Dez2015 "Doze contos peregrinos"

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Ilustração: Alejandro Cabeza

Dezembro de 2015 Doze Contos Peregrinos


REDAÇÃO

Arthur Dambros arthur@taglivros.com.br Gustavo Lembert da Cunha gustavo@taglivros.com.br Tomás Susin dos Santos tomas@taglivros.com.br

COMERCIAL

Álvaro Scaravaglioni Englert alvaro@taglivros.com.br Guilherme Rossi Karkotli guilherme@taglivros.com.br Pablo Soares Valdez pablo@taglivros.com.br

REVISÃO ORTOGRÁFICA

Antônio Augusto Portinho da Cunha Adriana Kirsch Trojahn

PROJETO GRÁFICO

Bruno Miguell M. Mesquita brunomiguellmesquita@gmail.com

ILUSTRAÇÃO DA CAPA

Alejandro Cabeza alejandrocabeza-@hotmail.com

IMPRESSÃO

Gráfica Impressos Portão

TAG Comércio de Livros Ltda.

Rua Celeste Gobbato, 65/203 - Praia de Belas. Porto Alegre-RS. CEP: 90110-160 contato@taglivros.com.br


AO LEITOR De repente...passou! Já é o fim do ano, e vocês não conseguiram ler tudo o que gostariam, não é verdade? Não se preocupem, isso acontece com todos nós, leitores. Para complicar ainda mais, trouxemos um livro que é difícil deixar de lado, com a assinatura de um dos maiores autores latino-americanos da história: Gabriel García Márquez. O carisma e a simpatia do colombiano tornam quase impossível reprimir o desejo de adquirir todas as suas obras. Talvez seja por isso que Suzana Herculano, nossa curadora deste mês, indicou não apenas um, mas três livros dele: Doze Contos Peregrinos, Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos do Cólera. Escolhemos os contos por considerar que seriam menos conhecidos pelos nossos associados, e um excelente acréscimo à biblioteca de todos nós. Com a companhia do mestre Gabo, esperamos que tenham um ótimo final de ano e aproveitem as festas, com a esperança de melhores resoluções literárias para o ano que vem! Equipe TAG


A INDICAÇÃO DO MÊS

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A Curadors: Suzana Herculano O livro indicado: Doze Contos Peregrinos

ECOS DA LEITURA

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Márquez x Llosa A Suspensão da Descrença Amigos Opostos Dedicatórias A Solidão da América Latina A Luz é Como a Água

A INDICAÇÃO DE JANEIRO

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Luis Fernando Verissimo


Qual é a mãe? Texto escrito por Suzana Herculano e publicado em seu blog pessoal

O fim de semana com os amigos reuniu quatro crianças - 3, 5, 8 e 9 anos - na mesma casa, com espaço de sobra para elas ficarem à vontade. Não brincamos de contar quantas vezes ouvimos a palavra “Mãe” sendo chamada por crianças que queriam água, brinquedo, carinho, comida, ajuda no banheiro, atenção, mais água, o papel que voou, ou só praticar a fala ou pontuar as frases, mas ficou a impressão de que “mãe” e suas variantes deve ser, de longe, a palavra mais pronunciada do mundo. E aqui a curiosidade: na grande maioria das vezes, sabíamos de longe qual das três mães era requisitada. Como? Truque do cérebro, claro, que aprende a distinguir o chamado do próprio filho. Parece que, com a experiência, ocorrem modificações no córtex cerebral auditivo, responsável pelo processamento dos sons e sua diferenciação de outros (por exemplo, de “mães” produzidas por outros timbres de voz), e também nas estruturas do tronco cerebral que nos acordam e despertam a atenção: locus coeruleus e formação reticular mesencefálica ficam especialmente sensíveis aos chamados dos próprios filhos, mas não dos outros. Muito útil, por sinal, quando uma de várias crianças chora à noite: somente a mãe certa acorda, e as demais seguem seu sono em paz. Embora meu marido, que trabalha madrugadas adentro no escritório, garanta que, desde que ele veio morar conosco, às vezes eu não acorde mais. Alguma parte do meu cérebro deve ter aprendido a monitorar, mesmo adormecida, quando ele ainda não está na cama, e portanto pode acudir a criança que chorar ou tossir... enquanto eu durmo o sono merecido das mães!


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Indicação do Mês

A INDICAÇÃO DO MÊS


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A CURADORA: SUZANA HERCULANO No ano de 2008, o programa Fantástico, da Rede Globo, inaugurou um quadro que buscava educar seus milhões de telespectadores sobre alguns pontos básicos da neurociência. Intitulado NeuroLógica, o programa traz explicações científicas para questões do nosso cotidiano, como “Por que o bocejo é contagioso?” ou “Por que é difícil guardar um segredo?”. Para apresentar o programa, convidaram uma das mais respeitadas neurocientistas do nosso país: Suzana Herculano, nossa curadora de dezembro. Suzana Carvalho Herculano-Houzel nasceu em 1972, na cidade do Rio de Janeiro, e desde pequena era fascinada pela ciência. Formou-se em Biologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro no ano de 1992. Fez mestrado pela universidade americana Case Western Reserve (1995), doutorado na França pela Pierre et Marie Curie (1998) e pós-doutorado na Alemanha pelo Instituto Max Planck de Pesquisa do Cérebro (1999), todos em neurociência. Hoje, Herculano é professora e pesquisadora da UFRJ, onde dirige o Laboratório de Neuroanatomia Comparada do Instituto de Ciências Biomédicas, e luta constantemente por um lugar melhor para a Ciência em nosso país. Mas, afinal, Suzana, o que é a neurociência? “É todo o tipo de investigação sobre o sistema nervoso: como ele se desenvolve, como funciona, como é parecido ou diferente entre indivíduos e espécies.” A neurociência nos revela como o cérebro conduz nosso comportamento: por que nos emocionamos, por que precisamos dormir, como as crianças se desenvolvem. Enfim, como somos o que somos. -Suzana Herculano

Considerada hoje uma das cientistas mais influentes mundo afora, Suzana Herculano foi a


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primeira brasileira convidada a palestrar no TED Global, instituição que promove eventos ao redor do mundo, reunindo referências das mais diversas áreas de atuação para falarem sobre seus temas de pesquisa. Os vídeos de todas as palestras são disponibilizados gratuitamente no site da instituição. Em sua apresentação no TED, Herculano relata que, por um longo tempo, cientistas acreditaram que os cérebros de todos os mamíferos eram feitos do mesmo modo. Se isso fosse verdade, então, os mamíferos com os maiores cérebros teriam maior capacidade cognitiva. Obviamente, isso não é verdade – ou alguém acha que as baleias são os seres com maior poder cognitivo do planeta? Os cérebros dos seres humanos contêm algumas características peculiares, que contrariam essa lógica – como o consumo de energia. Apesar de representar apenas 2% do nosso corpo, nosso cérebro utiliza 25% das calorias de que necessitamos diariamente. Como, então, os seres humanos conseguiram evoluir de maneira a desenvolver cérebros tão complexos e chegar ao nosso estágio atual? Isso nos leva às descobertas feitas por Suzana Herculano, que lhe renderam um artigo publicado na Science, revista científica mais importante do mundo. A resposta é tão simples que parece brincadeira – a neurocientista resume em duas palavras: nós cozinhamos. Cozinhar é essencialmente o ato de usar o fogo para pré-digerir o alimento, o que possibilita que obtenhamos mais energia da mesma quantidade de comida. Na verdade, cozinhar pode trazer até três vezes mais calorias, e foi isso que permitiu que o cérebro humano se desenvolvesse tanto em um período relativamente tão curto de tempo. Além disso, o ato de comer, que antes levava horas, passou a ser exercido rapidamente, deixando muito tempo livre para que os seres humanos buscassem maneiras de aprimorar sua vida. Herculano conclui: “Agora, eu olho para a minha cozinha e faço uma reverência”. Autora de seis livros – ganhou o Prêmio Jabuti de Ciências, em 2008, com a obra Por que o Bocejo é Contagioso? – e colunista da Folha de São Paulo, Suzana


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Herculano vem obtendo destaque mundial por suas pesquisas, citada constantemente por jornais como The Guardian e The Daily Mail. Além do seu trabalho sobre a evolução, questões do dia-a-dia também fazem parte de suas áreas de interesse, como a eterna dificuldade das crianças de obedecerem ao “não” de seus pais. Herculano explica que o córtex pré-frontal, responsável por evitar que o indivíduo responda a estímulos de maneira automática, ainda não está completamente formado nas crianças – amadurece completamente apenas na adolescência. O que fazer, então, quando sua filha encontrar-se em cima de um muro alto? “Em vez de gritar ‘não pule!’, os pais devem pedir ‘fique parada!’. Assim, não haverá problema algum com o córtex préfrontal”. Herculano ainda brinca: “às vezes, até cérebros adultos têm dificuldade de responder ao não. Quer ver? Não pense em um elefante cor-de-rosa! Conseguiu? Aposto que não!”.

Depois de passar o dia tentando entender como cérebros são construídos e funcionam, deixar-me levar por ficção que se propõe apenas a contar histórias que desafiam a imaginação é deliciosamente refrescante. García Márquez foi onde eu descobri o realismo fantástico. Borges até chega perto, mas é muito heterogêneo e mais duro. Márquez era lirismo puro. -Suzana Herculano

DOZE CONTOS PEREGRINOS, DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ, foi o livro escolhido por Suzana Herculano.


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O LIVRO INDICADO: DOZE CONTOS PEREGRINOS Às nove horas da manhã do dia 6 de março de 1927, o coronel aposentado Nicolás Márquez e sua esposa, Dona Tranquilina, ganharam um novo netinho, Gabriel José García Márquez. Poucos anos depois, os pais do menino mudaramse para Barranquilla, e ele permaneceu com os avós na cidade de Aracataca, Colômbia, fato que foi considerado pelo futuro escritor como fundamental para despertar seu gosto pela escrita. Passou a infância fascinado com as histórias que seu avô, herói dos colombianos liberais, contava sobre a Guerra dos Mil Dias (conflito civil que abalou a Colômbia entre os anos de 1899 e 1902), e com a forma envolvente com que sua avó narrava as mais diversas e fantasiosas histórias. Gabo conta que sua avó “tratava o extraordinário como algo completamente natural”, não importando quão improvável soasse, e que foi essa a fonte de toda a visão mágica, supersticiosa e sobrenatural da realidade que empregou em suas obras. Com apenas cinco anos, teve sua primeira paixão: a jovem professora Rosa Elena. Gabo, como era conhecido, ansiava por ir à escola, e admitiu que toda vez em que lá se encontrava fazia de tudo para impressionar a professora e tentar beijá-la. Talvez por isso tenha aprendido a escrever com tanto afinco, mesmo com tão pouca idade. Com dez anos de idade, já escrevia contos humorísticos, e dedicava-se a pintar gatos, burros e rosas, além de rabiscar caricaturas de seus professores e colegas de aula. Aos dezoito anos, escreveu alguns sonetos inspirados em sua namorada da época. Em 1947, com apenas vinte anos, publicou seu primeiro conto, intitulado La Tercera Resignación e, poucas semanas depois, lançou o segundo, Eva Está Dentro de un Gato. No final da década de 40, passou a trabalhar no jornal El Heraldo, em Barranquilla, onde conheceu o escritor Cepeda Samudio. Unindo-se a outros dois redatores do jornal, os amigos faziam a dissecação das obras de Virginia Woolf, Daniel Defoe, Albert Camus e William Faulkner. Este último, que foi o autor enviado pela TAG em


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janeiro de 2015, serviu de grande inspiração para a literatura latino-americana, em especial para García Márquez, que reconheceu em seu discurso ao receber o Prêmio Nobel que Faulkner havia sido seu mestre. Apesar das análises que fazia com os amigos, Gabo declarou que a crítica literária nunca foi de sua predileção; sempre preferiu contar histórias. Em 1955, publicou seu primeiro romance, intitulado O Enterro do Diabo, e, nesse mesmo ano, mudou-se para a Europa como correspondente do jornal em que trabalhava. Viveu, sempre em precárias condições, em países como França, Alemanha, Polônia e Hungria. A estadia no Velho Continente, no entanto, permitiu a Gabo ver a América Latina sob outra perspectiva. Chamavam-lhe a atenção as diferenças culturais entre sua terra natal e os países com os quais estava tendo contato, e esse sentimento aumentava à medida que conhecia mais latino-americanos que viviam na Europa, tema que inspirou diversos de seus contos. Em 1958, de volta à Colômbia, casou-se com Mercedes Barcha, com quem teve os filhos Rodrigo e Gonzalo. Nos anos seguintes, teve muito pouco tempo para escrever, trabalhando em diversos projetos enquanto vivia nos Estados Unidos, México e Cuba. Um dia, enquanto dirigia da Cidade do México a Acapulco, em 1966, García Márquez teve a repentina visão da novela que havia anos vinha ruminando. Considerando que finalmente a tinha madura, largou o emprego, deixando o sustento da casa e dos dois filhos a cargo da mulher, sentou-se à maquina de escrever e trabalhou mais de oito horas diárias durante dezoito meses. O resultado disso tudo foi nada menos que a obraprima Cem Anos de Solidão (1967). As histórias fantásticas que se passam com as gerações da família Buendía no vilarejo mágico de Macondo encantaram o mundo inteiro, e trouxeram a Gabriel García Márquez o reconhecimento que tanto merecia. Pablo Neruda, poeta chileno vencedor do Prêmio Nobel, considerou a obra “a melhor novela escrita em espanhol depois de Dom Quixote”. No final dos anos 60, Gabo foi parte – e causa – do boom da literatura latino-americana, que também emplacou internacionalmente escritores como o peruano Mario Vargas Llosa, o mexicano Carlos Fuentes e os argentinos Jorge Luis Borges e Julio Cortázar, escritores mais velhos e já reconhecidos em círculos internacionais restritos.


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Eu devo a ele o impulso e a liberdade de mergulhar na literatura. Em seus livros, encontrei minha própria família, meu país, as pessoas que conheci a vida inteira, a cor do ritmo e a abundância do meu continente. -Isabel Allende Sucesso este que veio para consagrar, também, suas próximas publicações: A Incrível e Triste História de Cândida Eréndira e sua Avó Desalmada (1972), e O Outono do Patricarca (1975), considerada pelo próprio autor sua obra mais difícil de ser escrita. Em 1981, Márquez lançou Crônica de uma Morte Anunciada, apreciado por muitos como seu segundo melhor romance. Quinze anos após a publicação de Cem Anos de Solidão, na madrugada de 21 de outubro de 1982, Gabo recebeu a notícia que toda a América Latina aguardava: a Academia Sueca acabava de lhe outorgar o cobiçado Prêmio Nobel de Literatura. Naquele momento, o autor estava vivendo exilado no México, pois em março de 1981 se viu obrigado a sair da Colômbia para fugir do exército, que pretendia detê-lo por uma suposta vinculação a um movimento socialista. Na entrega do prêmio, García Márquez apresentou-se vestido com um clássico e impecável “liquiliqui” de linho branco, traje que seu avô usava durante as guerras civis e que seguia sendo símbolo de etiqueta no Caribe continental. Para o escritor uruguaio Eduardo Galeano, Márquez recebeu o prêmio “em nome dos poetas, mendigos, músicos, profetas, guerreiros e malandros da América Latina”. Em sua homenagem, o governo colombiano programou uma vistosa apresentação folclórica em Estocolmo, inaugurando uma coleção de selos que exibiam uma efígie de Gabriel García Márquez pintada por Juan Antonio Roda. Na ocasião, Gabo declarou: “O sonho da minha vida é que esses selos só levem cartas de amor” - e agora os associados da TAG podem realizar seu sonho!

Gabriel García Márquez foi o Mandela da Literatura. -Cristóbal Pera, editor da Penguin Books

No terreno literário, apenas três anos após o Nobel, publicou o aclamadíssimo romance O Amor nos Tempos


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do Cólera (1985), com uma extraordinária tiragem inicial de setecentos e cinquenta mil exemplares. O livro, que foi escrito durante um período sabático do autor em Cartagena das Índias, ganhou uma adaptação cinematográfica em 2007, dirigido pelo inglês Mike Newell (de Harry Potter e o Cálice de Fogo) e com a participação de Fernanda Montenegro. Em 1992, então, publicou Doze Contos Peregrinos, indicado por Suzana Herculano à TAG. Logo no prólogo, García Márquez explica o título: os contos que compõem esse livro foram escritos ao longo de dezoito anos, peregrinando muitas vezes da mesa do escritor para o cesto de lixo, voltando à sua escrivaninha para serem novamente abandonados logo depois. A capa da primeira edição da editora Record ilustrava essas “viagens”, estampando um cesto de lixo com doze flores e diversos papéis de rascunho amassados. O autor atesta que “o esforço de escrever um conto curto é tão intenso como o de começar um romance”, e com frequência sentia-se insatisfeito com o resultado de suas tentativas, sem saber o motivo. Muitos dos contos são ambientados na Europa, lugares que García Márquez havia conhecido muitos anos antes. Portanto, antes de entregar os originais à editora, decidiu voltar aos locais descritos, para assim concluir que não tinham nada a ver com o que recordava. Ao regressar de viagem, conta o autor, “reescrevi todos os contos outra vez, desde o princípio, em oito meses febris nos quais não precisei me perguntar onde terminava a vida e onde começava a imaginação”. Como finalizou todos os contos ao mesmo tempo, García Márquez deixa ao leitor, na página final de cada um, a data em que começou a escrevê-los. O resultado não poderia ser mais satisfatório: em contos curtos, rápidos e envolventes, Gabo lida com o fantástico, com a paixão, o amor e a loucura, e o fio condutor entre as histórias é o povo latino-americano em contato com culturas diferentes. Boa Viagem, Senhor Presidente, a história que dá início ao livro, traz um presidente caribenho exilado na Suíça. A Santa, o segundo conto, reúne as recordações de um escritor ao voltar a Roma e encontrar um amigo já quase esquecido. O pequeno conto A Luz é Como A Água, que encantou Suzana Herculano, retrata o poder e a inocência da imaginação das crianças. Como adverte o escritor americano Jonathan


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Franzen, “contos não permitem que o autor se esconda”. Nesta obra, García Márquez, que já tinha em sua bagagem obras como Cem Anos de Solidão e O Amor nos Tempos do Cólera, vale-se da mesma magia empregada em seus outros livros, com geniais escolhas linguísticas e a cativante forma de contar uma história. Nas pequenas narrativas, Gabo ainda encontra espaço para elogiar outros grandes escritores, como Pablo Neruda, Jorge Luis Borges e Vinícius de Moraes.

Seja como for, por via das dúvidas, não tornarei a lê-los, como nunca tornei a ler nenhum de meus livros com medo de me arrepender. -Gabriel García Márquez

Em 2002, Gabo publicou seu livro de memórias, Viver para Contar, destinado a ser o primeiro de uma série de três volumes. “Começa com a vida de meus avós maternos e os amores de meu pai e minha mãe no início do século, e termina em 1955 quando publiquei meu primeiro livro, O Enterro do Diabo, e viajei à Europa como correspondente do jornal. O segundo volume seguirá até a publicação de Cem Anos de Solidão. O terceiro terá um formato distinto, e serão apenas as recordações das minhas relações pessoais com seis ou sete presidentes de diferentes países.” Infelizmente, García Márquez adoeceu pouco após a publicação de Memórias de Minhas Putas Tristes, em 2004, e nos deixou para sempre ansiosos pelas histórias dos outros dois livros autobiográficos. Em 17 de abril de 2014, o mundo perdeu um de seus grandes expoentes literários. Quando García Márquez faleceu, o então presidente da Colômbia Juan Manuel Santos declarou: “Cem anos de solidão e tristeza pela morte do maior colombiano de todos os tempos”. Não poderia ter sido mais preciso o autor ao escolher o título da obra enviada neste mês: não apenas os contos viajaram de sua mesa de trabalho para a lixeira, mas também passaram pela poltrona de leitura de Suzana Herculano e agora fazem uma última peregrinação à biblioteca dos nossos associados!


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Ecos da Leitura

ecos da leitura


Ecos da Leitura

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Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa, dois vencedores do Prêmio Nobel de Literatura, passam uma imagem de cavalheiros, homens que debateriam opiniões contrárias com um charuto na boca e uma taça de conhaque na mão. No entanto, os dois escritores chegaram às vias de fato e desde então nunca mais se falaram, e é isso que conta nosso primeiro Eco, Márquez X Llosa. A fantasia é um elemento característico na prosa de García Márquez. Em nosso segundo Eco, Suzana Herculano explora o que é necessário para nos deixarmos levar por ela. O terceiro Eco mostra como Gabo era um homem cativante, que ao longo de sua vida cultivou amizades com políticos célebres, como Bill Clinton, Fidel Castro e Fernando Henrique Cardoso. Você já imaginou as Dedicatórias que um escritor deve elaborar para seus amigos? O quarto Eco deste mês traz a foto de um livro com que García Márquez presenteou Júlio Cortázar. O discurso que García Márquez proferiu ao receber o Prêmio Nobel, A Solidão da América Latina, é lembrado até hoje pelas pessoas que estavam presentes na homenagem, e foi reproduzido milhares de vezes na internet. Selecionamos alguns trechos para você conhecer o recado que o autor colombiano quis passar na ocasião. Por fim, trouxemos a ilustração de Orlando Pedroso sobre o conto A Luz é Como a Água, o preferido da nossa curadora Suzana Herculano. Equipe TAG contato@taglivros.com.br

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MÁRQUEZ V Quando jovem, Gabriel García Márquez foi muito próximo do escritor peruano Mario Vargas Llosa, também vencedor do prêmio Nobel de Literatura. Após alguns anos, entretanto, desentenderam-se por divergências ideológicas, e Vargas Llosa foi visto desferindo um soco na face de García Márquez em público. O motivo da rusga ainda é desconhecido devido à discrição de ambos os escritores, que mantiveram um pacto de silêncio de cavalheiros. No entanto, acredita-se que tenha a ver com o fato de que Vargas Llosa passou a assumir uma posição política de direita liberal, fato que irritou García Márquez, ferrenho defensor da esquerda. O escritor Álvaro Vargas Llosa, filho do peruano, não quis falar sobre a briga entre Márquez e seu pai. “Ambos disseram que deixariam os detalhes para suas memórias. Espero com curiosidade esse relato, mas meu pai foi um grande admirador a vida inteira. Eu me lembro de muitas cenas de quando era criança, de meu pai lendo García Márquez”, concluiu. Na ocasião do falecimento do escritor colombiano, Mario Vargas Llosa deixou de lado a desavença de trinta e oito anos para prestar seus respeitos.


Ecos da Leitura

S LLOSA

Morreu um grande escritor, cujo trabalho trouxe enorme reconhecimento e prestígio para a literatura de nossa língua. Seus livros lhe sobreviverão, ganhando leitores de todo o mundo. – Mario Vargas Llosa, que não falava com García Márquez desde 1976.

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SUSPENSÃO DA DESCRENÇA Além do coronel Nicolás Márquez e de Dona Tranquilina, outra figura influenciou significativamente Gabriel García Márquez: Franz Kafka. Conta-se que, ao ler a célebre frase de abertura do clássico Metamorfose, “Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso”, Gabo exclamou “Então eu posso fazer isso com as personagens?! Criar situações impossíveis?” E foram essas situações impossíveis que possibilitaram ao escritor colombiano, que viria a ser considerado o pai do realismo fantástico, levar a literatura latino-americana a um lugar de destaque nas livrarias do mundo inteiro. Mas por que os leitores interessam-se tanto por histórias fantásticas? Desde Alice no País das Maravilhas, passando por Cem Anos de Solidão, Harry Potter e chegando ao recente sucesso de Game of Thrones, livros que nos transportam a mundos diferentes vêm cativando distintos públicos, atingindo rapidamente a lista de mais vendidos. Suzana Herculano, nossa curadora deste mês, questionando-se sobre como a leitura de fantasia opera sua mágica nos nossos cérebros, descobriu que um grupo de pesquisadores da Universidade de Berlim já havia respondido a essa pergunta. Um experimento fora realizado com voluntários que deveriam ler, dentro de uma máquina de ressonância magnética, trechos fantásticos e trechos normais dos mesmos livros. Descobriu-se que a leitura de trechos “impossíveis” causa maior ativação da amígdala cerebral esquerda, trazendo mais sensações de surpresa e prazer do que a leitura de trechos reais. Além disso, estimulam partes do córtex cerebral vinculadas à atenção. Ler textos fantásticos traz surpresa e prazer ao cérebro, que fica atento, querendo mais. Mas desta parte eu já sabia... -Suzana Herculano


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Algumas pessoas, entretanto, mantêm-se céticas: recusam a leitura de algo que não seja verossímil, que fuja do que encontramos em nosso cotidiano, atestando não conseguirem envolver-se pelo enredo. A apreciação da literatura fantástica exige a chamada suspension of disbelief, ou seja, a suspensão da descrença, expressão cunhada em 1817 pelo poeta inglês Samuel Taylor Coleridge. Suzana Herculano concorda: “É sabido que apreciar ficção, sobretudo a literatura fantástica, requer ‘suspensão da descrença’, ou seja, calar momentaneamente aquelas partes do cérebro que ficam dizendo ‘isto não é possível’”. Se conseguirmos transcender essa barreira, poderemos atingir o nível de prazer estudado pelos pesquisadores.


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AMIGOS OPOSTOS Por criticar o imperialismo norte-americano e por ser amigo do expresidente cubano Fidel Castro, Gabriel García Márquez teve seu visto para entrar nos Estados Unidos negado por muitos anos. Quando Bill Clinton assumiu a presidência, porém, concedeu o visto ao colombiano, e declarou que Cem Anos de Solidão era seu livro preferido. Clinton ainda acrescentou que Gabo foi fundamental para melhorar a relação entre EUA e Cuba nos anos noventa, e que pretendia cancelar o embargo contra a ilha no seu segundo mandato, um pedido recorrente do colombiano.

García Márquez e Fidel Castro

Fernando Henrique Cardoso lendo Doze Contos Peregrinos

García Márquez e Bill Clinton


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DEDICATÓRIAS A biblioteca de Júlio Cortázar (1914 – 1984), um dos mais célebres escritores argentinos de todos os tempos, engloba relíquias de todos os tipos. Certa feita, foram expostos livros que Cortázar recebeu de seus amigos escritores, com as mais divertidas dedicatórias. Um dos livros encontrados foi justamente Os Funerais da Mamãe Grande (1962), de García Márquez, e na primeira página constava, escrito à mão, “Para Júlio Cortázar, com a inveja e a amizade de Gabriel”. Além dessa obra, também foi encontrado o livro A Casa Verde (1965), de Mario Vargas Llosa, dedicando a Júlio e Aurora, sua mulher, “os primeiros leitores dessa novela de cavalheirismo.”


22 Ecos da Leitura

A SOLIDÃO DA AMÉRICA LATINA Para quem acompanha Pablo Escobar na série Narcos, do Netflix, a Colômbia não parece um país muito seguro. Na ocasião do recebimento do seu Prêmio Nobel de Literatura, em 1982, Gabriel García Márquez proclamou um dos mais notórios discursos da história do prêmio, intitulado A Solidão da América Latina, dissertando acerca dos problemas que assolam diversos países latino-americanos. Reproduzimos aqui algumas marcantes partes do discurso; o site do Prêmio Nobel disponibiliza o texto na íntegra e o vídeo do evento. (...) Onze anos atrás, o chileno Pablo Neruda, um dos brilhantes poetas de nosso tempo, iluminou este público com suas palavras. Desde então, os europeus de boa vontade – e às vezes aqueles de má vontade também – têm sido arrebatados, com cada vez mais força, pelas novidades fantásticas da América Latina, esse reino sem fronteiras de homens alucinados e mulheres históricas, cuja infinita obstinação se confunde com a lenda. Já ocorreram cinco guerras e dezessete golpes militares; surgiu um diabólico ditador que está realizando em nome de Deus o primeiro etnocídio da América Latina de nosso tempo. Nesse ínterim, vinte milhões de crianças latinoamericanas morreram antes de completar um ano de vida – mais do que as que nasceram na Europa desde 1970. Os desaparecidos pela repressão chegam a quase duzentos e vinte mil. É como se ninguém soubesse onde foi parar a população inteira de Uppsala. Várias mulheres presas grávidas deram à luz nas prisões argentinas, e ainda ninguém sabe do paradeiro e da identidade de seus filhos, que foram furtivamente adotados ou enviados para orfanatos por ordem das autoridades militares. Porque tentaram mudar esta situação, quase duzentos mil homens e mulheres morreram em todo o continente, e mais de cem mil perderam suas vidas em três pequenos e malfadados países da América Central: Nicarágua, El Salvador e Guatemala. Se fosse nos Estados Unidos, seria o equivalente a um milhão e seiscentas mil mortes violentas em quatro anos.


Ecos da Leitura 23

GarcĂ­a MĂĄrquez no recebimento do Nobel


24 Ecos da Leitura

(...) Ouso dizer que é esta desproporcional realidade, e não apenas sua expressão literária, que mereceu a atenção da Academia Sueca de Letras. Uma realidade não de papel, mas que vive dentro de nós e determina cada instante de nossas incontáveis mortes de todos os dias, e que nutre uma fonte de criatividade insaciável, cheia de tristeza e beleza, da qual este errante e nostálgico colombiano não passa de mais um, escolhido pelo acaso. Poetas e mendigos, músicos e profetas, guerreiros e canalhas, todas as criaturas desta indomável realidade, temos pedido muito pouco da imaginação, porque nosso problema crucial tem sido a falta de meios concretos para tornar nossas vidas mais reais. Este, meus amigos, é o cerne da nossa solidão. E se estas dificuldades, cuja essência compartilhamos, nos atrasa, é compreensível que os talentos racionais desta parte do mundo, exaltados na contemplação de sua própria cultura, se encontrem sem meios apropriados de nos interpretar. É simplesmente natural que eles insistam em nos medir com o mesmo bastão que medem a si mesmos, se esquecendo de que as intempéries da vida não são as mesmas para todos, e que a busca pela nossa própria identidade é tão árdua e sangrenta para nós quanto foi para eles. A interpretação de nossa realidade em cima de padrões que não são os nossos serve apenas para nos tornar ainda mais desconhecidos, ainda menos livres, ainda mais solitários. A venerável Europa talvez pudesse ser mais perceptiva se tentasse nos ver em seu próprio passado. Se ela recordasse simplesmente que Londres levou trezentos anos para construir seu primeiro muro, e mais trezentos para ter um bispo; que Roma labutou numa penumbra de incertezas por vinte séculos, até que um rei etrusco a fizesse entrar para a história; e que a pacífica Suíça de hoje, que nos deleita com seus leves queijos e simpáticos relógios, derramou o sangue da Europa como soldados mercenários, no final do século XVI. (...) Não quero incorporar as ilusões de Tonio Kröger, cujos sonhos de unir um casto norte a um sul apaixonado foram exaltados aqui, há cinquenta e três anos, por Thomas Mann. Mas realmente acredito que aqueles europeus esclarecidos que lutaram, inclusive aqui, por um lar mais justo e humano, pudessem nos ajudar muito melhor se reconsiderassem sua maneira de nos ver. A solidariedade com nossos sonhos não


Ecos da Leitura 25

vai nos fazer menos solitários, enquanto isso não for traduzido em atos concretos de apoio legítimo às pessoas que aceitam a ilusão de ter uma vida própria na divisão do mundo. A América Latina não quer, nem tem qualquer razão para querer, ser massa de manobra sem vontade própria; nem é meramente um pensamento desejoso que sua busca por independência e originalidade deva se tornar uma aspiração do Ocidente. No entanto, a expansão marítima que estreitou essa distância entre nossas Américas e a Europa parece, ao contrário, ter acentuado nosso distanciamento cultural. Por que a originalidade nos foi agraciada tão prontamente na literatura e tão desconfiadamente nos foi negada em nossas difíceis tentativas de mudanças sociais? Por que pensar que a justiça social perseguida pelos europeus progressistas aos seus próprios países não pode ser um objetivo da América Latina, com métodos diferentes em condições desiguais? Não: as incomensuráveis violência e dor de nossa história são o resultado de antigas iniquidades e amarguras caladas, e não uma conspiração tramada a três mil léguas de nossa casa. (...) Um dia como hoje, meu mestre William Faulkner disse: “Eu me recuso a aceitar o fim da humanidade”. Não seria digno de mim estar num lugar em que ele esteve se eu não tivesse plena consciência de que a tragédia colossal que ele se recusou a reconhecer, trinta e dois anos atrás, é agora, pela primeira vez desde o começo da humanidade, nada além de uma simples possibilidade científica. Cara a cara com esta realidade horrenda que pode ter parecido uma mera utopia em toda a existência humana, nós, os inventores das fábulas, que acreditamos em qualquer coisa, nos sentimos inclinados a acreditar que ainda não é tarde demais para nos engajarmos na criação da utopia oposta. Uma nova e avassaladora utopia da vida, onde ninguém será capaz de decidir como os outros morrerão, onde o amor provará que a verdade e a felicidade serão possíveis, e onde as raças condenadas a cem anos de solidão terão, finalmente e para sempre, uma segunda oportunidade sobre a terra. Tradução feita por Gilberto G. Pereira


26 Ecos da Leitura

A LUZ É COMO A ÁGUA Entre os Doze Contos Peregrinos, o preferido de Suzana Herculano, A Luz é Como a Água, ganhou uma ilustração do talentoso Orlando Pedroso, vencedor do Prêmio HQMix de melhor ilustrador de 2001.

É um conto lindo e absolutamente mágico, um convite ao leitor para se deixar maravilhar com o inesperado. -Suzana Herculano

(...) mergulharam como tubarões mansos por baixo dos móveis e das camas e resgataram do fundo da luz as coisas que durante anos tinham-se perdido na escuridão. -trecho retirado do livro


Ecos da Leitura 27

Espaço do Leitor Daniel Strauch, nosso associado do Rio de Janeiro, quis compartilhar com o clube a história de Charles, seu amigo deficiente visual que é um dos maiores leitores que conhece. A TAG agradece ao Daniel e suas dicas de apps para leitura!

Um upgrade nas leituras Eu trabalho em uma biblioteca de um órgão público e tenho o privilégio de ter chefes e colegas que também gostam de ler. Logo cedo, no início do expediente, costumamos nos reunir na copa para bater um ligeiro papo sobre nossas leituras, autores favoritos e experiências de vida. Chamamos esses encontros de “Café Literário”. No entanto, o que torna essas reuniões ainda mais especiais é o Charles: um amigo deficiente visual que, em geral, lê quase mais que todos nós juntos. Fã da Apple e de seus produtos, o Charles utiliza os recursos de interpretação de texto do sistema iOS (no caso, o Voice Over) e sofisticados aplicativos para leitura, como o Voice Dream, que tem diferentes timbres de voz e inúmeros idiomas. Além de admirar a argúcia e a vontade de meu amigo, fiquei curioso quanto às vantagens que a interpretação de texto também pode trazer para quem não é deficiente visual. Afinal, utilizando esse recurso, seria possível “ler” ao dirigir, em viagens de ônibus, malhando etc. Recentemente, o pessoal do “Café Literário” ficou surpreso com a rapidez de minhas leituras. Eu expliquei a eles que estava utilizando os recursos de interpretação de texto do Charles. No entanto, este meu amigo ficou surpreso com a velocidade que estou utilizando nos aplicativos – 400 palavras por minuto. Na realidade, eu descobri que, além de permitir ler em qualquer lugar, esse recurso também pode dar um ritmo mais intenso à leitura, pois ler e ouvir simultaneamente aprimora a compreensão, catalisa a cognição e permite assimilar melhor o conteúdo dos textos. Atualmente, com a correria do dia a dia e a adaptação tecnológica, já não consigo mais imaginar futuras leituras sem planejar o que vou ler e o que vou “ouviler”...


Dezembro 28 Indicação de Janeiro

A INDICAÇÃO De JANEIRO

O autor tem um estilo enxuto, mas que não o impede de dar mergulhos profundos na condição humana. Ele escreve como ninguém no Brasil, e mais ninguém trata da violência como ele. Luis Fernando Verissimo

O protagonista do livro deste mês é um matador de aluguel que, após anos de profissão, decide se aposentar. Vende sua arma, compra novas roupas, reinicia a vida... sem saber que os fantasmas de seu passado recente voltariam para atormentá-lo, e ele se encontraria no cerco de outros profissionais que querem pôr fim a sua vida. A obra recomendada por Luis Fernando Verissimo é um dos últimos lançamentos de um autor clássico da nossa literatura nacional. Clássico, mas ainda contemporâneo – aquele período em que o leitor é privilegiado com as publicações de um consagrado escritor que ainda está vivo. Conhecido por revolucionar a literatura policial brasileira, o autor deste mês trabalhou na polícia antes de começar a escrever. Não é à toa que seus livros são cheios de sangue, tiros, assassinatos e suspense – e o livro que Luis Fernando Verissimo selecionou não é diferente. Informações completas a respeito do curador do mês e do livro recomendado podem ser encontradas em www.taglivros.com.br ou então na revista do próximo mês. Caso já tenha lido o livro, envie e-mail para contato@taglivros.com.br para conhecer as alternativas.


Ecos da Leitura 29

Publique suas fotos com #taglivros para reunirmos as bibliotecas dos associados!

Esse foi o mimo enviado em nosso kit de fevereiro deste ano. JĂĄ que o livro tinha como enredo o aquecimento global, enviamos um Ă­mĂŁ de um pinguim leitor para o associado lembrar da TAG na sua geladeira! Caso queira adquirir algum de nossos kits passados, envie e-mail para contato@taglivros.com.br.


contato@taglivros.com.br www.taglivros.com.br facebook.com/taglivros @taglivros

- Caio Fernando Abreu -


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