Revista Ação - Esportes Sem Limites - 2ª Edição

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Ano 2 – nº 2 – Novembro 2013

DA MENTE Associação promove o pôquer nas mesas de Sertãozinho MILENAR Fazendeiro de São Simão resgata as quadrigas de Ben-Hur ALÉM DOS OLHOS Falta de visão não é limite para atletas do Goalball

Mergulho no esporte Projeto de natação em Ribeirão Preto luta para tirar crianças da rua e fazê-las entrar de cabeça na prática de atividades físicas na piscina



EDITORIAL

Rumo ao bi! Acertamos no alvo. Não no mesmo que a estudante Ingrid França, que você conhecerá nas próximas páginas, acertou. Acertamos ao escolher o debate, no meio acadêmico, sobre esportes alternativos. Foi com essa proposta que a primeira edição da revista “Ação – Esportes sem limites” venceu o Expocom (Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação) Sudeste agora 2013, em Bauru, garantindo vaga para o Nacional, em Manaus, onde concorreu com as representantes das outras quatro regiões do Brasil. Não vencemos a fase final, mas só o fato de estar entre as cinco melhores do país já é sinal de orgulho para os estudantes que produzem, com carinho, este material para você. Por enquanto, até a edição 2014 do prêmio, somos a melhor revista universitária do Sudeste. E, com esta edição, vamos buscar o bicampeonato. Ao embarcamos nessa segunda viagem pelo cenário alternativo do esporte na região de Ribeirão Preto, você poderá conhecer um grupo de pôquer que se reúne quase que secretamente para jogar o carteado. Verá, também, a superação dos deficientes visuais que jogam o Goalball. Resgatamos uma velha prática esportiva, as corridas de bigas, numa fazenda do interior paulista. Para quem não sabe, a modalidade, que estava extinta há mais de um milênio e meio, é aquela retratada nas telas de cinema no clássico “Ben-Hur”, de 1959. Driblamos alguns preconceitos para chegar ao topo do Sudeste, assim como as meninas do futebol de Ipuã, que ainda superam desafios. Mas foi gratificante. Principalmente por buscarmos abrir um espaço de discussão sobre este tema na universidade. Esperamos continuar em campo, quadra ou arquibancada, nesse ritmo intensivo de preparação e disputa, para que outras conquistas sejam possíveis. Boa leitura! EXPEDIENTE Revista Ação Edição 2 – Novembro 2013 Produção Experimental dos alunos do 2º ano do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo do Centro Universitário Barão de Mauá – Ribeirão Preto/SP Coordenação do projeto: Prof. Igor José Siquieri Savenhago Foto de capa: Daniel Zanetti Ilustrações: Gabriela Castilho Projeto Gráfico / Diagramação: Jefferson Ricardo Orlandi (Jefin) 16. 3041-9710 Pratique cidadania! Após ler toda a revista, repasse este exemplar a outras pessoas. Pequenas atitudes diárias ajudam na conservação do meio ambiente.


SUMÁRIO

Artigo É campeão!

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Tabuleiro educativo Rainha do xadrez

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Artigo A Copa a preço de ouro

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Esporte para todos Enxergar é um detalhe

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Arco e flecha Alvo Certo

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Esporte milenar Os romanos de São Simão

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Cartas na mesa Pô, quer jogar?

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Artigo Holofotes para o amador

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Futebol e futsal Toque feminino

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Futebol americano Vai encarar?

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Artes marciais mistas A luta vai além

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Vôlei para a terceira idade Adaptado para a vida

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Ensaio Nadando na frente


ARTIGO

É campeão! Acompanhados do professor Igor Savenhago (ao centro), coordenador do projeto, os estudantes (da esq. para dir.) Susana Santos, Vinícius Alves de Souza, Leonardo Oliveira e Daniel Zanetti foram a Bauru receber o prêmio

Primeira edição da Revista Ação, que venceu o Expocom Sudeste 2013 na categoria revista-laboratório impressa

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POR VINÍCIUS ALVES DE SOUZA

om, quando me convidaram para escrever esse texto, fiquei pensando como seria passar toda a emoção vivida para o papel. Um resumo: inesquecível e surreal. Vou contextualizar. Eu, Vinícius Alves de Souza, fui eleito aluno líder do projeto “Revista Ação – Esportes sem limites” (com o foco em esporte alternativo, o lado B, o que não é divulgado na grande mídia), que concorreu ao Expocom deste ano de 2013. Até então, tudo bem. Ok? Não... seria “ok” se só fosse isso. Além de concorrer, vencemos a fase regional e ficamos entre as cinco melhores revistas experimentais universitárias do Brasil. Magnífico, emocionante, épico. Tudo começou com a intenção da sala em ter um jornal-laboratório. Não foi possível. Mudamos para revista. Já com o tema definido, fomos para a produção. Resolvemos inscrever no congresso. Para isso, era preciso um paper (relatório científico) para explicar e teorizar a revista. Fomos às leituras. Foram muitas. Eu e a Susana, colega de sala, nunca lemos tanta coisa num espaço curto de tempo. Creio que duas semanas. Paper feito, após muito debate e rascunhos. Restou só esperar o resultado dos finalistas. Em junho, a primeira vitória. “Ufa... estamos na final”. As dúvidas começaram a surgir. “E agora? Será que ganharemos ou não?” Teríamos que ir para Bauru, na Unesp, e apresentar o projeto frente a um professor de outra região e aos outros quatro concorrentes da região Sudeste do país. Estudo... Estudo... Estudo. Foi assim até o dia 3 de julho, quando, de madrugada, partimos para o congresso. O caminho foi tenso, mesclado com risadas e brincadeiras no carro, entre amigos. A chegada à faculdade, mais tensa ainda. Estava chegando o momento da apresentação. Éramos os últimos. Deu pra observar os concorrentes. As esperanças estavam aumentando. Estávamos

focados demais naquilo que nos propusemos a fazer. Era apenas um exemplar, humilde, perto das centenas levadas pelos “colegas” estudantes. Mas deu certo no final. Vencemos. Apresentação feita, confiança aumentada. Sexta-feira, 5 de julho de 2013, por volta das três e meia da tarde, partimos, novamente, rumo a Bauru. Era tudo ou nada. A volta poderia ser feliz... ou poderia ser em clima de velório. O destino nos proporcionou a primeira opção. Mas não foram só flores. Nossa categoria foi uma das últimas a serem anunciadas durante a cerimônia. Fui ao banheiro umas cinco vezes. Beber água, então, umas dez. “O que fazer se ganharmos? O que fazer se não ganharmos?”. Não conseguia conversar com ninguém. Muito foco e concentração. Eis que chega o momento mais esperado, para nós, na noite. O mestre de cerimônias anuncia a nossa categoria... O tempo pareceu parar. Ouvimos lá no fundo: “O projeto vencedor é... Ação...”. Gritos, histeria, emoção, felicidade. Nem conseguimos escutar o resto do anúncio da nossa vitória. Reconhecimento e sensação de dever cumprido. Com o título, fomos para a fase nacional em Manaus. Enfrentar revistas das regiões Sul, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Uma por região. Não trouxemos o título, mas ficamos entre as CINCO MELHORES DO BRASIL. Para nós, uma grande vitória, um indicativo de que não poderíamos parar. E não paramos. Está aqui a segunda edição. A mensagem que deixo é que vale a pena o esforço, tanto para nosso crescimento, quanto para essas conquistas na vida. Viva e curta intensamente cada momento. Lute pelos seus ideais e nunca deixe de acreditar. Dê o seu melhor em tudo. O sucesso é consequência. Vinícius é estudante do 2º ano de Jornalismo do Centro Universitário Barão de Mauá

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TABULEIRO EDUCATIVO Divulgação

Com troféu dos Jogos Regionais, Maria (esq.) busca conseguir patrocínios para manter projeto de xadrez em Barrinha

Rainha do xadrez

Maria Brandão não mede esforços para manter, em Barrinha, a 40 quilômetros de Ribeirão Preto, um projeto social que contribui para estimular o aprendizado por meio da prática esportiva e tirar jovens da criminalidade

SIDNEY SOUSA

lho Tutelar de Barrinha e percebi, já naquela época, que tinha crescido, e muito, a inserção de crianças e adolescentes no uso de drogas. Nesse período, meu filho Evandro começou a jogar e estava com 16 anos. Foi aluno do professor Aldo Gardengui, que introduziu o xadrez na Escola Siqueira [EE Prof. Jose Luiz de Siqueira] e em Barrinha como um todo. Porém, o professor Aldo se mudou e o Evandro ficou como voluntário na escola. Aos poucos, o número de enxadristas aumentou e vieram, também, troféus e medalhas pelas conquistas em torneios estaduais. Quando saí do Conselho Tutelar, comecei a acompanhar alguns alunos em torneios na região. Íamos de circular e cada um custeava sua passagem.

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o xadrez, a rainha é a peça mais importante na proteção do rei. Aquela que pode se movimentar em todas as direções para evitar que o jogo acabe. Assim é Maria Brandão, reconhecida por muitos dos pouco mais de 30 mil moradores de Barrinha, pequeno município da região de Ribeirão Preto, como uma das maiores incentivadoras da formação por meio do ensino aliado ao esporte. O jogo, nesse caso, é o projeto social “Jovens Enxadristas”, que foi apontado pela Secretaria Municipal de Educação como uma das causas do bom desempenho do município no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2007, quando a média obtida foi superior as do estado e do país. E os reis que ela protege não são exatamente os de cima do tabuleiro, mas jovens sonhadores que buscam dar um xeque-mate nos problemas da vida, muitas vezes causados pelas drogas, e ir bem além de ganhar uma simples partida.

Ação: Qual é o principal objetivo do projeto? Maria: O foco sempre foi tirar as crianças da rua, dando a eles a chance de aprender algo que só traz benefícios. No início, foi difícil. Eles perdiam e ficavam tristes, mas isso acabou servindo de motivação e fez com que treinassem mais e mais e, com isso, conquistassem medalhas e troféus.

Ação: Como surgiu a ideia do projeto de xadrez? Maria Brandão: Trabalhei alguns anos atrás no Conse-

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Ação: Quais foram as principais dificuldades no começo? Maria: Em 2000, os pais tinham que patrocinar as viagens. Isso durou vários anos. Só em 2005 a prefeitura começou a nos fornecer ônibus e tal oportunidade fez com que surgissem ainda mais jogadores. A falta de transporte limitava muito a participação. Com o incentivo, pudemos levar até 80 crianças e adolescentes em torneios. Outra principal dificuldade foi a falta de espaço para que as crianças e os adolescentes treinassem, pois é importante trazer formas de aprimorar as habilidades dos alunos, tanto no esporte quanto na escola.

sa no valor de R$ 100,00. Com esse valor, os professores mirins compravam seus jogos de peça, tabuleiro e até mesmo custeavam gastos pessoais em viagens. Eles também contavam com professores que os orientavam para que pudessem ensinar outras crianças. Esses professores eram adultos mais experientes, como meu outro filho, Renan Alves Brandão, Emanuel Valentim dos Santos, Caique Ribeiro da Rocha e Rafael Nakamura da Silva. Ação: O projeto já foi, inclusive, premiado... Maria: Sim. Como as crianças são de várias escolas municipais e estaduais, várias já receberam premiações, principalmente a EMEF Darvy Mascaro, EMEF Antonio Duarte Nogueira e EE Prof. Jose Luiz de Siqueira. A Darvy Mascaro tem dois títulos estaduais de equipes masculinas. A Siqueira tem vários títulos estaduais com equipes masculinas e femininas. Já Barrinha tem títulos nos Jogos Regionais. Nos anos de 2008, 2009, 2010 e 2012 foi campeã e, em 2011, ficou com o vice-campeonato. Também ficou em primeiro lugar nos Jogos Abertos do Interior em Santos, em 2010, e Bauru, em 2012. Além dos torneios por equipe, a cidade já revelou vários talentos individuais, que conseguiram títulos, como o Pan Americano Escolar U19, o Campeonato Brasileiro Escolar do 1º ano, o Paulista sub-16 e os Jogos Escolares Infantis.

Ação: Existe alguma restrição para participar do projeto ou limite de idade? Maria: Não, é para todos. Não é cobrada taxa de inscrição também. Quanto à idade, eu não diria limites, pois há vários casos particulares e específicos, mas, geralmente, as crianças começam a interagir no xadrez com quatro anos de idade e, com cinco, podem avançar bem. Ação: Qual a importância do Jovens Enxadristas para Barrinha? Maria: É um projeto sociocultural. Até 2012, 15 crianças e adolescentes, de 12 a 18 anos, davam aulas e recebiam uma bol-

Divulgação

Barrinha se destaca na modalidade, com a conquista de quatro títulos nos Jogos Regionais e dois nos Abertos do Interior

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Ação: Você já pensou em parar com o projeto? Maria: Até cheguei a cogitar isso, numa época em que vi as crianças ficarem sem espaço para treinar e a decepção nos olhos do meu filho caçula, que também precisou parar. Em vez de progredir, regredimos. Mas pensei bem e vi que não podia jogar fora tantos anos de luta. Resolvi tentar conseguir patrocínio por outros caminhos, através de uma ONG, mas, por enquanto, não tive sucesso. Estou tentando, primeiro, apoio para quem já estava no projeto. Por isso, não podemos pensar, no momento, em aumentar o número de participantes. Ação: Como o projeto beneficia os participantes? Maria: Para participar do Jovens Enxadristas e receber a bolsa, os jovens deveriam ter notas na escola e bom comportamento. Esse, pra mim, era o fator mais importante. Eu era obrigada a retirar qualquer um deles que tivesse problemas disciplinares

Fotos: Divulgação

Projeto Jovens Enxadristas forma jovens jogadores com a proposta de tirá-lo das ruas e livrá-los do contato com as drogas

na escola, pois, do contrário, daria mal exemplo para os outros. Nesses 13 anos de xadrez, perdi alguns garotos, por causa do envolvimento com as drogas. Mas fico feliz hoje em saber que muitos estão fazendo faculdade, outros bem empregados. Alguns até já saíram da faculdade e continuam com o xadrez. Barrinha tem hoje muitos talentos que foram desenvolvidos com ajuda dos meus filhos, que não deixaram o projeto parar e fizeram sucessores. Ninguém consegue chegar a um bom nível de jogo sozinho, sem ajuda. Por isso, digo que cada semente plantada na cidade tem as mãos e o cérebro dos meus filhos, principalmente do Evandro, pois foi ele quem incentivou o mais novo.

Maria Brandão destaca que a concessão de bolsa em troca de notas boas nas escolas era um dos pontos mais importantes do projeto

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ARTIGO

A Copa a preço de ouro D

POR GIOVANI VIDAL

esde a confirmação do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, o país vive uma expectativa de encarar as problemáticas, até então, escondidas na Caixa de Pandora. Tendo em vista os gastos direcionados aos Jogos Pan-Americanos de 2007, cuja estimativa de recursos financeiros a serem utilizados era de quatrocentos milhões e saltou para mais de quatro bilhões de reais, o temor é que os números da Copa também atinjam valores exorbitantes. Essa questão envolvendo a parte financeira de um dos maiores eventos esportivos do planeta vem sendo observada atentamente pelos mais variados veículos de comunicação do país. Isso ocorre porque, para se atingir os padrões exigidos pela FIFA (Federação Internacional de Futebol), o governo deverá dispor de inúmeros recursos com infraestrutura, hipótese severamente refutada nas primeiras negociações para a realização da Copa. A partir desse fato, surge automaticamente um questionamento: será que esses investimentos não deveriam ser aplicados nas mais diversas instituições falidas do Brasil, como saúde, educação e segurança? A questão parece ser trivial. No entanto, merece uma reflexão minuciosa. É evidente que um evento dessa magnitude trará inúmeros benefícios para o Brasil, tais como estimular a economia, turismo, melhorar e desenvolver a infraestrutura e promover o contato cultural entre povos de diferentes partes do mundo. Porém, mesmo com tantos pontos positivos, não se pode ficar ludibriado apenas com essas perspectivas e deixar de lado os problemas que envolvem os bastidores ocultos da realização de uma Copa do Mundo (desvio de verbas públicas, corrupção, utilização dos feitos das seleções para discursos de cunho eleitoral). Para exemplificar essa situação, um dos problemas está diretamente ligado à construção dos estádios que farão parte da rota das partidas. Para começar, houve um veto que impediu a reforma do estádio do Morumbi e possibilitou a construção do “Itaquerão” (com dinheiro público, ao invés de repassar os gastos para o clube de

futebol que será seu proprietário, o Corinthians). Depois, vem a construção de estádios em locais que não terão utilidade efetiva posteriormente à Copa, como é o caso de cidades como Brasília, Cuiabá e Manaus, que não têm times representativos no cenário futebolístico nacional. Há, ainda, questões impostas pela FIFA que são capazes de gerar muita polêmica para os nossos governantes, como a proibição de bebidas alcóolicas nos estádios e a meia-entrada para idosos e estudantes. Por fim, todo esse quadro de características revela a cautela que os preparativos para 2014 precisam ter. Só assim, a paixão pelo futebol não cegará a sociedade e os custos do evento não sairão a preço de ouro para o Brasil. Giovani é estudante do 2º ano de Jornalismo do Centro Universitário Barão de Mauá

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ESPORTE PARA TODOS

Daniel Zanetti

Enxergar é um detalhe SUSANA SANTOS

Se a visão falta, ouvir o barulho de uma bola pode apontar o caminho. O projeto voluntário que se transformou em referência nacional do esporte adaptado forma atletas para os quais grandes obstáculos parecem ser mínimos quando pisam em quadra

pessoa com deficiência visual.” Ela lembra que, 12 anos atrás, havia apenas um livro de um professor do Rio Grande do Sul e pesquisas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estavam em fase inicial. As modalidades específicas para portadores de necessidades especiais ainda engatinhavam no Brasil.

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omeça a partida. São três atletas vendados de cada lado e uma bola murcha de basquete, envolta por saquinhos plásticos, sendo lançada e defendida pelas equipes. Foi assim que nasceu o Goalball em Ribeirão Preto. Mais precisamente na quadra da Escola Estadual Cid de Oliveira Leite, no Jardim Paulista. Professora de Educação Física do “Cid” e voluntária nas horas vagas, Silvia Helena Piantino Silveira começou em 1991 o trabalho com estudantes portadores de deficiência visual. Durante dez anos, acompanhou o crescimento dos alunos e o aumento da necessidade de levar a eles novas atividades, para além de pular bola, correr e brincar de bambolê. Com objetivo de fazer a transição entre a prática de atividades motoras e o esporte, a professora foi a Campinas conhecer os esportes adaptados. “Quando me formei, não existia a disciplina Educação Física Adaptada. Então, eu não sabia que existia uma cordinha para a corrida, não conhecia o Goalball e também não sabia como era, na natação, a virada pra uma

Da quadra do Cid para a Adevirp A Associação dos Deficientes Visuais de Ribeirão Preto (Adevirp) foi fundada em 1998. Surgiu com o objetivo de incluir pessoas com necessidades especiais na sociedade. A sede, doada pelo governo de São Paulo em 2006, fica na avenida Leais Paulista. Lá, os mais de 150 usuários atendidos têm acesso não só ao esporte. Participam, também, de aulas de informática, terapia ocupacional, educação musical, oficinas culturais, alfabetização em Braille, entre outras atividades. No início, a fundadora e atual presidente, a professora Marlene Taveira Cintra, contava apenas com o apoio da comunidade e das famílias das crianças atendidas. A sede funcionava no apartamento dela e todos os funcionários eram voluntários.

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Esporte foi trazido de Campinas para a sede da Adevirp, em Ribeirão Preto, e rapidamente conquistou adeptos

Marlene explica que, na instituição, o esporte é voltado, prioritariamente, para a saúde e o bem-estar, tendo em vista a grande dificuldade que os portadores de deficiências visuais encontram para se locomover e praticar atividades físicas. Mesmo assim, as equipes esportivas de lá, como a de Goalball, que migrou do “Cid” para a Adevirp, têm conseguido grandes resultados. “O bonito mesmo é que nós não nascemos com o intuito de formar atletas. Aqui, o esporte é como a música e outros projetos pedagógicos. É um braço da instituição, mas é feito com tamanho compromisso dos educadores e responsabilidade dos usuários que, como consequência, já fomos campeões brasileiros e também já sediamos finais de campeonato.”

A bola Antes, porém, de desenvolver o esporte na Adevirp, ainda utilizando a quadra do “Cid”, Silvia trouxe de sua viagem a Campinas algumas modalidades em esportes adaptados a Ribeirão, entre elas o atletismo e o Goalball. Este último requer a utilização de uma bola que produza barulho, para que os jogadores possam saber onde ela está e defender suas traves. A bola oficial para prática da modalidade é fabricada apenas na Alemanha e chega ao Brasil pelo valor de, aproximadamente, R$ 500,00. Como não havia condições financeiras para adquiri-la, surgiu a ideia de adaptar uma de basquete murcha, colocando-a dentro de várias sacolinhas de supermercado para produzir o barulho que guia os atletas.

Fotos: Daniel Zanetti

Jogadores se posicionam em quadra de forma a evitar que a bola arremessada pelos adversários ultrapasse as balizas azuis

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Em 2002, um ano após a formação, a equipe da entidade foi convidada para participar de um campeonato em São Carlos. Foi lá que houve o primeiro contato com a bola oficial. Alguns dos que participaram daquela competição, como Suelen e Cristiano, contam que levaram “muitas boladas na cara”. Mas a experiência valeu a pena. Ambos já tiveram várias conquistas desde então.   Saindo do improviso Com a participação nesse primeiro torneio, o esporte da

Adevirp ganhou mais visibilidade e apoio. Uma amiga da professora Silvia, Mariana Jábali, impressionada com o trabalho, doou a eles a primeira bola oficial do projeto. A Associação Mulher Unimed de Ribeirão Preto (Amurp), que já apoiava a iniciativa desde 1999, também passou a dar mais respaldo, se disponibilizando a pagar um professor de Educação Física e também os uniformes para os atletas do Goalball. Em apenas uma década, a modalidade saiu do amadorismo. Além de ganhar competições e sediar eventos, a Adevirp forma atletas que chegam a representar o país em competições internacionais. No Brasil, existem 60 equipes oficiais e cerca de 800 atletas. Destes, anualmente, apenas seis são convocados para representar a seleção brasileira de Goalball. Entre os atuais da entidade, Cristiano, o mesmo que participou do encontro com a bola oficial em São Carlos, já teve esse privilégio.

Daniel Zanetti

Outras conquistas Mas não é só no Goalball que a entidade se destaca. Em setembro de 2013, atletas da Adevirp/Amurp disputaram a 2ª Etapa Nacional do Circuito Loterias Caixa de Halterofilismo, Atletismo e Natação, que reuniu os melhores competidores do país. Cristiane Silva Ganime conquistou ouro na prova de 50 metros livres da natação. Marcos Antônio Lopes alcançou a segunda maior marca do Brasil no arremesso de peso e trouxe a prata para casa.

Para entender o Goalball O jogo é disputado num espaço com as mesmas dimensões da quadra de vôlei. No fundo de cada lado, localizam-se duas balizas, que abrangem toda a largura da quadra. Os três atletas de cada equipe ficam restritos a uma área de três metros à frente da baliza que defendem. Não há contato com os oponentes. Os jogadores arremessam a bola para o outro lado, buscando que ela ultrapasse o fundo da quadra adversária, entrando nas balizas. É necessário que a bola toque linhas determinadas, para garantir que ela chegue ao gol adversário junto ao chão. A bola de Goalball é especialmente desenvolvida para esse esporte. Pesando um quilo e 250 gramas, possui, na parte interna, um guizo, permitindo que os atletas se localizem pela audição. Todo praticante deve, obrigatoriamente, utilizar venda durante as partidas, de modo que aqueles que tenham visão parcial não obtenham nenhum tipo de vantagem. A bola oficial, que no Goalball é arremessada com as mãos, custa cerca de R$ 500,00; antes, alunos adaptavam uma de basquete murcha

Fonte: urece.org.br, site especializado em esportes para deficientes visuais

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O time da Adevirp

Suelen, 23 anos. Jogadora de Goalball há dez, conta que já viajou para todo o Brasil disputando campeonatos pela Adevirp.

Cristiano, 25. Jogador desde os 14, já participou de campeonatos regionais, nacionais e internacionais. Defendeu a camisa da Seleção Brasileira de Goalball em 2007, 2008 e 2012.

Maria Eliene, 21. Pratica Goalball há três e foi convocada para a Seleção Feminina pela primeira vez neste ano de 2013.

Irinelma, 18. Está desde os 12 anos na Adevirp e pratica Goalball há quatro.

Manoel, 27. Já jogou Goalball e, há um ano, faz parte da equipe de atletismo. Em setembro de 2013, disputou o campeonato regional em Campinas e ganhou duas medalhas, uma de prata e uma de ouro.

Jessica, 21. Pratica atletismo, há seis meses.

Ricardo, 36. Praticante de atletismo e natação. Gosta de praticar o esporte principalmente para manter a saúde, mas não deixa de competir.

Iesley, 18. Pratica atletismo e natação. Está na Adevirp há mais de cinco anos. Já participou de campeonatos de xadrez.

Carlos Eduardo Quaquio. Professor de Educação Física na Adevirp desde 2008. Foi aluno da professora Sílvia e se interessou tanto pelos esportes adaptados que uma parte de sua pós-graduação foi voltada a esse assunto. Hoje, trabalha com Educação Física infantil adaptada e Goalball masculino e feminino.

Professora Sílvia. Atual coordenadora de esportes da Adevirp. Professora da disciplina Educação Física Adaptada nos cursos de Educação Física do Centro Universitário Moura Lacerda e da Universidade Paulista (Unip). Já participou de três campeonatos mundiais como árbitra de Goalball da Confederação Brasileira de Desportos.

Um pouco de história O Goalball nasceu em 1946, na Alemanha, com a missão de ressocializar ex-combatentes que haviam perdido a visão, ou parte dela, durante a Segunda Guerra Mundial. O esporte foi criado pelos professores Hanz Lorenzen e Sepp Reindle, exclusivamente para a prática de atletas cegos e portadores de visão subnormal. Em 1976, em Toronto, no Canadá, o Goalball teve

sua primeira participação nos Jogos Paraolímpicos. Atualmente, o esporte é praticado em mais de 120 países. Em 2002, o Rio de Janeiro realizou o VII Campeonato Mundial de Goalball. Em 2003, a equipe feminina brasileira conquistou a medalha de prata no Mundial do Canadá. Com este resultado, garantiu vaga para os Jogos Paraolímpicos de Atenas, disputados no ano seguinte. Foi

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a primeira vez que o Brasil foi representado nesta modalidade. Em 2008, a equipe masculina também fez sua estreia paraolímpica e, já na edição seguinte, em Londres-2012, ganhou a medalha de prata, confirmando o crescimento do esporte no Brasil. Fonte: urece.org.br, site especializado em esportes para deficientes visuais


ARCO E FLECHA Vinícius Alves

Alvo certo

Foi numa brincadeira de escoteiros que uma jovem de Sertãozinho acertou na mosca. Escolheu, quase que por acaso, um esporte que a fez conquistar diversos títulos logo no primeiro ano de carreira, inclusive uma prata em competição mundial. E, com o apoio da família e do irmão, que a acompanha nos treinos, sonha com os Jogos Olímpicos de 2020, no Japão

VINÍCIUS ALVES

Ingrid perseveraram nos treinos. O desempenho melhorou e, aos poucos, eles foram conquistando resultados qualificatórios para os principais campeonatos do país. Hoje, são membros da Federação Paulista de Arco e Flecha (FPAF) e da Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTARCO). As competições são feitas por clubes e academias, não por cidade. Porém, o resultado maior é o individual. Ingrid é medalha de bronze na Copa Brasil, prata no Brasileiro, ouro no Field (competição que simula a caça de animais), ouro no Paulista e Brasileiro Indoor e prata no Mundial, tendo esta última conquista sido revelada no dia em que a reportagem esteve na academia. Entenda: o título não sai durante uma competição específica. É preciso enviar um formulário com o desempenho anual para ser analisado por juízes do ranking mundial. Como os treinos são apenas nas manhãs de sábado, a jovem promessa do esporte no Brasil diz que os estudos não a impedem de conquistar mais medalhas. “Isso [tiro com arco] já é uma diversão pra mim. Aqui, me distraio do dia a dia e da escola. Começo bem meu final de semana”.

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voz é calma. Doce, suave. A garota parece tímida, mas em poucos minutos com a reportagem da Ação, vai se soltando. Quem olha pela primeira vez nem imagina que a estudante Ingrid Caroline França, de 14 anos, acumula títulos e mais títulos com apenas um ano de competições no tiro com arco, ou arco e flecha, prática do famoso herói dos cinemas Robin Hood. Ela disputa campeonatos na categoria infantil, com distâncias de 15, 20, 30 e 40 metros do alvo. Treina com o irmão, também estudante, Arthur Felipe França, 16 anos. Os dois começaram a praticar o tiro com arco após uma viagem para Brotas, a 170 quilômetros de Ribeirão Preto, com um grupo de escoteiros de Sertãozinho, cidade vizinha a Ribeirão. Os pais, que eram os coordenadores da excursão, resolveram, na volta, levar a turma para uma aula gratuita na academia da AABB (Associação Atlética do Banco do Brasil), sob responsabilidade do goiano Ronaldo Nacaxe, pentacampeão brasileiro da modalidade na categoria máster. Apenas Arthur e

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até hoje, com anos de profissionalismo, não consegue um bom desempenho sob pressão. Imagine quem está começando”.

Rumo a Tóquio Ela diz que sempre que sobra um tempinho está com o arco nas mãos em casa, para treinar o posicionamento correto da coluna e a força nos músculos. Chegou até a fazer fisioterapia, para evitar muitas lesões. Tanta dedicação se explica por uma meta a ser alcançada: os Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio, no Japão. “Potencial para isso ela tem. Poderia até chegar em 2016 no Rio de Janeiro, mas pela idade que terá, é muito difícil conseguir os índices. Daqui seis anos, já estará em uma época boa. É só treinar muito”, diz o professor, Ronaldo Nacaxe. “Não consigo nem imaginar. Vou ficar muito nervoso, ansioso, assim como a mãe dela. O coração vai apertar”, afirma o pai, Ernesto França, 39 anos. “Claro que vou ficar muito feliz, mas na hora vou me concentrar, como faço sempre”, declara a atleta, já projetando um futuro promissor. Apoio O irmão mais velho, Arthur Felipe França, que treina com ela, é medalha de bronze no Field, categoria cadete (com a distância de 30, 50, 60, 70 metros do alvo). Além do pai, Ernesto, a mãe, Andrea, está presente em todos os treinos e torneios. Algumas vezes, na ausência do professor, são eles os técnicos nas competições. É só os filhos viajarem para uma disputa e lá vão eles atrás. “Sempre fizemos tudo junto. Não é agora que vamos nos separar deles”, conta Ernesto. E os pais já fizeram muitas loucuras por esses arqueiros. Viajaram 11 horas num carro compacto, de Sertãozinho ao Rio de Janeiro, para garantir que os garotos pudessem competir. “A realização dos filhos é a nossa realização”, conclui o pai coruja. Tanto para Ingrid quanto para Arthur, ter a mãe e o pai por perto traz uma força a mais. “Me dá segurança”, diz o menino. “Eu prefiro assim. Sei onde vou poder me apoiar”, completa ela. O professor Nacaxe acredita que a presença familiar é importante para o desenvolvimento da criança ou adolescente como atleta. “Se ele consegue suportar a pressão de ser visto pelo pai e pela mãe, ele supera qualquer outra pressão”. Mas alerta que existem limites para essa interferência. “Um aluno foi muito mal na competição porque o pai cobrava muito o resultado positivo dele. Muitas vezes, não é assim. Tem atleta que

Curioso... - Esse esporte cansa a mente e o corpo. Segundo o professor Nacaxe, são queimadas quase 300 calorias por hora. - As flechas são feitas de acordo com a potência do arco e do arqueiro. Uma flecha de 30 gramas pode ter uma energia cinética que resulte em um peso de dois quilogramas ao chegar ao alvo. A velocidade média dela também é alta. Varia de 250 a 300 quilômetros por hora numa competição com arcos normais. Já com os arcos olímpicos, as flechas alcançam de 190 a 210 quilômetros por hora.

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Início de tudo A caminhada de Nacaxe para chegar aonde chegou começou em 1985, quando comprou seu primeiro arco. Segundo ele, na época, eram poucos os praticantes do então arco e flecha. Tudo que aprendeu foi na brincadeira e na raça. “Pra mim, eu era o máximo”. O professor se mudou para Ribeirão Preto em 1990. Ficou no interior de São Paulo até 1995. Em 1999, conheceu um grupo de tiros em Brasília, onde foi morar. Os praticantes tinham experiência internacional. “Lá que me profissionalizei e vi que não sabia nada de tiro com arco”. Começou a competir e ganhar alguns campeonatos estaduais. Mais tarde, já estava vinculado às federações. Teve, ao longo dos anos na categoria adulta, bons resultados, como um quarto lugar no campeonato brasileiro. Mas foi no máster que se consagrou. Em 2007, veio a primeira medalha de ouro no nacional. Feito que se repetiu em 2008, 2010, 2011 e 2012. Nesse último, conquistou também o vice-campeonato das Américas. Há cinco anos, é professor de tiro com arco. Começou dando aulas em casa. Entrou em contato com a Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB) e conseguiu o espaço do clube para treinamentos. Mas, por motivos de segurança, preferiu treinar num local fechado, na academia. Todos os seus alunos são federados e disputam torneios representando a AABB. São arqueiros de todas as idades. “No tiro com arco, se você inicia um atleta com 15, 16 anos, ele chega aos 50 com alto nível. Basta treinar constantemente como em qualquer esporte”. Disciplina O tiro com arco, segundo Nacaxe, exige muito dos praticantes. O trabalho para iniciar um atleta é bem lento. É preciso ter paciência. No começo, o treino é com distâncias curtas e poucos movimentos. Devagar, se vai ganhando técnica, mira e concentração. O ponto chave do esporte. O professor explica que, se o atleta não estiver 100% concentrado na atividade, tende a ter resultados ruins. O tempo entre perceber a mira e atirar é muito curto. Um décimo de segundo, aproximadamente. “Tem que trabalhar muito isso. Sai quase que inconsciente. É muito treino. É quase um instinto do arqueiro. Você tem que atirar assim que perceber. Se perder a primeira mira, a segunda ainda salva, mas não sairá da mesma forma. Na terceira, geralmente, o atleta já está desconcentrado.” A grande potência dessa prática, atualmente, é a Coreia do Sul. Lá, as crianças aprendem a atirar desde cedo, já nas escolas. “É como se fosse o futebol deles”, diz Nacaxe. Ele acredita que esse desempenho venha da disciplina dos asiáticos. “Disciplina e arco e flecha caminham juntos. É um esporte que exige postura e foco”. Segundo o pentacampeão brasileiro, qualquer interferência pode tirar a concentração de um arqueiro. Em uma competi-


Vinícius Alves

ção, os atletas ficam lado a lado (cerca de 80 cm de distância um do outro) na chamada linha de tiro. O arco tem um dispositivo que faz barulho ao indicar que a flecha pode ser lançada. “Se o arqueiro não está concentrado, o barulho do ‘vizinho’ pode fazer com que ele perca o foco”, explica. A regra diz que, se algum ruído vindo de um dos competidores for causado de forma proposital, ele será eliminado das competições. Como exemplo de concentração para os atletas, Nacaxe escolhe o pênalti do futebol ou o arremesso de basquete. Para ele, cada tiro equivale a esses dois momentos. A tensão e o foco devem ser constantes para não acontecer perda de pontos. “Ninguém espera o erro. O ideal é sempre acertar. Mas a virtude de um bom atleta é saber superar as falhas”. Uma facilidade citada pelo professor é que só o tiro com arco pode dar o feedback instantâneo da ação do arqueiro. “Não é como o futebol ou alguns outros esportes em que você só se avalia depois”. Ele ainda fala que, nessa modalidade, o atleta já entra na competição sabendo o máximo de pontos que pode conseguir. Nacaxe desenvolveu um modelo de treinos que ajuda nisso. Por exemplo: se a regra diz que a pontuação máxima do campeonato é 600 e o atleta tem seis chances para conseguir o topo, é preciso acertar todas as flechas no centro. Em vez de se preocupar com o ganho, é preciso se preocupar com as perdas, segundo esse método de Nacaxe. “O 600 ele já tem. É preciso controlar o que ele vai perder para não se afastar muito dessa pontuação. O máximo das Olimpíadas é 720 e o recorde é 699. É mais fácil eu me preocupar em controlar esses 21 restantes do que os mais de seiscentos conquistados”. Tecnologia O professor se diz muito procurado por fãs do esporte e que sempre sonharam em praticar. Muito por influência do filme Robin Hood. “Eles acham que é fácil igual lá [no filme]. Tirar uma flecha e atirar, e outra, outra e outra na mesma rapidez. Não é assim. O filme fantasia muito.” Segundo ele, nesses casos, quando os treinos apertam, muita gente para. Calcula que, de cada dez, uma pessoa continua treinando. Os tempos mudaram desde a época de Robin Hood. Hoje, para a avaliação do desempenho de cada atleta, são desenvolvidos aplicativos para celular que monitoram e colocam em gráficos as evoluções do arqueiro. O empresário Alysson Meyerhof Rodrigues, de 37 anos, é um dos adeptos dessa nova tecnologia. A maioria dos dispositivos no celular dele é voltada para o tiro com arco. “É muito bom esse monitoramento e dinâmico também. Eu acabo a minha série de tiros e posso compartilhar com o meu treinador onde quer que ele esteja”. Rodrigues é de Araraquara e, a cada quinze dias, aos sábados, há mais de um ano, viaja 87 quilômetros até Ribeirão Preto, local dos treinos. No começo, queria um esporte pelo qual eliminasse a tensão do trabalho, numa empresa de peças para usinas. Revela ser um “perna de pau” para o futebol e baixinho para o vôlei e basquete. Por isso, pesquisou e encontrou o tiro com

Ingrid França, de 14 anos, pretendia chegar já nas Olimpíadas de 2016, no Rio da Janeiro, mas terá muito pouca idade e dificuldade para conseguir os índices

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Vinícius Alves

arco. “Aí, animei. Era muito sedentário e achava que não exigia tanto esforço físico. Engano meu. Mas gosto muito de treinar e competir. Valeu a pena”. Restrito no Brasil A Confederação Brasileira de Tiro com Arco (CBTARCO) conta com cerca de 700 atletas registrados. No estado de São Paulo, são 200. Rodrigues acredita que esse baixo número se deve ao fato de o esporte ser muito caro no país. O Brasil não produz os equipamentos necessários para a prática da modalidade. Os arqueiros devem buscar fora, principalmente nos EUA, os materiais de melhor qualidade para a disputa de um campeonato. Em média, cada atleta gasta perto de R$ 5 mil para ter o kit individual. Isso sem contar a mensalidade da academia para os treinos. Em 2016, a cidade do Rio de Janeiro será sede dos Jogos Olímpicos. O tiro com arco é uma das modalidades a serem disputadas. Cada país tem direito a seis vagas. A média do Brasil, por Olimpíadas, é de mandar dois ou três arqueiros. Como será país-sede nos próximos Jogos, todas as vagas serão preenchidas de forma obrigatória. “Isso pode alavancar o esporte por aqui”, acredita Nacaxe. Primeira vez Confesso que nunca havia tido uma flecha profissional nas mãos. Arco, então, esquece. Após a entrevista com o professor Nacaxe e os outros atletas da academia, fui convidado a experimentar a sensação de atirar. A distância não era tão grande. Mas para um iniciante como eu, parecia. A primeira dificuldade foi o posicionamento da flecha. A bendita não encaixava na cordinha de jeito nenhum. Com a ajuda do técnico, tudo feito. Segunda dificuldade: alinhamento de braços e pernas para a postura correta. Feito isso, só restava atirar. Ouvi com atenção as instruções dos irmãos e de Nacaxe e mirei. Para a surpresa e espanto de todos, acertei a pontuação máxima: dez. Ainda por cima, na região bem próxima ao centro, que, num critério de desempate, poderia me render uma vitória. Registrei o momento para meu arquivo pessoal. Sorte de principiante? Talvez. Na segunda tentativa, ainda empolgado com a largada anterior, consegui um oito. Bom também. Dos vinte pontos possíveis, tinha dezoito na conta. No terceiro tiro, desconcentrei. Nem no alvo acertei. O que valeu foi a experiência de, pela primeira vez, sem treinamento nenhum, conquistar a pontuação máxima. Será que levo jeito para isso? “O objetivo do arqueiro é acertar mais no centro possível e sustentar esse desempenho. Isso faz com que o atleta mantenha maior consistência e pontuação nos treinos e campeonatos. Muita gente começa assim como você e segue bem pela carreira”, explica Nacaxe. Um desses exemplos é o do jogador de basquete Oscar Schmidt. Ele foi desafiado pelo pentacampeão brasileiro de tiro com arco numa brincadeira para um programa esportivo da televisão. Oscar aceitou e venceu. Nacaxe “tirou o pé”, claro, mas para mostrar que é possível acertar a mira se treinar bem.

O professor Ronaldo Nacaxe se mudou para Ribeirão Preto em 1990, mas foi em Brasília, após conhecer um grupo de tiros, que ele se tornou atleta profissional

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ESPORTE MILENAR Divulgação/Estrela D’Oeste

Os romanos de São Simão LEONARDO RUIZ

A Fazenda Estrela D’Oeste, no interior paulista, se esforça para manter antigas corridas de quadrigas. A prática foi extinta no século IV d.C., mas ganhou as telas do cinema com Ben-Hur, rendendo 11 estatuetas do Oscar e inspirando Luiz Augusto Mei Alves de Oliveira a dar um destino seguro aos cavalos de sua propriedade

Fazenda Estrela D’Oeste Na década de 90, o proprietário da Fazenda Estrela D’Oeste, Luiz Augusto Mei Alves de Oliveira, tinha um número excessivo de cavalos na propriedade. Precisava de uma justificativa para mantê-los. Do contrário, eles teriam que ser cortados. “Enquanto pensava em como resolver esse problema, acabei assistindo o filme Ben-Hur e, logo que vi a cena das corridas, pensei que aquela seria a solução ideal para o número de cavalos da fazenda”. O drama épico bíblico de 1959, ganhador de 11 estatuetas do Oscar, conta a vida de um judeu de grande influência (Judah Ben-Hur), que é traído por seu amigo (Messala) romano e escravizado. Ele luta pela liberdade e volta para se vingar. Com o desenrolar da trama, que dura cerca de três horas, Ben-Hur acaba participando de uma corrida de quadrigas. A cena, cheia de detalhes e audaciosa, levou 94 dias para ser gravada e contou com cerca de oito mil figurantes. Somente a construção da arena da corrida para o filme custou um milhão de dólares. Com essas imagens fixadas na mente, Oliveira começou a construir os protótipos dos primeiros carros. As bigas, rédeas e

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onhecidas como carruagens dos deuses, as quadrigas, carros ou carroças conduzidas por quatro cavalos lado a lado, foram inventadas pelos assírios, povo de guerreiros rudes e camponeses, com o intuito de utilizá-las na guerra. Com o tempo, elas foram sendo incorporadas por vários outros povos, tendo sua popularização na Roma antiga, mais especificamente no Coliseu e no Circo Máximo, palcos das mais grandiosas corridas de carruagens da antiguidade. Esses espetáculos reuniam multidões de espectadores e eram assistidas por todas as classes sociais, da plebe ao Imperador. Em torno do ano 400 d.C, porém, as corridas de quadrigas romanas foram extintas. O esporte foi esquecido e as arenas, monumentos de outrora, envelheceram e passaram a dividir espaço com outras tantas atrações turísticas. Mas foi num dos locais mais improváveis da terra, no município de São Simão, a 285 quilômetros de São Paulo, 1600 anos depois, que esses jogos ressurgiram, trazendo emoções e histórias vividas por nossos antepassados.

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Oliveira, proprietário da Estrela D’Oeste. Estrategicamente ou não, a arena é montada a algumas centenas de metros morro acima da propriedade. Assim, é possível ver, ao longe, as quadrigas saindo dos estábulos e subindo as estreitas estradas de terra rumo à pista. A emoção já começa logo ali.

arreios foram todas confeccionadas com base nos equipamentos utilizados nas filmagens. Com os pensamentos firmes e as peças prontas, deu início à construção da arena, já que, até então, as corridas eram feitas no meio dos canaviais. Atualmente, ela possui aproximadamente 30 mil metros quadrados (305 de comprimento por 106 de largura), sendo que a faixa de correr, ao redor de um canteiro, tem 50 metros de largura. A arena, específica para esta categoria, utiliza as retas para abrir velocidade. Por isso, tem curvas apenas nas extremidades. A pista conta, ainda, com proteção de pneus em suas cabeceiras, para garantir que, caso algum conjunto se choque com a cerca que a delimita, o praticante não se machuque nem saia dela, o que significa proteção, também, para cavalos e espectadores. Em 2001, com a arena concluída, vieram os treinos, mas, como era um esporte já inexistente, havia centenas de anos, dependia de um detalhe: não havia praticantes vivos. Por isso, as técnicas foram ensinadas aos empregados da fazenda. Resolvida a questão, era preciso divulgar: outdoors, panfletagens e anúncios em revistas. Pouco tempo depois, as corridas ganharam fãs ao redor do globo. Surgiram as competições. “Por essa ser a única arena no mundo que pratica essa arte, as pessoas vêm e ficam impressionadas com o que veem”, diz

O esporte As corridas são reproduzidas também com base nas práticas romanas, mas sempre buscando preservar a integridade física dos participantes. Podem participar pessoas de ambos os sexos, com idades entre 18 e 70 anos. Oliveira explica que os treinamentos são gratuitos, feitos de forma gradativa, principalmente quando cavalos e ginetes são iniciantes. “São três sessões por semana com duração de 30 minutos cada, por um período de quatro meses. Desde o início, o aluno já trabalha com as rédeas nas mãos e um ginete experiente ao lado para dar-lhe orientação e segurança”. Durante os treinos, segundo ele, os cavalos utilizam apenas 30% da força deles. Já os torneios são executados com até nove carros em cada bateria, sendo que o vencedor leva para casa um troféu e um prêmio em dinheiro. O ritual na arena consiste numa volta de apresentação, que é seguida da largada. Ao todo, são sete voltas no circuito oval, em sentido anti-horário, perfazendo três

Leonardo Ruiz

Propriedade conta com 12 quadrigas e 54 cavalos mestiços, variando entre inglês com árabe e com mangalarga

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Luiz Augusto Mei Alves de Oliveira, proprietário da fazenda, teve a ideia das quadrigas porque não sabia o que fazer com o grande número de cavalos que tinha no local

quilômetros de percurso, cobertos em cerca de quatro minutos e meio. A velocidade alcançada durante as corridas chega a 60 km/h. “Muitas pessoas reclamam do pouco tempo de duração dos espetáculos. Mas, paras realizar mais provas numa mesma tarde, teríamos que ter cerca de 150 cavalos”. A propriedade conta com 12 quadrigas e 54 animais, mestiços de inglês com árabe ou com mangalarga. De acordo com Oliveira, todos os equipamentos utilizados são produzidos internamente. Os carros, por exemplo, são feitos de alumínio, para que sejam leves e resistentes. O acabamento é com estofado especial, sendo que as laterais contam com desenhos personalizados feitos em latão. Já as rédeas podem ser de couro ou de tecido, revestidas em vaqueta na altura das argolas. Cuidados O morador da fazenda Thiago Nascimento Annes é um dos ginetes mais experientes da Estrela D’Oeste. Ganhador de vários torneios, afirma que se dá muito bem com o esporte, devido a suas características “extraordinárias”. “É um orgulho ter as rédeas na mão e comandar quatro cavalos juntos. A adrenalina vai a mil”. Segundo ele, antes de sair competindo, é preciso de muito treino para conseguir conduzir a quadriga corretamente. “Os comandos têm que ser fortes e firmes. É preciso usar tanto as rédeas quanto a voz. Além disso, é importante também ter um bom molejo no joelho e chamar os cavalos pelos nomes”. Ciclone, Moleza, Chavante, Bolero, Maravilha, Saddam, Episódio, Guerreiro, Caboclo, Fada, Sossego e Marília são alguns dos cavalos da propriedade. Eles recebem tratamento especial para as provas. Seis homens se encarregam, diretamente, do tratamento dos animais. Ferrageamento, preparo de crina e rabo, arraçoamento, suplementação alimentar com orientação nutricional profissional, controle parasitário, além de exercícios de manobra e de força estão entre as atividades realizadas. Segundo Annes, cada cavalo é treinado especialmente com sua equipe e em uma de quatro posições (lado esquerdo e direito, de fora e da lança). “Se eu mudar um cavalo de posição, ele vai estranhar e isso influenciará no desempenho final do time”. Os alunos José Luiz da Silva e Luís Fernando iniciaram os treinamentos em agosto deste ano e já garantem ser fãs desse esporte. “Logo que mudei para a fazenda, comecei a me interessar pela prática. Minha intenção é seguir em frente para, no futuro, começar a ganhar os torneios”, conta Luís Fernando. Outro adepto dessa tradição é Ângelo Rodrigues dos Reis, morador de Cravinhos, SP. Ele conta que pratica todos os domingos para conseguir, um dia, alcançar o lugar mais alto do pódio. “Já ganhei troféus de segundo e terceiro lugares, mas nunca primeiro”.

Fotos: Leonardo Ruiz

Carroças, de alumínio, são produzidas na fazenda e possuem desenhos feitos em latão

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Futuro Apesar de toda a sensação de novidade deste esporte, o número de adeptos tem caído a cada ano. Para Oliveira, proprietário da Estrela D’Oeste, a falta de uma divulgação apropriada e o fato de que a grande parte do país é dominada por outros esportes são os principais motivos dessa baixa receptividade. “Temos uma arena muito grande, que só terá o máximo de emoção quando utilizada em sua capacidade máxima. Dessa forma, precisamos nos focar em formar novos ginetes, para poder recriar esses sentimentos milenares”. Ele ainda acredita que a falta de patrocínio e apoio por parte das prefeituras locais é fator decisivo para influenciar o futuro da prática. Se depender de Oliveira, a arena de São Simão deixará de ser a única do mundo, já que a intenção dele é expandir a corrida de quadrigas para outros estados. “Pretendo levar alguns cavalos e equipamentos e montar uma arena no Piauí para realizar essas corridas”.

Regras de segurança das corridas de quadrigas: 1. Nenhum ginete deve correr exatamente atrás, próximo demais ou na mesma trajetória do carro a sua frente; 2. Os ginetes devem olhar para trás no mínimo duas vezes em cada reta do circuito oval, no início e próximo ao final de cada uma delas. Isso acontece para que ele se certifique da posição dos demais carros em relação ao seu. Caso haja um carro correndo atrás do seu, muito próximo durante a trajetória da reta, e o carro de trás não tirou do alinhamento da sua traseira, o ginete da frente tira o seu carro da frente, pois o carro de trás pode estar com algum problema.

As quadrigas, rédeas e arreios foram todas produzidas com base nos equipamentos utilizados no filme Ben-Hur

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CARTAS NA MESA

LEONARDO SANTOS

foram feitas as entrevistas para esta reportagem, já que no salão principal o barulho é grande. Ainda no salão, há uma televisão conectada ao site da Bwin, empresa europeia de apostas, que disponibiliza um software usado para definir as rodadas, chamadas pelos competidores de blind. As partidas que se iniciam às 20h geralmente costumam terminar no dia seguinte, por volta das cinco da manhã. O analista de informática Bento Rodrigues pratica pôquer há dois anos. Ele conheceu o jogo no Clube Literário da cidade, onde o grupo se reunia antes. Décimo quinto colocado no ranking anual divulgado pelos Amigos do Pôker, mesmo sem participar de alguns torneios, é considerado um dos jogadores que mais se dedicam à análise do que acontece na mesa. Ele conta que a atenção tem que ser redobrada. “Eu jogo se me sinto bem no dia, para dar mais atenção ao jogo, fazer o cálculo das jogadas. Se tive um dia puxado no trabalho, nem venho.”.

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ão metalúrgicos, analistas de informática, empresários, profissionais liberais, aposentados. Todos homens. Eles se reúnem toda terça-feira, num salão onde era o antigo Bar do Lipo, em Sertãozinho, a 15 quilômetros de Ribeirão Preto, para jogar pôquer. Fazem parte da Associação Amigos do Pôker. Os jogadores são distribuídos em cinco mesas enormes, num ambiente com luzes fracas. O local conta com um pequeno balcão, onde são servidas as bebidas, principalmente cervejas, de diversas marcas e tipos. O balcão fica ao lado do caixa, onde são compradas as fichas apostadas durante as rodadas. Os praticantes respeitam a Lei Antifumo. Toda vez que alguém for fumar, tem que se retirar para uma área aberta, nos fundos do lugar, onde também

Pô, quer Em Sertãozinho, o jogo, que já é considerado esporte da mente, por trabalhar muito com matemática e raciocínio rápido, ainda é visto justamente dessa forma: apenas como um jogo.

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Fotos: Leonardo Santos

Esporte da mente Em 2010, a Associação Internacional de Esportes da Mente (IMSA) aceitou a filiação da Federação Internacional de Pôquer (IFP), reconhecendo o jogo. A entidade também conta, como esporte, o xadrez, o jogo de damas, o bridge, que, como o pôquer, é uma disputa de cartas, e o Jogo Go, prática japonesa em que as peças ficam sobre um tabuleiro, em cruzamentos de linhas. A IMSA realiza a cada quatro anos, no mesmo período e cidade das Olimpíadas de Verão, os Jogos Mundiais de Esportes da Mente. A primeira edição foi em 2008 em Pequim, na China, e a segunda em Londres, Reino Unido. Mas o pôquer não participou, pois existe um Campeonato Mundial, organizado pela IFP, que foi realizado em 2011, também na capital inglesa, e que teve a Alemanha como campeã. O Brasil, representado pela Confederação Brasileira de Texas Hold’em (CBTH), foi vice.

Geralmente, os jogadores de pôquer de Sertãozinho não gostam de aparecer, para não serem reconhecidos como apostadores

Os cálculos a que Bento se refere são o outs, que é a possiblidade de fazer uma mão vencedora, e o pot odds, que é quando o jogador avalia se é viável fazer uma aposta em determinada rodada, como explica o metalúrgico Willian Castro, vigésimo primeiro colocado no ranking, que também está há dois anos jogando com o grupo, mas que conhece o esporte há nove anos. “Quem sabe fazer cálculos, vem para ganhar. O resto é para brincar.” Esses, que só vão por brincadeira, são a maioria dos associados. Chamados na gíria dos competidores de “baraião”, os azarões apostam inteiramente na sorte, coisa que Rodrigues não confia. “Sorte é 30%. O resto é habilidade.”. Além das operações matemáticas, os jogadores têm de ficar atentos nos tells, que são a fisionomia e a conversa dos adversários. Elas podem indicar se estão blefando. “Eu olho para perna do cara. Se ela estiver batendo, indica que está nervoso, e pode ser que não tenha uma mão tão boa”, diz Rodrigues.

Cartas na mesa: para vencer, é possível usar probabilidade e análise combinatória; jogo está sendo estudado em disciplina da Unicamp

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Matemática na cabeça, mas pensamento ainda é de jogo de azar

Popularidade O pôquer é considerado o jogo de cartas mais popular do planeta. E essa fama é tão grande que a modalidade é estudada pelas principais instituições de ensino do mundo, como Harvard e o MIT, que tem um curso dedicado apenas para o estudo das técnicas do esporte. Em 2013, baseado nisso, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) abriu uma nova disciplina optativa, dedicada ao estudo do jogo, a mais procurada pelos estudantes. Em agosto deste ano, havia 130 alunos estudando suas

táticas, mesmo tendo aberto inscrições para apenas 60. Nenhuma outra disciplina tinha esse número de inscritos. Entre os professores, está o campeão da série mundial de pôquer em 2011, André Akkari. O curso, que tem o nome de Tópicos Especiais em Ciências do Esporte – Fundamentos do Pôquer, é ministrado na Faculdade de Ciências Aplicadas, em Limeira (SP). Porém, não são usados baralhos nas salas de aula, apenas vídeos e imagens de estratégias, com a finalidade de levar situações do jogo para discussões sobre decisões da vida real.

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O professor de matemática Nilsson Ferreira dos Santos (assim, com dois ss mesmo!) acredita que as operações que mais se usam nos esportes da mente são a probabilidade e a análise combinatória. E que esses jogos são bons para a cabeça. “Temos que treinar o nosso cérebro. Atividades assim são bons indicadores”. Rodrigues concorda. Ele fala que, desde que começou no esporte, ficou mais atento aos números. O professor gosta de usar com seus alunos do Ensino Fundamental jogos de tabuleiro. “Enriquecem o conhecimento e mostram que a matemática pode ser divertida”. Mas não aplica o pôquer como um de seus métodos. Utiliza os quadrados mágicos, jogo da velha e Número em Ação. Realmente, o ambiente do pôquer não é favorável à presença de crianças, pelo menos não na associação de Sertãozinho. Além de o local ter características de boemia, a maioria dos competidores está lá para apostar. Tanto que, das 80 pessoas registradas no ranking geral do torneio, só duas aceitaram conceder entrevistas. As outras apenas conversaram, mas não autorizaram registrar suas opiniões, para não ficarem reconhecidos como apostadores de jogos de azar. Em alguns momentos, quando o repórter se preparava para fazer fotografias do salão, a fim de ilustrar a matéria, era questionado sobre o porquê daquilo. Mesmo com as explicações, as imagens não eram autorizadas. Alguns jogadores até brincavam, achavam legal a realização de uma cobertura sobre o esporte. Mesmo assim, preferiam se resguardar no anonimato. Até quem aparece em fotografias no site do grupo, como Vagner Pinto, primeiro colocado no ranking geral dos Amigos, e que foi chamado para jogar uma competição em Las Vegas (EUA), o Maracanã do pôquer, não quis papo.


ARTIGO

Holofotes para o amador O

LAION TREVIZANI

que o subconsciente revela quando estamos falando de futebol amador? Talvez um belo de um quebra-canelas e lances bizarros daqueles que passam no Bola Murcha do Fantástico. Pode ser, porém, algo bem mais interessante do que isso. Quem frequenta, para jogar ou assistir aos campeonatos amadores de verdade, sabe, muito bem, diferenciá-los de uma pelada no final de semana com os amigos. Estamos falando de torneios, alguns com ilustre presença de ex-jogadores. Há um pouco mais de glamour em alguns campeonatos amadores, como o do Clube de Regatas, em Ribeirão Preto, que tem até espaço no caderno de esportes do Jornal A Cidade, o maior e mais tradicional da região. Mas não podemos deixar de lado os certames mais humildes e menos badalados, como os de bairro, que podem ser jogados na terra e, ainda assim, dão um bom “caldo”. Tratando em âmbito mais amplo, o futebol amador, muitas vezes, é mais interessante de se ver do que al-

guns jogos de equipes profissionais, em que “Luans” e “Márcios Araújos” da vida fazem alguns se perguntarem como conseguiram ser profissionais e a gente não. Em contrapartida, o amador nos oferece pérolas, craques que não tiveram espaço nos campos profissionais, mas tratam finamente a bola nos gramados alternativos, com o diferencial de que, neles, se joga pelo amor ao futebol e pela disputa, não pela grana, como a gente vê nos dias de hoje na TV. Como exemplo, Leandro Damião, atacante do Santos, que jogou no amador de São Paulo por alguns anos e, aos 21, foi descoberto. Pulou as categorias de base direto para o profissional. Mas, convenhamos, o menino tem talento. Isso mostra que devemos pregar mais respeito e engrandecer o nosso futebol amador, que – só para reafirmar aos que ainda têm preconceitos – não é um simples jogo de solteiros contra casados. Laion é jornalista em Ribeirão Preto/SP


FUTEBOL E FUTSAL Alisson Santos

Toque feminino

Os gramados de Ipuã, na região de Ribeirão Preto, que serviram de palco para que craques do futebol brasileiro pudessem mostrar um pouco de seu futebol no passado, hoje são frequentados por meninas que mostram que o esporte pode ser jogado com mais charme, elegância, delicadeza e – por que não? – muita habilidade

ALISSON SANTOS

de 2 de fevereiro de 1946. Criada por empresários apaixonados por esportes, o clube jamais teve fins lucrativos. Após 40 anos de fundação, tornou-se uma Organização Não Governamental (ONG), que trabalha em prol de atividades esportivas, desenvolvendo um trabalho social com crianças e adolescentes. Quem chega à associação pode se surpreender ao notar que, numa terra ligada, historicamente, ao futebol masculino, quem se destaca, atualmente, são as meninas. Elas comandam o esporte em Ipuã. Com uma equipe de 20 atletas, as jovens garotas vêm conquistando inúmeros troféus e medalhas. O título considerado mais importante foi o vice-campeonato Estadual da Secretaria de Esporte e Lazer de São Paulo, em 2012. Os principais nomes do time são Ariane Santos e Laine Castro Oliveira, ambas com 17 anos. Quem as vê fora das quatro linhas, não imagina a garra demonstrada em campo. Achar que mulher tem medo de jogadas mais duras é ledo engano. Sem deixar o jeito carinhoso e a beleza feminina de lado, elas entram em fortes divididas, como qualquer homem. A capitã Ariane diz ser muito mais feliz depois que o futebol entrou em sua vida. A maior alegria é ver os pais orgulhosos

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antana dos Olhos D’Água era o antigo nome de Ipuã, cidade pequena e simples, mas muito hospitaleira do interior do estado de São Paulo. Mesmo com a mudança da denominação, em 1949, o significado continuou ligado à água. Ipuã, em tupi-guarani, quer dizer “água que brota da terra”. No entanto, esta terra, para seus moradores, não é valiosa apenas por isso. Também por dela nascerem grandes talentos do esporte. Um exemplo, no futebol, é o ex-zagueiro Maxwell Cove, hoje com 56 anos. Revelado pelo Santana Futebol Clube, o jogador teve momentos marcantes quando passou por grandes equipes dos anos 80, como Palmeiras, América do Rio e Cruzeiro. Craques da Seleção Brasileira também já estiveram pelos gramados santanenses: Raí (Botafogo-SP, São Paulo e Seleção Brasileira), Mauricinho (Comercial-SP e Vasco da Gama), Edson (Corinthians e Seleção), Rondineli (Flamengo) e Luis Antônio (Cruzeiro). A Associação Santana Futebol Clube está em atividade des-

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Fotos: Alisson Santos

a cada partida vencida, uma nova conquista de título ou, simplesmente, pelos gols feitos. Mas os holofotes são algo com os quais ela ainda não se acostumou. As fotos estampadas em jornais da região a deixam um pouco tímida. Mas o acanhamento para por aí. Em campo, ela vira uma fera. No Brasil, a primeira partida de futebol feminino foi realizada entre senhoras catarinenses contra as tremembeenses, em 1921. E o primeiro time da modalidade foi o Araguari Atlético Clube, de Minas Gerais, que iniciou suas atividades em 1958. A explosão do esporte no país, porém, foi na década de 80. Em 1982, por exemplo, a equipe carioca do Radar conquistou respeito já no seu primeiro ano de existência, quando venceu o Women’s Cup of Spain, principal campeonato do planeta de futebol feminino na época, derrotando seleções da Espanha, Portugal e França. O título do Radar, time criado na praia do Leblon, impulsionou o nascimento de novas agremiações. Em 1987, a CBF já havia cadastrado duas mil novas equipes e mais de 40 mil jogadoras. No ano seguinte, o Rio de Janeiro organizou seu primeiro campeonato estadual e formou a primeira Seleção Brasileira, que conquistou o terceiro lugar num inédito Mundial realizado na China.

Jogadoras ouvem atentamente às instruções para entrar em campo: elas participam de um trabalho social na associação

treinadora, Andresa Nascimento. A ideia surgiu quando ela percebeu que poderia aproveitar mais do potencial das meninas. A proposta foi prontamente aceita por todas. Após o primeiro treino, porém, as dúvidas surgiram. As atletas não esperavam que existissem tantas diferenças de um esporte para o outro, principalmente no esquema tático. A adaptação ocorre dia após dia. Formada em Educação Física, Andresa está na associação há três anos. Quando entrou, organizava práticas voltadas apenas ao atletismo. Mas foi só o treinador de futebol sair que ela assumiu o comando. O que era para ser só um “quebra-galho” acabou dando certo. E como.

Futsal Os gramados não foram suficientes para conter a vontade e a paixão pelo esporte que as mulheres têm. Em vários outros lugares, há uma migração de atletas do futebol para o futsal. Com as meninas de Ipuã, não foi diferente. Além dos trabalhos em campo, a Santana Futebol Clube promove atividades, paralelas, na quadra. A iniciativa foi tomada pela coordenadora da associação e

Laine Castro Oliveira e Ariane Santos (dir.), ambas com 17 anos, estão entre as destaques da equipe

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FUTEBOL AMERICANO Divulgação/Assessoria Botafogo Challengers

Vai encarar?

Eles são fortes, grandalhões e um tanto desengonçados, mas se engana quem acha que isso não combina com agilidade. Pela internet, os fundadores do Botafogo Challengers, de Ribeirão Preto, atraíram, rapidamente, gente interessada num esporte pouco praticado no Brasil: o futebol americano. E a quem não acreditava que essa jogada daria certo, a equipe respondeu em campo com dedicação... e títulos

GIOVANI MENDONÇA

F

orça, disposição e muito preparo físico. Essas são apenas algumas das exigências para a prática do futebol americano. Ribeirão Preto tem um representante nacional nesse esporte: o Botafogo Challengers. O time, que surgiu em meados de 2007, foi denominado inicialmente como RP Challengers. A iniciativa partiu de dois amigos, que praticavam por lazer e resolveram valer-se do poder de comunicação da internet para atrair novos adeptos ao jogo. Na época, a rede social mais popular era o Orkut, na qual foi criada a comunidade “Futebol Americano RP”. Dessa maneira, foi possível aproximar pessoas interessadas e montar uma equipe. Mais tarde, os atletas conseguiram o apoio da Prefeitura de Ribeirão Preto e conquistaram um espaço para realização dos treinos: o conjunto poliesportivo da Cava do Bosque. Para que o time estivesse completo, faltava a escolha do mascote. Foi adotado um dos maiores mamíferos do reino animal, o rinoceronte, que reúne algumas das características valorizadas na modalidade. A força do bicho representaria a capacidade

O mascote do Botafogo Challengers destaca o rinoceronte, animal conhecido pela sua força e capacidade de enfrentar desafios

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de enfrentar desafios – Challengers, em inglês, significa desafiadores. A equipe ribeirão-pretana começou a participar de amistosos em 2009 e, no mesmo ano, se sagrou campeã do II Desafio do Triângulo Mineiro. Três anos depois, fechou uma parceria com o Botafogo Futebol Clube. Dessa fusão, nasceu o Botafogo Challengers. Aquele ano, 2012, acabou sendo, aliás, um dos melhores para o grupo, que conquistou o vice-campeonato paulista e a classificação, pela primeira vez, aos playoffs do Campeonato Brasileiro. “Não há como negar que hoje somos vistos de maneira diferente, mais profissional, e com um espaço publicitário bem mais valorizado. Isso se deve ao nosso resultado dentro de campo e à parceria com o Botafogo Futebol Clube”, afirma Elias Rafael da Silva, presidente do Challengers. O esporte O futebol americano é uma prática de contato praticado em equipe. Suas origens estão diretamente relacionadas ao rúgbi (conhecido como uma variação do futebol). O objetivo é avançar com uma bola em formato oval até o território da equipe rival. Habilidades como velocidade, agilidade, capacidade tática e, principalmente, força bruta são importantes para que alguém esteja capacitado a encarar o esporte. A partida, com duração de 60 minutos, divididos em quatro tempos, consiste de uma série de jogadas curtas e individuais, em que 22 jogadores, sendo 11 de cada lado, possuem, de antemão, uma tarefa atribuída para a próxima jogada. Vence a equipe que marcar o maior número de pontos. Para que isso ocorra, o principal lance ocorre quando um dos jogadores de um time consegue entrar na área ao fundo do campo adversário (endzone) com a posse da bola (touchdown), o que atribui seis pontos no placar. Com isso, o autor da façanha ainda ganha o direito de um pontapé livre ao gol, o que garante um ponto extra. Trazendo a modalidade para a realidade brasileira, a primeira transmissão televisiva do futebol americano ocorreu em 1969, pela extinta TV Tupi. Depois disso, voltou aos palcos do cenário na-

Divulgação/Assessoria Botafogo Challengers

Lance da partida contra o Corinthians: 2012 foi um dos melhores anos para o Challengers, que conquistou o vice-paulista e foi aos playoffs do Brasileiro

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Fotos: Divulgação/Assessoria Botafogo Challengers

Em dois ângulos diferentes, a vibração dos jogadores do Challengers após vitória sobre o São Caetano Cougars

cional na década de 90 e segue até hoje, com exibição em canais de TV fechados. Os primeiros adeptos eram de grupos

isolados em poucas cidades. No entanto, a prática atrai cada vez mais pessoas, inclusive com o apoio das redes sociais, o

que tem gerado um crescimento expressivo dos times no Brasil e de entidades organizadoras de competições.

“Trabalhar em equipe” Ele não joga no Challengers. Mas pratica o esporte por hobby. O estudante de medicina Vinícius Leme Caram, que começou a praticar o esporte em 2005 numa viagem aos Estados, falou um pouco com a reportagem sobre o esporte no Brasil. Qual costuma ser sua função em campo? Geralmente, prefiro jogar na defesa. Acho que tenho mais força do que a agilidade necessária pra estar na linha de ataque. O que despertou seu interesse e qual foi seu primeiro contato com o futebol americano? Desde pequeno, ficava curioso com os filmes em que aparecia o futebol americano. Acho que é por esse motivo que tenho o filme “Duelo de Titãs” como um dos meus favoritos. Mesmo tratando de questões mais profundas, como o racismo, o filme está intimamente ligado ao esporte.

Que fundamentos e/ou ensinamentos o esporte trouxe para sua vida pessoal? Acho que a principal coisa que aprendi, como em todo esporte, é a questão de saber trabalhar em equipe. Praticamente tudo que envolve nosso cotidiano, como trabalho, faculdade, família, faz com que tenhamos de conviver com pessoas diferentes. O futebol americano demanda um grande investimento pra ser praticado? Os equipamentos são facilmente encontrados no mercado? Nos Estados Unidos, é tudo facilmente encontrado pra que se possa jogar. Já no Brasil, o mercado começa a trazer alguns produtos. Mas, em último caso, pode-se comprar equipamentos pela internet. Este esporte está ligado diretamente à utilização da força bruta nas jogadas. Você considera um esporte muito violento? Realmente, existem jogadas bem

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duras, mas a brutalidade do jogo fica restrita ao campo. Todas as pessoas que conheço que praticam o futebol americano são muito pacatas. Você pretende praticar mais seriamente ou apenas por lazer mesmo? Aqui, no Brasil fica mais difícil para praticar. No entanto, sempre que estou nos EUA, pratico regularmente com meus amigos. Mas nada profissional, é claro! O que falta para que o futebol americano se torne mais popular no Brasil? Superar a paixão nacional pelo nosso futebol é praticamente impossível. Mas, quem sabe, se houvesse alguma espécie de torneio televisionado pelas redes abertas, acho que aumentaria o interesse das pessoas. Como só os canais fechados de TV fazem esse tipo de transmissão, fica mais complicado.


Fotos: Divulgação/Assessoria Botafogo Challengers

Origens do futebol americano estão ligadas ao rúgbi, que, por sua vez, é uma variação do futebol comum

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ENSAIO Daniel Zanetti

Nadando na frente e pelos estagiários Daniel e Evair. Ela, que já participou de três Copas do Mundo de Natação pelo Brasil, conta que o projeto atende, atualmente, mais de 500 jovens, que não têm gasto algum e ainda recebem maiôs, sungas, tocas e óculos. Podem participar crianças e adolescentes de sete a 17 anos, em turmas de até 20 alunos. Cada aula tem duração de 45 minutos, quando são desenvolvidas várias técnicas de nado, com variações de exercícios visando a um aprendizado mais completo. Tudo sem perder a oportunidade de ter momentos de descontração. A maioria dos alunos com quem a reportagem conversou diz que o engajamento da professora contribui para manter o interesse deles. Afirmam que Paula é atenciosa, está sempre procurando envolvê-los nas atividades e se mostra disposta a ensinar, estimulando a busca por melhores resultados nas competições. Gabriel Sanches Ferrari, de 15 anos, e Fabricio Mendes Santos, de 11, dois dos destaques do projeto, sonham seguir os passos da professora e fazer carreira na modalidade. Além da Cava do Bosque, o projeto funciona, também, no Centro de Jornada Ampliada (CEJA), localizado na Vila Virginia, e no Clube dos Comerciários, no Parque São Sebastião.

FERNANDA LAURENTI

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a piscina, agitação, sorrisos e brincadeiras. Entre um aquecimento e outro, a turma entra em clima de treino. Depois, é só ouvir os comandos da professora para a aula começar. Costas, peito, borboleta, livre e medley... Todos os estilos são praticados à exaustão. Em Ribeirão Preto, a natação é levada a sério, por profissionais engajados e que atendem gratuitamente os interessados na atividade. Os recursos para o funcionamento do projeto, chamado de “Nadando na Frente”, são provenientes da lei estadual de incentivo ao esporte, que entrou em vigor em 21 de agosto de 2008 e possibilita às empresas reverter parte do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) a programas de apoio ao esporte. Para as famílias, saber que os filhos estão na piscina representa benefícios. Um deles é tirá-los das ruas. Outra é oferecer uma prática esportiva a jovens da periferia de Ribeirão Preto, que, geralmente, não têm acesso a atividades físicas. Em visita à Cava do Bosque, uma das instituições que atendem participantes do “Nadando na Frente” a reportagem da revista Ação é recebida por Paula Toffani, a atual professora,

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Fotos: Daniel Zanetti


Fotos: Daniel Zanetti


Fotos: Daniel Zanetti


ARTES MARCIAIS MISTAS Divulgação

A luta vai além

Para quem começa a praticar MMA, o adversário não é apenas o outro combatente. Segundo dois nomes de destaque na atualidade, Chris Wilson e Duda Yankovich, as dificuldades, na fase amadora, vão desde arranjar dinheiro para transporte, alimentação e hospedagem até a manutenção de extrema disciplina nos treinos

JANAÍNA PASTORI

para os holofotes da mídia de todo o mundo, atraindo atletas e espectadores de vários cantos do planeta. Estima-se que o esporte movimente cerca de 400 milhões de dólares por ano. O UFC (Ultimate Fighting Championship), responsável pelos principais eventos da modalidade, teve, recentemente, a marca avaliada pela revista americana “Fortune” em mais de US$ 1 bilhão de dólares. Os números de audiência também impressionam: cerca de 700 mil espectadores por edição. Os primeiros traços do esporte datam do ano de 648 a. C.. Mesclando boxe com luta olímpica, o “pankration” surgiu na 33ª edição dos Jogos Olímpicos da Antiguidade. Tudo era permitido, exceto enfiar dedos nos olhos, atacar a região genital, arranhar e morder o adversário. O combate chegava ao fim quando um dos competidores levantava o dedo em sinal de desistência. Mas as antecessoras diretas das artes marciais mistas da forma como as conhecemos têm raízes no Brasil. Elas foram forjadas pela família Gracie, que promoveu um elo entre o jiujitsu antigo e o moderno. O novo jiu-jitsu é uma mescla de vários tipos de luta e os combates entre seus praticantes ficaram, então, conhecidos como “vale tudo”.

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lcançar alto desempenho profissional e conseguir bons patrocínios. Esses têm sido os principais desafios de homens e mulheres que se arriscam no MMA, um dos esportes que têm mais aparecido na mídia especializada nos últimos anos. A realidade da TV, porém, é bem diferente para quem decide se aventurar na prática. Dois lutadores renomados, Chris Wilson e Duda Yankovich, tiveram caminhos distintos, mas com obstáculos parecidos. O primeiro passou por várias fases de vida até conseguir sobreviver apenas da modalidade. Já a segunda veio do boxe e aproveitou a experiência para ingressar no MMA. Tanto um quanto outro lembram que existem dificuldades. Apesar delas, passar pelo esporte amador é importante, a prova de fogo para que haja um período de adaptação. Antes de conferir o bate-papo com eles, porém, é preciso conhecer um pouco da história desse esporte que arrebata multidões por onde passa. O MMA (mixed martial arts ou artes marciais mistas) saiu do formato marginalizado conhecido como “vale-tudo”

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Chris Wilson afirma que atletas enfrentam falta de patrocínios, baixa renda e incertezas sobre o futuro

Para crescer na modalidade, atletas precisam se cercar de gente que saiba direcioná-los corretamente

O primeiro UFC, realizado nos Estados Unidos em 1993, seguia as mesmas regras do “pankration” na Grécia Antiga. Cada competidor enfrentava, no mínimo, três adversários por noite. Em 2001, donos de cassinos em Las Vegas compraram o evento e fizeram dele o fenômeno de audiência que é hoje. Entre as principais alterações, estão a divisão dos atletas em categorias de peso, obrigatoriedade de acompanhamento médico, definição de faltas que podem levar à desclassificação do atleta e, principalmente, a restrição para que cada competidor lute apenas uma vez por edição.

cionamento físico, mas exige alimentação rigidamente equilibrada e muita disciplina. Afinal, os combates exibidos na TV são o resultado de um trabalho de bastidores, em que os praticantes enfatizam, também, a base teórica da modalidade, que destaca a importância do respeito ao próximo, principalmente ao adversário. O que muitos não sabem é a principal dificuldade enfrentada pelos atletas profissionais: a falta de patrocínio. Geralmente, o apoio começa com amigos e empresas pequenas, que oferecem um par de luvas ou suplemento em troca da exposição da marca. O que gera a falsa impressão de apoio. Quem luta em busca do profissionalismo está acostumado a inicialmente arcar com os gastos de transporte, alimentação e hospedagem. A maioria dos patrocinadores prefere investir no evento do que no atleta. Sobre isso, a reportagem foi conversar com o norte-americano e veterano no esporte, Chris Wilson. O ex-lutador do UFC continua, profissionalmente, no MMA e tem uma academia em Ribeirão Preto, interior paulista.

Crescimento e falta de patrocínio Com todos os holofotes voltados para o esporte, a procura nas academias cresceu muito, virando febre em todo o Brasil. Alguns fogem da prática profissional e procuram apenas pelos benefícios físicos. Outros almejam um contrato milionário com o UFC, dedicando-se intensamente aos treinamentos. O treino para o MMA é pesado. Propicia um excelente condi-

Fotos: Arquivo Pessoal

Duda recomenda trabalhar com calma, mas com muita persistência e treino para que a evolução ocorra dia após dia

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mulheres fortes e adorava os gibis com garotas guerreiras, gladiadoras. Acho que tudo começou aí.

Ação: Há quanto tempo você luta MMA? Wilson: Sou profissional de MMA há 12 anos. Ação: Você tem outra profissão ou se dedica exclusivamente ao esporte? Dá aula em alguma academia? Wilson: Já passei algumas fases diferentes. No começo, trabalhava e treinava. Depois, trabalhava dando aulas, treinava e trabalhava em um outro emprego. Mais tarde, vivi apenas de lutas. Agora, voltei a trabalhar como professor e também ministro aulas na minha academia e treino para lutar. É muito corrido. Ação: O MMA é uma das competições esportivas que mais crescem no Brasil atualmente. Quais as maiores dificuldades que você encontrou no inicio da sua carreira? E para os jovens que estão entrando agora, quais as maiores dificuldades que eles passam? Como é o caminho do MMA amador até o profissional e o UFC, em especial? Wilson: Acho que as dificuldades sempre são e serão semelhantes. O atleta, uma vez que se dedica e decide se sacrificar para atingir seus objetivos, enfrenta falta de patrocínios, renda baixa para sustentar a família e incerteza sobre seu futuro. Mesmo com o crescimento do esporte, estas dificuldades permanecem, mas cada atleta encara e resolve essas questões de forma diferente. Acredito que o caminho certo torna o atleta mais experiente e confiante sem tantos riscos e lesões. E os atletas devem, sim, lutar como amadores. Apesar da necessidade e desejo de ganhar dinheiro, uma vez que você se torna profissional não tem volta. Como amador, você cresce como lutador e gerencia suas lutas para o crescimento. Você precisa de experiência. Daí pra frente, precisa de alguém que saiba te direcionar corretamente. A melhor luta é sempre aquela que você vencerá se lutar bem, corre risco se lutar mais ou menos e perde se lutar mal. Esse adversário será diferente em cada momento da sua carreira até que você chegue num nível onde não importa quem você enfrenta. Você estará pronto. A esse ponto, muitas vezes, não é dada a devida importância. Ou porque empresários não entendem ou porque lutadores têm muito ego, ou muitas outras razões. Esse assunto é muito complexo, mas acho que isso pode dar uma ideia.

Ação: E como foi a sua entrada no MMA? Teve dificuldades? Foram as mesmas que os atletas amadores passam hoje nesse esporte? Duda: Eu não passei pelo amador devido a minha carreira no boxe e experiência em outras lutas. Mas acho que é muito importante passar pelo amador, para se adaptar e ganhar experiência, segurança... Agora, a verdade é que é difícil lutar sem receber dinheiro, pois é necessário ter apoio para treinar e se preparar. Esta é a maior dificuldade. O investimento só entra depois que você mostra os resultados. É difícil obter um patrocinador quando se está começando e isso leva muitos talentos a desistirem antes do tempo. Ação: Você acha que rola algum tipo de preconceito, pelo MMA ser considerado por muitos um esporte para homens e violento? Duda: O MMA é considerado masculino e violento pelos ignorantes. Hoje, se você assistir a uma luta de mulheres, praticamente não vê diferença em técnica, garra, resistência e vontade de vencer. As mulheres merecem seu lugar. O preconceito existe, mas cada vez menos.

Arquivo Pessoal

Mulheres E quem acha que este é um esporte exclusivo para homens está enganado. Cada vez mais mulheres, influenciadas pelos seus maridos, irmãos e amigos, procuram as academias e, nem por isso, perdem a feminilidade. Pelo contrário. Elas se produzem ainda mais para provar que, mesmo praticando um esporte “de homem”, continuam sendo mulheres, mães e esposas. Entre os exemplos, está a sérvia-brasileira e campeã mundial de boxe Duda Yankovich. Ela também nos contou, em entrevista, como começou no esporte e deu dicas aos iniciantes. Ação: Como surgiu seu interesse pela luta? Duda: Por curiosidade, eu fui treinar caratê com uma amiga e me apaixonei pela luta. Eu também sempre gostei de ver

Duda se apaixonou pelo caratê, em treino com uma amiga, e ainda gostava de gibis de guerreiras e gladiadoras

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Arquivo Pessoal

Principais requisitos Para aqueles que se interessam em ser um profissional do MMA, é necessário, segundo os entrevistados: - Domínio de várias artes marciais, como boxe, jiu-jitsu, wrestling, judô, muay thai, etc; - Muito treino: de 30 a 50 horas semanais; - Alimentação balanceada; - Físico: cuidar do corpo é fundamental; - Vontade de vencer: pensar positivo sempre. Reunindo todos esses pontos, é a experiência que começa a contar. A dica é começar a lutar regionalmente, até conseguir a inscrição em eventos de MMA nacionais ou internacionais, que permitem, de forma menos difícil, o pulo para o UFC. E aí, quem topa o desafio? Divulgação

Ribeirão-pretano busca apoio

Disciplina e dedicação levaram Anderson Silva a ser um dos principais nomes do UFC na atualidade

Ação: Qual seria sua dica para quem tem o sonho de ser um(a) lutador(a) profissional? Principalmente para as mulheres? Duda: É necessário muito trabalho, muito treino. O caminho é longo, mas vale a pena, só isso que posso dizer. Trabalhar com calma, para que possa evoluir dia após dia. O resultado virá. É claro que é difícil ter suporte no começo

Thiago Gomes dos Santos (foto), de 20 anos, luta MMA – categoria peso leve (até 70 kg) – e jiu-jitsu há um ano e meio. Começou a se interessar vendo lutas pela televisão e resolveu, no início, treinar apenas por diversão. Mas, aos poucos, foi participando de eventos na academia, até que foi convidado por um organizador de torneios da região para um combate externo. Com o convite aceito, a maior dificuldade a ser enfrentada a partir de agora é a batalha por patrocínios. Diz que eles são difíceis, como previram Duda e Wilson. E também porque precisa manter outro emprego para pagar as despesas domésticas. Santos conta que já foi até a Prefeitura de Ribeirão Preto para pedir uma passagem de ônibus para o Rio de Janeiro, onde treinaria numa das principais academias do país por uma semana. Acredita que, se conseguisse demonstrar o que sabe por lá, poderiam aparecer novas chances. Mas a prefeitura alega não ter verba. Mesmo com a negativa, ele não desiste. Tem esperança de que alguém goste do seu desempenho e abra as portas, para que possa ter mais oportunidades no mundo do MMA.

e tem que estar preparado para isso, não esperar muito, infelizmente... Mas, no final, vale a pena cada esforço, pois, fora do resultado bom no esporte, levamos uma satisfação pelo que conseguimos. Lidamos com esforço, disciplina e dedicação todo dia, ultrapassamos nossos limites, e isso fica para a vida toda, não apenas para o esporte.

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VÔLEI PARA A TERCEIRA IDADE Divulgação/JORI

Abertura dos Jogos Regionais do Idoso (JORI) de 2012: competição movimenta a prática esportiva na terceira idade

Adaptado para a vida JÉSSICA BRITO

Oferecida há treze anos para moradoras de Brodowski, na região de Ribeirão Preto, modalidade busca não apenas a obtenção de resultados expressivos em competições, mas qualidade de vida e socialização por meio do esporte

des esportivas surgindo, mas apenas para jovens. Pensamos que não poderíamos deixar de lado aqueles que, com amor e dedicação, ajudaram a nossa cidade a se tornar um ambiente agradável. Foi então que tivemos a ideia de começar algo voltado à terceira idade”. A primeira prática oferecida foi a ginástica, cujas aulas eram bem frequentadas. Com a aceitação da população, veio o vôlei, mas com uma dificuldade: o número de jogadoras era pequeno. “Insistimos e, meses depois, estávamos com 13 atletas”, lembra Benetti. “Não foi nada fácil. Elas treinavam apenas um dia por semana. Por causa do interesse, conseguimos ampliar para dois dias. Sabíamos que elas precisavam do nosso apoio para treinar, pois existem vários fatores, como consultas médicas, indisposição, problemas familiares, entre outros, que dividem a atenção com a prática esportiva”. Dificuldades estruturais também apareceram, como falta de verba e de materiais. “A gente se virava com podia”. Para o ex-dirigente, porém, o esforço para montar o time é recompensado com o sorriso estampado no rosto das atletas, que têm todas acima de 50 anos. Senhoras que, mesmo com

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uem assiste a alguns lances de uma partida de vôlei adaptado para idosos pode estranhar os movimentos em quadra. Em vez de saques a mais de 100 quilômetros por hora ou de defesas cinematográficas, os jogadores seguram a bola. E os passes são mais lentos. Um observador mais atento, de um jogo inteiro, percebe, no entanto, que isso não tira a emoção da prática. E, principalmente, dos atletas. Ainda mais se considerarmos que, na batalha da vida, eles já são bem mais experientes. E usam o esporte não apenas como uma forma de impor a derrota ao adversário, mas como uma luta pela saúde. Neste caso, todos saem vencedores. Os artistas que entram em quadra para esse esporte chegam a ter mais de 80 anos. Vitalidade acompanhada pela alegria de viver. Em Brodowski, interior paulista, a 20 quilômetros de Ribeirão Preto, o vôlei adaptado existe há 13 anos. Surgiu quando o Departamento Municipal de Esportes era comandado por Valdir Benetti, que conta, com entusiasmo, como a história começou. “Brodowski estava crescendo e algumas modalida-

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problemas típicos da idade, conseguem se desligar do mundo lá fora e focar nos treinos, como a fiel praticante Lúcia Gonçalves da Silva Carnevale, professora aposentada de 69 anos. Nascida e moradora em Brodowski, ela jogava vôlei quando jovem. Mas, por causa dos afazeres domésticos e dos filhos, teve de abrir mão. Quando ficou sabendo que estava sendo formado um grupo de esporte adaptado, não pensou duas vezes. “Agora com a vida mais tranquila, posso me dedicar mais do que quando era jovem. Criei uma afinidade muito grande com o time”. Lúcia conta como é a rotina das competições e a relação com as “meninas”, o jeito carinhoso com que ela chama as outras participantes do grupo. “Apesar de os treinos serem gratuitos, temos que comprar os uniformes e pagar o transporte para os campeonatos em outras cidades. Agora, quando o jogo é aqui em Brodowski, combinamos, eu e as ‘meninas’, de fornecer almoço para o outro time, ou até mesmo um café da tarde. Então, acertamos quem pode ir e cada uma leva algum alimento, pratos, copos, talheres”. Para Lúcia, a prática esportiva é fundamental para a qualidade de vida. “Dores, na minha idade, são normais, mas sinto que estou chegando aos 70 anos mais disposta do que muita menina de 25. O fato de não ficar depressiva já me ajuda demais. Acho que depressão é a falta de atividade física, é a mente mandando no corpo. Participo do vôlei, da ginástica e tenho ânimo para ir até em baile da terceira idade”.

visuais, consumo exagerado de medicamentos e doenças cardiovasculares, problemas que podem ser reduzidos com a prática esportiva. Todo ano, a equipe de Brodowski participa dos JORI (Jogos Regionais do Idoso), disputados sempre no mês de agosto e que em 2013 serão realizados em Franca, a 100 quilômetros de Ribeirão Preto. Para participar, os atletas precisam ter mais de 60 anos e podem escolher até três modalidades para competir. Na próxima edição, além do vôlei, Lúcia estará no jogo de damas e na dança, esta última também oferecida nas aulas de Karine. “Estamos treinando a coreografia”. Apesar das dificuldades enfrentadas pelos idosos, a professora diz que é possível encará-los, com a ajuda do esporte. “Mesmo com as barreiras no caminho e a saudade das companheiras de time que se foram, é preciso resistir”. Os treinos do time de vôlei adaptado são realizados no Ginásio de Esportes toda terça e quinta-feiras, das 13h30 às 15h. São abertos ao público com mais de 50 anos. Divulgação/JORI

Qualidade de vida Essa proximidade entre as jogadoras fez com que o time se tornasse uma família. Que lamenta e joga pela lembrança de três das primeiras praticantes, que já faleceram. O cuidado e a amizade que uma atleta tem com a outra vão muito além dos encontros que ocorrem na quadra coberta do Ginásio Municipal de Esportes, o Centro de Lazer do Trabalhador Vicente Quércia, durante a preparação para as competições. Permanecem nas atividades simples do dia a dia, como uma conversa no portão ou auxílio num momento de dificuldade. A atual treinadora do time é Karine Guidolin Silva, de 35 anos. Ela trabalha há sete com a terceira idade, mas começou com o vôlei neste ano. Formada em Educação Física, busca colocar em prática todos os conceitos que aprendeu na carreira, mas de uma forma bem moderada. “Temos todo um preparo, para não extrapolar o limite de cada uma. Deixo sempre bem claro que elas se exercitem só até onde conseguem. Não posso exigir muito. O treino é à tarde, algumas moram longe e já chegam cansadas”. A aula começa com alongamentos de membros superiores, depois inferiores e tronco, seguidos de aquecimento com ou sem bola. Após essa etapa, elas seguem para o treino, em quadra, que termina com alongamento final. “Acredito que o meu trabalho influencia muito na vida dessas mulheres”, afirma a treinadora, que explica a importância da atividade física nessa fase da vida. Segundo ela, uma das principais causas de incapacidade em idosos é a queda, que geralmente acontece por anormalidades no equilíbrio, fraqueza muscular, desordens

Nos JORI, vôlei adaptado para a terceira idade ajuda a colocar em prática o que foi aprendido dos treinos durante o ano

Regras são diferentes Em relação ao vôlei tradicional, o esporte para a terceira idade não tem manchete, ataque e líbero. O esquema de jogo é o 6 x 0, em que todos os seis jogadores precisam passar pela rede. Em vez de toque, eles devem segurar a bola e passar para um companheiro. Três atletas podem segurá-la antes de jogar para o lado adversário. A mesma pessoa não pode segurar por duas vezes consecutivas. Os tradicionais 25 pontos tornam-se 15 na modalidade adaptada. Outra mudança é que todos os jogadores devem participar de alguma rodada até o final do set. Não se pode saltar nem fazer ameaças ao adversário. Na categoria feminina, as jogadoras podem andar um metro dentro da quadra para sacar.

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CONTORCIONISMO Para vencer no esporte, como na vida, é preciso muita dedicação. Às vezes, ficar de pernas para a ar, se retorcer toda. É isso o que faz essa atleta flagrada pelas lentes do estudante de jornalismo Daniel Zanetti. Uma prova de que, para que os resultados apareçam, em alguns casos é necessário ver o mundo pelo avesso, entrar no jogo até de ponta-cabeça. Vale tudo para fazer o esporte amador triunfar. Um esforço e tanto!



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