Celebrando Tradições e Festividades
– à maneira sueca
Po Tidholm • Agneta Lilja
Po Tidholm é jornalista freelance e crítico, radicado na província de Hälsing-land. Escreve regularmente nos jornais suecos Dagens Nyheter e Aftonbladet e na revista Filter, além de participar de programas da Rádio Sueca. Seus artigos sobre sociedade, cultura e história muitas vezes tratam da vida no interior e nas regiões setentrionais da Suécia. Em 2012, publicou o livro Norrland. Po Tidholm é o autor das principais seções sobre o modo de celebração das festas na Suécia de hoje.
Agneta Lilja é professora catedrática na Escola de Estudos Históricos e Contemporâneos da Universidade de Södertörn, em Estocolmo. Sua tese de doutorado, intitulada A Noção do Registro Ideal (The Notion of the Ideal Record), é uma análise crítica das estratégias de coleta em um arquivo especializado na documentação de costumes e tradições. Sua pesquisa incluiu também o estudo de canções e costumes festivos. Além disso, escreveu um livro sobre o Dia de Todos os Santos e Halloween. Atualmente, está atuando na pesquisa de gênero, inclusive um estudo com base nos obituários de industriais do sexo masculino. Escreve também críticas e participa de programas de rádio e TV. Agneta Lilja é a autora das seções sobre a história das tradições e festividades suecas.
Capa: A tão esperada festa do lagostim à beira do lago, em agosto, ao som de risos felizes e zumbidos de mosquitos. Contracapa: para os suecos, decorar a casa com a melhor árvore de Natal é uma questão de honra.
Sumário As estações do ano dão o tom Véspera de Ano Novo
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Dia de São Valentim
10
Páscoa
2
13
Noite de Walpurgis e o Dia Primeiro de Maio Data Nacional
20
Solstício de Verão
22
Festa do Lagostim
26
O Primeiro Surströmming Halloween
32
Dia de Todos-os-Santos Dia de São Martinho Advento
38
Lucia
41
Natal
44
29
36
34
17
Estações do Ano dão o Tom UMA COISA BOA a respeito de costumes e tradições
da Suécia estão ligadas ao ano agrícola: o cultivo na
é que eles mudam constantemente. Quando perdem
primavera, as temporadas de caça e pesca, ou o perío-
a utilidade, são esquecidos ou recriados em nova
do da colheita. Como observado acima, no entanto, o
forma. Com frequência, têm raízes antigas, e alguns
significado original dessas atividades pode ter sido
buscam suas origens na Suécia pagã. Muitas tradi-
perdido nos anais do tempo e substituído por outro.
ções vieram de outros países, trazidas, por exemplo,
No entanto, não se trata simplesmente do passar
pelos comerciantes alemães ou pelos membros da
do tempo ou do esquecimento humano. Os suecos
Igreja Protestante. Alguns costumes são tão antigos
encontram-se divididos em relação a sua imagem:
que até já esquecemos sua origem. Todavia, conti-
embora sintam orgulho de sua própria história, tam-
nuamos a observá-los, pois sempre o fizemos, e por-
bém se sentem pouco à vontade quando confrontados
que aprendemos a gostar deles. Eles passaram a fazer
com o que é considerado continental e internacional-
parte de nosso ciclo de existência, moldando nossas
mente aceitável.
vidas e dando-nos um sentido de tempo. Além disso, marcam o ritmo das estações do ano. Na Suécia, muitos costumes são associados dire-
Quando surgiu a oportunidade, a Suécia jogou-se de cabeça na era moderna. Sua localização remota no mapa, sua incrível capacidade de manter-se fora
tamente às estações do ano. Os suecos celebram o
das guerras e seus estoques inesgotáveis de madeira
verão com uma intensidade que só é encontrada em
e minérios tornaram a Suécia um país rico e pouco
pessoas que acabaram de passar por um longo e escu-
comum, quando comparado a padrões internacionais.
ro inverno.
Enquanto outros países passavam por conflitos e
Eles acendem velas durante o Advento e prestam
divisões de classe, os cidadãos suecos demonstravam
suas homenagens a Lucia, vestida de branco com uma
um consenso de opinião e uma crença no futuro.
coroa de velas adornando seus cabelos. A culinária
Em alguns momentos, essa crença na inovação, no
sueca também tende a ser influenciada pelas estações
bem-estar social – que passou a ser conhecido como
do ano. Muitas vezes a forma de temperar e preparar
folkhem na Suécia – e no crescimento tornou-se tão
a comida reflete as necessidades de conservação das
forte que o país esqueceu sua história. Os antigos
comunidades camponesas de antigamente, como no
costumes e tradições foram repentinamente conside-
caso do arenque em conserva, das carnes salgadas
rados supérfluos. Os jovens fecharam seus ouvidos às
ou defumadas, ou dos laticínios coalhados, fervidos
estórias de seus antepassados e recusaram-se a olhar
ou curados. Algumas das festividades tradicionais
para trás. O futuro estava esperando ali na esquina, e
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Celebrando – à maneira sueca
NĂŁo hĂĄ verĂŁo completo sem bolo de morango.
Finalmente livres! Estudantes de férias, usando bonés brancos, comemoram com amigos e familiares.
todos queriam chegar lá o mais rapidamente possível. Nas décadas do período pós-guerra, a sociedade
social. O resultado, na melhor das hipóteses, é uma transfertilização cultural. A maioria dos suecos, por
sueca cresceu e se expandiu a uma velocidade re-
exemplo, já conhece o significado do Ramadan, o mês
corde. De sociedade agrícola às margens da Europa,
de jejum dos muçulmanos. Muitas novas tradições
a Suécia chegou ao topo da tabela de crescimento.
começaram a fazer parte da vida dos suecos nos
Novas comunidades se desenvolveram, as estradas
últimos anos, geralmente graças à atuação da mídia
foram ampliadas e o interior abriu-se para o progres-
ou como resultado de pressões comerciais. O Dia de
so. Repentinamente, prédios de concreto invadiram
São Valentim e a Festa de Halloween, por exemplo, já
as cidades suecas.
fazem parte do calendário de festividades da Suécia,
A Suécia ganhou prosperidade, mas perdeu contato com sua história. Muito tempo se passou até que os
embora com algumas adaptações locais. Daqui a algumas gerações, as origens desses
suecos reencontrassem seu equilíbrio. Na Suécia mo-
costumes podem ter sido esquecidas; na verdade,
derna, o antigo e o novo convivem lado a lado, às vezes
assim que um povo absorve uma prática ou costume,
na forma de duas narrativas paralelas, outras vezes –
sua verdadeira origem perde importância. O Papai
não tão frequentemente – como um conjunto inte-
Noel sueco é, na verdade, alemão, mas muitos suecos
grado. O mesmo poderia ser dito de tudo o que chega
acreditam nele mesmo assim. Lucia era uma santa
ao país de outras partes do mundo: pessoas, modas e
siciliana, e o Dia de São Martinho homenageia um
formas de expressão de diferentes culturas e esferas.
bispo francês, mas isso não reduz a diversão e o pra-
A imigração trouxe consigo novos costumes e tradições que, com o tempo, serão amalgamadas
zer proporcionados por essas festas. Muitas das festas tradicionais são comemoradas
ao tecido do que chamamos de sociedade sueca. Da
em casa, com a família. A única verdadeira exceção
mesma forma, os ‘Novos Suecos’ incorporam antigas
é o Solstício de Verão, quando os suecos, indepen-
tradições suecas, geralmente por meio das crianças,
dentemente do tempo, fazem questão de estar na rua
que as apresentam a suas famílias. As creches e es-
para encontrar outras pessoas e dar as boas-vindas
colas exercem uma influência considerável na esfera
ao calor. Vale lembrar que o Solstício de Verão é uma
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celebração com raízes pagãs. A Igreja Luterana não
Os idosos costumam reclamar sobre a perda de
era particularmente a favor de festividades e procis-
valores quando os jovens preferem fazer as coisas de
sões comunais. Além disso, a pouca concentração
seu próprio modo. Casamentos, batismos e crismas na
populacional e a rigidez do clima sueco contribuíram
Igreja costumavam ser ritos de passagem para a vida
para levar as comemorações para dentro das casas,
adulta e comunitária. Atualmente, a maioria faz o que
tornando-se festas de família. Os tempos mudam, no
quer. Os suecos não são diferentes do resto do mundo:
entanto. Hoje, quem visita a Suécia no inverno pode
as cidades vêm se tornando cada vez mais continen-
até achar as ruas desertas, mas no verão as coisas são
tais, e as maneiras e os costumes mais internacionais.
bem diferentes. Uma grande variedade de festivais e
Se você for convidado para jantar na casa de uma fa-
festas de rua passou a fazer parte do verão sueco nos
mília sueca, há poucas regras de etiqueta com o que se
últimos anos, unindo as pessoas para ouvir música,
preocupar. Lembre-se somente de agradecer – tack! Os
comer e estar em comunidade.
suecos fazem isso o tempo todo; na verdade, essa pala-
Numerosos ‘encontros de rabequistas’ são realizados em todo o país durante o verão, com foco particular na música folclórica sueca. O violino – ou rabeca – chegou à Suécia no século XVIII e rapidamente difundiu-se entre os camponeses. A música folclórica local, geralmente em compasso ternário, costumava
vra é como uma fusão de ‘obrigado’ com ‘por favor’: — Pode me passar o sal, por favor (Kan du skicka saltet, tack)? — Aqui está (Varsågod). — Obrigado (Tack)!
ser tocada por um único rabequista nos bailes. A cultura musical sobreviveu, e os encontros de verão atraem um grande número de turistas. O verão sueco também é a época em que muitos jovens se casam, pois o clima mais ameno lhes permite realizar o trajeto até a igreja de carruagem, ou se casem em uma cerimônia simples em um rochedo no arquipélago. Os casamentos na igreja ainda são os mais populares, apesar de a Igreja da Suécia – que até recentemente era unida ao Estado – estar perdendo membros e visitantes. A maioria dos suecos também prefere realizar funerais na igreja. O batismo na Igreja ainda é uma característica da vida contemporânea na Suécia – mais uma vez, principalmente no verão – embora algumas formas mais caseiras de batismo venham se tornando bastante populares. A cerimônia de crisma na Igreja da Suécia ainda é bastante comum, mas pode assumir formatos diferentes hoje em dia, tal como uma espécie de colônia de férias onde estudos bíblicos são combinados com atividades sociais e outras.
Estações do Ano dão o Tom
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Ano Novo O ANO NOVO SUECO geralmente coincide com uma onda de temperaturas geladas. O termômetro, que, para frustração de todos, costuma ficar em torno do zero durante as festas de Natal – pelo menos no sul – gradualmente cai, e à meia-noite os suecos estão tremendo de frio, com neve até os joelhos, enquanto brindam com champanhe e soltam fogos de artifício. É uma visão singela, e também um símbolo da Suécia moderna. Em muitos aspectos, os suecos já começaram a absorver o estilo de vida continental, mas em algum lugar ao longo desse processo há sempre uma interrupção. Nesse caso, o clima. Após comemorarem o Natal com suas famílias, velhas ou novas, com os parentes consanguíneos e agregados, os suecos festejam o Ano Novo com seus amigos. Eles não se importam do Natal ser uma festa de família à moda antiga, mas o Ano Novo deve ser algo luxuoso, opulento, internacional e moderno. Nos mercados e lojas das cidades suecas, os que deixaram as compras para o derradeiro minuto brigam pela última lagosta ou a última caixa de ostras. Em casa, as cozinhas funcionam a todo vapor, finalizando os molhos, caramelizando cascas de laranja e preparando a mesa com as melhores toalhas, aparelhos de jantar e velas. Todos se vestem confortavelmente com suas roupas novas e fingem não ouvir o vento gelado que sopra do lado de fora das casas. Afinal, meias-finas e sapatos de salto não são muito práticos ou agradáveis no meio do inverno nórdico!
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Celebrando – à maneira sueca
À meia-noite, inúmeros foguetes iluminam o céu.
Durante o jantar, fala-se do ano que passou e do que está para começar. As pessoas prometem melhorar no futuro, e, quando os relógios anunciam a meia-noite, todos tomam suas resoluções de Ano Novo – na Suécia, como no resto do mundo. Muitos prometem parar de fumar, perder peso, começar a praticar exercícios, ou ganhar mais dinheiro. Em geral, as promessas são mantidas – pelo menos por algumas semanas! Como muitas outras ocasiões festivas na Suécia, o Ano Novo tornou-se crescentemente dominado pelas ofertas tradicionais da mídia. Cada ano se encerra com uma transmissão ao vivo do Museu ao Ar Livre de Skansen, em Estocolmo, onde os sinos badalam e um poema de Ano Novo (que, a propósito, foi escrito pelo poeta inglês Tennyson) é recitado solenemente para toda a nação. Há uma sensação de conforto e segurança quando se encerra o ano em frente da televisão, na sala de sua casa. Muitos, entretanto, preferem o ar frio da noite. Os que não têm a sorte de viver em um apartamento na cidade, de onde possam ver o movimento nas ruas, tendem a procurar locais públicos para passar a meia-noite, para soltar rojões e admirar as apresentações de fogos de artifício. As pessoas ficam lá, embrulhadas em seus pesados casacos e sobretudos, maravilhadas e boquiabertas enquanto o horizonte – uma silhueta de prédios modernos ou simplesmente alguns pinheiros espalhados – torna-se luz, com os flashes e os estouros dos fogos.
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Ano Novo De acordo com o calendário romano, o Ano Novo Sueco começa o dia 1º de janeiro. Na sociedade pré-industrial, essa festa fazia parte das comemorações de Natal. Em contraste com o Natal, no entanto, era principalmente uma ocasião festiva para os jovens. Eles recebiam o Ano Novo com comidas, bebidas e muita festa. Para marcar a passagem e se despedir do Ano Velho, eles disparavam tiros, gritavam, ou envolviam-se em outros tipos de confusão. A passagem do ano era considerada um momento mágico, quando as pessoas tentavam prever o futuro. Uma forma de prever o futuro era modelar chumbo na água, e depois tentar interpretar as figuras produzidas. Outra maneira era atirar sapatos: se o sapato caísse apontando para a porta, a pessoa se mudaria ou, até mesmo, morreria durante o ano. O Dia de Ano Novo era considerado um sinal de como seria o ano que começava, e, por isso, era importante não levar nada para fora da casa naquele dia, pois isso significaria descartar a felicidade para o resto do ano. Se o sol brilhasse no Dia de Ano Novo, um bom ano era esperado. Desde 1893, quando se iniciou o costume no Museu ao Ar Livre de Skansen, em Estocolmo, as igrejas suecas tocam seus sinos à meia-noite para saudar o Ano Novo.
”Skål” para o Ano Novo!
Ano Novo
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Dia de São Valentim A INCAPACIDADE TRADICIONAL dos suecos de
Na década de 60, os floristas na Suécia, inspirados
absorver expressões estrangeiras não se deve tanto
por seus colegas americanos, começaram a lançar
a um orgulho nacional, mas a uma forma de imobi-
campanhas para promover o Dia de São Valentim.
lidade social, às vezes aliada a certo grau de – temos
Já nos anos 80, o costume havia se difundido por
de admitir – presunção. Com o passar dos tempos,
todo o país e, atualmente, enormes quantidades de
porém, muitas barreiras caíram, e a mudança mais
rosas, corações de jujuba e outros doces são vendidos
visível parece ser o fato que os suecos agora estão
nessa data. Os jovens, principalmente, adotaram esse
muito mais abertos a ideias comerciais de última
costume.
moda. O Dia de São Valentim (equivalente ao Dia dos
A ideia por trás dessa festa é louvável – demonstrar seu amor e apreciação por outras pessoas. Além
Namorados) já é, agora, uma festa sueca, apesar de
disso, se serve para impulsionar a economia do país,
não ter nenhuma relação com o passado do país.
melhor ainda!
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Celebrando – à maneira sueca
Dia de São Valentim O Dia de São Valentim, que os suecos chamam de Dia de Todos os Corações (Alla Hjärtans Dag), homenageia um mártir romano. Desde a Idade Média, é celebrado no dia 14 de fevereiro na Inglaterra, na Escócia e na França. Nessa data, uniam-se rapazes e moças que seriam parceiros nas festividades
do verão seguinte (na Suécia, isso era feito no Pentecostes). Na Idade Média, os rapazes compunham poemas de amor para suas jovens preferidas, e tais poemas eram chamados de Poesia de Valentim. No século XIX, tornou-se comum mandar cartões impressos e ilustrados para
comemorar São Valentim. O costume difundiu-se nos Estados Unidos, onde jovens enviam cartões em forma de coração uns aos outros, ou até compram presentes mais caros no Dia de São Valentim. Esse costume tornou-se comum nos anos 80, mais entre jovens e crianças.
Dia de São Valentim
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A tradição de comer Semla tende a começar mais cedo a cada ano, assim como o Natal.
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Semla
O Semla, também conhecido como fettisdagsbulle ou hetvägg (do alemão heisseWecken), era originalmente um pãozinho pontudo que era fervido e consumido quente, inicialmente durante os três dias de Entrudo (domingo, segunda- e terça-feira de Carnaval) e, posteriormente, nas terças-feiras durante a Quaresma. Durante o século XIX, as pessoas começaram a retirar o miolo dos pãezinhos e enchê-los com marzipã, manteiga ou creme de leite. Tempos depois, uma camada de creme chantili passou a ser acrescentada dentro do semla. O pãozinho passou a ser comido com leite quente, açúcar e canela, e cada vez mais se tornou parecido com um sonho com creme, substituindo a receita original. Atualmente, as confeitarias começam a vender os semlas antes do Natal!
Páscoa A SUÉCIA É UM país extenso, com um longo litoral, como nos lembram sempre os guias turísticos. Quando começa o período de férias, as pessoas costumam embarcar em longas viagens para visitar amigos e parentes. Embora os suecos contemporâneos sejam um povo urbano, a maior parte morando nas cidades, a grande maioria da população ainda tem um pé no interior. Quando não têm familiares nas regiões rurais, os suecos costumam ter uma casa de campo. Uma veia agrícola corre na auto-imagem da Suécia: uma nação de camponeses fortes e vigoro-
sos, alimentados com muita carne e muito nabo. A maior parte das pessoas concorda que as ocasiões festivas na Suécia deveriam ser celebradas no campo, e a Páscoa não representa uma exceção. A Páscoa é o primeiro grande feriado da primavera, e, para muitos, isso significa a primeira ida à casa de campo, mantida fechada e vazia durante todo o inverno. É necessário abrir as janelas e arejar os cômodos. Os fogões a lenha são acesos, e a cozinha se enche de fumaça, naturalmente. Todos correm para fora, tossindo e resmungando. Os que moram no sul
Na Páscoa, galhos alegremente emplumados abundam dentro e fora de casa
Páscoa
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Bruxinhas de Páscoa coleitam doces.
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da Suécia encontram as alvéolas, que estão iniciando
atualmente decorados com penas coloridas – com o
seus rituais de acasalamento. As últimas neves ain-
sofrimento de Cristo.
da estão derretendo com o pálido sol da primavera. No Norte, a Páscoa é um feriado para se esquiar.
A Páscoa tem seus próprios rituais. As crianças fantasiadas de Bruxas de Páscoa – com roupas
Após limpar, varrer e aquecer a casa de campo,
velhas, lenços coloridos e bochechas vermelhas
pode-se dar início à Páscoa. Os membros da família
– vão de casa em casa na vizinhança e oferecem
chegam de todas as partes. O objetivo, nesse dia, é
pinturas e desenhos aos moradores, na esperan-
reunir o maior número de parentes possível.
ça de conseguir alguns doces em troca. Depois de
Ao passo que em outros países a Páscoa é um fe-
comer todos os doces, as crianças ganham ovos de
riado especificamente religioso, na Suécia essa data
páscoa com ainda mais doces dentro. Os pais com
tornou-se uma festa secular, também. Os suecos não
uma mente mais elaborada deixam que as crian-
são grandes frequentadores de igreja segundo as es-
ças procurem pelos ovos – uma espécie de caça ao
tatísticas. Embora os números aumentem um pouco
tesouro, com pistas e charadas até que encontrem
durante a Páscoa, as maiorias das pessoas preferem
seus prêmios.
comemorar o feriado em casa com suas famílias e
Um almoço tradicional de Páscoa costuma ter
parentes. Muitas das práticas associadas à Páscoa
variedades de aranques de arenque em conserva,
têm origens religiosas, mas isso não é algo que inco-
salmão curado e Tentação de Jansson (batatas, ce-
mode os suecos. Eles comem ovos porque sempre o
bolas e espadilhas em conserva assadas com creme
fizeram – não porque acabaram de sair de um jejum.
de leite). A mesa é decorada como um smörgåsbord
Atualmente, os ovos são o principal acompanhamen-
tradicional. Uma bebida que não pode faltar na mesa
to para o arenque em conserva, o prato principal da
de Páscoa é a aguardente temperada com especiarias
maioria das mesas suecas na Páscoa. Poucas pes-
(Schnapps). Na hora do jantar, é servido cordeiro assa-
soas associam os ramos de bétula – onipresentes, e
do com batatas gratinadas e aspargos.
Páscoa
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Arenques em conserva e ovos são um prato popular na Páscoa também.
Páscoa Na Suécia, as comemorações de Páscoa costumavam começar com os três dias de Entrudo, cheios de festas, jogos e folia. Uma das atividades mais populares era brincar de bater uns nos outros com os ramos de bétula na terça-feira de Carnaval. Outra prática comum era deslizar em ladeiras íngremes para que o linho crescesse bastante. A tradição também rezava que as pessoas fizessem sete ricas refeições na terça-feira de Carnaval. A partir dessa data, iniciava-se uma longa penitência de quarenta dias, com suas próprias regras sobre o que era permitido comer: carnes e ovos, por exemplo, eram proibidos. A Páscoa, a mais importante das festas cristãs, comemora a ressurreição de Cristo. Começa no Domingo de Ramos,
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Celebrando – à maneira sueca
quando é lembrada sua entrada triunfal em Jerusalém. Antigamente, os dias marcados em vermelho no calendário na Semana Santa anterior à Páscoa eram regidos por decretos da Igreja. Na Quinta-feira Santa, não era permitido tornear ou cortar madeira, pois isso poderia aumentar o sofrimento de Cristo. No mesmo dia, as bruxas voavam para unir-se ao Diabo no Monte Blåkulla, e as pessoas protegiam-se pintando cruzes em suas portas e escondendo as vassouras para que as bruxas não pudessem usá-las para voar. A Sextafeira Santa era passada em silenciosa contemplação. As pessoas vestiam-se de preto e comiam comidas salgadas, sem nada para beber. Os jovens batiam uns nos outros com ramos de bétula.
Toda a semana era planejada para lembrar o sofrimento e a morte de Cristo na cruz. No Sábado de Páscoa, as celebrações tornavam-se alegres, e as pessoas recomeçavam a comer ovos, muitas vezes pintados em várias cores, provavelmente porque era comum dá-los como presentes aos amigos. No século XIX, os suecos começaram a tradição de encher ovos de papel com doces. O costume de trazer ramos de bétula para dentro das casas e decorá-los com plumas coloridas teve início na década de 1880. O costume de sair às ruas pedindo doces aos moradores tornou-se uma tradição no século XIX, antes o costume era praticado por adultos fantasiados, depois tornou-se um hábito de meninas.
Noite de Walpurgis é o Dia 1º de Maio AS PESSOAS ACUMULAM um monte de tralhas
Um prato que aquece as pessoas nessa época é a
durante o ano. Na Suécia, grande parte desse lixo
sopa de urtiga. A urtiga é, naturalmente, uma erva:
acaba na fogueira de Walpurgis – portas e cercas ve-
a primeira a brotar assim que derretem as neves. Ela
lhas, ramos podados de árvores frutíferas, arbustos
contém grandes quantidades de ferro e é mais sabo-
retirados e velhas caixas de papelão: muitas foguei-
rosa quando colhida jovem e tenra. As celebrações de Walpurgis não são festas fami-
ras são acesas em todo o país no dia 30 de abril. Para os estudantes, a Véspera de Walpurgis é uma
liares, mas um evento público. Grupos locais res-
antecipação do verão. As provas já acabaram e fal-
ponsabilizam-se pela organização do evento com o
tam somente poucas aulas antes do final do período
objetivo de encorajar o espírito comunitário na aldeia
letivo. No último dia de abril, os alunos usam suas
ou bairro. Quando se apagam as fogueiras, muitas pessoas
tradicionais boinas brancas e cantam boas-vindas à primavera, aos campos em flor e a um futuro melhor. Cantos em corais são um passatempo muito popu-
dirigem-se aos bares e restaurantes, ou a festas de amigos. O fato de o dia seguinte, 1º de maio, ser feria-
lar na Suécia, e na Noite de Walpurgis praticamente
do na Suécia desde 1939, permite que as pessoas se
todos os corais do país estão ocupados. Em cada
divirtam até tarde sem preocupações. Quem quiser,
aldeia e bairro, acendem-se fogueiras no crepúsculo:
pode dormir até tarde no dia seguinte; outros prefe-
um mar de faces vermelhas, ardendo com o calor do
rem usar o feriado para se unirem a uma das tantas
fogo, e gelando de frio nas costas. O sol da primave-
demonstrações do Dia do Trabalho realizadas em
ra pode esquentar um pouco durante o dia, mas as
todo o país, carregando faixas com dizeres clássicos
noites ainda são frias.
ou específicos.
Muitas pessoas comemoram a primavera com fogos de artifício de Walpurgis, antes de participar da marcha de Primeiro de Maio no dia seguinte.
Noite de Walpurgis é o Dia 1º de Maio
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Coristas são muito procurados nesta época do ano.
Noite de Walpurgis Na Idade Média, o ano administrativo terminava no dia 30 de abril. Devido a isso, a data era um dia de festa entre os comerciantes e artesãos da cidade, com brincadeiras, danças e cantos em preparação para a primavera. Entre os fazendeiros e camponeses, era um dia importante no calendário, pois nele era realizada a tradicional reunião anual da aldeia, onde eram servidos ovos e schnapps. A reunião também servia para eleger um novo Conselheiro Municipal. No Walpurgis (Valborg), os animais das fazendas eram soltos para pastarem livremente, e desde o século XVIII fogueiras (majbrasor, kasar) são acesas para espantar predadores. As pessoas também disparavam tiros, tocavam sinetas ou gritavam para manter os predadores à distância. Em algumas regiões, os jovens saíam pelas ruas entoando canções, em troca de presentes ou comida na Noite de Walpurgis. Aqueles que não lhes davam nada eram tratados como pessoas más. Em outras regiões, as pessoas visitam estações termais (spas) para beber água saudável e se divertir.
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Celebrando – à maneira sueca
Na cidade, as fogueiras sĂŁo acesas para aquecer a alma, no interior, para queimar refugos do inverno
Data Nacional A SUÉCIA NÃO participou de nenhuma das guerras
A última vez que pessoas comuns se interessaram
da era moderna, o que explica o porquê da atitude
ativamente pela Suécia como Estado-Nação foi no
meio reservada dos suecos em relação à celebração de
final do século XIX, quando uma onda de ventos
uma data nacional. Eles são orgulhosos de seu país,
nacional-românticos soprava pelo país e as sociedades
mas parecem não sentir a necessidade de demonstrar
folclóricas e museus de história locais foram criados.
tal sentimento. Anteriormente, o dia 6 de junho não
Foi então que o dia 6 de junho tornou-se um dia de
era um feriado nacional, e, para muitas pessoas, o
celebração. Em 2004, o Riksdag – o Parlamento Sueco
único sinal de que essa era uma ocasião especial era a
– votou uma lei que torna esse dia um feriado nacional,
decoração dos ônibus com bandeiras da Suécia. Todos
o que talvez venha a aumentar o interesse das pessoas
os anos, o Rei e a Rainha participam de uma cerimônia
em celebrá-lo. A decisão final levou décadas para ser
no Skansen, o museu ao ar livre de Estocolmo, onde as
tomada – várias propostas foram apresentadas e
bandeiras amarelo-e-azul são hasteadas, e crianças
recusadas durante os sucessivos governos.
com trajes típicos de camponeses oferecem buquês de
Há, também, alguns grupos que defendem a intro-
flores da estação ao casal real. Atualmente, cerimônias
dução de um Doce Nacional e de um Prato Nacional,
especiais que dão boas-vindas a novos Cidadãos Suecos
além de quererem que o nyckelharpa (uma espécie de
são realizadas em todo o país na Data Nacional.
violino com teclas) se torne o Instrumento Nacional. Mas um consenso sobre um assunto tem sido difícil.
A Família Real sempre participa das festividades do Dia Nacional.
Data Nacional Desde 1983, a Suécia celebra sua Data Nacional no dia 6 de junho. Esse é o dia em que Gustav Vasa foi coroado Rei em 1523, e também o dia em que foi adotada a nova Constituição em 1809. A ideia original foi de Artur Hazelius, que fundou o Museu ao Ar Livre de Skansen e realizou uma comemoração da Data Nacional no dia 6 de junho, ainda na década de 1890. Na Feira Mundial de Chicago de 1893, a Suécia
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Celebrando – à maneira sueca
apresentou o Solstício de Verão como uma espécie de Data Nacional Sueca, e posteriormente sugeriu-se que tal ideia fosse oficialmente sancionada no país. Assim, como Hazelius continuava a celebrar a Data Nacional no Skansen no final da primavera, por alguns anos a Suécia teve duas datas nacionais. Em 1916, a ideia de Hazelius foi finalmente adotada, e o dia 6 de junho tornou-se o Dia da Bandeira da Suécia.
National Day
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Solstício de Verão O VERÃO SUECO é breve. Ele começa a dar o ar da
anterior, todos saem das cidades, as lojas fecham e as
graça em maio e explode em vida no mês de junho.
ruas ficam, de repente, assustadoramente desertas.
A estação mais quente do ano tem de se apressar para
Por outro lado, as principais estradas do país ficam
fazer tudo o que precisa antes que as noites voltem a
lotadas. Filas intermináveis de carros se estendem no
esfriar em setembro, e tudo pare, novamente, de cres-
horizonte, e, no final da jornada, familiares e amigos
cer. No dia do Solstício, a Suécia veste-se de um verde
esperam entre bétulas prateadas que florescem vigo-
opulento e rico em clorofila, e as noites quase não são
rosamente. O Solstício é uma ocasião para grandes
escuras. No norte do país, o sol não se põe.
eventos – para ser franco, muitos suecos aproveitam
Os suecos são bastante afinados com os ritmos da
essa data para cumprir suas obrigações sociais e,
natureza. No Solstício de Verão, muitos partem para
assim, terem o resto do verão para si mesmos. Em
suas férias anuais de cinco semanas, e também têm
muitos casos, famílias inteiras se reúnem para come-
pressa para fazer as coisas. A Véspera do Solstício
morar esse tradicional ponto alto do verão.
é comemorada no campo – como sempre – e, no dia
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Celebrando – à maneira sueca
Os suecos são um povo organizado, e, portanto, a
Dança de anel em volta do mastro enfeitado de flores – uma atividade típica de Verão.
Celebrating the Swedish way
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Véspera do Solstício é sempre uma sexta-feira. As
e o que fazer depois. Assim, após o jantar, muitas
pessoas começam o dia colhendo flores e fazendo fes-
pessoas ainda têm vontade de sair para dançar, como
tões que serão colocados no mastro, que é um compo-
nos velhos tempos. De preferência, uma dança ao ar
nente-chave das celebrações. O mastro é erguido em
livre, perto de um lago ao calar da noite, quando cai a
um local aberto e assim iniciam-se as danças circula-
cerração e o som da banda ecoa nas colinas da outra
res, para diversão das crianças e de alguns adultos. Os
margem do lago.
adolescentes tendem a ficar fora da festa e aguardam a diversão mais agitada da noite. Um cardápio típico do Solstício inclui diferentes tipos de arenque em conserva, cozido com batatas e endro fresco, creme de leite azedo e cebolas roxas
Segundo a tradição, na volta para casa, garotas e moças deveriam colher sete tipos diferentes de flores e colocá-las debaixo do travesseiro. Durante a noite, seu futuro marido aparecerá em sonho para elas. Diz uma lenda que a noite anterior ao Solstício é
cruas. Em seguida, geralmente é servido algum tipo
um momento mágico para o amor, o que continua
de carne grelhada, como costeletas ou salmão, e, para
sendo o caso, de certa forma.
a sobremesa, os primeiros morangos do verão, com
Durante a noite mais longa do ano, muitas relações
creme chantili. As bebidas tradicionais são cerveja
são testadas. Sob o efeito do álcool, a verdade aparece,
gelada e schnapps, de preferência com especiarias.
o que pode levar a casamentos – ou a divórcios. Assim
Todas as vezes que se enchem os copos, as pessoas
como Pentecostes, o dia de Solstício é uma data popu-
recomeçam a cantar. Os suecos gostam de beber e
lar para cerimônias de casamento e batismo. Apesar
cantar, e quanto mais animação, melhor.
da pouca frequência com que vão à igreja, os suecos
O Solstício é uma ocasião que traz, também, certa nostalgia. No fundo do coração, todos os suecos têm a mesma opinião sobre como comemorar essa data
Pratos tradicionais estão no centro das celebrações do Solstício de Verão.
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Celebrando – à maneira sueca
ainda gostam de se casar em uma capela no campo, decorada com arcos de flores e ao som de lindos hinos.
Um mergulho refrescante na luz da noite do Solstício de Verão.
Solstício de Verão O Solstício de Verão era originalmente comemorado no dia 24 de junho, em homenagem a São João Batista. Em 1953, passou a ser celebrado no sábado mais próximo a essa data. Quando a Suécia era uma sociedade agrícola, as celebrações do Solstício davam as boas-vindas ao verão e à estação da fertilidade. Em algumas áreas, portanto, as pessoas se vestiam de ‘homens verdes’, cobertos de folhas. Eles também decoravam suas casas e ferramentas com folhagens, e erguiam altos e folhudos mastros para dançar em torno deles. Isso provavelmente teve início no século XVI, com base em uma tradição alemã. O Solstício é, primariamente, uma festa para jovens, mas também era celebrado nas comunidades industriais no centro da Suécia, onde todos os
operários eram convidados para um banquete com arenque em conserva, cerveja e schnapps. Somente a partir do século XX, contudo, essa se tornou a mais sueca de todas as festividades. Desde o século VI d.C. as fogueiras de Solstício são acesas em toda a Europa. Na Suécia, isso ocorre principalmente no sul do país. Os jovens também gostavam de visitar as fontes sagradas, onde bebiam águas curativas e se divertiam com jogos e danças. Essas visitas lembravam como João Batista batizou Cristo nas águas do Rio Jordão. A Noite do Solstício é a mais clara do ano e foi considerada, durante muito tempo, como uma noite mágica, pois era o melhor momento para prever o futuro das pessoas. As meninas comiam mingau de aveia salgado (‘mingau dos
sonhos’) para que seus futuros maridos trouxessem água para elas em seus sonhos, para matar sua sede. Elas também olhavam nas fontes em busca do reflexo de seu futuro marido na água. Na Noite do Solstício, era também possível encontrar tesouros escondidos, por exemplo, observando onde brilhavam os raios da lua. Ao cavar, as pessoas podiam deparar-se com estranhas visões, que as fariam rir ou falar, tal como uma galinha coxa puxando uma grande carga de feno. Se a pessoa conseguisse manter o silêncio, acharia o tesouro. Também na mesma noite, dizia-se que a água transformava-se em vinho e folhas em flores, e as plantas adquiriam poderes curativos.
Solstício de Verão
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A Festa do Lagostim COM A APROXIMAÇÃO do final do verão Europeu,
nas de banquete, reportagens detalhadas, com dicas
os suecos realizam as Festas do Lagostim. Às vezes
de celebridades, assim como classificam as melhores
temos sorte de ter noites quentes no mês de agosto, e
marcas e mostram a disponibilidade dos lagostins.
o clima se aproxima do Mediterrâneo.
Em alguns anos, os lagostins chineses são con-
No início do século XX, devido ao risco de pesca
siderados os melhores, ao passo que, em outros, os
excessiva e a um fungo parasita que quase dizimou
americanos vencem. Todavia, sem dúvida, os me-
a população de lagostins, foram introduzidas restri-
lhores de todos são os lagostins suecos – o problema
ções para a pesca de lagostim de rio. A temporada
é que eles são muito caros. Independentemente de
foi limitada para pesca durante dois meses por ano
sua origem, os lagostins são preparados na Suécia da
a partir de agosto. Isso fez com que os lagostins se
maneira que os suecos mais gostam: em salmoura,
tornassem uma iguaria rara e muito procurada.
com bastante endro.
Durante o ano todo é possível comprar lagostins
Naturalmente, quem pode prefere pescar seus
importados, mas poucos suecos abandonam a tradi-
próprios lagostins. As pequenas criaturas são ani-
ção sazonal. No início de agosto a mídia divulga ce-
mais noturnos, por isso a pesca tem de ser feita após
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Celebrando – à maneira sueca
Ambas as festas de lagostim e pesca de lagostins são uma combinação de luz e escuridão
Celebrating the Swedish way
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O Banquete do Lagostim Come-se lagostim na Suécia desde o século XVI. Por muito tempo, somente os aristocratas apreciavam essa iguaria, pois a população geral nutria uma certa desconfiança em relação aos crustáceos. Originalmente, a carne do lagostim era usada para fazer linguiças, guisados, tortas ou suflês. Em meados do século XIX, as pessoas passaram a consumir lagostins como hoje. Os banquetes ou jantares de lagostim, realizados no mês de agosto, tornaram-se populares entre a classe média. No século XX, o preço do lagostim caiu devido a importação da Turquia e de outros lugares, e todos da sociedade passaram a celebrar o banquete do lagostim, quando tornou-se o prato nacional. Esta festividade Sueca marca o fim do verão, ocasião em que as pessoas se reúnem para comer, beber e se divertir.
o anoitecer. Eles são capturados em armadilhas de arame, e a isca costuma ser peixe cru ou podre. Os lagostins devem estar ainda vivos quando são colocados na panela para ferver em um molho alcoólico. Antigamente a Festa do Lagostim era uma atividade restrita às classes mais endinheiradas, e hoje é uma ocasião para todos. Ao longo dos anos, certos aspectos dessa festa tornaram-se uma tradição. Os lagostins são consumidos ao ar livre, com lindos enfeites de lanternas de papel coloridos pendurados sobre a mesa. O tipo mais popular de lanterna representa uma lua cheia sorridente. Tanto a toalha de mesa quanto os pratos coloridos também devem ser de papel. As pessoas usam babadores em torno do pescoço e chapéus engraçados de papel. Quando começa a festa, todos comem lagostins frios, com as próprias mãos. Nessa ocasião, é permitido fazer barulho ao chupar vorazmente os crustáceos para extrair o máximo de caldo.
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Celebrando – à maneira sueca
O Primeiro Surströmming TODOS OS PAÍSES têm suas iguarias exóticas como, por exemplo, insetos, tripas ou pedaços de carne em diferentes estágios de putrefação. A Suécia possui o notório arenque fermentado (surströmming) que é uma tradição. Embora nem todos os suecos apreciem esse prato, ele vem se tornando cada vez mais popular, mesmo entre gourmets. Mas é necessário esclare-
cer que quem o come realmente gosta do sabor, pois ninguém faria algo assim somente para se divertir! O prato é preparado com pequenos arenques do Báltico, pescados durante a primavera, salgados e fermentados conforme um processo consagrado pelo tempo. Cerca de um mês antes de estar pronto para ir à mesa, o arenque é embalado hermeticamente em
Recomenda-se abrir latas de arenque azedo ao ar livre!
O Primeiro Surströmming
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latas lacradas, mas a fermentação continua, tanto
Alguns ajustes são necessários, todavia, para manter
que as latas chegam a inchar depois de certo tempo,
o equilíbrio.
em cima e em baixo. Tradicionalmente, a maioria dos produtores encontra-se na costa norte da Suécia. Devido à grande pressão que se forma dentro das
A maneira tradicional de comer o arenque azedo é enrolado em um sanduíche de ‘pão fino’ (klämma). Passa-se manteiga no pão, recheia-se com o arenque
latas, é necessário abri-las debaixo d’água. Antes de
destripado e algumas fatias de batatas amendoadas
servir, lava-se o arenque. As latas são abertas ao ar
(mandelpotatis) e cebolas cortadas, enrola-se tudo e
livre, mas é melhor consumir os arenques dentro de
bom apetite. A leve doçura da batata e da cebola com-
casa, pois o cheiro forte pode atrair moscas.
pensa, com perfeição, o sabor intenso e acentuado do
O arenque azedo possui um odor forte e pun-
peixe. No norte da Suécia, as pessoas passam uma
gente de peixe em putrefação. Os entusiastas desse
espécie de requeijão de leite de cabra (getmessmör) no
prato adoram esse aroma, ao passo que os novatos
pão, além da manteiga comum.
recuam em estado de choque. Contudo, o sabor de
A Festa do Primeiro Arenque Azedo ocorre no
um arenque fermentado bem preparado não lembra
final de agosto, quando os pescados da primavera
em nada o seu cheiro. Pelo contrário, o sabor é, ao
chegam aos mercados. Aficcionados, comem arenque
mesmo tempo, suave e acentuado, picante e salgado.
conservados por mais de um ano.
O Primeiro Surströmming O Surströmming, arenque báltico fermentado, é produzido por meio de um método antigo de fermentação usado na Europa Setentrional e na Ásia para preservação de peixes. Antigamente, era um prato comum entre os camponeses do norte da Suécia, e também era utilizado como provisão para caçadores e viajantes, mas, atualmente, tem um caráter mais sazonal. Comer essa iguaria de cheiro tão forte é uma espécie de teste de masculinidade, e o prato tende a dividir a população em duas facções: os contra e os a favor.
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Celebrando – à maneira sueca
Halloween GERALMENTE, A CELEBRAÇÃO de um costume particular tem raízes longínquas. Alguns costumes são tradicionais, com ênfase nas origens religiosas, ao passo que outros têm uma natureza mais contemporânea e comercial. Quando um costume é exportado, contudo, as raízes geralmente são perdidas. Assim, atualmente as abóboras de Halloween na Suécia são feitas de plástico, e as fantasias das crianças podem ser compradas no supermercado da esquina. O Halloween passou a ser celebrado na Suécia somente a partir dos anos 90, e rapidamente se estabeleceu no país, como resultado de uma inteligente estratégia de marketing. No início de novembro, a Suécia fica envolvida em escuridão, e as longas semanas de trabalho parecem não ter fim. Não há feriados A ideia é parecer o mais assustador possível!
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Celebrando – à maneira sueca
ou fins-de-semana prolongados nesse período entre as férias de verão e o Dia de Todos os Santos. Assim, o Halloween anuncia o feriado escolar de outono e representa uma diversão bem-vinda no meio da escuridão. A ocasião é principalmente comemorada pelas crianças e adolescentes, que vão às festas à fantasia, acendem lanternas, e saem às ruas para espantar os vizinhos. Muitos bares e restaurantes promovem festas de Halloween e decoram seus locais com enfeites assustadores. Halloween é uma festa que veio para ficar. Na ilha de Öland, no Báltico meridional, a chegada de Halloween levou a um aumento no cultivo de abóboras, que agora são facilmente encontradas na Suécia.
Halloween Com a difusão do Cristianismo, o Samhain pagão passou a ser chamado Hallowmas, ou Dia de Todos os Santos, para homenagear as almas dos mortos que haviam sido canonizados naquele ano. Assim, a noite anterior passou a ser conhecida como Halloween, ou AllHallowsEve (Véspera de Todos os Santos). Samhain era um festival celta para a colheita, que marcava o fim do verão e o início das atividades de inverno. A noite era considerada um momento de transição mágico, quando os mortos chamavam os vivos e as muitas criaturas sobrenaturais estavam livres. As pessoas acendiam fogueiras, vestiam-se com roupas especiais e iam de porta em porta pedindo doces ou travessuras. Eles esculpiam rostos nos nabos e acendiam velas dentro deles. Esses vegetais iluminados representavam a alma vagante de Jack, o Ferreiro, e eram chamados de Jack Lanterna. A Festa de Halloween foi levada para os Estados Unidos pelos imigrantes irlandeses na década de 1840 e tornou-se uma festividade muito popular naquele país. A abóbora substituiu o nabo, e a ocasião passou a ser celebrada com brincadeiras e com desfiles especiais. Na década de 1990, o Halloween estabeleceu-se na Suécia, onde é comemorado de forma assustadora por crianças e jovens.
Dia de Todos os Santos O DIA DE Todos os Santos é uma data de dignidade e
No sul da Suécia, essa data marca o fim das ativi-
reflexão. O costume de acender velas nos túmulos de
dades externas, ao passo que, no norte, o Dia de Todos
familiares ainda é bastante difundido, e todos os que
os Santos sinaliza o início do inverno e a tradicional
viajam pela Suécia nesse fim de semana deparam-se
abertura da temporada de esqui alpino.
com belas cenas. Com sorte, a primeira neve já terá
Até recentemente, as lojas ficavam fechadas
caído sobre os cemitérios do país. Os inúmeros pon-
nessa data. Embora isso não ocorra mais em todos os
tos de luz das velas e lanternas acesas nas sepulturas
lugares, a maioria dos suecos não trabalha, e os que
formam belos desenhos na neve e dão um aspecto
não vão ao cemitério costumam ficar em casa com
especial à paisagem.
a família e cozinhar algo de especial. Muitas igrejas
As pessoas também depositam flores e coroas nos túmulos no Dia de Todos os Santos. Uma jarra de
organizam concertos para celebrar o Dia de Todos os Santos.
urze florida suporta bem o frio dessa época do ano.
Dia de Todos os Santos No ano 731 d.C., o dia 1º de novembro era considerado uma data para lembrar dos santos da igreja que não tinham seu dia próprio. A partir do século XI, o dia 2 de novembro foi dedicado a todos os mortos, sem exceção, e era chamado de Dia de Todas as Almas. A data era observada por todo o povo, com réquiens e sinos, mas foi abolida com a chegada da Reforma. Em 1772, o Dia de Todos os Santos passou a ser celebrado no primeiro domingo de novembro, e em 1953, a data foi mudada para o sábado
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Celebrando – à maneira sueca
que caísse entre os dias 31 de outubro e 6 de novembro. Antigamente, os túmulos eram decorados na época do Natal, quando pequenas árvores de Natal ornadas com velas eram colocadas sobre os túmulos de crianças. No século XX, as pessoas começaram a colocar velas acesas sobre os túmulos no Dia de Todos os Santos. Esse costume teve origem entre as famílias abastadas das cidades médias e grandes. Após a II Guerra Mundial, o costume difundiu-se em todo o país.
Velas são acesas ao anoitecer em todos os cemitérios do país.
Dia de São Martinho O DIA DE São Martinho é a festa do ganso – todas as
sangue e caldo de ganso, e ricamente temperada com
outras conotações já foram, há muito, esquecidas. No
purês de fruta, bebidas alcoólicas e especiarias, tais
início de novembro, os gansos estão prontos para o
como cravo-da-índia e gengibre. A sopa é densa e de
abate, e no dia 11 de novembro é realizada a primeira
cor preta, meio avermelhada.
grande ceia de ganso assado. Algumas pessoas cozi-
A sopa preta é servida com tripas de vários tipos,
nham o prato em casa, mas a maioria prefere ir a um
e também com linguiça de fígado de ganso, ameixas
restaurante. O costume é particularmente popular
secas ensopadas e batatas.
em Skåne, no sul da Suécia, onde a criação de gansos
O ganso é recheado com maçãs e ameixas secas, e
é uma atividade praticada há muito tempo; gradual-
assado lentamente enquanto é constantemente regado
mente, a tradição se espalhou pelo norte do país.
com sua própria gordura. A carcaça é, então, fervida
Uma ceia de ganso é, na verdade, um banquete. De-
com água até que o caldo engrosse. As sobras de gor-
mora muito tempo para assar e é um prato que sacia.
dura são utilizadas para preparar os acompanhamen-
Todas as partes do ganso são usadas. O jantar começa
tos: repolho roxo, batatas e maçãs assadas. Uma ceia
com uma ‘sopa preta’ agridoce (svartsoppa), feita com
de ganso completa não pode faltar charlote de maçã.
Dia de São Martinho (‘Ganso de Martinho’ São Martinho de Tours originalmente escolheu o ganso como seu símbolo pessoal, porque quando tentou evitar ser ordenado bispo, ele se escondeu em meio aos gansos, mas foi traído pelo grasnar das aves. Seu dia é celebrado em novembro, quando os gansos estão prontos para o abate. O Dia de São Martinho era um importante banquete medieval de outono, e o costume de comer gansos espalhou-se da Suécia para a França. Foi primariamente observado pelos artesãos e nobres das Delicioso também com recheio de maçã e ameixa, sem falar da sopa preta.
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Celebrando – à maneira sueca
cidades. Na comunidade camponesa, no entanto, nem todos tinham dinheiro para comprar gansos, e então comiam patos ou frangos em seu lugar. O hábito de tomar ‘sopa preta’ e comer ganso na mesma refeição é relativamente recente, e provavelmente surgiu no ambiente de restaurantes e bufês. São Martinho também era um dia importante para os que acreditavam na sorte. Se nevasse nesse dia, não haveria neve no Natal. Se o feriado coincidisse com uma sexta-feira ou sábado, o inverno seria muito rigoroso.
Advento QUANDO CHEGA o mês de dezembro, a Suécia já tem poucas horas de luz natural por dia. O sol desaparece na parte da tarde. O primeiro domingo do Advento é um sinal, aguardado com ansiedade, de que o Natal está chegando – embora, a essa altura, o mundo do comércio já tenha anunciado o que está por vir: campanhas de vendas começam em meados de novembro, e as vitrines e decorações de Natal já foram todas arrumadas. Apesar de as decorações comerciais estarem lá por um motivo bem específico, elas também servem a outro propósito: manter a escuridão afastada. Em todo o país, os suecos colocam velas elétricas nas janelas – muitas vezes uma vela por janela – e decoram
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Celebrando – à maneira sueca
suas árvores de Natal no jardim com luzes coloridas. No norte da Suécia, onde o sol de meia-noite brilha no verão, o astro nunca sobe acima da linha do horizonte nessa época do ano. “Vai chegar logo”, dizem os suecos uns aos outros quando se encontram. Falta pouco para o solstício de inverno, em 21 de dezembro, e os dias começam a ficar menos escuros. No primeiro domingo, as pessoas acendem a primeira vela do Advento. Esse é sempre um evento especial, aguardado ansiosamente. A cada domingo até o Natal, outra vela é acesa (e apagada logo em seguida), até que quatro velas estejam queimando. As expectativas das crianças aumentam com cada vela. Na televisão, há também uma programação especial
Bolachas de gengibre e caramelo precisam estar prontos a tempo. Os candelabros de quatro velas – uma para cada domingo – são o destaque da decoração de Advento. Quando todas as velas estiverem acesas, é sinal de que o Natal está próximo.
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Advento Advento significa chegada, ou vinda, e desde o século V d.C. tem anunciado a época do Natal e o nascimento de Cristo. Desde a década de 1890, o costume na Suécia é acender uma vela a cada domingo durante o Advento. As velas costumavam ser colocadas em pequenas árvores de Natal, mas desde os anos 30 do século XX, essas arvorezinhas foram substituídas por velas de metal ou madeira. O costume moraviano de pendurar uma estrela de papel, palha
ou papelão nas janelas também foi adotado na Suécia nos anos 30, como um símbolo da estrela que guiou os Três Reis Magos. O Calendário do Advento também data dessa época. As crianças abrem uma janela no Calendário a cada dia que passa até a Véspera de Natal. Quando a Suécia era uma nação agrícola, o Advento era um período agitado, e todas as atividades da terra tinham de ser concluídas antes que as pessoas pudessem tirar férias no Natal. Antes do dia 9 de dezembro, o Dia de Ana, as
bebidas para o Natal tinham de estar prontas, o lutfisk de molho, e os pães e bolos assando. No Dia de Luzia, 13 de dezembro, as velas deviam estar prontas, e os animais que seriam servidos à mesa de Natal eram abatidos. Passado o Dia de Tomas, 21 de dezembro, todas as atividades de moagem e fiação tinham de cessar. As feiras de Natal eram realizadas nas cidades. Desde a Idade Média, os suecos bebem glögg (quentão de vinho) no período do Advento.
de Natal com 24 episódios, que serve como contagem regressiva para o grande dia. Nas cidades, as feiras de Natal que vendem artesanato e decorações são uma visão comum, enquanto nas casas as pessoas começam a preparar os doces que serão consumidos nas festas. Dezembro é um dos meses mais agitados do ano para as famílias suecas. Há sempre muito trabalho nessa época. Muito deve ser feito em um curto espaço de tempo, antes que todos possam sentar-se para relaxar com suas famílias. Enquanto isso, para as crianças, o mês de dezembro inclui muitas cerimônias de final de semestre, espetáculos e atividades. A paz e tranquilidade tão esperadas vêm mais tarde, quando todas as preparações tiverem sido concluídas e o Natal puder começar de verdade. No primeiro domingo do Advento, muitos suecos reúnem-se para beber glögg – um quentão de vinho temperado com especiarias – acompanhado de amêndoas, passas e bolachas de gengibre.
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Celebrando – à maneira sueca
Lucia A SUÉCIA É uma nação igualitária nos dias de
cabelos’, o que, na prática, é uma coroa de lâmpadas
hoje, o que significa que qualquer criança pode ser
sobre sua cabeça. Cada uma das criadas também car-
escolhida para representar Lucia na procissão anual
rega uma vela, enquanto os pais aguardam no escuro
da creche local – não somente as mais bonitas, com
com suas máquinas fotográficas digitais prontas
longos cabelos louros. Os meninos geralmente prefe-
para as fotos.
rem o papel de duendes (tomtar) ou ‘meninos-estrela’
Os meninos-estrela, que assim como as criadas,
(stjärngossar) na procissão, ao passo que muitas meni-
vestem túnicas brancas, carregam estrelas em bas-
nas aceitam ser as criadas de Lucia (tärnor). As velas
tões e usam chapéus pontudos de papel na cabeça.
de verdade, utilizadas antigamente, foram substituí-
Os duendes vêm ao fundo, carregando pequenas
das por outras a pilha, mas ainda há uma atmosfera
lanternas.
especial quando as luzes são apagadas e o som do
A competição pelo papel de Lucia pode ser acir-
canto das crianças cresce enquanto elas entram na
rada. A cada ano, uma Lucia nacional é proclamada
sala. Reza a tradição que Lucia deve ter ‘luz em seus
por um ou outro canal de televisão, e toda cidade-
Doces de açafrão (lussebullar) e vinho quente com especiarias (glögg) são obrigatórios no Dia de Lucia.
Lucia
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No Dia de Lucia, os pais têm a oportunidade de experimentar suas novas câmeras digitais.
zinha ou aldeia que se preze também escolhe sua
antiga com um papel duradouro de portadora da luz
própria Lucia oficial. As candidatas são apresentadas
nos escuros invernos suecos. As muitas músicas em
nos jornais locais cerca de duas semanas antes da
homenagem a Lucia têm, todas, o mesmo tema:
decisão. Firmemente avessa a privilégios, a Suécia sempre evitou classificar as pessoas, e por isso os
A noite caminha com passos pesados
concursos de beleza são raros. A celebração de Lucia,
Por entre os jardins e as casas
todavia, é uma exceção. Todos os anos, os assinantes
Em locais intocados pelo sol
de jornais locais são convidados a votar em uma das
As sombras espreitam
candidatas. Não é mais possível contar com a vitória
Em nossas escuras casas quando ela chega
de uma lourinha, mas é verdade que muitas vence-
Carregando velas acesas
doras do concurso de Miss Suécia começaram suas
Santa Lucia, Santa Lucia
‘carreiras’ como Lucia. No Dia de Lucia, o nome da vencedora é anunciado e ela desfila pela cidade, em
Todos os suecos sabem as músicas de Lucia de cor,
uma carruagem ou outro veículo semelhante, para
e todos cantam, mesmo os mais desafinados. Na
espalhar luz e música nos mercados, fábricas, asilos e
manhã do Dia de Lucia, as rádios tocam versões mais
postos de saúde.
apuradas, executadas por corais de estudantes ou
Junto com a festa do Solstício de Verão, as cele-
outros grupos. As Festas de Lucia também incluem
brações de Lucia representam uma das principais
bolachas de gengibre e pãezinhos doces de açafrão
tradições culturais da Suécia, com sua clara referên-
(lussekatter), que têm a forma de um gato enrolado
cia à vida das comunidades camponesas do passado:
com olhos de passas. É comum comê-los com glögg ou
trevas e luz, calor e frio. Lucia é uma figura mística
café.
Lucia, 13 de dezembro A tradição de Lucia remete tanto a Santa Lucia de Siracusa, uma mártir que morreu em 304, e à lenda sueca de Lucia, a primeira esposa de Adão. Diz-se que ela uniu-se ao Diabo e que seus filhos eram habitantes invisíveis do Inferno. Assim, o nome pode ser associado a lux (luz) e a Lúcifer (Satanás), e suas origens não são fáceis de determinar. O costume atual parece ser uma mistura de tradições. No antigo almanaque, a Noite de Lucia era a mais longa do ano. Era uma noite perigosa, em que seres sobrenaturais estavam soltos e os animais podiam falar. Na manhã, após terem mordido as manjedouras três vezes devido à fome, os animais recebiam
uma ração especial. As pessoas também precisavam de alimentos extras, e eram encorajadas a tomar sete ou nove cafés-da-manhã reforçados. Esse tipo de abundância sinalizava o início do jejum de Natal, que começava no Dia de Lucia. A última pessoa a se levantar naquela manhã recebia o apelido de ‘LusseLusen’ e era espancada – de brincadeira – nas pernas com ramos de bétula. O abate e a debulha já deviam ter terminado, e as despensas deveriam estar cheias de comida para o Natal. Na Suécia camponesa, os jovens vestiam-se como personagens de Lucia (lussegubbar) de noite e iam de casa em casa entoando cânticos e pedindo comida e schnapps. A primeira aparição registrada de
uma Lucia vestida de branco na Suécia foi em 1764, no interior do país. O costume não se popularizou na sociedade sueca até o século XX, quando as escolas e associações locais, em particular, começaram a promovê-lo. O antigo costume de lussegubbar praticamente desapareceu com a migração urbana, e as Lucias de branco com suas procissões e cantos foram consideradas uma forma de celebração mais aceitável e controlada do que as confusões juvenis do passado. Estocolmo proclamou sua primeira Lucia em 1927. O costume de Lucia servir café e pãezinhos (lussekatter) começou na década de 1880, embora esses doces já existissem há muito mais tempo.
Lucia
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Natal APÓS QUASE UM mês de espera, chega finalmente
sam ser reservadas com pelo menos dois meses de
a Véspera de Natal – o ápice da celebração na Suécia.
antecedência, e os motoristas são aconselhados a
As atividades de trabalho estão no fim, as crianças
iniciar sua viagem sem pressa.
estão de férias e os preparativos para o Natal estão
O Natal na Suécia é uma mistura de costumes na-
prontos. As pessoas já compraram os presentes e co-
cionais e estrangeiros, que foram reinterpretados, re-
midas para o Natal nas lojas e shoppings lotados, e as
finados e comercializados de sua própria maneira da
casas foram limpas e decoradas conforme os hábitos
sociedade agrícola até os dias de hoje. Atualmente, a
e tradições de cada família.
maioria dos suecos comemora o Natal mais ou menos
O Natal é o principal evento familiar do ano, e
da mesma forma, e muitos costumes e especialidades
sempre há um pouco de discussão sobre onde passar
locais desapareceram, embora cada família alegue
essa festa a cada ano. A Suécia, conforme menciona-
celebrar o Natal da maneira mais correta, de sua
do, é um grande país, e os que desejam reunir-se com
própria forma.
suas famílias muitas vezes têm de viajar grandes distâncias. As passagens de trem ou de avião preci-
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Celebrando – à maneira sueca
O que se come no Natal pode depender da região do país e de sua origem. Contudo, aqui também há
Esperar por o Papai Noel leva o dia todo. Pelo menos Ê assim que parece para muitas crianças.
Celebrating the Swedish way
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uma certa homogeneização, devido, em boa parte,
e, às vezes, obrigatórias – visitas a amigos e parentes.
ao que é oferecido nas grandes lojas e nos pequenos
Os suecos viajam muitas milhas durante o período de
comércios. Poucas pessoas têm tempo de salgar seus
festas. O Dia de Natal com os Olssons, o dia seguinte
próprios presuntos ou rechear suas próprias lingui-
com os Perssons, e uma semana esquiando nas mon-
ças nos dias de hoje.
tanhas com os Svenssons!
‘Fanny e Alexander’, o filme de Ingmar Bergman
Talvez a comemoração de Natal seja mais compli-
vencedor do Oscar, embora ambientado no final do
cada do que nunca nos dias de hoje. As constelações
século XIX, reflete, assim mesmo, as comemorações
familiares de hoje incluem ex-mulheres e ex-mari-
de Natal atuais: uma ocasião alegre e cheia de luz,
dos, filhos de vários casamentos, novos parentes e
excessos, boa comida e alegria, mas também um mo-
sogras – tudo isso é difícil de encaixar no tipo de festa
mento em que segredos de família vêm à tona.
íntima e familiar que os suecos, no fundo do coração,
O feriado de Natal e Ano Novo é bastante longo, geralmente até a primeira semana de janeiro. Após a Véspera de Natal, começa uma série de agradáveis –
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preferem. Como se não já houvesse pressão suficiente para celebrar um Natal perfeito! Como regra, os suecos esperam muito do Natal.
Tem de haver neve no chão, céu azul e raios de sol;
miliar. Algumas são ornadas com bandeiras, outras
todos devem estar bem de saúde, o presunto tem de
com guirlandas, e muitas usam bolas coloridas. Em
estar suculento e saboroso, e os presentes devem ser
geral, luzes elétricas são utilizadas no lugar de velas,
em grande quantidade. Acima de tudo, as crianças
para evitar o risco de incêndio.
devem estar felizes e bem comportadas, e a casa, quente e iluminada. Todos fazem o melhor que podem, e os suecos tal-
As casas também são decoradas com tapeçarias com desenhos de duendes e cenas de inverno, toalhas de mesa com motivos natalinos, velas, pequenas figu-
vez estejam em uma situação melhor do que o resto
ras de Papai Noel e de anjos. As casas são preenchi-
do mundo para celebrar o Natal. As onipresentes
das com o forte perfume de jacintos.
velas e luzes fornecem um contraste agradável com a
Às três horas da tarde, todos os suecos ligam a TV
escuridão do inverno; as casas de sequoia são muito
para assistir ao desfile de cenas de filmes da Disney,
bonitas quando cobertas de neve; e os pinheiros er-
que são exibidas desde a década de 1960 e mantêm
guem-se escuros e plácidos às margens dos bosques.
boa audiência até hoje. Só então as celebrações come-
O Papai Noel viaja pelo país e a Estrela do Norte
çam de verdade.
brilha no céu da noite. No dia anterior à Véspera de Natal, os suecos saem
Os presentes de Natal ficam embaixo da árvore iluminada, as velas brilham e o smörgåsbord já foi
em busca da árvore de Natal perfeita. Esse é um
preparado com os pratos tradicionais: presunto de
assunto muito sério – a árvore é o símbolo do Natal, e
Natal, linguiça de porco, uma mistura de ovos e
deve ser reta, ter muitos ramos e uma forma simé-
anchovas (gubbröra), salada de arenque, arenque em
trica. As pessoas que vivem nas cidades compram
conserva, patê de fígado feito em casa, pão de centeio
as árvores nas praças e ruas, mas os que vivem no
com ervas (vörtbröd), batatas e um prato especial de
campo cortam suas próprias árvores. Muitos suecos
peixe (lutfisk). O presunto é inicialmente cozido, de-
acreditam – erroneamente – que o fato de terem livre
pois pintado e umedecido com uma mistura de ovos,
acesso aos campos e bosques lhes dá o direito de cor-
farinha de rosca e mostarda. O lutfisk é uma espécie
tar árvores sempre que quiserem, com um machado,
de bacalhau seco colocado de molho para inchar
um serrote ou, como na Värmland ocidental ou na
antes que seja cozinhado.
fronteira com a Noruega, com uma arma de fogo, o que não é nada recomendável. As árvores são decoradas conforme a tradição fa-
Após o banquete, Papai Noel em pessoa chega para desejar a todos um Feliz Natal e distribuir os presentes.
Natal
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Natal O Natal, é, há muito tempo, a mais importante festividade do ano. No passado, era um banquete para toda a família com grande abundância de comidas frescas. A mesa de Natal era preparada com presunto, arenque em conserva, pés de porco em gelatina, linguiças, mingau de arroz e lutfisk (tipo de bacalhau). A
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comida tinha de ser deixada na mesa durante a noite, pois era nessa hora que os mortos vinham para se deliciar. As casas eram limpas e decoradas com tapeçarias, e colocava-se palha nova no chão. Os pássaros ganhavam uma ração de aveia e o mítico duende da fazenda recebia um prato de mingau.
A prática de trazer uma árvore de Natal para dentro de casa e decorá-la foi importada da Alemanha na década de 1880. Inicialmente, os presentes de Natal eram distribuídos anonimamente e de forma brincalhona – muitas vezes um toco de madeira ou algo parecido embrulhado e jogado pela porta da frente de casa. No século XX, as pessoas começaram a trocar presentes de verdade, entregues por Papai Noel, que lembrava São Nicolau, o santo patrono dos estudantes. Na missa da manhã ( julotta) do Dia de Natal, podiam-se ver traços de terra nos bancos de igreja, onde os mortos haviam realizado suas próprias celebrações durante a noite. Após a cerimônia, as pessoas corriam para casa, pois quem chegasse mais cedo teria a primeira colheita do ano. No dia seguinte ao Natal, as pessoas acordavam cedo para dar de beber aos cavalos nos córregos que corriam na direção norte, assim como havia feito São Estevão (Staffan), o patrono dos cavalos. Outra brincadeira – que também violava a regra de não trabalhar – era sujar os celeiros dos outros. A Décima Segunda Noite comemora a chegada dos Reis Magos em Belém. A tradição sueca de ‘meninos-estrela’ (stjärngossar) deriva desse fato. Antigamente, os rapazes iam de uma fazenda a outra carregando estrelas de papel e entoando cânticos em troca de schnapps. Hoje em dia, os meninos-estrela fazem parte da Festa de Luzia. O dia 13 de janeiro – Knutsdagen – marcava o fim das festas de Natal na Suécia e era comemorado com um último banquete em estilo medieval. As pessoas assustavam umas às outras com figuras de palha penduradas em árvores. Nas casas mais ricas, os ornamentos comestíveis de Natal pendurados nas árvores são saqueados, prática ainda comum na Suécia.
O Instituto Sueco (SI) é uma agência pública que visa à promoção do interesse e da confiança na Suécia em todo o mundo. O Instituto busca estabelecer cooperação e relações duradouras com outros países através de comunicação estratégica e intercâmbio nas áreas de cultura, educação, ciência e negócios. O SI atua em estreita colaboração com embaixadas e consulados suecos do mundo inteiro. Para obter mais informações sobre o SI e a Suécia, visite os sites www.si.se e www.sweden.se
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© 2004, 2016 Po Tidholm, Agneta Lilja e o Instituto Sueco Os autores são os únicos responsáveis pelas opiniões expressas nesta publicação. Traduzido para o Português por Marsel de Souza Design gráfico por Typisk Form designbyrå Fonte Eames Century Modern Impresso no Brasil por Elanders Brasil, São Paulo, Brasil, 2016 ISBN 978-91-86995-75-1
VOCÊ ESTÁ CURIOSO SOBRE o mítico Solstício de Verão, quando os suecos usam coroas de flores na cabeça e dançam ao redor de um mastro suspeitosamente fálico? Ou sobre o dia 13 de dezembro, quando os suecos logo pela manhã comem pãozinho de açafrão, participam de um canto coral e de uma procissão liderada por Lucia com velas nos cabelos?
Em ”Celebrando à maneira sueca”, descobrimos como estações, tempos pagãos, Cristianismo, imigração e, com efeito, a curiosidade insaciável dos próprios suecos contribuiu para a formação das tradições suecas em constante evolução. Você pode reconhecer traços de suas próprias tradições e ficar perplexo diante da natureza extraordinária de outras.