Da cruza da música com as artes visuais nasce uma mula1 estéril?
Um manifesto-ensaio. Porque para fazer música tem que ensaiar e um grupo de imagens com linguagem e temas afins também é um ensaio. Taí uma coisa a se pensar. E não necessariamente a gente precisa chegar a uma conclusão, como nos dois casos. Acho que podemos começar pensando que, desde o Andy Warhol 2, o mundo não teve muita chance de aproximar música e artes visuais, né? (Andy Warhol é sempre um bom ponto de partida pra pensar qualquer coisa hoje). Na verdade, mesmo o Velvet 3 e o Warhol não tinham um diálogo muito íntimo, não - ou estou enganada? - porque a aproximação era apenas pessoal/profissional, não muito artística. Você acha isso? Warhol fazia músicas? O Reed pintava quadros ou fazia fotos? Ele escrevia magistralmente, o que já é um tipo de intertexto, mas uma outra mula, não essa de que a gente está falando. Warhol não compunha, mas Reed fotografou mais tarde na vida4. Warhol pintava ouvindo Maria Callas5. Legal isso daí, eu não sabia. Vi as fotos do Lou Reed, mas tenho algumas considerações. Beleza, ele era poeta e músico e fotógrafo. Mas uma linguagem não interferia muito na outra, né? (exceto pela literatura / música). Mas há de se concordar que a música dele é bem visual. Sim, mas acho que pelo recurso literário que ele usa, descritivo, não sei. Mas concordo. Entretanto, as músicas dele não geravam imagens "concretas", "compartilháveis". Tem a Yoko Ono6. Talvez a gente possa considerar que ela fazia uma coisa real entre os dois mundos. Tinha músicas, tinha imagens, tinha performances. Acho que a performance, talvez, seja a interseção que a gente tem que investigar mais. Tem a Patti Smith 7 também. Cantora, compositora, poeta e pintora. Acho que ela faz fotos também. Não sei se esse pensamento está certo, mas acho que só com o surgimento de algumas linguagens multimídia que começaram a acontecer os verdadeiros intertextos nas coisas. O vídeo, por exemplo, é uma linguagem que, é naturalmente, multidisiplinar. Possui diferentes camadas: imagem e som (primeiramente - por isso chamado audiovisual) e texto (muitas vezes). Se existem pessoas representando, ainda entra o teatro. Então talvez seria legal a gente pensar em quem fez essa mistura de visuais e música a partir do vídeo, já que a 1
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mula http://en.wikipedia.org/wiki/Andy_Warhol 3 http://en.wikipedia.org/wiki/The_Velvet_Underground 4 http://flavorwire.com/422874/the-unexpected-joys-of-lou-reeds-art-photography/ 5 http://en.wikipedia.org/wiki/Maria_Callas 6 http://en.wikipedia.org/wiki/Yoko_Ono 7 http://en.wikipedia.org/wiki/Patti_Smith 2
fotografia é uma mídia "seca" - nesse sentido. A música também é mais híbrida, porque já tem duas camadas: texto e som. Bom, tem o David Lynch8 também, que do cinema foi pra música. Jim Jarmusch9 também navega nas duas áreas, mas é mais cineasta. É, mas mesmo o David Lynch, não trabalha com cinema e música. Ele tem trabalhos de cinema e trabalhos de música, mas não as duas coisas juntas, sobrepostas, misturadas. Não sei se está dando pra entender o que eu quero dizer. Eu estava querendo pensar em artistas que fazem um trabalho mesmo transmídia, no caso, com música e visuais, nos quais uma parte não possa sobreviver sem a outra; que o entendimento do trabalho (ou de tal obra, específica) se dê apenas na fruição desses diversos suportes ao mesmo tempo. Tipo o que seria o videoclipe num mundo ideal. Engraçada a apresentação do David Lynch na wikipedia: "an American film director, television director, visual artist, musician and occasional actor". Até mesmo o Scott Macleay10, que é artista visual e compositor, não tem trabalhos que misturam as duas linguagens. Ele tem trabalhos de visuais e trabalhos de música. A Beyoncé11, no disco dela12, deve ter sido a primeira que associou os trabalhos de uma forma indissociável. Faz sentido, isso? Acho que teve uma tentativa mesmo. 2014, mil plataformas de trabalho disponíveis por aí e a galera ainda está tentando fazer as coisas acontecerem. Enfim, acho que ela tentou fazer isso mesmo, tanto que ela chama o disco de "Visual Album". Mas a parte de vídeo acrescenta conteúdo às músicas, novas camadas de sentido, mas as músicas podem ser entendidas sem o suporte do vídeo, tanto que ela vende as músicas separadamente no iTunes. Ia ser muito interessante se não existisse a música separada, só o vídeo, o audiovisual como um todo. Claro que eles teriam que criar uma plataforma específica para venda desse produto, onde as pessoas não pudessem ripar13 as músicas e separá-las do vídeo, o que acontece facilmente no YouTube, mas acho que foi um passo importante nesse sentido, sim. Mas videoclipe é uma coisa que surgiu a partir da música, e a serviço dela. Acho que é um pensamento paralelo nessa questão, que a gente não pode desconsiderar, mas que não é exatamente o ponto. Imagino que isso não se faça por questão de comercialização da obra, mesmo. O público de arte é pequeno, não é um mercado que se viabilize como de massa. Uma gravadora não se sustenta de royalties de licenciamento pra museu e galeria, nem YouTube. Enquanto o mercado da música é esse monstro, que chega a todo mundo via meios legais e ilegais, pagos e gratuitos, numa onda avassaladora de números. 8
http://en.wikipedia.org/wiki/David_Lynch http://en.wikipedia.org/wiki/Jim_Jarmusch 10 http://www.scottmacleay.com/ 11 http://en.wikipedia.org/wiki/Beyonc%C3%A9_Knowles 12 http://en.wikipedia.org/wiki/Beyonc%C3%A9_(album) 13 http://www.tecmundo.com.br/tira-duvidas/65516 9
E é engessado assim, pelos mesmos motivos. Há um suporte limitado para o risco em grande escala. Ainda bem, estamos numa era em que a arte (especialmente as visuais) estão ficando cada vez menos sagradas, saindo do espaço das galerias e museus e indo mais pra rua, então talvez a gente chegue numa aproximação. Queria excluir o videoclipe da conversa, que eu acho que já é outra brincadeira, que é trabalhado de forma meio rasa ainda hoje, com a imagem servindo apenas de suporte pra música, e não as duas coisas trabalhando juntas pra dar um sentido total da obra. Não sei se você concorda com isso. Alguns artistas têm trabalhos em vídeo que provavelmente me contradizem nisso. Não estou me lembrando de nenhum agora, mas deve ter. Acho que quem da música que começou a fazer de fato uma obra de vídeo foi a Madonna14. A narrativa se constroi muito pelo visual, até mais do que o musical. É verdade, a Madonna é bem essa mistura. Antes dos ainda dos vídeos, a narrativa visual está no próprio corpo dela, as mudanças ao longo do tempo. Interessante, reforça aquela coisa da performance como o lugar dessa mistura possível. Mesmo que o "produto" dela seja mais musical, porque é música que ela vende, no final das contas, o suporte pra isso acontecer é todo visual. E não digo isso somente pelos videoclipes dela, mas todo o visual mesmo, a identidade da marca Madonna, a performer Madonna, toda a comunicação. As performances ao vivo (shows) também. O David Bowie15 veio antes, misturando uma coisa meio teatral, performática, com a música. O Bowie é músico desde sempre, mas tem um background muito forte de teatro, de mímica, dessas coisas. E o trabalho deslanchou, ganhou potencialidade, quando uniu tudo. Existem vários artistas que trabalham com uma e outra coisa, ou que migram de uma pra outra de tempos em tempos. A Laurie Anderson16 é um excelente exemplo. Pensando aqui no Hip Hop17. Ele se sustenta sobre um tripé, que é: 1) música (rap) 2) visual (grafite) 3) lifestyle (moda). Pensando no Hip Hop como uma "entidade", e não nas três coisas que o compõe separadamente, dá pra pensar que ele é multimídia. Seria o Hip Hop uma mula concebida num ménage à trois18? A wikipedia coloca o Hip Hop como quadrúpede, acrescentando o pé "físico", que seria a dança, o break. Eu não sei. Eu colocaria o break dentro do suporte musical, mas talvez ele esteja entre o visual e o lifestyle, merecendo uma categoria própria. De qualquer forma, é uma "entidade" multidisciplinar, mesmo. O importante aqui é pensar que essa é, talvez, a primeira forma de arte nascida da vida comum, sem o elitismo da Arte com letra maiúscula, institucionalizada. (A propósito, "feita como" arte, porque a 14
http://en.wikipedia.org/wiki/Madonna_(entertainer) http://en.wikipedia.org/wiki/David_Bowie 16 http://en.wikipedia.org/wiki/Laurie_Anderson 17 http://en.wikipedia.org/wiki/Hip_hop 18 http://en.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9nage_%C3%A0_trois 15
música também nasceu da vida comum, mas não como manifestação artística, mas ritualística, estou certa?). Agora os museus e galerias estão incorporando a arte que nasceu e se criou à margem deles. Vide spray art, grafites, stickers, stencils, sendo vendidos a preço de quadro, e artistas de rua tendo prestígio de grandes nomes da história da arte, como o Banksy 19. Ou mesmo levando pro cubo branco20 as manifestações artísticas que geralmente não acontecem lá, como shows musicais. Vide a própria Madonna21 (na Gagosian Gallery), Zola Jesus 22 e Julianna Barwick23 (no Guggenheim24), Grimes25 e SSION (no MoMA PS126). A Grimes é bailarina, eu não sabia. Depois estudou literatura russa e depois neurociência. Me identifico com essa gente desfocada. Inclusive, estou lendo que o "estilo" musical que encaixam ela é "ADD music", ou Attention-Defict-Disorder Music. Grimes é muito contemporânea. Mas a gente não pode esquecer a M.I.A27. M.I.A., que junta tudo isso desde a origem do trabalho dela - e o mais curioso é que os vídeos não são a parte mais representativa da obra visual dela (exceto uns mais icônicos, tipo Born Free28 e Bad Girls29). São mais os stencils, as fotos, as montagens eletrônicas. Engraçado que ela expande seus talentos até na moda, mas de um jeito muito incomum, como costurando as próprias camisas com fio de ouro, abrindo um site e vendendo em tiragem de 50 ou 100. E ela acabou de romper com a Roc Nation30, então está meio que dando uma banana (ainda que de leve) para a indústria musical do jeito que ela tem sido pensada até agora. Tenho certeza que vêm coisas muito interessantes por aí. A M.I.A é, das artistas pop que eu já tive notícia da existência, a que mais ousa na utilização de outros suportes - principalmente na internet - para o trabalho dela. Primeiro pela formação acadêmica dela em artes visuais, segundo pelo seu histórico em militância política, ela sempre encontra uma maneira de usar muito criativamente as ferramentas da internet. O editorial de moda das roupas que ela desenhou pra Versace 31 é nada menos que maravilhoso, com GIFs animados 32. Simples, corriqueiro, mas genial, pq é um 19
http://en.wikipedia.org/wiki/Banksy http://en.wikipedia.org/wiki/Contemporary_art_gallery 21 http://www.billboard.com/articles/news/5721562/madonna-performs-elliott-smiths-between-the-barsmingles-with-sean-penn-at 22 http://pitchfork.com/news/46709-watch-zola-jesus-perform-at-the-guggenheim/ 23 http://www.cmj.com/live/grouper-julianna-barwick-guggenheim-april-13-2012/ 24 http://www.guggenheim.org/new-york/support/4530-divine-ricochet-a-guggenheim-music-series 25 http://en.wikipedia.org/wiki/Grimes_(musician) 26 http://momaps1.org/calendar/view/308 27 http://en.wikipedia.org/wiki/M.I.A._(rapper) 28 https://vimeo.com/11219730 29 http://youtu.be/2uYs0gJD-LE 30 http://rocnation.com/ 31 http://www.miauk.com/mia-x-versus-versace 32 http://en.wikipedia.org/wiki/Graphics_Interchange_Format 20
recurso que ninguém usa, a não ser o usuário comum de internet. Genial e simples. É um recurso que está "preso", mas a um território livre, que é a internet; ao contrário das marcas tradicionais, que preferem suportes mais flexíveis, que possam funcionar em diferentes mídias, como a fotografia, que pode ser digital ou pode ser impressa. Ela não se preocupa com isso, porque trabalha com um nicho, então pode se dar ao luxo de não ter que ser "adaptável" a diversos meios. Ela consegue uma aproximação com o público fora do comum, porque ela mostra que é comum como o mais comum dos usuários de internet. Ela usa a linguagem da rua, sendo "rua" o espaço público da cidade e o espaço público virtual, isso é muito interessante, e conecta com a "entidade" Hip Hop que eu falei lá em cima. De qualquer forma, mesmo os vídeos mais icônicos, como você disse, como o Born Free, também não têm essa mistura. Nesse caso, o vídeo (maravilhoso, a propósito) é um filme e a música acontece ali quase como trilha sonora desse filme, quase como uma "legenda" pra imagem. De qualquer forma, é um recurso inovador, porque já inverte a lógica do videoclipe tradicional, onde o vídeo, muitas vezes, é a "ilustração" da música. A internet é esse território cruzado, né? Onde todos os outros meios e linguagens tem espaço. Nem sei como chamar a internet: se ela é um meio, se é um suporte ou se é uma linguagem. Acho que é tudo isso ao mesmo tempo. Talvez seja mesmo um território. Talvez artistas que existam somente na internet seriam esses novos artistas-mula. O que não é o caso da M.I.A, porque ela existe no mundo concreto também, mas ela é um grande passo nessa direção. Esta é minha opinião, sem nenhum embasamento científico e pouco repertório. Voltando à Madonna, ela lançou um trabalho exclusivamente em vídeo ano passado, chamado “Secretprojectrevolution”33. Parece uma daquelas obras de vídeo baseadas em dança, como as da Anne Teresa de Keersmaeker 34. Mas o caráter inovador foi menor, na minha opinião, por não incluir uma canção original. Você acha que as crias dessa cruza vão ser sempre estéreis? A cruza em sí é prolífica, os descendentes é que não são muito férteis, geralmente não copulam entre si para gerarem novos descendentes. Será que sempre uma linguagem vai se sobrepor à outra em importância ou presença quando acontecem essas misturas? Até agora a gente só conseguiu lembrar de artistas múltiplos, não trabalhos múltiplos. Qual é aquela banda que você me contou que fez um trabalho muito interessante de transmídia? O que foi que eles fizeram mesmo? Tinha várias linguagens e suportes num mesmo trabalho, o Nine Inch Nails 35. Especialmente na época do
33
http://www.madonna.com/news/title/madonna-announces-secretprojectrevolution-an-art-for-freedomproject 34 http://en.wikipedia.org/wiki/Anne_Teresa_De_Keersmaeker 35 http://en.wikipedia.org/wiki/Nine_Inch_Nails
“Year Zero36”, mas eles fizeram outras coisas correlatas antes e depois. Começaram vazando canções em MP3s abandonados nos banheiros dos shows e a coisa foi evoluindo até um ARG, 37
com mensagens subliminares em todos as obras e produtos 38 da banda. Mas, ainda assim,
aconteceu um disco e turnê tradicionais - o que não tira o brilho de loucura da coisa toda. Outra lenha que eu queria jogar nessa fogueira é que, ao que parece, as mulheres são sempre as pioneiras nas vanguardas (redundante isso, eu sei) ou nas alterações de um regime artístico pro outro39. O surgimento da performance está muito ligado ao fortalecimento do movimento feminista na década de 7040 e, hoje, nessa passagem, nessa mistura que a gente está tentando mapear das artes visuais com a música, parece que as mulheres conseguem ir mais longe um pouco que os homens. Em termos de internet, é inegável que a evolução técnica se deve aos homens (haja vista a quase unanimidade deles entre os programadores, desenvolvedores e hackers), porém, as mulheres parecem fazer um uso mais criativo das ferramentas. Mas, como em outras áreas da vida, elas não levam os créditos e/ou a fama devida, ficando os louros para algum homem que faça a mesma coisa pouco tempo depois. Sem fontes sobre isso, apenas um fato, que poderia ser comprovado, por exemplo, pelas Guerrilla Girls. As Guerrilla Girls41 puxam bastante pro lado pop da arte, usando a linguagem da mídia de massa42 (não foram as pioneiras nem serão as últimas), misturando com fatos do mundo comum. E, principalmente, criticando o sistema mundial (mercado) de arte utilizando os próprios meios desse sistema, o que é exatamente o que "entidades" como o Hip Hop fazem denunciar a injustiça social apropriando do próprio corpo da sociedade, nesse caso, a cidade e o mobiliário urbano43. E também toda a arte de rua44 faz isso, ao desafiar as instituições, e também a arte de guerrilha45, como as próprias Guerrilla Girls fazem. Seria ótimo se elas fossem um grupo musical tipo as Spice Girls46. Nosso tema aqui teria, enfim, um objeto. O que eu acho que falta na música é um pouco da ousadia e liberdade que as artes visuais propõem. Da mesma forma, falta muito nas artes visuais dessa universalidade de produção e fruição que a música tem (hoje). Se a gente pudesse unir o melhor de cada 36
http://en.wikipedia.org/wiki/Year_Zero_(album) http://en.wikipedia.org/wiki/Alternate_reality_game 38 http://en.wikipedia.org/wiki/Year_Zero_(game) 39 http://www.anpap.org.br/anais/2008/artigos/135.pdf 40 http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?pid=S0874-55602013000100005&script=sci_arttext 41 http://www.guerrillagirls.com/ 42 http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,guerrilla-girls-artistas-e-ativistas-feministas-deny,638044,0.htm 43 http://content.time.com/time/photogallery/0,29307,1911799,00.html 44 http://en.wikipedia.org/wiki/Street_art 45 http://guerilla-art.wikidot.com/what-is-guerilla-art 46 http://en.wikipedia.org/wiki/Spice_Girls 37
modalidade, teríamos algo realmente espetacular. Cildo Meireles 47 diz naquele livro que estou lendo48, que o dia que a arte alcançar a verdadeira vocação social dela (estar infliltrada nas ações cotidianas), será sua morte e seu sucesso ao mesmo tempo. Acho que é um pouco disso mesmo, como se o objetivo da arte fosse a sua superação. Mas isso só poderá acontecer no dia que conseguimos (enquanto humanidade) criar uma forma de alcançarmos todos os sentidos ao mesmo tempo. Algo que fosse universal, empático. O dia que existir algo realmente imersivo, que nos abrace por todos os lados: tato, olfato, visão, paladar, audição, sentimentos e sensações… tudo ao mesmo tempo e na mesma intensidade. Toda essa experiência junta. Não sei se o humano é capaz de uma coisa dessas, apesar de eu achar que a arte (no geral) já é uma criação da humanidade nesse sentido. Imagina, pode tocar o outro com toda essa capacidade? Será que seria a telepatia49 o futuro da arte? Poderia ser a parapsicologia 50, ou pelo menos o mentalismo51, uma cadeira acadêmica na Belas Artes? Eu não queria que essa conversa ficasse muito viajada, que parecesse que sonhamos uma ficção científica, mas isso poderia existir. A gente ainda pode pensar em outros tópicos importantes. Um deles é a invenção do DJ 52
. E sua consequente derivação, o VJ53. Que você acha disso? É, efetivamente, uma mistura
entre visuais e música, ainda que com algumas ressalvas e especificidades que dificultam um pouco essa leitura. Tem aquele trabalho do Bruno Mendonça, Cacofonia 54, onde ele discute essa coisa do DJ ser uma mistura entre o performer e o curador 55. Eu acho um conceito interessante. Queria saber quem mais tá fazendo coisas nessa linha aqui no Brasil. Poderia ser a gente. Deveria ser a gente. Será a gente.
Suelen Pessoa David Dines Janeiro de 2014
47
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cildo_Meireles http://www.travessa.com.br/CILDO_MEIRELES/artigo/1d751697-3edf-48dc-8476-546808ab136f 49 http://en.wikipedia.org/wiki/Telepathy 50 http://pt.wikipedia.org/wiki/Telepatia 51 http://en.wikipedia.org/wiki/Mentalism 52 http://en.wikipedia.org/wiki/Disc_jockey 53 http://en.wikipedia.org/wiki/VJing 54 http://brunomendoncaart.tumblr.com/post/51073758766/projeto-cacofonia 55 http://brunomendoncaart.tumblr.com/post/50321034710/projeto-cacofonia-axe-paradise-acao-01 48