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20 ANOS DE DOC DOURO
NA SYMINGTON Rupert Symington relembra as primeiras duas décadas na produção de vinhos tranquilos
Em 2020, as vendas de DOC Douro da Symington Family Estates (SFE) atingiram novos recordes. Duas décadas depois, acreditamos que este poderá ser um excelente momento para fazer uma pausa e refletir sobre o “porquê” e o “como” da entrada da Symington neste importante ramo de negócio. O “quando” é fácil, pois após mais de 200 anos de produção quase exclusiva de Vinhos do Porto de qualidade, foi em 1999 que embarcámos numa viagem ao território relativamente desconhecido de uma oferta séria de vinhos tranquilos de excelência produzidos a partir de uma combinação da produção das nossas próprias quintas com uvas provenientes de agricultores locais.
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Antes de 1999, produzíamos uma certa quantidade de DOC como subproduto do nosso processo de compra de uvas para Vinho do Porto. Ao abrigo da Lei do Benefício, os agricultores entregavam a totalidade das uvas classificadas para a produção de Vinho do Porto até ao limite autorizado, sendo que aceitávamos o remanescente que, por lei, tinha de ser fermentado para vinhos tranquilos. Uma pequena quantidade desta produção era engarrafada com a marca Vale do Bomfim para consumo interno e o restante vendido a granel pela melhor oferta, com um lucro modesto na maioria dos anos. Normalmente, as melhores uvas eram destinadas à produção de Vinho do Porto, e a segunda escolha transformada em DOC, em que utilizávamos a mesma capacidade para a fermentação dos Portos. O resultado era frequentemente vinhos com demasiada extração e taninos em excesso — não desagradáveis, mas sem muita sofisticação. Paralelamente ao que outras empresas tinham vindo a fazer com os seus DOC - Ramos Pinto e Sogrape - desde que a região recebeu, em 1982, a denominação em paralelo à já existente do Vinho do Porto, ponderámos durante toda a década de 1990 se devíamos investir na produção de vinhos DOC. Concluímos que seria melhor concentrarmo-nos no que sabíamos fazer melhor, naquilo em que tínhamos experiência e para o qual tínhamos equipamento e capacidade de continuar um negócio rentável: o Vinho do Porto.
Os investimentos da família na vinha tinham crescido rapidamente nas décadas de 1980 e 1990 e, com os aparentes ganhos de produtividade, cedo se tornou evidente que estávamos a produzir quantidades cada vez maiores de uvas de primeira qualidade que, não estando abrangidas pelo Benefício, teriam de ser introduzidas no mercado a um preço que cobrisse os custos mais elevados de produção nas nossas quintas de topo. Em paralelo, e tendo a produtividade do Douro aumentado devido a novas plantações, verificou-se um acréscimo de produção de DOC na região. A consequente pressão para baixar os preços do vinho a granel fez mesmo com que o escoamento do excesso de produção se tornasse muito menos atrativo do ponto de vista financeiro. Numa reunião do Conselho de Administração em finais de 1998, foi finalmente decidido que a Symington lançaria uma marca de vinho DOC acessível a um mercado mais vasto, produzida a partir da melhor seleção de uvas dos agricultores da vindima de 1999. Pedro Correia foi recrutado para gerir a vertente enológica desse projeto, sob a direção de Charles Symington, e procedemos à construção de um armazém de barricas na Quinta do Sol. A gestão global do projeto foi confiada a Rupert Symington, apoiado inicialmente por Maria José Marques ao nível do planeamento.
Para lidar com a importante questão de comercializar a produção de topo das nossas quintas, que não podia ser transformada em Vinho do Porto, por sugestão de James Symington contactámos Bruno Prats, cuja família tinha vendido recentemente o Château Cos d’Estournel, em Bordéus, com uma proposta para trabalharmos em conjunto para produzir um vinho tinto no Douro feito a partir das nossas melhores uvas, que poderia, em última análise, vir a corresponder aos nossos Porto Vintage em termos de qualidade e reputação. Felizmente, Bruno Prats aceitou, e durante 1999 foi instalada uma nova unidade de fermentação especificamente para DOC de alta qualidade numa “adega dentro de uma adega”, na Quinta do Sol, e um enólogo francês, Stéphane Point, contratado para supervisionar a vinificação. Os primeiros vinhos experimentais foram produzidos na vindima de 1999, utilizando o fruto das quintas do Bomfim, Malvedos e Vesúvio e pequenos lotes de várias castas vinificadas separadamente. Foi então selado um acordo de cavalheiros com a família Prats de que só procederíamos a uma parceria formal se pudéssemos demonstrar desde cedo que era possível produzir vinhos de qualidade superior. Era claro para ambas as partes que a SFE tinha excelente matéria-prima nas suas vinhas para fazer tintos de alta qualidade, mas precisava da experiência de vinificação e a perícia de envelhecimento em barricas dos Prats para os poder transformar em vinhos a valer.
“Foi então selado um acordo de cavalheiros com a família Prats de que só procederíamos a uma parceria formal se pudéssemos demonstrar desde cedo que era possível produzir vinhos de qualidade superior. Era claro para ambas as partes que a SFE tinha excelente matéria-prima nas suas vinhas para fazer tintos de alta qualidade, mas precisava da experiência de vinificação e a perícia de envelhecimento em barricas dos Prats para os poder transformar em vinhos a valer.”
Rupert Symington
Paralelamente, negociámos em 1999 a compra de uma participação de controlo na Quinta de Roriz, que já tinha lançado um DOC de 1996. Por sua vez, o nosso parceiro João van Zeller estava interessado em afastar a propriedade do seu foco histórico na produção de Vinho do Porto para uma ênfase crescente nos DOC. Um Quinta de Roriz Reserva, com uma nova apresentação, foi lançado em 2001. Uma nova marca, Prazo de Roriz, foi criada como segundo vinho da Quinta e lançada em 2002.
Para entrar no segmento de vinho de maior volume (mas não de menor preço) registámos e lançámos, em 2000, a marca Altano, que se veio juntar à Tuella, comprada à empresa Beam, em 1996, e à nossa própria marca Vale do Bomfim. O Altano foi inicialmente lançado com apenas um vinho tinto e mais tarde a gama foi alargada para incluir um branco e um reserva tinto envelhecido em casco. Alguns anos mais tarde, de modo a responder à procura de um tinto de preço premium, desenvolvemos o Altano Bio com base na produção da vinha cultivada em modo de produção biológico na Quinta do Ataíde. O Altano começou com vendas anuais bastante modestas, mas teve um considerável incremento, uma vez que conseguimos que fosse listado na ‘moderna’ em Portugal (‘Moderna Distribuição’ e supermercados). O Tuella cedo beneficiou de uma listagem na Rewe na Alemanha, conseguida por Dominic Symington, que se tem fortalecido ao longo dos anos. O Vale do Bomfim foi lançado no mercado norte-americano para ser vendido aos clientes da PPW e aos monopólios canadianos sob a marca Dow.
Simultaneamente, a nossa entrada nos DOC coincidiu com o lançamento, também em 1999, de uma série de outros projetos importantes na região, incluindo a Quinta do Vale de Meão, a Quinta do Vallado e uma série de novos vinhos da Niepoort, num movimento que passou a chamar-se ‘O Novo Douro’. Pela primeira vez, a Imprensa internacional começou a interessarse seriamente pela qualidade dos vinhos DOC da região e muitos dos seus pioneiros, como a Quinta do Crasto, fizeram importantes investimentos na melhoria das suas instalações de produção, tendo sempre presente a qualidade.
O nosso primeiro verdadeiro sucesso com DOC surgiu com o lançamento do vinho tinto superpremium de estreia da recémformada parceria Prats & Symington, a que demos o nome de Chryseia, que significa ‘de ouro’ (D’ouro) em grego clássico. O Chryseia 2000, produzido em partes iguais a partir de Touriga Nacional e Touriga Franca e estagiado em barricas novas de 400 litros de carvalho francês, obteve um sucesso instantâneo quando lançado em 2002, com a procura em Portugal a disparar quando os compradores locais foram surpreendidos com o facto de termos vendido uma grande parte da produção a uma série de negociantes franceses para serem negociados no clássico “Place” de Bordeaux.
O próximo lançamento, o Chryseia 2001, proporcionou manchetes como o primeiro vinho DOC Douro a entrar na cobiçada lista Top 100 da “Wine Spectator”. Um segundo vinho, Post Scriptum, foi lançado em 2004, e no mesmo ano, adquirimos uma vinha dedicada à P&S, Quinta da Perdiz, no vale do Rio Torto. Sempre foi intenção da P&S comprar a sua própria vinha, tendo já sido feitas naquela altura várias ofertas, sem sucesso, para a aquisição de quintas de relevo que tinham surgido para venda.
O Quinta de Roriz Reserva, elaborado pela equipa de vinificação da SFE, ganhou uma série de importantes prémios em Portugal pelos seus três primeiros lançamentos e, confiantes no sucesso deste vinho, transferimos a sua produção da Quinta do Sol para uma nova adega DOC que construímos na Quinta de Roriz, em 2004. Contudo, a distribuição em Portugal continuou a ser um problema, e a deceção com o desempenho das vendas levou a uma dissolução formal da parceria com João van Zeller em 2007, com a SFE a vender as suas ações no negócio a título definitivo. Felizmente, 18 meses mais tarde, no auge da crise financeira de 2008, o negócio Roriz foi-nos proposto novamente. Aproveitámos de imediato a oportunidade de reinvestir numa propriedade de tão alta reputação e qualidade, embora reconhecendo que ainda necessitávamos de vinha adicional e de uma adega própria para a P&S, decidimos propor à família Prats uma parceria de negócios sob a alçada da parceria P&S. O Chryseia é hoje produzido maioritariamente a partir de uvas da Quinta de Roriz, vinificadas na própria Quinta pela P&S sob a supervisão de Miguel Bessa. Miguel Ferreira tem sido responsável pelo desenvolvimento das vendas em Portugal e pelo apoio à equipa de exportação da SFE. A nomeação do Chryseia 2011 como o terceiro melhor vinho do Mundo em 2014 pelo “Wine Spectator” foi o culminar do sucesso comercial do projeto. Com as vendas a crescerem para além da capacidade das instalações existentes, uma expansão da adega encontrava-se em curso durante a preparação deste artigo para ficar pronta a tempo da vindima de 2021.
Em 2009, lançámos pela primeira vez um vinho DOC Douro da Quinta do Vesúvio. Tínhamos realizado várias experiências ao longo dos anos, mas só com o vinho de 2007 conseguimos atingir o nível a que aspirávamos. Tanto o Quinta do Vesúvio como o Pombal do Vesúvio são produzidos a partir das excelentes castas Touriga Nacional e Touriga Franca em diferentes proporções, mas acrescentando frequentemente cerca de 10% de Tinta Amarela, que confere ao vinho um perfil distinto. São utilizadas uvas colhidas em diferentes altitudes para combinar complexidade e frescura. Estas marcas, sendo relativamente mais recentes do que alguns dos seus pares, são ainda relativamente pequenas em volume comparativamente com o potencial da propriedade, mas tem-se verificado um crescimento encorajador. No final de 2021, acrescentaríamos um terceiro vinho à gama: o ‘Comboio do Vesúvio.’
Em 2016, lançámos pela primeira vez mais um conjunto de vinhos tintos premium sob a marca Quinta do Ataíde. A Quinta do Ataíde e as vinhas vizinhas, Macieira e Carrascal, representam de momento as nossas maiores plantações de vinhas dedicadas especialmente ao DOC, sendo grande parte dela gerida em Modo de Produção Biológico. Encontramo-nos atualmente a construir uma nova adega no Ataíde, que produzirá todos os nossos vinhos DOC Douro premium no futuro. Esta obra terá uma atenção muito especial ao fator sustentabilidade.
As várias marcas têm crescido de forma constante, passando a barreira das 50 mil caixas em 2007 e a marca das 100 mil em 2014. Com a adição de dois importantes contratos de marcas privadas, em 2020 a SFE vendeu mais de 238 mil caixas de vinhos DOC, das quais 182 mil foram comercializadas sob as próprias marcas da SFE. A fim de gerir este crescimento, expandimos, de igual modo, as equipas de vinificação e comerciais, e investimos significativamente na capacidade de fermentação das adegas e no armazenamento a granel. O complicado processo de planeamento de engarrafamento e a previsão das necessidades de produção de vinho é gerido com grande competência pelos membros da equipa DOC, Mariana Brito e Cátia Correia. O apoio à comercialização é prestado pela área do marketing pela mão da Patrícia Vale Lourenço, apoiada pela Cláudia Monteiro (Altano e outras marcas) e pelo André Almeida (vinhos de quinta). As nossas marcas tornaram-se respeitadas no mercado, principalmente por fornecerem qualidade bem acima do preço a que são comercializadas, continuando a ser alvo de excelentes comentários na Imprensa internacional.
Rob Symington e Pedro Leite conceberam recentemente um plano de desenvolvimento “Vinho 2025” para orientar o crescimento do projeto DOC Douro ao longo dos próximos anos, com algumas novas e arrojadas propostas para enriquecer a gama de vinhos. O Pedro é agora responsável pela execução do plano, com Rupert Symington a continuar a supervisionar o projeto, desempenhando o papel de Diretor responsável pelo DOC. Estamos confiantes de que com este enriquecimento da gama teremos uma oferta suficientemente abrangente a todos os níveis de preços para continuar o forte crescimento da categoria que a SFE tem experimentado ao longo dos últimos anos. Estamos também otimistas que, com uma forte liderança da SFE, conseguiremos potenciar a venda do DOC Douro Premium noutros mercados, onde, até à data, temos encontrado mais dificuldades na implantação de vendas significativas. Se, como é provável, o preço das uvas DOC Douro subir no futuro, aproximando-se das uvas para Vinho do Porto, com o posicionamento da nossa carteira de DOC Premium estaremos provavelmente mais bem colocados do que a maioria dos produtores para evitar que as nossas margens sejam ‘exprimidas’. Fazendo eco do seu extraordinário sucesso ao longo dos últimos 20 anos, temos toda a confiança de que o DOC Douro continuará a ser uma parte ainda mais importante da oferta global de vinho da SFE nas próximas duas décadas.