A ÚLTIMA CANÇÃO

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- MEMÓRIA À ARTISTA - INÍCIO DO PROJETO - INSPIRAÇÃO - CRIAÇÃO - PRÉ-PRODUÇÃO - OS PARTICIPANTES - PRODUÇÃO - MONTAGEM - A EXPOSIÇÃO - OS APOIADORES - PRÓXIMO PROJETO

MANAUS-AM


N

ão é tarefa banal realizar projetos artísticos e ser um artista concomitantemente. Quiçá o fator eloquente em relação a este aspecto dê-se em razão do atual cenário pelo qual o Brasil atravessa. São muitos os artistas, que, assim como eu, tentam executar um trabalho de fomento à cultura, e, paralelamente, realizar mostras em galerias. Iniciei meus estudos e cursos na área artística logo cedo, totalmente alheio a este complexo cenário. Na época, embora inconciente da dimensão destas dificuldades, já me apercebia que ‘’fazer arte’’, no meio onde vivo, era sinônimo de muita luta e perseverança para muitos artistas. E realmente é! Estudei publicidade e propaganda, no intuito de realizar, a paritr de minhas ideias e criações, um diferencial no mercado; mas também logo me deparei com o limitado mercado neste âmbito de produções artísticas no meio publicitário. Ao longo dos anos, tentei me desapegar da ‘’arte’’, pois meu receio era de ser rotulado pejorativamente como ‘’artista’’ e fatalmente me confrontar com as dificuldades. Cresci ouvindo máximas do tipo: ‘’Artista em Manaus não dá futuro’’ ou ‘’você irá sofrer’’. Mesmo assim o amor à arte não arrefeceu dentro de mim e, não esmoreci. Desde a adolescência venho realizando trabalhos voltados à literatura e imagem e, ao mesmo tempo, tentando me equilibrar entre o conflituoso binômio ‘criador-artista’ e ‘criador e fotógrafo’, dentro do mercado. Ao tomar conhecimento, ao longo do tempo, de diversas estórias de artistas do passado, uma delas me chamou especial atenção: A de Ária Paraense Ramos; um exemplo de talento, perseverança e respeito dentro de seu métier; que teve sua trajetória prematuramente interrompida, mas que deixou rastros de seu talento, para que nós, artistas, pudessemos nos inspirar, conhecer aquele passado em seus regimentos e cultura, e, ao mesmo tempo, percebermos que ser artista no Brasil, é fazer uma escolha deveras temerária. Não obstante estes riscos, quando a arte nasce verdadeiramente no peito e corre por nossas veias, dificilmente consegue-se desvencilhar-se dela e o que inicialmente é uma chama, transforma-se em uma missão de vida. ‘’Por tanto, ser muito artista no Brasil; seja qual for o período; é perserverá sobre as desventuras da vida’’. TÁCIO MELO ( Idealizador e produtor do projeto)


ÁRIA PARAENSE RAMOS

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ria Paraense Ramos, nascida em 1896, entrou para a história de Manaus, cidade na qual viveu a maior parte de sua breve vida, por dois motivos: Primeiramente, como uma exímia violinista, que se apresentava nos espetáculos, saraus e bailes da cidade, nos anos da chamada “belle époque”, no início do século XX. E, sobretudo, por sua trágica morte, ocorrida em circunstâncias nebulosas que deram ensejo a toda sorte de rumores e lendas nos anos seguintes ao fato. No dia 16 de fevereiro de 1915, uma terça-feira “gorda” de carnaval, após desfilar no corso - como integrante do bloco juvenil ‘Paladinos da Galhofa’ - que percorria as ruas e avenidas do centro da cidade; Ária compareceu ao baile ocorrido no prestigiado Ideal Clube, situado, à época, nos altos de um belo sobrado localizado à Avenida Eduardo Ribeiro, esquina com a Rua Henrique Martins. Durante a festa, após a execução de um número, foi súbita e fatidicamente baleada por um dos foliões presentes ao evento. À época, o autor do disparo foi julgado, mas até hoje ignorase por qual exato motivo o teria feito, o que suscitou toda sorte de especulações. Existem relatos de que a musicista, coincidentemente, executava a valsa ‘’Subindo aos Céus’’, de Aristides Borges, no momento em que foi atingida pelo projétil. Ária foi um ser de extremo talento e pureza e era inimaginável que sua vida fosse embora tão prematuramente, no esplendor da mocidade. Na época, a cidade enlutou-se! Naquele ano, não morreria apenas Ária Ramos, simbolicamente, desvanecia-se toda uma era de grande fausto e prosperidade, impulsionada pelo hegemonia do comércio da borracha, e que encontraria seu ocaso neste exato período. Com ela, iriam embora os sorrisos de quem conseguia ver um amanhã feliz e promissor e chegavam os temores advindos da preocupação de tempos mais árduos.


O PROJETO O projeto ‘’A Última Canção’’ é um tributo à vida e história da violinista Ária Ramos, trazendo uma série de registros fotográficos inspirados na musicista, que é representada pela modelo Gabriella Nunes. A linguagem de todo trabalho foi baseada em pesquisas e relatos sobre a musicista. O projeto foi elaborado para ser realizado com uma concepção poética, dramática e cênica a fim de buscar recriar o mítico episódio que culminou no assassinato da desditosa jovem. Os registros ilustrativos trazem à luz três aspectos sobre a musicista: Sua vida, o talento artístico e sua trágica morte. As expressões, as poses e os movimentos foram cuidadosamente estudados para que a essência dramática estivesse presente em todas as fotografias. Apesar de ser um trabalho contemporâneo, a história da violinista pode ser sentida por meio das imagens de forma harmônica e poética. O projeto traz uma leitura diferenciada e inédita sobre a artista. Concebido e produzido pelo artista e fotógrafo Tácio Melo, e realizado com o trabalho de uma grande equipe de profissionais de Manaus, dentre eles: Luana Bastos (Apoio & Produção); Cidarta Gautamma (figurino); Cecy Procópio ( maquiagem e penteado ); além dos seguintes fotógrafos convidados para participarem do projeto: Thaís Tabosa, Rodrigo Tomzinsky e Bárbara Umbra. Além destes, também contou com o auxílio de outros profissionais que foram envolvidos na produção, mão-de-obra e montagem da exposição.


O INÍCIO Foi durante uma visita ao Cemitério São João Batista, que, em fevereiro de 2012, eu, junto à minha prima Izabela tomamos conhecimento sobre a existência da violinista Ária Ramos - ‘’Fui até o local para fotografar as esculturas e detalhes do cemitério. Estava chuviscando e quase desistimos de continuar o passeio. Um pouco distante, percebemos uma linda escultura em mármore que se destacava em meio aos demais mausoléus, por ser uma das mais belas e maiores. Foi quando vi um semblante ao mesmo tempo triste e alegre, esculpido com uma perfeição que nenhuma outra escultura do cemitério possuía. Eu ainda não havia lido os dizeres de sua lápide, mas quando vi que em um de seus braços segurava um violino, não tive dúvida de que se tratava de uma artista e que pelo fato de ter uma escultura tão bela em meio a tantas outras, é porque fora alguém que marcara sua época. Ao ler sua lápide, percebi que tratava-se de uma jovem vítima de uma fatalidade. Já estava chovendo, e eu queria tirar a dúvida se a moça da lápide era de fato uma violinista. Fui até a capela do cemitério, onde encontrei uma senhora e perguntei-lhe se ela saberia me informar se aquela moça cuja lápide dizia que morrera vítima de acidente, foi mesmo uma violinista. Ela confirmou minhas suspeitas e, então, indaguei se ela sabia da possível existência de familiares em Manaus e onde poderia saber mais a seu respeito, ao que ela respondeu-me que não teria ninguém vivo, ao menos até onde sabia e nunca ouvira falar nada mais, além de um acidente”. Já estava próximo do cemitério cerrar seus portões, e as nuvens indicavam que choveria ainda mais. Mesmo assim voltei até o seu jazigo, fiz alguns registros e postei-me fixamente, olhando para aquele rosto eternizado no mármore de Carrara, e que parecia resistir ao tempo. Foi quando minha prima teve a iniciativa de dizer: “Vamos embora, vai chover! A chuva engrossava, enquanto íamos nos distanciando, e eu continuava a olhar o rosto da estátua. Foi uma fixação à primeira vista. Fui para casa com um ar de melancolia e vazio, e com diversas indagações em mente: Quem foi Ária Ramos? O que ocorreu para culminar naquela tragédia? Quem foram seus familiares? - Dentro de mim, algo dizia que muitas coisas relacionadas a ela ainda existiam, e havia esperança de um dia encontrar alguém de sua família. Quando cheguei em casa, peguei uma das fotos que havia feito e publiquei no Facebook com um texto falando a respeito; Tinha, em verdade, a esperança de encontrar alguém que soubesse mais sobre sua história. Se alguém sabia, nada disse, porque dos vários compartilhamentos que fiz, ninguém soube dizer sobre a artista. A partir daquele dia, ‘’Ária’’ parecia ser um mistério que eu incansavelmente me propunha a desvendar. A imagem do FOTO: TÁCIO MELO


violino e do rosto da escultura ficou tão cristalizada em minha mente, que na mesma noite tive um sonho, no qual eu via uma caixa branca enterrada junto a um violino, e algumas vezes aparecia um grande portão de ferro totalmente fechado. Um sonho sem nexo que até hoje não compreendi ao certo seu significado. Os dias seguintes foram de intensas pesquisas na Biblioteca Pública Estadual. Foi por lá que encontrei os primeiros vestígios sobre a violinista. Desde o início, vejo a artista como uma personagem importantíssima para a história artística da cidade, e ao mesmo tempo sempre me perguntava; por qual razão ela não vinha sendo citada como outros grandes personagens da Manaus da “belle époque”. Logo tive o interesse de realizar um documentário, porém me detinha sempre na mesma dúvida: Como abordar um caso sem muitos fatos ? E, por esta razão, era difícil prosseguir no meu intuito; talvez uma ficção fosse mais factível. Passei a desenhar e escrever algumas poesias sobre o acontecimento que acarretou no assassinato da moça. Anos antes, eu já havia realizado outros projetos fotográficos relacionados à música e história. Foi então que pensei: “Por que não fazer uma homenagem e falar um pouco da artista através de fotografias? O projeto original destinava-se a recriar a figura da violinista, trajada tal e qual à moda do baile, com sua indumentária, o instrumento musical, cenário de época, e seriam feitos os registros como uma espécie de fotonovela, junto a textos explicativos. Eu achava que ficaria melhor que relatada a história em desenhos. No entanto, os custos ficariam deveras elevados e decidi buscar uma concepção mais contemporânea, buscando executá-lo em um estilo que procurasse não recriar, mas evocar a época e a personagem, no corpo de uma modelo.

A CRIAÇÃO O processo criativo do trabalho se deu por vários meses antes da pré-produção e produção. Passei a desenhar esboços como ‘’storyboards’’, a fim de retratar o trabalho como uma fotonovela. Dois anos depois, com a alteração da concepção do trabalho, passei a fazer os esboços da modelo em portões antigos, com poses que remetessem seu estado de dor, seu talento e o momento de sua morte. Escrevi alguns pontos importantes que pudessem ser abordados no ensaio fotográfico. Teve de ser feito um levantamento de edifícios históricos pela cidade, trechos de ruas calcetados em paralelepípedos, e algum local que lembrasse um salão de baile abandonado, para as fotografias terem um ar , onírico, poético e dramático. Meses depois, vi a possibilidade de incluir o prédio do Colégio Salesiano Dom Bosco no ensaio fotográfico. Tácio Melo


O TÍTULO O título original do projeto seria ‘’A Última Valsa’’, caso o trabalho fosse feito com a mesma originalidade da “Belle époque”. Finalmente, passou para ‘’A Última Canção’’. A palavra ‘Ária’ tem como significado qualquer composição musical, escrita para um cantor solista. Nesse Caso, pode-se entender o título do projeto como uma analogia entre a vida da personagem e seu próprio nome, que, por si só, já remete ao imaginário musical, como ‘A ÚLTIMA ÁRIA’. O logotipo vem acompanhado de uma base abaixo das letras, que são notas musicais retorcidas sobre uma linha, que também remonta à ideia de parte de uma grade de portão em ferro fundido de época.

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LOCAÇÕES

pós os levantamentos dos locais onde o ensaio pudesse ser realizado, vislumbrei a possibilidade de fotografar a personagem em alguns pontos do centro histórico da cidade, dentre eles: uma antiga residência situada à Av. Eduardo Ribeiro, ruas no entorno do

Paço da Liberdade, a aprazível e arborizada Rua Ramos Ferreira, defronte ao Instituto Benjamin Constant, e nos arredores do Hospital Santa Casa da Misericórdia, na Rua Dez de Julho, lugar em que a violinista expirara. Para fotografar no hospital, que já se encontrava abandonado, deveria ser solicitada uma autorização e ninguém sabia informar ao certo quem era o responsável.

O PRÉDIO FOI ESOLHIDO POR SUA ARQUITETURA ECLÉTICA DE TRAÇOS NEOCLÁSSICOS FOTO: TÁCIO MELO


Foi quando pensei de usar como cenário o Colégio Salesiano Dom Bosco, por ter uma fachada de feição austera e estrutura semelhante ao hospital. Para a realização do ensaio no local, foi necessário oficiar à instituição e falar com o padre, que autorizou o uso do prédio por se tratar de um projeto de resgate histórico e documental. No mesmo dia, fiz uma visita técnica em todo o edifício, e notei que o andar superior reunia as perfeitas condições para servir como cenário de um salão abandonado. Internamente, é um enorme salão, com amplos janelões, com vista para o Rio Negro. Um cenário perfeito! fotografei todo o prédio para levar à reunião da produção, que seria realizada semanas depois. Na reunião, juntamente com toda a equipe e fotógrafos, foi debatido os lugares e espaços que seriam fotografados, porém, o

tempo era curto para usarmos todos os sítios como cenário, e então entramos num consenso: Registrar a personagem e modelo, somente no edifício do Colégio Dom Bosco, as ruas em paralelepípedos nas cercanias do Paço da Liberdade e a Rua Ramos Ferreira, em frente ao Instituto Benjamin Constant.

FOTO: TÁCIO MELO

FOTO: Elton Viana


CRIAÇÃO: MAQUIAGEM CABELO E FIGURINO POR: CECY PROCÓPIO E CIDARTA GAUTAMMA

Assinado por Cidarta Gautama, o figurino foi concebido de modo a conter elementos que remetessem ao período áureo da “Belle Époque” na cidade de Manaus. Para isso, fezse uso de tecidos nobres como organza cristal, na cor vermelha, para simular o sangue e conferir um ar de sofisticação ao vestido. Buscou-se ainda representar os volumes característicos da época. Destaca-se ainda o uso da cor branca, que representa a singeleza impregnada em cada nota da canção “Subindo ao Céu”. Cidarta Gautamma

Busquei o tom da simplicidade e dramaticidade para criar o cabelo e maquilagem. A pele foi preparada para valorizar as características naturais da modelo. Valorizamos as sardas e as sobrancelhas, molduras do rosto. Utilizei lápis marrom desenhando para trazer mais dramaticidade e intensificar o olhar. Nos olhos, o traço com lápis preto na linha externa dos cílios superiores para valorizar a expressão cênica da modelo. Sombras com tom de pele e marrom para acentuar os cílios (postiços). Na boca a escolha foi um batom Mate Nude. Na criação do cabelo fiz uma releitura do estilo glamoroso da Belle Époque. Neste período, as mulheres usavam cabelos com volume, presos ou com chapéu. Nossa Ária Ramos contemporânea surge com ar sofisticado com cachos e volume. Linda. É muita emoção! Para a realização no dia do ensaio utilizamos uma técnica Hair Roller.” Cecy Procópio


GABRIELA NUNES E SUA ATUAÇÃO

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FOTO: Thais Tabosa

abriella Nunes, natural de Alenquer - PA, viajou pelo o alto Amazonas, até chegar à cidade de Manaus. Aqui morou por um tempo, até que foi descoberta por uma agência de modelos. Hoje brilha e encanta nas revistas e passarelas do mundo "fashion" de São Paulo. Com seus belos cachos, que expostos ao sol brilham como fios de ouro e sob sombra assumem um suave tom acobreado, lembrando as cores de um clássico violino, a jovem modelo esbanjou profissionalismo, mostrando o quanto é capacitada para exercer qualquer função no meio artístico-cênico-fotográfico. Percebeu-se logo na produção das imagens, que Gabriella não se limitava a exercer apenas o papel de modelo: ela mergulhou na história, dramatizando a personagem Ária Ramos de forma sutil, poética e harmoniosa, com o intuito de buscar uma interpretação que captasse a essência da personagem.

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A PRODUÇÃO

produção foi realizada no último domingo de janeiro de 2016, por ser uma data mais tranquila para todos os participantes. Neste dia, o prédio foi disponibilizado e tivemos o acompanhamento de funcionários e assessoria do local que apoiou esta empreitada. O dia da modelo Gabriela Nunes começou logo pela manhã. Cedo, teve de estar no salão ‘Hair Studio Cecy’, que apoiou o projeto. Após o processo caracterização e beleza que começamos a produção do ensaio por volta das 11 horas da manhã. O espaço da recepção do colégio foi o ponto de encontro para a chegada de todos os integrantes do trabalho. Para a realização, criei um roteiro do espaço e os pontos em que a modelo posaria, de acordo com o tempo, por exemplo: Inicialmente foi realizado o trabalho no terceiro e último, o andar do salão. Enquanto a modelo FOTO: Elton Viana


FOTO: Elton Viana

retocava sua maquiagem em uma das salas do andar inferior, eu apresentava os espaços onde seriam os cenários para a realização do ensaio; e, Luana Bastos - apoio de produção, também estava a demarcar os locais e cronometrar o tempo que seria usado cada ambiente do prédio. Foi usado, desta forma, a parede interna do espaço voltado para a janela principal da sacada, uma área da janela que inundada pela luz da tarde. Em seguida, a modelo novamente desceu para o segundo andar; para posar na sacada do prédio, para que todos pudessem fotografá-la diante da dimensão da monumental fachada do prédio. Minutos depois, Gabriela Nunes desceu para que fossem realizadas as fotografias diante do portão principal. À medida em que todos desciam, cada um trazia seus equipamentos, água, lanche etc, pois o tempo era exíguo e o edifício é demasiadamente espaçoso para que subíssemos e descêssemos com todos os equipamentos. As poses da modelo foram minunciosamente estudadas e planejadas; eu já sabia como coordená-las através dos esboços que havia criado meses antes e após reuniões que haviam sido feito com Luana Bastos, porém todos os fotógrafos e integrantes da equipe tiveram liberdade de também dirigir a modelo

quando necessário. Após passarmos quase a tarde inteira no prédio, minha preocupação era a luz do final do crepúsculo, que seria aproveitada para que as fotos sobre os paralelepípedos pelos arredores do Paço da Liberdade pudessem ser feitas. Fomos em seguida para a rua, e aproveitamos a luz do dia, que já começava a ir embora. O último cenário, foi em frente ao Instituto Benjamin Constante, onde aproveitamos a frondosa arborização da aprazível Rua Ramos Ferreira , a formar o verdejante dossel, tão característico das ruas da Manaus de então. Para produção, foram utilizadas escadas, bancos e outros objetos de apoio, tanto para a performance da modelo, quanto pelos fotógrafos. Ao longo do ensaio, foi necessário fazermos pausas para podermos lanchar e suportar as subidas e descidas de escadas, agachamentos e correria. Foi um dia de contorcionismo para os fotógrafos, que buscavam incessantemente registrar os melhores ângulos. Um dia de extenuante trabalho para Gabriela Nunes, que passou a tarde inteira posando para nós, fotógrafos. Para os demais integrantes da equipe, responsáveis em nos auxiliar, também foi um dia árduo e cansativo, mas que nos rendeu grandes resultados.


FOTO: Elton Viana

O

trabalho de produção no nível deste projeto, foi para mim, e para todos os integrantes; uma grande experiência. A produção foi um dia preseroso, harmonioso e cheio de satisfações. Isso se deu ao fato das incríveis pessoas envolvidas neste trabalho; todas com muito amor pela arte, e profissionais inigualáveis no mercado de Manaus. Todos fazendo sua parte de corpo e alma. Foram registros em homenagem à Ária Ramos, que uniu experiências, força e dedicação, para nós; artistas de vanguarda na cidade de Manaus. Tácio Melo

foto: Rodrigo Tomzhinsky


foto: Tรกcio Melo

foto: Elvon Viana

foto: Rodrigo Tomzhinsky


DEMAIS PARTICIPANTES CIDARTA GAUTAMA ( Firgurinista e Designer de Moda ) Cidarta desde os seus 16 anos de idade vem participando de importantes eventos de moda em Manaus. Começou apresentado seus trabalhos de figurino em Luxuosos navios cruzeiro, viajando pelo mundo. Atualmente Cidarta Gautama faz parte do corpo Docente da Faculdade CIESA, onde atua nas áreas de Desenho de Moda, História da Indumentária, Modelagem plana e tridimensional, Tecnologia Têxtil e Tecnologia da Confecção.

CECY PROCÓPIO ( Artista, designer de cabelo e maquiadora

)

Cecy Procópio, exerce sua função há mais de 35 anos, e ao longo do tempo, vem trabalhando com ensaios conceituais e moda para uma grande diversidade de clientes e eventos. Em 2014, Cecy foi escolhida para apresentar seu trabalho ao vivo e em exposições em Paris e na França intitulado ‘’Bem vindos ao Brasil’’ pelo projeto europeu Carrousel du Louvre.

LUANA BASTOS ( Produtora de Moda e Eventos ) Luana Bastos, natural de Manaus, teve uma forte atuação em eventos de moda da cidade de Manaus, e em produções de ensaios fotográficos. Estudou Publicidade e Propaganda e moda e, atualmente está morando em São Paulo para dar início aos seus estudos em artes aplicadas para desenvolver novos projetos.


OS FOTÓGRAFOS

R

esolvi agregar mais 3 fotógrafos na produção do projeto, por duas razões: diversidade de imagem e diferentes olhares. O trabalho precisaria de fotógrafos sensíveis e especialistas em capturar sentimentos através de um ensaio fotográfico; Além disso, deveriam dominar muito bem o programa “photoshop” e tratamento de imagem. Foi quando inicialmente convidei Bárbara Umbra, e em seguida Thais Tabosa e Rodrigo Tomzinsky. Todos talentosos profissionais e com uma capacidade ímpar de conseguir arrebatar sentimentos através de suas lentes. A partir daquela produção, todos entramos em sintonia, resultando em um magnífico trabalho, feito a partir dos três momentos

capturados que seriam representados como: a vida, o talento e a morte de Ária Ramos. Todos os fotógrafos tiveram a liberdade de usar seus próprios equipamentos e explorar todo o conteúdo do trabalho através de seus olhares, sem nenhuma limitação. Passamos a ser 4 em 1, todos trabalhando com empenho e dedicação para que as fotografias ficassem perfeitas e em harmonia. Para os registros de bastidores, estavam Cecy Procópio na fotografia e Elton Viana como fotógrafo e cinegrafista. Os registros de “making-off ” foram de extrema importância para o trabalho, pois através deles, surgiram as possibilidades de relatar melhor o processo de produção de todo o trabalho.

FOTÓGRAFOS

TÁCIO MELO

THAIS TABOSA

Tácio Melo

MAKING OFF

RODRIGO TOMZHINSKY

BÁRBARA UMBRA

ELTON VIANA

CECY PROCÓPIO Foto: Thaís Tabosa


OBRA: TÁCIO MELO



OBRA: TÁCIO MELO



OBRA: THAIS TABOSA



OBRA: THAIS TABOSA



OBRA: RODRIGO TOMZHINSKY



OBRA: RODRIGO TOMZHINSKY



OBRA: BARBARA UMBRA



OBRA: BARBARA UMBRA



MONTAGEM DA EXPOSIÇÃO

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emanas após toda produção e tratamento de imagem dos demais fotógrafos, finalmente partimos para a exposição, que até então parecia impossível! Em departamentos públicos, todos os prédios estavam em recesso de atividades, assim como outros locais. Tivemos que bater à porta de diversas instituições públicas, para conseguirmos um bom espaço para expor os nossos belíssimos trabalhos. O local que sempre esteve ativamente franqueado, o museu do ‘Paço da Liberdade’, localizado no Centro histórico de Manaus, foi o único que mostrou-se disponível para a exposição. Para isso, o projeto teve de ser aprovado pela comissão técnica do local, e depois foi feita uma solicitação ao departamento e órgão responsáveis, a Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (MANAUSCULT), para enfim ser liberado o salão de exposições. Vencida esta etapa, dispúnhamos de pouquíssimo tempo para organizar a

montagem. A montagem foi realizada quatro dias antes do lançamento da exposição, e, paralelamente, a divulgação do evento já se encontrava em curso. Foi um trabalho mais que coletivo: Todos se atiraram de corpo e alma na montagem da exposição, que seria lançada no dia 17 de fevereiro de 2016. Dispúnhamos de poucos recursos, e tentamos tornar um singelo evento, em algo belo e caloroso. No início da montagem não vislumbrávamos nossos trabalhos adquirirem a aparência de uma exposição, pois não possuíamos molduras e tampouco vidros para as fotografias; mas a palavra final foi do curador da mostra, Óscar Ramos, ao dizer; - “Estes trabalhos estão tão lindos que nem precisaria de nada, apenas uma base por detrás para fixá-los na estrutura de madeira”. E assim foi feito. Foi somente do que precisamos. Ao vislumbrarmos todos os trabalhos montados, nada ao redor se fazia notar, além das belíssimas fotografias!

Foto: Rodrigo Tomzhinsky


Foto: Rodrigo Tomzhinsk

Foto: Rodrigo Tomzhinsky

Foto: Rodrigo Tomzhinsky

Foto: Tรกcio Melo


ABERTURA DA EXPOSIÇÃO

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o dia 17 de fevereiro de 2016, o histórico edifício do Paço da Liberdade abriu suas portas para receber seus visitantes e integrantes do projeto ‘’A Última Canção’’. A abertura teve início por volta das 15:00 horas da tarde, com uma breve palavra dos envolvidos na exposição. A exposição foi amplamente divulgada, antes e após o lançamento, em quase todos os veículos de comunicação da cidade de Manaus; o que despertou curiosidade e interesse por parte da população manauara; tanto pelas obras, quanto pela história da violinista Ária Ramos, ratificando que passado um século de seu desaparecimento, seu mito permanecia vivo na memória popular. Dentre os visitantes, muitos turistas, crianças, idosos e estudantes, que cresceram ouvindo falar s respeito a trágica história da violinista que perdera a vida em um baile de carnaval. Manaus, em tempos recentes, não havia recebido nenhuma outra exposição de ensaio fotográfico com base nas estórias da cidade, o que despertou grande interesse pelo projeto. O evento atingiu um número alto de visitantes, para uma exposição fotográfica, recebendo mais de 2 mil pessoas, em apenas dois meses; Sendo que o Paço da Liberdade funcionava somente em horário comercial e aos sábados, pela manhã. Foi tão bem sucedido, que, possível encontrar, em redes sociais, diversas pessoas comentando a respeito, despertando curiosidade de outras. Nem todas as pessoas puderam ir ao longo dos meses em que a exposição ficou montada, em virtude de motivos profissionais e/ou falta de tempo. Até hoje algumas pessoas chegam ao artista Tácio Melo, perguntando quando a exposição estará disponível novamente.

Foto: Tácio Melo


Foto: Mario Oliveira

No dia 20 de fevereiro, foi realizado um debate, no qual o produtor e idealizador do projeto, Tácio Melo, falou do início do projeto, o processo criativo, uma breve história sobre Ária Ramos e que o motivou a realizar o projeto. Os demais fotógrafos e participantes falaram sobre as técnicas que usaram, e relataram também sobre o processo da pré-produção. Neste dia a imprensa também esteve presente. Compondo a mesa estavam: o vice presidente da MANAUSCULT, José Augusto Cardozo e o Curador da Exposição, Óscar Ramos; ambos relatando sobre a disponibilização do Paço da Liberdade para a exposição.

''A EXPOSIÇÃO FOI UMA DAS MAIS VISITADAS DA CAPITAL'' Foto: Ingrid Anne

A abertura da exposição teve participação do violinista Diego Alessandro, integrante da orquestra experimental da ‘Amazonas Filarmônica’, que tocou a valsa ‘’Subindo aos Céus’’ do compositor brasileiro Aristides Borges. Valsa que, segundo alguns relatos, Ária executou no momento em que foi atingida pelo projétil que tirou-lhe a vida. No fim da abertura da exposição, também aconteceu uma performance em frente ao edifício pela TURMA DO PARQUE, organizada pela artista e gestora do ‘Parque Cidade da Criança’, Socorro Andrade. Foto: Ingrid Anne


FICHA TÉCNICA DA PRODUÇÃO CRIAÇÃO E PRODUÇÃO: Tácio Melo APOIO PRODUÇÃO: Luana Bastos MAKE E CABELO: Cecy Procópio FIGURINO: Cidarta Gautama FOTÓGRAFOS: Barbara Umbra Rodrigo Tomzhinsky Tácio Melo Thaís Tabosa MAKING OF: Elton Viana APOIO À PRODUÇÃO: Izabela Melo Tatiana Mirelle Elton Viana


FICHA TÉCNICA DA EXPOSIÇÃO CURADORIA: Oscar Ramos RESERVA TÉCNICA E RESTAURO: Themis Cordeiro ADMINISTRADOR DO MUSEU: Leonardo Novellino MONTAGEM: Bárbara Umbra Cecy Procópio Cidarta Gautamma Giorges Kelaris Juci Trindade Rodrigo Tomzinsky Tácio Melo Thaís Tabosa Participação de lançamento ( violinista ) Diego Alessandro. Participação de Lançamento TURMA DO PARQUE

Foto: Tácio Melo


OS APOIADORES

P

ara o projeto, este foi o ponto mais difícil. Quando não se dispõe de recurso algum, realizar um projeto deste porte, torna-se bem mais árduo. Um projeto a ser realizado não depende apenas da criação e da produção; para tudo ser realizado, precisaríamos de ''patrocinadores'' ou ''apoiadores''. Não estava sendo possível conseguir Patrocinadores; então a solução foi encontrar parceiros. Pode parecer óbvio, mas qualquer projeto com produção, que envolve grande equipe, figurino, transporte, exposição, tem alto custo. O projeto recebeu diversos acenos negativos, tanto para o apoio de produção quanto para a exposição. A fim de evitar tantas frustrações, listamos nomes de empresários admiradores de arte, que de alguma forma poderiam exercer o mecenato e apoiar o projeto. É por esta razão, que todo o êxito do trabalho também se deve a estas instituições e empresas que se disponibilizaram a ajudar este projeto.

APOIADORES DA PRODUÇÃO

COLÉGIO SALESIANO DOM BOSCO DE MANAUS

HAIR STUDIO CECY

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ASSOCIAÇÃO DOS ARTISTAS CENICOS DO AMAZONAS

APOIADORES DA EXPOSIÇÃO MANAUSCULT GALERIA DE ARTE L'AMAZONIE

MANAUSCULT

TAPAJÓS TECIDOS

IMPORTADORA METRO


TRABALHOS ANTERIORES E NOVO PROJETO Ao longo desses anos venho desenvolvendo esboços e projetos a fim de recriar, em ensaios fotográficos, no estilo surrealista, dentro de um universo fictício. Os primeiros esboços de ensaios fotográficos foi aos 16 anos, em meados de 2006, quando criei o trabalho ‘’O Quarto’’, fotografado em 2008 – cujo tema relatava a estória de um quarto onde existia um quadro que ganhava vida e a criança que dormia nele, aprendia a conviver com as aventuras que seus personagens trazia. Ao longo do tempo foram várias estórias criadas e esboços. Em 2011, escrevi ‘’Imaginário’’: Um conto que falava sobre um garotinho que saiu da vida do interior para estudar em Manaus e logo aprendeu a ler e se aventurar na literatura. Após alguns acontecimentos, ele voltou ao interior, onde, sem as leituras, passou a ver diversos personagens que haviam se fixado em sua memória; destes personagens, havia o homem- pássaro, que mais nada era, um uirapuru, lendária ave amazônica, cujo canto é bastante apreciado. Esta personagem inspirou o trabalho fotográfico ‘’Sinfonia na Floresta’’, que logo em seguida transformou-se na exposição Arte & Fato. De 2013 a 2014, mesmo atuante no fotojornalismo, foram os anos de experimentos na fotografia artística, onde desenvolvi uma técnica a partir de efeitos no “photoshop”, com retratos que simulassem pinturas. Em 2014 e 2015 realizei alguns ensaios com esses experimentos, e somente em 2016 realizei um ensaio intitulado ‘’O Jardim do Poeta’’, ensaio poético para acompanhar minhas poesias, e resultado dos experimentos dos anos anteriores. Durante todo este processo, eu também desenvolvia, paralelamente, o projeto ‘’A ÚLTIMA VALSA’’, logo depois rebatizada de ‘’A ÚLTIMA CANÇÃO’’. Foi este projeto que culminou na exposição de 2016. Ao longo de 2016, desenvolvi mais um projeto com base em um conto chamado ‘’Se Meu Piano Falasse’’, cujo tema discorrerei mais a respeito a seguir.

''SE MEU PIANO FALASSE''

O projeto para ser realizado em 2017 será com base em uma artista que viveu a plenitude de sua carreira na cidade de Manaus, no lendário período da “belle époque”. O projeto artístico com produção fotográfica, terá novamente os integrantes Cidarta Gautama (figurinista) e a cabeleireira Cecy Procópio, que cuidará da maquiagem e cabelo da personagem. Além de ser um projeto fotográfico trazendo um estilo fantasioso e surrealista, narrará um pouco sobre a vida da artista e, ao mesmo tempo, sobre a cidade de Manaus nos anos 1917, durante a debacle econômica provocada pelo fim do ciclo econômico da borracha.


E

ste catálogo foi concebido para a mostragem de todo processo criativo e desenvolvimento do trabalho, até o momento da exposição; O público-alvo são das demais áreas da imagem e traz a experiência de toda produção envolvida nesta homenagem à violinista Ária Ramos. Este catálogo também é um ‘’sauvenir’’ a todos os participantes do projeto ‘’A ÚLTIMA CANÇÃO’’.


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