Suplemento Literário de MG número 0002

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BELO HORIZONTE — SÁBADO, 10 DE SETEMBRO DE 1966 ANO I

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Jarbas Juarez estudou com Guignard, Maria Helena Andrét e Misabel Pedrosa, mas muito cêdo já se impunha como criador de um estilo próprio, No desenho, explorou um tema difícil —' bichos — que, jà princípio, era tratado com muita riqueza de detalhes c, aos poucos, foi-se evoluindo, se deformando. Há pouco, Jarbas fêz uma pxposição em que demonstrava a evolução do tratamento de um tema — cavalos: da minuciosidade passava à síntese.

Ela está o princílamo-ÉÍ !st0 nunca tia 'a apenas de tazer

Do desenho passou à pintura, primeiro à pop-art que lhe deu o primeiro prêmio no Salão da Prefeitura, em 1964 — depois, à jnova figuração e, atualmente, dedica-se à criação dentro do barroco mineiro e do surrealismo.

5 os meus violenta? onhecemos

Também o seu desenho atual tem um pouco de surrealismo e nêles se nota a preferência do artista para temas de mitologia — uma mitologia mineira.

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ISMÂLIA Quando Ismália enloqueceu. Pôs-se na torre a sonhar.... A

POESIA

Viu uma lua no céu,

impressão pela prle crê nôvo do nos iné porque tão havia- í

Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu, DE

ALPHONSÜS

Banhou-se tôda em luar. Queria subir ao céu, Queria descer ao mar., „

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E, no desvario seu,

GUIMARAENS

Na torre pôs-se a cantar ., „ Estava perto do céu,

trio, penla «morte em desti, em Sarie Kafka. do aorre. Sartre, íão, colobro e ne ■a a vida da por npossível, ixistêncla Simplesnosso al-

Estava longe do mar.

E como um anjo pendeu Queria a lua do céu, Queria a lua do mar....

As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par ...

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As asas para voar...

Sua alma sabia aò céu, (Página 3)

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Seu corpo desceu ao mear.

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n 2 — MINAS GERAIS

(Suplemento Literário)

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O Espelho é, para AugustoMeyer (9), «um dos momenlòs mais vertiginosos na. obra de Machado de Assis». O humorismo cáustico do princípio, a acrobacia machadiana de Jacobina ao expor a sua tese das duas almas, contrasta profundamente cora a gravidade simples da história contada por êle. O próprio ambiente prepara essa impressão, pela sugestão visual de uma claridade dúbia, fantás-, tica, a de um sonho vagamente sonhado por nós, na penumbra de outra vida». Ao lado do seu extraordinário valor como peça literária, o Espelho^ apresenta também grande interesse como estudo quase científico dos eleitos da solidão e do tédio sôbre o psiquismo humano. Para comprová-lo, vamos fazer referência a alguns trabalhos modernos sôbre a psicologia do aborrecimento. Para Fromm (2), há poqca diferença entre aborrecimento e depressão, que êle define como a incapacidade para sentir tanto alegria como tristeza. Uma pessoa deprimida teria grande alivio se pudesse sentir tristeza, mas é incapaz de sentir nada, ou melhor, sua sensação é a de estar morta, ainda que o corpo esteja vivo. Entre depressão e tédio existe apenas diferença de gradação, porque o aborrecimento nada mais é que a sensação de paralisia da nossa capacidade criadora e da faita de vida. Entre todos os males da existência, há poucos tão penosos como o tédio e, em conseqüência, faz-se tudo para evitá-lo. Ao lado do temor à doença física ou de se ver humilhado pela perda de categoria e prestigio, o mêdo ao aborrecimento tem um lugar predominante entre os medos do homem moderno. Tanto é assim que, segundo Fromm, se deixassem de funcionar, somente por quatro semanas, os cinemas, as estações de rádio e televisão, o futebol e os jornais, certamente ocorreriam milhares de perturbações neuróticas caracterizadas por ansiedade aguda e muito semelhante ao quadro da neurose ansiosa. Fromm (3) não hesita era afirmar que a necessidade de conviver com os outros é a paixão mais forte do homem, mais forte do que o sexo e mais forte mesmo que o desejo de viver. "Para o homem como homem, escreve êle, ou seja, quando transcende a natureza e tem consciência de si e da morte, a sensação de solidão e isola-

mento completos está próxima da loucura". Essa afirmação encontra ■apoio na verificação do psiquiatra Mayer-Gross (8) para quem um fa,to aduzido'a favor da opinião de que a situação psicológica representa um papel importante, é que a esquizofrenia é relativamente freqüente entra os criminosos condenados s reclusão prolongada. Ao lado dessas observações clinicas, podem ser citados estudos experimentais sôbre a psicologia do aborrecimento, realizados em homens e animais e não somente naqueles dotados de sistema nervoso mais complexo. A anêmona-do-mar, o caracol, os pássaros, submetidos a um estímulo desagradável, reagem à sua maneira: contraindo o corpo, refugiando-se na concha ou apressando o vôo. Se, porém, o estímulo é repetido monòtonaraente, forna-se idêntico o modo de reagir dos animais: deixam de fazê-lo. Um rato colocado num labirinto, no fim do qual haja alimento, se cansa de percorrer sempre o mesmo caminho e procura, se possível, alcançar sua meta através de um caminho nôvo. Com relação ao homem, as primeiras experiências foram feitas por Mackworth (7), que, tendo notado diminuição na eficiência dos operadores de radar, depois de determinada duração do turno de serviço, procurou reconstituir situação análoga em laboratório. Os pacientes deviam observar um ponto móvel sôbre um quadrante e apertar um botão, quando o ponto completava ama oscilação dupla. O resultado foi surpreendente: o rendimento dos pacientes diminuía depois de meia hora apenas. Hebb e colaboradores (4) realizaram observações sobre ura grupo de estudantes, que concordaram em ficar deitados vinte e quatro noras por dia num leito confortável, num cubículo iluminado. Só lhes era permitido mover-se para comer ou dirigir se ao banheiro. A percepção visual era reduzida por máscaras translúcidas de plástico, a tátil por luvas de algodão e punhos de papelão e a auditiva por almofadas cm forma de ü e peio rumor de um aparelho de ar condicionado. Os pacientes haviam prometido repassar mentalmente, durante o período dc isolamento, seus estudos oa pensar em algum problema de caráter pessoal, a fim de combater o aborrecimento. Pos-

sível a princípio, isso lornouse depois dificílimo: a raenie se esvaziava, não conseguia concentração e seguia desordenadamente fantasias incontroláveis. A diminuição da capacidade intelectual foi confirmada pela aplicação de testes, antes, durante a depois da experiência. Além de se tornarem mais inclinados a crer em manifestações sobrenaturais, quando lhes eram lidos, durante o seu isolamento, trechqs sôbre espiritismo, os pacientes apresentaram também irritabilidade crescente e labiiidade emotiva tipicamente infantil, claramente demonstrada pela alternância de estados de euforia e depressão. Quando se levantavam para comer ou ir ao banheiro, mostravam extraordinário desejo de contato e grande loquacidade. Entretanto, a fenomenologia de maior valor observada no decorrer da prova consistiu numa série de akicmações visuais apresentadas por quase todos os pacientes quando o isolamento se prolongou por muito tempo. Alguns revelariam também fal•v sas percepções auditivas, tateis ou de movimento, habitualmente suscitadas por elementos que compunham as alucinaçoes visuais. Comum a vários pacientes foi a impressão de que outro corpo tivesse sido sobreposto ao deles, no cubículo de exame. Lilly e colaboradores (6) realizarám experiências semelhantes às de Hebb, reduzindo a intensidade de todos os estímulos físicos ao nível mais baixo possível. Verificou-se que, sob privação sensorial, p indivíduo pode tornar-se apático, agressivo e mesmo confuso. Os resultados das experiências sôbre privação sensorial sugerem que o estímulo como tal é procurado pelo organismo e que a monotonia pode ser tão prejudicial como o trauma. Por êsse motivo, o princípio da homeostase de Cannon parece necessitar complementação pelo conceito de hèterostase — tendência do organismo- para partir do equilíbrio e procurar novos estímulos que, em troca, conduzem a novos níveis de adaptação! 0 próprio Cannon reconheceu êsse principio, embora êle não tenha recebido, dos seus seguidores, a atenção que merecia. Como se vê, as observações clínicas e experimentais sôbre a psicologia do aborrecimento estão quase tôdas contidas no conto 0 Espelho, obra-prima do maior escritor brasileiro. 1. Barreto Filho — Introdução a Machado de Assis. Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1947, 2. Fromm, E. — Psicoanálisis de ia Sociedad Contemporânea (Irad.). Fondo de Cultura Econômica, México — Buenos Aires, 1956. 3. Fromm, E. — Meu Encontro com Marx e Freud (trad.). Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1963. 4. Hebb, D.O. — The Mammal and his Environment, Am. J. Psychiat., 111; 826-831. 5. Jaspers, K. — Gênio y Locura (trad.). Aguílar, S.A. de Ediciones, Madrid 1956. 6. Lilly, J.C. —Factors Used to Increase the Susceptibility to Forceful Indoctrinalion: Observations and Experiments-, Symposiurn No. 3, Group for the Advancement of Psychiatry, New York, 1956. 7. Mackworth — Citado por Hebb, D.O. — The Mammal and his Environment, Am. J. Psychiat. 111: 826831. 8. Mayer-Gross, W. — Psiquiatria Clínica (trad.) — Editorial Paidos. Buenos Aires, 1958. 9. Mçyer, A. — Machado de Assis. Livraria São José, Rio de Janeiro, 1958. 10. Schneider, K. — Clinicai Psychopathology (trad.). Grune & Stratton, New York, London,1959.

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RODA

GIGANTE Lais Corrêa de ARAÚJO

Poesia de Sempre ção, em avanço para o futuro («o que eu projeto é a história do futuro», diz o poeta), exigindo esi paço e sendo movimento enquanto pessoa e vida, enquanto Deus é igual a Universo e o Eu igual a Massa. Em «Folhas de relva», Thoreau apontou uma possível influência hindu, naquilo que tem de misticismo, de conhecimento intuído, na atitude frente ao tempo e ao ser humano. Outros críticos têm descoberto ainda no livro um sentido epicurista, em que se vê o poeta habitando o seu corpo com total satisfação e instalando-se com virtudes de semideus do presente, da hora, do momento. Pretende-se também ver nos seus poemas a filosofia de uma verdadeira sociedade democrática, o modêlo ideal do que um povo e ama cultura devem ser, em vitalidade e em dignidade.

A EDITôRA A edição (J. Olympio) dos «Cantos de Walt Whitman», em tradução de Oswaldíno Marques é de 1946; a «Saudação ao mundo» (Flama), em tradução de Mário Ferreira Santos, é de 1944; ambas esgotadas, o que justiíicava o empreendimento Justo e absolutamente necessário que foi, em 1965. o lançamento pela editõra Civilização Brasileira de «Folhas de relva», em que o gênio de Walt Whitman nos é revelado em plenitude, numa tradução louvável e cuidada de Geir Campos. O AUTOR Apontado quase que sem discordãnclas como o maior poeta da América — ou mais sucinta e explicitamente como «o poeta. da América» — Walt Whitman surgiu ilteràriamente Já na sua maturidade tísica e intelectual, em 1855, contando 36 anos de idade. Depois de uma infância e Juventude errantes, em que os estudos foram Inconstantes, tornouse um Jornalista mediano, sem nenhum brilho excepcional que fizesse prever a sua obra poética futura. Parece ter sido decisiva para o escritor a influência dos ensaios de Emerson, que teriam" feito «explodir» aquilo que estava refreado em sua mente e sensibilidade. Como acontece com os gênios, sua obra repudia o convencional e o limitado, tornandose, assim, um desafio. E isso fêz com que seu livro tôsse pouco lido e que quase ninguém a êle se referisse (diz-se mesmo que o próprio Whitman teria escrito sôbre seu livro, por falta de maiores pronunciamentos críticos). Ganhando com dificuldade o prestígio público, Whitman era, no entanto, mais admirado como uma espécie de «profeta» de um , tempo cósmico do que por sua poesia; autônoma. Só durante os últimos anos de sua vida tornouse mundialmente famoso, após ter escrito inúmeros outros poemas e também obras de prosa, vindo a falecer em IS92.

COMENTÁRIOS Embora a palavra «gênio» tenha o seu tom ambíguo, é esta a que podemos utilizar para o poeta Wait Whitman. Porque uma das idéias centrais em «Folhas de relva» — «everything is eterna'» — mostra-nos a capacidade do poeta (quando o é realmente) de intuir a natureza real do tempo e assim permanecer, emocionai e expressivamente, num eterno prej sente. E essa a vitalidade de Walt Whitman. Tornou o Homem o he-i rói da História do mundo e, como poeta, fez de si mesmo o símbolo dêsse herói, através da experiência e do Intimo contato com as cçisas físicas e com a beleza da vida truida em sua pulsação au- ■ tenticamente poética. «X<'aço som meu bárbaro dialeto sôbre os têlliítdos th» rmimlo» -— diz, não exaltando a si mesmo, mas ao bomem capaz do imenso movimento de voz que abarcou terra, o ser e a humanidade, em sua arte cósmica, o poeta. Ele próprio comparou multo bem a sua poesia a «vagas líquidas, ondulantes» e, de fato, seus versos têm a torça da água em movimento, são upia sugestão constante de ação, ameaçam transbordar de si mesmos, passando do Individual para o coletivo, assumindo as formas necessárias ãs Idéias generosas e empolgantes de seu Idealismo e de sua consciência política. A tradução de Gelr Campos é fiel e mantém o tom Imponente, mas ao mesmo tempo simples e claro, da linguagem de Walt Whitman — e as ilustrações de Darcy Penteado valorizam êsse trabalho editorial da Civilização Brasileira.

O LIVRO «Folhas de relva», quando publicado Inicialmente, continha apenas 12 poemas. As novas edições do livro foram gradualmente enriquecidas de poemas. A atual edição brasileira reúne 23 poemas, que formam essa epopéia da vida americana (não norteamericana apenas) em construINFORMAIS

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Maria Aimiliu Fonte Boa, que começou timidamente a publicar seus primeiros poemas em suplementos literários, já agora tem o seu livro pronto, coji»^ uma compreensiva introdução de Henriqueta Lisboa. «Ofício rebeldia» veio como uma bela surprêsa, pois a autora aparece já consciente de seu ofício, com uma intensidade temática e uma contenção verbal que a colocam cm deSji tacada posição na atual e mais jovem poesia mineira. Um livro sério, que o mais do que a promessa dos iniciantes em «rebeldia» poética, um livro que se afirma com dignidade. ★ Ê nena due não possamos dizer o mesmo cia obra «A Poesia em Goiás», I estudo e antologia feita por Gilberto Mendonça Teles^ Em que pese a inten-1 Cão do autor de mostrar a evolução literana eni seu Estado, o livro ressente- J se de desorganização, falta de cuidado na seleção dos poetas e talvez exces- | siva preocupação da quantidade em oetrimefito da qualidade. De qualquer ; forma, no entanto, vale para um conhecimento, embora eclético, do que se t tem feito naquele Estado, de que pouco sabemos, por desínterêsse nosso ou i falta de maior comunicação entre as literaturas das províncias. José Nava, o conhecido psicanalista mineiro, e Medton de Alencar Neto publicam, em edição da Imprensa Oficial, a obra «Tatuagens e desenhos cloaDriciais», longo e minucioso estudo das razões psicológicas, étnicas e sociais do costume de pmtar o corpo. O livro coloca suas investigações científicas a serviço dos interessados no conhecimento dos complexos, paranóias, inibiçõese desajustamentos que miormam a ©stereotipia de certos grupos de homens _ um estudo valioso para a medicina legal, a técnica policial e a psiquiatria de nosso tempo. * I SatM Márcfo Samnain índice de turistas pelas suas ruas, igrejas, lojas frÍJÍflia nlie vemi^celente escritor e critico de arte do grupo Ptix, toa raméls e outra? folSla V tra<iicional cidade mineira, inéditos, manuseriíniarda estranzeir? ril o divulgação da poesia de vanguarda. A Jovem f??ohicionArios Vai? „ ^ P ' ex'bmdo em suas Japonas de couro poemas VISitar Ouro Pret0 6 faZer COmpras 113 <<Loja de PoesiS» df Sampaio Rui Mourão, o romancista de «As raízes» e ensaísta do grupo d© «Tendencia» (com um livro de análise da obra de Graciliano liamos no prelo), segiiiu iram os Lstados Unidos, onde lecionará literatura brasileira na Unlversidade da Ualifornia. Em contrapartida, o poeta e crítico Heitor Martins voltar» para Minas, trazendo uma excelente bagagem d© estudos literários em que trabalhou na longa temporada em que esteve naquele país. Enderêço para remessa de livros e publicações; Rua Cristina, 1.300 — Belo Horizonte.

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3 — MINAS GERAIS

(Suplemento Litefárw) Estão mortas as mãos1

BARCAROLA A Zenaide, minba espSsa •— Gôndola branca no alto mar, No céu a lua vem vogar..,) ARAÜJO

Estão mortas as mãos daquela Dona, \ Brancas e quietas como o luar que vela As noites romanescas de Verona, É as barbacãs e torres de Gastela..«

Embora seja céu de estio. As estréias morrem de frio,

No último gesto de quem se abandona À morte esquiva, que apavora e gela, As suas mãos de Santa e de Madona, Inda postas era cruz, pedem por ela,

Vnjos e virgens, a tiritar, Pegam os remos para remar., Há freiras santas de mãos cruzadas, Por sôbre as ondas ajoelhadas.

o futuro («o stórla do fu : exigindo esmto enquanquanto Deus o Eu Igual s de relva», . possível in0 que tem de idímento innte ao ,temOutros críamda no 11fsta, em que, io o seu cor-J ;âo e instais de semitora, do moambém ver filosofia de de.de demo1 do que um devem ser, lignldade. ÍOS «gênio» teuo, é esta a para o poe?orque uma' «Folhas de ís eternal» lacidade do ilmente) dedo tempo e ■mocional e eterno pre-i ide de Walt ornem o he-? ido e, como 0 o símbolo a experlênito com as 1 beleza da ulsacão au-, «Faço soar iôbre os tediz, não mas ao movimento rra, o ser e a arte cós■óprio comia poesia a mtes» e, de a íôrca da ão upia sueão, amea- j 31 mesmos, para o cotormas neenerosas e alismo e de :a. A tras é fiel e ite, mas ao e claro, da iltman — e y Penteado io editorial a.

i;ar seus pri> pronto, «olU ebeldia» vei» !e seu o t u t»', ícam em deSsérío, que é livro que se a em Goiás», pese a intenvro ressentetalvez excesDe qualquer o, do que se sse nosso ou Henear Neto ssenhos eica:as e sociais científicas a ias, inibições de homens o a psiquiatria imércio entre tornando inIgrejas, lojas > grupo Ptix, is, manuserl3a A jovem ouro poemas na «Loja de ipo de «Teno prelo), sena Universiartíns voltaLrios em que

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Uma esquecida sombra de agonias Oscula o jaspe virginal das unhas, E ao longo oscila das falanges frias.■

Ondas ou nuvens, o céu ou o mau, Gôndola branca, lua a vogar.

E os dedos finos... ãü Senhora, ao vê-los, Recordo-me da graça cora que punhas Um cravo, um lírio, um goivo entre os cabelo»!

Barquinha santa que não tem vela, Nossa Senhora vem dentro dela. . ■ O timoneiro está num altar: É Bom Jesus entre véus de luar.

Hão de chorar por ela

Miro a Rainha das Rainhas: No colo tem duas filhinhas.

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Miro-as com os olhos... e eis-rae a chorait., A via-látea é como ura colar.

Que bem estavam! penso, mas digo: — "Antes comigo, mais contigo!"

A lua, que lhe foi mãe carinhosa, Que a viu nascer e amar, há-de envolvê-la Entre lirios e pétalas de rosa.

i 0 palidez das tardes êrmas ó palidez das tardes êrmas, Ao chegar do estio! Ó tardes, sois virgens cnfêrmas . A tremer de frio. POESIA

O astro glorioso segue a eterna estrada, Uma áurea seta lhe cintila cm cada Refulgenle raio de luz. A catedral cbúrnea do meu sonho, Onde os meus olhos tão cansados ponho, Recebe a bênção de Jesus. / E o sino clama em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alplionsusl"

GUIMARAENS Seleção e notas de Bueno de RIVERA

ALPHONSUS DE GUIMARAENS (Afonso Henrlques da Costa Guimarães) nasceu no dia 24 de julho de 1870 em Ouro Prêto. Fêz quase todos os preparatórios no antigo Lleeu Mineiro, em sua cidade natal. Disposto a estudar engenharia civil e de minas, matriculou-se, aos 17 anos, na Escola de Minas. Por essa época já fazia versos. Apalxonando-se pela sua prima Constanca, filha de Bernardo Guimarães, revela-se extremamente dedicado quando da doença da noiva adolescente. Morta Constanca, o jovem Alphonsus, desolado, abandona os estudos e entrega-se à boêmia literária, ao ponto de adoecer gravemente. A conselho médico, resolve, em 1890, seguir para São Paulo, matrlculando-se na Faculdade de Direito. Baeharelando-se em ciências jurídicas e sociais, foi nomeado, a 13 de marco de 1895, promotor de justiça em Conceição Io Sêrro. AU conheceu aquela que seria companheira e esposa dedicada, Zenalde, com a qual se consorclou em 20 de fevereiro de 1897. Em 1906, Alphonsus transferiu-se para Marlana, já nomeado juiz municipal. AU viveu o resto de seu:, dias, irmanado ao ambiente espiritual da velha cidade episcopal. Aphonsus de Guimaraens faleceu a 15 de agosto de 1921. A viúva do poeta, D. Zenalde, reside em Belo Horizonte, onde é reverenciada pelos que veneram a memória do grande Alphonsus. O poeta deixou descendência Ilustre. São seus filhos o notável contista João Alphonsus (já fatecldb) e os poetas Alphonsus de Guimaraens Filho e Nazareno Alphonsus. I

0 cinamomo floresce O cinamomo floresce Em frente do teu postigo: Cada flor murcha que desce Morre de sonhar contigo,

Por entre lirios e lilases desce V tarde esquiva; amargurada prece Põe-se a lua a rezar. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece, na paz do céu tristonho, Tôda branca dc luar.

E as folhas verdes que vejo Caídas por sôbre o solo, Chamadas pelo teu beijo Vão procurar o teu colo.

E o sino chora em lúgubres responsos; "Pobre Alphonsus! Pobre AlphonsusP

Ai! Senhora, se eu pudesse Ser o cinamomo antigo Que em flores roxas floresce Era frente do teu postigo:

n céu é todo trevas: o vento uiva. Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem açoitar o rosto meu. E a catedral ebúrnea do meu sonho Afunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu,

Verias talvez, ai! Como São tristes em noite calma As flores do cinamomo De que está cheia a minh'alma!

F o sino geme em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsust*

ALGUMAS OPINIÕES SÔBRE A POESIA DE ALPHONSUS DE «Barameulte s® tem visto nesta terra de exuberância, quer na conliguraeão Beaíráfica, quer nas manifestações espirituais do nativo, uma obra equilibrada como a do grande místico de Minas Gerais. esde os primeiros versos Alphonsus sm-ífiu sereno e seguro de si nw.!-'10'. C' 0 ''lue Inais significa, na,;."'?. Concorreram, de certo, ^tiucaor^r:do -artísía'a term o „ , nocao de meio prudência re8I,eit<> tlUe S!l0 as tradições, a , h0mem ^íes cat pZrlZ mineiro, natureza e^por educação». Henrlqueta Lisboa me íerugioUna0 recor!:l00(0 ' t10 !0 nue sua 06 sla, êle eBtâ 1MSiCa P " sombra Iluminada»20' C0In0 Uma Alpbonsus de G„-mara™s FUho

«Foi um mostre da clausura Uricat, o por isso tanto comovem e tanto se conservam vivas essas páginas dc um poeta e de uma escola, ambos mortos liá tantos anos. E entre nõs é escassa a memória literária. Alpbonsus de Guimaraens, porém, é dos que vêm subinido desde a sua morte». Tristão de Athayde ' «a poesia de Alphonsus sempre possuiu tom pessoal inconfundível'. Sua obra não se parece a rigor com nenhuma outra». Emílio Moura «Alphonsus de Guimaraens foi ura poeta vocacional em meio do diletantismo Uterário do Brasil. A poesia1 era a forma específica por que exteriorizavn a personalidade» . Mário Matos

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«Seus versos, de uma sublime uncão mística, pertencem já à fase marianense do poeta. Êies refletem o cenário austero das margens do Ribeirão do Carmo, cujas águas murmuram ainda o éco areadlano dos versos de Cláudio, santificadas agora, como as do Jordão, pelo batismo da musa cristã». Augusto de Rima «Um poeta que devia atravessar obscuramente o sim tempo para briUiar, depois dÊle, com a luz doa grandes sóis». Oswaldo Orlco «Alphonsus ó um dos poucos que, entre nós, conservou a contemporaneidade. S atual, será atual e permanente como a pedra». Guilhermino César

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F o sino canta em lúgubres x-esponsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alplionsusl"

ó noites amplas, noites serenas, Horas de luar! Como é triste sofrer tantas penas Longe do mar..., DE

CATEDRAL

Entre brumas, ao longe, surge a aurora, O hialino orvalho aos poucos se evapora. Agoniza o arrebol. A catedral cbúrnea do meu sonho Vparecc, na paz do céu rlsonho, Tôda branca de sol.

Ó nuvens brancas, fugindo Do sul para o norte! ó nuvens, também vou indo, Como vós, para a morte,

ALPHONSUS

Os meus sonhos de amor serão defuntos. E os arcanjos dirão no azul ao vê-la, Pensando em mim: — "Por que não vieram [junlos?*!

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ó poentes, estendais de flores, No ástreo jardim! Ó poentes, sois os trovadores Que chorais por mira.

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As estréias dirão; — "Ai! nada somos,, Pois ela se morreu silenle e fria n E pondo os olhos nela como pomos Hão dexchorar a irmã que lhes sorria,

Desperto, e ao vê-las, ao despertar. Dormindo juntas, fico a rezar,

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cinamomos

Hão-de chorar por ela os cinamomos, Murchando as flores ao tombar do dia, Dos laranjais hão-de cair os pomos, Lembrando-se daquela que os colhia.

"Ai! tantos astros e tantas ilhas.., Para onde as levas? São minhas filhas"-»

Alphonsus de Guimaraens e seu irmão Archangelus de Guimaraens, também poeta, em fotografia feita em Belo Horizonte em 1915

daquela Dona

GUIMARAENS

«Outras gerações mais espirituais, mais aptas ás coisas da poesia o da sensibilidade, hão de pagar a imensa divida que temos com Alphonsus de Guimaraens». Müeio Leão «Alphonsus de Guimaraens, como os simbolistas em geral, considerava a arte como uma religião, e por ela trabalhava com paixão, probidade e consciência. Foi um puro homem de letras, um Intelectual desinteressado, aristocrata (no bom sentido), a quem repugnava tôda a propaganda, todo o rumor em torno do próprio nome». Eduardo Frieiro

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«Um grande poeta, uma voz M»bre, uma alma cheia de música, ura raro poeta, uma mm poesia». Augusto Frederico Schmldt «Há nos versos do sr. Alphonsus de Guimaraens uma melodia cantante e dolente, como cm certos hinos litúrglcos, o que lhe» dá a conformidade da forma com o fundo necessário à obra de arte» . José Veríssimo «A sua emot-áo era tôda religiosa. Mesmo falando do seu» amores terrenos, não lhes es queeâa a Imagem das coisas santas»., Manoel Bandelca j

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4 — MINAS GERAIS

(Suplemento Literário)

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O jornal é uma cachaça e eu já era um embriagado" — Do «Depoimento de um dentista frustrado» í Não gosta de flores, nem de paisagem, nem de campo ou fazenda ou vida rural. Adora o asfalto e o bate-papo com os amigos. m ¥3 tr. li m

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Quem o quer encontrar, procura-o na Avenida, à porta do Edifício Guimarães. Ou, então, subindo a rua da Bahia, cora ligeira incursão pela "Itatiaia". Na Academia Mineira de Letras, nos dias de sessão ou cm alguma homenagem a amigos. É comum vê-lo passar de braço dado com uma môça alta, muito parecida com êle, conversando os dois como grandes amigos: é sua filha Auxiliadora, que lhe datilografa os escritos, que lhe faz de secretária. Como funcionária pública, sempre lotada em gabinetes — ótima funcionária — ocupa o seu tempo restante, quase todo, junto ao pai. Mas não escreve, não gosta. Bem que poderia fazê-lo, o caso é que certamente escreveria como êle, tanto o absorveu c se integra nêle. E, amostra do que dizemos, - o seu depoimento abaixo, pois que, quando lhe apresentamos as nossas perguntas, elas estavam de antemão respondidas, tão certa do que iam ser aquelas, numa intuição muito própria de mulher c de filha, Vamos ao que diz: — Não gosta de música — de nenhuma. Nem clássica nem moderna. Porque não entende, não tem percepção para o ritmo. Não distingue ura samba de um hino. Entretanto, esta insensibilidade, o que é curioso, é só para a música, porque, lendo-se para ele um verso, logo observa se tem ou não ritmo. — Quando vai a ura enterro, sabe-se que neste dia não faz refeições. Só toma leite. E se fi-v cou sabendo de que morreu o amigo, quando chega era casa, é "um Deus nos acuda": sente todos os sintomas da doença daquele e vai logo procurar o médico. Aliás, adora-os. Gostaria de ter a casa cheia deles. — Metódico na alimentação — almoça e janta só. Nunca faz lanche ou ceia. Só come em casa. O amigo que o convida para comer fora, está exigindo dêle um sacrifício; vai, mas contrariado. Come o que se põe na mesa. Prefere, porém, a comida comum mineira. Arroz, feijão, couve pi-

cadinha, carne moida e angu. E doido por angu com couve. Não bebe nada, nada mesmo. Não é por fazer-lhe mal, é porque não gosta mesmo. Gosta é mesmo de água, que saboreia, era pequenos goles, como se fôsse vinho. Tem, aliás, horror a ébrios; entretanto, não os repele, sofrendo-os com indulgência. Às vêzes, os amigos se afastara da roda e êle continua, aguentando-os. — Fuma, mas não traga, dois a três maços por dia. Não tem a mania do cafezinho para fazer "bôea de pito". — Gosta ,dé escrever deitado na cama, de barriga para baixo, apoiando o papel num livro ou numa tábua. Assim escreve, em geral, as suas crônicas, de jato, a lápis ou esferográfica, sem corrigir. Começa sem ter assunto algum na cabeça e logo sai a coisa. Diz que é mediunidade com o Chico Xavier. Se tem uma dúvida, deixa para depois. Datilografado o trabalho, aí emenda e muito. Escreve duas crônicas por dia, uma para o "Estado de Minas" e outra para o "Diário da Tarde", sob os nomes, respectivamente, de "José Clemente" e "Gato Felix". Uma vez, uma pessoa lhe disse: "gosto muito das crônicas do "José Clemente", mas aquele tal de "Galo Felix", eu detesto!" Escreve cora qualquer barulho ou ruído em tôrno dêle. Pode quem quiser conversar, pode criança gritar, pode soltar bombas, êle não ouve. Está completamente desligado. Pode até entrar e sair gente, nada vê. E, na rua, sempre fica com o pensamento longe, possivelmente buscando um assunto para as suas crônicas. Tira êste de tudo. Diz que, para o cronista, o assunto é como a poesia para o poeta, que a descobre onde outros não a pressentem. Diz que nos seus livros há muita realidade, de fatos e personagens, mas também o necessário de ficção, como uma "peninha" para atrapalhar e não pôlo mal junto, àqueles (reais). Foi assim em "República Decroly" e "Memórias de um chofer de praça". Tem uma memória

prodigiosa, conceituando com justiça os fatos e as pessoas. No "Estado de Minas", escreveu durante três meses seguidos, sob o título "Memórias de um escriba oficial", muito do que observou na sua posição de redator do "Minas Gerais". E seu livro "Depoimento de ura dentista frustrado" não deixa de ser um pouco de memórias. Acha, entretanto, que escrever suas memórias mesmo é bancar o importante e fazer "pose". Quando recebe um livx'o que lhe mandam, sabe que o autor faz isto esperando um comentário seu. Lê o livro todo, imediatamente, para escrever logo. Acha que é ura dever a cumprir e é rigoroso no cumprimento do dever, Quando lê um livro ruim, sofre muito porque tem que emitir sua opinião e não gosta de desagradar. Afinal, arranja um jeito e encontra alguma coisa boa no meio do ruim. Quando não há mesmo o que elogiar, êle fala sôbre a pessoa do autor e a elogia. Tem grande aprêço pelos que escrevem. Acha, porém, nos "novos", muito exagero às vêzes e diz que não compreende muito das suas "mensagens", como é hábito dizer. Então, era matéria de poesia, êle' diz sinceramente não entender muito do que êles dizem. Mas admira vários novos modernos, como alguns modernos que já não são novos. Não é radical como o tio Djalma, que nem gosta de abrir livro de poeta moderno. Em literatura, prefere os românticos, os estudos biográficos e históricos. Nada de subjetivismo. Diz que é literatura das "aranhas'. Quando lhe mandam um livro, êle pensa logo na esperança do autor, dos seus sonhos de triunfo e o lê cora predisposição de incentivá-lo. Acha que o sujeito que escreve e publica,_ mesmo que não seja grande coisa, já merece simpatia por êsse amor às letras. — Quando publica seus livros, nunca pensa o que vai ganhar com a venda. Seu prazer está só em ver o que escreveu, publicado. Considera-se um assalariado,

lauto como íuncionário que sempre foi, como cronista. Em matéria de negócios, não é fracasso, porque nunca os faz. Não liga a dinheiro, admirando, porém, os que têm capacidade para ganhálo. Quando alguém procura deprimi-lo intelectualmente, êle assinala que êste é também ura uso digno da inteligência, como o faz o romancista, o cronista, o jornalista, no seu ofício. É melódico nos seus gastos e equilibrase no seu orçamento. Nunca tirou empréstimos, mesmo um "rápido" da Previdência. — Detesta jôgo e mal conhece as cartas do baralho. É também antiesporlista por excelência. Nunca pescou nem caçou nem andou a cavalo. Não vai a diversão alguma. Há 15 anos, não vai a cinema. Acha que ficar assentado tanto tempo é perder o bate-papo com os amigos, que é o que mais adora, e em pé, de preferência na rua. Detesta também futebol, nunca entrou num estádio, não se interessa nem pela Copa do Mundo. Nunca leu a página esportiva de qualquer jornal. Passa por elas sem olhar sequer as fotografias ou os títulos. Go,sta mesmo é do asfalto e do nate-papo e não pode perdê-lo por nada. — É crente. Reza e não é só porqim mamãe manda. Surpreende, às vêzes, dizendo que vai fazer retiro espiritual sozinho na Casa de Retiros. Vai e faz. É católico, meio estabanado, mas é. Comunga todos os anos no seu aniversário. E detesta comunista, que conhece só pela maneira de conversar e escrever. — Muita gente pensa que êle gosta de política. Prefere-a quando escreve porque dá muito assunto. Tendo tudo de memória, guarda os fatos políticos e os homens. E quando vê ura fato nai-rado por outros, pode ser ocorrido há 30 ou 40 anos atrás, logo mostra os êrros e as falhas do narrador. Ê, todavia, "pessedista" (valadarista). Tem grande entusiasmo por Antônio Carlos, sôbre quem já escreveu um livro e pretende ampliar.

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5 — MINAS GERAIS

(Suplemento Literário) to convite para ir & Índia! O Camões, que era o Camões, perdeu um ôlho por lá"..*, E quando Juscelino lhe ponderou que, indo à Índia, iria também a Paris e perguntou-lhe se não se entusiasmava, êle respondeu: "Só se êste convite tivesse sido feito pelo Presidente Rodrigues Alves". Trabalhou na Imprensa Oficial 34 anos à noite, bem como na Rádio Inconfidência. Ficou aliviadíssimo quando se aposentou. Detesta repartição pública e nunca mais entrou numa. Só não se aposenta no jornal, porque o que è, é Jornalista mesmo: o jornal, uma cachaça. — Se escreve versos? Lembrase só de ura soneto, em resposta a Carlos Drumond de Andrade,

cuta. Quando nota que outros também estão interessados, retira-se. — Tem bom gênio, mas às vêzes dá "estouros", que duram, porém, poucos momentos. Não guarda raiva e se arrepende. — Detesta viagens e gosta mesmo é de Belo Horizonte, de que se fêz "cidadão honorário". Foi à Europa, não se sabe como. Quando Juscelino inventou de êle ir à índia, voltou de Portugal cora eólica de rins. E disse que: "estes funcionaram como as cahnarias d'Âfrica, que afastaram o Cabral do caminho das índias, dando com êle aqui". Bem que lhe advertira o tio Djalma: "Você é louco de aceitar es-

Mas tem amigos em todos os partidos. — Não tem inimigos, ao que se saiba. Acha que não. Diz sempre que não tolera gente estúpida, burra. Acha que estes são inimigos de todos. Tendo muito senso de "humour", percebe, como o tio Djalma, o ridículo das coisas, faz uma frase, dá uma opinião e isto corre, parecendo que tem má língua. Mas o ridículo está no fato ou nas pessoas: apenas o mostrara. Gosta de "maldades", dessas que mais satirizam as pessoas, mas não para difamá-las. Tem até pena dos outros demais. Gomo: se vê um camelô sozinho ou um do Exército da Salvação, sem ninguém para ouvi-los, pára e es-

ARTES

IMPOSSÍVEL

quando K aposentou na Imprensa. — Â última perguntas Acha-* assim, velho ou moço? — A última respostas A ca®! é de velho. As ruga», A careca total. Mas a mobilidade e o espírito são de môço. Isso é que mats atua no meu julgamento« LIVROS PUBLICADOS BepübUea Deoroly, romance, 19SB Memórias de ura chofer de praça, romance, 1930, (reeditados, em 1004, pela Itatiaia, em um 4$ volume). Hora para o sono, contos, Itatiaia, 1955 Depoimento de um dentista frustrado, conícrcncla, Idom, Idem O espirito de Antônio Carlos, MM Ortografia simplificada (em coiabOracSo), 1934 34 ano» de escrlba oficial, m pmMioai.

PLÁSTICAS

Márcio SAMPAIO Carhs Drummond de ANDRADE MONDRIAN: ARTISTA PARA 0 FUTURO Pode alguém chegar ao céu sem transformar-se em faquir; Pode ser bom muçulmano

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e não pegar um tapir; gostar muito de coalhada, mas vomitar o quefir, pode atingir o zenite

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ida rural. ) que semEm matéi fracasso, Não liga a porém, osf ira ganhà-jl •ocura de-: ente, êle uibéin um cia, como JTonista, o ). É meló-|L equilibra-1 Nunca ti-1 10 ura "rá11 conhece É também scelência. açou nem ü a divers, não vai car assen•der o bai, que é o ié, de pre- 1 a também i num estánem pela i leu a páIquer jori olhar seos títulos, alto e do perdê-lo não é só . Surpre0 que vai òzinho na faz. É camas é. is no seu comunis1 maneira

e resvalar no nadir; pode viver no passado de olhos fitos no porvir; pode sair de repente e não ter para onde ir; pode ser pecuarista sem saber o que é gir; olhar muito para o alto sem divisar Altair; perder o último tusta e ter vontade de rir; pode jamais ir à Igreja a ver o padre Cir; mas não se pode conceber o «Minas» sem o Moacyr.

Resposta de Moacyr ANDRADE

Trinta anos a lambões eu bem servi, Melhor contando: quase trinta e três. Servindo-os, mais por Minas, eu bem vi

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BH-66: UMA Como no ano passado, 66 é, cm Belo Horizonte, o ano das artes plásticas. Os artistas locais pi-oduzmclo muito, alguns com alta qualidade, as exposições se sucedem, chegando quase à saturação, mas a novidade, de dentro e de fora, consegue sempre levar' o público às galerias. O Museu de Arte realiza ura bom programa no Grande Hotel enquanto não se reinaugura sua sede na Pampulha. Algumas mostras de importância : duas de documentação — "40 anos de i intura Moderna no Brasil" e "Jovem desenho nacional" (atual cartaz). O público ainda pode yer o que considero a melhor mostra dêste ano (ate agora): — Esculturas do belga Francis Tonoeur, muito séria, mostrando um pesquisador consciente, de bases bastante firmes. . A-, Reitoria mostrou gravadores e desenhisat5„iAÍ!ieiro i' exr Plos ição vária, num balanço das S isimKá™ ur - P .nei1'0S nestes gêneros. Mostrou a lllutll tentat A on!? S ." iva de criar uma esco5 exposição de vanguardeiros jovens a aZcn ha l,r^l ú, , , PPenings à base de guerra de exposição-brincadeira nos ^o-norteamencanos, Mas é bom que apaassim ívt porcom aqui. Levam o público os Slictaí artistas ao pensarem mais seriedade na in>e portâncía (ou nao) da arte.

Fugir-me a vida todo fim de mês. Mais de seis lustros, «chapas» eu poli, No louco afã de dar, de cada vez, A tantos animais sem «pedigree», A fama de talento e altivez. Hoje, velho, careca e sem valfa, As rimas que me mandas, a granel, São mais que prêmio à solidão sombria. Dêste amigo que, após tanta pòrfia, ao teve a recompensa de Raquel U sec uer

a que êle Prefere-a ; dá muio de mepolíticos lo vê um , pode ser nos atrás, e as fatodavia, ta). Tem r Antônio escreveu ampliar.

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as carícias de uma Lia..

COLEÇÃO "escrever CERTO"

Desde o inicio, com a primeira aparição Be "O Estilo", em mil novecentos e dezessete, editada e publicada por Van Doersburg, Mondrian começou a expor as suas idéias com grandes detalhes, estabelecendo as bases principais da estética neoplástica. Nesta época já afirmava: "...Apesar de todos os dogmas, de lôdas as idéias px-econcebidas, que devem ser nocivos à arte, o artista, contudo, pode ser guiado e ajudado em suas buscas intuitivas pelo seu raciocínio, independentemente de seu trabalho. Se tal raciocínio haverá de ser útil ao artista e acelerar seu progresso, é indispensável que se complemente com as observações dos cxdticos que falam de ax-te e desejam guiar a humanidade..." Para Mondrian, arle significava o cultivo das capacidades intuitivas. Em mil novecentos e dezoito, depois do armistício, Mondrian voltou a Pax-is. A maturidade dc seu nôvo trabalho, que refoi'çava suas convicções anteriox-es, fê-lo x-ecapitular seu ponto d« vista num brilhante manifesto "O Neo-Plaslictsmo", publicado em mil novecentos e vinte. Cinco anos depois, Juntamente com mais qnatx-o ensaios, o manifesto foi publicado no livro número cinco da Baiihans, com o titulo: "Neue Ge&taltung" Na década vinte/trinta, com a po(pu)Iarização do siixiealismo e outros movimentos post-cubistas qxxe dominavam o cenário das artes européias, a influencia de Mondrian, apesar de seu afastamento, fox sentida e respeitada amplamente. Para êle, as conseqüências do cubismo configuraram uma época. Ó neoplaslicismo, como conqüência do cubismo, estabeleceu uma nova plataforma de realizações plásticas e dc consciência na evolução da Arte. Eni mil novecentos e trinta e oito, quando se fêz maior a ameaça da nova grandc-gxxerra, Mondrian transferiu-se de Paris para Londres. Em outubro de mil novecentos e quarenta, chegou à cidade de Nova Iorque, onde trabalhou cora renovados estímulos, produzindo magistrais pinturas, como "New York" e "Boogle-Woogie". Morreu, vitima de pneumonia, no dia primeiro de fevereiro de mil novecentos e quarenta e ^íüro. Foi enterrado no cemitério de Cypres» HilJ, em Nova Iorque,

Pieter Cornelius Mondriaan nasceu em Araersfoort, Holanda, no dia sete de março de mil oitocentos e setenta e oito. Seu pai era ura raestreescola e rígido calvinista. O ambiente juvenil de Mondrian temperado por uma atmosfera de elevados pensamentos morais e éticos. Estas qualidades em Mondrian foram logo transformadas era uma preocupação profunda e intensa pelo simbolismo das formas e as relações da arte e da sociedade. Nascido num momento em que fermentavam as bases dinâmicas da reconstrução social e física do século XX, Mondrian sempre se preocupou com o significado e a potência, a função humana subjacente da história da arte e do conteúdo universal. Desde o principio, seus ensaios revelam uma preocupação unificadora da totalidade da experiência. Seu pai: — pintor amador — e um tio: — artista profissional um tanto acadêmico — foram os primeiros mestres de Mondrian. Formou-se na Academia de Arte de Amsterdam. Viveu com extrema modéstia, muitas vêzes deixando os estudos e a grande intensidade contemplativa que caracterizou sua vida e obra para buscar trabalho e meios ' • subsistência. Em fins de mil novecentos e dez, quando tinha trinta e oito anos, sentindo necessidade de um contato direto cora os centros mais avançados da arte moderna, viajou para Paris, permanecendo aí quatro anos. Com larga experiência, alistado no post-impressionismo, as descobertas feitas pôr Mondrian — ainda que independentemente — fizeram-no logo interessar-se pelo cubismo; foi justamente Mondrian quem mais tarde levaria o cubismo, em forma essencial, às suas úllimas conseqüências estruturais. Tendo voltado à Holanda, era mil novecentos e quatorze para uma rápida estada, foi obrigado, por causa da guerra, a permanecer no seu pais até. mil novecentos e dezoito. Êste período foi fértil em pesquisas: Mondrian distinguiu-se como um dos condutores de uma histórica colaboração entre arquitetos e artistas, agrupados em torno da publicação "O Estilo". (Do grupo, além de Mondrian faziam parte; Van Doersburg, J. P. Oud, Van der Leck, G. Vaniangerloo, e outros.)

desconhecendo o vizir, ter fama de caçador

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um: biografia

Enfcixando era conjunto bem sistematizado 9 obras diferentes, está alcançando a melhor aceitação em todo o País a Coleção "Escrever Certo" do nosso colaborador Aires da Mata Machado Filho. Reunem-se nos 6 volumes, magnificamente apresentados por Boa Leitura Editora, de São Paulo, respostas a consulentes, outras tantas soluções a problemas que surgem, no uso diário da lingua. Dirigem-se ao grande público e aos

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REVISÃO A Galeria Guignard continua um bom programa, erros e acertos, um bom serviço do relações publicas e difusão, patrocinando, não sòmente artes plásticas mas também outras atividades culturais. Expôs Faiga Ostrower, Assumção Souza. Atualmente, expõe os quatro mineiros premiados no XX Salão da Prefeitura: Álvaro Apocalypse, Sara Ávila, Nello Nano c Eduardo dc Paula. A Grupiara, sob a direção dc Palhano Júnior, voltou a uma intensa atividade com exposições interessantes de gente daqui e de fora. Uma'retrospectiva muito boa (embora vária) dc Jarbas Juarez. Expôs também lone Fonseca. De fora trouxe, entre outros, Darei Valença. Atual cartaz; Maria Helena Andrés. Parece que a Galeria Itatiaia voltará a funcionar com exposições (também) individuais. Agora expõe surdos-mudos primitivos. O L'Atelier também promete mais promoções, anunciando gravuras novas de Yara Tupinambá. O Minas Tênis Clube (também com Palhano) fêz a estréia de Marisa Trancoso, mostrou fase barroca de Sara Ávila e o primitivo Quintão. A Arte primitiva parece estar em plena florescência entre nós. Os pintores dêste gênero (Coelho, Rodelnégio, Norbim, Quintão) têm vendido bem.

estudiosos de assuntos lingüísticos e literários esses capítulos de "jornalismo gramatical", vasados na linguagem direta e leve com que p autor consegue amenizar a costumada aridez desses estudos. índices alfabéticos em cada volume e um índice rcmissivo geral no fim da Coleção facilitam a pronta consulta C permitem encontrar rapidamente, após a leitura, o esclaredmenlo procurado.

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6 — MINAS GERAIS

(Suplemento Literário)

NAO nos propomos deter em aspectos estruturais da poesia de Sousândrade e possíveis fontes de mtiuéncia ou ocorrências paralelas, pontos já exaustivamente estudados pelos relancadores do poeta. Pretendemor limitar nossas observações ao problema do comportamento da crítica diante do autor de o Guesa e da consciência por éíe manifestada da incompatibilidade estética entre a sua obra revolucionária e os padrões então entre nós consagrados. Fazendo preceder os fragmentos de O Crunsa das Memorabilia, que introduziram edições primitivas dos cantos V a VII e VIU. Augusto e Haroldo de Campos nos posslHHtaram um contacto direto e valioso cora o pensamento de Sousândrade sôbr,e questões ligadas à sua arte e à sua criação. Essa pequena súmula estético-ideolôgica, consubstanciada nas Memora-, bilia, contém elementos de informação e, mais do que isso. de intuição critica que, conferindo ao poeta a sua singularidade, faltaram porém aos nossos analistas literários de sua época. A leitura das Memorabilia torna-se, por outro lado, imprescindível para a inteligência de textos de mais elaborada fatura técnica, a exemplo do Inferno de Wall Street e outros fragmentos de O Guesa. Inicialmente, elas preconizam a lucidez da criação artistlca, reivindicam para o trabalho do poeta, como condição primeira, a «plenitude intelectual», a que não será estranha a imposição da autenticidade pessoal. Anotando que os mestres, ao contrário de prendê-lo a formas imitativas, o ensinaram a «ser individualidade própria, ao próprio modo acabada-, o poeta exalta a «forma original: forma que é o traço deixado pelo pensamento, e que v,erels ainda -ser a única abstlutamente verdadeira». Desenvolvendo o seu raciocínio, Sousândrade chega a uma intuição realmente notável do problema da assimilação e redução de formas, tão atual e decisivo para a nossa arte de pais nôvo, ao concluir quet dentre os estilos estrangeiros que enumera, «uns são repugnantes e outros, se o não são, modificara-se à natureK» americana» (o grito é nosso). Nessa lição da técnica sàblamente apreendida e recriada talvez estivesse para êle, tal como está para a nossa literatura de vanguarda de hoje, o caminho do fazer nosso e nôvo, o corretivo consciente contra o espirito de Improvisação e a concepção Imatura que nós autores nacionais «adormentam o pensamento, afrouxam a idéia do homem». Além de conceitos gerais sôbre a poesia, Sousândrade aborda nas Memorabilia a sua experiência pessoal de artista, num depoimento que é também roteiro de seu trabalho era O Guesa. O poeta parecia, antes de tudo, convencido de que sua atitude criadora era de vanguarda, de que arrostava a Impopularidade, a incompreensão, de que o seu êxito, como no paradoxo sartreano, era igualmente o seu fracasso: «Ouvi dizer já por duas vêzes que o Ouesa Errante será lido cinqüenta anos depois»; entristeci —

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decepção de quem escreve cinqüenta anos antes». Êsse risco, entretanto, êle^o correu lúcújamente, certo de que cantava «um nôvo canto», que não assemelha-, va «a nenhum outro canto». Contrariando a concepção idealista então vigente, a poesia representava para êle compromisso que o poeta se impunha — «work, not * ritual», conforme sua citação. Tudo Indica que c projeto "de O Guesa foi executado, tal como modernamente viria a fazer William Fauikncr em relação à sua ficção (9). a partir de um esquema. cronológico e itinerário: «o poema» — revelam as Memorabilia — «há de ser acompanhado do seu mapa histórico e geográfico». Aliás, o poeta se afigurava bastante sensível às impressões do real, aos elementos de pressão visual. Até no «plano tipográfico, devem ter atuado sôbre Sousândrade manchetes e recursos compositivos dos jornais da época», observam Augusto e Haroldo de Campos (10) estrlbados na própria confissão do maranhense: «No Canto VIII agora, o Autor conservou nomes y próprios tirados à maior parte de jornais de . New York e sob a impressão que produziam» (Memorabilia). Verifica-se aí o recurso à técnica de colagem, à futura maneira joyeeana ou nos moldes do que viria a realizar John dos Passos através do seu «ôlho cinematográfico» (11). Parece que também Michel Butor foi aqui antecipado no seu método de tomadas visuais de Móbile — um exemplo de montagem estruturallsta, na definição de Roland Barthes (12) —, pois Sousândrade já lançara mão de processo semelhante ao justapor e montar as impressões do Guesa em sua peripécia, parte da qual decorre nos Estados Unidos (Canto X), tato geográfico êste com o qual coincidiria a viagem-tema do escritor francês (13). Em sua linguagem clara e despretensiosa, depõe o nosso poeta: «Ele (o autor de O Guesa) vai ouvir a voz de cada natureza; e trata o gênio de cada lugar à luz do momento em que por ali passa» (Memorabilia). A consciência critica do poeta extrapolou do terreno artístico, para fazer-se incidir também sôbre a problemática social de seu

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tempo, sôbre o nosso contexto de realidade nacional. Augusto e Haroldo de Campos, tanto quanto Luiz Costa Lima, analisaram devidamente as manifestações de uma atitude participante coerente em Sousândrade, comportamento que diferiu, no entanto, do verificado em outros poetas do período romântico, voltados antes para uma tematização ingênua e retórica de sugestões brasileiras, que pròpriamente para a conscientização de nosso tato definidor eomo povo e como nação. Embora explorando o assunto índianista, O Guesa não se inclui na Unha do «bom selvagem», do herói mítico através do qual procuraríamos resgatar-nos artificialmente de nosso desígnio de pais sem tradição étnica. O índio no poema de .Sousândrade é, na verdade, o anti-herói de nossa contingência latino-americana, a edificação simbólica do homem que não possui o domínio da pró-' pria terra, e expia no seu nomadismo a maldição do subdesenvolvimento, da espoliação colonial. O Guesa, sob êsse ângulo, torna-se ancestral de Matunaíma, em cuja incaracterização e origem também abrangentemente sul-americana urocurou Mário de Andrade, por seu turno, identificar èticamente, no bõjo da rapsódia brasileira, uma negativa singularidade continental. E certo que Sousândrade demorou a sua visão crítica de preferência sôbre os polos opostos da realidade colonial e da realidade capitalista, contrapondo ao episódio do Inferno brasileiro do Tatuturema (apenas Iragmentârlamente citado np introdução dos edltóres da antologia) o episódio do Inferno de Wall Street. Visão critica esta que se fêz exprimir até mesmo no plano da estruturação da linguagem poética, elaborada a partir de uma montagem polillngue. No Tatuturema, mesclam-se ao português palavras e- frases latinas e nheengatus — um tiipilatim, como sugerem Augusto e Haroldo de Campos — processo que talvez traga implícitos uma alusão irônica â mania brasileira das citações em latim, de gôsto bacharelesco e seminarista, e igualmente um deliberado propósito de salientar o caráter autônomo que adquiria a nossa língua em relação ao português penlnsular.

Porque Sousândrade tinha noção correta do problema lingüístico do Brasil e observou mesmo nas Memorabilia que «a nossa ortografia portuguesa não se entende entre si». A .intese biográfica que encerra o volume contém, ainda que em traços sucintos, o perfil do homem Sousândrade, em dados que não apenas conformam a sua personalidade singular, eomo também preparam a compreensão de sua atitude artística e de seus postulados críticos. Se não teve pròpriamente uma atuação política decisiva, êle não deixou todavia de participar das ; lutas populares do tempo, nelas se engajando como abolicionista e republicano. Natural, portanto, que procurasse encaminhar, sempre que a sua atividade pública o ensejasse, a solução daqueles problemas de ordem conjuntural brasileira a que a sua poesia se fêz tão sensível. Daí a preocupação com a reforma do ensino, a criação de escolas mistas e a fundação de uma Universidade Popular, projeto precursor talvez das modernas universidades técnicas ou universidades do trabalho só agora na pauta de nossos programas de educação. Sugerindo no binômio «inteligência e locomotiva» a fórmula para a emancipação econômica do Estado do Maranhão, Sousândrade parecia convicto de que a questão pedagógica brasileira deveria ser solucionada através de uma escola integrada à realidade nacional. A esta supóslção nos autoriza também o ponto-de-vista por êle esposado nas Memorabilia e que estimamos outra de suas agudas intuições criticas, porquanto válida ainda boje; «a nossa escola não é nossa e nada ensina aos outros; estudando os outros, tratamos então de elegantlzá-los em nós, e pelas formas alheias destruímos a escultura da nossa natureza, que é a própria forma de todos». As falhas, deficiências e distorsões de nossa Inteligência e a ausência de uma cultura nacional autônoma e superior, assim, como «a falta de ciência e de «meditação» de nossa literatura (Memorabilia), constituiriam, portanto, desdobramentos negativos da causa primária de nosso atraso mental e técnico: a escola alienada. Esta cons-

ciência de antenas ligadas pai» 0 futuro, .que teve contra sl a omissão da acanhada direção intelectual do pais em seu tempo. Justifica e nos faz repetir a conclusão de Augusto e Haroldo de Campos de que Sousândrade, dentro do conceito já clássico de Norbert Wiener, - «viveu efetivamente», tanto no plano estético, quanto no ideológico, «pois viveu com a informação adequada». (14) 9. Como se sabe, FauJkner elaborou o mapa, seguido de esquema geográfico e estatístico, do condado imaginário de Yoknapatawpha, cuja sede seria a cidade de JefíersOn, no estado do MiSsissipl. Néie decorrem e se movimentam, num plano de identidade histórica e social com a realidade sulina, as histórias ^ os personagens de seus principais romances. 10. Augusto e Haroldo de Campos — Ob. cit., pág. 30,. 11. Cf. Leon Howard — A Literatura Norte-Americana, tradução de Pérlclés Eugênio da Silva Ramos, Editora Cultrlx, S, Paulo, 1964; «Seu método era impresslonistico; consistia na busca episódi- ' ca de uma variedade de tipos representativos, e no uso de três recursos extraordinários para o propósito de transmitir um conveniente segundo plano delmpre^sões ao leitor: «o ôlho fotográfico» da corrente de consciência de um observador sensível e perceptivo, um «Jornal cinematográfico» de manchetes e fragmentos de noticias e de trechos de canções populares, e biografias impressionistlcas de figuras históricas ligadas à ação fictícia. O objetivo do conjunto era um retrato, sem loco, da cena cultural norte-americana durante o primeiro quartel do século vinte, quando, seu centro econômico se estava mudando para oeste, ao longo do paralelo 42» (pags. 20S| 9). 12. Ver Roland Barthes — L'Activité Structmaliste, Les letres nouvelles 32, Julilard, Paris, Févrler 1963, pag. 75. Também sôbre Mobile, escreve Olivier de Magny, em A escrita do Impossível, II, tradução de Laís Corrêa de Araújo, Suplemento Dominical do «Estado ' de Minas», Belo Horizonte, 7 de setembro de 1963: «O texto dv Mobile (texto, tecido, mosaico,-'aliás ajustado, de coisas tomadas tais quais, imobilizadas, nomeadas, recenseadas, adicionadas — soma por repetição das coisas constatadas como tais), o texto de Mobile se lê como se percorre um continente, as palavras se dispõem na página como as coisas no solo. as palavras no branco da página como as coisas no ar, no espaço. { ) O texto se estabelece na sua coincidência com aquilo que aparece. O texto, como a realidade, não se explica. Aparece, se Impõe». 13. Essa coincidência não passou despercebida a Augusto de Campos,, que, no artigo A prosa é «mobile» — n. Suplemento Literário de «O Estado de S. Paulo», 30 de março de 1963, sugere «o exame dos pontos de contacto da «representação» butorlana com a de outro visitante dos EUA, o brasileiro Sousândrade». 14. Augusto e Haroldo de Campos — Ob. clt., pág. 77.

BALANÇO" Wilson Castelo BRANCO respeita e considera o existente. Multas vêzes até valoriza e duporvaloríza essa realidade. São os bens de que êle usufrui e que se sente obrigado a declarar ao Delegado do imposto de Renda em termos líricos, chapllnlãnos; o sol a lua, as árvores, as montanhas as críancas os versos, os animais, etc. ' Dir-se-à que o sol e a lua não são coisas declarávels ao fisco, pois sao eternas. Retrucará o poeta, ou melhoi o cronista, que são coisas mutáveis — e o oue se suamete â mudança não ê permanente. Poderá acrescentar que ésses objetos do espaço desaparecerão um dia de nossa contemplação, quando estivermos extintos, se é eme o homem se extinguira na sua essenclaildade .. Não nos deixemos, porém, envolver pela metafísica . . Voltemos ponto Esta e o ponto reside slstêncla _das aocoisas. posição do no'tema cronista da eminsubface da vida, êle a afirma o reafirma várias vêzes e de variadas formas. Lá está na página 1S, como reflexão indecisa de um personagem menino: «Ele comparava., meditava, decidia, arrependia-se, E como era impossível levar todos os brinquedos que o atraíam, pois cada um tinha seu inconveniente, que era nao ter as qualidades dos demais, repeliu todos.» Mais grave nesse sentido é o personagem da página 56, homem que viveu a sua casa e foi por ela vivido, vendo-a ser demolida depois de 21 anos de serventia: «Fitou tranqüilo o que tinha sido sua casa e era um amontoado de caliça e tijolo a ser "emovldo. Em breve restaria o lote, à espera de outra casa maior, sem sinal dêle e dos seus, mas destinada a concentrar outras vivências. Uma ordem, um estatuto pairava sôbre os destroços, e tudo era como devia ser, sem ilusão de permanência.» Muito se tem escrito, sobre a generosidade, em terra, ar e mar aplaudida e louvada, mas Carlos Drummond de Andrade desconfia dela não como descrê da energia atômica, utilizável para bons ou maus propósitos, mas porque o puro impulso da bondade pela bondade pode dar em água de barreta- -

Carlos Drummond de Anümde n&o trabalha as emoções nem valoriza os sentimentos como expressões criadora» exclusivas. Na sua escrita predomina a inteligência O racional. B se aquelas duas manifestações — sentimentos e emoções — incidem no seu trabalho, sô ai anarecero na qualidade de exteriorizações do ser, subordinadas á consciência. São como animais atrelados, suieltos as rédeas e ao comando do cavaleiro. Dal o «humour» do cronista, manifestação superior da inteligência. vamos aos fatos e tomemos para exemplo " «Caso do Cegumho», uma das crônicas do livro «Cadeira ae Balanço». Entra o personagem numa repartição pública para vender artigos femininos. O Estatuto proíbe mercancl* no local e em hora de serviço. Mas o pobre é cegulnho e todo mundo faz vista grossa à infração. Até aqui predomina o emocionai. Depois, como as mulheres se julgam sempre necessitadas de roupas, vários artigos são vendidos ás lunclonârlas. Vai o ceguínho e pede a uma servidora, por sinal á mais bonita, que o leve a outra seção, com o mesmo objetivo comercial. A jovem acede e o cego se ampara nela, até com, certo agarramento suspeito No lance seguinte, chega a amnnar-se nos braços de sua protetora, sob pretexto de susto. Al a moça se despe das emoções e dos sentimentos e parte para analisar a situação sob o ângulo critico. Não estaria o homem tentando abusar dela? Seria mesmo um cego? Quando a jovem despede o ceguínho e o embarca no elevador com bons ventos o levem, Jã náo ê a primitiva caridosa emocionada quem toma essa atitude — é um sar analista, critico, defensivo e irio. E a Inteligência no comando. Outra como que chave das crônicas de Carlos Drummond de Andrade consiste no conceito sutil que vai desenvolvendo sôbre a msubsistência das coisas, dos seres e da vida Nao no sentido pessimista ou de negação, mas vistos o mundo e suas manifestações como algo de passageiro. O que chega à receptividade do eronísM. aporta com-essa marca. E sem. embargo do que o mundo nos apresenta sob o signo da precariedade, o cronista

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«Nunca se sabe o lesuitado de um impulso generoso, e, em determinadas situações, a regra de ouro é ficar quieto, para não agravar os acontecimentos.» Pitágoraa nos diria um pemeo mais; ver._ ouvir, saber e caiar, desdobrando o pollnômio em binômios de estranha complexidade. Há também a grandeza da morte, que o autor exalta na vida de Anlba) Machado, sob ângulo diferente, da morte que vem quando o melhor já está realizado e coti* sumado e nada mais pode ela ceifar. Ou ainda a mesma insubslstêncla das coisas, quando o autor recria numa smtese a obra e a ação cultural de õrns Soares, na página 147; «ItáylEi em sua recusa a amargura do trabalhador injustlçado, que nem mesmo deseja a reparação da injusUça, mas havia também, a meu ver, êsse sentimento íllosofico df inutilidade das coisas como coisas, que são vâs e perecíveis.» Outra tônica do cronista: êle não promove os poderosos da riqueza, da política, do soçaite, os que se exalcam mercê de forças exteriores ao ser, mas se rende humildemente aos que sobressaíram pela exceilência mental. os maiores da inteligência, do caráter é do aentimentp- Ainda que ta^s seres de eleição sejam ricos, como Schmldt, importantes como Gustavo Oapanema e poderosos. Outras vêzes, são vultos perdidos na multidão, como o homem que vendia fascículos de leis, desde que tocados por uma qualidade especial que os slngularlza dentro de sua fecunda pequenez. Ainda aerl-a preciso falar do cronista, mago da palavra exata, oportuna e forte; do escritor sutil, e até mesmo do virgulador, que transforma --em beleza plástica frases comuns e incolores. Mas tudo isso seria matéria para outro artigo. — «Cadeira de Balanço», Carlos Drummond de Andrade — Capa de Gian Calvl — Livraria Jooé Olympio Editora — 1966 —

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7 — MINAS GERAIS

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Flávio MÁRCIO

Autor do mais importante c belo filme americano, «Vidas Amargas», Elia Kazan não é apenas o responsável por outras obras primas ■— «Viva Zapata», «Um Rosto na Multidão», «América, América» — mas, também, o homem que permitiu à cultura dos Estados Unidos o conhecimento de seus dois maiores dramaturgos: Arthur Miller e Tennessee Williams foram lançados por êle. As técnicas de trabalho de Kazan influenciam alguns dos melhores diretores: de Robert Aldrich a Martin Ritt, de Sydne^ Lumet a Arthur Penn, de Leslie Stevens a John Cassavetes, passando por tôda a jovem escola polonesa (Wajda, «Cinzas e Diamantes», à frente). E, também, os atores: a êle se deve, entre òutros, o aparecimento de Marlon Brando, James Dean, Montgomery CÍift.

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Foi Kazan quem inventou o mito: James Dean «Já nem rae lembro de ter sido ator — foi terrível, meia dúzia de anos no palco, as vêzes em Hollywood. Mas, final de contas, unia experiência de certa utilidade. Como ator, fiz parte do antigo Group Theatre. Trabalhei em várias pecas de Cliriord Odets. No Group, conheci alguns dos que seriam os meus maiores amigos: John Garlleld, Franchot Tone, Lee J. Cobb, Sfella Aclfer e Harold Ciurman, com quem aprendi multa t Usa sobre mlse-en-scene. Nâo me considero um homem de teatro quando estou fazendo um filme. Máo aceito a ditadura do teatro sõbre o cinema, mesmo no caso da versão para a tela de uma peca. Ou especialmente neste caso. «Uma Rua Chamada Pecado» é um filme plctôrlcametite sem qualidades dignas de nota. Se retomasse hoje o assunro, faria uma fita completamente diversa. Meu teatro tem multa movimentação, mas esta movimentação é intencional, Já faz parte de um estilo. Não sei se exerço êsse estilo orientado pelas observa-

Pouco

na

ções e experiências que tive a oportunidade de fazer no terreno cinematográfico. Se existe, não é conscleate a influência do cinema sôbre o meu teatro. Do meu primeiro período no cinema, destaco dois filmes: «Pânico nas Ruas», solucionado dentro de um adequado ritmo visual, e «O Justiceiro», que fiz aplicando com felicidade a técnica do semidocumentárlo. Ao chegar a Hollywood, em 1944, para dirigir o meu primeiro filme, «Laços Humanos», eu Já tinha estado com uma câmara nas mãos — isso antes, também, de fazer qualquer coisa importante na Broadway. Por volta de 1934, 1935, andei fazendo filmes experimentais, um dos quais em colaboração com irving Lerner. Filmávamos no melo da rua, sempre, e os Intérpretes eram pessoas comuns, sem qualquer experiência dramática. Gosto de filmar o homem da rua, porque êsses rostos representam uma época, um país — a face que se vê no melo do povo é História. Alguns rostos anônimos que aparecem nos meus filmes não

entrada:

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são de extras contratados pelo estúdio, mas de gente surpreendida na rua7 «Sindicato de Ladrões» e «Vidas Amargas» são os melhores filmes do meu segundo período. Na verdadis, gosto também de «Boneca de Carne», mas êsse deu tanto trabalho aos censores que eu nem gosto de falar, é uma triste invenção, os censores. A «Pânico nas Ruas» falta alguma coisa. Não existe qualquer Influência dv Eisenstein em «Viva Zapata». O México é o responsável por tôdas as composições plctúrlcas — o pcoai e a paisagem. Nenhum dos atôres que descobri ê tão bom quanto Marlon Brando. Um verdadeiro ator, completo. James Dean não me entusiasmou: era um bom ator, sen dúvida, mas multo complicado. Gosto de Fellini, detesto Bresspn. Começo a dirigir meus filmes a partir do primeiro instante, da primeira discussão em tôrno da adaptação da história. Essa colaboração do diretor com o adaptador é essencial — o diretor deve ser o autor do filme, que deve refletir as suas idéias estéticas.

resto

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No caso de «vidas Amargas», decidi fazer grandes alterações na nowla, mas nâo permiti ao autor qualquer protesto. Eu sabia o que estava fazeado. E, afinal, Steínbeck é meu amigo. O ActoTs Studlo nasceu em 1947, criado por mim, Chéryl Crawford e Lee Strasberg Funciona numa antiga Igreja grega, transformada em escola. Ê uma organização privada: o Govêrno não dá palpite. Não é uma companhia teatral, um teatro, não é uma escola dramática para principiantes. Isso precisa ficar bem claro, é uma oficina de trabalho para atôres profissionais, diretores e teatrólogos. Apenas o talento credencia uma pessoa para o Actor's. Temos uma média de 140 membros. E mais uns 100 estudantes, que desenvolvem as suas aptidões para o palco, além de visitantes de vários países, admitidos na categoria de guestobservers. Eá ainda um número limitado de vagas para observadores: escritores, diretores. Até Marllyn Monroe estêve por lã, dois anos. Mas ela fêz Isso por publicidade. O Actor's é responsável pelo lançamento de muitos atôres co-

nhecidos. Por exemplo: Brando, sua irmã Jocelyn, KaiT Maldet», Rod Steiger, Eve Marle Salnt, Jo Van Fleet, Julle Harris, Eli Wallach, Mlldred Dunnock, Cllft Robertson, Anthony Franclosa, Paul Newman, Klm Hunter, Jan Sterllng, Tom Ewell, Montgomcry Cllft Temos também ura coreógrafo, Jerome Robbins, e vários diretores, como Jbshua Logan, Daniel Mann, Martin Ritt e Joseph Anthony. Fala-se do Método como uma coisa da moda. Mas êle é, na realidade, o resultado de uma série de experiências comuns a todos os atôres. Stanllavskl escreveu uma parte. O mais Importantte é a revolta contra o teatro heróico, romântico. retórico. O Método coloca à disposição do bom ator certos recursos. CoStunva-se associar James Dean ao Método. Mas êle só estêve no Actor's duas vêzes. Sentou-se com os pés estlrados numa cadeira, olhou, mas nada compreendeu, nada aprendeu. Todos os que falara do Método lempram-se logo de Dean. Mas éle não é um produto nosso, como, por exemplo, Marlon Brando.

prestação Jota DÃNGELO

N ^as^r&raTde^fll^?^: ran nã0 abrlr^ ^?sâs. portas Para dizer dntr^T' falência, o que e sua ceira? r> 3 o situação Quando cinema finanestá ce óhvm p nclu . conco rdata, parer está em „^a • l E ^ue o Teatro não vafwí ' realmente, êle braços3 nI™ ?s CPeí rnes. Nem dos "'ente ; &nâi níeeae' Provavel0 c;nema vai mal, o núhii£? a corre às Centenas de casa, 2"f,„ illid, ras do Pais não é o .P Mheterlas d™ ™OUCOS ^ aIlul ^ existentes ?rrmfn ra Ivamente) teatros "es grandes centrn? tr S anos oüe 1 Cf» Í2":lca Perdeu muitoso jiuaüricatlvo rin cê hora o «PPPhlar». emcon vindo bem «I n i Uloi . detinue serPaulo e rm Rio I , - Em São monstram oeo' A estatísticas dePulação comn|rp?„ 0a 1% da P0" Belo Horizonte a rifr éí^tro. Em mática: 0,33%® mais dratro é divertimento <líIn<?a' 0 Teaa,,a P(,Sie

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por Intelectuais da classe média, que vivem com o dinheiro contado, e por não intelectuais de parcos recursos, mas de sensibilidade educada, entre os quais se incluem universitários e homens de profissão liberal. Esta é a elite que sustenta o Teatro ou, pelo menos, que o tem sustentado nos últimos anos. Bem diferente é a estrabificaçao das platéias do cinema, de espectro mais largo e variado, onde predominam o gôsto duvidoso e a ânsia desesperada de divertir-se, escapar ou esquecer Sem faltar à verdade insofismável de que o Teatro exige um certo refinamento dos seus espectadores, refinamento êste que deve ser entendido em nível cultural, o poder aquisitivo é fator preponderante na divisão dos grupos que acabam por constituir os públicos de teatro e de cinema. Diferentemente dêste último, o primeiro tem hábitos próprios, um ritual que o caracteriza. E' raro ir-se ao Teatro sôzinho, para dar um exemplo. Nos grandes centros, principalmente, «o dia de Ir ao Teatro» requer uma cerimônia: combina-

se o programa com antecedência, na que fazer a reserva dos In,e- normalmente, janta-se depois do espetáculo. Por mais que os grupos teatrais tenham se 0 C 0 dur nte 0 hrÍ / tl ' ? a" ®, para queeifctimiíf existindo eprotocolo, desafiandoéleascontinua campanhas publicitárias do tipo- «trate esporte permitido» etc. Ora atual0 mente o proe do Ingreíso^noRio 4 500 e o.000 nrín cruzeiros. variando 4.500 Com entre muito boa vontade, a desuesa no fím da noite, acaba ná eMa <to8 o S ™or duas '0' por pessoa- 16 " » Não há ninguém, em sã conscléneia, que nao perceba os efeitos que a política econômico-íinanceira do atual govêrno tem ocasionado no índice do poder aquisitivo da população. Não se trata (não em um artigo como êste) de analisar o acêrto ou desacêno desta política, mas de constatar, pura e simplesmente, as suas conseqüências imediatas. A queda vertical do poder aquisitivo é fenômeno observado em tôdas as

camadas sociais e a classe média, que sempre lutou com problemas de crédito para manter uma posição social quase nunca realista, é a que mais se apavora (por ser mais consciente) com o esvaziamento paulatino dos recursos de que ela dispõe para conservarse como membro de uma classe muito pobre para aspirar situação melhor, mas também muito orgulhosa para admitir um retrocesso. Infelizmente, para todo o Teatro, é nesta classe que são recrutados os elementos que compõem a maior parte do seu público. / Financeiramente, a classe média, hoje um dia, é obrigada a viver de opções e, na opção do divertimento, o Teatro, por ser mais caro, perde para o cinema, perde para o futebol, perde até mesmo para uma única noite mensal em uma casa noturna de segunda classe. Isto quando todos os exemplos citados não perdem para o confôrto barato da televisão que se vê de chinelos e em nossa própria casa, enquan-

to se mastiga um sanduíche d* queijo. Não é pois surpreendente que ainda agora, no Rio, uma companhia profissional esteja encenando uma peca de 0'NeíH para a qual os Ingressos podem ser adquiridos a prestação! Crediário teatral, sim senhores! Um pouco de entrada e módicas parcelas depois da peca assistida. E ainda íl0™. j!ue se pode assistir à pedi s p™110 breve estarão RBnciiml lnSressos por ato preat0 3 £nn ^três atos, . 2.500; dois Sinal atos, 3.500, 5.000... aos tempos. E mesmo assim, oi teatros estão ficando cada vez raais vazios. A grave conseqüência deste fuga do público é que, na ansia de atrai-lo, os produtores, normalmente, baixam o Indfee qualitativo do repertório, chegando, não x-aro, à comèdiazinha imbecil e até à chanchada. Questão de sobrevivência. Não me admiraria multo se voltássemos, em breve, aos tempos tenebrosos <!• Praça Tlradentes. E com ingressos a prestação. - -v.'

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SÁBADO, 10 DE SETEMBRO DE 1966 mw

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Aspecto da mesa que presidiu as solenidades de lançamento do Suplemento Literário do «Minas Gerais», quando falara o ex-diretor da Imprensa Oficial, Raul Bernardo Nelson de Senna ■.

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Com a presença de Secretários e representantes do Govêrno, do Comandante da ID-4, General Dióscoro do Vale, do Diretor, Antonio Tlburclo Henriques, ex-diretores e funcionários da Imprensa Oficial, de nomes expressivos das artes, da literatura e do jornalismo de Minas, foi realizado, no dia 3 de setembro, o lançamento do Suplemento Literário do «Minas Gerais». Na ocasião, foi feite ainda a entrega da medalha «Hermenegildo Chaves» ao Sr. Mário da Silva Rábula, antigo funcionário que ora se aposenta. HOMENAGEM O diretor da Imprensa Oficial, depois de chamar á mesa de honra da solenidade o General Dióscoro do Vale, os escritores Rubem Braga, Paulo Mendes Campos e Aires da Mata Machado Filho, os secretários Gerson Brito de Melo Boson (da Educação) representante do Governador do Estado e Ciro Franco (Interior) e o ex-diretor da Imprensa Oficial Raul Bernardo Nelson de'Senna, £êz o elogio de Hermenegildo Chaves, referindo-se à sua atuação como diretor da Imprensa Oficial. Disse que Rubem Braga fôra escolhido para fazer a entrega da medalha não só por ter sido grande amigo do homenageado, mas também por ter iniciado sua carreira de cronista ao lado do saudoso Jornalista mineiro. Além disso, Rubem Braga se aliiíha hoje entre os melhores escritores brasileiros. Em seu discurso, Rubem Braga rememorou a figura de Hermenegildo Chaves, fazendo depois a entrega da medalha ao funcionário Mário da Silva Rábula.

Em nome da família de Hermenegildo Chaves, falou o Sr. Ulplano Chaves. O SUPLEMENTO O ex-diretor da Imprensa Olicial, Raul Bernardo Nelson de Senna, a quem se deve a Iniciativa da criação do Suplemento, manifestou o seu contentamento e o do Governador do Estado pelo aparecimento do Suplemento Literário, cuja realização multo se deve à cultura e inteligência dos intelectuais mineiros. Lembrou também a gestão de José Guimarães Alves que inovou e dinamizou a Imprensa, trabalho êsse que o orador e o atual diretor Antônio Tlbúrclo Henriques procuraram continuar, na projeção de uma Imprensa Olicial dinâmica e de um órgão oficial renovado e -enovador. O escritor Aires da Mata Machado Filho lembrou que o caderno literário do «Minas Gerais» retomou uma bela tradição, momentaneamente interrompida: o propósito cultural mediante a divulgacáo do pensamento de escritores novos ao lado dos trabalhos de autores consagrados. «O grupo a quem está hoje entregue o Suplemento mantém as mesmas tradições de fidelidade à cultura». O Suplemento Literário, lançado no dia 3 de setembro, sairá todos os sábados acompanhando o «Minas Gerais». Atingirá assim todos os recantos do Estado, onde, em muitos dêles, só chega o órgão oficial. Em Belo Horizonte, o Suplemento será vendido avulsamente nas bancas de revistas e Jornais.

Encerrando as solenidades, o Coral da Imprensa Oficial apresentou números de música sob a regência do maestro Geraldo Lúcio de Resende. PRESENÇAS Ao coquetel de lançamento do nôvo caderno literário estiveram presentes figuras representativas do mundo intelectual e artístico mineiros, da administração pública e funcionários da Imprensa Oficial, entre os quais os srs. Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Bueno de Rivera; General Dióscoro do Vale e o Capitão Ilson Lula Vale: o repreaentatite da Academia Mineira de Letras; os ex-diretores da Imprensa Oficial: Luís Domingos, Emílio Moura, Moacir Andrade, Celso Machado, José Guimarães Alves e Raul Bernardo Nelson de Senna; Alberto Deodato; o Chefe do Departamento do «Minas Gerais José Bento Teixeira de Salles; Murilo Rubiâo, os escritores Mário Matos, Jorge Azevedo, Heitor Martins e Senhora, Afonso Ávila e Senhora, Euclldes Marques de Aadrade. Josué Amaral, Eduardo de Paula e Márcio Sampaio; o naestro Arthur Bosmans, Edson Moreira; Sebastião Noronha; Antônio Avelar, Alfredo Marques Viana de Góes, Xsalas Golgher, José Nava, Jair Silva; Flávlo de Souza Lima (representando o Secretário da Saúde); Wander Manoel Moreira, Odalr de Oliveira e ZUah Corrêa de Araújo; SaintClalr Valadares, diretor da Rádio Inconíidêncla; o deputado Jorge Ferraz, Dr. Manuel Casassanta e muitos outros.

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nílíc dualmente Interessados e restritos. Mas, de hoje em diante, vai ser, aos sábados, leitura educativa, deleltosa e enlevadora, graças à eficiência de Murilo "líubião, o mágico, e do seus companheiros, que Instituíram seu suplemento literário. E digo mais: além de seus assinantes obrigatórios, terá muitos outros.

O Suplemento Literário que a Imprensa Olicial lançou sábado vera obtendo os mais significativos aplausos por parte dos órgãos de imprensa, d/is Intelectuais e do público mineiro. Sôtare o seu lançamento, ouvimos escritores que se manifestaram de modo elogioso sôbre o caderno literário, como melo de expressão e de divulgação da cultura de Minas. INTERESSA AO BRASIL O cronista Rubem Braga, que começou sua vida de Jornalista em Belo Horizonte e é profundamente aíelcoado ás coisas de Minas, disse que 'D Suplemento Literário do «Minas Gerais» Interessa não apenas ao. Estado, mas a todo o Brasil. L acrescentou: — 32 sensível a falta de publicações em que os problemas da cultura possam ser debatidos, e que sirvam para a revelação dos valores novos. A Idéia do Suplemento foi excelente; e a qualidade do primeiro número mostra que sua execução foi entregue a gente capaz. LEITURA OBRIGATÓRIA O escritor Mário Matos assim se expressou; — O «Minas Gerais» é o Jornal mais difundido em nosso Estado e é, também, o que tem leitores Indivi-

palavras, marcará época e continuará a marcar, abrindo novas perspectivas para a produção intelectual dos mineiros. VIDA LONGA Eduardo Frleiro, que na véspera havia lançado mais um livro — «Feijão. Angj e Couve» — desejou vida .longa ao Suplemento. E explicou: Está muito bom o Suplemento, não só pelo texto como pela apresentação. Felicito o corpo de colaboradores, que merecem tôda a simpatia de todos os Intelectuais.

RUMOS Conhecido por sua grande memória e pela «verve» natural de narrar as coisas, Alberto Deodato vê com seriedade a criação do Suplemento. É incontestávelmenté —. disse — a retomada de rumos que o «Minas Gerais» teve nos seus começos, quando havia literatura e colaboração de articulistas. Lembro-me até de um artigo de João Pinheiro publicado.

APLAUSOS AO SUPLEMENTO Através de cartas e telegramas, manifestaram a sua solidariedade á Iniciativa do lançamento do Suplemento Literário, o Centro de Estudos Cinematográficos; os deputados Bonifácio de Andrada e Manuel Costa, respectivamente presidente da Assembléia Legislativa e, líder do Govêrno no Legislativo mineiro; o Coronel José Guilherme Ferreira, presidente da Federação Mineira de Futebol; o Sr. Guy de Fongalland Corrêa da Silva Loureiro, diretor do Instituto de Administração Pública; o Sr. Fernando de Oliveira Teixeira, do Instituto Cultural Dom Bosco, de Dívinópolis.

MARCARÁ ÉPOCA Do ^Jornalista e ex-diretor da Imprensa Olicial José Guimarães Alve. ouvimos ás seguintes palavras: — O Suplemento Literário do «Minas Gerais» está destinado a marcar época na vida literária do^Estado. Para isso, basta ver o conteúdo do seu primeiro número e atentar para o fato de que sua direção se acha Confiada ao escritor Murilo Rubião. Em outras

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