Revista No papel

Page 1

REVISTA DA COMUNICAÇÃO

ANO 5 - EDIÇÃO 6 - 2014

Intercâmbio: Uma troca de experiências

Abandonados à própria sorte | Jovens Mudanças | Literatura Fazenda Renascer da Esperança, uma história de quase 40 anos


anuncio grafica


EXPEDIENTE

Universidade FEEVALE: Reitoria Interina e Pró - Reitora de Ensino: Inajara Vargas Ramos

Pró-Reitor de Pesquisa, Tecnologia e Inovação: Prof. Me. João Alcione Sganderla Figueiredo

Pró-Reitor de Planejamento e Administração: Prof. Me. Alexandre Zeni

Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários: Profa. Me. Gladis Luisa Baptista

Diretora de Instituto de Ciências Sociais Aplicadas: Profa. Me. Maria Cristina Bohnenberger

Coordenador dos Cursos de Comunicação Social: Prof. Dr. Cristiano Max

Representante do Curso de Jornalismo: Prof. Dr. Marcos Santuario Coordenador da No Papel

Diagramação: Alunos da Disciplina de Planejamento Gráfico II Professora Responsável: Profa. Dra. Vera Dones

Redação: Alunos da Disciplina de Reportagem Jornalística Professora Responsável: Profa. Ms. Letícia Vieria Braga da Rosa

Arte Finalização: Agência Experimental de Comunicação Feevale Professora Responsável: Profa. Ms. Rosana Vaz Silveira


Sumรกrio

07

Literatura

Jovens Mudanรงas

11

14 Motociclismo, hobby ou estilo de vida?

Uma paixรฃo chamada Fusca

18

23 Nem Gremista, nem colorado !

O Homem das Abelhas

26


31

Intercâmbio

40

Abandonadas à própria sorte

34

Sustentabilidade em dose dupla

A arte de ensinar música

46

52 Fazenda Renascer da Esperança, uma história de quase 40 anos

Pais até debaixo d’água

56


Editorial Chegamos a uma nova edição da Revista No Papel, realização dos estudantes de Jornalismo da Universidade Feevale. Exercitando a prática de reportagem jornalística, somada à elaboração de textos, captura de imagens e criatividade em diagramar páginas, a experiência de conceber e elaborar a Revista marca a passagem dos acadêmicos pelas disciplinas de REPORTAGEM JORNALÍSTICA, FOTOJORNALISMO E PLANEJAMENTO GRÁFICO. Com o acompanhamento dos professores titulares destas disciplinas, os acadêmicos desenvolvem processos que fazem parte do dia a dia da profissão de Jornalista, experienciando a prática mercadológica com a reflexão acadêmica, buscando a complementariedade das exigências e possibilidades destes dois universos. Nesta edição, as temáticas vão de interesses gerais a buscas específicas. Da fabricação do mel ao intercâmbio acadêmico, passando pela paixão e pelo hobby, este número da NO PAPEL conecta leitores com a sustentabilidade, a arte de ensinar música e a esperança para dependentes, animais abandonados e crianças saudáveis. E mais. Trata-se aqui de apresentar o resultado do crescimento intelectual, profissional e acadêmico dos estudantes que encontram na Universidade o local ideal para somar estas experiências à reflexão criativa de seus processos de construção jornalística. Boa leitura!

Prof. Dr. Marcos Santuario Representante do Curso de Jornalismo Coordenador da Revista No Papel


07

07

JOVENS MUDANÇAS


08

S

ete horas da manhã de domingo, Vinicius Beck, 17 anos, está tomando seu café da manhã, cena bastante incomum entre jovens de sua idade. Vince, como é conhecido pelos amigos, costuma acordar mais tarde aos finais de semana, mas este domingo é especial, é dia de campanha, dia de abraços grátis! Durante a semana, os participantes do Interact Club prepararam seus cartazes. Era possível usar a imaginação para criar, mas todos os cartazes precisavam trazer a frase “ABRAÇOS GRÁTIS”. Vince fez um cartaz com letras de forma e bem coloridas. “Quero chamar a atenção de todos e passar alegria através das cores”, explica o jovem. Às 8h, Vince sai de casa e encontra seus amigos na praça da cidade, como já haviam combinado antes. Com seus cartazes, eles começam a campanha, Abraços Grátis. O objetivo é exatamente este, os jovens caminham pelas ruas da praça oferecendo abraços às pessoas que por ali passam. Entram em lojas, mercados e até em padarias para distribuir seus abraços. De início há um estranhamento entre as pessoas, que se deparam com os cartazes, mas após o primeiro abraço acontecer, o gesto torna-se contagioso e todos querem abraçar e serem abraçados. “Hoje acordei preocupada com algumas coisas e discuti com meu marido quando sai de casa mas, depois desse abraço, eu já estou me sentindo melhor”, conta Marta Kauer, 35 anos, após receber o abraço. Quando a campanha chega ao fim, os jovens estão cansados mas empolgados com o resultado. Acreditam ter batido o recorde de abraços da última edição da campanha. Julia Marcos, 16 anos, conta que existe uma pequena disputa entre os jovens pelo maior número de abraços distribuídos. “Adoro quando é dia de abraços grátis! No final, quem abraçar mais pessoas ganha chocolates. Gosto de abraçar e mais ainda de receber. Um abraço logo pela manhã pode mudar o dia de uma pessoa”, conta a jovem.


09

CLUBES DE SERVIÇOS

N

o Vale do Paranhana, os principais clubes de serviços que têm jovens como atuantes são: Interact Clube e Leo Club. Ambos realizam campanhas de diversos tipos, com o intuito de melhorar suas cidades e situação da sociedade. Interact Club é um projeto de Rotary Club e Leo Club é um projeto do Lyons Club, clubes conhecidos internacionalmente e espalhados pelo mundo todo. A finalidade de criar projetos como Interact e Leo é para que jovens possam ter acesso ao voluntariado, de forma em que trabalhem em equipe e criem líderes na sociedade. Os clubes seguem hierarquias internas e os jovens constituem estrutura de administração, desenvolvendo, assim, responsabilidade.

Nossos jovens voluntários têm a oportunidade de mudar a sociedade na qual vivem, com atitudes de ajudar ao próximo, são jovens que desenvolvem grande crescimento dentro de seus Clubs, e passam a se preocupar e criar responsabilidades a favor de suas comunidades Gilnei Costa, presidente do Rotary Club de Parobé.

Jovens que se dedicam ao voluntariado, com idade entre 15 e 20 anos, frequentam festas, têm trabalhos e provas de aula para fazer, têm famílias e problemas familiares, perfil comum entre os jovens. O que os diferencia, o que os torna especiais é a preocupação e dedicação que eles têm com as outras pessoas, com sua sociedade e cidade. Dedicam seu tempo para promover ações que ajudem outras pessoas, sem nem ao menos conhecerem tais pessoas. “No momento em que a vida te possibilita várias oportunidades, como estudo, uma casa, família estruturada, acredito que seria muito egoísmo não fazer algo por quem não possuiu a mesma sorte”, explica Gabriele Zini, 19 anos. Fernanda Morel, 17 anos, conta que o sentimento de fazer o bem é recíproco. “Gosto de ser voluntária, me sinto bem ajudando outras pessoas, me sinto feliz quando deixo elas felizes, principalmente as crianças, fazer o bem é uma terapia”.


10

O BEM CONTAGIA

C

ampanhas são organizadas e fomentadas pelos jovens, mas acabam mobilizando diversas pessoas, que se disponibilizam a ajudar com doações, criando assim um vínculo de solidariedade e bem estar entre os participantes. A cada campanha realizada, os clubes de voluntários recebem novos interessados em ingressar junto a eles neste trabalho. As pessoas se sentem bem em ajudar, amigos convidam amigos e assim a lista de voluntários aumenta. As comunidades, quando tomam consciência das atividades realizadas pelos clubes, começam a colaborar mais. “Eu sempre deixo as roupas que eu não uso mais separadas, quando a gurizada faz campanha, eu sempre ajudo”, conta Angélica Ferreira, 41 anos.

REDES SOCIAIS

A

intimidade dos jovens com a tecnologia acaba sendo um facilitador. A frequente troca de informações possibilita a divulgação de seus trabalhos voluntários e, até mesmo, a realização de campanhas nas próprias redes sociais. Todos os clubes de Interact e Leo têm página no facebook. Para conhecer mais sobre o trabalho dessa galera visitem suas páginas! Endereço das páginas dos clubes: Rotaract Parobé: facebook.com/rotaractparobe Rotaract Club de Taquara: facebook.com/RotaractClubTaquara Interact Paraobé: facebook.com/interactparobe Leo Clube Parobé: facebook.com/leoclube.parobe Leo Clube Igrejinha: facebook.com/leoclube.igrejinha

Texto: Arthur Arsênio Schaeffer Diagramação: Mariana John Fotos: Acervo Clubes de Serviço


LI TE RA TU RA Estimular sonhos, desejos e o imaginรกrio das crianรงas

11


12

Formar leitores e instigar o gosto pelos livros, este é o objetivo da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vila Aparecida com o projeto Hora do Conto “Gosto da minha cidade, de flores, de amarelo, de música, de livros do Rubem Alves, de contos, de fantasia, de história, de viver... Sou uma sonhadora, teimosa, exigente e até insegura. Graças à professora que motivou esta ex-aluna na 4ª série, uma pessoa muito especial, que todos os dias, no final das aulas lia para a turma. Aqueles momentos eram maravilhosos, mágicos, eu viajava em suas palavras. Por isso, quero ser uma professora que seja capaz de fazer seus alunos sonharem, fantasiarem, viajarem e que quando adultos, lembrem-se de mim, assim como eu lembro até hoje dela”. Estas foram as palavras da ex aluna da escola Vila Aparecida, de Portão, Pâmela Scronhardt. Atualmente, Pâmela é professora de Educação Infantil. Foi com esta carta, que a professora Vanessa Quilim, decidiu fundar o projeto “Hora do Conto”, no ano de 2000. “Fiquei muito feliz e emocionada quando recebi a correspondência de uma ex-aluna depois de tanto tempo. A Pâmela hoje deve ter aproximadamente 30 anos e, receber o carinho e admiração de uma aluna, me fez perceber, naquele momento, que fazemos a diferença enquanto educadores e formadores. Pois plantei uma sementinha, que cresceu e buscou nas minhas leituras um caminho de esperança e

sonhos. Por isso, os alunos tornam-se o produto da ação pedagógica de cada educador”, disse Vanessa. É através da leitura e da escrita que as crianças podem expor seus sentimentos, seus desejos, suas preocupações, necessidades, dificuldades e sonhos. A cada ano, a escola realiza uma pesquisa, em que os professores conhecem a realidade social de cada criança e a de suas famílias. Depois disso, os professores iniciam a construção didática voltada para a leitura e para a escrita. De acordo com Vanessa, a primeira atividade se deu após os alunos mais velhos da escola lerem aos mais novos no final de cada aula. “Apresentei a ideia aos outros professores, que se engajaram e acreditaram no sucesso das atividades”. Novas iniciativas foram surgindo com o objetivo de estimular a prática. Entre eles estão os projetos “Um pedacinho da escola em minha vida”, “Avós contadoras de Histórias”, “Leitura de reportagens e notícias”, projeto “Caderno de Informações” e o “Hora do Conto”, que é trabalhado pelos alunos dos 4º e 5º anos da instituição. Segundo a educadora, servir de exemplo para Pâmela a fez ampliar os projetos de leitura e escrita. “Para mim, a leitura ocorre por caminhos distintos como: o visual, o oral, o auditivo e o corporal. Ns constituímos pela palavra. Através das palavras a leitura nos coloca no mundo, ou seja, é um estar no mundo, é conseguir fazer parte dele, entendendo o passado, vivendo o presente e projetando o futuro”, conta.


“Através das palavras a leitura nos coloca no mundo, ou seja, é um estar no mundo, é conseguir fazer parte dele”

A LEITURA FORMANDO CIDADANIA Contribuir na ampliação do saber e na construção do conhecimento. Este é o objetivo da escola ao colocar no cotidiano das crianças e dos adolescentes a leitura. “Aos poucos, descortinamos juntos sonhos e a construção dos nossos projetos. Vivenciamos o mundo das palavras neste contexto da leitura, sendo um mundo observado, analisado e percebido por mim e por eles, com lentes muito particulares que mostram as formas e cores antes não percebidas, que produzem as informações que contribuem para desenvolver e ampliar os meus, os teus e os nossos conhecimentos”, enfatiza Vanessa.

ENCONTRO MARCADO As crianças e adolescentes têm encontro marcado com o universo lúdico. Primeiro os professores apresentam o material de leitura indicado e disponibilizam aos jovens leitores do 5º ano. Depois de escolhida a história, é hora de realizar a roda de leitura. A mediação ocorre entre os alunos do 5º ano, com as turmas de Educação Infantil, do 2ª ano e 3º ano do Ensino Fundamental e ocorrem no salão da escola, todas as segundas-feiras (Ed. Infantil), terças-feiras (3º ano) e sexta-feira (1º ano), no período da manhã. Ao abrir cada livro, eles mergulham na história e se aventuraram em cada palavra, frase, imagem, assim ocorre a interação entre texto, leitores e os ouvintes. Para eles, é um momento importante, pois favorece a interação. Todos esperam pela segunda-feira, uns para contar, ler e interpretar, e para os demais, é um momento rico de aprendizagem, que encanta e desperta a fantasia. Ao retornar para a sala de aula, a professora desenvolve as atividades. Os procedimentos são variados, como fichas de leitura, produção pictórica, o relato oral e o reconto aos colegas do que ouviu, ou a criação de uma nova história. Todas as atividades iniciais de leitura são mediadas por Vanessa, a professora referência da turma.

Texto: Gisele Kuntz Pereira Diagramação: Mariana Haupenthal

13


14

Motociclismo, hobby ou estilo de vida?


15

Quem pilota uma motocicleta, muitas vezes, opta pelo veículo em virtude da facilidade de deslocamento e baixo custo de manutenção. No entanto, boa parte daqueles que compram uma moto têm objetivos que vão além do tradicional ir e vir do trabalho. Segundo dados do Detran/RS, 55.579 motos novas foram emplacadas e vendidas no Rio Grande do Sul em 2012.


16

A motocicleta tem se tornado cada vez mais popular. Apesar das facilidades para o uso no dia-a-dia, muitos motociclistas vão além do habitual e utilizam a moto não só para se deslocar, mas como um veículo que pode ser incorporado a um estilo de vida.

Paixão contagiante Com uma motocicleta que custa quase 50 mil Reais, o empresário Roberto dos Reis, de 39 anos, percorre mais de mil quilômetros ao mês participando de encontros de motociclistas em diversas cidades do estado, do país e algumas, até no exterior. Moto-

Muitas amizades surgem a partir de encontros motociclísticos

ciclista há mais de 20 anos, ele revela nas palavras o sentimento que o leva a ficar sobre duas rodas: “Andar com qualquer coisa que não seja a moto é como se eu estivesse a pé”. A moto de 950 cilindradas chama a atenção por onde passa, Roberto conta que muitos amigos já tentaram comprá-la, mas ele garante que não vende. O motociclista ainda conta que a esposa, Sandra Reis, de 34 anos, contadora, teve de se adaptar à sua paixão pelo motociclismo. O casal que não tem filhos ressalta o fato de não ter muita rotina, pois ao menos uma vez por semana eles definem algum roteiro diferente para visitar sobre duas rodas.


17

Apesar dos perigos da estrada, os moticiclistas que pertencem a motoclubes são os mais disciplinados

Muito além do óleo e do pneu Régis Magalhães é gerente de uma revenda de motos em Gravataí e trabalha no ramo há mais de dez anos. Régis conta que alguns motociclistas vêm, há anos, até a loja para realizar a manutenção das motocicletas. “Muitos deles fazem questão de acompanhar de perto todo o processo de troca de óleo ou de peças. Às vezes, os mecânicos não se sentem muito confortáveis, mas sabem que este é o perfil de alguns clientes.” Acessórios é o que não falta para os motociclistas mais aventureiros, um nicho que também movimenta o mercado. Na loja de Régis, peças como escapamentos esportivos de fibra de carbono podem ser encomendados e custar até 10 mil Reais, e sempre são procurados pelos clientes mais “apaixonados”. Régis comenta, ainda, que a tendência dos clientes é começar com motos de baixa cilindrada, entre 125 e 250, e, aos poucos, ir trocando por motos maiores e mais modernas. Segundo ele isso prova a fidelidade do motociclista que realmente vê na moto um veículo que pode propiciar lazer e bem estar. Apesar disso, ele destaca que esta decisão deve ser tomada com calma e tranquilidade, pois a troca de motocicleta aumenta significativamente os custos de manutenção e os riscos. Apesar da liberdade e satisfação que o motociclismo traz, é preciso ter cuidado ao adquirir uma motocicleta. Segundo o chefe da Primeira Delegacia da Polícia Rodoviária Federal do Rio Grande do Sul, Leandro Maciel, na estrada, os cuidados ao pilotar uma moto devem ser redobrados, pois a velocidade atingida pelo condutor e os demais veículos é maior, e isso diminui sensivelmente o tempo

de reação do motociclista. Leandro ainda ressalta que muitos motociclistas encaram a estrada sem ter a experiência necessária ou sem fazer a manutenção preventiva da moto, e isso acaba causando muitos acidentes. Apesar do número de acidentes com motocicletas crescer a cada ano no país, o chefe da Primeira Delegacia da PRF/ RS ressalta que a maioria dos acidentes acontece por motociclistas sem experiência ou indisciplinados, e que na maioria das vezes os condutores que pertencem a motoclubes ou associações são mais cautelosos e acabam respeitando as leis de trânsito. O presidente da Associação dos Motociclistas do Rio Grande do Sul, José Vilson Kuhn de Oliveira diz que são organizados, em média, 150 encontros motociclísticos por ano, e que muitos participantes já são conhecidos por comparecerem em vários destes eventos. A associação ainda organiza, anualmente, o “Abraçando o Rio Grande”, evento que reúne cerca de 300 motociclistas e percorre cerca de 1.100 quilômetros, passando por cidades da serra e do litoral norte do estado. Perguntado sobre o sentimento que move os motociclistas a percorrerem longos trajetos e gastarem quantias expressivas com as motos, ele fala que o motociclismo traz uma enorme sensação de prazer aos adeptos. “Com o estresse do dia-a-dia, as pessoas acabam ficando muito presas às rotinas do cotidiano, e o motociclismo faz com que se tenha uma grande sensação de liberdade, pois a interação com o trajeto é muito maior do que quando se dirige um carro, por exemplo.” Texto e Fotos: Carlos Naim Martins Rissotto Diagramação: Claucio Ricardo Petry

A motocicleta de Roberto chama a atenção por onde passa. As propostas de compra são constantes


18

Uma paix達o


19

chamada Fusca Em Novo Hamburgo, assim como em todos os lugares por onde passa, o Fusca ainda angaria fãs.

E

le já foi estrela de Hollywood em diversos filmes famosos. Também já foi símbolo de riqueza e de poder nas mãos do ditador alemão Adolf Hitler. Para muitos, é um carro velho e barulhento. Já para outros um clássico, uma paixão que merece ser guardada para o resto da vida. Estamos falando do Volkwsagen Fusca, o primeiro carro da empresa, criado em 1938 na Alemanha e que, até hoje desperta sentimentos distintos entre pessoas do mundo todo. Diferente da maioria dos outros carros, o projeto do Fusca envolveu várias empresas e, até mesmo, o governo de seu país transformando-se em um dos carros mais populares que já existiu e que, mesmo com 75 anos de história, angaria fãs por onde passa. Em Novo Hamburgo, a “paixão nacional”, como é conhecido o Fusca, tem uma legião de adoradores que se reúnem semanalmente na sede social do Clube do Fusca, um espaço criado em 2003 pelos fãs do carro. “Nós éramos

um grupo de amigos que não era bem visto pelos donos dos demais automóveis antigos, pois eles consideravam o Fusca um carro muito popular, de baixo valor, então, nós decidimos criar um espaço para quem gosta de Fusca e dos derivados como Kombi, Variant, TL, entre outros”, afirma o presidente do Clube, João Führ. Hoje, o Clube conta com cerca de 100 associados, mas segundo João, o clube é aberto para quem não possui Fusca também. “Quem vem uma vez, sempre acaba voltando”, provoca João. Atualmente, o Clube do Fusca de Novo Hamburgo participa de diversos encontros de carros antigos no Rio Grande do Sul e também em outros estados e até mesmo países.

De geração para geração Os irmãos André e Adriano Carasai, ambos de 29 anos são exemplo de que a paixão pelo Fusca nem sempre é por


20 acaso. Desde pequenos viajando com a família dentro de um Fusca 1968, eles decidiram reviver juntos esta história, adquirindo um Fusca que hoje é motivo de orgulho não só para eles, mas também para o Clube do Fusca de Novo Hamburgo. O modelo Berilo de 1960 é considerado raríssimo e chama a atenção por onde passa. “Em meio a tantos carros modernos e luxuosos, um fusquinha bonito e bem cuidado acaba chamando a atenção de todos”, afirmam os irmãos que contam que quando compraram o Fusca, ele estava abandonado e até com ratos dentro. Recentemente, o Berilo 1960 foi condecorado com “Placas Pretas”, o que significa que o veículo é, no mínimo, 80% original. “Nós compramos o carro de um senhor que era professor no Colégio 25 de Julho e que hoje está em um asilo aqui da cidade. Quando os alunos da época veem o Fusca rodando, nem acreditam que seja o mesmo”, afirmam orgulhosos os irmãos Carasai.

Paixão também das mulheres Embora seja considerado um carro predominantemente masculino, o Fusca também é uma paixão para algumas mulheres, como a estudante Débora Costa de 20 anos, proprietária de um modelo 1973. “Além de ser um carro fácil de dirigir e de mecânica muito simples, adoro o design dele e a parte interna que é muito bonita quando conservado conforme o original”, destaca Débora. Hoje em dia, o Fusca conta com outras duas variações, o New Beetle e o Novo Fusca, o último recém-lançado no Brasil. Apesar do nome, e da intenção de transformá-los em uma continuação do famoso “Carro do Povo”, ambos fogem muito do projeto original do Fusca. Dotados de tecnologias modernas e confortos característicos dos grandes carros, fica evidente que o Fusca, original e verdadeiro, só existe um. E se depender dos fãs, esta paixão será preservada por muito tempo ainda.

Adriano e André Carasai, irmãos e proprietarios do automóvel de modelo de 1960, Berilo

“É

ramos um grupo de amigos não bem

vistos pelos donos dos demais automóveis antigos, pois eles consideravam o Fusca um

carro muito popular, de baixo valor, então nós decidimos criar um espaço para quem gosta de Fusca“

Texto: Guilherme Darros Fotos: Rodrigo Pereira dos Santos Diagramação: Nahara Eckhard


Assista

Um debAte sobre mídiA, cUltUrA infAntil e consUmo.

O consumo infantil está em casa e na escola. Em cada programa com 20 minutos de duração, o Nosso Bairro na TV coloca em pauta questões sobre o desafio constante de lidar com a relação mídia e criança. Entrevistas com profissionais de diferentes áreas para ampliar o debate. Um programa para pais e professores. Assista em youtube.com/nossobairronatv ou na TV Feevale, canal 15 da net-nH.

Audiovisuais Infantis:

Nesta edição do programa, veiculada em abril de 2014, discutiu produções audiovisuais para crianças e os produtos licenciados destes programas. Conta com a participação dos entrevistados Cristiano Max, Publicitário; Michele Petersen, Pedagoga; e Carolina Rigo, Publicitária.

Mídia, consumo e criança:

O programa veiculado em dezembro de 2013 colocou em discussão a relação criança e consumo no contexto das comemorações natalinas, fortemente marcadas pelo consumo infantil. Como convidados Saraí Schmidt, Jornalista; Marta Santos, Publicitária; e Lisiane Menegotto, Psicóloga.

Mídia, gênero e sexualidade: Nesta edição do Nosso Bairro na TV foi veiculada em outubro de 2013, mês em que a publicidade se volta para divulgar o Dia das Crianças. Em debate a relação do consumo e a identidade de meninos e meninas. Com a participação de Denise Quaresma, Psicóloga; Tiago Silva, Professor de História; e André Luiz dos Santos Silva, Professor de Educação Física.

Nosso Bairro na TV tem como foco a relação mídia, cultura infantil e consumo, integrando pesquisa e extensão do projeto Nosso Bairro em Pauta, da Universidade Feevale.


22


23

Nem GREMISTA, nem COLORADO!

E

m algumas ocasiões existem duas forças que predominam. Frio ou calor, dia ou noite, fogo e água, céu e terra, chuva ou sol, dentre outros exemplos. No futebol, isto acontece com muita frequência. Exemplo forte aqui no estado são os times Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e Sport Club Internacional. Mas, diferentemente do que muitos pensam, nem todos os gaúchos torcem pelo

Grêmio ou Inter. Na “sombra” da capital, o Clube Esportivo Aimoré e o Esporte Clube Novo Hamburgo duelam contra outros times do interior do estado, mesmo que com pouca presença de torcedores. Poucos, mas fiéis.


24 “Inter e Grêmio inexistem pra mim” A paixão de Digue Cardoso, 34, pelo Aimoré não teve um início, está na essência. Seu pai foi o fundador da primeira torcida do Aimoré e se tornou, aos 28 anos de idade, o presidente mais jovem da história do clube. Foi nesta fase que ele nasceu. “Morava a apenas uma quadra do Cristo Rei, ao invés de ir jogar bola na infância e na adolescência, ia todo dia ao treino, ser gandula, bater bola, enfim, Aimoré desde sempre”, conta Digue. Muitas pessoas afirmam que todos torcem para Grêmio ou Inter, o que é extremamente rechaçado por Digue: “Não torço para Grêmio nem Inter, eles inexistem pra mim” ressalta ele. Tatuar o distintivo do Aimoré no braço e realizar viagens longas para ver o clube em campo são algumas das loucuras em prol do “Índio Capilé”. Loucuras que são recordadas com um sorriso no rosto. “Já saí às 3h da manhã de casa para ir a Santana do Livramento para ver um jogo do Índio às 11hs da manhã em pleno inverno e na chuva” relembra o torcedor.

Distância que não diminui a paixão José Eduardo Francisco Morais, 24, é estudante e mora em Curitiba desde 2001. Nasceu em Novo Hamburgo, onde iniciou toda sua paixão pelo clube hamburguense. O que ele recorda muito bem. “A primeira vez que vislumbrei um Novo Hamburgo forte e vencedor, do qual só ouvia histórias de meus pais, foi durante a campanha da Divisão de Acesso de 2000” lembra ele. Zezinho - como é conhecido - até já torceu por outra equipe, mas agora é anilado da cabeça aos pés: “Com pais e familiares gremistas, foi quase inevitável não se tornar gremista. Mas depois de algumas discussões acerca do futebol, fui deixando essa paixão de lado e me tornando mais anilado” revela Zezinho. E histórias de orações e sofrimentos sempre fazem parte do torcedor. E algumas ficaram na memória de Zezinho. “No jogo do Brasileiro da Série C de 2005, o NH jogava contra o Joinville fora de casa, depois de ganhar por 1x0. O Joinville venceu por 1x0 e o jogo foi para os pênaltis. Eu estava escutando na casa de um amigo, peguei um terço e passei a rezar de joelhos, com o fone de ouvido. Após o Nóia vencer por 4x3 e avançar na competição, desabei no chão sem forças e chorando”, recorda o torcedor.

Uma pitada a mais de loucura e surge um dirigente O presidente do Aimoré, Felipe Becker, vive o clube de uma maneira tão intensa que deixa, por vezes, até a vida pessoal de lado. Apesar disso, não se considera um louco, mas sim um corajoso. “Nunca considerei loucura o pouco que já fiz pelo clube. O maior desafio foi ser presidente do Aimoré em 2013, um clube endividado, com uma estrutura quase rudimentar e que há pouco tempo atrás estava fechado”, lembra Becker com orgulho. Mas ele admite que por vezes ele se vê como um louco. “É quase impossível fazer uma gestão rápida e apta a conquistar resultados imediatos em campo. Quando assumi a presidência, o Aimoré tinha uma estrutura física sucateada e nenhum centavo para contratar. Isto sim beirou a loucura”, ressalta o presidente. Pelo lado do Novo Hamburgo, Everton Cury, vice-presidente de futebol, se destaca pelo seu temperamento forte e emotivo. Tudo em prol do anilado. “A gente faz este trabalho mais com a paixão do que com a razão. As dificuldades, a falta de apoio, os problemas internos nos dão motivos para desistir, mas a paixão que tenho pelo clube e é que faz continuar”, desabafa Everton. Assim como Felipe Becker, Cury concorda que tem uma pitada de loucura em ser dirigente de clube do interior. “Se tu levar em consideração que o clube não tem muitos sócios, não tem muita renda, não tem o apoio da comunidade e estamos embaixo da saia da dupla GreNal, sim sou louco!”, conclui o dirigente. Texto: Wesley Wierganowiez Fotos: Diagramação:


25


26

O Homem das Abelhas Agricultor de 78 anos trabalha com abelhas desde os três anos Texto e fotos: Mauri Marcelo Tonidandel Diagramação: Rafael Petry

E

m Morro Reuter, pequeno município na Encosta da Serra Gaúcha com aproximadamente 6 mil habitantes, poucos sabem quem é o José Inácio Bays. Mas se a pergunta for feita de outra forma, fica mais fácil: sabe quem é – ou onde mora – o “Bienemann”? Este senhor de 78 anos é mais conhecido não só no pequeno município como na região como o “homem das abelhas” - em dialeto Hunsrik (alemão) – pois ele sempre trabalhou com abelhas e com mel. “Quando tinha três anos, já mexia nas caixas de abelha do meu pai”, justifica. Bays explica que seu pai vendia laranjas e isso propiciou o trabalho com mel. “Ele colhia laranjas e levava elas de carroça até o porto do Caí (São Sebastião do Caí). Em casa, entre a plantação dos pés de laranja, estavam espalhadas

as caixas de abelha”, conta ele, que é natural de Harmonia, mas mudouse para Morro Reuter em 1978. Aliás, foram as abelhas que fizeram com que Bays mudasse de município. Ele justifica que passou um tempo de sua vida no seminário e servindo ao Exército e, quando saiu, passou a trabalhar no Banco Nacional do Comércio em São Sebastião do Caí, Ivoti e São Leopoldo, de onde sempre se deslocava a Morro Reuter para averiguar como estavam suas caixas de abelhas. “Em São Leopoldo era muito quente, então o clima em Morro Reuter era mais ameno, por isso preferi colocar minhas abelhas por aqui”, explica. Com as constantes visitas à Encosta da Serra, acabou se instalando em um sítio próximo da BR-116, que passa pelo município.

Laura R


Rocha Kuntzler


28

O APELIDO Antes de mudar-se para Morro Reuter, o agricultor estava frequentemente no município e ia à missa quase todos os finais de semana. “Meio desconfiadas, já que eu era de fora, umas pessoas perguntavam para as outras quem eu era. Elas respondiam: o ‘Bienemann’”. E o apelido pegou.

CADERNETA DE ANOTAÇÕES Atualmente, José Inácio, ou simplesmente “Bienemann”, tem 20 recipientes com criação de abelhas espalhadas em sua propriedade em Morro Reuter. Em uma pequena caderneta estão as anotações do histórico de cada um dos recipientes de abelhas. “Cada caixa tem uma página na caderneta com o seu número, letra e com as observações feitas sobre cada uma delas, como ‘abelhas nervosas’, ‘nasceu a rainha’, ‘caixa 100% carregada’ e ‘abelhas brabas’”.


29 Mas seu cuidado com as abelhas não para por aí. Com muita delicadeza, ele pega as abelhas-rainhas na mão e corta uma de suas asinhas. “Um ano eu corto a asa do lado direito e, no ano seguinte, a outra. Isso para que elas não voem para outra caixa”, explica. Além disso, o Bienemann ainda marca as rainhas com tinta para que ele as encontre mais rapidamente nas caixas grandes, quando elas estão com as outras abelhas. Para retirar o mel, o máximo que ele usa é uma máscara na cabeça e uma camisa de manga comprida, pois dificilmente é picado por elas.

PRODUÇÃO DE MEL Questionado sobre a produção por ano, sua resposta foi: “Eu não produzo mel. Isso as abelhas fazem. Eu apenas recolho”. Por ano, suas abelhas chegam a produzir até 500 quilos. Pelo que ele recorda, o ano que mais produziu foi em 1973, quando morava ainda em São Leopoldo. Em apenas duas colméias, ele recolheu 200 quilos de mel. No início de 2013, um sinistro tomou conta de sua residência, que foi totalmente consumida por um incêndio. “Depois disso, uma das poucas coisas que ainda me dá ânimo é trabalhar com as abelhas. Se pudesse, eu estaria todos os dias mexendo nas caixas para ver como vai a produção de mel”, relatou. A maior parte do mel que é produzido em sua propriedade é vendida sob encomenda, para famílias que já compram o produto de longa data.

A COMPOSIÇÃO DO MEL De acordo com a nutricionista Marisete Baldi, embora se caracterize por ser uma mistura com uma elevada concentração em açúcares, o mel apresenta uma composição complexa da qual fazem parte cerca de 180 componentes diferentes. A nutricionista também destaca que é principalmente constituído por frutose e glicose, mas apresenta, também, carboidratos, água e diversos constituintes nos quais se incluem compostos fenólicos e flavonóides, minerais, enzimas, aminoácidos e vitaminas. Algumas informações importantes sobre o mel: - É um alimento natural que ajuda a cuidar da saúde e do bom funcionamento do organismo. - Ele facilita a digestão dos alimentos, regula o intestino e ativa o apetite. - Aumenta o teor de hemoglobina no sangue, auxilia no combate às doenças do coração e também pulmonares. - O mel torna o organismo mais resistente, prevenindo-o da gripe e de outras doenças causadas por vírus e bactérias. Além disso, o mel é cicatrizante. - A frutose, existente na composição do mel combate a ressaca, a fadiga e repõe as energias.



Abandonados à própria sorte Pantufa foi abandonada ainda filhote com mais quatro irmãos em julho de 2012. Eles foram encontrados dentro de uma caixa de papelão e recolhidos por voluntários da ONDAA, que fizeram uma campanha de adoção com direito a fotos tiradas em estúdio. A produção foi divulgada nas Redes Sociais da ONG e Pantufa foi adotada por uma família. Infelizmente nem todos os animais abandonados têm a mesma sorte e não conseguem encontrar um lar.


32

A

ONDAA, Organização pela Dignidade dos Animais Abandonados, surgiu há cerca de 8 anos a partir de um grupo de pessoas que sentiu a necessidade de formalizar a preocupação e ajuda aos bichos. O grupo fundou a ONG e assumiu um sítio onde já havia 250 cachorros e gatos recolhidos das ruas. Quando a ONG foi fundada, o objetivo do seu trabalho consistia em recolher e cuidar de animais abandonados nas cidades de Novo Hamburgo, São Leopoldo, Campo Bom e Portão. Tendo como principais casos cachorros e gatos atropela-

dos, doentes ou ainda que sofreram maus tratos. Atualmente, a ONG não recolhe mais animais das ruas, passando a levar para o abrigo apenas os que estão machucados e precisam de cuidados. Já os que estão saudáveis são castrados e devolvidos para o local onde foram encontrados, fazendo o controle populacional. A Lei Estadual Nº 13.193, estabelecida em 2009, nomina cães e gatos em situação de rua como “animais comunitários”. A Lei dispõe sobre o controle da reprodução de animais comunitários no Estado do

Rio Grande do Sul, além de conter medidas que visam à proteção por meio de identificação, registro, esterilização cirúrgica, adoção e campanhas educacionais de conscientização pública. Em 2012, foram castrados cerca de 3.000 cães e gatos em Novo Hamburgo, segundo Leandro Mello, Presidente da ONDAA. Ele defende a importância do controle populacional dos animais saudáveis e que eles não sejam retirados da rua para ficar em canis. “A ONG, como protetora dos animais, não acredita em canil. Não achamos certo que o animal sadio seja recolhido e levado para o canil só porque está na rua, pois dentro dos canis sempre tem superpopulação e os animais

acabam morrendo por briga ou pouca comida. Então, pregamos pelo animal comunitário, conforme definido pela Lei Estadual”, explica. Todo o tratamento feito pela organização é pago pelas doações recebidas através de divulgação em Redes Sociais, jornais, campanhas e feiras para arrecadação dos valores gastos com veterinários e outros cuidados. “Frequentemente fazemos eventos para arrecadar dinheiro, como jantares, chás e brechós, convidando a comunidade. Nas Redes Sociais, quando um animal é recolhido e vai passar por algum tratamento, divulgamos o valor que vai ser gasto e pedimos ajuda para fazer uma ‘vaquinha. Mas a maior ajuda é ado-


33

tar um animal”, destaca Leandro. O maior caso atendido pela ONG é de filhotes abandonados, resultado de cachorras e gatas que têm dono, mas acabam sendo abandonadas juntamente com a ninhada, por a família não querer mais animais. Com isso, se reforça a atitude de fazer a castração, para que o número de abandonos não seja ainda maior. Em Novo Hamburgo, existe um projeto promovido pela Prefeitura Municipal em parceria com ONGs como a ONDAA, onde é feita a castração a baixo custo

para donos de cães e gatos que não têm condições de pagar pelo serviço particular, que tem um custo bem alto. A ONDAA também já fez campanhas de castração gratuita em determinados bairros. Essa mobilização proporciona um incentivo para que as pessoas se conscientizem e castrem seus bichos de estimação.

Texto: Raona Nunes Fotos: Divulgação Diagramação: Marina Mentz

Sobre a compra de animais A falta de preocupação das pessoas com a situação pode ser vista também no gasto ao comprar cães e gatos de raça. Leandro Mello conta o que acontece por trás da maioria dos casos de venda destes animais. “As pessoas vão a feiras de filhotes que estão à venda e gastam muito dinheiro. Mas não têm informações sobre o que acontece com as maezinhas desses filhotes, que são chamadas de matrizes. Elas passam a vida toda trancadas dentro de uma gaiola, só procriando. A partir disso, acontecem muitos casos de animais de raça que são abandonados quando ficam velhinhos e não podem mais procriar. Buscamos, então, conscientizar as pessoas a adotar um dos tantos animais sem dono que tem por ai, porque um cão de rua tem tanto valor quanto um de raça”, finaliza.


34

Para quem sonha viajar pelo mundo, conhecer novos lugares, fazer novas amizades, o intercâmbio é a escolha ideal. Mas enfrentar um aeroporto cheio de pessoas estranhas, com outra cultura, falando outro idioma, não é para qualquer um. Seja para aprimorar uma língua ou buscar especialização em alguma área, os jovens que saem do Brasil voltam com muito mais do que presentes na bagagem, voltam com conhecimento.

INTERCÂMBIO Uma troca de experiências


35


36

FOI PARA FICAR

sua volta, ela disse não ter planos, já que trabalha como designer gráfico em uma revista local: “Quero ter mais experiênatrícia Becker, 28 anos, conhece bem a experiência do intercâmbio. cia aqui no emprego, tentar algo melhor A bom-principiense já foi para Nova ainda, quem sabe... e dai só o futuro pra dizer, depende do que vai acontecer”. Zelândia em 2007, quando permaneceu até 2008. Depois de quatro anos, e terminado seu curso técnico no Brasil, ela resolveu viajar novamente. Foram 20 horas de viagem até chegar à cidade de Queenstown, Nova Zelândia, onde divide a casa com quatro Quem sempre teve vontade de conhecer a ingleses. Diferente da primeira vez, o objetivo dessa Europa era Maílson Luft, 23 anos. O bom viagem não foi se aventurar, e sim buscar -principiense viajou para a Alemanha e, novas oportunidades. Questionada sobre mesmo sendo de origem alemã, relata difi-

P

UM ALEMÃO NA ALEMANHA

culdades com a língua: “Eu sabia algumas coisas que aprendi com meus pais, mas era pouco. No começo passei algumas dificuldades, seja para pedir informações, algo no restaurante, e tantas outras coisas que se possa imaginar”. Outra dificuldade foi deixar a família, casa, amigos, e habituar-se à nova rotina. Para o jovem, não faltaram experiências e situações engraçadas. “Registro de boletim de ocorrência em um país onde o idioma era o tcheco, conhecer pessoas que você não entendia o que falavam, ser parado pela polícia em determinadas cidades por certas coisas serem proibidas, infinitas coisas para você contar em uma roda de amigos”.


37 Confira as fotos da bom-principiense Patrícia Becker na Nova Zelândia:


A VOZ DA EXPERIÊNCIA Como Maílson, vários outros jovens, entre rapazes e moças, da região do Vale do Caí, já tiveram a oportunidade de conhecer a Europa através de intercâmbio, isso graças a Jacinto José Klein, 45 anos. O professor de línguas portuguesa e alemã conheceu a Alemanha em 1994. E, a partir de 2004, passou a ajudar outros jovens a fazer o mesmo. Seu trabalho, em parceria com a AFEBRAE (Agência de Fomento a Estágios de Brasileiros no Exterior), consiste em entrevistar os interessados e avaliar se possuem condições de falar a língua, ou se precisam melhorar seus conhecimentos. Jacinto também conta com um apoio na Alemanha, que seleciona as famílias, na casa das quais os jovens moram e trabalham por um ano. “Em média sempre foram, do Vale do Caí, cinco pessoas por ano. Mas de todo o sul do Brasil, já teve anos que iam cerca de setenta” conta o professor.

UM CHOQUE CULTURAL Renata Rodrigues, 20 anos, ficou sabendo do programa Ciência sem Fronteiras através da mídia. A estudante de Portão está em meio ao período de seis meses do curso de inglês que antecede a prova IELTS (International English Language Testing System - teste de língua inglesa que mede a capacidade de um candidato comunicar-se em inglês). Se passar na prova, começa a cursar um ano de Biomedicina. Para ela, a maior dificuldade é o sotaque do povo de Adelaide, na Austrália, onde faz o intercâmbio. Sobre a cultura, ela ressalta que é totalmente diferente do Brasil. A cidade é muito limpa e as pessoas muito educadas, segundo Renata. “Aqui se tem muita segurança. A educação e transporte são invejáveis. De fato, na primeira semana aqui, tomei um choque cultural. E acho que quando voltar para o Brasil levarei outro, mas pro lado negativo, infelizmente.”


39 ww CIÊNCIAS SEM FRONTEIRAS

A estudante de Portão com um símbolo da austrália: o canguru

Para estudantes uma oportunidade de intercâmbio é o Ciência sem Fronteiras do Governo Federal. O programa busca promover a consolidação e expansão da ciência, tecnologia, inovação e competitividade brasileira. A iniciativa é do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC), por meio de suas respectivas instituições de fomento – CNPq e Capes –, e Secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnológico do MEC. O projeto prevê a utilização de bolsas para promover intercâmbio, de forma que alunos de graduação e pósgraduação façam estágio no exterior com a finalidade de manter contato com sistemas educacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação. O objetivo é investir na formação de pessoal altamente qualificado nas competências e habilidades necessárias para o avanço da sociedade do conhecimento.

AO ALCANCE DAS MÃOS

Renata em Cleland Wildlife Park

Em Kangaroo Island

A Universidade Feevale oferece ao aluno várias possibilidades de intercâmbio. Uma delas é o Intercâmbio de Graduação, que possibilita estudar um semestre do curso em alguma instituição conveniada no exterior. Também há o Intensivo de Idiomas, para quem quer aprender ou aperfeiçoar uma língua. E para quem quiser fazer uma viagem de curta duração, existem as Viagens de Estudo. Sobre o possível fim do programa, a assistente de Relações Internacionais, Poliana Mausa, de 24 anos contou: “Ele já era pra ter acabado, e agora a previsão é de que saiam editais até o final de 2014 pra o pessoal ainda viajar em 2015”. Quem tiver interesse em alguma das modalidades de intercâmbio, deve se inscrever pelo site www.feevale. br/intecambio. As inscrições abrem um semestre antes, então quem se inscreve em fevereiro, viaja em julho, por exemplo.

Texto: Tataine Flach Diagramação: Jéssica R. Weber Fotos: Tatiane Flach e Arquivo Pessoal


40

Sustentabilidade em dose dupla Programa CataVida ajuda o meio ambiente e famĂ­lias de baixa renda.


Catador não. Agora sou agente ambiental”, exalta, sorridente, Clademir de Aguiar, 37 anos, formado na segunda turma do programa de capacitação do Projeto de Gestão Social de Resíduos - CataVida. Clademir se junta, agora, ao grupo de agentes habilitados pelo curso que ensina técnicas de reciclagem, noções de cooperativismo, planejamento estratégico, economia solidária e direitos e benefícios trabalhistas. O CataVida começou em 2009, através dos esforços conjuntos de profissionais das secretarias municipais de Desenvolvimento Social (SDS), de Desenvolvimento Econômico, Técnologia, Trabalho e Turismo (SEDETUR), de Meio Ambiente (SEMAM) e de Educação (SMED). No planejamento, o objetivo é claro: utilizar ferramentas já existentes, como a reciclagem e o cooperativismo, para transformar a sociedade, começando pelos catadores de lixo. Com o programa, a prefeitura de Novo Hamburgo consegue atingir os setores econômicos, social e ambiental de uma única vez.

Capacitação para resgatar a dignidade Para a gerente do CataVida, Vera Rambo, o catador sempre foi visto com muito preconceito pela sociedade. Ela explica que a grande maioria acaba catando lixo nas ruas como última alternativa de sobrevivência, sem perceber sua contribuição para a preservação do meio ambiente. “Mostrar o papel deles na sustentabilidade da cidade ajudou a resgatar sua autoestima”, destacou Vera. Para fazer isso, foi preciso mostrar a eles o dia a dia do catador através de outros pontos de vista. O próximo passo foi montar uma cooperativa gerida pelos próprios catadores, a Cooperativa de Construção Civil e Limpeza Urbana – Coolabore. Com o apoio da prefeitura, os cooperados passaram a administrar a reciclagem como um negócio próprio. “Agora, os agentes ambientais, como são denominados, usam uniforme do CataVida, têm itens de segurança e até carrinho personalizado, com numeração e tudo”, ressaltou Rambo.


42


Salários chegam a dobrar de valor

Cidade passou a ter coleta seletiva

A cooperativa começou com 20 funcionários. E eles têm um diferencial em relação ao tempo em que trabalhavam nas ruas: salário. Cada um recebe cerca de R$850,00 mensais, obtidos com a venda do que eles mesmos coletaram. O valor equivale a até 50% mais do que eles ganhavam antes. Os agentes trabalham nas duas centrais de reciclagem da cidade, equipadas com máquinas de última geração e supervisão de técnicos ambientais.

Depois de estruturadas a parte social e econômica, a prefeitura pensou em como utilizar o projeto em prol do meio ambiente. Desse planejamento surgiu a coleta seletiva, realizada pelos agentes do CataVida. De segunda a sexta, sempre depois das 16 horas, eles vão às ruas e recolhem resíduos como latas, papel, papelão e plástico, destinados às centrais. Com isso, pela primeira vez Novo Hamburgo conta com a separação de lixo, pelo menos no centro da cidade. Mensalmente são 45 toneladas de materiais reciclados pelo programa. Texto e Fotos: Kauê Mallmann Diagramação: Tiago Morbach


anuncio agecom


anuncio mentes


46

A arte de ensinar música Desde 2012 a disciplina de música esta sendo inserida na grade curricular de todas as escolas do país.

A

professora Iene Beatriz Wartchow, que trabalha na Escola Duque de Caxias, de Sapiranga, na Unidade de Educação Infantil do Instituto Sinodal, ensina música há 40 anos, destacando que ama música e as crianças. Iene explica que em sala de aula ensina canções e faz brincadeiras, como a antiga “Terezinha de Jesus”, onde os alunos cantam e encenam a música. Também procura ensinar as notas musicais e a familiaridade com as diversas alturas (graves e agudos), promovendo brincadeiras ao som da flauta. A pedagoga, psicopedagoga e Mestre em Educação, Moana Meinhardt, que coordena o curso de Pedagogia e o Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes da Universidade Feevale, afirma que o ensino da música não prevê apenas a aprendizagem de notas músicas ou técnicas vocais, como antigamente, mas também desenvolve habilidades motoras, oralidade, trabalho em grupo, criatividade e atitudes de cooperação. Ela comenta que o objetivo não é formar músicos, mas proporcionar o conhecimento e a experimentação de diferentes ritmos, instrumentos musicais, danças, e o contato com a diversidade cultural a partir da música.


47


48

Diferente de Moana, Iene não teve a oportunidade de fazer uma faculdade de música, pois na época não havia curso superior para esta modalidade. Ela afirma que desde pequena, teve aulas de música e sempre gostou, fez inúmeros cursos, mas não havia tantas oportunidades como hoje. Em sala de aula Moana comenta que a aprendizagem da música desenvolve a sensibilidade, a expressão, noções de tempo e ritmo, amplia o repertório cultural do aluno, promovendo o conhecimento da cultura local, regional e nacional a partir da música, dentre outros aspectos. Trabalhando de forma interdisciplinar, a música pode oportunizar a abordagem de diferentes temas, de forma mais prazerosa. Ela destaca ser necessário que o ensino da música integre a formação dos professores para realizarem um trabalho mais qualificado com relação a esta disciplina. Além disso, se faz necessário reconhecer a importância da música para formação integral do aluno, uma vez que se trata de uma linguagem artística e de uma forma de manifestação cultural que pode contribuir significativamente para a formação de cidadãos mais sensíveis e críticos.

A obrigatoriedade do ensino de música nas escolas públicas e privadas foi inserida em 2012. A lei nº 11.769, sancionada em 18 de agosto de 2008, determina que a música deva ser aplicada obrigatoriamente a toda a educação básica para contribuir na formação integral do educando. Moana enfatiza que a legislação torna obrigatório o ensino da música, sem estabelecer a necessidade de criação de uma disciplina específica. “O ensino da música pode integrar a formação do aluno, de forma transversal, mantendo relação com os conteúdos abordados nas demais disciplinas que compõem o currículo escolar”, informa a pedagoga. Na visão de Doris Helena Schaun Gerber, pedagoga, psicopedagoga e Mestre em Educação do Instituto Superior de Educação Ivoti (ISEI), a lei reascendeu a discussão sobre a presença da música como disciplina obrigatória na educação básica. Segundo ela, este fato levanta especialmente duas questões: Qual a contribuição da educação musical no currículo dos diferentes níveis de ensino da educação básica e qual a formação necessária ao professor desta disciplina. Doris acredita que com a disciplina de música incluída no currículo da educação básica, todas as crianças brasileiras poderão


49

ter acesso a esta importante área de conhecimento, sem necessitar sair da escola e “pagar” para receber aulas de música. Ainda sobre a obrigatoriedade, Moana destaca que não há professores com formação o suficiente ou especialização específica em música. “Sabemos que grande parcela das escolas atualmente não dispõe desse profissional em seu quadro docente. A música, principalmente na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, acaba sendo trabalhada no currículo escolar, através de professores titulares, que possuem formação em Pedagogia e que, geralmente, contam com disciplina específica abordando o ensino da música”. Ela comenta que o ideal seria dispor de um professor com formação específica em cada escola, para que esse pudesse atuar de forma interdisciplinar junto aos demais professores. Formação qualificada ao professor de música Outro ponto a ser observado refere-se à metodologia a ser utilizada no ensino musical. “A qualidade do ensino de música será alcançada na medida em que as pessoas conseguirem aliar o conhecimento musical com a prática pedagógica”, comenta o professor e diretor geral do ISEI, Manfredo Wachs.

“Não basta saber tocar um instrumento ou cantar. É necessário conhecer as diversas metodologias de aprendizagem e saber também como as pessoas aprendem. Uma criança aprende de forma diferente do que um adulto. Uma pessoa que vivencia uma cultura musical em casa, aprende de forma diferente do que alguém que cultiva a cultura musical” explica Manfredo. Segundo o estudante de música do ISEI, Yuri Felippe Pohren, para se alcançar uma boa qualidade de ensino, é fundamental um bom planejamento, onde a criança pode desenvolver habilidades como a concentração, atenção, a melhora da fala, a motricidade fina, entre outras. O plano deve ser feito tanto com os professores titulares quanto com os professores da área da música, para discutir formas diferentes onde se possa ajudar no desenvolvimento do educando. “Os governos federais e estaduais não se mobilizaram para oferecer profissionais qualificados para a prática da música. O que vemos hoje em nossas escolas são diretores desesperados atrás de licenciados, mas encontrando no mercado músicos sem formação pedagógica”, comenta Yuri. Quanto à questão do espaço físico para esta disciplina, o estudante de música Rafael Augusto Schafer, que estuda no ISEI e trabalha como professor estagiário nos municípios de São José do


50


51 Hortêncio, Alto Feliz e São José do Sul, lecionando para turmas do Jardim até o quinto ano, comenta a respeito do despreparo das escolas. A falta de um violão, uma bandinha rítmica ou qualquer outro tipo de instrumento, principalmente uma sala ou espaço específico de música, afeta o planejamento dos professores. O estudante destaca que há um grande despreparo quanto ao espaço para as aulas de música, e que geralmente são realizadas na sala específica de cada turma. Júlia Cristina Mees, de 12 anos, que estuda no quinto ano, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Concórdia, Outra possibilidade é o Ciência sem Fronteiras, do Governo Federal. de Ivoti, afirma que está adorando as aulas. “Estou aprendendo como fazer notas e batidas, ritmos e sons, grave e agudo, entre outras atividades.” No entanto, ela percebe a carência de um espaço adequado para poder trabalhar a música com a sua turma de uma forma mais dinâmica e interativa. “Talvez, se nós tivéssemos uma sala maior, poderíamos realizar atividades mais divertidas, pois assim acabamos tendo que ficar muito na teoria, o que nos dá certo desânimo” comenta Júlia. Assim como a professora Iene, que leciona há 40 anos e não teve oportunidade de fazer um curso superior de música, diferente do que é oferecido hoje, os futuros professores licenciados, Yuri e Rafael, acreditam que o ensino de música é importante e deve fazer parte do conteúdo para os estudantes da educação básica. Eles comentam que esta importância que as aulas de música têm para um aluno, como forma a enriquecer não apenas as aulas da disciplina de música, mas também estimular o interesse do aluno pelas demais matérias. “A música engloba vários campos do nosso corpo e ela faz com que nós usemos mais do que um sentido. Para cantar, além de usarmos a voz, estimulamos o nosso cérebro para as sensações que a música pode nos trazer. Ela é capaz de mexer com todo o nosso cérebro ao mesmo tempo, o que outras disciplinas não conseguem fazer” relata Yuri.

Texto: Letícia Schneider Fotos: Iara Averbeck Diagramação: Jéssica Scherer


52

Fazenda Renascer da Esperan莽a, uma hist贸ria de quase 40 anos


53

U

m homem com uma aparência simples, cabelos grisalhos e camisa sobreposta pela calça. Fumando seu cigarro na varanda de sua casa com seus cachorros à volta e o olhar distante, parecendo até estar analisando sua longa e árdua trajetória. Uma caminhada acompanhada por sua esposa, uma mulher de fibra, com um brilho nos olhos e apaixonada pelo que faz. Em 1976, Ivander e Isolda de Souza decidiram dedicar suas vidas a ajudar os dependentes químicos da cidade de Novo Hamburgo, RS. O casal fundou e administra até hoje a Fazenda Renascer da Esperança. Uma Comunidade Terapêutica localizada no bairro de Lomba Grande. A comunidade foi começou em 1994, na vizinha cidade de São Leopoldo, RS. Lá, os dois alugaram uma chácara onde abrigavam dependentes químicos da região do Vale dos Sinos. Em 1991, a Renascer inaugurou sua sede própria. Uma conquista batalhada ao longo de quase quarenta anos. Com capacidade para 60 residen-

tes (é como são chamados os dependentes tratados na fazenda) e instalações que até se assemelham a um hotel na serra, a Renascer abriga, atualmente, 41 homens com idades entre 18 a 60 anos.

O tratamento O tratamento na Fazenda é disponibilizado para dependentes do sexo masculino, com idade entre 18 a 60 anos. Para um dependente ser aceito na comunidade, primeiramente, ele tem que querer ser ajudado; ele não pode ter problemas físicos (algum tipo de doença fora a dependência química) e é fundamental a companhia de uma pessoa que se responsabilizará por ele durante todo o tratamento. O tratamento tem duração de 9 meses, propositalmente fazendo referência a uma gestação, sendo considerado, assim, um renascimento. O responsável participa do tratamento junto com o dependente, garantindo sua presença em reuniões semanais da instituição. Para Isolda, esta participação é um processo fundamental.

Em 1991, a Renascer inaugurou sua sede própria. Uma conquista batalhada ao longo de quase quarenta anos.


54

“A maior dificuldade do residente não é durante o tratamento, mas sim depois quando ele voltar para a sociedade e se depara com os vícios e as tentações dela, muitas vezes a família não está preparada para receber o ex-residente e aí acontece a recaída que muitas vezes é pior do que a primeira vez”.


55

Os doze passos

Ex-residentes, hoje voluntários

Uma receita que vem trazendo êxito nos tratamentos oferecidos pela Renascer ao longo destes anos são os “doze passos”. Este tratamento é considerado pelos administradores a linha mestra da recuperação dos residentes. Os doze passos são fundamentados em um despertar espiritual. Estes doze princípios foram criados pelo casal de psicólogos norte-americanos Phyllis e David York, num momento em que passavam por grandes dificuldades na criação de seus filhos adolescentes.

O apoio de voluntários que foram residentes na fazenda e hoje levam consigo um sentimento de gratidão por Ivander e Isolda, tem sido fundamental para dar continuidade aos trabalhos realizados pela Renascer. É o caso de Luis Samaroni , 38 anos, ex-residente e hoje trabalhando com o casal em diversas atividades na instituição. Samaroni foi usuário de crack durante 8 anos. “Eu era de família de classe média, meu pai era empresário, materialmente eu tinha tudo que eu queria, mas me sentia muito sozinho, comecei com a maconha, aquela que muitos dizem ser inofensiva e acabei morando até na cracolândia”. Este é apenas mais um relato dos muitos que, ao longo dos anos passaram pela comunidade. A Comunidade Terapêutica Fazenda Renascer é uma instituição não governamental e se mantém com o apoio da comunidade e doações de empresas privadas.

Um homem que exige disciplina Seu Ivander destaca que sua fama é de ser um “homem linha dura” com os residentes durante o tratamento. Entretanto, ele se defende dizendo que muitos dependentes e familiares desejam a internação, mas não aceitam as condições estabelecidas pela instituição. “A Renascer tem algumas regras essenciais e que não abrimos mão delas de maneira alguma. Às vezes um familiar chega aqui junto com o dependente e quando são passadas a eles as condições dizem não estarem dispostos a aceitá-las”.

Texto: André Erich Fotos: Diagramação:


56


57

Pais

até debaixo d’água

O

s primeiros meses de vida têm grande importância no desenvolvimento físico, emocional, afetivo e social das pessoas, sendo que, nesse período, a relação com os pais é fundamental. Pensando nisso, o projeto Hidromami foi desenvolvido, em Campo Bom, com o objetivo de aprimorar a relação afetiva entre os pais e os bebês da cidade. A proposta é que isso seja feito através de atividades aquáticas, proporcinando aos pais a compreensão do valor desse vínculo. Nas manhãs de sexta-feira, entre os meses de outubro e abril, quando o calor já se mostra presente, o complexo esportivo do CEI, Centro de Educação Integrada do Município, recebe os pais e seus bebês, com idade de 2 a 6 meses, para brincadeiras e troca de carinhos. Tornar esse momento o mais especial e proveitoso possível é o desafio de vários profissionais que participam da atividade, incluindo educador físico, fisoterapeuta, psicólogo, pediatra, nutricionista, enfermeiro e técnico de enfermagem.


58

Segundo Regina Gerhardt, fisioterapeuta que acompanha a atividade, cada aula tem a proposta de buscar o melhor desempenho e envolvimento das crianças, tanto motor quanto emocional. “A ideia é buscar esse desenvolvimento no momento em que eles estão juntos, para que seja uma experiência muito rica”, afirma, lembrando que essas brincadeiras, acompanhadas por canções e brinquedos coloridos, focam na relação mais profunda entre pais e filhos.

Por que na piscina? O espaço aquático foi escolhido como ambiente para a atividade por ter semelhança com o liquido amniótico, presente na gestação do bebê, e que protege a criança contra choques mecânicos e térmicos. Conforme a coordenadora do projeto, a psicóloga Alda Rosane Brust, a proposta é “trabalhar em um ambiente onde o bebê já vai reconhecer como um meio, uma sensação de ‘já estive por aqui’”. Além disso, Alda acrescenta que a água proporciona relaxamento para os pais, facilitando a aproximação e interação com os filhos


59

A palavra dos pais O Hidromami é voltado apenas para os moradores de Campo Bom e não exige inscrição prévia. Para participar, basta chegar um pouco antes da aula com o encaminhamento médico da criança e a carteirinha de vacinação. Apesar de não haver frequência obrigatória, as aulas já contaram com a participação de mais 50 crianças só na primeira temporada, em 2012. O período para cada criança participar é curto, pois abrange apenas quatro meses de vida da criança, mesmo assim, os pais aproveitam a oportunidade. O empresário Marco Roberto Berthod, que vai com a filha Valentina nas aulas, afirma que faz questão de estar presente nesse momento. “Acredito que isso reflete no futuro dela”, afirma. Para a vendedora Mariana Machado, o projeto representa a oportunidade de dedicar toda sua atenção para a filha. “É o momento que nós duas conseguimos, de estar só eu e ela”. O resultado das atividades já está sendo percebido e recebido pelos pais com alegria. “Noto que ela sente mais o carinho da mãe e do pai”, afirma a comerciante Geneci Fátima Leira, que aproveita as manhãs de sexta-feira ao lado de sua pequena.

Texto: Taís Jaques Fotos: Eduardo Souza Diagramação:


Galeria No Papel Este espaço é resevado para exibição de projetos realizados na disciplina de Fotojornalismo.

Fotos: Arthur Arsênio Schaeffer


Fotos: Carlos Rissotto


Fotos: Henrique Gomes


anuncio radio



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.