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Toda experiência estética supõe o desenvolvimento de técnicas. Em cerâmica, isso é muito importante, pois amplia as nossas possibilidades de expressão, além facilitar a concretização da obra, de acordo com as necessidades do projeto poético em curso. Qualquer falha técnica poderá acarretar em perdas de todo o trabalho proposto antes mesmo de sua finalização. Os processos de modelagem para a realização das peças de cerâmica são relativamente simples, mas é necessário ter experiência para dominar as técnicas, podendo ser adquirido com o trabalho ou pesquisa constante. Em geral, encontramos as técnicas em livros de cerâmica, mostrando passo a passo, porém, com a convivência com a matéria, exercitando as técnicas básicas, podemos observar que há meios de criar novos procedimentos. Estes procedimentos técnicos podem também ser passados de geração para geração, onde o aprendizado se dá com o olhar, observando pessoas mais experientes na construção de suas peças. Um bom exemplo são as Paneleiras de Goiabeiras, no qual as mais jovens têm sua iniciação com o polimento, e, durante esta prática, vão observando a forma de fazer das mais velhas e, aos poucos, começam a modelar pequenas panelas, e, quando se dão conta, estão atuando como paneleiras. É comum ouvir dessas mulheres: “eu aprendi com minha mãe que aprendeu com a mãe dela”. Esta frase está diretamente relacionada com a convivência familiar e o olhar como formas de aprendizado. Outro ponto importante é experimentar a matéria para ver suas potencialidades, o que nos permite atuar sobre o material sem o conhecimento prévio de técnicas, nesse caso, devemos utilizar pequenas quantidades de massa para ter maior domínio sobre ela. As crianças, por exemplo, ao utilizarem pequenas porções de barro, manipulam-nas experimentalmente, construindo de maneira intuitiva bolinhas, rolinhos, placas, tendo as mãos como ferramentas. A modelagem não se resume a uma única técnica. Na verdade, são alguns processos básicos, que, associados, irão proporcionar uma gama infinita de resultados; considerando ainda o fato de a argila poder ser trabalhada em diferentes consistências. As técnicas que vamos descrever, a seguir, de forma simples, são o resultado de anos de experimentações e que acreditamos poder auxiliar nas atividades dos iniciantes.

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Pote de aperto O pote de aperto é um dos métodos mais antigos, que utiliza as mãos como ferramenta para produzir seus utensílios e panelas de barro. É uma técnica que continua sendo usada por alguns artesões, mesmo depois da descoberta do torno. Como exemplo pode-se citar as Paneleiras de Goiabeiras, que mantêm a tradição dos seus antepassados (Fig. 47). Para termos um domínio maior sobre o processo de construção, devemos trabalhar com uma quantidade de matéria-prima que caiba entre as mãos. A maioria das peças realizadas com esta técnica é circular, é muito possível que tenha sido essa a forma mais simples do homem dominar o barro. Apesar de ser um método primitivo, encontramos artistas que utilizam esta técnica para desenvolver seus trabalhos. No livro “Terra, fogo, homem”, Nakano nos demonstra como trabalha com essa técnica:

Fig. 47: Paneleiras de Goiabeiras, 2010.

Descobri também uma maneira própria de trabalhar, em que partindo de um bloco de argila, faço uma perfuração central e vou abrindo a massa em vários sentidos até alcançar uma forma. Conservando a textura que naturalmente vai se formando no exterior, trabalho somente no interior da peça (1989, p. 38).

Este método nada mais é do que o barro apertado e manipulado entre os dedos. Para iniciar, faça uma bola de argila que caiba confortavelmente entre suas mãos. Nesse momento, as mãos trabalham juntas, cada uma desempenha uma função, uma como apoio em forma de concha, a outra como ferramenta. O dedo polegar perfura o centro da bola de argila, deixando uma espessura no fundo, que pode variar de acordo com a quantidade de argila e, consequentemente, o tamanho da peça. Aos poucos, os dedos da mão dominante vão pressionando no interior contra a outra mão que está apoiada na parte externa, girando a peça. Esse movimento irá abrir o diâmetro da forma. O próximo movimento deve puxar a massa do fundo para a borda, aumentando a altura da parede. Este movimento pode ser realizado, várias vezes, até chegar à espessura uniforme. Quanto mais fina a parede, mais delicada ficará a peça. Em cerâmica, temos que trabalhar dentro de uma limitação de tempo, pois a argila em contato com as mãos pode ressecar pela troca de calor do corpo com a peça, resultando em trincas. Para ultrapassar essa limitação, permitindo-nos a realização do projeto, devemos lavar as mãos e secá-la, paralisando a troca de calor e mantendo a umidade da matéria enquanto atuamos. O acabamento fica a critério de cada ceramista, desde texturas até o alisamento da peça, neste último caso, devemos umedecer o dedo no pano molhado e, em 42 Unidade 3


seguida, passarmos na peça, até que o brilho da água desapareça. Nesse momento, devemos tomar cuidado com o excesso de água, pois a peça pode absorvê-la, perdendo a forma. A partir da descrição desse procedimento, propomos uma reflexão sobre o fazer como experiência estética, como um encontro com a matéria, tendo como objetivo o nascimento da obra (Figs. 48a, 48b e 48c).

Figs. 48a, 48b e 48c: Utilização do dedo como pote de aperto.

Rolinho Apresentaremos a seguir uma técnica milenar utilizada por muitos artesões para fazer suas vasilhas de barro, chamada de rolinho ou cordões, que consiste na sobreposição de rolinhos ligados uns aos outros com argila líquida e completando com repuxamento, para cima e/ou para baixo, como uma costura, acompanhando a forma desejada. Esta técnica é muito utilizada pelas mulheres do Vale do Jequitinhonha para a fabricação da cerâmica, denominada por elas de processo de acordelado. O acordelado tem influência indígena brasileiras, e hoje essas mulheres utilizam esta técnica para a construção de peças utilitárias, como potes, utensílios domésticos e esculturas de grande porte, construindo-as já ocas (Fig. 49). Dalglish apresenta o procedimento: “... consiste na sobreposição de cordões de argila espiral, unidos um ao outro com o auxílio dos dedos, e alisados com um sabugo de milho ou pedaço de cuia para dar o acabamento final” (2006, p. 38).

Fig. 49: Vale do Jequitinhonha.

Esta técnica foi bastante difundida, e ainda hoje encontramos com frequência ceramistas que se utilizam deste procedimento para construir suas peças. Podemos aqui apresentar a artista plástica Nakano, que escolheu a cerâmica como meio de expressão, utilizando os processos técnicos adquiridos pela pesquisa e contato com outros ceramistas:

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Na maioria dos meus trabalhos, utilizo a técnica das cobrinhas, a mais antiga e rudimentar, sem a intervenção de ferramentas, utilizando apenas as mãos. Esse processo milenar, utilizado em todas as cerâmicas primitivas desde a pré-história é ainda a mais conhecida. É a mais trabalhosa e demorada, pois são rolinhos que vão se superpondo de acordo com a forma a ser dada, “costurados” (emendados e alisados), na sua parte interna e externa. Mas é essa a técnica que, segundo minha experiência, oferece as mais amplas possibilidades e a que mais coloca o homem em interação com a argila (1989, p. 37-38).

Materiais:

Argila; 1 base de madeira para apoiar a peça (pode usar o torno manual); 1 tecido; 1 faquinha; Vasilhame para água; Sacos plásticos; Jornais; Vidro, contendo barbotina da argila a ser utilizada; Instrumentos para texturas. Fig. 50: Preparando a base com rolinho.

Apresentaremos em partes cada etapa do processo:

Pegue uma pequena quantidade de argila e sobre uma superfície lisa pressionea levemente, rolando-a para frente e para traz, usando as palmas das mãos até as pontas dos dedos. Deslize também as mão lateralmente do centro do rolinho para as extremidades. A pressão exercida sobre a argila deve ser constante e homogênea em ambas as mãos, caso contrário o rolinho tende a ficar achatado. Se isso acontecer, basta bater levemente na parte mais larga para que ele volte ao formato desejado (Fig. 50). A base da peça pode ser feita usando um rolinho em forma de espiral, para se Fig. 51: Fazendo o rolinho.

obter uma superfície lisa, basta unir os rolinhos, usando uma faquinha ou uma esteca de madeira. A base também pode ser feita com a técnica da placa (que veremos a seguir) (Fig. 51). A espessura dos rolinhos e da base dependerá do tamanho da peça. Quanto maior e mais alta for a peça maior a espessura da base e dos rolinhos (Fig. 52). Com a base da peça definida, poderemos começar a subir a parede. Com a ponta de uma faca, faça pequenas ranhuras no contorno da base e do rolinho que será usado. Com um pincel, passe barbotina2 sobre as ranhuras e coloque o rolinho

Fig. 52: Construção da base para colocação do rolinho.

sobre a base, exercendo uma pequena, mas constante, pressão (Figs. 53a, 53b e 53c). 2. Barbotina é uma argila líquida utilizada como cola, que serve para unir duas ou mais partes de argilas ainda molhadas. Para prepará-la, basta diluir um pouco de argila em água (como se fosse

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Fig. 53a: Barbotina na peça.

Fig. 53b: Fixando o rolinho na peça.

Fig. 53c: Costurando o rolinho na peça.

Cole as pontas do rolinho com barbotina e com o auxilio da faquinha costure3 unindo as extremidades. Para subir a parede, basta colocar um rolinho sobre o outro, usando barbotina entre eles. Repita a operação até obter o tamanho desejado. Se os rolinhos forem colocados gradativamente um sobre os outros, a peça crescerá, mantendo o mesmo formato. Se pretende realizar peças grandes, deve-se aumentar a espessura do rolinho e subi-la aos poucos, deixando a parte inferior ganhar resistência para não desmoronar da parte que será construída. Para modificar a forma, basta mover o rolinho um pouco para fora, (abrindo a forma) ou para dentro (fechando a parede). Ao costurar os rolinhos, trabalhe com ambas as mãos, uma costurando com a faquinha e a outra dando suporte no lado oposto da peça para que ela não

Fig. 54: Acabamento da peça.

se deforme (Fig. 54). Pode-se alisar toda a superfície interna e externa ou deixar uma ou até mesmo ambas com o rolinho aparente, essa é uma escolha individual. O rolinho pode ser utilizado também para fazer relevos na superfície da peça ainda úmida, colocado na vertical, inclinado ou em espiral (Fig. 55).

Placa Outra possibilidade é se trabalhar com o barro esticado de espessuras uniformes, dando o nome de placa. Com está técnica, o ceramista pode construir formas das mais

Fig. 55: Posibilidades de montagens.

diversas, desde as formas quadrangulares, cilíndricas, planares, ou mesmo formas orgânicas, resultando em peças com espessuras uniforme e com um bom acabamento.

iogurte). É mais fácil deixar a argila secar e acrescentar um pouco de água até obter uma consistência pastosa. Caso não dê para esperar a argila secar pegue um pouco de argila mesmo que esteja molhada e acrescente um pouco de água e, com a ajuda de um pincel, dilua-a até que tenha a consistência desejada. 3. A expressão “costurar”, na cerâmica, significa utilizar a face da faca para puxar pequenas quantidades de argila de uma parte unindo-a à outra parte. É comum aos iniciantes usarem o corte da faca, riscando a argila ao invés de deslocá-la. Modelagem

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Materiais:

Argila; 2 pares de ripas de madeira (pode adquirir pares de diferentes espessuras); Faquinha; Vidro contendo barbotina da argila a ser utilizada; Pincel de cerda dura; Rolo de macarrão; Pano; Jornais; Sacos plásticos; Lixa de madeira nº 100; Esponja macia; Vasilha para colocar água. Procedimentos técnicos:

Esta técnica consiste em abrir uma placa de argila e, em seguida, cortá-la, dobrála, enrolá-la e colá-la como se fosse uma folha de papel, guardadas as devidas proporções da espessura. É sempre bom ter um projeto para nos guiar. Os protótipos de papel são muito úteis nessa técnica, dessa maneira, você saberá o tamanho da placa e poderá dimensionar também sua espessura (Fig. 56). Sobre uma superfície plana estique um pano, ou jornal ou ainda um plástico (de acordo com a consistência da argila) e, em seguida, coloque a argila previamente amassada e aplane um pouco com a mão. Se lhe for possível, use um par de ripas de madeira como guias para determinar a espessura da placa (se a peça for Fig. 56: Fernanda de Abreu Passos. Projeto feito de papel. 2010/2.

pequena, use ripas mais finas; se for grande, use ripas mais espessas), coloque entre elas a argila e com um rolo de macarrão (ou cabo de vassoura) abra a massa, começando pelo meio da placa e vá nivelando-a aos poucos. Pode-se controlar a forma da placa girando-a, mas sempre obedecendo à direção das ripas para manter a sua espessura, fazendo-a crescer, assim, de acordo com suas necessidades. É importante que você solte, de vez em quando, a argila do material de apoio (suporte) para facilitar a expansão da mesma (Figs. 57a e 57b). Para constatar a existência de bolhas de ar na massa, deve-se, para tanto, passar sobre ela uma espátula umedecida. Caso se verifique um pequeno volume constatando a existência das bolhas, para eliminá-las basta usar uma ponta seca ou mesmo a ponta de uma faca, abrindo-as e, em seguida, alise novamente o local, observando se a bolha desapareceu; caso contrário, repita a operação. É importante alisar as duas faces da placa; para isso, utilize uma base de madeira forrada

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de jornal sobre o lado já alisado e introduza uma das mãos sob a placa, fazendo uma alavanca e girando a mesma sobre a madeira. Com a placa aberta e livre de bolhas, podemos começar a executar a peça. A etapa seguinte é o corte da placa, a partir do modelo determinado. Ao cortá-la, deve-se molhar a faca com água para a ferramenta não grudar na massa. Se a parte a ser cortada for reta, pode-se utilizar uma régua para facilitar o trabalho (Fig. 58).

Fig. 57a e 57b: Abrindo a placa.

Fig. 58: Partes.

Recorte todas as partes que compõe a peça, a base, e/ou a (as) paredes da mesma, de acordo com seu projeto. Não se esqueça da espessura da placa, esta deve ser calculada antes do corte (Fig. 59).

Fig. 59: Guias para espessuras de placas.

Apoie a base da peça sobre uma madeira, ou azulejo, revestido de jornal (isso facilitará mover a peça), faça ranhuras nas partes que serão coladas e pincele barbotina. Coloque a parede sobre a base com movimentos leves para evitar que amasse a placa e a pressione ligeiramente. Em alguns casos, deve-se usar um rolinho na junção interna das placas para reforçar a união das mesmas, costurando interna e externamente. Repita a operação com todas as partes a serem coladas (Figs. 60a, 60b, 60c, 60d e 60e).

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Figs. 60a e 60b: Preparação das partes. Fig. 60c: União das partes com rolinho. Figs. 60d e 60e: Finalização da peça.

Ao término da construção, a peça deve ser submetida a uma secagem cuidadosa, à sombra, com uma cobertura plástica para que seque lentamente. Este processo deve ser acompanhado, pois, dependendo da extensão da peça, a mesma pode sofrer alterações como empeno ou rachadura. Após a secagem, pode-se melhorar o acabamento da peça, utilizando, para isso, uma lixa de madeira nº 100 e, em seguida, tirar-lhe o pó com pincel ou esponja. A placa pode ser usada sobre diferentes superfícies como molde, até que a massa fique firme ou dura. Como exemplo podemos citar: pratos, cumbucas, cascas de árvores, etc. É importante pensar na sua retração durante a secagem para que esse molde não impeça o seu encolhimento. Nem todos os objetos servem como molde.

Bloco Com a técnica do bloco, você poderá criar escultura das mais diversas, como anatomia humana, animal, forma abstrata, etc. Os alunos iniciantes na cerâmica, muitas vezes, já manipularam a argila como experimentos de modelagem. É importante lembrar aqui que existem modos diferentes de se trabalhar com a argila, isso vai depender do objetivo do artista, ele pode utilizar como fim a escultura, sendo a modelagem um meio para outros materiais. Outra possibilidade é a escultura cerâmica, na qual a ação sobre a matéria será outra. A forma deve estar vazia, portanto, as peças devem ser ocadas e conter uma abertura para a passagem do ar contido no interior; caso contrário, a peça pode estourar durante a queima. Materiais:

Argila; Torno de mesa; 1 Base de madeira para apoiar a peça; Estecas ou desbastadores; Espátulas; 48 Unidade 3


Faquinha; 1 Saco plástico; Fio de náilon; Etapas de construção:

Pegue uma quantidade de argila, amasse-a bem para eliminar a bolhas de ar (como já foi descrito nas páginas 31 e 32). Com os dedos, comece a pressionar a argila, dando-lhe o formato que desejar. Umedeça os dedos ou a ferramenta que estiver utilizando, mas nunca deixe que se forme lama na superfície da peça. A água serve como lubrificante, mas se usada em demasia pode amolecer a peça, dificultando a modelagem ou causando-lhe rachaduras. Algumas peças para serem modeladas, por vezes, necessitam de uma estrutura interna (em madeira, metal, isopor etc), essa deverá ser retirada do interior da peça antes que ela seque, pois poderão causar trincas durante a secagem ou durante a queima. Em alguns casos, pode ser usada uma estrutura de jornal; essa deverá permitir que a peça encolha, nesse caso, não há a necessidade de retirá-la, pois a mesma se transformará em cinza durante a queima. Para se evitarem rachaduras durante a secagem deve-se ter alguns cuidados durante a modelagem para que as partes mais finas, e consequentemente as que perdem mais rapidamente a umidade, não sequem antes do restante da peça, evitando rachaduras. Deve-se então usar pano umedecido ou plástico para protegê-las enquanto modelamos as demais partes, sem que essas venham a secar. Ao término da modelagem, a peça deverá ser ocada, ou seja, ter toda a argila do seu interior retirada. Cada peça irá necessitar de uma forma de ocagem diferente, por isso é importante se estudar cada caso previamente. Em alguns casos, pode-se ocar a peça pela base, essa é a forma mais simples, basta virar a peça cuidadosamente de cabeça para baixo, ou apóia-la lateralmente sobre uma superfície macia, retirando a argila do seu interior com um desbatador4. Existem formas que nos obrigam a seccionar parte da peça para que seja feita a ocagem de forma homogênea por toda a sua extensão. A secção de uma peça deve ser feita com a argila firme para não deformá-la, mas não tão dura para que possa ser cortada e colada. Usando um fio de náilon, corte a peça em uma ou mais partes. Estude bem antes de cortar para que você possa ocar toda extensão da peça com o mínimo de secções possíveis (Figs. 61a e 61b). Com o auxilio de um desbastador, retire aos poucos a argila do interior de cada parte da peça, mantendo uma das mãos na parte externa trabalhada para se 4. Ferramenta constituída por um cabo de madeira ou plástico com um aro de ferro utilizado para retirar o excesso de argila do interior ou exterior das peças.

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ter noção do quanto está sendo retirado, evitando, assim, que se fure a peça. Se por acaso a peça for perfurada, passe barbotina no local e coloque a argila novamente, faça uma pressão com os dedos e, se for preciso, costure-a com a faquinha. Enquanto uma parte está sendo ocada o restante da peça deve estar protegida com um pano úmido ou mesmo um plástico para que não seque demasiadamente. A parede da peça deverá ter espessura uniforme ao longo de toda a peça, de acordo com o seu tamanho. Nas peças pequenas, as paredes deverão ser mais finas e em peças maiores as paredes deverão ser grossas (Figs. 62 e 63). Após a retirada do excesso da argila do interior de cada parte, devemos remontar a peça, colando as partes que foram seccionadas cada uma em seu devido lugar. O processo de colagem é semelhante ao das outras técnicas; faça ranhuras nas partes que irão se tocar, passe a barbotina e pressione levemente, costure com cautela para não deformar a peça. Se na emenda surgir uma depressão, coloque um rolinho

Fig. 61a: Cortando a peça com o fio de náilon.

Fig. 63: Peça ocada, paredes uniformes.

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Fig. 61b: Peça cortada.

Fig. 64: Juntando as partes.

Fig. 62: Ocando a peça.

Fig. 65: Costurando a junção.

Fig. 66: Peça pronta.


para que a peça volte a ter o aspecto inicial. Vá colando cada parte com cuidado, achando o ponto exato de encaixe, pressionando sem amassar e costurando muito bem para que não se solte durante a secagem ou na queima (Figs. 64, 65 e 66). Se a base da peça for fechada, lembre-se de que no interior da peça se formou uma enorme bolha de ar e que precisará de um orifício para sair durante a secagem e a queima, logo, devemos fazer um pequeno furo na base ou onde achar mais conveniente.

Torno As peças de cerâmica foram feitas completamente à mão por séculos, até que por volta de 3000 a.C. o progresso das civilizações gerou a necessidade de se fabricar um grande número de recipientes para o armazenamento de líquidos e alimentos, propiciando, então, o surgimento e a evolução da roda de oleiro, uma das primeiras ferramentas mecânicas desenvolvidas pelo homem. Hoje, já existem diferentes tipos de torno, que variam de acordo com o mecanismo impulsionador da roda e a posição do oleiro no momento do trabalho. Os tornos mais antigos e mais simples são acionados a mão, onde o impulso é dado através de um bastão que se encaixa em um orifício na roda, fazendo-a girar (Fig. 67). Temos também o torno movido com um dos pés, que consiste em uma mesa circular diretamente conectada por um eixo a uma roda, que o ceramista move diretamente com o pé (Fig. 68). O torno elétrico é a versão mais moderna da antiga roda de oleiro, trata-se de um motor movido à eletricidade que faz girar o disco no qual a argila é torneada (Fig. 69).

Fig. 67: Torno de mão.

Fig. 68: Torno a pedal.

Fig. 69: Torno elétrico.

Por seu movimento circular, rotação, o torno é uma ferramenta que possibilita a construção apenas de peças circulares, que podem ser alteradas pelo ceramista depois de prontas, recortando-as, amassando-as ou colando novas partes.

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Não há uma única maneira de se trabalhar com o torno, cada ceramista desenvolve a sua própria forma de tornear, adaptando as posições das mãos, mas seguindo um principio lógico, tudo gira em torno de um eixo central. Alguns tornos giram para os dois lados, o mais indicado é que os destros usem o torno no sentido antihorário e os canhotos no sentido horário. Vamos descrever aqui os procedimentos para a utilização de um torno que gira no sentido anti-horário, assim, os canhotos devem inverter as indicações das mãos. A melhor forma de aprender a tornear, além de se praticar, é observar as pessoas que já tenham um avançado domínio da técnica, para isso, temos sites de vários ceramistas que apresentam sua experiência. Vamos traçar algumas diretrizes básicas das etapas a serem seguidas, pois somente a prática levará ao domínio da técnica. É importante ressaltar que as etapas são sequenciais e pré-requisito para a etapa seguinte. São elas: colar a argila na base do torno, centralizar a massa, furar e em seguida abrir a massa, subir a parede e, por fim, dar a forma da peça, retirando-a em seguida do torno. Todo processo encontra-se registrado em um vídeo para compreensão sequencial em movimento, das etapa apresentadas aqui. Materiais:

Argila; Torno; Banco; 1 Vasilha com água; 1 Esponja macia; 1 Ponta seca; 1 Fio de náilon; 1 Espátula de metal ou de madeira (pode substituí-la por um cartão de banco vencido). Etapas de torneamento:

Para começar a tornear, prepare uma bola de argila, bem amassada. O ideal para o iniciante é que ela esteja macia e a quantidade caiba confortavelmente entre suas mãos, à medida que for ganhando prática pode ir aumentando ou diminuindo a quantidade de argila. Com o torno desligado, bata com ambas as mãos na bola de argila com força o mais próximo possível do centro do torno. Ligue o motor e acelere para girar o disco. Ainda com as mãos secas, use o dedo indicador da mão direita para pressionar levemente a base da argila, colando-a no disco do torno, impedindo que a água deslize para entre a argila e o disco. 52 Unidade 3


Molhe as mãos. A partir de agora todos os movimentos devem ser realizados com as mãos molhadas, pois a água servirá de lubrificante, impedindo que a argila cole em suas mãos. Vamos fazer agora varias vezes a repetição de uma sequência de movimentos, que tem como objetivo centralizar a argila e organizar suas partículas. Esse movimento consiste em pressionar a massa, descendo-a contra a base e, em seguida, subí-la, formando um cone. Para isso, pressione a mão direita sobre a massa, fazendo um movimento vertical, empurrando a massa de cima para baixo, simultaneamente. Com a mão esquerda, empurre para o centro, fazendo um movimento horizontal para frente. A força de cima para baixo deve ser maior que a força para frente permitindo assim que a argila desça (Fig. 70a, 70b e 70c). Para subir, deslize a mão direita para o lado oposto ao da mão esquerda e pressione uma contra a outra (usando as palmas das mãos), fazendo um movimento com ambas as palmas de baixo para cima, puxando a argila e formando um cone. Repita essa operação no mínimo três vezes, ou até conseguir centralizar a argila de forma que, ao apoiar as mãos levemente sobre ela, esta não se movimente (Fig. 71). Nunca deixe as mãos secarem, diminua a pressão das mãos, depois, desloqueas lentamente e mergulhe-as na água todas as vezes que sentir que elas ressecam. Todos os movimentos deverão ser suaves, tanto ao colocar como ao retirar as mãos da massa. Use a espoja para enxugar o disco todas as vezes que molhar as mãos. Com a argila centralizada, vamos agora furar a peça no centro. Uma das formas de se furar é apoiar os polegares sobre a massa, deixando as mãos abraçarem levemente a peça. Lentamente, vá pressionando os polegares para baixo, abrindo um orifício central, até deixar uma espessura suficiente para o fundo da peça. Outra forma de furar a peça é com a mão esquerda em volta da argila: formando um “C” apoie a mão direita sobre a mão esquerda, descasando o dedo médio sobre a massa até encontrar o centro. Pressione levemente o dedo para baixo, perfurando o centro da argila. Desça até deixar uma espessura que irá ser o fundo da peça (Figs. 72a e 72b). Para abrir, mantenha a posição das mãos e puxe-as em direção ao seu corpo, até atingir o diâmetro desejado. A ponta do dedo indicador deve fazer um movimento paralelo ao disco, sem levantar ou afundar. Com o auxilio da esponja, enxugue o interior da argila para que ela não amoleça (Fig. 73). O próximo passo é levantar as paredes da peça. Para isso, as mãos trabalham em cooperação: a mão esquerda posiciona-se na parte interna da peça, utilizando o dedo médio ou o indicador para puxar a massa de forma ascendente, enquanto a mão direita se posiciona na parte externa, acompanhando a esquerda, gerando um movimento ascendente da base da peça para o alto. Os dedos devem estar sempre alinhados. Para facilitar esse processo, tente tocar uma mão na outra com os

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polegares para que a pressão exercida se torne constante e o movimento de subida tenha uma velocidade também constante. Procure travar os braços no corpo ou nas pernas para evitar que as mãos se desloquem para frente, acompanhando o movimento da roda (Figs. 74a, 74b e 74c). Para dar forma à peça, deve-se trabalhar alternando-se a pressão dos dedos. Se o objetivo é abrir a peça, o dedo interno empurra levemente a parede da mesma e o externo o acompanha. Para fechá-la, fazemos o inverso: o dedo externo que está localizado no lado de fora empurra a peça e o dedo localizado no lado interno diminui a pressão. Os dedos também podem se deslocar ligeiramente para cima e para baixo, levando em conta que o dedo que está abaixo empurra a peça, forçando a massa para o lado oposto. Nesse momento, o uso de espátulas pode ser conveniente, para auxiliar na forma. A velocidade de rotação do disco pode ir diminuindo a cada etapa, chegando ao fim, bem lentamente, para facilitar a modelagem da forma e o acabamento da borda (Fig. 75). Se em alguma das etapas anteriores for encontrada uma bolha de ar, pare a rotação do torno, fure a bolha com uma ponta seca e pressione a massa levemente com a ponta do dedo e volte a tornear. Antes de desligar o torno, use a espátula para raspar a junção entre a base da peça e a do disco, melhorando o acabamento. Seque a peça com a esponja e desligue o torno (Fig. 76). Segure cada ponta do náilon e o apoie no disco, esticandoo, em seguida, deslize-o sob o prato para a retirada da peça pronta. Com as mãos secas pegue delicadamente a peça pela base, levantando-a e apoiando-a sobre uma base com jornal já preparado para recebe-la (Fig 77).

Fig. 70a, 70b e 70c: Centralizando a argila, subindo.

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Fig. 71a, 71b e 71c: Centralizando a argila, descendo.

Fig. 72b: Furando o centro da argila.

Fig. 74a: Subindo a parede da peça.

Fig. 74b: Subindo a parede da peça. Fig. 75: Definição da forma.

Fig. 76c: Acabamento da peça no torno.

Fig. 72a: Furando o centro.

Fig. 73: Abrindo o diâmetro interno da peça.

Figs. 76a e 76b: Acabamento da peça no torno.

Fig. 77a e 77b: Retirando a peça do torno.

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Acabamento Independente das técnicas usadas, os trabalhos realizados com argila podem ser trabalhados com texturas das mais diversas. O acabamento não precisa ser necessariamente uma superfície lisa, explore os materiais que estiver a sua volta, a argila é um excelente corpo para imprimirmos objetos como rendas, sementes, cascas, folhas, palitos, cabo de pincel e tudo mais que estiver ao seu alcance. Uma simples textura pode contribuir para valorizar e personalizar uma obra. Existe também a possibilidade de polir a superfície de uma peça, fechando os poros para ganhar um leve brilho após a queima, como fazem as ceramistas do Vale do Jequitinhonha e as paneleiras de Goiabeiras. Para isso, podemos usar um seixo rolado, colher de metal ou mesmo plástico, polindo a peça quando esta se encontra em ponto de couro5. Ao se friccionar a ferramenta sobre a superfície da peça, esta adquire certo brilho, tornado-se impermeável, pois as partículas da argila se juntam de maneira a vedar os poros, impedindo, assim, a passagem de líquidos. Outra maneira de dar acabamento a uma peça já seca é lixar a sua superfície, nesse caso, use lixa para madeira, as mais finas deixam as peças mais lisas; as mais grossas deixam as peças um pouco mais ásperas.

Tempo de secagem A modelagem pode ser realizada em alguns segundos ou levar dias para ser concluída. Por isso é importante o ceramista compreender que trabalha com o fator tempo e que precisa respeitá-lo, acompanhando todas as fases do processo cerâmico. Acelerar, retardar ou pular uma etapa é uma questão delicada que poderá comprometer o trabalho. Vale lembrar que para mantermos uma peça úmida devemos envolvê-la em uma embalagem plástica da mesma forma como acondicionamos a argila. Se a peça inacabada estiver um pouco seca, dificultando a modelagem, coloque sobre ela um pano umedecido e mantenha-a em um plástico, para que esta absorva parte da água contida no pano e volte a ser maleável (tenha cuidado para não exagerar com a água). Dessa forma, é possível trabalhar uma peça por vários dias ou até por meses. É importante lembrar que o plástico para embalagem de peças que ainda não foram terminadas e das massas cerâmicas (argilas) devem ser de boa qualidade e 5. Momento em que a argila está firme demais para se modelada, mas ainda contém umidade. Uma forma de saber se a argila está em ponto de couro é friccinar levente o dorso da unha sobre a peça, se produzir brilho é porque está em ponto de couro, se arranhar é porque já passou. O ponto de couro é o momento ideal para se dar o polimento nas peças.

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não podem ter furos. As sacolas de supermercado contêm na sua composição uma certa quantidade de papel, logo, são porosas e deixam a umidade passar, não sendo recomendadas para embalagem de peças e argilas, porém, são úteis para proteger peças que necessitam secar lentamente. A secagem é um momento delicado e não deve ser acelerado, expondo as peças ao sol, nem a correntes fortes de ar. Reforçando o que já foi dito anteriormente, o ideal é que as peças sequem lentamente à sombra; e se tiverem partes com espessuras variadas recomenda-se cobri-las levemente com plástico para que as partes mais finas não seguem muito mais rápido que as demais, evitando-se, assim, rachaduras. Apresentamos aqui as diferentes possibilidades de trabalhar com a argila ou massa cerâmica. É importante testar e ver com que técnicas você mais se identificou ou qual delas melhor se adaptará ao projeto desejado. Nesse momento, o diálogo com pessoas experientes pode contribuir para este próximo passo. Não existe uma regra, muitas vezes, o projeto necessita de associações para facilitar a sua execução, uma técnica pode ser associada à outra ou até mesmo a outras. Podemos começar um determinado objeto com a técnica do pote de aperto e continuar com rolinho e/ou terminar com a placa. Podemos começar com a placa e terminar com rolinhos, ou mesmos começar com o bloco e terminar com rolinho, até mesmo peças feitas no torno podem se associar às demais técnicas.

Modelagem

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