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Ésempre uma alegria ler obras contemporâneas que confirmam o vigor da literatura brasileira. Para nós, o sentimento é redobrado ao poder enviar ao clube, de forma inédita, um exemplar dessa produção — sobretudo quando escrito por alguém como Socorro Acioli, cearense que apresenta uma das obras mais sólidas e engenhosas do cenário nacional.
O livro que você tem em mãos agora, Oração para desaparecer, dá provas de sua originalidade, ao mesmo tempo que revela um profícuo diálogo com a tradição lusófona. Bebendo da fonte de autores como Saramago, Acioli cria uma trama única, que une Brasil e Portugal e destaca os temas da espiritualidade e da busca por identidade.
Entre os nomes que acompanharam o processo criativo da autora, encontra-se o da jornalista espanhola Pilar del Río, nossa curadora deste mês, que, bem sabemos, é sensível à produção das novas gerações: em 2019, ela acompanhou de perto o nosso lançamento de Autobiografia, obra de José Luís Peixoto que presta um tributo a José Saramago, com quem Pilar foi casada e cujo legado literário é por ela preservado.
A seguir, você confere uma introdução ao livro, com uma série de informações prévias que ampliarão sua experiência, assim como uma entrevista com a curadora, na qual justifica sua aposta na obra de Acioli. Há também uma entrevista com a autora, além de uma análise crítica do romance.
Boa leitura!
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VAMOS LER
Oração para desaparecer
Criamos esta experiência para expandir a sua leitura. Entre no clima de Oração para desaparecer colocando a playlist especial do mês para tocar. É só apontar a câmera do seu celular para o QR Code ao lado ou procurar por “taglivros” no Spotify. Não se esqueça de desbloquear o kit no aplicativo da TAG e aproveitar os conteúdos complementares!
Leia até a página 32
Você está no início do livro e já está mergulhado no suspense principal: uma mulher que morreu e ressurge, do nada, no outro lado do Atlântico. Nessa parte, a narrativa talvez soe meio arrastada porque ela tenta arrancar informações do casal que a resgatou e nada lhe é muito revelado. Mas não demora para sentirmos a primeira reviravolta, com a aparição de um personagem incrível na trama. Mais mistério ou mais revelações?
Leia até a página 69
A história de Cida está prestes a mudar: não só a história que conhecemos até então sobre nossa heroína, mas toda a sua história antes de ressuscitar. Um homem chamado Jorge será de fundamental importância nos acontecimentos futuros. E se você estava curioso com a conversa de Cida com Félix Ventura, tudo será esclarecido agora. Parece que ela quer mesmo abrir mão do seu passado. E Félix é o profissional certo para isso.
Leia até a página 96
Agora que Cida já tem uma nova identidade, um passado todo inventado, com nome, sobrenome, local de nascimento e até aventuras e desventuras como qualquer pobre mortal, já pode seguir a sua vida sonhada, mas não sem antes prometer que, assim que lembrar de tudo, deverá procurar Félix Ventura para contar de todas as descobertas. Será que ela irá se lembrar em algum momento de quem ela é de verdade?
Desenvolvido pela designer e ilustradora Elisa von Randow, o projeto deste mês parte de conceitos-chave do livro de Socorro Acioli, como amor, laços, romance e espiritualidade. A capa traz como elemento principal os lenços de namorados, elementos de destaque na narrativa.
projeto gráfico mimo
A TAG e a Nescafé unem-se para sugerir um ritual de leitura perfeito. Além da obra do mês, que comove com uma narrativa potente, você recebe um sachê com 40g do Nescafé Gold — um convite para vivenciar e compartilhar experiências sensoriais únicas. E não para por aí: os associados do clube terão a chance de ganhar uma caixa surpresa da Nescafé através de um sorteio! Se houver um bilhete premiado no seu kit, parabéns!
Leia até a página 163
Pois é. Agora já sabemos a verdadeira identidade de nossa protagonista. A essa altura, você deve ter estranhado não apenas a mudança de ambiente como também de voz narrativa. Quem conta a história é um senhor de idade chamado Miguel, que diz ter sido amante de Joana. E um misterioso homem mais jovem, vindo do estrangeiro, vai entrevistando esse personagem e servindo de interlocutor na trama. E as descobertas não param por aí.
Leia até a página 181
Se até então estávamos confusos a respeito da passagem do tempo na trama, tudo se esclarece agora e, mais do que nunca, os elementos fantásticos e sobrenaturais ganham destaque no livro. Após alguns reencontros importantes, Joana repensa o seu futuro.
Leia até o final
Nossa protagonista, enfim, recupera a memória sobre a viagem empreendida e sobre a oração para desaparecer, em um final que não poderia ser mais emocionante.
Oração para desaparecer pode ter terminado, mas a experiência não!
Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ao lado e escute o episódio de nosso podcast dedicado ao livro do mês. No aplicativo, confira também a nossa agenda de bate-papos.
“O livro que Socorro Acioli escreveu é o tipo de obra que, para nós, brasileiros, vai ser motivo de orgulho após ser publicado. O tempo de pesquisa (mais de 10 anos) para a escrita se mostra em todas as palavras que li. [...] Esse é o tipo de história que muda quem somos após a leitura, porque a magia está ali e nos toca o tempo inteiro (seja a magia da existência, do amor, da ancestralidade ou da religião).”
“Conhecer a história de Joana, além de ser uma surpresa a cada instante, é muito interessante. [...] É uma história mágica, que traz infinitas possibilidades e me fez pensar no quanto podemos lutar por aquilo que achamos justo ou certo. [...] Acima de tudo, é um livro sobre amor: amor pela vida, pelas coisas, pelas pessoas, pela história.”
Ana Carolina Libio de Aguiar — Tester da TAGPor que ler o livro
Livro inédito de uma das principais autoras da literatura brasileira contemporânea, vencedora do Prêmio Jabuti, Oração para desaparecer apresenta uma trama cheia de mistérios e, por isso mesmo, envolvente. Abrindo mão, em muitos momentos, da chave realista, Socorro Acioli propõe um mergulho na trajetória de uma mulher encontrada enterrada em Portugal, que parte, então, atrás de sua verdadeira identidade.
Tudo o que você precisa saber antes de ler Oração para desaparecer
BRUNA MENEGUETTI
Livro de Socorro Acioli joga com a intertextualidade e se passa em diferentes localidades, entre Brasil e Portugal; confira informações e curiosidades para se aventurar pela narrativa
Quando uma mulher desponta do chão, um casal de portugueses está cavando a terra, pronto para tirá-la dali, na aldeia de Almofala. Como se fosse um ato corriqueiro, Florice e Fernando desenterram a narradora do livro Oração para desaparecer, que, depois, receberá o nome de Aparecida. A mulher está cheia de lama e areia no corpo, confusa e sem memórias de quem é. Trata-se de uma ressurrecta, que, segundo o dicionário Michaelis, é literalmente “aquele que ressurgiu ou ressuscitou”. Mas Florice dá uma nova informação aos leitores: “É como meu pai chamava. Pessoas que iam morrer, mas por um triz escaparam e voltaram à vida em outro lugar”. É a partir desse evento que a história escrita por Socorro Acioli se desenvolve. A seguir, confira outras curiosidades para saber antes de ler o livro deste mês.
PERSONAGENS
Maria Florice tem duas irmãs: Maria de Fátima e Maria de Lourdes. Elas são trigêmeas e estão na casa dos setenta anos quando Aparecida surge da terra. Apesar de Florice e Fernando a desenterrarem, é Fátima quem abriga a narradora, na freguesia de Aboim da Nóbrega, a 84 km do Porto. Lá, Aparecida conhece Jorge, um jovem africano parente das trigêmeas, que a apresenta a Félix Ventura, vendedor de passados, a quem ela conta sua história — ou, ao menos, do que consegue se lembrar.
O personagem Félix Ventura é uma criação do escritor angolano José Eduardo Agualusa no livro O vendedor de passados. Porém, antes de usar o personagem em seu próprio livro, Acioli pediu autorização a Agualusa, que, em entrevista à TAG, diz ter se sentido feliz e honrado: “É muito bom quando um personagem que criamos tem a possibilidade de renascer num outro romance. Nascer é maravilhoso; renascer é ainda melhor. É uma experiência gratificante, como assistir ao crescimento de um filho — ali está ele escolhendo caminhos que não podíamos adivinhar. Ali está ele, sendo aquilo que imaginávamos, e sendo já uma outra coisa”.
LIVROS QUE NÃO EXISTEM
Outra intertextualidade presente no livro de Acioli é em relação ao escritor português José Saramago. Aparecida escreve suas memórias em um caderno em branco, que tem as palavras “Livro das visões” na primeira página. Mais tarde, ela fica sabendo que há um capítulo todo sobre os ressurrectos no chamado Livro dos itinerários, cuja primeira frase é “Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam”. As mesmas palavras aparecem na epígrafe do livro A viagem do elefante, de Saramago, como se tivessem sido tiradas do Livro dos itinerários. No entanto, nem este livro nem o das visões existem. Saramago os inventou, assim como as epígrafes — e Acioli resolveu dar vida às obras, tal como fez com o personagem Félix Ventura. Outro escritor que gostava de se referir a livros inexistentes era o argentino Jorge Luis Borges, autor dos contos “O livro da areia”, “A Biblioteca de Babel”, entre outros, nos quais cita a existência de obras imaginárias.
VÁRIAS ALMOFALAS
Aparecida surge na aldeia de Almofala, 107 km ao norte de Lisboa. O lugar é composto por algumas casas, construções abandonadas e vegetação local. É curioso que, em Portugal, há seis aldeias com o mesmo nome — o que gera confusão em Florice e Fernando, que a princípio não sabiam em qual Almofala Aparecida iria chegar.
Já no Brasil, Almofala é um distrito de Itarema, no Ceará, a 221 km de Fortaleza. A Almofala brasileira é local do mais conhecido aldeamento dos Tremembés, povo indígena que ocupou este e outros locais até a chegada dos aldeamentos missionários pelos jesuítas, que buscavam catequizar os indígenas e forçá-los a viver sob seu controle. O nome Almofala pode ter vindo tanto do topônimo de origem árabe-portuguesa, quanto de “Almo hala”, do árabe, que significa “lugar de permanência temporária”. Para os Tremembés, no entanto, o nome vem da expressão “Alma fala”.
Livro dialoga com obras de Saramago e Agualusa.
Crédito: Sampinz e LaraLongle
OS TREMEMBÉS
Os Tremembés são um povo de forte tradição oral, conhecedor de práticas agrícolas e caça de animais. Eles têm uma dança de roda tradicional, o Torém, que mistura o antigo idioma Tremembé a vocábulos de origem Tupi nas músicas. Essa dança sagrada ritualiza as relações dos ancestrais com os animais e as plantas. Há também a crença nos encantados e encantes. Para eles, algumas pessoas encantam-se e começam a viver em uma dimensão encantada, não acessível a outras.
A tradição oral conta sobre três indígenas dessa etnia que descobriram a imagem de uma santa de ouro nas proximidades do rio Aracati-Mirim. No entanto, os Tremembés teriam sido levados a trocar a santa por pedras para a construção da igreja e a demarcação de seus territórios. Assim, a partir desse episódio, conta-se que foi construída a Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Tremembés, como substituição à capela original que abrigou a santa de ouro.
IGREJA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE ALMOFALA
De inspiração barroca e imenso valor arquitetônico, a igreja foi construída entre 1712 e 1758, com materiais como tijolos, argila, cal e búzios. No entanto, foi soterrada por uma duna móvel entre 1897 e 1898. A chamada “erosão eólica” é comum no litoral cearense e as dunas podem se acumular, mover-se e invadir construções e terras, chegando a cem metros de altura. Quando a Igreja de Almofala e, claro, a cidade estavam sendo invadidas pela areia, um violento confronto ocorreu entre os indígenas, a população local e as autoridades eclesiásticas. Foi determinado que, com o avanço da duna, as cinco imagens presentes no local seriam transportadas a outra igreja, a dez quilômetros dali.
Porém, os indígenas não gostaram da ideia. Ao que se entende, a veneração à igreja e às imagens é associada ao sentimento de pertencimento à terra por parte dos Tremembés. Além do mais, o fato de terem encontrado a santa transmite a ideia de que ela fora um presente da terra a esse povo. Assim, antes da remoção das imagens, a igreja de Almofala se encheu de cerca de três mil pessoas e, ali perto, acampou um grupo para impedir a saída dos artefatos. Uma mulher fugiu com uma das imagens, mas foi capturada pelas autoridades e pelo padre.
Por volta de 1940, depois de 45 anos enterrada, a igreja ressurgiu com a movimentação natural e a retirada humana da areia. Os indígenas começaram a reconstruí-la, trazendo telhas e tijolos nas costas por caminhos difíceis. Há a ideia de que a areia é encantada, que ela decide o que irá soterrar e revelar. Assim, a reconstrução da igreja também foi associada a uma esperança de reconhecimento dos direitos territoriais dos Tremembés sobre o local, algo que não se concretizou, pois a terra foi ocupada por comerciantes e produtores rurais.
Em 1944, as cinco imagens retornaram à igreja e, em 1980, a construção foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e restaurada de acordo com o desenho original. Sobre a tentativa de roubo da santa, há o testemunho do padre Antônio Thomás, que rezou a missa naquele dia. Também Carlos Drummond de Andrade escreveu uma crônica intitulada "Areia e vento", que serviu de inspiração durante a escrita de Oração para desaparecer e é citada na epígrafe do livro.
Fontes consultadas:
Artigo: “Evocações da terra tirada — Memória social e consciência política na tradição oral do índios Tremembé”, de Maria Sylvia Porto Alegre;
Artigo: “Aspectos históricos e estado de conservação da igreja de Almofala-Ceará (Brasil)”, de Francisco Carvalho de Arruda Coelho e Livia Maria de Sousa Monteiro;
Tese: “Seguindo trilhas encantadas: humanos, encantados e as formas de habitar a Almofala dos Tremembé”, de Juliana Monteiro Gondim;
Dissertação: “Paisagens do Nordeste: Almofala dos Tremembé e os Tremembé de Almofala”, de Janaína Ferreira Fernandes;
Site: pib.socioambiental.org/pt/Povo:Tremembé.
o processo de escrita de um livro é um privilégio”
Pilar del Río destaca as qualidades da obra de Socorro Acioli, relembra participação em lançamento da TAG e faz balanço do centenário de Saramago
JÚLIA CORRÊAAjornalista espanhola Pilar del Río, nascida em Sevilha, em 1950, é uma figura atenta à produção lusófona contemporânea. Desde 2007, ela preside a Fundação José Saramago, responsável por difundir o legado do escritor português, Nobel de Literatura, de quem foi parceira entre 1986 e 2010, ano da morte dele. Como jornalista, destacou-se no combate à ditadura de Franco em seu país natal. Sua dedicação à literatura e aos direitos humanos lhe rendeu, em 2016, a conquista do Prêmio Luso-Espanhol de Arte e Cultura, que a prestigiou pelo intercâmbio promovido por ela “da cultura portuguesa, espanhola e latino-americana”. Prova de seu comprometimento literário é o contato próximo com autores da cena atual. Em 2019, tivemos o prazer de testemunhar o seu empenho no lançamento do livro Autobiografia, de José Luís Peixoto, concebido especialmente para a TAG. Agora, depois de acompanhar de perto o processo criativo de Socorro Acioli, ela indica a nova obra da escritora brasileira ao clube. A seguir, Pilar fala mais de suas impressões sobre Oração para desaparecer, destaca suas leituras recentes de Machado de Assis e compartilha um balanço do centenário de Saramago, celebrado no ano passado.
“Presenciar
É uma grande honra para nós tê-la como curadora. A senhora poderia nos falar como se deu a sua leitura de Oração para desaparecer? Como foi acompanhar o processo de concepção da obra?
Acompanhar a escrita de uma obra é um processo emocionante. Nada é dito, nada é comentado, é preciso respeitar quem está escrevendo, apenas observamos e acumulamos sentimentos. Depois, quando a obra estiver finalizada, poderemos comparar o que imaginamos com o resultado final apresentado pela autora. E é aí que descobrimos a diferença entre ser escritor — escritora neste caso — e simples leitora: Socorro Acioli vai além, arrisca, inventa caminhos, sabe mais e expressa isso muito bem. Insisto: presenciar o processo de escrita de um livro é um privilégio, poder ler a obra concluída é um segundo privilégio. Que está ao alcance de todos os leitores e leitoras.
Quais considera as principais qualidades do romance e por que diria que essa obra de Socorro Acioli merece ser lida?
Esta obra merece ser lida porque está bem escrita e é um verdadeiro desfile de imaginação. Socorro Acioli escreveu uma história belíssima para dar verossimilhança a supostas lendas milenares e para organizar fragmentos de narrativas dispersas. Para isso, ela criou uma mitologia a partir de fabulosas experiências brasileiras e as conectou com a modernidade mais absoluta e com culturas de diferentes continentes. O resultado:
Socorro Acioli nos convence de que a realidade é maior e mais profunda do que se supõe, que a vida cotidiana pode ter magia e mistério, que podemos ser mais do que as aparências mostram, que os seres humanos não estão alheios ao mistério da criação.
Socorro Acioli é um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea. A senhora poderia mencionar outros autores e autoras de nosso país que despertam o seu interesse? Como é a sua relação com os escritores daqui? São muitos os autores e autoras brasileiras que conheço e que fazem do Brasil uma potência literária de primeira ordem, mas não me parece oportuno mencionar outro nome além do de Socorro: ela é quem nos convoca hoje. E ela, além disso, sugere em seu livro outros nomes de escritores de língua portuguesa tanto de Angola, Moçambique como de Portugal. Em Oração para desaparecer, sendo muito brasileiro como é, mais do que se falar de um país, fala-se de várias comunidades e de uma língua comum, o português, que sustenta relações e possibilita a magia.
Aliás, a senhora revelou em entrevistas que se dedicou a Machado de Assis durante a pandemia, com um grupo de amigas. Quais foram as obras lidas? Como foi essa experiência? Foram várias obras-chave, incluindo Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Memorial de Aires... Nós as lemos reunidas pelo Zoom; somos amigas diversas, cada uma em sua casa, cada casa em um país. Éramos coordenadas por Anabela Mota Ribeiro, que estava trabalhando em sua tese sobre
Machado de Assis. Anabela é escritora e ativista da literatura e conseguiu nos apaixonar. Machado de Assis passou a ser uma presença cotidiana em nosso retiro pandêmico. Pessoalmente, posso dizer que ele foi uma das pessoas que, apesar de não estar presente, preencheu minha solidão. Sua lucidez, humor e elegância literária transformaram a solidão de tantas pessoas em um tempo bem habitado.
Ainda sobre o tópico anterior: quais considera os benefícios, em geral, de leituras compartilhadas como essas — seja por um grupo de amigas como o seu, seja por um clube como a TAG?
As leituras solitárias são imprescindíveis, mas, se forem complementadas por outras leitoras e outros leitores, se tornam um paraíso. Os escritores escrevem para se comunicar com outras pessoas, e os leitores também leem para não se sentirem sozinhos. Aceitamos as vozes que nos chegam dos livros, mas, se essa experiência magnífica for compartilhada com outras pessoas, então cresce: crescem as obras comentadas, crescem as pessoas que acumulam essas experiências. Aliás, essas experiências de clubes de leitura são mais utilizadas por mulheres do que por homens. Encorajo os homens a compartilharem: eles serão mais felizes abandonando essas características de incomunicabilidade inoculadas pelo patriarcado. Abrir-se, comentar suas experiências, seus sentimentos, os tornará mais humanos e mais serenos. Mais iguais.
Oração para desaparecer inclui um personagem presente em um livro do escritor angolano José Eduardo Agualusa, além de fazer referência a títulos de Saramago. Como a senhora enxerga a atual confluência entre as literaturas lusófonas?
Foi uma surpresa encontrar referências a outros autores e obras e confirmar que o mundo é grande, mas também é próximo. Que lendas de outros continentes complementam nossos próprios sonhos, que crescer em companhia é harmonioso. Que ganhamos ao mantermos os olhos abertos para outras realidades, para outros escritores e literaturas, que também podemos fazer nossos.
Nós sempre lembramos com muito carinho do modo como a senhora acompanhou de perto o lançamento de Autobiografia, livro de José Luís Peixoto pensado especialmente para nosso clube e publicado em primeira mão pela TAG, uma obra que presta uma grande homenagem a José Saramago. Como foi participar desse lançamento no Brasil e ver a recepção do público brasileiro?
Foi maravilhoso. Estive em vários lugares acompanhando Peixoto e vi a reação das pessoas diante de um autor jovem e tatuado que falava de um escritor mais velho e não tatuado...
O romance de Peixoto é também uma reflexão sobre a iniciação na escrita e na vida, é um romance de maturidade de uma enorme juventude. Assim como era José Saramago. A verdade é que foi um privilégio acompanhar a TAG nessa aventura.
A senhora dirige a Fundação José Saramago, ajudando a manter viva a memória desse escritor tão querido pelo nosso clube (e pelo mundo, claro). Qual balanço seria possível fazer das celebrações de seu centenário, comemorado no fim do ano passado? Um balanço positivo. A obra de José Saramago percorreu o mundo inteiro, suas peças de teatro foram interpretadas, houve concertos, exposições, cátedras inauguradas com o nome dele, congressos acadêmicos, edições especiais de livros, clubes de leitura, programas de TV especiais, eventos de Estado e eventos em aldeias, feiras do livro dedicadas a ele, sessões em escolas, enfim, convivemos com o escritor que completava 100 anos sem desistir de estar com seus leitores. Se José Saramago legou aos seus leitores o que ele era e o que tinha — sua própria obra —, podemos dizer que soubemos aproveitar isso.
Ilustração do mês
Gabriel Renner é ilustrador freelancer e designer. Passou pelas redações de Zero Hora, Diário Gaúcho, Notícias do Dia e Grupo Editorial Sinos, além de ter ilustrado para as revistas Superinteressante, Mundo Estranho e Sexy. @rennergabriel
A pedido da TAG, o artista interpretou uma passagem do livro do mês:
“Florice estava dormindo e também nos acomodamos para descansar um pouco. Adormeci e sonhei com ele de novo, o rapaz sem rosto de sempre. Foi um sonho longo.
Naquele quarto terracota, a poeira vermelha nos cercando, o teto cheio de estrelas-do-mar, os cavalinhos pelas paredes, estávamos na cama juntos. Eu ouvia o som de outro sino. Não lembro de nenhuma palavra, só do gesto de ele me entregando um cavalo-marinho. Meus fiapos de memória são minha glória e meu castigo.
No sonho eu vi seus olhos muito de perto novamente. Dessa vez não sorriu. Havia um rio passando por trás deles que desaguou. A água nos separava e isso é a nossa verdade, temos um mar de esquecimento entre nós”.
POSFÁCIO
Se você ainda não leu o livro, feche a Revista nesta página. A seguir, você confere conteúdos indicados para depois da leitura da obra.
a religiosidade Tremembé para justificar por que Joana desapareceria”
Socorro Acioli fala sobre a concepção de Oração para desaparecer, dá mais detalhes sobre a ampla pesquisa que realizou para a escrita do livro e compartilha leituras marcantes de sua vida
BRUNA MENEGUETTIOração para desaparecer é o 24º livro publicado pela escritora Socorro Acioli, vencedora do Prêmio Jabuti de Literatura Infantil com Ela tem olhos de Céu. Seu primeiro romance para adultos foi A cabeça do santo, que já trazia temáticas religiosas na trama, mas é com Oração para desaparecer que ela se consolida nas histórias que surgem de fatos reais e que têm como inspiração a religiosidade brasileira popular usada para fomentar elementos de realismo mágico e fantasia.
Nesse livro, Acioli se inspira nos relatos populares e na religiosidade dos Tremembés para imaginar a personagem Joana Camelo. Há o paralelismo evidente entre a igreja de Almofala e a própria personagem, que vivencia o processo de enterramento e desenterramento. A partir disso, a trajetória de Joana ao renascer em Portugal traz questões como o dilema do imigrante que passa a não pertencer ao local de destino e nem ao de origem. Outra indagação que
“Precisei entender
Joana traz é sobre seu país de origem: “Sou brasileira e acho que isso sempre foi a coisa mais importante a descobrir direito, o que é isso, o que trouxe comigo que só existe porque sou uma criatura do Brasil”.
Nesse sentido, é possível identificar também paralelismos entre a obra e o livro O vendedor de passados, do angolano José Eduardo Agualusa. Na história de Agualusa, os personagem contratam os serviços de Félix Ventura por desejarem apagar a memória colonizadora e adquirir uma identidade branca. Já no livro de Acioli, a personagem o contrata porque não tem memórias enquanto brasileira e deseja uma nova identidade, recebendo uma nacionalidade portuguesa por parte de Ventura. Porém, como acontece a todos os ressurrectos, o passado de Joana volta à memória e não é possível ignorá-lo.
Para Agualusa, não é à toa que ambos os livros falam do pretérito, de recordações e de identidade. Em entrevista à TAG, o autor afirmou que “estamos constantemente a inventar memórias, que servem depois de base à nossa identidade. Assim, somos em larga medida uma invenção — uma fraude. A literatura é uma forma particularmente elegante, e bem-sucedida, de criar uma identidade coletiva. Falsa ou não”.
Para Socorro Acioli, Brasil e Angola são países que compartilham histórias de “muita violência, assassinatos, situações de desaparecidos, de apagamentos históricos. Isso se mistura no inconsciente da gente de certa maneira”. Leia a seguir nossa entrevista com a autora.
Como surgiu a ideia do livro?
Uma amiga minha visitou uma exposição de fotografias e me falou dessa igreja em Almofala. Vi as fotos da igreja com areia pela metade e não conseguia tirar aquilo da cabeça. Achei um material do Iphan falando sobre um dos restauros do local e havia a citação de uma crônica de Drummond em que ele pede para escreverem sobre a igreja. Foi essa crônica que me ofereceu a chave toda, porque fez vir à tona a personagem Joana Camelo. E aí decidi que iria escrever, mas não sabia como, até que, por acaso, uma aluna de um dos meus cursos disse que o avô dela tinha sido um pescador que, quando criança, desenterrava a igreja. Foi ela que me abriu as portas para Almofala. Então, descobri a informação mais importante sobre o lugar: ser um território Tremembé.
A partir disso, como se deu a pesquisa histórica, cultural e regional para escrever?
Foi da descoberta dos Tremembés e da religiosidade deles que veio todo o resto. Eu decidi que essa mulher iria, por algum motivo, desaparecer. Contei para um amigo antropólogo, especialista nos Tremembés, e ele disse que eles têm uma oração para desaparecer. Eu já vi a oração — a que está no livro não é a verdadeira. E eu fui a Almofala muitas vezes, dancei o Torém com eles, conheci a escola deles, conversei com o pajé, com o cacique, fui a outro território Tremembé e fui a uma pajé, que é a inspiração para a mãe de Joana. Precisei entender a religiosidade Tremembé para poder construir o que aconteceu com essa mulher, justificar por que ela desapareceria. O desaparecimento surgiu de uma conversa com um pescador de mais de 90 anos de idade, lá de Almofala. Ele disse que, quando a igreja estava toda coberta, as coisas em cima do morro desapareciam e reapareciam em Portugal. Então, todas as chaves vieram da pesquisa.
É o seu segundo livro que parte de um caso real para a ficção, já que A cabeça do santo é baseado em uma cabeça gigante de Santo Antônio que fica em um muro, próximo a Fortaleza. Por que você trabalha o entrelaçamento entre realidade e ficção?
Eu acho que vem do jornalismo. A gente aprende a apurar, entrevistar, ouvir, elaborar o que escutou, e que
tudo tem três, quatro versões. Ainda não é possível para mim pensar em uma história totalmente ficcional que não seja a partir de um lugar, uma situação, uma pessoa. Acho que não preciso inventar nada, a realidade já me dá material suficiente, mas eu ficcionalizo muito a partir disso. Esse é o meu projeto literário, espero que seja sempre assim.
Por que você optou pela mistura de religiões indígenas e crenças populares com realismo mágico e fantasia? O que se ganha nessa relação?
A partir do momento em que escolho esse tema, eu não tenho como não misturar, porque a religiosidade brasileira popular é essa mistura, é plural. Minha forma de ver a religiosidade também é assim. Eu não sabia que era um território Tremembé quando escolhi falar da igreja, mas, na hora em que foi ficando claro para mim, eu não tinha como apartar as coisas, deixar de
falar da própria realidade Tremembé — até porque eles dizem que o soterramento da igreja foi uma vingança dos encantados. E eu tinha uma pergunta, que, aliás, fizemos muito nos últimos anos: o que é ser brasileiro? A confusão com nossa identidade nos adoece coletivamente. E, para mim, foi curativo escrever esse livro, sou muito agradecida a essa história, acho que compreendi muito sobre meu país. E me senti um pouco como a personagem que está cega, esquecida, e começa a ter clareza até se firmar no chão.
Você escreveu muitos livros infantojuvenis, mas seus últimos dois são focados no público adulto, trazendo o realismo mágico e a fantasia para as páginas. Nesse sentido, você continua trabalhando com o lúdico. De que forma esse trabalho é diferente em um livro para adultos e para crianças?
Não era pra ser diferente, mas acaba se tornando porque existe ainda um atrelamento muito grande aos livros didáticos e à escola na literatura infantil do Brasil, e a gente acaba perdendo a liberdade.
A literatura é um campo de subjetividade. Eu leio de um jeito, você lê de outro jeito a mesma frase, e na literatura para adultos parece que isso é menos grave do que na literatura para crianças, em que existe uma certa intermediação entre o leitor, que é a criança, e o escritor. Existem o pai, a mãe, os adultos, os professores. Então, há esse cuidado, que mina um pouco a criatividade.
O que você mais gostaria que aparecesse para os leitores e que está na subtrama de Oração para desaparecer?
Eu acho que é o sentimento da personagem de estar morrendo, de se ver perdendo tudo. E, então, ela se reconstruir, e as coisas se reorganizarem. Me parece que isso acontece na vida da gente; passamos por fases na vida em que acontecem grandes golpes. A pandemia foi um pouco isso, e achei bom esse livro sair depois dela, porque nos sentimos renascendo de algum modo. A coisa que mais queria que fosse sentida — não racionalizada, mas sentida — é que esses ciclos vão acontecer na vida de todo mundo. A gente se afunda, fica enterrado vivo, quase para morrer, sufocando, achando que é o fim. Aquela sensação da personagem é uma sensação de um ataque de pânico, de uma crise de ansiedade. É aquilo: “tô aqui, vou morrer, quem foi que me matou? Quem foi que me botou aqui?”. E, de repente, ela é salva — mas ela tem que lutar, tem que fazer muita coisa ainda pra se sentir renascendo, vivendo de novo.
O primeiro livro que leu: Flicts, do Ziraldo.
O livro que está lendo: Escrever é muito perigoso, Olga Tokarczuk.
O livro que mudou a sua vida: Cheiro de goiaba, Gabriel García Márquez.
O livro que gostaria de ter escrito: Sobre os ossos dos mortos, Olga Tokarczuk.
O último livro que a fez rir: Sobre os ossos dos mortos, Olga Tokarczuk.
O último livro que a fez chorar: Festa no covil, Juan Pablo Villalobos.
O livro que dá de presente:
O palácio da memória, Nate DiMeo.
O livro que não conseguiu terminar: Muitos! Já tive a regra de ler até o fim custe o que custar, mas hoje em dia acho que a vida é curta para ler livro ruim.
Oração para ver além
TATIANA CRUZ
Protagonista do livro de Socorro Acioli faz uma viagem que abriga a descoberta de si pela visão do que se é
Ese fosse possível escapar da morte por meio de uma oração que nos fizesse desaparecer de um continente, ressurgindo do outro lado do oceano, com o mesmo corpo, mas sem nenhuma lembrança do que se passou? E se fosse, assim, possível uma segunda chance?
Em Oração para desaparecer, de Socorro Acioli, a trama é dada dentro de um realismo mágico que nos entrega, de cara, o estranhamento. A personagem é uma morta-viva, e o que houve com ela é totalmente inverossímil; estamos aqui, no livro, presos, tentando entender o que se passa e, durante páginas e páginas, vamos ver a autora nos lançar um número sem fim de artimanhas narrativas para nos mostrar que desistir da leitura é impossível.
Acioli não está sozinha. Enredos mirabolantes, personagens meio mágicas, histórias contadas por meio de símbolos e alegorias com um quê de sobrenatural povoam a literatura como um estilo desde 1940, em um movimento capitaneado por nomes como Jorge Luis Borges, Alejo Carpentier e Arturo Uslar Pietri, por exemplo. Impossível não lembrar da mexicana Laura Esquivel, em Como água para chocolate, e não associar a narrativa de Acioli a Carola Saavedra, em seu Com armas sonolentas. Todos esses romances parecem se abastecer de um delírio da visão, revisitando os olhos, convidando a repensar suas funções.
É curioso, assim, que Oração para desaparecer comece com a personagem principal, Cida/Joana, contando: “Acordei com os olhos grudados de lama [...]”. Ela, que desejou desaparecer, ou seja, não ser mais vista, é a mesma que vê espíritos desde criança.
Os olhos de Cida/Joana parecem exercer uma espécie de fio condutor da narrativa tramada por Acioli e, mais uma vez, a autora não está isolada nesta artesania.
“Os olhos podem muito, mas não alcançam tudo.” Quem diz isso é José Saramago, e essa frase vai se refletir em várias passagens do livro de Acioli. Em um certo momento da trama, Félix Ventura, o homem contratado para inventar um passado para Cida (e um dos melhores personagens de todo o livro), diz a ela: “Os olhos não alcançam tudo, há uma parte da vida que só as almas podem ver. É o que tenho aprendido a vender passados para as pessoas. Não sou romântico, mas também não sou cego para o invisível”. Com uma obra intensamente dedicada ao apelo a uma visão para além das aparências, Saramago pavimentou um território narrativo em que grandes perguntas chegam para subverter a lógica. E se a Península Ibérica se descolasse da Europa e flutuasse, à deriva, pelo Atlântico? E se o poeta Fernando Pessoa, morto, pudesse se encontrar com Ricardo Reis, um de seus heterônimos, na ficção? E se uma epidemia deixasse as pessoas de uma metrópole cegas e só uma mulher pudesse enxergar por todos?, entre tantos outros “e se” revelam uma literatura com olhos bem abertos para o que não se pode ver. O olhar como uma ponte entre o indivíduo e o mundo. O olhar como mobilidade.
“Na dúvida do que enxerga, Cida/Joana empreende a viagem dos olhos para os sentidos, lança perguntas, fareja respostas no corpo, no roçar do corpo com o mundo, na experiência do contato, do além-mar.”
E é neste ponto que, sendo lançado assim, no rastro do centenário do nascimento de Saramago, Oração para desaparecer parece ser uma espécie de homenagem ao autor de Ensaio sobre a cegueira. De posse do inimaginável, nossa heroína, Cida, abre os olhos, grudados por lama, ressuscitando da terra, em seu mesmo corpo, no Portugal saramaguiano, tentando, a cada novo sonho, a cada novo espírito, vislumbrar e capturar espectros do que possa ser a sua identidade. É com a necessidade de ver que Cida percorre o caminho contrário, ou seja, o caminho para a origem de si, sua terra, o Brasil colônia de Portugal, em uma viagem (a mobilidade dos olhos de Saramago e suas alusões a jornadas e navegações) que abriga a descoberta de si pela visão do que se é.
Atrevo-me a dizer que Oração para desaparecer é mais do que uma homenagem arrebatadora às naus de Saramago, aos olhos que podem muito mas precisam se mover para alcançar o que quer que se queira alcançar. O livro de Acioli consegue ser único dentro do que comporta: os muitos autores que viajam junto com Cida de uma Almofala a outra. Acioli nos entrega uma brasileira que vê tendo olhos nas mãos, olhos no olfato, olhos no paladar. Olhos nos ouvidos. Na dúvida do que enxerga, Cida/Joana empreende a viagem dos olhos para os sentidos, lança perguntas, fareja respostas no corpo, no roçar do corpo com o mundo, na experiência do contato, do além-mar. Ao entregar Joana a Cida, Acioli também nos entrega de volta o Brasil e sua cultura ameríndia e africana, em seu universo assaltado pela colonização. E assim, como festa, como homenagem ao autor que fantasiava e que inquietava, no mesmo giro, em golpes de doçura e dor, nos ecos saramaguianos, Acioli nos entrega Cida/ Joana em cheiro de bolo de banana, estrela do mar e cavalos-marinhos, óleo de coco, languidez, chega açoitando o tecido social costurado em violência, diáspora e apagamento dos nossos povos originários. Oração para desaparecer, portanto, não nos chega em vão, porque Acioli quer de nós novos olhos. Nem que seja preciso desaparecer para ver de novo. Para ver de verdade o que os olhos não alcançam.
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Guia de perguntas sobre Oração para desaparecer
1. Quais foram as suas primeiras impressões sobre a ideia da autora de apresentar uma protagonista “ressurrecta”? E o que você achou da construção da personagem?
2. Como você percebeu a intertextualidade da obra? O que acha do diálogo que Socorro Acioli estabelece com nomes como José Saramago e José Eduardo Agualusa?
3. Você gostou da costura de localidades proposta pela autora?
4. Já conhecia a história dos Tremembés? Discuta a presença de temas como espiritualidade e ancestralidade na narrativa.
5. O que você achou do desfecho do livro? Consegue imaginar outros finais para a história?
outubro
No clima de Halloween, enviamos um clássico da literatura de terror! Suspense psicológico cheio de reviravoltas, o livro foi indicado pelo escritor e tradutor brasileiro Caetano Galindo e tem autoria de um nome emblemático do século XIX.
Para quem gosta de: suspenses psicológicos, livros de terror, clássicos
novembro
Escrito por um autor que também é poeta e dramaturgo, o livro de novembro traz a emocionante e dolorida história de amor e amizade entre um grupo de negros escravizados em meados do século XIX.
Para quem gosta de: ficção histórica; realismo mágico; literatura afro-americana
“Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam.”
– JOSÉ SARAMAGO