início do século XX e o racionalismo protomoderno a partir da primeira metade do século passado. De maneira geral, é composto por monumentos, edifícios e paisagens carregados de simbolismos, representações e valores da evolução histórica da capital e mesmo do Estado. Através da Semiótica do Ambiente Urbano se procede uma análise da linguagem arquitetônica dos espaços urbanos, sendo possível identificar o que é essencial no patrimônio físico das subculturas urbanas. Para análise mais detalhada acerca deste tema, foi desenvolvida uma compreensão das relações entre história, patrimônio, arquitetura, paisagismo e desenho urbano, identificando as características que marcam a identidade da região e os problemas funcionais e formais presentes na organização e na construção do espaço urbano e seus componentes. Para o levantamento de dados, realizou-se visitas à área de estudo, visando compreender a sua evolução urbana através de imagens e significados capturados no local, e reconhecimento dos componentes urbanos, diagnosticando os problemas e potencialidades referentes ao seu paisagismo, perfil urbano e comportamentos locais. Após o levantamento realizado na área de estudo foi concluído que a área apresenta ambiências distintas, caracterizadas por elementos ímpares que auxiliam na percepção do espaço. Dentro da delimitação da área de estudo notou-se que o espaço foi sofrendo transformações de acordo com a consolidação das áreas aterradas às margens da baía. Devido as seguidas obras de aterros, executados em épocas diferentes, estas intervenções carregam consigo construções que demonstram, através de sua forma, tipologia e gabarito uma leitura distinta entre períodos. Desta forma, as ambiências identificadas seguiram essa ordem e foram divididas em três, conforme demonstra o Mapa 07.


92

Ambiência 01 Considerada como a mais antiga de toda a área em análise, se destaca pela topografia acidentada e também como a área que sofreu menos alterações territoriais. É caracterizada como a ambiência que carrega evidências históricas importantes, por abranger o entorno da Praça Costa Pereira. Nela é possível presenciar uma quantidade edificações que marcaram o passado na capital (Fig. 40 a 43), juntamente com construções atuais, dispostas em um traçado bem irregular em relação as outras áreas em análise, herdado do período colonial. Sobre este mesmo período notou-se que pouco de manteve das construções desta época, restando somente a Igreja do Rosário (Fig. 44), localizada no entorno imediato da área de estudo. Estas características são responsáveis por tornar esta área bem peculiar. Figura 40: Edificações ecléticas no entorno da Praça Costa Pereira.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


93

Figura 41: Teatro Carlos Gomes e Sesc Glória, localizados no entorno da Praça Costa Pereira.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016. Figura 42: Escadaria São Diogo: monumento eclético localizado no entorno da Praça Costa Pereira.

Figura 43: Edificação eclética de uso misto, localizado no entorno da Praça Costa Pereira.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


94

Figura 44: Igreja do Rosário, localizada no Centro.

Fonte: Prefeitura Municipal de Vitória, s/d.

Observou-se ainda que os uso e ocupação do solo neste local são estabelecidos de forma mista, havendo ainda uma parcela ocupada por comércio e residências, na maioria dos casos as edificações possuem gabarito mais restrito, com até 4 pavimentos. As edificações mais recentes neste local, possuem uma altura maior e apresentam uma tipologia distinta das edificações mais antigas e ainda abrigam usos institucionais e serviços (Fig. 45 e 46). Figura 45: Edificações históricas e de uso misto localizadas no entorno da Praça Costa Pereira.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


95

Figura 46: Edificação eclética localizada na Rua do Rosário.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Esta ambiência é limitada pela avenida Jerônimo Monteiro, via que já compreende uma outra ambiência de características diferentes, que resulta na Ambiência 02. Ambiência 02 Marcada também por edificações ecléticas que assinalaram um período importante de transição da capital, quando Vitória passa por uma série de transformações que apontaram uma época de desenvolvimento. O aterro realizado neste local foi impulsionado pela expansão das atividades que já ocorriam naquele trecho da cidade, sendo assim o foco não era mais a ocupação residencial. Atualmente, essa ambiência se destaca por abrigar um comércio popular diversificado, assim como, instituições públicas e privadas. Em função desta transição de períodos e o início da cultura da verticalização dos edifícios, este local apresenta, de maneira geral, um gabarito bem diversificado. As edificações apresentam tipologias diferenciadas seguindo a ideologia no momento em que foram projetadas. Sendo assim é possível encontrar diferentes estilos convivendo em uma mesma ambiência. O estilo eclético, (Fig. 47 a 50), está mais concentrado na avenida Jerônimo Monteiro, sendo este local o primeiro a receber a primeira grande intervenção obtida através


96

dos aterros das margens da baía de Vitória e um dos locais que abrigam edifícios importantes para este momento. Seu traçado se apresenta mais ortogonal do que a Ambiência 01, entretanto suas vias estão dispostas com dimensões irregulares e distintas umas das outras dentro deste trecho. Figura 47: FaFi e MAES: edifícios ecléticos localizados na Av. Jerônimo Monteiro.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016. Figura 48: Edificações ecléticas localizadas na Av. Jerônimo Monteiro.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


97

Figura 49: Edifício histórico, descaracterizado localizado na Av. Jerônimo Monteiro.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016. Figura 50: Escadaria Djanira Lemos, responsável pela conexão entre a Avenida Jerônimo Monteiro e a rua Wilson Freitas.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Ainda o estilo racionalista e protomoderno (Fig. 51 a 53) e o contemporâneo também podem ser presenciados nesta via. Estes foram frutos de construções realizadas em uma segunda leva de crescimento e desenvolvimento por qual passava a capital, mediante novas lideranças políticas, notadamente as intervenções federais e o Estado


98

Novo. Estas edificações foram sendo concebidas em momentos distintos, conforme foi sendo necessário para o atendimento das necessidades de crescimento da cidade. Figura 51: Edificação com estilo protomoderno, localizado na Av. Jerônimo Monteiro.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016. Figura 52: Edificação contemporânea localizada na Av. Jerônimo Monteiro. Antiga Sede da Empresa Arens & Langen (Companhia Marítima e Aviação).

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


99

Figura 53: Edifício protomoderno localizado na Av. Jeronimo Monteiro. Sede dos Correios.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Ambiência 03 Consolidada em uma área oriunda de um aterro feito num período mais recente, as construções desta área apresentam uma tipologia mais contemporânea e apresentam o gabarito mais elevado do que toda a área de análise (Fig. 54 e 55). Foi constatado a ausência de residências neste trecho, tendo a ocupação do solo dominada por edifícios com salas comerciais, instituições públicas, privadas, agências bancárias, comércios, dentre outros. A infraestrutura viária que dá suporte a todas essas atividades que ali são desenvolvidas, foi disposta de maneira mais regular, assim como seu traçado ortogonal, conforme aponta o Mapa 6.


100

Figura 54: Edificação Modernista, Receita Federal, localizada na Av. Mal. Mascarenhas de Moraes.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016. Figura 55: Edificações com gabarito elevado e arquitetura contemporânea.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


360600,000000

0,1

7752600,000000

0,05

361200,000000

KM 0,2

7752600,000000

0

360900,000000

7752400,000000

7752400,000000

2

BAÍA DE VITÓRIA

360600,000000

Sistema de Referência: SIRGAS_2000_UTM_Zone_24S WKID: 31999 Authority: EPSG Projection: Transverse_Mercator Fonte: Vitória em Mapas; Data: 28 de maio de 2016 Data: 29 de maio de 2016 Elaboração: Sthéphi Wagmacker

360900,000000

361200,000000

M A PA 0 7 : S E M I Ó T I C A D O A M B I E N T E U R B A N O Ambiencia 01 Universidade Vila Velha

Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho de Conclusão de Curso I

Ambiência 02 Ambiência 03 Edificação

2

Área de Projeto Lote Litoral

Curvas de Nível Área de Estudo

±


102

6.10.

CONCLUSÃO DO DIAGNÓSTICO

Conclui-se, a partir deste diagnóstico da área de estudo, que o Mercado da Capixaba se apresenta como um local que depende de uma profunda reabilitação para que possa ser mantido vivo na história da capital capixaba, revertendo completamente o seu quadro atual, passando de um espaço subutilizado, não-lugar apenas de passagem na área central, para um ponto de referência que ofereça suporte a práticas de cultura, arte e gastronomia capixaba trabalhados em um lugar único e agregador. Constatou-se que sua localização é positiva para o funcionamento de um centro gastronômico, visto que a área é cercada por comércios e instituições que dependem de certa forma de um suporte adequado para consumo de alimentos, associados ao lazer, descanso e contemplação. Conforme demonstra o Mapa de Potencialidades de usos e funções, a quantidade atual de restaurantes, não supre as necessidades do local, tanto pelas opções oferecidas nos estabelecimentos analisados, quanto pelo tipo de serviço único oferecido, caracterizado apenas por comercializar a refeição propriamente dita, se contrapondo desta forma, com a ideia do funcionamento do Mercado que poderá ter o funcionamento conjugado a uma dinâmica integrada a aspectos culturais. Além disso, o edifício do mercado está instalado num ponto bem centralizado e equidistante da área de estudo, servido de infraestrutura necessária para saneamento básico e a locomoção das pessoas, viabilizando assim essa proposição. O público predominante na área geralmente trabalha ou frequenta o comércio daquela região. Há uma parcela considerável de moradores que a utilizam, entretanto, eles não representam a maioria devido à quantidade de habitantes que residem ali. Sendo assim, o que garante o fluxo constante de pessoas são os usos comerciais e institucionais que foram instalados naquele local, tornando-o sempre muito movimentado durante os dias úteis da semana em que todas as atividades funcionam normalmente. De acordo com a avaliação obtida através do Mapa de Vias de Circulação e com o levantamento realizado no local, foi constatado que são três as vias que concentram uma maior movimentação pois são definidas como vias arteriais de acordo com o Plano Diretor de Vitória e exercem a função de conexão metropolitana. Contudo,


103

percebeu-se que as avenidas que concentram um maior fluxo de pedestres são: Jeronimo Monteiro e Princesa Isabel, já a Av. Mal. Mascarenhas de Moraes atrai mais veículos, isso é acarretado em função dos usos que cada uma concentra. Com a análise do Mapa de Paisagem Cultural e Semiótica observou-se que a área onde está situado o Mercado da Capixaba é um local que concentra em suas imediações edificações historicamente importantes para a identidade cultural do município. Além disso, se situa num dos trechos da cidade onde mais se reúne edificações com arquitetura eclética, assim como outras manifestações de arquitetura que já compõem uma trajetória histórica revelando marcos da evolução histórica de Vitória. Vale ressaltar que existe uma desconexão e, em casos específicos, pouca visibilidade dessas edificações de expressão no município ocasionados pelo destaque de outras mais atuais. As edificações históricas também são alvos da manutenção e outras enfrentam ainda a descaracterização de sua identidade arquitetônica. Esses fatos ocasionam assim uma perda de valores materiais e simbólicos para o município, o que impede que essa história venha a ser representada e/ou presenciada por gerações futuras. Percebeu-se ainda que ocorreu em Vitória um rápido processo de mudanças que acarretou em dissolução parcial da identidade do lugar, ocasionado através da homogeneização do território, provocada pelo foco na especulação e rentabilidade econômica sob um discurso modernizador e os efeitos da globalização. De forma geral, nos dias atuais, a escalada da mídia e o poder das telecomunicações tem contribuído mais ainda para essa perda da identidade do cidadão comum. Diante desse fator se faz necessário conservar o patrimônio histórico do lugar não somente pela sua vertente historicista unicamente, mas para de fato manter o patrimônio como um agente ativo de formação da identidade de um lugar.


104

7.

CAPÍTULO V: PROJETO BÁSICO DE RESTAURO/ REVITALIZAÇÃO PARA

O MERCADO DA CAPIXABA. A partir do aprofundamento desta pesquisa, dos levantamentos históricos, e estudos de caso, propõe-se a requalificação do Mercado da Capixaba, devido a sua parcela de contribuição na formação de uma trajetória histórica envolvendo abastecimento e desenvolvimento urbano, marcado pelo avanço territorial e econômico na Capital do Estado do Espírito Santo. 7.1.

Situação física: Diagnóstico

Para a avaliação das situações físicas da edificação, foi utilizado o conjunto de levantamentos já efetuados pela PMV/SEDEC/GPU, obtidos no ano de 2013, bem como, visitas para conferências e atualizações, considerando que a produção fora elaborada, há cerca de três anos, e possa ter sofrido mais alterações. A edificação se encontra em processo de degradação, devido às diferentes depredações ocorridas ao longo do tempo, e pelo incêndio ocorrido no ano de 2002, que até então não teve a devida reparação na destruição que o mesmo causou. Em todo o processo de transformação ocorrido no Mercado nestes anos de existência, notou-se que algumas características arquitetônicas foram perdidas. Uma destas foi a conexão espacial que havia no Mercado anteriormente, onde as lojas voltadas para a rua também possuíam aberturas para a área central, porém, ao longo do tempo isso foi bloqueado com alvenaria com o propósito de segregar os ambientes e torna-los independentes, ocasionando a perda da conexão original do projeto (Fig. 56 a 59).


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Figura 56: Fachada do Mercado voltado para a esquina da Rua Araribóia com a Princesa Isabel.

Figura 57: Detalhe do teto do vão de acesso, voltado para a Av. Jerônimo Monteiro.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Figura 58: Paredes do pátio central, onde ocorreu o bloqueio das aberturas com alvenaria.

Figura 59: Paredes com fissuras, manchas e umidade voltadas para a área central.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

No levantamento feito no local, verificou-se que todo o telhado do primeiro andar não existe mais desde o incêndio que o levou a destruição total. Desta forma, esta lacuna ocasionou diversas infiltrações através da laje do piso deste mesmo pavimento. Além disto foi notada a ausência de algumas esquadrias e muitos vidros que compõem as existentes. As alvenarias apresentam muitas manchas de umidade, crostas negras e sujidades, sendo mais evidente nas paredes que circundam o pátio interno. De maneira geral, as demais estão bem marcadas pelo desgaste, pintura suja, descascada e pichada. Na área interna encontra-se marcas do incêndio, lixo de forma demasiada, que inclui restos de papéis, madeiras, latas de tinta e outros elementos


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de ferro que sofrem com a corrosão. Contudo isto se mantém concentrado principalmente no vão que comporta a escada que possibilita o acesso ao pavimento superior e também em parte do local que atualmente abriga um estacionamento (Fig. 60 a 64). Figura 60: Paredes com patologias e janelas com ausência de vidros.

Figura 61: Ausência de telhado no andar superior.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Figura 62: Fachada voltada para a rua Des. O. Reile.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


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Figura 63: Vão de acesso ao pavimento superior.

Figura 64: Estacionamento na área interna do Mercado com restos de materiais presentes.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

O pátio interno é composto por três tipos de pisos, sendo eles: contrapiso de concreto; piso de concreto intertravado de formato hexagonal, além da pedra portuguesa marcando o eixo central de passagem; sendo este último o que apresenta mais danos (Fig. 65 e 66). Figura 65: Piso de concreto intertravado de formato hexagonal e o eixo central marcado pela pedra portuguesa.

Figura 66: Contrapiso de concreto na área de vendas de artesanato e o eixo central revestido pela pedra portuguesa.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

7.2.

Levantamento métrico

Para o levantamento métrico, da mesma forma, foram utilizados como base aqueles realizados pela Prefeitura Municipal de Vitória, em 2013; disponibilizado através de


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arquivos digitais pela SEDEC/GPU. Desta forma os trabalhos empreendidos foram focados na conferência e aperfeiçoamento a partir da medição e verificação, no local, de informações duvidosas e medidas não esclarecidas. 7.3.

Danos (consistência e conservação)

Foi realizado um levantamento fotográfico dos danos presentes de forma a registrar o seu estado atual de conservação e interpretar os problemas que cercam o mercado, mantendo o objetivo a análise geral e apropriação dos espaços envolvidos na proposta. Através do levantamento foi possível diagnosticar as patologias encontradas e definir a forma como serão tratadas a partir do início do processo de restauro. Foi constatado que os danos mais recorrentes são oriundos do vandalismo, falta de manutenção e preservação. Estes são: umidade, perda de vidros, esquadrias de madeira, perda do telhado, crosta negra e fissuras. É importante ressaltar que todas as fachadas apresentaram pichação, pintura suja, danificada e descascando (Fig. 67 a 73). Figura 67: Parede com pintura suja e descascada, causado pela umidade e falta de manutenção.

Figura 68: Parede com fissuras, pintura suja e descascada, causado pela umidade e falta de manutenção.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


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Figura 69: Parede com crostas negras, pintura suja e descascada, causado pela umidade, infiltração e falta de manutenção.

Figura 70: Parede com pintura suja, descascada e com crostas negras, causado por infiltrações, umidade e falta de manutenção.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Figura 71: Paredes com fissuras, crostas negras, descascada e com perda de substrato nos adornos. Estes foram causados pela umidade, infiltração, falta de manutenção e o incêndio do ano de 2002.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


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Figura 72: Parede com pichação, pintura suja e descascada causados por infiltrações, presença de umidade, falta de manutenção e vandalismo.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

7.4.

Figura 73: Parede com pintura suja e descascada causadas por infiltrações, presença de umidade e falta de manutenção.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Proposta - Novo Uso

Após todas as análises e questões levantadas nesta pesquisa percebeu-se que na área central da capital Vitória, o comércio alimentício que atue de maneira dinâmica constitui uma lacuna, além disto, equipamentos culturais atrativos que operem com este mesmo caráter também são escassos. Em contrapartida, a população apela para a valorização de aspectos que se voltam para a prática cultural sob a ótica da perpetuação da sua identidade. Visando estes fatores, se estrutura a ideia de propor melhorias ao local, reconhecendo suas potencialidades, de forma a atender estas carências, e cumprindo com um programa de ocupação e valorização dos monumentos do centro da cidade. A intenção, conforme preconiza a Carta de Veneza em seu Art. 1°, é propor uma função útil para a sociedade de maneira que haja harmonia entre a preservação das características do edifício e as adaptações necessárias para o novo uso. O objetivo, é contribuir com a melhoria da qualidade de vida deste grupo de pessoas, moradores e visitantes frequentes da região, e ainda desenvolver o interesse por parte da sociedade em geral, em reconhecer o valor histórico e cultural do Mercado da Capixaba como patrimônio local. No projeto de requalificação, a proposta foi transformar o local em um Centro Gastronômico de forma que se integre aos aspectos culturais locais, abrigando outras atividades para atender, de forma mais ampla possível, a população da região. Um


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partido importante para o projeto será tornar o local ativo também com atividades de uso noturno; visando valorizar e dinamizar a região. Tais projetos partem de uma premissa de parceria público-privado mediante a concessão de uso do patrimônio público. 7.4.1. Programa de necessidades Este novo uso implantado contempla atividades comerciais, lazer e ação cultural para a comunidade e deverá atender a diversos tipos de usuários de diferentes classes sociais e faixa etárias. Para isso se propôs algumas atividades que compuseram essencialmente o programa de necessidades do local, definidos assim, alguns conjuntos funcionais. 7.4.1.1.

Conjuntos funcionais

O novo espaço abriga no térreo lojas com dimensões variadas onde serão ocupadas por bistrôs, comercialização de hortifrútis, produtos alimentícios típicos do estado, artesanato e outros; vãos de acesso da edificação que comportam balcões onde se dispõe de comércios e serviços voltados para as quatro ruas que cercam o Mercado; sanitários públicos e acessíveis; espaço multiuso disponível para manifestação e exposição de atividades artísticas; palco para apresentações musicais; e acesso ao pavimento superior através de elevadores e escada. Este último, destinou-se para o uso do comércio exclusivamente alimentício, através de quiosques implantados em áreas com vista para o entorno da edificação; escola de culinária voltada para o atendimento da população; administração do Mercado; depósito amplo; e vestiários para atender a demanda de funcionários. Em ambos os pavimentos houve a intenção de atribuir uso noturno no intuito de gerar movimentação no ambiente e aumentar a vitalidade e fluxo no entorno do local em questão. 7.4.2. Diretrizes para layout de ocupação do espaço pré-existente O objetivo geral foi preservar ao máximo a estrutura atual do edifício, reaproveitando todas as suas aberturas e as fachadas, visto que elas possuem grande importância para a leitura e entendimento da obra. Foram propostas algumas adaptações para garantir o funcionamento das atividades que serão implementadas, assim como, atingir as dimensões necessárias para os layouts de cada prática, viabilizando o


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aproveitamento total da estrutura do Mercado no desenvolvimento de todas as atividades impostas. 7.4.3. Diretrizes gerais da intervenção Além das funções propostas para o edifício restaurado, pretendeu-se contribuir com técnicas sustentáveis para o edifício, visando principalmente a eficiência energética, aplicando conceitos de ventilação cruzada eficiente para melhoria do conforto térmico do ambiente. Além disto, o projeto se baseou no ganho de iluminação natural, para um consumo menor de energia. O foco da intervenção foi explorar recursos alternativos, para que não houvesse dependência da exaustão mecanizada e iluminação artificial nos ambientes, adequado a técnicas modernas eficientes para a resolução das questões levantadas. 7.4.4. Diretrizes específicas dos conjuntos funcionais Houve uma subdivisão de dois setores dentro no novo empreendimento, dentre eles: administração [acesso restrito] e público, sendo este último subdividido em atividades comerciais e socioculturais que funcionam de forma integrada e harmônica. Assim foi pensado, visando a melhor distribuição dos espaços e melhor setorização de modo a criar fluxos internos eficientes e dinamizadores. 7.5.

PROJETOS DE ARQUITETURA

Algumas questões devem ser levadas em conta na etapa do anteprojeto para melhor compreender as necessidades do edifício. Uma característica especial do projeto será a melhoria da conexão entre monumento e a rua, gerando mais movimentação e atratividade para o espaço público, garantindo vitalidade para o entorno. Outras considerações serão mantidas para o êxito da proposta, tais como conservação e manutenção permanente do patrimônio, aliados ao resgate de elementos que auxiliam na leitura e compreensão do ambiente histórico. O método adotado para desenvolver o projeto partiu da coleta de dados e elaboração do diagnóstico da região, de onde foi possível identificar pontos positivos, negativos e potencialidades. Também as pesquisas e análises de experiências bem-sucedidas de Mercados públicos no Brasil e no mundo auxiliaram nessa consolidação. Esta


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somatória de informações abriu os horizontes para o momento da concepção do projeto (Fig.74). Figura 74: Quadro Conceito [Mood Board] proposto para a Requalificação do Mercado.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

7.5.1. Memorial Justificativo 7.5.1.1.

Proposta

Sob a ótica do estado de degradação que o Mercado da Capixaba atingiu, foi adotado para o projeto de restauração e requalificação toda a quadra onde a edificação se insere, criando um Centro Gastronômico que venha envolver desde o comércio ao aprendizado, obtido através da Escola de Culinária, atrelado ainda ao lazer, serviços, entretenimento e atividades culturais. A criação deste espaço parte das necessidades observadas no local e também da oportunidade de valorizar a produção oriunda do Espírito Santo. Desta forma, serão encontrados produtos de fabricação local própria, incluindo alimentos para o preparo e os preparados, abrangendo ainda apresentações e exposições artísticas de talentos regionais, com o intuito de ressaltar as boas produções capixabas que carecem de visibilidade.


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Outro propósito é tornar o local ativo, principalmente em períodos noturnos e nos finais de semana, com o intuito de dinamizar um lugar que se encontra, de forma geral, esquecida pela população. Este ideal partiu do próprio potencial que o Centro possui para os usos deste ramo, apostando também em algo mais inovador para o local. A intenção é que nestes períodos haja comércios e serviços ativos, música ao vivo, apresentações da comunidade, exposições artísticas, além de poder sediar outros eventos regionais a critério da comunidade. Em linhas gerais o ponto chave da intervenção é promover o lugar do encontro entre as pessoas, a cidade e a cultura, criando uma relação mais próxima entre elas. 7.5.1.2.

Implantação

A quadra onde está situado o mercado, se encontra num local em desnível, sendo deste trecho, o ponto mais alto a Av. Jerônimo Monteiro e o mais baixo a Av. Princesa Isabel. Analisando este caso e priorizando a acessibilidade plena, eliminou-se a individualização dos vãos de acesso para a área interna. Assim foram desenvolvidos acessos amplos para todas as ruas que cercam a estrutura original, mantendo-os nivelados com relação a calçada para fixar a ideia de continuidade do espaço público, tornando o fluxo de pessoas mais fluido e intenso. Para complementar esta lógica algumas das lojas também mantiveram o acesso direto pela calçada, sempre aliado a outros acessos voltado para a área interna. Quando o nível de entrada da loja pela via, se diferenciava do interno, estes dois ambientes eram conectados por escadas e rampas, atendendo a legislação local de acessibilidade e desenho universal conforme a nova NBR9050/2015. Sendo assim, o projeto de revitalização do Mercado foi pensado aliando soluções confortáveis e viáveis para facilitar a acessibilidade e o fluxo de todos (Fig.75). A calçada também foi objeto de requalificação no projeto visando atender a norma atual.


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Figura 75: Acessos internos e externos do térreo do Mercado.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

7.5.1.3.

Setorização

O projeto pode ser dividido em setores que funcionam independentemente, mas que estão interligados entre si. A área do térreo foi setorizada seguindo a proposta original do Mercado, mantendo os acessos, comércios, serviços e sanitários nas extremidades. O pátio foi subdividido em duas grandes áreas que se encontram em níveis diferentes. A área compreendida por mesas é voltada para o atendimento do comércio interno e para o palco, onde ocorrerão apresentações diversas. O espaço multiuso será utilizado para exposições e outros eventos de caráter cultural (Fig. 76). Os procedimentos de cargas e descargas serão realizados pelo acesso voltado para a Rua Des. O’ Reile em horários pré-estabelecidos, não conflitantes com o horário de funcionamento do Centro Gastronômico e de outros estabelecimentos da área central. Para atendimento às necessidades da Escola de Gastronomia foi feito uma entrada


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independente, exclusiva e vertical, com elevador monta-carga e escada, para suprir sua demanda. Figura 76: Setorização geral do térreo.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

O pavimento superior foi estendido, abrangendo uma área maior, dando assim sequência as atividades no térreo, entretanto desenvolvidas em escalas menores. Ao invés de lojas foram inseridos quiosques divididos nas duas extremidades laterais do pavimento, com o propósito de distribuir o fluxo de pessoas. Tais ambientes foram separados, através do eixo dos acessos verticais, de outras áreas que não são ligadas ao comércio, são independentes do funcionamento dos quiosques e foram destinados ao encontro, descanso, contemplação, voltadas as pessoas que queiram desfrutar do ambiente sem necessariamente efetuar consumo. Além disto foi destinada uma forma ampla de acesso para a Escola de Culinária, que conta com recepção e atendimento; e espaços de acesso exclusivo para os funcionários como a administração, vestiários e depósitos (Fig.77).


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Figura 77: Setorização geral do segundo pavimento do Mercado.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Conforme visto no desenvolvimento da pesquisa, importante será ressaltar que o novo Mercado da Capixaba deve estabelecer parcerias com os estacionamentos rotativos da área central, com o objetivo de suprir à quantidade de vagas que deve oferecer. Além disto, é desejável a possibilidade de ocupações mais verticalizadas de outros terrenos, voltados exclusivamente para este uso, para que assim possam ser ofertadas mais vagas na região do que as existentes na atualidade, otimizando assim o espaço pré-existente do Mercado Capixaba sem ocorrer mudanças drásticas na dinâmica atual do Centro. 7.5.2. Recomendações de projeto O desenvolvimento deste projeto preserva o monumento existente dotando-o de novos equipamentos ou acréscimos quem contam com formas, proporções e modulações alinhadas ao edifício histórico; buscando justaposição e respeito ao préexistente. Da mesma forma foram pensados acréscimos e soluções de


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contemporaneidade, tais como atualização tecnológica, mediante os princípios da reversibilidade e autenticidade, presentes no escopo da Carta de Veneza (ICOMOS, 1964). 7.5.2.1.

Cobertura

A nova cobertura do conjunto recebeu especial atenção. Foi o elemento mais impactante de toda a proposta. Por isso, foi pensada com o uso de materiais leves, como o aço e o vidro, permitindo assim poucos pontos de apoios que garantissem um aspecto clean, sem concorrer com a leitura integral do edifício antigo. Esta cobertura foi concebida de forma com que os adornos e frisos do edifício não fossem prejudicados nem tampouco escondidos. Vale ainda ressaltar que a visibilidade deste novo elemento inserido, do ponto de vista do pedestre (Fig.78 e 79), é bem sutil, e pode ser notada em ângulos específicos em locais mais altos e distantes da edificação (Fig. 80 a 81). Com relação à estanqueidade, foram criados beirais avantajados e uma leve inclinação distribuídas por duas águas. Quanto a capacidade de isolamento térmico, foi especificada a película da série Affinity da 3M em toda a extensão dos vidros que retém cerca de 80% do calor, bloqueia os raios ultravioletas, reduz o ofuscamento e auxilia na conservação dos objetos e mobiliários, além de permitir a captação de boa parte da luminosidade natural. Tal opção foi considerada, para obter melhorias do ponto de vista da tipologia arquitetônica, onde induz a sensação de circular num espaço aberto e auxilia na compreensão das características originais do edifício remontando a sensação de percorrer no interior deste pátio conforme foi concebido no projeto original, preservando sua a ambiência histórica.


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Figura 78: Fachadas voltadas para a Av. Princesa Isabel e para a rua Des. O’ Reile, do ponto de vista do observador.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016. Figura 79: Fachada voltada para a rua Des. O. Reile.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


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Figura 80: Fachada voltada para a rua Des. O. Reile vista de um ângulo mais distante.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016. Figura 81: Vista geral do projeto para o do Mercado.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


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7.5.2.2.

Modulação estrutural

As intervenções propostas foram, na medida do possível, concebidas com um sistema estrutural que possibilitou grandes vãos e maior flexibilidade para os layouts e os usos diversificados. Para tanto, a intervenção da cobertura fio proposta a partir de um sistema isostático simples, do tipo viga/pilar, buscando a inserção desta nova de forma a não romper a leitura espacial e modulação primitiva do monumento histórico. 7.5.2.3.

Fechamentos

Nas áreas de apoio (sanitários, vestiários) foram propostos fechamentos em alvenaria, sobrepostos as paredes pré-existentes. Desta forma se possibilita que todas as instalações elétricas e hidrossanitárias sejam instaladas de forma independente do “casco histórico”, preservando-o por inteiro. Esta adequação possibilita ainda a aplicação do princípio da reversibilidade, imposto nos documentos que regem as boas práticas do restauro. De maneira geral, na extensão do segundo pavimento, nos ambientes de vestiários e depósito foram utilizados fechamentos de vidro, contudo, estes não interferem na privacidade dos usuários devido a forma como foi distribuído o layout do banheiro, juntamente instalado com o fechamento na mesma película utilizada na cobertura, porém com um controle maior na transparência, permitindo que a transparência seja apenas de 15 % (Fig.82). Nos locais de chuveiro voltados para a lateral de vidro, o projeto prevê um fechamento em alvenaria, para que o usuário não sinta desconforto na utilização do espaço.


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Figura 82: Fechamento de vidro feito na fachada voltada para a Av. Princesa Isabel, para privacidade e funcionalidade do espaço de utilização restrita dos funcionários.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

7.5.3. Especificações técnicas 7.5.3.1.

Vocabulário de materiais

A ideia é de que as características principais do edifício histórico sejam preservadas e valorizadas em sua natureza primitiva. Contudo, se propõe para as fachadas uma nova proposta cromática, distinta daquela utilizada nas últimas décadas. Foi escolhida, mediante estudo cromático condicionado ao novo uso, uma cor que não entrasse em conflito com as origens ecléticas, de raiz classicizante do Monumento, porém que despertasse novas sensações no imaginário daquela comunidade, reafirmando a condição e a ambiência do novo lugar. Essa mudança se faz necessária para marcar essa maior interação com o novo momento a ser vivenciado nesta edificação enquanto monumento histórico (Fig. 83 a 87).


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Figura 83: Proposta cromรกtica utilizada no projeto do Mercado.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Figura 84: Vista total da fachada.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


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Figura 85: Fachada voltada para a Av. Princesa Isabel.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Figura 86: Vista noturna da fachada voltada para a Av. Princesa Isabel.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.


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Figura 87: Vista noturna da proposta cromática para a fachada lateral.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016. Figura 88: Vista noturna da fachada voltada para a rua Des. O. Reile.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

Internamente optou-se por não criar novas pinturas. O destaque da intervenção foi atribuído ao conceito “Verdade dos Materiais” recorrente nas intervenções sobre patrimônios históricos, quando os materiais constitutivos do bem podem ser revelados e demonstrados, de forma didática quanto ao sistema construtivo original. Assim os tijolos maciços das alvenarias internas devem ser descarregados dos diferentes revestimentos existentes, conservados e tratados para exibir a técnica em que foi construído o Mercado (Fig. 88 a 97).


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Figura 89: Acesso do Mercado, voltado para a Av. JerĂ´nimo Monteiro.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016. Figura 90: Acesso voltado para a Av. JerĂ´nimo Monteiro a direita e parte do interior do Mercado.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.


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Figura 91: ร rea do Pรกtio interno do Mercado.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016. Figura 92: Acesso Principal a direita e acesso lateral, voltado para a rua Araribรณia.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.


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Figura 93: Acesso voltado para a Rua Araribóia com o funcionamento de comércio alimentício.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016. Figura 94: Acesso lateral a direita e trecho do interior do Mercado.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.


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Figura 95: Espaço de exposições e acesso vertical para o nível do pátio.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.

Devido a adequação do segundo pavimento aos novos usos, foi indispensável o aproveitamento das aberturas existentes para criação de conexões através de portas, interligando um espaço novo, ao espaço pré-existente. Para tanto, foram utilizados marcos e portas de metal se destacando do conjunto antigo em madeira, de modo a não criar falsos históricos e obter a diferenciação de materialidades com a finalidade de destacar o momento da intervenção (Fig.89). Outros materiais serão apenas restaurados em sua integridade física visando a conservação dos mesmos. Também será necessária a restauração das esquadrias danificadas e a instalação de novas peças para substituir as faltantes (Fig. 90 e 91). Todo o mobiliário foi escolhido pensando na estética do conjunto e bem-estar dos usuários. O layout foi proposto visando fluxos mais fluidos, eficientes e confortáveis, aliado a qualidade e design do mobiliário. Sob esta mesma ótica toda a parte de comunicação visual utilizada no Mercado também deverá ser regulada, para que não haja materiais de dimensões e cores exacerbadas destoando do conjunto e retirando o foco do Monumento e sua intervenção.


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Figura 96: Recepção da Escola de Culinária, ambiente de espera e a intervenção feita nas aberturas para criar portas.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016. Figura 97: Esquadrias restauradas e contraste entre cobertura e a fachada voltada para o pátio interno do Mercado.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.


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Figura 98: Quiosque de uso alimentĂ­cio no segundo pavimento e elevador ao fundo.

Fonte: Acervo Pessoal, 2016.


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8.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir de uma somatória de conhecimentos e descobertas obtidas através deste trabalho, notou-se que o processo de degradação do monumento ocorreu principalmente pela falta de vitalidade e pelos usos que o próprio mercado abriga até então. Contudo isso foi somado a falta de interesse do poder público em atuar sobre sua conservação e manutenção, já que este se considera importante para o processo de desenvolvimento histórico da capital. Para tanto, a visão de autores como Augé, Choay e Rennó também foram essenciais para diagnosticar e entender questões como a relação entre a comunidade e o monumento. Através dos estudos de caso estudados foi percebida a importância de mesclar os usos e atrair a população através de aspectos culturais integrados com comércio, lazer e entretenimento. Desta forma o interesse da revitalização não surge apenas com o objetivo de se tornar um Mercado semelhante ao que ele fora um dia; o projeto veio com o interesse de adequá-lo ao novo fenômeno atual da cidade de Vitória, que carece de espaços que valorizem a cultura da região e que consiga ter um poder de atratividade maior. Sendo assim a visão de Brandi e Carbonara foram essenciais para contribuir com o projeto de intervenção deste monumento a partir das teorias do restauro crítico conservativo, sendo atualmente a melhor maneira de se preservar e garantir o entendimento da obra seja obtido em gerações futuras. A motivação deste trabalho é buscar maior visibilidade para as degradações de monumentos importantes para a história localizados no Centro de Vitória, demonstrando ainda a forma com a qual a possibilita atuar no reestabelecimento do contato entre o cidadão e o espaço público, transformando-o assim em locais de qualidade, contribuindo com a qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos reacendendo o sentimento de pertencimento. Além de colaborar significativamente para a preservação da identidade e história do início do desenvolvimento da capital, valorizando um monumento que contribuirá com a vitalidade da região onde ele está inserido.


133

9.

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DE

VITÓRIA.

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ago.

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138

10. APÊNDICES


1O AFASTAMENTOS: ISENTO CA: 1,16 %

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

GABARITO: 2 PAVIMENTOS TO: 0,83 %

TP: 0%

COORDENADOR(A): PRISCILA LOUREIRO

ESCALA:

PROJETO

INDICADA DATA:

04/11/2016 PRANCHA:

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

01/12


1O AFASTAMENTOS: ISENTO CA: 1,16 %

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

LEGENDA

GABARITO: 2 PAVIMENTOS TO: 0,83 %

TP: 0%

COORDENADOR(A): PRISCILA LOUREIRO

ESCALA:

PROJETO

1/200 DATA:

ALVENARIA EXISTENTE

04/11/2016

ALVENARIA A CONSTRUIR

PRANCHA:

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

02/12


LEGENDA ALVENARIA EXISTENTE ALVENARIA A CONSTRUIR

JANELAS

P4

253X210

ENROLAR

METAL

TIPO

MATERIAL

P5

290X210

ENROLAR

METAL

J1

110x230/122

ABRIR

MADEIRA

P6

252X210

ENROLAR

METAL

J2

80x230/122

ABRIR

MADEIRA

P7

259X210

ENROLAR

METAL

P8

250X210

ENROLAR

METAL

VIDRO

P9

255X210

ENROLAR

METAL

VIDRO

P10

290X210

ABRIR

METAL

VIDRO

P11

284X210

ABRIR

METAL

P12

298X210

ENROLAR

METAL

PELE DE VIDRO PL1

23.50 x 3.40

FIXA

PL2

3.46 x 3.40

FIXAS/

PL3

3.50 x 3.40

FIXAS/

PORTAS P1

80X210

ABRIR

MADEIRA

P13

251X210

FIXO

METAL

P2

80X210

CORRER

MADEIRA

P14

247X210

ENROLAR

METAL

P3

250X210

ABRIR 180o

VIDRO

P15

200X210

ENROLAR

METAL

1O AFASTAMENTOS: ISENTO CA: 1,16 %

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

GABARITO: 2 PAVIMENTOS TO: 0,83 %

TP: 0%

COORDENADOR(A): PRISCILA LOUREIRO

ESCALA:

PROJETO

1/75 DATA:

04/11/2016 PRANCHA:

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

03/12


LEGENDA ALVENARIA EXISTENTE ALVENARIA A CONSTRUIR

JANELAS

P4

253X210

ENROLAR

METAL

TIPO

MATERIAL

P5

290X210

ENROLAR

METAL

J1

110x230/122

ABRIR

MADEIRA

P6

252X210

ENROLAR

METAL

J2

80x230/122

ABRIR

MADEIRA

P7

259X210

ENROLAR

METAL

P8

250X210

ENROLAR

METAL

VIDRO

P9

255X210

ENROLAR

METAL

VIDRO

P10

290X210

ABRIR

METAL

VIDRO

P11

284X210

ABRIR

METAL

P12

298X210

ENROLAR

METAL

PELE DE VIDRO PL1

23.50 x 3.40

FIXA

PL2

3.46 x 3.40

FIXAS/

PL3

3.50 x 3.40

FIXAS/

PORTAS P1

80X210

ABRIR

MADEIRA

P13

251X210

FIXO

METAL

P2

80X210

CORRER

MADEIRA

P14

247X210

ENROLAR

METAL

P3

250X210

ABRIR 180o

VIDRO

P15

200X210

ENROLAR

METAL

1O AFASTAMENTOS: ISENTO CA: 1,16 %

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

GABARITO: 2 PAVIMENTOS TO: 0,83 %

TP: 0%

COORDENADOR(A): PRISCILA LOUREIRO

ESCALA:

PROJETO

1/75 DATA:

04/11/2016 PRANCHA:

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

04/12


1O AFASTAMENTOS: ISENTO CA: 1,16 %

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

LEGENDA

GABARITO: 2 PAVIMENTOS TO: 0,83 %

TP: 0%

COORDENADOR(A): PRISCILA LOUREIRO

ESCALA:

PROJETO

1/200 ALVENARIA EXISTENTE

DATA:

04/11/2016

ALVENARIA A CONSTRUIR

PRANCHA:

PLANTA BAIXA DO 1o ANDAR

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

05/12


LEGENDA ALVENARIA EXISTENTE ALVENARIA A CONSTRUIR

JANELAS

P4

253X210

ENROLAR

METAL

TIPO

MATERIAL

P5

290X210

ENROLAR

METAL

J1

110x230/122

ABRIR

MADEIRA

P6

252X210

ENROLAR

METAL

J2

80x230/122

ABRIR

MADEIRA

P7

259X210

ENROLAR

METAL

P8

250X210

ENROLAR

METAL

VIDRO

P9

255X210

ENROLAR

METAL

VIDRO

P10

290X210

ABRIR

METAL

VIDRO

P11

284X210

ABRIR

METAL

P12

298X210

ENROLAR

METAL

PELE DE VIDRO PL1

23.50 x 3.40

FIXA

PL2

3.46 x 3.40

FIXAS/

PL3

3.50 x 3.40

FIXAS/

PORTAS P1

80X210

ABRIR

MADEIRA

P13

251X210

FIXO

METAL

P2

80X210

CORRER

MADEIRA

P14

247X210

ENROLAR

METAL

P3

250X210

ABRIR 180o

VIDRO

P15

200X210

ENROLAR

METAL

1O AFASTAMENTOS: ISENTO

GABARITO: 2 PAVIMENTOS TO: 0,83 %

CA: 1,16 %

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

TP: 0%

COORDENADOR(A): PRISCILA LOUREIRO

ESCALA:

PROJETO

1/75 DATA:

04/11/2016 PRANCHA:

o

PLANTA BAIXA DO 1 ANDAR

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

06/12


LEGENDA ALVENARIA EXISTENTE ALVENARIA A CONSTRUIR

JANELAS

P4

253X210

ENROLAR

METAL

TIPO

MATERIAL

P5

290X210

ENROLAR

METAL

J1

110x230/122

ABRIR

MADEIRA

P6

252X210

ENROLAR

METAL

J2

80x230/122

ABRIR

MADEIRA

P7

259X210

ENROLAR

METAL

P8

250X210

ENROLAR

METAL

VIDRO

P9

255X210

ENROLAR

METAL

VIDRO

P10

290X210

ABRIR

METAL

VIDRO

P11

284X210

ABRIR

METAL

P12

298X210

ENROLAR

METAL

PELE DE VIDRO PL1

23.50 x 3.40

FIXA

PL2

3.46 x 3.40

FIXAS/

PL3

3.50 x 3.40

FIXAS/

PORTAS P1

80X210

ABRIR

MADEIRA

P13

251X210

FIXO

METAL

P2

80X210

CORRER

MADEIRA

P14

247X210

ENROLAR

METAL

P3

250X210

ABRIR 180o

VIDRO

P15

200X210

ENROLAR

METAL

1O AFASTAMENTOS: ISENTO

GABARITO: 2 PAVIMENTOS TO: 0,83 %

CA: 1,16 %

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

TP: 0%

COORDENADOR(A): PRISCILA LOUREIRO

ESCALA:

PROJETO

1/75 DATA:

04/11/2016 PRANCHA:

o

PLANTA BAIXA DO 1 ANDAR

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

07/12


1O AFASTAMENTOS: ISENTO CA: 1,16 %

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

GABARITO: 2 PAVIMENTOS TO: 0,83 %

TP: 0%

COORDENADOR(A): PRISCILA LOUREIRO

ESCALA:

PROJETO

1/200 DATA:

04/11/2016 PRANCHA:

PLANTA DE COBERTURA

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

08/12


CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

COORDENADOR(A): PRISCILA LOUREIRO

ESCALA:

PROJETO

INDICADA

LEGENDA

DATA:

04/11/2016 ALVENARIA EXISTENTE PRANCHA:

ALVENARIA A CONSTRUIR

CORTES

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

09/12


CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

COORDENADOR(A): PRISCILA LOUREIRO

ESCALA:

PROJETO

LEGENDA

INDICADA DATA:

ALVENARIA EXISTENTE

04/11/2016

ALVENARIA A CONSTRUIR

PRANCHA:

CORTES

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

10/12


IA

TR

A

HA E CO

F N

AL B

E SP R

TO

DE

8

23

17

I

DO

S AN

TO

E ST A

DO

MA I

O

DE

DE 15 3 5

1

J UNHO 12 DE

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

COORDENADOR(A): PRISCILA LOUREIRO

ESCALA:

PROJETO

INDICADA DATA:

04/11/2016 PRANCHA:

FACHADAS

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

11/12


CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

COORDENADOR(A): PRISCILA LOUREIRO

ESCALA:

PROJETO

INDICADA DATA:

04/11/2016 PRANCHA:

FACHADAS LATERAIS

LUIZ MARCELLO GOMES RIBEIRO

12/12


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