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TODA UMA VIDA DEDICADA AO VINHO
Dominic Symington
Dominic Symington, produtor de Vinho do Porto de 4.ª geração, reformou-se no final de 2021, após 31 anos de atividade dinâmica e envolvimento no mundo dos vinhos do Porto e do Douro, durante os quais deu um contributo longo e duradouro à empresa familiar. Já sentimos a falta da sua energia, otimismo, convívio, jovialidade e irresistível sentido de humor.
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Em 1990, Dominic juntou-se à empresa familiar em Portugal, como Diretor de Vendas, após um período de cinco anos de colaboração na Fells, o distribuidor britânico propriedade da família. Durante as últimas três décadas, ajudou a desenvolver a estratégia comercial da empresa e a aumentar significativamente as vendas dos nossos vinhos em todo o Mundo. Nenhum outro membro da família Symington viajou tão amplamente nem realizou tantos eventos e provas na sua carreira como o Dominic. A sua incrível energia e determinação não só reforçaram a posição da família nos mercados tradicionais do Vinho do Porto, tais como Portugal, Reino Unido e EUA, como contribuíram para estabelecer uma forte presença em novos mercados, como a Escandinávia, Alemanha, Rússia e Brasil, entre outros. O encanto natural e o elevado sentido de humor do Dominic fizeram com que ao longo da vida tenha estabelecido longas e fortes relações no setor do vinho.
Para além das vendas, Dominic foi igualmente responsável por áreas-chave do negócio. Geriu a nossa carteira de vinhos do Porto Vintage, colocando no mercado Portos Vintage antigos e raros. Dirigiu uma das nossas magníficas e mais icónicas propriedades no Douro, a Quinta do Vesúvio - produzindo vinhos do Porto Vintage e três vinhos tintos. Quando adquirimos a nossa primeira propriedade fora do Vale do Douro – a Quinta da Fonte Souto, no Alentejo – Dominic liderou o projeto de renovação da antiga adega e a comercialização dos primeiros vinhos da colheita de 2017. Dominic foi também presidente da Portfolio, o distribuidor de vinhos - empresa da Symington - em Portugal.
Nascido no Porto em 1956, Dominic frequentou o Ensino Primário em Portugal e o Secundário no Reino Unido. Começou a carreira no setor do vinho na Saccone & Speed, o então importador britânico do Porto Warre’s, uma das marcas da família. Mais tarde, em Londres, depois de se juntar a um distribuidor de vinhos independente da cidade especializado no on-trade (restauração/hotelaria), formou uma carteira de clientes junto de hotéis, bares e restaurantes, através de contactos diretos, porta a porta.
(Esquerda) Dominic na sala de provas de Gaia no início da década de 1990.
(Em baixo) Na Quinta do Bomfim numa reunião de família em meados da década de 1990.
Em 1985, juntou-se ao distribuidor britânico pertencente à família, J.E. Fells, e ajudou a desenvolver a divisão de vinhos finos da empresa no Reino Unido. Na sequência de um convite do seu pai, Michael Symington, e dos seus tios, Dominic regressou ao Porto e juntou-se ao negócio da família em janeiro de 1990. Dominic é casado com Laura há 35 anos. Têm um filho, Anthony, que trabalha na Fells, gerindo os vinhos da família no Reino Unido desde 2018. As suas duas filhas vivem no Porto; Harriet é professora numa escola internacional, e Isabel é designer de interiores. Numa mensagem de despedida aos colegas de trabalho, Dominic, - ‘Dom’ - como é tratado pelos próximos, escreveu:
‘Estou particularmente orgulhoso de ver o meu filho Anthony juntar-se ao negócio ao lado de seis dos seus primos. Caber-lhes-á assegurar a continuidade na produção de vinhos excecionais nesta bela região e a integrar a próxima geração da família. Continuarei ativamente envolvido a desempenhar o meu papel enquanto desfruto da minha reforma e passo o meu tempo entre o Porto e o Douro.’
“Comecei a minha carreira profissional em setembro de 1976, ao serviço da Saccone & Speed, a divisão ‘Wines & Spirits’ da Courages Brewery. Eram os agentes da Warre no Reino Unido e ingressei no quadro de estagiários de gestão, tendo trabalhado em praticamente todos os departamentos operacionais. No meu segundo dia, disseramme para me apresentar às 7 horas e para “não me preocupar em usar gravata” - a primeira tarefa foi acompanhar os motoristas de entregas que repõem stocks nos bares de alguns dos bairros menos respeitáveis de Londres, o que constituiu para mim um grande abrir de olhos e me permitiu descobrir palavras do vocabulário inglês que nem sonhava que existiam!
Enquanto trabalhava na sala de provas como assistente júnior, tive contacto com um vinho extraordinário que me tornou apreciador do bom vinho para o resto da minha vidaainda hoje me lembro bem da marca: Château Ducru-Beaucaillou 1961 (um dos melhores anos de sempre de Bordéus). Foi também enquanto trabalhava na sala de provas que aprendi muito com Bill Warre sobre o Vinho do Porto. Bill era um membro da família Warre que tinha sido nosso parceiro em Portugal. Era um reconhecido especialista britânico de Vinho do Porto e dedicava tempo para provar comigo e explicar-me todos os Portos (na verdade, todos os vinhos). Foi com ele que aprendi essencialmente tudo o que sei sobre prova de Vinho do Porto e de vinhos em geral. Deixei a Saccone & Speed no final de 1979, passando sete meses a fazer trabalho de promoção de vendas para o nosso distribuidor da Graham’s no Norte da Califórnia, antes de regressar ao Reino Unido, mais concretamente a Londres, para assumir o cargo de vendedor numa pequena empresa independente de distribuição especializada no comércio on-trade (canal HORECA).
O contrato implicava ser pago à comissão, tendo-me sido dado um pequeno número de clientes, pelo que, na prática, tive de construir de raiz a minha própria carteira. Embora fosse um momento de enorme crescimento financeiro no Reino Unido, tive pela frente um trabalho muito árduo para elaborar uma base de clientes rentável. Depois de um início muito difícil, em que fazia uma lista de todos os hotéis e restaurantes de uma zona de Londres e simplesmente andava pelas ruas a bater às portas, acabei por constituir uma carteira de clientes muito forte.
Em 1985, integrei a Fells, colaborando não só na vertente comercial, mas também dando os primeiros passos na criação de uma divisão especializada de vinhos finos. A Fells de hoje é uma empresa significativamente maior e melhor do que em meados da década de 1980.
Em finais de 1989, o meu pai e tios convidaramme a regressar ao Porto para ocupar um lugar na equipa de vendas, o que fiz em janeiro de 1990. Um dos momentos mais hilariantes da minha carreira aconteceu em São Francisco, durante o lançamento do Porto Vintage 1994, no fim de uma esgotante viagem de cinco dias a cinco cidades dos Estados Unidos. Num jantar pós-apresentação com alguns dos principais jornalistas, a certa altura levanteime para chegar a uma garrafa aberta de Porto Vintage velho, quando senti uma mão agarrar o meu traseiro. Para minha surpresa, era o homem que estava sentado ao meu lado! Soltei um palavrão e afastei a mão. A pessoa partiu e, mais tarde, para diversão dos meus primos, que estavam comigo, todos comentaram que eu deveria ter aceitado os avanços em nome do interesse do negócio da família!
Numa viagem à Rússia - durante tempos mais felizes - foi organizada uma apresentação e prova de vinhos numa importante loja de casacos de pele. É sempre bastante difícil fazer apresentações públicas na Rússia, pois estamos dependentes de um tradutor para manter o ritmo da conversa e manter a atenção da audiência não é nada fácil. Nesta ocasião, pouco depois de começar a apresentação, duas belas modelos apareceram e iniciaram um desfile em casacos de pele entre mim e o público. Quando estava prestes a virarme para falar com o meu distribuidor que se encontrava de pé ao meu lado, as duas modelos tiraram os casacos e ficaram de pé com saltos muito altos e roupa interior microscópica. Fiquei sem palavras, tal como a maioria da audiência, e não faço ideia do que disse a seguir, ou durante o resto da apresentação...”.