Jan2020 "Nascido do crime" - Inéditos

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Nascido do crime


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Redação Fernanda Grabauska Luísa Santini Januário produto@taglivros.com.br Revisão Caroline Cardoso Impressão Gráfica Eskenazi Projeto Gráfico Bruno Miguell M. Mesquita Gabriela Heberle Paula Hentges Kalany Ballardin design@taglivros.com.br Capa Bruno Miguell M. Mesquita Gabriela Heberle Paula Hentges 2


Querido leitor, Surpresa! A TAG ouviu seus pedidos e atendeu à máxima “ano novo, vida nova”. Seu kit de sempre chega a 2020 com alterações: agora, você recebe o livro em uma luva e esta revista, um guia de informações e curiosidades para guiar sua leitura. Começamos o ano com uma leitura que convida à reflexão: é possível definir as memórias do comediante Trevor Noah como agridoces. Nascido em meio ao apartheid — regime de segregação racial que vigorou na África do Sul de 1948 a 1994 —, ele narra, sob a perspectiva de adulto, sua infância e adolescência como fruto de um crime. Isso mesmo: durante o apartheid, eram proibidas as relações interraciais. A melhor parte do livro que você recebe é essa — Trevor consegue narrar as amarguras de uma vida marcada pela violência, tanto literal quanto velada, com um viés informativo e, em momentos, hilário. Se você não é leitor de memórias, eis um livro para mudar a sua opinião. É certo que você vai rir, embora seja possível que você chore na mesma medida. O importante é que você terminará a leitura enxergando sua vida de modo diferente. E não é essa uma das razões pelas quais lemos? Esperamos que você goste das mudanças e que suas experiências TAG lhe façam crescer como pessoa e como leitor em 2020. Boa leitura!


Este mês na sua caixinha

trevor noah

A capa do seu livro Trevor narra que, dependendo do contexto, era tratado de forma diferente – ao lado de uma pessoa branca, ele é visto como negro, e vice-versa. A capa do livro joga com esse contraste: a pele do protagonista parece automaticamente mais clara ou mais escura em algumas imagens, quando o que muda é apenas a cor do fundo.

trevor noah

“A minha vida inteira passou diante dos meus olhos – [...] todas as vezes e todos os lugares em que tive que ser um camaleão, navegando entre grupos e explicando quem eu era.” (p. 276) O mimo de janeiro Inspirada pela literatura africana, a agenda de 2020 é repleta de contos, poemas inéditos, dicas de filmes, séries e livros. Ilustrada por Diana Ejaita, artista que traz sua linhagem nigeriana às suas obras, o mimo vai trazer ainda mais literatura para o seu dia a dia.

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Sumário 04

Entre risos e tragédias

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Entrevista com Trevor Noah

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Retrospectiva histórica

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Filmografia do autor

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A literatura sul-africana

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Piada na ponta da língua

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Entre risos e tragédias Publicado originalmente em 2016, Nascido do crime foi nomeado um dos melhores livros do ano pelo The New York Times, USA Today, NPR e Booklist. A obra está em adaptação para o cinema e contará com Lupita Nyong'o (12 anos de escravidão, 2013) no papel de Patricia.

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Quando criança, Trevor Noah via a si mesmo como alguém que simplesmente gostava de ficar em casa. O que o autor não sabia na época é que ele era de certo modo mantido em segredo: o protagonista do mês passava a maior parte do tempo em ambientes fechados porque aparecer em público significava um grande risco. Na África do Sul dos anos 1980, sua existência era literalmente considerada um crime: filho de um homem branco com uma mulher negra, seus pais se envolveram durante o apartheid, regime que proibia qualquer tipo de relação interracial no país. Vista como coloured pelo sistema, a cor de pele clara de Trevor revelava justamente a origem dessa paixão ilegal — por isso, sua mãe adotava medidas extremas para protegê-lo, como esconder o menino do convívio social. Este livro de memórias é diferente de todos os que você já leu: em formato de coletânea de contos, o escritor traz relatos irônicos e nostálgicos sobre sua juventude sem nunca perder o humor. Acima de tudo, a obra é uma carta aberta à sua mãe, Patricia Noah, figura que o ensinou a enxergar a vida como uma viagem cômica, na qual há um único destino possível — o amor. É esse amor que reflete na narrativa de Trevor, que retrata com sensibilidade não apenas os seus, mas os esforços de uma geração inteira de pessoas para pertencer e ser feliz em um mundo marcado pelas cicatrizes da colonização.


Fotografia: Netflix, Divulgação

Em meio a tantas turbulências e adversidades causadas pelo apartheid, o sul-africano demonstrou uma facilidade para a comunicação — seja compilando CD’s piratas para vender nas ruas de Joanesburgo ou tocando em festas de bairro como DJ. Com o seu bom humor e desenvoltura, Trevor logo se tornou um dos comediantes de stand-up mais famosos da atualidade. Sua carreira atende ao clichê da ascensão meteórica: começou no início dos anos 2000 como apresentador de programas de rádio e televisão e, quando percebeu, estava em turnê pelas maiores cidades do país. Tão crítico quanto divertido, ele toma conta do palco com nada além de um microfone e uma sinceridade incisiva ao discutir temáticas que vão de cultura e política a raça e sexualidade. Não é preciso conhecê-lo para entender as suas piadas ou o livro do mês — foi ilustrando episódios cotidianos comuns que Trevor conquistou um público tão grande. Aos 35 anos, coleciona um currículo invejável: foi escolhido a personalidade do ano de 2015 pela MTV Africa Music Awards, é âncora do The Daily Show — programa humorístico de notícias norteamericano — e a Netflix assina dois dos seus filmes originais de stand-up. Leia a seguir a conversa do autor com a TAG.

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Entrevista com Trevor Noah TAG – Como lhe veio a ideia de escrever essas memórias? Você pode nos contar sobre sua experiência ao escrevê-las, se você teve alguma epifania no processo? Trevor Noah – A ideia de escrever este livro veio, na verdade, de um amigo meu. Ele gostava tanto de ouvir as histórias da minha vida que perguntou por que eu não as colocava no papel, apenas para a posteridade. Aceitei o conselho, e fico feliz de tê-lo feito pois escrever este livro foi uma experiência maravilhosa. Revivi tantos momentos que deixei passarem batidos e, hoje, aprecio muito mais a minha vida. Penso que, às vezes, como pessoas, não tiramos um momento para apreciar o quão longe chegamos, e que escrever um livro é algo que definitivamente ajuda nesse processo.

Tendo vivido já há algum tempo nos Estados Unidos, do que você sente falta na África do Sul? Sinto falta das pessoas – os idiomas, as culturas, a comida e a linda paisagem. A África do Sul é um país deslumbrante e sempre gostei de viver lá.

Nascido do crime está sendo adaptado para o cinema. Como isso aconteceu? Como você está se sentindo a respeito disso? Fotografia: Gavin Bond

Depois que o livro foi lançado, recebi uma ligação de Lupita Nyong'o, que estava no set de Pantera Negra 7


(2018). Ela me disse que queria trabalhar comigo para transformar o livro em um filme. Alguns meses depois, nos reunimos e começamos o processo de adaptação para as telas, um processo que tem sido desafiador e emocionante.

Você afirmou no The Daily Show achar o governo brasileiro algo “fascinante”. Você tem se mantido a par das notícias do país? Como você acha que ele se relaciona ao cenário norte-americano? Penso que, de muitas maneiras, o Brasil passa pela mesma coisa que muitos países – as pessoas estão fartas de corrupção e das desculpas dos partidos no poder e, agora, escolheram votar em alguém diferente, mesmo que essa pessoa não pareça exatamente a escolha certa. A história da eleição de Bolsonaro é muito similar à de Trump. Ambos entenderam a raiva e a frustração das massas e usaram-nas para inspirar campanhas extremas.

Como você acha que seu trabalho como escritor se relaciona ao seu trabalho de comediante? Você pretende escrever mais livros? Não acho que os dois estejam tão relacionados. Se tanto, o único entrelaçamento entre minha escrita e minha atuação é o storytelling. Planejo, sim, escrever outro livro, mas não tenho pressa. Sua mãe é uma parte muito grande da sua vida. Você planeja ter filhos? Qual foi a lição mais valiosa que sua mãe lhe deu sobre a criação de filhos? Ainda fico balançado quando penso se teria filhos ou não. O que aprendi com minha mãe é que o maior presente que você pode dar a qualquer criança é escolhê-la ativamente!

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A estante do autor Minha estante: The beautiful ones, de Prince; Amada, de Toni Morrison; Minha história, de Michelle Obama; Sapiens: uma breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari e Falando com estranhos, de Malcolm Gladwell. O primeiro livro que li: Era uma série de manuais do tipo "como fazer": Como ser um bom amigo. Como ser honesto. O livro que estou lendo: Falando com estranhos, de Malcolm Gladwell. O livro que mudou minha vida: A incrível história de Henry Sugar e outros contos, de Roald Dahl. O livro que eu gostaria de ter escrito: A saga Harry Potter, de J.K. Rowling. O ultimo livro que me fez chorar: Nenhum. O último livro que me fez rir: Não me lembro. O livro que eu dou de presente: Entre o mundo e eu, de Ta-Nehisi Coates. O livro que eu não consegui terminar: Por que as nações fracassam, de Daron Acemoglu e James Robinson.

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Retrospectiva histórica

Fotografia: John Vachon

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Em africâner, apartheid significa separação. É essa a tônica de Nascido do crime: o livro inicia nos últimos suspiros do regime segregacionista da África do Sul e segue os anos após a tão esperada libertação do país. O racismo passou a existir no território sul-africano com o início da colonização holandesa, em 1652. No entanto, o apartheid foi instaurado oficialmente em 1948, com a chegada do Novo Partido Nacional ao poder, e durou até 1994, quando aconteceram as primeiras eleições presidenciais depois de quase meio século do regime racista. Nesse período, a elite branca, que somava menos de 20% da população, detinha todos os direitos. Divididos pela legislação entre negros, coloured e indianos, o restante da população sucumbia com o acesso mínimo (e, muitas vezes, inexistente) a benefícios sociais. Hoje, apesar de ter retomado a democracia, a África do Sul ainda sofre mazelas residuais da desigualdade e da discriminação estrutural.


1652

Largada da colonização holandesa.

1948

Chegada do Novo Partido Nacional ao poder.

1994

Primeiras eleições presidenciais depois de quase meio século do regime racista.

Nelson Mandela Fotografia: Magnus Manske

Bantu Biko Fotografia: www.sahistory.org.za

Unidos contra a corrente Rolihlahla é um dos nomes de Nelson Mandela – a palavra quer dizer “puxar o galho de uma árvore” ou “criador de caso”. De fato, envolvido desde jovem com o ativismo político, ele foi o criador de feitos que mudaram o rumo da nação sul-africana. Participante do partido do Congresso Nacional Africano (CNA), Mandela liderou movimentos em favor dos direitos civis dos negros. Esses protestos culminaram na sua prisão por traição e conspiração contra o governo. Encarcerado de 1962 a 1990, o vencedor do Nobel da Paz conduziu o processo de redemocratização do país, sendo eleito presidente em 1994. Citado ao longo do livro do mês, Bantu Stephen Biko (1946-1977) foi outra liderança que se destacou na década de 1960 ao fundar a Organização dos Estudantes Sul-africanos – cujo objetivo era formar uma militância exclusivamente negra. Mais tarde, inspirado no slogan norte-americano black is beautiful, o acadêmico de Medicina mobilizou a África do Sul com o famoso Movimento da Consciência Negra. Com apenas 30 anos, foi torturado e assassinado por policiais, tornando-se um mártir da luta anti-apartheid. 11

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Filmografia do autor

Selecionamos dois stand-ups de Trevor Noah para você assistir após finalizar a leitura de Nascido do crime. Os filmes estão disponíveis na Netflix!

Leia Nascido do crime ao som de uma playlist exclusiva inspirada na história: http://bit.ly/NascidoDoCrime

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Trevor Noah – Filho de Patricia

Trevor Noah – Afraid of the dark

Sair da África do Sul e fazer sucesso nos Estados Unidos não é uma tarefa fácil, ainda mais sendo um homem negro e imigrante. O telespectador ficará chocado com os episódios de racismo vivenciados por Trevor, que agora usa essas experiências para fazer o público rir. Entre histórias sobre os tacos mexicanos, o medo de cobras e a aversão a acampamentos, ele intercala as lições de vida aprendidas com sua mãe, Patricia, que dá nome ao show.

Não recorrer a estereótipos sobre minorias sociais é uma das qualidades de Trevor, que mostra ser possível fazer piadas sobre imigração, colonização e relações internacionais sem fazer graça daqueles que são alvo de comentários racistas há séculos. Para isso, ele faz imitações convincentes de figuras emblemáticas da política norte-americana, além de explicar os perigos de nomear países e por que não se deve beber na Escócia.

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A literatura sul-africana Não são só os safáris e a Cidade do Cabo que fazem a África do Sul famosa. Mesmo relativamente pequeno, com cerca 56 milhões de pessoas, o país é bem-sucedido em dar ao mundo uma vasta gama de produções literárias relevantes. Alguns mais conhecidos que outros no Brasil, os autores de lá colecionam prêmios importantes e trazem à tona temáticas de contestação social. Conheça um pouco mais da literatura sul-africana e leia obras que, de alguma forma, relacionam-se com Nascido do crime.

Desonra (2000), de J. M. Coetzee Neste livro, o vencedor do Nobel de Literatura conta a jornada um professor que vive imerso em questionamentos sobre classe, raça e relacionamentos. A obra recebeu o Booker Prize e foi enviada pela TAG Curadoria em fevereiro de 2016.

Sem gentileza (2016), de Futhi Ntshingila A escritora se dedica a preservar a memória de mulheres que, ao longo da história, tiveram suas trajetórias ignoradas ou apagadas. Este romance faz alusão a como era ser uma mulher ou menina negra nos guetos da África do Sul durante o apartheid. 14


O melhor tempo é o presente (2014), de Nadine Gordimer Vencedora do Nobel, Nadine Gordimer é uma das principais vozes do país. Aqui, ela retrata um casal interracial que resistiu ao período de segregação sul-africano, mas que hoje se vê frustrado com os caminhos trilhados pelo país após a democratização.

Longa caminhada até a liberdade (1994), de Nelson Mandela Nelson Mandela é, certamente, um dos representantes mais importantes da luta contra o preconceito racial. Nesta autobiografia, ele narra suas motivações, desafios e os anos que passou na clandestinidade, bem como o seu período como preso político.

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extra

Entre o mundo e eu (2015), de Ta-Nehisi Coates Este é o livro que Trevor Noah daria de presente a alguém. Jornalista norte-americano, Coates é conhecido por debater a questão racial. No formato de uma carta para o filho, ele escreveu uma série de pensamentos sobre como é ser uma pessoa negra nos Estados Unidos atualmente.

Encontre essas e outras leituras complementares em

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Piada na ponta da língua

Pantera Negra Fotografia: Divulgação

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Pantera Negra (2018) foi o primeiro filme do Universo Marvel a ser protagonizado por um super-herói negro. A trama se passa no reino africano de Wakanda, por isso alguns diálogos do longa acontecem em xhosa, língua falada por Trevor Noah. Uma das particularidades mais interessantes do idioma é a sua natureza tonal: cada palavra pode assumir um significado distinto dependendo da entonação da fala. Além disso, as expressões são marcadas por 18 cliques diferentes — o som que produzimos quando estalamos a língua nos dentes adquire o sentido de consoantes representadas pela letra “x”. O autor do mês ficou responsável por apresentar Pantera Negra na cerimônia do Oscar de 2018. Ele proferiu uma frase em xhosa e depois traduziu para uma mensagem motivacional sobre a importância de se lutar em conjunto, um dos ensinamentos da história. Apenas os falantes da língua, uma das oficiais da África do Sul, entenderam ao vivo a piada do comediante: o que ele disse, na verdade, foi “brancos não sabem que eu estou mentindo”.


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“As pessoas são ensinadas a odiar e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar, porque o amor é algo mais natural para o coração humano do que seu oposto.” - Nelson Mandela

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