TCC Memória das Águas

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A MEMÓRIA DAS ÁGUAS Intervenção no Córrego do Tijuco Preto

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A MEMÓRIA DAS ÁGUAS Intervenção no Córrego do Tijuco Tainah Castro Fortes 11/2016 Trabalho de Graduação Integrado IAU - USP

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AUTORIZO A REPRODUCAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRONICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do Instituto de Arquitetura e Urbanismo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

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Castro Fortes, Tainah A Memória das Águas / Tainah Castro Fortes. -- São Carlos, 2016. 100 p. Trabalho de Graduação Integrado (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) -- Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2016. 1. Hidrologia Urbana. 2. Rios. 3. Arquitetura Paisagística. 4. Urbanismo.

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Banca Examinadora

Profa. Dra. Luciana Bongiovanni M. Schenk

Prof. Dr. Marcel Fantin

DATA: A MEMÓRIA DAS ÁGUAS 5


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AGRADECIMENTO: A minha família pelo apoio e compreensão indispensáveis principalmente nos momentos difíceis. Aos amigos e companheiros que dividiram comigo tantas experiências e com quem sempre pude contar. A todos os funcionários e professores do IAU, em especial a Luciana e Marcel pela orientação sempre prestativa. A MEMÓRIA DAS ÁGUAS 7


SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO INQUIETAÇÕES LUGAR LEITURAS

O CÓRREGO

DIRETRIZES O PROJETO

O ESCUTAR

O COMUNICAR

O VER A MEMÓRIA DAS ÁGUAS 9


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INTRODUÇÃO A MEMÓRIA DAS ÁGUAS 11


Os corpos d’água, que foram fundamentais para a origem de várias cidades brasileiras, passaram de um recurso determinante para a formação do espaço urbano a obstáculos em seu crescimento. Sua importância foi significativamente reduzida à medida em que as cidades se desenvolviam, e não se apoiavam mas na existência dos rios para se manter. Dessa forma, eles se tornaram vazios urbanos. Esquecidos pelas cidades, passaram a representar pontos cegos na paisagem urbana. O distanciamento entre os corpos d’água e os habitantes se inicia com o crescimento demográfico nas cidades e se transforma em questão de saneamento e saúde pública. Esse problema só se agrava com a industrialização acelerada, que traz as ferrovias e a instalação de indústrias nos fundos de vale, criando barreiras e poluindo as águas. O surgimento do automóvel sacramentou o problema, com a construção de avenidas ao longo de suas margens. Atualmente, o lugar do rio é enclausurado entre vias de circulação rápida ou tamponado abaixo da malha urbana. Em contraponto, os corpos hídricos continuam sendo parte integrante das cidades e possuem um papel histórico e ambiental que não pode ser menosprezado. As enchentes e inundações, que são problemas recorrentes em grande parte das cidades brasileiras, são produtos da urbanização que ocupou as várzeas e tomou o espaço dos corpos d’água na cidade. Tais fenômenos geram várias consequências ao meio urbano sejam as mais imediatas como obstruir o trânsito e ocasionar perdas a seus habitantes, ou a longo prazo como a segregação socioespacial ou os danos à infraestrutura da cidade. Diante disso, a presença dos corpos d’água no meio urbano acaba sendo considerada negativa. O objetivo deste trabalho é questionar essa realidade. Fazer com que os corpos d’água sejam reconhecidos e se tornem presentes no cotidiano da cidade coloca em pauta sua existência. O projeto visa que o rio participe das dinâmicas urbanas, evidenciando sua presença através do caráter pedagógico da intervenção. Ao mesmo tempo pretende-se aliar questões infraestruturais como a drenagem urbana ao espaço público atendendo a demandas sociais e ambientais. Dessa maneira os habitantes poderão entender a natureza e os tempos do rio, adotando-o como parte da vida urbana. 12 TAINAH CASTRO_TGI


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INQUIETAÇÕES A MEMÓRIA DAS ÁGUAS 15


As inquietações que guiaram o trabalho surgiram de uma constatação: ao caminhar pela cidade, a paisagem muitas vezes passa despercebida. A princípio a intenção do trabalho era questionar o cenário atual da cidade e de que forma ele incita seus habitantes a fruir o espaço. Porém ao longo do percurso, o foco dos questionamentos mudou. Em lugar de me direcionar a espaços a que os habitantes se submetem em seu cotidiano, o enfoque passou a ser os espaços vazios e abandonados, cuja paisagem possuía um potencial surpreendente, porém ignorado por se esconder atrás de um processo de degradação. Ao longo do processo de trabalho passei a reconhecer o papel que os rios exerceram na formação das cidades e a questão passou a ser se sua função realmente havia se esgotado. Os rios que passaram a ser vistos de maneira negativa já haviam representado um importante alicerce para o desenvolvimento urbano. Então o que havia mudado? E como adaptar-se a essa nova realidade das cidades para que o rio pudesse novamente ser considerado parte da vida urbana. 16 TAINAH CASTRO_TGI


O rio atualmente não é visto na cidade, ocupa espaços degradados e abandonados e só aparece no meio urbano dentro de um canal de concreto, longe dos olhos dos habitantes. Sua presença só é sentida quando ocorrem enchentes e inundações. Dessa forma, a relação entre indivíduo e rio se dá desarmoniosamente. Porém a configuração de nossas cidades atualmente é, na verdade a grande responsável pela situação em que elas se encontram. É isso que afirma a Profa. Dra. em geografia Odette Seabra no documentário “Entre Rios”: “A urbanização em São Paulo foi uma coisa tão violenta que ocupou o lugar do rio, então enchente é coisa que nós inventamos. Ela é produto da urbanização.” Assim como ocorreu em São Paulo muitas cidades passaram por esse processo e mesmo em menor escala as consequências geradas foram as mesmas.

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LUGAR A MEMÓRIA DAS ÁGUAS 19


O município de São Carlos se situa na Região Administrativa Central de São Paulo e se destaca por ser a maior cidade pertencente a ela, com cerca de 241.389 habitantes. Localizada a 230 km da capital do Estado, a cidade é um importante centro regional industrial, cuja economia se fundamenta em atividades industriais e agropecuárias. A presença e o desenvolvimento das indústrias foram especialmente privilegiados pela forte presença de instituições de ensino superior, que estimularam seu crescimento. O fato de compreender tais instituições também faz com que a cidade conte com uma significativa população flutuante de mais de 29.000 universitãrios, dentre graduandos e pós-graduandos.

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O município de São Carlos ocupa uma área total de 1.137 km² dos quais a parcela urbanizada abrange uma área substancialmente menor do que a não urbanizada - cerca de apenas 67 km². Os municípios limítrofes são Rincão, Luís Antônio e Santa Lúcia ao norte; Descalvado e Analândia a leste; Ibaté, Araraquara e Américo Brasiliense a Oeste; e Ribeirão Bonito, Brotas e Itirapina ao sul. São Carlos possuí uma vasta hidrografia. Inserida em duas grandes bacias hidrográficas: Mogi-Guaçu e Tietê-Jacaré. A maior parte da zona urbana se localiza nesta última. Ambas se dividem em dez micro bacias, dentre elas se destacam a Bacia do Monjolinho, a Bacia do Feijão e a Bacia do Quilombo. A Bacia do Monjolinho recebe na jusante todo o esgoto da cidade, sem tratamento, gerando graves danos ambientais. Enquanto isso, a montante proporciona um importante ponto de captação para o abastecimento de água do município. Um de seus afluentes, o Córrego do Gregório teve importância essencial para a fundação da cidade de São Carlos. A Bacia do Feijão também possui um papel fundamental no abastecimento da cidade, sendo responsável por 40% dele, sendo também área de recarga do Aquífero Guarani.

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Mancha urbana Área não urbanizada Linha férrea Rodovia Principais rios na área urbana

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LEITURAS

O processo de expansão urbana diz muito sobre uma cidade. A origem da cidade se deu pela presença do Córrego do Gregório, que ficava na rota para as minas de Goiás. Diante da presença do rio, uma vila se desenvolveu para posteriormente formar a cidade de São Carlos. A cidade passou por vários ritmos de expansão. Ela foi na maior parte crescendo a partir de loteamentos que eram divididos em partes menores e vendidos. O primeiro período de expansão se estendeu de 1857 a 1929 e seu principal combustível foi a economia cafeeira. A construção da ferrovia impulsionou o crescimento urbano e a área mais consolidada da cidade se formou a partir disso. O período de surto industrial trouxe grandes problemas para o espaço urbano, tais quais a instalação de fábricas próximas aos córregos e a ocupação indevida de áreas ambientalmente frágeis, especialmente por vias de trânsito rápido. São Carlos, assim como várias outras cidades, passou por esse processo que foi potencializado pela presença das universidades. A expansão acelerada ocorreu no período de 1930 a 1959. A expansão era realizada também através da venda de lotes privados. No entanto, o crescimento acelerado e a especulação imobiliária movidos pela industrialização fizeram com que a cidade se tornasse um espaço fragmentado , cheio de vazios urbanos. Com o descontrole em relação à ocupação do território, a cidade ocupou áreas que não deveriam ser ocupadas. Todo esse processo deu origem a vários problemas encontrados até hoje no meio urbano. Os constantes conflitos ambientais são fruto dessa. Da mesma forma, a segregação socioespacial é reforçada pela presença de tantos vazios urbanos. 22 TAINAH CASTRO_TGI


1857 - 1929 1889 - 1893 1894 - 1929 1930 - 1959 1960 - 1977 1978 - 1989 1990 - Atual

MAPA DE EXPANSÃO URBANA

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GRAUS DE INVISIBILIDADE

Segundo Sanches (2011, p.33) áreas degradadas são aquelas que perderam sua função qualitativa do ponto de vista social, ambiental ou econômico. São espaços que não participam da cidade de forma ativa, estando esquecidos no meio urbano. Esses aspectos caracterizam áreas degradadas. Para fins de projeto, nomeei esses aspectos como graus de invisibilidade. Uma vez que deixam de ser percebidos pela população , já que não participam de seu cotidiano Considero em meu trabalho que cada um dos aspectos mencionados (econômico, ambiental e social) representa um grau. Assim, quando uma área apresenta a perda de sua função em um desses aspectos, ela é entendida como de grau um. Caso sejam dois, de grau dois e de grau três, caso sejam três aspectos. Analisei os mapas me baseando nisso. A área em que desenvolvi meu trabalho apresentou grau três segundo as leituras indicam a seguir. Por mais que esteja localizada em uma área relativamente próxima a pontos movimentados da cidade, ela representa um ponto cego para o município de São Carlos. Aplicar esse método às leituras do trabalho facilitou o reconhecimento dos problemas a serem enfrentados durante o processo de trabalho e ajudou a direcionar as intervenções contidas no projeto. Ao me deparar com a definição contida na tese de Sanches pude compreender os processos políticos e econômicos que movimentam a cidade e olhar para as leituras de uma maneira diferente, compreendendo as informações por trás delas. E utilizando essa nomenclatura pretendo revelar minha compreensão de tais processos através dos mapas apresentados.

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MAPA DE CONFLITOS AMBIENTAIS São Carlos possui uma vasta hidrografia, por isso a presença de conflitos é comum. As enchentes mais problemáticas se situam na rotatória do Cristo, próxima ao Shopping onde três corpos d’água se encontram e no Mercado Municipal onde se encontram dois, um deles completamente tamponado. Pode-se perceber ao comparar esse mapa com o anterior que a maior presença de conflitos está situada nas áreas mais consolidadas da cidade. Isso ocorre porque nessas áreas a impermeabilização do solo é mais alta. Abaixo um pequeno esquema das microbacias presentes na mancha urbana, destacando a Bacia do Tijuco Preto. Foco de Enchentes APP Invadida Nascente Negligenciada

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MAPA DE LINHAS DE ÔNIBUS Em São Carlos, as áreas mais consolidadas são onde se localizam as suascentralidades. O ponto mais significativo nesse sentido é o Mercado Municipal. A vila Nery, considerada uma subcentralidade, por exercer uma influência mais local. Essa região se localiza numa área mais periférica e por isso, observa-se grandes contrastes na área. As linhas de ônibus, como se pode observar, possuem trajetórias que em sua maioria levam às centralidades da cidade. No entanto, as linhas para áreas mais periféricas são escassas. Dentre as 61 linhas, apenas 6 passam pelo Jardim Tangará, à leste do mapa e 9 no Aracy, à sudoeste, ao passo que dois terços das linhas passam na São Carlos. Pode-se notar que dentre as centralidades existentes, a vila Nery é a que possui menor fluxo em sua direção.

Vila Nery Jardim Tangará

Cidade Aracy Fluxo de Linhas de ônibus Centralidades (ou subcentralidade)

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MAPA DE USOS A cidade é caracterizada principalmente por possuir um centro linear ao longo da Avenida São Carlos. Os bairros mais antigos como a Vila Nery e Vila Prado são centralidades e a presença de vias comerciais nesses bairros demonstra isso. A predominância na cidade é de bairros residenciais, porém a mistura de usos é bastante presente, o que anima a cidade. As grandes áreas industriais se localizam nas periferias, sendo poucas aquelas que se situam no meio urbano.

Área Residencial Área Industrial Área comercial

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MAPA DE PROCESSOS

No mapa em questão observa-se alguns dos processos que aconteceram e acontecem na cidade de São Carlos. As áreas próximas ao córrego do Tijuco Preto (área assinalada em roxo escuro) representaram anteriormente pontos de atividade social muito intensa para a cidade. Porém, perderam sua função econômica e encontram-se abandonadas. Isso constitui o grau de invisibilidade econômico. Ao mesmo tempo essa área, por mais que pareça ser ignorada, tem sido a razão de um embate político que perdura até os dias atuais. Enquanto uma gestão visa a conclusão do anel viário nessa área, outra defende a criação de um parque linear para a preservação do corpo d’água ali presente que já possuía dois terços de sua extensão tamponada ou canalizada. Ambos os problemas estão presentes na área. Ela possui graves questões de mobilidade e problemas ambientais que não podem ser ignorados. O padrão de habitação em alguns locais próximos à àrea é baixo e o serviço de transporte público não é tão acessível à população que lá está justamente pela dificuldade de conexão entre aquele espaço e o resto da cidade. A dificuldade em se conectar com o resto do meio urbano caracterica um grau de invisibilidade social. Ao mesmo tempo que os problemas ambientais do local caracterizam um grau de invisibilidade ambiental, por conta disso o espaço em questão pode ser considerado bastante degradado. Ao mesmo tempo que o anel viário pudesse facilitar a mobilidade na área, sua presença agravaria o grau de invisibilidade ambiental e ao mesmo tempo beneficiaria mais a população de mais alta renda localizada no local, ao priorizar o transporte individual em lugar do coletivo. Porém, construir um parque sem que haja manutenção pode também agravar a situação. Portanto, aqueles que habitam o espaço mencionado se encontram em uma situação delicada que não possui previsão de ser solucionada. 28 TAINAH CASTRO_TGI


Áreas Abandonadas Áreas em processo de Abandono Resíduos de construção do anel viário Área do parque linear construída Área do parque linear não construída

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A Bacia do Tijuco Preto é o limite entre duas áreas bastante distintas. Uma delas é mais residencial e possui renda menor e a outra ainda está inserida nos limites do centro da cidade, possuindo também uma renda maior. Essa diferença constitui uma segregação socioespacial que só é reforçada pela presença do córrego. As poucas conexões existentes após o término da Avenida Trabalhador São Carlense ajudam a reforçar isso. Além disso, na região nordeste do córrego, próxima a sua margem existe uma população que vive em chácaras como se estivesse nas bordas da cidade, mesmo estando bem no meio dela.

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MAPA DE RENDA Maior Renda

Menor Renda


O mapa de densidade vem para reforçar a realidade mostrada no mapa de renda. Porém é mais indicativo do público que poderá usufruir da intervenção. A segregação social presente na área fica ainda mais clara aqui. As manchas mais escuras estão justamente alocadas em um espaço carente de infraestrutura. A população periférica é tão carente nesse sentido, quanto o próprio rio.

MAPA DE DENSIDADE Maior Densidade

Menor Densidade

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MAPA ETNOGRÁFICO O Mapa a seguir mostra algumas situações ocorridas ao longo do leito do Córrego do Tijuco. Destaco algumas das imagens: a imagem 7 mostra o acampamento de um morador de rua embaixo da via no parque próximo à sua montante, a 12 mostra crianças improvisando uma brincadeira na rua estreita com destroços de construção. Apesar dos problemas a imagem 9 mostra um grande potencial paisagístico ao enquadrar juntos o passado e o presente da cidade: a torre da fábrica desativada e a centralidade da vila Nery. A imagem 8, por exemplo mostra um esforço dos habitantes em ocupar e utilizar as áreas da margem do Tijuco.

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MAPA SONORO

O mapa sonoro foi a maneira mais efetiva que encontrei de transmitir as sensações e ambientações que experienciei ao caminhar ao longo do leito do Tijuco. Enquanto o caminho é avenida, o som dos carros abafa qualquer outro. Quando ela acaba, o som do rio começa a aparecer tímido até que não se ouve mais nada além dele e do som dos pássaros. É perceptível também pelo mapa como o rio faz a separação entre os dois lados: de um lado mal se ouve gente, mas se ouve carros, do outro ocorre o contrário.

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Som dos Carros Som das Pessoas Som do Rio


MAPA DE EQUIPAMENTOS Pode-se notar no mapa uma grande presença de escolas na área em questão, ao passo que os equipamentos de lazer não são muitos. Apesar de não serem poucos os equipamentos de saúde também não se equiparam à presença de escolas.

Lazer Saúde Escola

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O CÓRREGO

Para intervir no Córrego do Tijuco Preto, um dos afluentes do Rio Monjolinho, é preciso compreender os processos pelo qual o rio passou. Esse córrego está localizado em um dos pontos da cidade que mais cresceu durante o período do surto industrial devido à proximidade com a rodovia. Porém, ainda se caracteriza como vazio urbano. Durante os anos 1970, com a expansão urbana se acentuaram os conflitos em relação a áreas ambientalmente frágeis por conta do estímulo à expansão em fundos de vale. O Tijuco, por abrigar em suas margens uma avenida, sofreu gravemente com erosões e assoreamento. O anel viário foi proposto na década de 1960, porém não estava completo mesmo nos anos 2000, pois havia sido suspenso devido a uma decisão judicial. Foi um momento oportuno para rever o projeto e pensar em maneiras mais sustentáveis de tratar a presença do córrego. Posteriormente, foram elaboradas novas propostas que visavam ser uma alternativa para os fundos de vale. A proposta de implantar parques lineares nesses espaços foi aplicada no córrego do Tijuco. Assim 2/3 da área marginal puderam ser destinados à recuperação ambiental. Foi realizado um projeto de destamponamento do córrego, que até então estava quase que integralmente tamponado. Ainda, ao invés de se utilizar uma canalização de concreto, foi adotada uma técnica de recomposição do canal que utiliza paliçada de eucalipto não tratado sobre um revestimento de mantas geotêxteis. O fato de o projeto não ter sido implantado em sua totalidade, fez com que parte do córrego continuasse sendo negligenciado e, ainda a falta de manutenção na área em que ele foi implantado impediu que as pessoas pudessem se apropriar do espaço. Apesar disso, o fato de ter sido destamponado, trouxe grandes benefícios urbanos em termos de drenagem. 36 TAINAH CASTRO_TGI


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O processo de destamponamento do córrego foi extremamente benéfico ao atenuar a situação ambiental do córrego e suas consequências. Porém o estado atual do parque é de abandono. A falta de manutenção fez com que a iniciativa, mesmo que louvável e efetiva do ponto de vista ambiental, tivesse sua função social anulada. As populações que vivem à margem da área mal a utilizam e preferem usar equipamentos de lazer mais distantes de suas casas. O rio, no estado em que se encontra apenas reenforça a segregação social entre os dois lados de sua margem. Além disso, a fábrica abandonada em uma das margens também contribue para o estado atual, uma vez que seus muros dificultam a integração das áreas próximas. As imagens acima à esquerda mostram o córrego tamponado em uma imagem de 2001 e já em 2008 revitalizado. Porém atualmente em 2016 ele se encontra degradado apesar de ter side destamponado, como mostra a imagem da direita. Seu leito principalmente na montante se encontra bastante poluído. Da mesma forma o parque foi degradado, sua ponte encontra-se quebrada e a grama alta. Na página ao lado, algumas imagens da construção com paliçada de eucalipto. 38 TAINAH CASTRO_TGI


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DIRETRIZES A MEMÓRIA DAS ÁGUAS 41


Desde o princípio da intervenção, o objetivo principal era fazer com que o Córrego do Tijuco fosse reconhecido como parte da identidade urbana de São Carlos. A teoria era de que uma vez que o rio fosse reconhecido como parte da vida cotidiana dos habitantes da cidade ele ganharia visibilidade e até mesmo se identificassem com ele e com sua história que coincide com a da própria cidade. No início pretendia-se fazer dos sentidos o principal meio de contato com o córrego para que ele pudesse fazer parte da vida urbana em São Carlos. Os sentidos são a interface pela qual os indivíduos conhecem o mundo. Por isso pretendia-se usar essa premissa como norteador do projeto e assim fazer com que o Tijuco Preto fosse reconhecido como parte ativa da cidade. Essa teoria foi de grande importância para o desenvolvimento do projeto, porém se desdobrou de maneira inesperada, criando uma narrativa ao longo do caminho do rio.

PAUSAS EIXO DE APROXIMAÇÃO CONVERGÊNCIAS TRAVESSIAS INTERVALO

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As diretrizes de projeto possuem essencialmente dois propósitos. O primeiro é a criação de um percurso narrativo que suscite a descoberta do córrego, nomeado Eixo de Aproximação. Ao longo dele estão situadas as Pausas, momentos em que a presença do rio se eluscida de maneira mais enfática. O segundo é a conexão entre os dois lados do córrego que são distintos um do outro e, separados pelo Tijuco Preto, possuem grande dificuldade de se integrar. Essas Conexões foram denominadas Travessias e ligam, não apenas os dois lados do rio, mas também Pausas e Convergências. As Convergências são pontos adjacentes às Pausas que possuem o objetivo de suprir demandas específicas de cada trecho do projeto. O Intervalo é uma camada que dá abertura à apropriação e exploração do espaço e tempo, o vazio projetado. Para que o projeto pudesse ser realizado foi necessário dividí-lo em trechos devido a suas particularidades. Assim, cada uma das partes contribui formando a narrativa de aproximação do rio. O conceito segue o princípio de que o rio seja imperceptível a princípio, no trecho denominado Confinamento, em que ele está aprisionado em um canal de concreto, passando por todos os trechos e participando cada vez mais ativamente das experienciais promovidas pelo parque linear e desempenhando um papel fundamental ao final do percurso. Ao mesmo tempo, o papel ambiental do parque é essencial para revitalizar o córrego e evitar enchentes e inundações mais próximos à jusante do Monjolinho, na rotatória do cristo. A mobilidade também foi tratada no decorrer do parque. A ciclovia é tratada como eixo estruturador do projeto e através dela poderia-se fechar o anel viário proposto para a cidade e ainda servir a bairros periféricos próximos ao córrego, juntamente com uma linha de BRT (Ônibus de Trânsito Rápido)

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VIAS ESTRUTURAIS

No que diz respeito à mobilidade na área, pode-se ver no mapa acima que apresenta vias de maior importância próximas ao Tijuco que elas nunca a cruzam, mostrando como a presença do rio segrega o espaço fisicamente. Ao mesmo tempo o transporte público, apesar de chegar até a área, é ineficaz, pois não consegue atender a demanda, já que se trata de uma área de difícil acesso. O mapa ao lado que mostra o trajeto da única linha de circular dentre todas as rotas de ônibus que permeiam a cidade deixa esse fato bem claro. Por mais que passe na região, o mais próximo que chega da área é quando passa pela vila Nery. Nesse sentido, pode-se perceber como a mobilidade é uma das questões enfrentadas pela população que vive à margem do Tijuco. Durante o trabalho elaborei uma proposta de BRT para suprir a demanda e ao mesmo tempo atrair público para o projeto. No mapa que mostra tal proposta, o anel viário existe juntamente com o parque e possui paradas ao longo de suas margens, sendo acessíveis a todos que vivem dos dois lados do córrego. A diretriz é de que se conclua a ligação entre a rotatória existente na Av. Comendador Alfredo Maffei e a Rua Theodolina Modena Coca. 44 TAINAH CASTRO_TGI


PROPOSTA DE BRT

Linha de Circular antes da intervenção

Linha de Circular após a intervenção

Passagem da Linha Passagem da Linha em vias não concluídas

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PROPOSTA DE CICLOVIA A ciclovia também passa pelo parque completando o anel viário, dando aos habitantes uma outra alternativa de transporte para que possam se conectar à cidade. Ao mesmo tempo a proposta também visa incluir bairros periféricos em sua rota, passando também pelo Jardim Tangará e pelo Maria Stella Fagá.

Prevista Construída Proposta

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PROPOSTA DE ADENSAMENTO

Para garantir a presença de pessoas no parque incluì uma proposta de adensamento ao plano do projeto. A proposta visa que nas áreas demarcadas haja habitação, de preferência com grandes áreas permeáveis para não prejudicar o escoamento das águas pluviais. Ao mesmo tempo é uma forma de dar uma destinação às áreas adjacentes que foram abandonadas.

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O PROJETO A MEMÓRIA DAS ÁGUAS 49


IMPLANTAÇÃO O projeto em questão é apresentado ao lado. A intenção é que cada trecho se adapte ao seu entorno, por isso o programa foi pensado de forma que atenda as demandas das áreas adjacentes. A princípio o parque possui um caráter urbano, mais próximo à rodoviária posteriormente ele passa a ficar mais naturalizado com poucos edifícios e uma área permeável bastante considerável.

1 Estares 2 Caixa (Escultura) 3 Área de Eventos 4 Ruínas 5 Calçadão 6 Pavilhão de Quiosques 7 Espaço Lúdico 8 Centro Comunitário 9 Espaço Cultural 10 Mirante 11 Bacia de Mitigação 12 Área de Esportes 12 Centro de Educação Ambiental 14 Quiosques e Cafés 15 Meorial da Água 50 TAINAH CASTRO_TGI


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É a área em que o rio continua canalizado e não se pode vê-lo com clareza. Esse trecho foi concebido para fazer a transição entre o urbano e o mais naturalizado. É mais próxima ao comércio da avenida, portanto há estares em que as pessoas podem permanecer no local.

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CONFINAMENTO


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Trecho em que o rio se liberta da canalização marcada pela caixa, como marco da transição para um rio mais naturalizado. Por se localizar mais próximo a rodoviária, pretende-se abrigar pequenos eventos em frente a ela.

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RUÍNAS


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TRAÇOS

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Trecho em que alguns fragmentos do rio começam a ficar à vista para o indivíduo. O trecho foi pensado como uma área voltada principalmente ao entorno imediato, possuindo playgrounds para as crianças, alguns percursos de passeio e quiosques situados em um pavilhão.

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SOMBRA Área em que o rio passa a fazer parte do cenário do parque, porém é ofuscado pelas várias atividades que ocorrem no trecho por conta da presença do Centro Comunitário e do Espaço Cultural.

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CONTATO Área em que pela primeira vez o observador tem um contato mais próximo com o rio, a presença da bacia de mitigação faz com que isso seja possível. Na área ainda estão situados um mirante e o centro de educação ambiental criado por conta da alta concentração de escolas no entorno.

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EQUILÍBRIO Área prioritariamente de preservação da nascente localizada no trecho. Mesmo que o foco tenha sido dado à preservação da APP, nela se localiza o Memorial da Água, espaço projetado para a contemplação da presença da água na cidade.

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O COMUNICAR

The Language of Landscape Para o trabalho, utilizei como base o livro de Anne Spirn, “The Language of Landscape”, em que ela nomeia figuras de linguagem como estratéguas de projeto e dá exemplos de como muitas vezes essa lógica foi utilizada em projetos paisagísticos anteriormente. Dessa forma, apliquei sua teoria como método para chegar ao produto final da intervenção. O recurso citado não foi utilizado gratuitamente. Como se trata de uma narrativa de aproximação com o rio, imaginei que aplicar figuras de linguagem para contar tal história seria perfeitamente cabível. Os ensinamentos do livro trazem uma poética ao trabalho e reforçam seu conceito e papel no meio urbano. De forma sútil, tentei me apropriar do método e aplicá-lo ao projeto. Dentre as figuras de linguagem catalogadas por ela escolhi três em pontos estratégicos da intervenção para potencializar seu efeito no projeto. As quais citarei a seguir.

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Estratégias

RITMO Ao utilizar o ritmo como uma das figuras de linguagem no projeto, tive a intenção de marcar, não apenas o espaço, mas principalmente o tempo. O trabalho fala bastante a respeito dele, que é um dos principais componentes do projeto, e tem um papel fundamental nele. Em meio a um espaço que possui tantas camadas de tempo contidas em um mesmo espaço, pareceu inevitável reforçar esse aspecto da área. Das figuras de linguagem utilizadas essa é a única que aparece fora do recorte escolhido, e está presente em todo o parque. Tal recurso, além de reforçar a presença do tempo no parque, ajuda também a estruturar a área de projeto. Por ser uma figura de linguagem geralmente associada à poesia e à música, foi utilizada também para remeter a outras formas de percepção do rio que não apenas a visão. A MEMÓRIA DAS ÁGUAS 65


O RECORTE Escolhi como recorte justamente as áreas do projeto em que a presença do rio era maior: o Contato e o Equilíbrio. Ambos os trechos apresentam uma relação harmoniosa com o rio, o que acreditei que deveria ser enfatizado. Nessa área, parte da fábrica abandonada é encorporada como área do parque, porém suas ruínas são parcialmente mantidas. Uma vez que são utilizadas como recurso para enfatizar certos aspectos da área.

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ENQUADRAMENTO O enquadramento foi um recurso utilizado na área mais importante do parque: O eixo que liga vários elementos que tratam o tempo de maneiras distintas. A intenção no caso desse recurso foi enfatizar a figura e o fundo. Representando passado e presente na mesma imagem. A torre de alvenaria da fábrica de tapetes desativada remete a outro período e contrasta com o fundo, uma centralidade ativa. O contraponto que surge remete à passagem do tempo e a sobreposição de tempos que criam o espaço urbano como conhecemos.

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METÁFORA A utilização dessa figura de linguagem foi explorada em relação a três elementos: a torre da fábrica, o poço no pavilhão e a bacia de mitigação. A torre é metáfora do período da industrialização, faz parte da memória do rio, de sua história, justapor ambos é colocar esse período em evidência. Ao mesmo tempo, o movimento de baixa e alta do rio, marca o tempo como parte ativa da paisagem e expõe os ciclos da água àqueles qu presenciam tais mudanças. O poço é mímese da bacia e essa relação torna didática a questão dos tempos do rio ao observador. É justamente por isso que esses elementos fazem parte do Centro de Educação Ambiental.

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O ESCUTAR O Centro de Educação Ambiental é um dos pontos de enfoque do trabalho, visto que uma das estratégias é utilizar de métodos didáticos para aproximar as pessoas do rio. O Centro não só tem a função de aproximar as pessoas dos corpos d’água, mas do meio ambiente em geral. A instituição é aberta para aulas e outras atividades não apenas direcionadas às crianças. Com um pomar e uma horta próximos, a cozinha aberta se beneficia desse contato que está presente até nos playgrounds do parque. A ideia é que isso reaproxime as pessoas do meio e que criem um vínculo com ele, afinal essa é uma das maneiras mais eficazes de se evitar a degradação dos recursos naturais presentes na cidade.

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O VER O Memorial das Águas é uma homenagem aos corpos d’água. O pavilhão é um espaço de contemplação dos rios e de sua contribuição para o desenvolvimento das cidades. A intenção é recriar o ambiente tranquilo encontrado na área ao visitá-la. A água que florece na fonte do Memorial é uma referência à nascente do córrego. Sua presença está lá para lembrar aqueles que passam pelo Memorial da existência da nascente naquele fundo de vale.

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