Especial Abelardo da Hora - Continente #113

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Acervo PAulo Bruscky

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educação

MCP Entre as massas e as vanguardas 1

Em maio de 1960, surgia o Movimento de Cultura Popular, agregando artistas, intelectuais, governo e sociedade em torno da formação de cidadãos pela arte e educação texto Débora Nascimento

Sob o aspecto cultural, os anos

1960 foram muito generosos com a humanidade. Na década em que o homem pisou na Lua, surgiram os Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, João Gilberto, Chico Buarque, o Tropicalismo, o Cinema Novo e a arquitetura de Brasília – só para citar alguns acontecimentos. A cultura jovem ganhou força e padrões heterodoxos de comportamento tornaram-se aceitáveis no mundo ocidental, que também reacendeu seu interesse pelo Oriente, sobretudo pelo misticismo e pela filosofia. Pernambuco não ficou de fora e deu sua contribuição à essa nova fase de transformações, criando um projeto que mobilizou

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teatro

elenco da peça A volta do camaleão alface, de 1961. Da esquerda para a direita, Zodja Pereira, Delmiro lira, Joacir castro, Moema cavalcanti, Marco Porto carneiro, Nadja Pereira, carlos Alberto, José Wilker, conceição de Maria e Mauro Ferreira

Durante os anos 1950, ações espontâneas promovidas por artistas começaram a receber apoio do governo municipal, na então gestão de Pelópidas da Silveira. “O mérito da criação do MCP não foi só de uma pessoa. Foi um conjunto de ações várias, mas só foi possível por conta do apoio de governantes como Pelópidas e Miguel Arraes, que institucionalizou o movimento”, afirma a professora Letícia Rameh, destacando, nesse contexto, a importância da pedagogia freiriana, que contornou as ações do MCP. Ela é autora do livro Movimento de Cultura Popular: Impactos na sociedade pernambucana (2009) e diretora pedagógica do Centro Paulo Freire – Estudos e Pesquisas (UFPE).

educar e promover a difusão cultural sem estabelecer relações hierárquicas foi uma das maiores ambições do McP

educação, artes, esportes, saúde e política – um sonho que se tornou realidade a partir de 13 de Maio de 1960, o Movimento de Cultura Popular (MCP). Segundo o estatuto do MCP, seus objetivos eram promover e incentivar, com a ajuda de particulares e dos poderes públicos, a educação de crianças, adolescentes e adultos; proporcionar a elevação do nível cultural popular; colaborar para a melhoria do poder aquisitivo da população; formar quadros destinados a interpretar, sistematizar e transmitir os múltiplos aspectos culturais. O ambiente cultural no Estado que propiciou a elaboração da filosofia do

movimento surgira ainda na década de 1950. Em diversas expressões artísticas, a estética da cultura popular e a “linguagem do povo” passavam a ser utilizadas com vigor criativo e entusiasmo, a exemplo das peças de Hermilo Borba Filho e Ariano Suassuna, da música de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, e do trabalho do artista plástico Abelardo da Hora, que montara um ateliê multidisciplinar – sendo o embrião do MCP. Enquanto isso, em outras áreas, as desigualdades sociais foram o ponto de partida de estudos marcantes do pedagogo Paulo Freire e do sociólogo Josué de Castro, autor d’A geografia da fome, que, mesmo lançada em 1946, ainda repercutia na década seguinte.

Segundo o artista plástico Abelardo da Hora, o então prefeito Miguel Arraes, antes de tomar posse, já sabia que havia um grupo de artistas desenvolvendo projetos que uniam artes plásticas, música e teatro. Até então, as atividades pré-MCP eram dispersas e realizadas sem financiamento público, à base de doações. A pedido do prefeito, o escultor redigiu o anteprojeto do movimento, que previa a inclusão social através da cultura popular. Nessa época, o Recife sofria com o crescimento desordenado a partir da vinda de retirantes do interior do Estado, que fugiam da seca e/ou estavam em busca de novas oportunidades na capital que se modernizava, com a oferta de energia elétrica, água encanada e novas edificações. No entanto, a cidade contabilizava altos índices de analfabetismo, cerca de 70% dos adultos, além de 50% das crianças, fora das escolas, pois não havia unidades de ensino suficientes para todos. Só existiam, e nos bairros mais centrais, as estaduais e privadas. A prefeitura municipal, até então, não tinha um setor educacional nem cultural. “Foi

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o Movimento de Cultura Popular que possibilitou a criação, há 50 anos, da Rede Municipal de Ensino do Recife”, pontua Letícia Rameh. A Fundação de Cultura local só seria criada em 1979, e a Secretaria de Cultura municipal, somente em 2001.

PraçaS de cuLtura

Diante desse contexto, foi arregimentado um time de peso de intelectuais e artistas para pôr em prática o novo plano sociocultural. O professor Germano Coelho, que acabara de voltar de uma longa estada em Paris, tornou-se o primeiro presidente da iniciativa, permanecendo até o começo de 1964. Na capital francesa, Germano teve contato com os ideais do grupo Peuple et Culture (Povo e Cultura), com o qual, segundo ele, o novo movimento tinha semelhanças. “O pressuposto era que o talento não distingue classe social. O povo todo tem talento. O gênio pode nascer numa família pobre. Hoje estamos perdendo muitos talentos por não incluirmos os excluídos”, avalia o ex-presidente do MCP. Observações como essa estarão no livro Pequena história do Movimento de Cultura Popular, que o escritor está concluindo. Ao contrário do que sugere o adjetivo do título, trata-se de uma obra com mais de 300 páginas, trazendo suas

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“o pressuposto era de que o talento não distinguisse classe social”, diz o professor germano coelho memórias sobre o movimento e a época. “Paulo Freire cobrava muito isso de mim. Dez dias antes de sua morte (2/5/97), encontrei com ele em São Paulo, e ele me disse: ‘Germano, você tem que contar essa história’”, recorda, acrescentando que houve, por parte do regime militar, um propósito de destruir a memória do MCP. “A intenção deles era apagar a existência do movimento. Não deixar vestígios. Para se ter uma ideia, destruíram até a galeria de arte de vidro, que ficava na rua do Sol (em frente aos Correios)”. Mesmo com a perseguição política que o grupo sofreria, a organização era, na prática, apartidária, uma sociedade civil autônoma, sem fins lucrativos, de número ilimitado de sócios, com duração indeterminada, e finalidade educativa e cultural, constituída pelas subvenções dos poderes públicos, doações de entidades e de convênios particulares. Mesmo sem contrapartida

na redução de impostos, o comércio e a indústria também contribuíram com as despesas dos professores. A partir de 1963, após Miguel Arraes ter sido eleito governador, o MCP passou a ter efetivo apoio do Governo do Estado e a ser implantado nas cidades do interior. Fora sua sede no Sítio Trindade, a iniciativa promovia atividades em espaços diversos, como clubes recreativos, salões paroquiais, templos protestantes, sociedades beneficentes, centros espíritas, clubes desportivos, ligas de dominó e praças públicas. Algumas “praças de cultura” foram criadas nos bairros da Várzea, Iputinga, Beberibe, Torre e Casa Amarela, sendo equipadas com discoteca, biblioteca, cinema, teatro e jogos infantis. As apresentações de pequeno porte aconteciam nelas, e as maiores, no sítio. Nessa época, as praças eram realmente espaços de convivência nos momentos de lazer da sociedade.

organização

A estrutura do MCP era composta pela presidência e mais de 100 sóciosfundadores, com várias diretorias: de divisão de ensino (Anita Paes Barreto), de pesquisa (Paulo Freire), de saúde (Arnaldo Marques), de teatro (Luiz Mendonça), de artes plásticas e artesanato (Abelardo da Hora),

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Flávio lAMeNhA

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PauLo Freire

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Brennand

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aBeLardo da Hora

o método de alfabetização criado pelo educador foi paradigma para a difusão pedagógica e cultural do movimento Pintura do artista que se engajou ao McP busca retratar as situações de aprendizado em sala de aula escultor já vinha empreendendo atividades de popularização das técnicas artísticas desde a década de 1950

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do bem-estar coletivo (Geraldo Vieira), de música, canto e dança (Geraldo Menucci/Mário Câncio), de divulgação da cultura (Aluísio Falcão), de esportes (Reinaldo Pessoa); e as coordenações de educação pelo rádio (Norma Porto Coelho), de pesquisas (Paulo Rosas) e dos centros de cultura (Zaíra Ary). Cada diretoria contava com o auxílio de dezenas de ilustres colaboradores como os artistas plásticos Francisco Brennand e Guita Charifker, os escritores Ariano Suassuna e Hermilo Borba Filho e a atriz Geninha da Rosa Borges, entre outros. Havia ainda a participação fundamental de muitos estudantes, entre eles, a cantora Teca Calazans e a socióloga Silke Weber (à época, aluna de pedagogia). “Além de seus nobres objetivos, o MCP também atraía voluntários devido ao status de se poder conviver com os mais renomados intelectuais e artistas pernambucanos daquele período”, argumenta Letícia Rameh. A pesquisadora ainda lembra que o movimento conquistava novos adeptos pela “circularidade cultural”, pelo desejo de “aprender com o povo”. “Estendiam-se as conquistas da vanguarda cultural ao âmbito das massas populares e,

em sentido contrário, se elevavam as manifestações culturais populares no nível da vanguarda cultural”, compara. O maestro Geraldo Menucci, responsável pelas ações de música, concorda com essa visão: “Eu não me punha acima do aluno, punhame ao lado dele”. E Germano Coelho complementa: “O que a gente não deixava de flagrar era a alegria dos educandos ao ver os educadores aprendendo com eles”.

SerVindo de eXeMPLo

A estratégia de propagação das ideias e ações do MCP se deu na formação de redes de ensino, como num sistema de comunicação de base. Além das escolas primárias para crianças e adolescentes, houve a preocupação com a formação de adultos. Para atendêlos, foram criadas escolas radiofônicas e de aperfeiçoamento para adultos e programas de educação e cultura pelo rádio e pela televisão, junto com outras, de formação profissional. Havia clubes de leitura e círculos de cultura, centros de artesanato e artes plásticas, exposições e debates. No cinema, foram desenvolvidas atividades de difusão cinematográfica. Na área da dança, música e canto, foi incentivada a realização de festas populares; e as linguagens eram usadas como meio

de politização. No teatro, foram montados clubes, festivais e cursos. Mesmo com ações bem-sucedidas e tendo repercussão nacional positiva, o MCP sofreu, já em 1962, dois anos antes do golpe militar, tentativas de difamação e de repressão, despertando atos de defesa, como o do então ministro da Educação, Darcy Ribeiro, que esteve no Recife e considerou o projeto “um exemplo a ser levado a todo o país”. Letícia Rameh lembra que a “experiência de alfabetização popular em Pernambuco levou à constituição do Sistema Paulo Freire de Educação, que se tornou a base do Plano Nacional de Alfabetização, do presidente João Goulart”. O êxito do MCP inspirou a União Nacional dos Estudantes (UNE) a criar o Centro Popular de Cultura (CPC), que, posteriormente, ganhou mais notoriedade na mídia do que o MCP.

VÍtiMa do regiMe

Em 1º de abril de 1964, o MCP tornouse uma das primeiras vítimas do regime ditatorial. Dois tanques de guerra estacionaram em frente à sede no Sítio Trindade e dele saíram militares que destruíram a quase totalidade da documentação e das obras até então realizadas. Elas foram queimadas e destruídas, e os integrantes foram perseguidos, exilados ou presos – Abelardo da Hora, sendo um deles, passou 10 meses em cárcere. O último balanço, datado daquele ano, foi um dos poucos documentos que conseguiram salvar. Dele consta a criação de 414 escolas, com o ingresso de 30.405 alunos, sendo 27.703 crianças e 2.702 adolescentes, sem contar o montante de adultos. Com o restabelecimento da democracia, nos anos 1980, as demandas da realidade do país tornaram-se outras; e o projeto já havia perdido o fôlego. Além disso, os governos começavam a investir em educação e cultura de forma mais sistematizada. Hoje, alguns programas governamentais devem reverências ao sonho de construção política, educacional e cultural que mobilizou os integrantes do movimento. Para Germano Coelho, o MCP não acabou: “Ele está vivo quando se fala e se investe em cultura popular”.

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Artigo

Flávio BraynEr o MCP E a invEnÇÃo Do “Povo” Há 50 anos , sob a inspiração do movimento francês animado por Joffre Dumazedier (Peuple et Culture), iniciou-se no Recife, pela ação de pessoas como o então prefeito Miguel Arraes, Germano Coelho, Abelardo da Hora e muitos outros, um movimento cultural – posteriormente estendido para o interior do Estado – que envolveu intelectuais, estudantes, artistas populares, professores. Ainda hoje, sobretudo na memória de quem viveu aqueles dias e se envolveu com o Movimento de Cultura Popular, há o sentimento de que ali se estava fazendo algo historicamente importante: um misto de afirmação identitária, de descoberta e valorização da “cultura popular”, e de criação de um laço político-cultural entre intelectuais e povo. Em resumo, a emergência de um novo “bloco histórico” . O Movimento foi amplamente estudado e discutido sob a forma de teses, ensaios, entrevistas, artigos e livros. No geral, penso não estar longe da verdade ao afirmar que boa parte dos autores incide sobre um ponto comum a respeito do MCP: mesmo no interior de uma quadratura populista, estava a caminho um processo de emergência do “povo como categoria histórica”, como ator e sujeito de um projeto político e cultural que culminaria numa “crise de hegemonia” em que se poderia vislumbrar a Canaã da “revolução brasileira”, que tinha em Pernambuco seu mais avançado laboratório. Todas essas teses guardam um amplo interesse e estão profundamente sedimentadas em nossa interpretação daquele período, o que torna difícil qualquer tentativa de desmobilização daquelas certezas. E, no entanto, talvez as coisas não sejam exatamente assim!

Os anos de 1920, grosseiramente falando, colocaram sobre a mesa a questão da identidade nacional (discussão que tomava a forma do “caráter”, da “psicologia” ou da “alma” brasileira). Essa tentativa de “redescoberta” do Brasil, para a qual Mário de Andrade oferecerá a mais valiosa das contribuições, através de suas viagens antropológicas repertoriando e catalogando elementos das culturas populares regionais, caminha em franco contraste com as interpretações “autoritárias” de Alberto Torres ou Oliveira Viana, que lançavam um verdadeiro anátema sobre a nossa demografia, contaminada pela presença negra e, portanto, incapaz de alcançar os patamares superiores da civilização (cuja “solução final”, para alguns, passava por um amplo e demorado processo de branqueamento

o Movimento foi amplamente estudado e discutido sob a forma de teses, ensaios, entrevistas, artigos e livros através de uma política eugenista que Vargas, aliás, apoiou). Vozes como as de Roquette Pinto e Gilberto Freyre, no final dos anos 1920 e início dos anos 1930, oferecerão um contraponto decisivo e duradouro à imagem (mitológica) que faremos de nós mesmos e de nossa “identidade”. No entanto, praticamente todos esses intelectuais concordariam num ponto: o problema era o “povo”, ora desqualificado pelo pensamento conservador e autoritário, ora sendo valorizado por um tipo de pensamento que vê nele a matriz da construção de um projeto “genuinamente” nacional (seja lá o que isso queria dizer!). O Bispo Sardinha finalmente seria canibalizado para, após digestão, vomitarmos cultura nacional..., tese oswaldiana que retornará com os Tropicalistas, nos anos 1960. A cultura popular serviria, aqui, de cimento para a construção simbólica

dessa identidade, em oposição ao caráter universal, homogêneo, cosmopolita e asséptico da cultura “burguesa”. No “povo” residia nossa miséria e nossa redenção. E assim como ele havia sido representado ou, melhor dizendo, construído ou inventado em formatação negativa, também o poderia ser de maneira positiva, através da valorização, pelos intelectuais, da sua cultura. Isso quer dizer que a definição do que era “cultura popular” (em seu contraponto com a “cultura erudita”) era (e é) uma invenção de intelectuais, no caso brasileiro, interessados em dar uma resposta à questão da identidade nacional. Está a caminho um complexo projeto de invenção do “povo”. E é aqui que o MCP aparece como uma resposta pedagógica e cultural àquela questão dos anos 1920 sobre nossa identidade nacional. Valorizar a cultura popular através do teatro, do artesanato, das artes plásticas, da música, do cinema ou da alfabetização de adultos parece ter significado exatamente isto: escolher entre os diferentes, complexos e variados aspectos da “cultura popular” aqueles que interessavam à construção de uma noção de “povo” adequada ao “projeto nacional”, e que podemos, brevemente, definir como “povo consciente” (quer dizer não alienado), “povo autêntico” (contrastando com a “massa”) e “povo-sujeito” (em oposição ao povo-objeto). Nesse projeto, talvez a alfabetização de adultos e a influência de Paulo Freire para essa definição tenha sido decisiva: estava se dando, com três décadas de atraso, uma resposta pedagógica àquela questão dos anos 1920, que iria constituir a ideologia do nacional-popular. Em resumo, o MCP, a meu juízo, foi isso: um interessante experimento ideológico, patrocinado pelo Estado, que visava criar um conceito de “povo”, através de uma noção particular de cultura popular que servisse aos interesses de uma intelectualidade ocupada, naquele momento, com questões de identidade e projeto nacional, autenticidade da existência e revolução social. E precisavam, para tanto, ...de um “povo”!

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