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Um encontro delicado

Texto:

Débora Sander

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“Dado que a morte é certa, mas o momento da morte é incerto, o que é mais importante?”

A frase da monja budista Pema Chödrön, escolhida pela autora deste mês, Ann Napolitano, como epígrafe de Querido Edward, traz um questionamento complexo que o enredo do livro ajuda a responder – nem que seja a partir da elaboração de novas perguntas. A morte é uma certeza que adormecemos para dar continuidade e sentido aos nossos planos, mas, quando ela chega perto, somos tomados por uma consciência radical sobre a finitude da existência. Como ressignificar a partida de quem amamos e criar uma nova realidade, com novos vínculos e sentidos, sem a presença física de pessoas que constituem quem somos? Há uma explicação lógica e que possa trazer algum conforto para as tragédias que nos acontecem? Neste romance, o terceiro da norte-americana Ann Napolitano, a autora nos confronta com as duras

temáticas da perda, do luto e do trauma. Quem vive esses sentimentos devastadores é um menino de doze anos: Edward Adler, o único sobrevivente em um acidente de avião que vitimou seu irmão e seus pais.

Querido Edward nos conduz pelo transcorrer dos minutos no voo 2977, de Nova York para Los Angeles, desde o embarque até a queda da aeronave. Acompanhamos os momentos no avião pela perspectiva não apenas de Edward e sua família, mas de outros passageiros do voo. Um narrador onisciente nos dá acesso à subjetividade desses personagens, suas memórias pessoais e contextos de vida, além das percepções que carregam uns sobre os outros. Com descrições detalhadas e sensíveis sobre o que se passa em suas cabeças, a autora permite que o leitor compreenda e se relacione com os sentimentos de cada um deles.

A narrativa alterna momentos dentro do avião com cenas dos meses e anos da vida de Edward após a tragédia. O leitor acompanha o doloroso e traumático processo de perda e as etapas de elaboração emocional do luto do menino a partir dessa experiência, vivenciada durante a turbulenta transição da infância para a adolescência. O percurso do protagonista nos leva a dilemas existenciais profundos, que incluem questionamentos sobre o papel de cada um no mundo e a capacidade humana de criar maneiras de viver e conviver com a dor – fazendo dela, se possível, um impulso para a expansão da existência.

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