"Escritores & amantes" TAG Inéditos Agosto/2022

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ESCRITORES & AMANTES

AGO 2022



Olá, tagger

OLÁ, TAGGER L

Sua opinião é muito importante para produzirmos revistas cada vez melhores. Tem críticas ou sugestões? Deixe a sua avaliação e compartilhe suas impressões no aplicativo! Você também pode escrever diretamente para nós pelo e-mail revista@taglivros.com.br.

ogo no início do livro deste mês, a protagonista afirma: “Não escrevo por considerar que tenho algo a dizer. Escrevo porque, se não fizer isso, tudo parece ainda pior”. Essa confissão tão íntima da personagem dá o tom da narrativa de Escritores & amantes, romance que chega agora às suas mãos. É a exploração das questões emocionais da aspirante a escritora Casey Peabody que mobiliza a nossa leitura — afinal, é difícil não se comover com o luto vivenciado por ela ou não se identificar com muitos dos seus dilemas e anseios profissionais e amorosos. Em dado momento da trama, Casey também comenta que “é um tipo de prazer específico, de intimidade, amar um livro com alguém”. Na expectativa de que aprecie, assim como nós, esse romance de Lily King, convidamos você a aproveitar os conteúdos desta edição. Além de um texto introdutório à obra, publicamos uma entrevista exclusiva com a autora norte-americana e uma reportagem em que jovens autores dividem os desafios vividos por quem decide se aventurar em uma carreira literária. Boa leitura!


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QUEM FAZ

RAFAELA PECHANSKY

JÚLIA CORRÊA

Publisher

Editora

GABRIEL RENNER

Designer

LIZIANE KUGLAND

ANTÔNIO AUGUSTO

Revisora

Revisor

Impressão Impressos Portão Capa Amanda Cestaro Página da loja Lais Holanda

Preciso de ajuda, TAG! Olá, eu sou a Sofia, assistente virtual da TAG. Converse comigo pelo WhatsApp para rastrear a sua caixinha, confirmar pagamentos e muito mais! +55 (51) 99196-8623


Experiência do mês

Por que ler o livro

O livro do mês

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8 6 4

sumário Entrevista com a autora

Para ir além

Próximo mês


Marque a cada parte concluída

JORNADA DE LEITURA

4 EXPERIÊNCIA DO MÊS

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riamos esta experiência para expandir sua leitura. Entre no clima de Escritores & amantes colocando a playlist especial do mês para tocar. É só apontar a câmera do seu celular para o QR Code ao lado ou procurar por “taglivros” no Spotify. Não se esqueça de desbloquear o kit no aplicativo da TAG e aproveitar os conteúdos complementares! Leia até a página 81 Página após página, nossa protagonista se revela em suas perdas, memórias felizes, seu passado recente e o grande desejo de terminar seu romance. Foram intensos os últimos meses para Casey! Leia até a página 164 Está posto o grande dilema romântico que acompanha Casey ao longo da história — talvez a mais simples entre tantas questões com que ela precisa lidar. E aí, você é Team Oscar ou Team Silas? Conte suas impressões no aplicativo! Leia até a página 211 Caramba, muitas surpresas não exatamente agradáveis atravessam o caminho da protagonista. Casey está precisando de uma boa notícia! Leia até a página 263 Ufa! Alguns quilos a menos nas costas de Casey depois dessas últimas páginas. Mas ainda há decisões importantes a tomar. Vamos nessa? Leia até a página 279 Reconhecer as dimensões dos fardos que estamos carregando já ajuda a distribuir melhor o peso da bagagem. E abraçar quem amamos também ajuda outro tanto. Seguimos para a reta final! Leia até a página 301 Chegamos juntos ao fim dessa história, com o coração aquecido. Que tal compartilhar com outros leitores o que você achou do desfecho? E não esqueça de avaliar o livro no aplicativo! Até a próxima. Escritores & amantes pode ter terminado, mas a experiência não! Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ao lado e escute o episódio de nosso podcast dedicado ao livro do mês. No aplicativo, confira também a nossa agenda de bate-papos.


projeto gráfico

mimo

EXPERIÊNCIA DO MÊS

Casey, a protagonista de Escritores & amantes, é uma jovem que transita entre dois universos: o restaurante, onde trabalha como garçonete, e a sua casa, na qual cumpre a jornada de dedicação à escrita. Pensando nisso, enviamos de mimo um conjunto de porta-copos magnéticos ilustrados com elementos do projeto gráfico — uma celebração dos singelos detalhes do cotidiano que nos cativam. Produzida pela designer Amanda Cestaro, que assinou anteriormente para a TAG o projeto de Frida Kahlo e as cores da vida, a capa de Escritores & amantes usa recursos digitais para criar o efeito das pinceladas de uma pintura a óleo. O ganso no rótulo da garrafa de vinho, o muffin e o livro de D. H. Lawrence são alguns Easter eggs presentes na ilustração, de modo a transmitir já na capa elementos marcantes da obra de Lily King. A designer assina ainda a luva e a capa da revista do mês.

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POR QUE LER O LIVRO Escritores & Amantes Escritores & amantes é uma viagem pelas realidades interior e exterior de uma artista em formação existencial. Aspirante a escritora, Casey esbarra nas pequenas e grandes mazelas da vida real enquanto tenta realizar o desejo pela criação literária. Quando foi lançado nos Estados Unidos, em 2020, o livro tornou-se rapidamente um best-seller. Provavelmente, muito desse sucesso se deve à consistência, verdade e carisma de sua protagonista, que mantém uma resiliência bem-humorada e realista mesmo em seus piores dias.


“Escritores & amantes é um romance intrigante e belo sobre escrita e amor… Ler o livro é como esperar as nuvens se abrirem — uma espécie de belíssima agonia.“ The Guardian

“Esta crônica bem-estruturada sobre criação deixa os homens em seu lugar e a protagonista firmemente enraizada no centro de sua própria história.“ Los Angeles Times


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Uma delicada travessia DÉBORA SANDER*

Lily King nos apresenta uma personagem decididamente inteligente, observadora, sensível ao seu entorno e implacável no desejo de escrever, mesmo nos vários momentos em que ela duvida de si mesma

"D

É jornalista formada pela UFRGS e cursa pós-graduação em Direitos Humanos na PUCRS. Passou por projetos como o Fronteiras do Pensamento e a Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Hoje, colabora regularmente com a Arquipélago e com a TAG Inéditos.

eixar cada impressão, cada semente de um sentimento germinar por completo dentro de si, na escuridão do indizível e do inconsciente, em um ponto inalcançável para o próprio entendimento, e esperar com profunda humildade e paciência a hora do nascimento de uma nova clareza: só isso se chama viver artisticamente, tanto na compreensão quanto na criação.” Esse trecho é de uma das dez cartas que o poeta Rainer Maria Rilke enviou a Franz Kappus falando sobre a escrita e processos de criação, há cerca de 120 anos. A paciência necessária para gestar e enfim dar à luz uma obra de arte talvez seja a mesma que precisamos desenvolver para atravessar os momentos de profundo desalento e confusão que inevitavelmente se impõem, uma hora ou outra, para cada um de nós. A história que você acaba de receber se passa em Boston no final da década de 1990, centrada na protagonista Casey Peabody. A aspirante a escritora está imersa no tipo de crise incontornável que aponta um único caminho: aguentar firme durante a travessia e torcer para conseguir chegar ao outro lado. Após perder subitamente sua mãe, Casey se reencontra com memórias familiares dolorosas e faz o que pode para lidar com esse processo enquanto persegue sua


O LIVRO DO MÊS

maior missão: terminar de escrever o romance em que vem trabalhando há seis anos, inspirado na juventude da recém-falecida mãe. A tristeza onipresente dificulta a fluidez da tarefa, é claro, mas a escrita também é um refúgio no qual a personagem encontra alívio e acolhimento. A protagonista é obstinada. Mesmo sem dormir direito e cumprindo exaustivos turnos de trabalho como garçonete em um restaurante, Casey mantém a disciplina para conseguir escrever todos os dias em meio à sua rotina caótica e desmotivadora, que inclui ainda uma condição precária de moradia e muitas dívidas acumuladas. A personagem tem a sensibilidade e a perspicácia de insistir nos hábitos que a salvam da loucura: além da escrita, ela encontra calma ao caminhar junto de um rio onde pode parar para observar os gansos e chorar sossegada sua perda. “Eu amo esses gansos. Eles deixam meu peito apertado e cheio, e me ajudam a acreditar que tudo vai ficar bem de novo, que eu vou passar por esse período como passei por

outros, que o nada vasto e ameaçador à minha frente é um mero espectro, que a vida é mais leve e divertida do que eu penso.” A sombra do luto, naturalmente, é uma constante na história, mas a narrativa da autora norte-americana Lily King está longe de ser sombria. Casey deseja verdadeiramente se sentir melhor e sabe como dar a si mesma o amparo de que precisa: cerca-se de poucos e bons amigos e de uma comunidade de escritores que possam inspirá-la, de alguma forma, a seguir escrevendo. Além do luto, a protagonista tenta superar um romance frustrado e se esforça para manter distância de homens inconsistentes ou evasivos. Ela quer algo sólido depois de tanto sentir o chão sumir sob seus pés. É aí que sua amiga Muriel, também escritora, a leva a um evento literário onde Casey conhece dois potenciais parceiros românticos — casualmente ou não, ambos passaram por perdas recentes, assim como ela. A personagem acaba se aproximando dos dois, e as explícitas diferenças entre os pretendentes ocupam um lugar simbólico

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na narrativa, apontando para dilemas se tornando escritoras — esse foi o e reflexões mais profundas que a pro- meu ímpeto.” tagonista precisa encarar. A autora nos apresenta uma perEscritores & amantes é o quinto sonagem decididamente inteligente, romance de Lily King. A premiada observadora, sensível ao seu entorno escritora revelou em entrevistas que e implacável no desejo de escrever, ela mesma teve um contexto familiar mesmo nos vários momentos em que difícil, e passar muito tempo escre- ela duvida de si mesma. Os percalços vendo foi consequência disso. Depois que Casey encontra para terminar seu de estudar escrita criativa, Lily passou livro não dizem respeito à sua comdois anos trabalhando como profes- petência para a missão, mas aos atrasora na Espanha e levou uma década vessamentos amargos de sua história circulando pelos Estados Unidos para pessoal — e eles sempre existem para finalmente conseguir publicar seu pri- todos nós, não é mesmo? A protagomeiro romance, The Pleasing Hour, nista vive, sim, uma crise daquelas, em 1999. Ao criar a protagonista do mas encontra sua própria regeneralivro deste mês, a autora traça algo ção na proximidade com seus sonhos. da própria experiência e oferece um Sempre que o imenso vazio resolve se cenário em que mulheres podem manifestar, são eles que a lembram de enxergar a ambição literária em seus quem ela é. “Sou ao mesmo tempo horizontes. Em entrevista ao portal a pessoa triste e a que quer consobritânico i News, Lily afirmou: “Eu só lar a pessoa triste”, afirma Casey em queria escrever o livro que queria ler certo ponto da narrativa. Que jamais quando era Casey. Quando eu era percamos de vista esse duplo de nós jovem e tentava escrever um primeiro mesmos e possamos sempre, semromance e lia todos aqueles livros pre confortar nossas tristezas — seja sobre homens se tornando escrito- sozinhos ou acompanhados, lendo ou res e nenhum livro sobre mulheres escrevendo bons livros.


ENTREVISTA

meu processo é cheio de dúvidas, medos e preocupações” RAFAELA PECHANSKY*

Em conversa com a TAG, Lily King conta que transpôs parte de suas próprias experiências para Escritores & amantes e fala também dos desafios da vida criativa

Ama livros desde pequena. Foi uma das primeiras associadas da TAG, em 2014, e trabalha no clube desde 2018. Atua como publisher, publicando os livros em parceria com editoras brasileiras e na liderança das decisões editoriais dos clubes.

O livro conta a história de uma jovem escritora que vive em Boston. Quanto você tirou de sua própria experiência de vida para escrever essa personagem? Eu definitivamente me baseei em muitas das próprias emoções que eu tinha na idade de Casey enquanto lutava para escrever meu primeiro romance e descobrir como construir uma vida equilibrada em torno disso. Tinha a sorte de morar com minha irmã naquela época e ter o apoio emocional de uma mãe muito amorosa também, então eu não estava tão sozinha no mundo quanto Casey. Mas, quando minha mãe morreu, seis anos atrás, deixei de lado o que estava escrevendo quando vi Casey na garagem naquela primeira cena e percebi que sua mãe havia morrido. Eu sabia que era um lugar onde eu poderia colocar um pouco da minha dor por minha mãe.

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A autora do mês, Lily King Crédito: Divulgação

Casey luta muito com sua escrita e sua autoestima como escritora. Como é o seu processo criativo? Em que momento da sua vida você se olhou no espelho e disse “sou uma escritora”? Há aquela velha citação de Thomas Mann de que um escritor é alguém para quem escrever é mais difícil do que para outros. Meu processo é cheio de dúvidas, medos e preocupações, mas aprendi a seguir em frente, dia após dia, a confiar que o que não está funcionando no primeiro rascunho, eu posso consertar no próximo. É um verdadeiro ato de fé, sempre. Eu nunca

me sinto uma escritora quando me olho no espelho. O único momento em que me sinto uma escritora é quando estou na minha mesa escrevendo. Você já foi garçonete? Se sim, você pode nos dizer se a experiência tem alguma semelhança com a de Casey? Sim, trabalhei como garçonete dos 18 aos 32 anos. Foi, de longe, o melhor trabalho que tive para escrever, porque escrevo melhor de manhã. Se eu não tivesse um turno de almoço, eu não precisava ir trabalhar até as 3 ou 4 da tarde, o que era perfeito. Eu criei o Iris, o restaurante em Escritores & amantes, com base em um restaurante


ENTREVISTA

em que trabalhei em Cambridge, Massachusetts. Era sofisticado e tinha um deque e ficava em um prédio de propriedade de Harvard. Estava cheio de funcionários como Casey, pessoas com grandes sonhos criativos tentando descobrir como fazê-los acontecer. O livro é muito sobre luto e sobre como lidar com a morte, mas termina em um tom positivo. Você sabia o final desde o início? Não menos importante: em que momento você decidiu com quem Casey ficaria? Eu sempre soube com quem ela ia ficar. Sempre. Trabalhei duro para não revelar isso ao leitor! Eu não esperava que muitos dos personagens tivessem grandes experiências de luto também, mas acho que, quando você está de

luto, você é atraído por pessoas que passaram por isso e entendem isso em um nível profundo. Eu tive a ideia para a última cena muito tarde no processo e fiquei muito feliz quando ela veio. Os finais são complicados e difíceis de planejar e você só precisa ficar com os braços abertos, pronto para pegá-los quando eles vierem. Você poderia enviar uma breve mensagem para seus leitores brasileiros? Obrigada!!! Muito obrigada por lerem meus livros e por lerem em geral. Sempre terei esperança no mundo enquanto houver leitores nele. Eu quero muito visitar o Brasil e espero vê-los quando isso for possível!

“Trabalhei como garçonete dos 18 aos 32 anos”, conta King.

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MINHA ESTANTE

O primeiro livro que eu li: Goodnight Moon, de Margaret Wise Brown O livro que estou lendo: Either/Or, de Elif Batuman O livro que mudou a minha vida: It’s Not the End of the World, de Judy Blume O livro que eu gostaria de ter escrito: Ao farol, de Virginia Woolf O último livro que me fez rir: A trilogia The Balkan, de Olivia Manning O último livro que me fez chorar: Eu tenho um nome, de Chanel Miller O livro que eu dou de presente: The Evening of the Holiday, de Shirley Hazzard O livro que eu não consegui terminar: Vanity Fair, de William Thackeray


PARA IR ALÉM

Os desafios da escrita BRUNA MENEGUETTI*

Jovens nomes da literatura brasileira dividem suas experiências com a TAG — e mostram como os dilemas e motivações de Casey Peabody, protagonista de Escritores & amantes, encontram eco na vida real

O

que leva alguém a começar a escrever e quais são os desafios dessa jornada? Para responder a essas e outras perguntas, a TAG entrevistou autores que hoje são considerados nomes da nova safra da literatura brasileira. Carol Chiovatto, 33 anos, autora de Porém bruxa (2019) e Senciente nível 5 (2020), começou a escrever porque “queria ser capaz de causar nos outros as sensações que os livros me causavam”. Para Luisa Geisler, 31 anos, autora de Luzes de emergência se acenderão automaticamente (2014) e Enfim, capivaras (2019), a escrita “é uma vontade de uma conversa maior com os livros que já li e os que quero ler”.

Bruno Ribeiro Crédito: Marcinha Lima/Divulgação

Jornalista, escritora e dramaturga. Autora do livro O último tiro da Guanabara, vencedor do Prêmio Bunkyo de Literatura de 2021.

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16 PARA IR ALÉM

Carol Chiovatto Crédito: Divulgação

Mas só ler não basta: para Tobias Carvalho, 26 anos, autor de As coisas (2018) e Visão noturna (2021), é importante “escrever o que quer escrever sem se preocupar com nenhuma opinião a princípio”. Para não abandonar uma história, a dica de Bruno Ribeiro, 33 anos, autor de Como usar um pesadelo (2020) e Porco de raça (2021), é manter o foco. “O que te levou a escrever? Tente definir uma frase que resuma esse intuito. Ela terá que acompanhá-lo durante toda a escrita.” E, além de ler e escrever, a “persistência talvez seja uma das qualidades mais necessárias a um autor”, segundo Victor Bonini, 29 anos, autor de livros como Colega de quarto (2015) e Tortura branca (2020). Encontrando o seu tom Talvez a primeira questão quando alguém começa a escrever seja encontrar a chamada “voz narrativa”. Embora muito mencionada, principalmente pela crítica, sua definição não é um consenso. Para Geisler, por exemplo, “a voz é sempre própria” e “muda com o tempo, pois suas influências mudam”. Ribeiro tem pensamentos parecidos. Para ele, a voz é “inerente à pessoa que está escrevendo, faz parte dela”. Já para Carvalho, que publicou pela primeira vez com 22 anos, há uma cobrança para encontrar seu estilo “de uma maneira quase cruel”. Isso pode estar ainda mais próximo de autores jovens, que sentem necessidade de se autoafirmar. “A singularidade pode estar no que está sendo dito, e não em como está sendo dito”, diz Carvalho. Mas quando saber que você encontrou a própria voz? Para Bonini, nota-se isso “quando você sabe que, se não tocar em tal assunto ou não usar tal estrutura, não vai se dar por satisfeito”.


PARA IR ALÉM

Chiovatto tem uma percepção parecida. Aos poucos, ela identificou os temas que lhe eram mais caros e “um olhar sobre esses temas que perpassa tudo” o que escreve. Mas, segundo Ribeiro, o surgimento de uma voz autoral geralmente é notada pelo leitor antes do escritor. Para que ela surja, ele dá a dica: “ler bastante e consumir muita arte, escrever e treinar com certa regularidade são coisas que fazem com que, aos poucos, o escritor como um todo apareça no texto”. Em toda essa busca, não é incomum que aconteçam casos de bloqueio criativo, porém eles dependem muito de como o escritor enxerga o próprio ofício. Quando Chiovatto não gosta de algo que escreveu, por exemplo, deixa o texto na gaveta por semanas. “Para algumas pessoas, pode configurar bloqueio criativo. Para mim, esse processo de ir e vir, escrever e jogar fora, recortar um trecho bom de muitas páginas ruins é aquele exercício de escrita que todo mundo tem de fazer.” Mas como sair de um bloqueio? Os escritores entrevistados buscam ler outros livros e consumir diversas obras de arte que possam servir de inspiração à criatividade. Geisler gosta de pensar no final da história: “Imagine sair de casa para vagar: quando você sabe que está na hora de voltar? Saber o destino final ajuda a voltar na direção”. Bonini explica que, às vezes, trata-se de “buscar o que sua mente precisa naquela hora, do descanso ao estímulo”. Se, mesmo depois disso, a ideia não vier, Ribeiro pula para a próxima ideia: “O que eu mais tenho na gaveta são romances e contos incompletos. Se a história que você estiver contando realmente valer a pena, uma hora ela será desbloqueada”.

Luisa Geisler Crédito: Cia. das Letras/Divulgação

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Os desafios da carreira Para o escritor iniciante que finalmente termina um livro, o desafio é a busca pela primeira publicação. Nesse sentido, participar de editais públicos e concursos literários pode abrir muitas portas, como foi o caso de Carvalho e Geisler, que ganharam o Prêmio Sesc de Literatura. Apesar disso, existem outras ansiedades. “Eu não entendia nada do mercado editorial, não sabia o que de fato significava tentar uma carreira literária no Brasil. Envolve criar expectativas, envolve sorte. Não basta só trabalhar num livro e colocar tudo de si ali”, explica Carvalho. Geisler afirma que, por ter publicado muito nova (com 19 anos), ficava tentando ser levada a sério. “Por ser mulher e jovem, vejo que a barra era um pouco mais alta no olhar alheio.” Por outro lado, Chiovatto, Bonini e Ribeiro tiveram de procurar editoras sem o peso de um concurso que os destacasse. Bonini passou dois anos editando dois livros que acabaram servindo como exercício para seu romance de estreia. “Passei um ano e meio ouvindo vários nãos até conseguir o meu sim com a Faro Editorial. Dei sorte de ser uma casa nova (não era nem de perto tão grande como é hoje). Eu estava no lugar certo na hora certa.” Chiovatto também conta que tinha algumas opções na gaveta. Com isso, ela passou a circular em eventos de editoras independentes e segui-las na internet “para saber o que procuravam e o que publicavam”, informa. Então, um dia, a chance surgiu: um editor independente a ouviu palestrando e perguntou se ela tinha algum livro pronto.

Tobias Carvalho Crédito: Acervo pessoal


PARA IR ALÉM

Victor Bonini Crédito: Faro Editorial/ Divulgação

Recepção Com as publicações, no entanto, é inevitável receber as mais variadas críticas e se deparar com situações de desrespeito. “Mesmo com trinta anos de idade e dez de carreira embaixo do braço — e incluindo um Jabuti, traduções internacionais —, vão me chamar de ‘menina’. Tem coisas que a gente dessensibiliza um pouco”, desabafa Geisler. Já Chiovatto diz que aprendeu a aceitar que algumas pessoas odiarão seu livro do mesmo modo como ela odeia alguns: “O juízo de valor que um leitor faz de uma obra não diz nada a respeito do autor e, mesmo se houver quem confunda as coisas, eu não podia cair nesse abismo”. No entanto, nem todas as críticas têm cunho maldoso e é importante ouvir aquelas que podem ser válidas. “O autor pode entrar num diálogo intelectual e saudável sobre a arte ou pode se ofender. Acho que todo mundo ganha mais com a primeira opção”, reflete Carvalho. Já Bonini criou um filtro para as críticas construtivas. Segundo ele, às vezes, a opinião do leitor até faz sentido, mas é algo que ele decidiu não aplicar em suas obras e, por consequência, não levar em consideração. “No fundo, escrever é isso: ousar e se expor”, diz. Para Ribeiro, o essencial é continuar escrevendo. “Os desafios sempre vão atravessar a nossa vida, como aceitar as críticas, conseguir boas editoras para distribuir o seu livro, pensar em meios para se viver disso, mas reitero: focar na escrita, unicamente na qualidade, estética e temas da minha literatura, foi a saída que encontrei para bater de frente com essas questões.”

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20 PRÓXIMO MÊS

vem aí Guia de perguntas sobre Escritores & amantes

1. Qual foi sua impressão geral do livro? Como você se sentiu ao ler Escritores & amantes?

2. A narrativa de Lily King é

mais focada na exploração de questões emocionais profundas da protagonista do que num grande enredo complexo. Como foi sua conexão com Casey? Você gostou da personagem?

setembro

encontros TAG:

3. Poderíamos dizer que esse livro

tem três temas principais, assuntos que mobilizam as reflexões da protagonista ao longo da história: o luto, o amor e a arte. Você concorda? Qual desses aspectos lhe tocou mais?

Casey na história é escolher entre dois potenciais parceiros românticos. Você acha que ela fez a escolha certa? Se ela tivesse feito uma escolha diferente, como você acha que a história poderia terminar?

5. Qual foi sua passagem favorita da história?

outubro

4. Um dos grandes dilemas de

O livro do mês é um suspense psicológico de uma autora canadense. Best-seller do New York Times, o romance é ambientado em um bairro de Nova York, onde um jovem invade casas e se infiltra nos computadores de seus proprietários. O pânico sobre o que ele pode ter descoberto se instaura, e uma série de acontecimentos traz ainda mais tensão aos moradores do bairro. Para quem gosta de: suspenses psicológicos, reviravoltas, livros vira-páginas O amor é capaz de superar as tradições mais rígidas? Essa pergunta está no centro do romance que a TAG envia em outubro, escrito por uma autora best-seller de origem indiana. Nele, duas mulheres enfrentam o dilema de respeitarem os valores de sua terra natal ou serem fiéis aos seus próprios desejos. Para quem gosta de: histórias de amor, dramas familiares, outras culturas


Como funcionam as trilhas literárias da TAG? Coleções de livros em edições exclusivas e capa dura, conectados por temáticas imperdíveis, que chegam de uma só vez na sua casa. E esse é só o começo.

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“Escrever é tentar saber o que escreveríamos se fôssemos escrever — só ficamos sabendo depois — antes, é a pergunta mais perigosa que podemos nos fazer. Mas também é a mais comum.” – ESCREVER, MARGUERITE DURAS


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