Edição e textos Débora Sander, Rafaela Pechansky e Tatiana Cruz
Colaboradoras Laura Viola e Sophia Maia
Designers Bruno Miguell Mesquita e Lu Kohem
Capa Diogo Droschi
Revisores Antônio Augusto e Liziane Kugland
Impressão Impressos Portão
Olá, tagger
Você piscou e estamos em dezembro, o mês oficial das retrospectivas. Hora de tomar nota dos planos tirados do papel, dos que seguiram lá pendurados, das surpresas boas ou amargas que cruzaram o caminho sem aviso. Sorte é olhar para o arranjo único que foi possível compor no ano que passou, com seus trunfos e fragilidades, e encontrar ali o impulso para reciclar, descartar ou atualizar os desejos para os doze meses de jornada que se abrem logo ali.
Para embalar este clima dezembrino, estamos muito felizes de enviar a vocês uma história nostálgica, afirmativa e emocionante de uma autora que conquistou os corações dos nossos associados em 2023 com um dos livros mais queridos da história da TAG, O que resta de nós. Em Uma vida bela, a aclamada escritora Virginie Grimaldi brinda mais uma vez seus leitores com uma história de tocar e aquecer o coração, marcada por um senso de humor ímpar, personagens incrivelmente verdadeiros e toda a profundidade dos laços humanos.
Na trama, as irmãs Emma e Agathe se reencontram, após cinco anos de afastamento, na casa de sua falecida e amada avó, onde costumavam passar os verões na infância. Nesse lugar cheio de memórias, elas precisam aprender a fluir na alegria e na dor de compartilhar os dias, a acomodar as diferenças e lembrar dos ecos de luz e sombra que constituem quem são e do amor que sentem uma pela outra. Uma leitura de verão perfeita, ambientada em meio às belas paisagens praianas do País Basco e cheia de referências dos anos 1990.
Desejamos uma ótima leitura e um 2025 cheio de novas páginas para preencher de sonhos e uma bela vida. Nos vemos no ano que vem!
Experiência do mês
DEZEMBRO 2024
Seu livro além do livro: para ouvir, guardar, expandir, crescer.
Mimo
Com mais um ano de leituras que se encerra, um novo calendário para você projetar seu olhar para as boas histórias que estão por vir, dentro e fora dos livros. Selecionamos doze personagens inesquecíveis de clássicos da literatura brasileira de todos os tempos para te acompanhar em 2025. Desejamos que cada um deles possa trazer sua força única, ternura, coragem e inspiração literária para você viver plenamente cada novo dia do ano que começa.
Projeto gráfico
No livro do mês, as irmãs Emma e Agathe se reencontram na casa da falecida avó, onde passavam os verões da infância. O mar é um agente simbólico e emocional cheio de significados nessa narrativa. Muito mais do que mero cenário, ele reflete a complexidade das emoções e memórias compartilhadas pelas personagens, por isso, é nessa paisagem que elas repousam na capa criada por Diogo Droschi. Em outros elementos do projeto gráfico, exploramos a estética da fita VHS, um objeto que ajuda as protagonistas a resgatarem lembranças valiosas ao longo da história.
Para quem sabe que o livro sempre rende boas conversas
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Para ajudar a embalar a sua leitura
sumário
Por que ler este livro
Bons motivos para você abrir as primeiras páginas e não parar mais
Universo do livro
Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês
Sobre a autora
Um retrato caprichado e uma entrevista com quem está por trás da história
Vem por aí
Para você ir preparando seu coração
Dor de amor? Dúvidas na vida? Nosso consultório literosentimental responde com dicas de livros 04 06 08 13 14 16
Da mesma estante
Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês
Madame TAG responde
“Amantes de livros como A amiga genial e Água fresca para as flores vão se apaixonar perdidamente por esta história bela, comovente e curativa. Pegue uma caixa de lenços!”
— Electric Literature
“Nas mãos sensíveis de Virginie Grimaldi, este romance lança um olhar afirmativo para a forma como o amor e a dedicação podem superar a dor e curar cicatrizes.”
— Washington Post
“Com seu retrato cheio de nuances sobre o vínculo entre irmãs, flashbacks nostálgicos e momentos revigorantes na natureza, Uma vida bela é o livro perfeito para um dia tranquilo e preguiçoso de verão.”
— Independent Book Review
Por que ler este livro
Na prosa inconfundível da escritora mais lida da França, uma história que equilibra leveza e potência narrativa ao retratar a complexidade e a força do laço entre irmãs — onde se encontram zelo e culpa, cumplicidade e ressentimento. Prepare-se para ser arrebatado por uma atmosfera delicada e profunda de memória, que desperta reflexões sobre nossos caminhos, as pessoas que amamos e o tempo que nos escapa. Um livro para rir, chorar e contemplar a vida de peito aberto para aquilo de mais simples, belo e cruel que ela pode trazer.
Universo do livro
Livros, séries, filmes que orbitam o livro do mês
1
UMA VIDA BELA, DE VIRGINIE GRIMALDI
se passa em paisagens deslumbrantes em pleno verão europeu, assim como ME CHAME PELO SEU NOME, filme de Luca Guadagnino
2
que explora a descoberta da sexualidade na juventude, como Atypical, série da Netflix
3
que inspira importantes reflexões sobre neurodiversidade, como O lado bom da vida, filme de David O. Russell
6
UMA VIDA BELA, DE VIRGINIE GRIMALDI
5
em que uma das protagonistas enfrenta desafios de saúde mental, como Por lugares incríveis, de Jennifer Niven que ganhou uma bela adaptação ao cinema, como Reparação, de Ian McEwan que explora no centro da trama uma complexa relação entre irmãos, como
4
Dor, encantamento e a beleza da vida de cada dia
A trajetória, a profundidade, o estilo, os temas e as ideias de uma escritora que conquistou milhões de leitores na França e em dezenas de países
Seria ingênuo supor em toda ficção uma narrativa autobiográfica, mas uma coisa é inegável: a vida é sempre, de algum modo e em alguma medida, a substância das criações literárias. Isso explica nossa curiosidade em saber mais sobre quem escreve os livros que nos cativam: o que, naquela experiência humana, foi desaguar nos universos ficcionais que essa pessoa criou?
Virginie Grimaldi nasceu em Bordeaux em 1977, é autora de doze livros, teve obras traduzidas para dezenas de idiomas e alguns milhões de exemplares vendidos. O caminho que culminou nesse merecido reconhecimento teve início na infância. Depois de se encantar por um caderno de poesias da avó, a francesa criou seus primeiros textos aos oito anos. Na vida adulta, porém, sua atuação profissional seguiu por outros rumos. Até quinze anos atrás, ela trabalhava como assistente comercial. Foi em 2009 que começou a publicar seus escritos em um blog, sob o pseudônimo de Ginie. Aos poucos, conquistou a popularidade necessária para conseguir publicar seu primeiro livro em 2015, Le premier jour du reste de ma vie.
Em 2020, a escritora francesa tornou-se a mulher mais lida de seu país e, em 2022, seu livro Tempo de reacender estrelas foi escolhido como o favorito dos franceses. Na equação desse sucesso estrondoso estão um estilo original, personagens verdadeiros, doses exatas de humor e densidade emocional e, é claro, um tema inescapável ao ser humano: os laços familiares, sejam aqueles de origem ou os que assumem esse lugar com o passar dos anos.
Em entrevista ao canal francês Télé 7 jours, a autora deste mês da TAG Inéditos contou que a recorrência da temática familiar em sua obra reflete uma relação muito próxima que ela tem com a própria família. “Todo esse pequeno mundo que fervilha ao meu redor me inspira muito. Eu tive a sorte de nascer e crescer em uma família que é um clã. Nós somos muito unidos, moramos todos na mesma região. Eu sempre falo de assuntos que me inquietam, e esse tema, os laços familiares, é inesgotável e inquietante”, afirmou.
Uma vida bela é uma história sobre o amor entre irmãs, com todas as camadas que ele pode agregar. Sob pontos de vista alternados, o que se revela ao leitor é o olhar das protagonistas para a experiência de crescerem juntas, compartilharem a rotina, os pais, os filmes, as férias, as frustrações pessoais, paixões, traumas, perdas e ganhos. Nesse fluxo pelo tempo de uma vida, o romance é capaz de fisgar leitores de diferentes gerações.
Em entrevista ao portal La Presse, Grimaldi se disse fascinada pelo vínculo fraternal — que, bem ou mal, ajuda a definir quem somos. “A relação entre irmãos e irmãs é algo tão particular, que a gente não escolhe e que pode nos deixar infelizes, assim como pode nos fazer felizes, mas que nos posiciona para a vida”, comentou a escritora. Ela dedica o livro a sua irmã mais nova e afirma que usou elementos de sua própria experiência para criar a narrativa, permeada por memórias de ternura e conexão entre Emma e Agathe, mas também pelas marcas de um rompimento entre as duas. “Já aconteceu comigo e com minha irmã de termos desentendimentos, de nos afastarmos em certos momentos, de não nos entendermos mais, de não nos falarmos mais; e vai acontecer de novo, sem dúvida. A doença do nosso pai nos reaproximou muito. Então acredito que isso cria um alicerce comum, um vínculo, e é isso que eu queria explorar no meu romance. Esse elo sempre existirá, queiramos nós ou não”, completou.
Não sei exatamente o que é a felicidade ou uma vida bela, mas acredito que, a cada dia, podemos colher pequenos momentos de felicidade. E isso é algo que eu realmente tento cultivar.
GRIMALDI
VIRGINIE
Os livros de Grimaldi são frequentemente classificados sob o grande guarda-chuva da literatura feelgood por oferecerem narrativas leves e envolventes aos leitores. Mas a escritora se destaca pela habilidade em construir tramas afirmativas sem silenciar ou simplificar discussões sobre as sombras que fazem parte da vida de qualquer pessoa. Uma vida bela traz questões importantes sobre o impacto dos transtornos mentais nas relações humanas, experiências de violência e trauma.
Ainda assim, o livro propõe uma reflexão delicada sobre buscar o bom da vida nos dias comuns. Há passagens arrebatadoras, acontecimentos surpreendentes, mas o andamento da história tem uma atmosfera um tanto cotidiana. A sensação do leitor, entre risos e lágrimas, é de convivência íntima com as personagens, no que há de mais banal ou grandioso, acolhedor ou incômodo no dia a dia e nas memórias de cada uma.
Sobre esse aspecto, que remete ao título do livro, a autora comentou ao portal La Presse o que ela entende por “uma vida bela”. “Me dei conta disso há uns dez anos. Eu sempre dizia: ‘Quando eu for mais magra, quando eu for mais rica…’. No fim, a gente sempre adia a felicidade. Não sei exatamente o que é a felicidade ou uma vida bela, mas acredito que, a cada dia, podemos colher pequenos momentos de felicidade. E isso é algo que eu realmente tento cultivar”, argumentou. Convidamos você também a apostar nesse cultivo neste fim de ano, no ano por vir e em todos os que virão. Que sejam belos!
No próximo mês
Encontre as 8 PALAVRASque dão dicas do spoiler do próximo mês.
Para inaugurar as leituras do ano, mergulhe em uma história viciante, divertida e com profundas reflexões sobre o amor, a vida, suas luzes e sombras, no cenário de um casamento luxuoso
Da mesma estante
Livros que poderiam ser guardados na mesma prateleira do livro do mês, para quem quiser continuar no assunto
FUN HOME, Alison Bechdel
Todavia 240 pp.
Tradução de André Conti
Uma HQ autobiográfica sobre sexualidade, laços familiares e perda. Com profundidade e pitadas de humor, a autora passa por sua saída do armário como uma mulher lésbica, a morte do pai e a relação com a arte e a literatura.
KENTUKIS, Samanta Schweblin
Fósforo 192 pp.
Tradução de Livia Deorsola
Nesse romance autêntico e divertido, a escritora argentina investiga a relação de um mosaico de pessoas com a tecnologia, explorando temas de solidão e vigilância. Um retrato cheio de humanidade sobre a vida moderna.
MEU ANO DE DESCANSO E RELAXAMENTO, Ottessa Moshfegh
Todavia 240 pp.
Tradução de Juliana Cunha
Uma jovem rica e desiludida decide se afastar do mundo ao se submeter a um ano de sono induzido por remédios receitados por uma psiquiatra de caráter duvidoso. Uma história original, delicada e ácida sobre as fugas do vazio existencial, a dor e o ridículo de viver neste mundo.
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ÁGUA FRESCA
PARA AS FLORES,
Valérie Perrin
Intrínseca 480 pp.
Tradução de Carolina Selvatici
Violette Toussaint é zeladora de um cemitério em uma pequena cidade francesa. Entre memórias pessoais e alheias, perdas e encontros, ela encontra conforto nos rituais e nas flores de seu cemitério e descobre a força da vida em meio à morte.
O VERÃO EM QUE MAMÃE TEVE
OLHOS VERDES, Tatiana Tibuleac
Mundaréu 240 pp.
Tradução de Fernando Klabin
Nessa comovente história sobre a complexidade dos laços familiares, Aleksy relembra um verão marcante que passou com sua mãe, muitos anos antes. Em uma prosa crua, a autora circula entre memórias dolorosas e momentos de redenção com uma força narrativa impressionante.
A NATUREZA
DA MORDIDA, Carla Madeira
Record 240 pp.
O encontro inusitado e profundo entre a psicanalista aposentada Biá e a jovem jornalista Olívia desencadeia um mergulho nas histórias de vida de cada uma nessa inesquecível história de trauma, abandono e a força curativa da amizade.
Madame TAG responde
Bom dia! Saudações do sul de Minas Gerais, Madame TAG. Minha dúvida é: tenho um conje que é muito grude comigo e tem ciúmes dos meus livros, não consigo ler com ele em casa. Já tentei uma relação a três incluindo eu, ele e algum livro, mas não obtive sucesso, pois o livro sempre sobrou. O que fazer?
Ass.: um leitor ansioso.
Querido leitor, peço licença para dirigir a palavra a seu parceiro, que é quem precisa receber este conselho. Por favor, transmita a ele esta mensagem.
Caro conje do leitor ansioso,
Corajoso você, hein? Quando se junta as escovas de dentes com um amante da literatura, competir território com os livros não apenas é arriscado, eu diria que se trata de uma luta perdida — e falo isso por experiência própria, mas não entrarei em detalhes.
Na época em que você se apaixonou pelo seu companheiro, o que despertou seu encantamento? Sabendo que se trata de um bom leitor, eu arrisco um palpite: talvez você tenha se apaixonado por sua inteligência e sensibilidade? Por sua capacidade de trazer ideias novas e enriquecer as conversas do dia a dia? Pois saiba que essas são virtudes que a leitura ajuda a construir. Não se pode amar um leitor e afastá-lo do que faz ele ser quem é — os livros. Se a relação a três não funcionou, e nem sempre funciona, quem sabe vocês tentam a quatro? Você, ele e cada um com sua leitura da vez. Aproveite a vantagem de ter um leitor ávido em casa e peça uma boa sugestão. Ou, se preferir, comece pelo livro do mês da TAG! Garanto que você não vai se arrepender.
Quer um conselho de Madame TAG? Escreva para madametag@taglivros.com.br
“Cada
coisa do mundo estava em suspenso, puro risco, e quem não aceitava arriscar murchava num canto, sem intimidade com a vida.”