As transformações dos espaços urbanos e de suas dinâmicas

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AS TRANSFORMAÇÕES DOS ESPAÇOS URBANOS E DE SUAS DINÂMICAS Requalificação de áreas industriais próximas à ferrovia - Vila Leopoldina



TAÍS DOS SANTOS LIMA

AS TRANSFORMAÇÕES DOS ESPAÇOS URBANOS E DE SUAS DINÂMICAS Requalificação de áreas industriais próximas à ferrovia - Vila Leopoldina

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Orientadora: Profª. Ms. Vera Lúcia Domschke

São Paulo 2015



Aos meus pais Almiro e Davina e, a minha querida irmĂŁ Juliana, por todo amor e apoio.



AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente, a Deus, por guiar meus caminhos e tornar essa conquista possível. À minha família e amigos por todo carinho, motivação e compreensão. Agradeço também as minhas amigas, com as quais pude contar ao longo desses 5 anos de muitas histórias e aprendizados. Vou levá-las sempre comigo. Obrigada também aos professores que foram fonte de inspiração e que, mostraram o quanto se pode fazer pela Cidade e pelas pessoas através da Arquitetura e do Urbanismo, pois isso é o mais gratificante e encantador. Deixo aqui também, meus sinceros agradecimentos à minha orientadora Profª Ms.Vera Lúcia Domschke e ao professor Celso Coaracy D. Moraes Franco, pelos ensinamentos, incentivos, paciência e colaboração.



“Um edifício contemporâneo, num lugar ou projeto existente é bem-sucedido na medida em que ele é capaz de melhorar o seu entorno e, ao mesmo tempo, revalorizar o meio no qual está inserido”. ( Jean Nouvel)



SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO

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2. ESPAÇO PÚBLICO

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2.1. A atual demanda e discussões por espaços abertos nas grandes cidades 2.2. Espaço aberto x espaços privados 2.3. A humanização do espaço urbano

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3. BARREIRAS E SEGREGAÇÕES

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3.1. Cidades sem fronteiras 3.2. Espaços seletivos 3.3. Barreiras físicas, sociais e culturais 3.4. Integração dos espaços

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4. TRANSFORMAÇÕES DAS CIDADES: OCUPAÇÃO DOS VAZIOS URBANOS

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5. PROCESSOS DE REQUALIFICAÇÃO URBANA

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5.1. Medellin, Colômbia 5.1.1. Parque Biblioteca Santo Domingo Savio 5.2. Centro Cultural Gabriela Mistral, Santiago do Chile

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6.VILA LEOPOLDINA

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6.1. Diagnóstico geral da área 6.1.2. Mobilidades e Equipamentos Urbanos

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6.2. Operação Urbana Vila Leopoldina – Jaguaré 6.3. Análise das transformações acarretadas pelas mudanças já implantadas

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6.4. Plano Diretor Estratégico de 2014

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6.5. Proposta de Plano Urbano – Plano de Massas 6.5.1. Diretrizes e intenções 6.5.2. Desenho urbano como elemento de requalificação do território 6.5.3. Ocupação dos vazios e Integração entre os novos equipamentos

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7.SESC – VILA LEOPOLDINA

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7.1. Escolha do local e objeto de projeto 7.2. O Terreno e o partido de projeto 7.3. O Projeto 7.4. Barreiras Acústicas

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8.CONSIDERAÇÕES FINAIS

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REFERÊNCIAS

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1. INTRODUÇÃO O presente trabalho trata da questão da ocupação do espaço público e dos vazios urbanos buscando a humanização e a valorização do cidadão, partindo das transformações de usos e dinâmicas ocorrentes nas grandes cidades. Atualmente, se tem debatido nas grandes cidades questões como a valorização do pedestre e a importância da implantação de espaços de convívio e permanência, pois é necessário viver a cidade seja através da arte, da cultura, da história, da diversidade e da convivência. Em contraponto, nos deparamos cada vez mais com a dinamização da sociedade, consequente da tecnologia, gerando rompimento das fronteiras, tornando as relações pessoais cada vez mais rápidas e distantes, impedindo o desenvolvimento do pensamento coletivo, conforme afirma Massimo Cacciari, em A Cidade, segundo ele, esse processo faz

15 com que os lugares se tornem apenas locais de passagem. Além dos diversos problemas urbanos como a violência, segregação e desigualdade social, falta de políticas públicas e qualidade básica de vida, que dificultam ainda mais o convívio e o bem-estar social. O bairro da Vila Leopoldina, distrito pertencente à Subprefeitura da Lapa e, localizado na zona Oeste de São Paulo, foi escolhido como enfoque de estudo, pois com a saída de grande parte das indústrias a partir do final dos anos 90, vem sofrendo um intenso processo de verticalização e adensamento populacional em áreas pontuais, gerando subdivisões e usos distintos. Mas, que ainda tem em sua identidade características industriais e espaços subutilizados que podem ser requalificados e ocupados em benefício da população e da cidade como um todo. A partir da análise do território,


apoiado em políticas públicas e nas novas propostas do Plano Diretor Estratégico (PDE) da cidade de São Paulo, em vigor desde 31 de julho de 2014, propõem-se também um plano de requalificação urbana para uma área delimitada no bairro da Vila Leopoldina, visando que tais ações tragam soluções para as deficiências existentes na região e, possam também ser aplicadas em outras áreas, pois intervenções pontuais são capazes de gerar melhorias no entorno e na cidade, pois elas vão se propagando e mudando progressivamente a

16 vida nas cidades, conforme pontuado pelo arquiteto Jaime Lerner, em seu livro Acupuntura Urbana, criando assim um sistema de requalificação urbana.

Figura 1.Esquema de palavras-chaves


ESPAÇO PÚBLICO



2.ESPAÇO PÚBLICO Quando falamos de espaço público nos referimos a um local pertencente a todos, ou seja, de uso comum e pertencente a população no geral. Um local de livre circulação, de acontecimentos e de igualdade, assim como a rua, a praça, o parque, elementos cotidianos onde a vida urbana se desenvolve. Nos espaços públicos que ocorrem as atividades coletivas, como encontro entre diferentes grupos, o convívio e a troca de relações. Por isso, se espera e, é natural que os cidadãos se apropriem desses espaços, pois essa é sua função e ela é importante no desenvolvimento e funcionamento da cidade como um todo. O desenho do espaço público está ligado ao que se destina, ao local e sua cultura. Porém, muitas vezes,

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fatores socioeconômicos também estão inseridos. Espaço público está ligado a ideia de flexibilidade. Existem atividades que acontecem neles e são previstas, como por exemplo a feira livre. Porém, ocorrem também aquelas resultantes da apropriação do espaço e de seu uso flexível, que devem também ser reconhecidas e que demostram a necessidade de reestruturações físicas e também estão relacionadas com a dinâmica urbana que vivenciamos. Segundo LAMAS, em Morfologia Urbana e desenho da cidade, a rua se caracteriza como “lugar de circulação”, diferentemente da praça que por sua vez, já é um local de permanência, de encontros, de práticas sociais, onde ocorrem manifestações da vida urbana e comunitária e que, portanto, possui uma


função estruturante e arquitetônica significativa. Sendo assim, muitas vezes, a praça requer o desenho de uma forma e um programa. Já o parque, pode ser definido como um espaço livre, inserido na malha urbana ou em suas margens, estruturado por vegetação e destinado à massa urbana como local de lazer e descanso. Porém, além dos 3 espaços citados é importante ressaltar que o conceito de espaço público e apropriação do mesmo vai além, pois um canteiro entre duas avenidas movimentadas, uma escadaria, embaixo de um viaduto, um

20 calçadão à beira da praia, também são exemplos de espaços públicos que podem oferecer alguma atividade a população atraindo-a, ou simplesmente, podem ser apropriados por ela e se tornarem ponto de permanência, de convívio, desenvolvendo uma nova dinâmica local.

Figura 2. Espaço de leitura, descanso e café sob viaduto no Vietnã.


2.1. A atual demanda e discussões por espaços abertos nas grandes cidades Atualmente, discute-se a demanda por espaços abertos nas grandes cidades, como São Paulo, paralelamente ao processo de individualização. Pois, por mais contraditório que seja, quanto mais as pessoas se privam, em espaços fechados, cercados pela tecnologia e seus avanços, envolvidos em redes sociais, o também chamado ciberespaço .¹ Surgiu também o anseio por espaços de convívio e permanência. O que antes era comum, crianças brincando na rua, hoje já não é, até por conta também do desenvolvimento das cidades, do aumento do número de veículos motorizados nas ruas. Porém, a demanda pela construção de espaços públicos

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é uma das principais reivindicações da população aos órgãos públicos, principalmente com a popularização das apropriações dos espaços urbanos. A vivência em ambientes fechados, cercados por muros e aparatos de vigilância é resultado da falta de segurança e da violência urbana das grandes cidades e, que consequentemente, derivam à exclusão, gerando locais seletivos e alimentando ainda mais a segregação física e social, impactando diretamente nos espaços públicos e na interação social. Conforme ressaltado por Caldeira, em Cidades de Muros, 2000, p.09: “(...)diferentes grupos sociais, especialmente das classes mais altas, têm usado o medo da

¹ “Cyberspace” - Termo idealizado por William Gibson, em 1984, no livro Neuromancer, referindo-se ao mundo virtual, espaço de caráter fluido das redes de informações existente em outra realidade, não palpável. Segundo o tradutor Alex Antunes: “ o conceito criado por Gibson neste livro, o ciberespaço, é uma representação física e multidimensional do universo abstrato da ‘informação” (Gibson, 2003, p.5-6).


violência e do crime para justificar tanto novas tecnologias de exclusão social, quanto sua retirada dos bairros tradicionais dessas cidades (...)o novo modelo de segregação separa grupos sociais de uma forma tão explícita que transforma a qualidade do espaço público.”

Os condomínios fechados evidenciam claramente esses novos empreendimentos urbanos que reuniam diversas atividades em um único espaço, isolado da dinâmica urbana através de muros e grades, tornando-se enclaves fortificados que desvalorizam o que é público e coletivo, voltados apenas para o seu interior, ou seja, são excludentes não apenas com a população, mas com a cidade. Porém, em contrapartida, os espaços públicos são democráticos e não deixam de ser protagonistas da cidade, palco de manifestações, interações e integrações, como tem acontecido na cidade de São Paulo não só nas manifestações que vêm ocorrendo desde 2013, marcadas através da Internet, mas

22 tendo a rua como palco principal, assim como, também através de coletivos que vem revitalizando espaços públicos como o Largo da Batata, no bairro de Pinheiros, além de outras intervenções urbanas pela cidade como a Praça Victor Civita, também localizada na zona Oeste, a instalação dos parklets em alguns pontos da cidade. Bem como, a discussão a respeito da desativação do Minhocão (Elevado Costa e Silva), um dos eixos de ligação entre as regiões Leste e Oeste com o centro da cidade, transformando em parque elevado, ou na questão do Parque Augusta. E, cada vez mais, esses temas estão sendo debatidos, parte da população está se envolvendo e buscando novas alternativas.


2.2. Espaço aberto x espaços privados As relações sociais repercutem através de ações individuais e/ou coletivas que são concretizadas em determinados espaços, de acordo com sua organização fundamentada em um conjunto de ordens políticas, culturais e econômicas. Sendo assim, voltamos a questão da flexibilidade dos usos dos espaços públicos e abertos, onde a apropriação do espaço acontece naturalmente como ocorre, por exemplo, no vão livre do MASP, Museu de Arte de São Paulo, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi e situado em plena Avenida Paulista, São Paulo. A interação de diversos grupos, faixas etárias, diferentes atividades se dão de uma forma harmônica, pois é um espaço convidativo, atraente por sua monumentalidade e aberto para cidade. Diferentemente, do que ocorre no MUBE- Museu Brasileiro da Escultura, projetado por Paulo Mendes da Rocha, que além de não ter uma

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localização privilegiada como a do MASP em questão de acesso do público, além de ser cercado por grades de ferro, o que o torna menos convidativo. Existem certos códigos que delimitam o espaço público e o privado e, muitas vezes, eles não estão tão explícitos através de muros, grades ou seguranças, sendo mais sutis sem deixarem de ser barreiras físicas, como por exemplo uma escadaria de acesso a um edifício comercial, ou uma paginação diferente no piso, já são elementos que causam essa diferenciação de espaço e limites. Os shoppings centers são espaços fechados considerados como locais de lazer, que aglomeram diferentes atividades e nos quais as pessoas gastam seu tempo livre em compras e entretenimento, muitas vezes, perdendo a noção real do tempo. Além disso, não são espaços para todos do ponto de vista social, são excludentes e, a grande maioria tem uma


localização que privilegia o acesso através de automóveis. Ou seja, não agregam a vida urbana em si, são pontuais, não deixam de ser espaços de convívio e permanência, mas são voltados para o seu interior. Diferentemente,de um centro popular de comércio, onde os recintos se estendem para a rua e as dinâmicas se dão de forma espontânea, local de passagem é também de permanência, existem conflitos de espaço, aglomerações, encontros e tudo flui de acordo com os acontecimentos cotidianos da vida urbana.

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Figura 3. Feira de artesanato no vão livre do MASP.

Figura 4. MUBE (Museu Brasileiro de Escultura, São Paulo).

Fig. 5. Calçadão de comércio popular na R. Antônio Agú, em OsascoSP. Figura 6. Shopping Villa- Lobos, zona Oeste de São Paulo.


2.3. A humanização do espaço urbano A qualidade dos espaços influi diretamente no seu uso, ou seja, locais preservados, de fácil acesso atraem atividades não apenas para si, mas também para o entorno e a frequência de pessoas. É natural que só transitemos por determinado lugar se temos um objetivo e, mesmo para realizar atividades opcionais é necessário que as condições do local sejam favoráveis e agradáveis, com o mínimo de inconvenientes físicos, sociais e psicológicos, ou seja, não se delimita apenas a uma questão espacial.

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Espaços públicos abertos, voltados para cidade devem ser projetados para os pedestres, estar interligados a rede de transporte coletivos, a equipamentos de serviços e comércios, atividades que gerem fluxos e dinâmicas de convívio para cidade, criando espaços aprazíveis e ativos. Além disso, os espaços urbanos, sejam eles de caráter público ou privado devem funcionar como instrumento de integração entre indivíduos, grupos e classes, de forma a aprimorar o espaço e otimizá-lo, através do convívio e do desenvolvimento das atividades ali inseridas, sejam elas culturais, educacionais, de serviço ou lazer, criando um sentimento de igualdade e uso comum de todos.

Figura 7. Antigo estacionamento em Melbourne, Austrália



BARREIRAS E SEGREGAÇÕES


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3. BARREIRAS E SEGREGAÇÕES O crescente número da violência urbana é um dos principais fatores que fomentam as segregações espacial e social nas grandes cidades contemporâneas. Pois, com o medo as pessoas passam a buscar estratégias de reações para se esquivarem e, é assim que aqueles de classe social mais elevada justificam a reclusão da vida pública e o confinamento em locais fechados, sejam eles moradia, de trabalho, lazer ou consumo, o que pode ser conceituado como enclaves fortificados² e, exemplificado pelo aumento do número de condomínios fechados em metrópoles como São Paulo. Na capital Paulista, a construção de muros nas edificações aumentou de forma significativa em meados dos anos 80, quando o número de crimes na cidade cresceu. Porém, mais do que uma barreira

² “Enclaves fortificados, termo utilizado por dade de Muros –Crime, segregação e cidadania

física visível, o muro também é elemento de imposição, de divisão, restrição e posse, ou seja, sua presença insere a demarcação de determinada área e sua separação do espaço externo que no caso, é a rua, o espaço público. O aumento do crime nas cidades interfere diretamente na discriminação social, pois ele faz com que as pessoas a adotar a segurança privada como meio de distanciamento e isolamento daqueles que são considerados perigosos e faz com que um grupo se retraia em enclaves fortificados, pois o medo da criminalização faz com que as pessoas, seja através da mídia ou por idealização própria, acabam criando estereótipos e a percepção de que certos grupos de indivíduos representam algum perigo e acaba criminalizando-os e gerando assim discriminação social, como ocorre, Teresa Pires em São Paulo

do Rio – EdUSP,

Caldeira em Editora 34 –

Cip11.


por exemplo, com os pobres. E, isso faz com que a noção e percepção do espaço público seja alterada, bem como, a sua qualidade, e isso ocorre devido a esse novo processo de segregação urbana que vem se caracterizando nas grandes cidades e difundido pelas classes médias e altas, conforme trecho abaixo: “Os enclaves fortificados são espaços privatizados, fechados e monitorados, destinados a residência, lazer, trabalho e consumo. Podem ser shopping centers, conjuntos comerciais ou empresariais ou condomínios residenciais. Eles atraem aqueles que temem a heterogeneidade social dos bairros urbanos mais antigos e referem abandoná-los para os pobres, os “marginais”, os sem-teto. Por serem espaços fechados cujo acesso é controlado privadamente, ainda que tenham um uso coletivo e semipúblico, eles transformam profundamente o caráter do espaço público. Na verdade, criam um ³ Trecho extraído nia em São Paulo

do livro Cidade de Teresa Pires do

de Rio

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espaço que contradiz diretamente os ideais de heterogeneidade, acessibilidade e igualdade que ajudariam a organizar tanto o espaço público moderno quanto as modernas (...). ” ³

Ainda segundo a autora, todas essas técnicas de distanciamento, isolamento e policiamento criam espaços públicos fragmentados, nos quais as separações e segurança sofisticada predominam e com elas a desigualdade, se tornando assim um espaço não democrático, pois a diferenciação prevalece de forma nítida. Além disso, as transformações do espaço urbano parecem gerar fronteiras mais rígidas e policiadas, em que o real contato entre as pessoas e grupos diferentes é ainda menor, mesmo com todo avanço das tecnologias e as interações no mundo virtual, pois na vida pública urbana essas experiências não ocorrem como deveriam. Muros Caldeira

– –

Crime, segregação e EdUSP, Editora 34- 2000.

cidadap12.


3.1. Barreiras físicas, sociais e culturais A cidade de São Paulo hoje, é o principal exemplo de uma cidade de muros, onde as barreiras físicas cercam todos espaços, sejam eles públicos ou privados: residências, complexos comerciais e empresariais, parques, praças e edifícios institucionais. Além das barreiras físicas, é necessário lidar também com as barreiras sociais e culturais. A primeira associada à desigualdade social do País como um todo, onde ainda hoje existe um grande preconceito e discriminação com a população de renda mais baixa, que acabam sendo excluídos e marginalizados. Isso é evidente na própria expansão territorial de São Paulo, onde as pessoas de menor renda foram se deslocando e se instalando para as regiões mais periféricas e afastadas, como os extremos das zonas Sul e Leste da cidade.

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Porém, elas acabam tendo que se deslocar para o centro e outras áreas comerciais da cidade, onde estão situados o setor terciário e de comércio e serviço. Para tanto, utilizam o sistema de transporte público, o qual não supre a necessidade e demanda da população. Enquanto isso, a classe média e alta se instalam em áreas específicas da cidade, onde se tem uma oferta de infraestrutura e desenvolvimento urbano. São áreas bem localizadas, próximos aos grandes centros empresariais e comerciais, um comércio mais sofisticado, além de ter serviços e equipamentos urbanos, bem como, áreas verdes, como pode ser exemplificado pelo quadrante sudoeste da cidade, onde estão localizados bairros como Jardins, Alto de Pinheiros, Moema, entre outros.


3.2. Espaços seletivos

A desigualdade social e a segregação espacial sempre estiveram presentes nas cidades e, por isso, seus espaços sempre sofreram apropriações bastante diferentes de acordo com os indivíduos e sua posição social e poder. Em uma análise é possível notar que a vida pública sempre foi mais vivenciada e explorada nas regiões periféricas da cidades, nas comunidades, nos bairros de classe mais baixa ou que tenham algum fator de ligação, como muitas vezes, pode-se observar em bairros formados por imigrantes, como acontece no Bixiga, bairro tradicional de São Paulo, formado por imigrantes italianos, pois a cultura e os costumes acabam produzindo essa interação entre os moradores, pois esses se atraem por uma identidade em comum. O que também ocorre nas comunidades, pois o ideal de coletividade é mais nítido. Em contrapartida, existem locais

31 que mesmo tendo um discurso de espaço coletivo, de uso e público diversificado, possuem de forma implícita uma seletividade. Em grande parte, essa se dá pelo poder aquisitivo, como pode ser exemplificado pelo edifício de uso misto Brascan, localizado na zona Sul de São Paulo e projetado pelos arquitetos Jorge Königsberger e Gianfranco Vannucchi. O projeto em si, além das partes coorporativas, comercial e hoteleira, propõe um espaço de consumo e lazer, contendo praça de alimentação e salas de cinemas e uma praça interligada a área comercial, ou seja, propõe um uso público do térreo, porém esse não é destinado e usufruído por todas as camadas da população, uma vez que a própria localização do edifício já é seletiva e, por mais que a população de baixa renda possa até usufruir do espaço físico, dificilmente consumirá os serviços oferecidos e, por saber que aquele


ambiente não pertence as suas condições sociais e financeiras, muitas vezes se sentem inibidas até de usar o espaço destinado ao público. Porém, tudo isso é reflexo da sociedade e cultura regida pela discriminação social em que o “ter” sobrepõe o ser, o vivenciar e o compartilhar.

Figura 8. Vista superior do complexo de uso misto localizado no Itaim Bibi, bairro da zona Sul de São Paulo.

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3.3. Integração dos espaços Hoje em dia, vivemos em um impasse contraditório, pois com a globalização e o avanço da tecnologia tudo e todos estão interligados e conectados a uma rede de informações e contatos. Porém, cada vez mais a sociedade impõe fronteiras formais que setorizam e segregam as pessoas e o espaço urbano das cidades, que não deixa de ser marcado por uma diversidade de grupos, mas esses, na maioria das vezes não interagem conjuntamente e não existe uma multiplicidade, ou seja, não há uma troca de

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vivências e experiências e, isso rebate diretamente no espaço público, pois sem essa experiência e interação, ele acaba ficando inóspito, desvalorizado, subutilizado, perde sua essência e a criação de uma memória coletiva. E, é isso que Jane Jacobs retrata em “Morte e Vida das Grandes Cidades”, onde ela defende a diversidade de classes sociais e culturais, assim como, a diversidade e intensidade de usos, a diversidade de temporal onde temos o antigo interagindo com o novo, com o futuro, as ocupações interagindo com os vazios e, nos mostra a importância da valorização das esquinas, das calçadas e percursos, pois são os lugares em que ocorre essa interlocução, onde os cidadãos se encontram.

Figura 9. Espaços ativos voltados para a cidade e para o pedestre.



TRANSFORMAÇÕES DAS CIDADES


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4. TRANSFORMAÇÕES DAS CIDADES: OCUPAÇÃO DOS VAZIOS URBANOS

A cidade é o espaço público, caracterizada pelo uso coletivo e as diferentes funções desenvolvidas nela, seja a moradia, o trabalho, a educação, o lazer, o transporte, entre outras. Portanto, o espaço público deve ser planejado e controlado, pois uma cidade não é formada por um sistema único, mas por pequenos sistemas que vão se somando e cada qual com sua complexidade. É o que se pode ver em grandes metrópoles como São Paulo, existem questões que se estendem e são comuns em praticamente toda a cidade como, por exemplo, o problema da poluição, porém há outras que são mais pontuais como falta de equipamentos de saúde, de escolas, falta de saneamento básico, entre outros. Para sanar tais problemas urbanos é necessário criar estratégias pontuais eficazes, mesmo que essas

sejam aplicadas em vários locais de forma expansiva e progressiva. Criando assim um efeito de metástase positiva, conceito criado pelo arquiteto e urbanista espanhol, Oriol Bohigas, que é a ideia de que mudanças parciais em determinadas áreas, concebidas a partir de estudos das necessidades de cada local, acarretam mudanças no entorno também e, assim vai progredindo na cidade como um todo. Uma das formas de executar essas ações pontuais pode ser através da ocupação dos vazios urbanos. O conceito de “terrain vague”, utilizado pelo Ignasi de Solá Morales em Territórios, refere-se aos lugares esquecidos na cidade, mas, de forma contraditória, repletos de memória do passado incidindo sobre o presente, ou seja, são lugares onde a ausência de usos está atrelada a uma liberdade, um


potencial. Geralmente esses lugares obsoletos são áreas industriais, bairros residenciais de risco, estações de trem, locais margeados e isolados, ausentes de atividades. São espaços que necessitam de transformações e implantação de novos usos para áreas obsoletas e vazias reincorporando esses espaços à cidade e, isso pode ser feito através da Arquitetura, não necessariamente com construções físicas, mas através da conceituação do espaço, atraindo pessoas e gerando uma vivência local, seja através da arte, de oficinas, de equipamentos urbanos.

Figura 10.Intervenções urbanas.

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Figura 11. Beco do Batman, Vila Madalena - São Paulo.

Figura 12. HighLine, New York.



PROCESSOS DE REQUALIFICAÇÃO URBANA


5. PROCESSOS DE REQUALIFICAÇÃO URBANA

Nesse capítulo serão analisados alguns estudos de caso de intervenções e processos de requalificação urbana em diferentes cidades a fim de exemplificarem como é possível requalificar o espaço público e fazer com que as pessoas tenham uma vida urbana ativa se apropriando da cidade e de seus espaços.

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5.1. Medellín, Colômbia

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O município de Medellín está localizado no Noroeste da Colômbia, sobre as montanhas centrais da Cordilheira dos Andes, no Vale do Aburrá. Com uma área total de 380,64km² e uma população, segundo dados de 2011, com cerca de 2.368.282 habitantes, aproximadamente 29% do território é ocupação urbana, enquanto 71% se caracteriza como área rural. Porém, ainda assim é a segunda cidade mais populosa do país, atrás apenas da capital, Bogotá. Marcada por uma pobreza generalizada, altos índices de violência e tráfico de drogas, Medellín passou por um grande projeto de reestruturação governamental, social e urbanística nos últimos 20 anos. Segundo dados do governo local, entre 1991 e 2010, a taxa de homicídios caiu quase 80%. Foram construídas bibliotecas, parques e escolas nas localidades

mais pobres e investiu-se também no transporte público, principalmente em metrô e bondes, fazendo a ligação entre esses bairros e o centro comercial. Todo esse processo se deu a partir de parcerias público-privadas, apoio institucional e de universidades, além de apoio da própria população em buscar soluções e melhorias, principalmente com relação ao problema da violência. Com relação aos índices socioeconômicos, Medellín tem uma população considerável de jovens, e o grau primário de escolaridade prevalece no município com cerca de 24,61%, sendo que apenas 8,59% da população cursou universidade, o que está diretamente relacionado com o fato de que a renda populacional local está entre baixa e muito baixa, conforme gráfico.


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Figura 13. Perfil Socioeconómico Medellín Total – Encuesta de Calidad de Vida

Considerando todos esses fatores, é possível compreender o porquê dos investimentos no setor educacional e social, a partir dos Parques Bibliotecas. Os Parques bibliotecas fazem parte do plano de intervenção e reestruturação da cidade que propõe a transformação social da mesma a partir da oferta de educação, cultura e espaço público e, umas das diretrizes é criação

desse sistema integrado de bibliotecas. Iniciado na gestão municipal de 2004, o projeto tem por objetivo diminuir os problemas sociais nas regiões de intervenção, integrá-las à cidade como um todo e, alavancar o desenvolvimento social através do “empoderamento” da população através da educação e cultura. Para a escolha dos locais de intervenção levou-se em conta o Índice


de Desenvolvimento Humano (IDH) e os níveis de pobreza e violência na região, implantando os parques em áreas estratégicas, interligando a comunidade e os lugares hostis onde a violência era evidente e, também onde o trânsito de pessoas era um conflito, conforme justificativa da Gestão Municipal de 2004-2006: “Os Parques Bibliotecas são a chave da transformação das cinco zonas das cidades recuperadas, que não eram consideradas até agora como centros urbanos para a educação e desenvolvimento integral. Santo Domingo, Belén, La Quintana, La Ladera e San Javier eram centralidades urbanas na periferia, anteriormente definidas pelo sentido de praças comerciais, referências de insegurança por sequelas de violência em seus piores casos. Não tiveram, nas administrações anteriores, transformações urbanas ou sociais que lhes permitissem

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sair do ciclo vicioso estigmatizado e da falta de oportunidades. Com essas novas centralidades propicia-se o encontro, a multiplicidade de atividades para todas as idades, instituem-se referências de expressão cultural e o intercâmbio de ideias. O livre acesso, o melhoramento de espaços lúdicos, recreativos, educativos e comunitários da cidade materializam-se nos cinco novos Parques Bibliotecas com as propostas do Plano de Desenvolvimento que define a educação como ferramenta privilegiada para a transformação de Medellín.” 4

O plano de intervenção resultou em 30 unidades de informação unificada compostas por bibliotecas de proximidades, bibliotecas especializadas, casas de leitura infantil, centros de documentação, arquivo histórico de Medellín, bibliotecas públicoescolares e Parques Bibliotecas. A Secretária de Cultura e as

4. Fonte: Alcaldía de Medellín. Informe de Gestión 2004-2006. Medellín: Alcaldía de Medellín, Alcaldía de Medellín. Informe de Gestión 2007. Medellín: Alcaldía de Medellín, p. 101.

p.

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instituições privadas são responsáveis pela conservação e funcionalidade dos Parques Bibliotecas, sendo assim, a Comfama administra quatro parques: España, La Ladera, La Quintana e San Javier, e a Comfenaldo administra o Belén, sendo ambas instituições privadas de redistribuição econômica e ordem solidária, em que todos os empresários colombianos são afiliados por lei e contribuem com 4% da receita mensal, são as chamadas Caixas de Compensação Familiar.

44 imensa ladeira, nas quais as regiões mais periféricas se encontram na parte mais alta da cidade. Portanto, mesmo que situados nas regiões periféricas a população tem acesso às unidades. Porém, além de estarem interligados ao sistema de transporte público, os Parques são implantados em locais onde se tem fácil acesso à comunidade e potencial de desenvolvimento urbano, para assim revigorar e ativar o uso e identidade do espaço público nessas áreas. Para tanto, são feitos diversas

Como o objetivo é proporcionar e facilitar o acesso aos parques a toda população, a implantação dos mesmos é influenciada diretamente pela localização das estações, considerando que a princípio a cidade só possui duas linhas de metrô, três de metrôcabo, que é um teleférico de alta capacidade e, duas de ônibus. Aqui, vale ressaltar que devido à sua localização geográfica e sua topografia, a cidade é uma

Figura 14. Teleférico Medellín, Colômbia.


análises e estudos do território, nos quais a população também participa do processo, para assim decidir qual será a estratégia de atuação, uma vez que, por mais que se tenha um programa padrão a ser seguido, cada Parque Biblioteca tem necessidades e particularidades diferentes para lidar de acordo com a zona em que está ou será inserido, como por exemplo, alguns possuem um teatro estruturado para grandes apresentações, enquanto em outros Parques se tem apenas um auditório projetado para um número menor de pessoas. Para todo esse processo se tem uma Biblioteca Pública Piloto que atua como coordenadora geral dos parques e é responsável por equipar, mobiliar, avaliar o funcionamento e por fim, entregar o espaço à comunidade, onde é firmado um acordo de responsabilidades entre os membros participantes e os representantes comunitários. Pois, o zelo da comunidade e integração

45 da mesma com o equipamento e o espaço público em si é fundamental. No geral, o programa básico dos Parques Bibliotecas está estruturado da seguinte forma: salas de exposição, ludoteca, consulta e empréstimo de livros, acesso às salas de computadores, centro de empreendimento e desenvolvimento zonal (CEDEZO), ateliês de formação, auditório, serviço de cafeteria e as salas mi barrio, essas são caracterizadas de acordo com cada unidade e destinadas ao desenvolvimento da identidade local, abertura e criação de memórias individuais e coletivas sejam elas do passado ou pretensões futuras, criando e incentivando assim esse ideal de pertencimento à comunidade e o que nela está envolvido.


5.1.1. Parque Biblioteca Santo Domingo Savio O Parque Biblioteca Santo Domingo Savio, ou Parque España, está localizado na região nororiental de Medellín, foi inaugurado em março de 2007e é o mais populoso. Ele faz parte de um Plano Urbano Integrado no qual estão inseridas as comunidades 01 e 02 dessa Zona e, está integrado a uma das redes de metrocabo. Em sua área foram feitos investimentos na recuperação do espaço público a partir de obras de moradia, equipamentos coletivos, mobilidade e recuperação ambiental. Considerando as características e peculiaridades da população local, o parque está voltado para o desenvolvimento comercial da região, onde foi desenvolvido todo um trabalho com pequenos empreendedores da região, antes mesmo de sua inauguração, para que eles ampliassem seu comércio e pontos de venda, aprimorando o atendimento ao público.

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Projetado pelo arquiteto colombiano Giancarlo Mazzanti, seu projeto de partido projeto parte da integração do Parque com as características geomorfológicas da área em que está inserido, considerando sua implantação em um terreno bastante íngreme, fazendo com que o edifício

Figura 16. Maquete eletrônica do edifício.


não seja apenas um elemento na paisagem, mas parte dela, por isso, se assemelham a três rochas na montanha. O programa do edifício consiste em centros de apoio e desenvolvimento de negócios e microempresas locais, salas de leitura para crianças e adultos, acervo de livros para todas as idades, salas

Figura 15. Vista noturna do edifício inserido na paisagem.

47 específicas por faixa etária, salas de Navegação Virtual com mais de 100 computadores com conexão gratuita à internet, um auditório com capacidade para 179 pessoas, salas de exposição para os artistas da região, ludoteca para crianças de 0 a 10 anos, sala mi barrio, além de cafeterias, papelarias e lojas.


5.2. Centro Cultural Gabriela Mistral, Santiago do Chile

48

O Centro Cultural Gabriela Mistral, localizado na cidade de Santiago do Chile, foi projetado pelos arquitetos Cristián Fernández Arquitectos, Lateral arquitectura & diseño e, inaugurado em 2011.

Sua proposta envolve revitalização da área, interação com o público, identidade e memória histórica e local, pois sua ideia surgiu a partir de um concurso internacional aberto pelo Governo após um incêndio, em 2006, no grande salão do edifício existente. O edifício original foi construído durante o governo de Salvador Allende, com símbolo do “homem novo”, porém após o golpe militar de 1973, se tornou sede do governo do regime do

Figura 17. Centro Cultural Gabriela Mistral, Santiago do Chile.

General Pinochet e, posteriormente do Ministério da Defesa, permanecendo fechado para a cidade ao longo de três décadas e, marcado pela polarização ideológica, política e de divisão social. Além de que, sua obra teve impacto urbano profundo na área, pois


49 fora construído uma grande edificação de proporções horizontais, praticamente sem recuos da calçada da avenida principal da cidade e, do outro lado invadia um bairro residencial de características francesas.

Figura 18. Edifício original construído em tempo recorde de 275 dias.

Com a abertura do concurso internacional, Cristián Fernández e sua equipe idealizaram uma nova proposta urbana, considerando que o principal problema da área era o entorno e não a edificação em si, ou seja, eles focaram na quadra, em seus edifícios e nas alternativas de espaço público como estratégias de projeto. Com isso, eles definiram novas possibilidades, nas quais a edificação existente se adaptou ao novo desenho urbano se relacionando com o contexto existente, como antes não acontecia. Para tanto, em sua implantação foram resgatadas 4 ideias principais, sendo elas: • Abertura para cidade, através de uma grande cobertura e volumes soltos sob a mesma; • Criação de novos espaços públicos; • Abertura do edifício para a população


a partir do programa de atividades oferecidas para a comunidade; • Legitimidade do projeto através da incorporação de agentes sociais e formação de um novo marco para cidade de Santiago. O edifício proposto contempla as qualidades arquitetônicas do projeto original, com uma livre reinterpretação contemporânea para o contemplar o novo programa, distribuído em três edifícios e

50 articulado aos novos espaços públicos. Para criar interação entre o edifício, as atividades internamente desenvolvidas, os usuários e a cidade, as aberturas e transparências tem um papel fundamental, pois divulga essa vida interior do edifício para o exterior e, oferece para a cidade espaços públicos de qualidade e equipados. Ou seja, faz com que, a arte e a cultura, enfoques da obra, envolvam não apenas seus usuários diretos, mas sejam disseminadas pelo

C A

B Figura 19. Perspectiva da implantação geral da proposta para o Centro Cultural.


entorno, para a cidade e seus cidadãos. O projeto está distribuído em três volumes, sendo os dois primeiros (A e B), remodelação do edifício existente e abrigando respectivamente o Centro de Documentação para Artes Cênicas e Música e, as Salas de Formação de Artes Cênicas e Músicas, que contém a salas de ensaio, museus e exposição. Já o

51 terceiro volume (C) é um novo projeto e, contempla a Grande Sala de Concertos, com capacidade para 2.000 pessoas. No térreo os três volumes estão separados, criando assim espaços livres cobertos, a serem percorridos e ocupados pelos pedestres de forma a interagir com o projeto. Já nos pavimentos inferiores os edifícios estão interligados.

Figura 20. Permeabilidade urbana.

Desde sua inauguração, o Centro Cultural Gabriela Mistral tem sido palco de muitas vivências, audiências e interatividade, tem recebido visitantes de diversas localidades e, principalmente, tem exercido seu objetivo de revitalização do centro histórico de Santiago, de forma a reavivá-lo e repará-lo sem que se percam suas memórias.



VILA LEOPOLDINA


6.1.1. Diagnóstica Geral da Vila Leopoldina O bairro da Vila Leopoldina, localizado na Zona Oeste da cidade de São Paulo e, ainda marcado pela presença de indústrias que ali se instalaram no início do século XX por conta da proximidade da ferrovia e dos baixos custos dos lotes, vem passando por um processo de transformação urbana desde o final dos anos 90, quando muitas indústrias começaram a serem deslocadas para outras regiões, deixando grandes galpões vazios e inutilizados. Paralelamente, o bairro começou a sofrer uma forte especulação

54

imobiliária, na qual foi se verticalizando através da construção de condomínios de alto padrão, além de receber uma nova rede de serviços para suprir a demanda dos novos moradores. Porém, essa valorização do bairro não aconteceu de forma homogênea, pois a partir de uma análise mais aprofundada é possível observar que esses novos investimentos aconteceram somente na região localizada mais próxima à área do Alto da Lapa.

Figura 21. Verticalização da Vila Leopoldina.


Pode-se caracterizar aqui um processo de gentrificação e descaracterização do bairro, pois muitos dos antigos moradores acabaram tendo que ceder às pressões do mercado imobiliário e vendendo suas moradias, muitas dessas casas geminadas, típicas das vilas operárias, para dar lugar aos novos empreendimentos. Essa gentrificação também é evidente na retirada das “caixarias, instalações em galpões vazios ou muitas vezes, nas próprias ruas, em que

55 pessoas de baixa renda produzem e fazem reciclagem das caixas de madeira para armazenamento e transporte de mercadorias para CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), a um custo baixíssimo. Já a região próxima ao CEAGESP continuou a ser ocupada pelos galpões, alguns ainda de uso industrial e outros com novas atividades que variam entre estúdios cinematográficos, grandes concessionárias de automóveis, espaços para eventos até agências de publicidades.

Figura 22. Antigas caixarias na Rua Baumann.


Além dessas, temos também uma terceira divisão da nova Vila Leopoldina, a área localizada do outro lado da ferrovia que pode ser delimitada entre o Viaduto do Ceasa e a Ponte dos Remédios. Essa região ainda é caracterizada pela presença de residências, indústrias e galpões vazios, praticamente desprovida de atividades comerciais e de serviços, apesar de estar localizada próximo à Marginal Tietê, possuir uma considerável área verde do Parque Villas Bôas, além da proximidade com a estação de trem Imperatriz Leopoldina, pertencente à linha 9

56 – Esmeralda da CPTM e da quantidade de linhas de ônibus que passam por ela, fazendo a interligação entre a região Central, da Lapa, Pinheiros, Pirituba e Osasco.

Figura 23. Mapa das divisões do bairro. (Sem escala).


Porém, agora está sendo construído na área o Conjunto Habitacional Ponte dos Remédios, pertencente à SEHAB-SP (Secretária de Habitação do Munícipio de São Paulo) e projetado por Marcos Acayaba e H+F Associados, que conterá cerca de 1250 unidades habitacionais. O conjunto em questão prevê juntamente com as unidades residenciais, a construção de equipamentos públicos como creche, UBS (Unidade Básica de Saúde), áreas de exercícios para idosos.

57

Figura 25. Maquete Física do Conjunto Ponte dos Remédios.

Figura 24. Vista do Conjunto Habitacional em construção.


Considerando a população já existente e o déficit de equipamentos urbanos na área, cabe aqui questionar se a construção desses equipamentos públicos contemplados na proposta do Conjunto Habitacional Ponte dos Remédios é suficiente para atender à demanda da nova população e também a já residente, pois ao prever um novo adensamento populacional é preciso considerar todas as condições reais existentes na área, seus limites e viabilidades. A princípio sabe-se que a Vila Leopoldina ainda possui diversas áreas

Figura cial de

26. alto

Condomínio padrão na Avenida

residenMofarrej.

58 residuais com potencialidades diferentes, considerando apenas o conceito de vazios. Porém, ressaltamos também a questão da identidade local, desse caráter industrial que deve ser mantida em certos aspectos e conceitos, uma vez que a ferrovia ainda se faz presente, hoje não pelo transporte de carga, mas de passageiros, sendo um meio de transporte importante no sistema de mobilidade da cidade e ponto referencial da área. Dessa forma, nota-se que apesar de todas as transformações pelas quais vem passando, o bairro da Vila Leopoldina é marcado por uma questão social que vai além, das barreiras físicas. A identidade da Vila Leopoldina é marcada pela memória do antigo bairro industrial, com a presença da ferrovia, dos galpões, das casas geminadas, onde muitos operários moravam, além das vias largas. Alguns edifícios, hoje deteriorados, possuem sua representatividade na


história do bairro e na memória dos moradores mais antigos, como é o caso da antiga fábrica de violões Gianinni, na R. Carlos Weber, ou da antiga Siderúrgica Barra Mansa, onde atualmente está sendo construído o Conjunto Habitacional Ponte dos Remédios. O trem continua tendo um papel marcante no bairro, muitas fábricas ainda continuam ali instaladas e, vão se misturando e sendo cercadas pelas torres dos novos edifícios. Porém, a Vila Leopoldina hoje possui uma nova identidade, formada pelos seus novos usos e dinâmicas, caracterizada por uma nova população. É uma identidade

59 ainda em construção, que contrasta com a memória da formação original do bairro e aos poucos vai se distanciando. Conforme, Denise Jodelet, em Memória e Cidade, a cidade é um local de constante transformação e, o cenário da modernidade acelera o ritmo de vida, criando uma mentalidade de desenraizamento. Porém, é importante preservar a memória do território, pois o presente se fundamenta no passado, gerando uma inter-relação entre espaços e pessoas e a formação de uma identidade local e uma memória coletiva ou eventual, baseada na existência do lugar.

Figura 27. Antiga Siderúrgica Barra Mansa.

Figura 28.Antiga fábrica de violões Gianinni.


6.1.2. Mobilidade e Equipamentos urbanos Conforme dito anteriormente, o bairro da Vila Leopoldina está localizado no extremo Oeste da cidade de São Paulo, próximo às marginais Tietê e Pinheiros, fazendo ligações com bairros como Lapa, Pinheiros e Jaguaré, além da proximidade com o município de Osasco. A linha férrea continua sendo um elemento marcante na região, mesmo com as diversas linhas de ônibus municipais e intermunicipais que transitam pelo bairro, uma vez que duas atuam pela região, sendo elas as linhas 8 e 9 da CPTM, a primeira fazendo a ligação desde a região de Itapevi até a Barra Funda, onde se interliga com o metrô da linha-2 Vermelha, fazendo a conexão com a área central e Leste de São Paulo. Já a linha 9 interliga a região de Osasco até o Grajaú, na Zona Sul de São Paulo. Apesar da região estar bem localizada e suprida no quesito

60

mobilidade, esta ainda tem suas deficiências, uma vez que, o sistema viário não comporta o fluxo da região, pois pelas características industriais da formação do bairro, ele é até generoso em suas dimensões, porém com poucas vias internas e grande acessibilidade externa a outras regiões de São Paulo, o que justifica o seu desenvolvimento de atividades relacionadas ao recebimento e distribuição de produtos industriais e agrícolas. A via principal que corta o bairro é a Avenida Doutor Gastão Vidigal, que interliga o acesso da marginal Tietê distribuindo para Pinheiros, Alto da Lapa e até mesmo para a Marginal Pinheiros, sentido à Zona Sul. Porém, nessa mesma avenida está localizado o CEAGESP, ou seja, tem um fluxo diário de caminhões e transportes de cargas que o trânsito local não comporta e diversas vezes acaba gerando problemas na região,


principalmente em horários de pico. Além disso, por ser um bairro de formação industrial e de residências de classe baixa, não se teve um investimento em equipamentos urbanos e, mesmo com todas as transformações urbanas e sociais pelas quais vem passando, o bairro ainda hoje não oferece esses equipamentos à população. Não há

61 centro culturais, bibliotecas e teatros na área, bem como, centros de lazer, com exceção dos parques Villa Lobos e Villas-Bôas e da unidade do SESI Vila Leopoldina, sendo que nesse último é necessário ser sócio. Mesmo o número de equipamentos básicos como creches, escola públicas e hospitais é deficitário, como pode ser observado abaixo:

Tabela 1. Indicadores de equipamentos de saúde na Vila Leopoldina.


62

Tabela 2. Indicadores de equipamentos culturais pĂşblicos na Vila Leopoldina.

Tabela 3. Indicadores de equipamentos esportivos na Vila Leopoldina.


6.2. Operação Urbana Vila Leopoldina- Jaguaré

63

O Plano Diretor Estratégico (PDE) do município de São Paulo, aprovado pela Lei Municipal nº 13.430 de 2001, definiu um conjunto de diretrizes para o desenvolvimento urbano da cidade, partindo da ideia de estimular e diversifcar os usos do solo com diferentes densidades, principalmente em sua área urbana consolidada. Dentre essas diretrizes, pode-se destacar:

Seção I I - evitar a segregação de usos promovendo a diversificação e mesclagem de usos compatíveis de modo a reduzir os deslocamentos da população e equilibrar a distribuição da oferta de emprego e trabalho na Cidade;

IV - estimular a reestruturação e requalificação urbanística para melhor aproveitamento de áreas dotadas de infra-estrutura em processo de esvaziamento populacional ou imobiliário; VI - estimular a requalificação, com melhor aproveitamento da infra-estrutura instalada, de áreas de urbanização consolidada, com condições urbanísticas de atrair investimentos imobiliários.

Considerando o proposto no PDE de 2001, as subprefeituras elaboraram seus respectivos Planos Regionais Estratégicos (PRE’s) em conjunto com a nova Lei de Uso e Ocupação do Solo (Lei nº 13.885, de 25 de agosto de 2004), procurando promover usos diversisficados em diversas áreas da cidade.


64 Sendo assim, o Plano Diretor Estratégico definiu que além de seguir zoneamentos, as áreas em processo de degradação localizadas na área urbana consolidada, principalmente as em processo de esvaziamento por conta dos deslocamentos das indústrias, seguiriam também as Operações Urbanas Consorciadas (OUC’s)5, objetos de legislação específica, com o objetivo de promover o desenvolvimento urbano a partir da articulação entre agentes públicos e privados. Dentre essas, está a Operação Urbana Vila LeopoldinaJaguaré, que por diferentes motivos está atualmente estagnada. Um dos fatores para que a Operação não esteja em andamento é pelo fato de que as transformações urbanas que vem ocorrendo no bairro são bem

distintas do que estava previsto no projeto e estudos do Poder Público Municipal. Uma das diretrizes do plano elaborado para a Operação Urbana Vila Leopoldina–Jaguaré (em 2003/2004) previa o adensamento habitacional controlando gabaritos e localização de empreendimentos, sendo que esses se localizavam principalmente na área ocupada pela CEAGESP, além disso, projetava a remodelação do sistema viário na região facilitando as conexões entre a área de intervenção e as principais artérias próximas. Porém, desde que o setor imobiliário começou a perceber as potencialidades da região, principalmente, com relação a sua localização estratégica, vem se expandindo e construindo edifícios, em

5 OUC é um instrumento de política urbana previsto na Lei nº 10.257/2001, o art. 32, parágrafo único, explica que: “o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental”.


65 sua maioria de médio e alto padrão, verticalizando a área, mas consolidando um ambiente distinto do previsto no plano. Pois o bairro vem sendo dominado por altas torres isoladas nos lotes, que acabam seguindo os padrãos da monofuncionalidade e contraditório ao sistema de desenvolvimentos equilibrado das atividades urbanas, umas vez que, esses condomínios fechados se voltam apenas para si e repelem o entorno em que está inserido. Com todas as mudanças que estavam ocorrendo no bairro, o poder público resolveu desenvolver um programa de intervenção urbanística considerando, não apenas aspectos de funcionamento da cidade, mas também a criação de um novo desenho urbano para a região no sentido de inovar e de criar parâmetros urbanos, de forma a relacioná-los e oferecer elementos socioeconômicos, infraestrutura, capacidade suporte

mercadológico como componentes fundamentais na qualidade de vida local. Para tanto, foram criadas algumas diretrizes gerais, como elementos estruturadores das intervenções no bairro, sendo elas: Conexão • Solucionar os problemas de articulação interna e acessibilidade externa à região, através de melhorias nas articulações e com a criação de transposições sobre os Rios Tietê e Pinheiros ligando a área a Rodovia Anhanguera e a região norte da cidade através de uma ponte sobre o Rio Tietê na extensão da Avenida Doutor Gastão Vidigal com a Avenida Domingos de Souza Marques. • Criação de avenida paralela à

uma nova Marginal do


Tietê, fazendo ligação entre a Ponte dos Remédios, Lapa de baixo, Avenida Marquês de São Vicente complementando a ligação entre a região do centro da cidade, servindo como alternativa à Marginal do Rio Tietê e possibilitando a articulação interna das áreas cortadas. • Redesenho e reconfiguração da Avenida Imperatriz Leopoldina e Rua Carlos Weber estabelecendo-se um binário e, consequentemente um melhor aproveitamento e racionalização dos fluxos viários e do Passeio Público com a requalificação e o aparelhamento através de desenho mobiliário adequado, visando maximizar o uso das calçadas pela população proveniente do adensamento pretendido. • Realocação das estações de trem da CPTM da área para viabilizar e abranger as futuras linhas do metrô,

66 arco norte e expansão do ramal da Paulista, sujeitas à passarem pela área. Áreas Verdes • Propõem a criação de dois grandes parques públicos, sendo um deles na antiga usina de compostagem e na área da Sabesp, de forma a unificá-los e comportarem um programa voltado ao atendimento da população moradora do entorno, com equipamentos para educação ambiental. • Prevê-se também áreas livres verdes no interior da malha urbana e, a utilização coletiva de espaços privados dos edifícios como áreas de lazer de circulação de pedestres através de desenho que integre os espaços públicos ás edificações.


67 Habitação

Centralidade

• Com relação ao adensamento e habitação, fala-se em garantir um ambiente urbano equilibrado, evitando deslocamentos desnecessários, propondo um adensamento por toda área, criando pontos de maior densidade de acordo com sua capacidade e suporte. Porém, estabelece limites claros de coeficiente de aproveitamento, taxa de ocupação e principalmente gabarito, criando novas regras para recuos e seu aproveitamento.

• Na Avenida Gastão Vidigal propõe integrar as atividades desenvolvidas no entorno, inclusive com as do CEAGESP, criando uma nova centralidade na qual deverão ser desenvolvidas atividades variadas e voltadas para o espaço público a partir de um redesenho.


68

6.3. Análise das transformações acarretadas pelas mudanças já implantadas Hoje, a Operação Urbana Vila Leopoldina- Jaguaré encontra-se estagnada e, é possível observar que o crescimento do bairro se deu apenas no setor imobiliário, atraindo muitos moradores de alta renda para a região e, no comércio voltado para essa nova população. Porém, esse crescimento de forma pontual e segregada, acaba formando áreas periféricas. Além disso, falta investimento com relação aos equipamentos sociais. Atualmente, o bairro enfrenta problemas recorrentes como a falta de limpeza das ruas, pois a Subprefeitura alega que não tem profissionais suficientes para suprir a demanda.Também, se tem um número crescente de moradores de rua na região do CEAGESP e, da Avenida Gastão Vidigal, sendo que o único abrigo do bairro, localizado na Avenida Imperatriz Leopoldina não possui capacidade suficiente para atender a todos e, lida também com a falta de recursos financeiros. Além disso, tem aumentado o número de casos de violência, principalmente de assaltos, no bairro. Figura 31. Ocupação irregular próxima à Marginal Tietê e a Ferrovia.

Figura 29. Moradores de rua na Av. Dr. Gastão Vidigal.

Figura 30. Lixo espalhado próximo ao viaduto Miguel Mofarrej.


6.4. Plano Diretor Estratégico de 2014 – São Paulo

69

O novo PDE 2014 (Plano Diretor Estratégico da Cidade São Paulo) tem enfoque na mobilidade urbana e na qualificação da vida urbana dos bairros. Para tanto, ele toma como diretrizes a ampliação dos equipamentos urbanos e sociais, o uso misto com a criação de

fachadas ativas, ampliação das áreas verdes, priorização do transporte público, cicloviário e circulação de pedestres, qualificação e integração entre os meios de transporte, redução do tempo de viagem da população, entre outros.

Figura 32. Princípio de fachada ativa proposto no novo PDE.


No novo PDE, a área da Vila Leopoldina aqui tratada é classificada como ZEIS (Zona Especial de Interesse Social). Zoneamento da cidade: ZEIS 3 – área de interesse social com predominância de terrenos ou edificações subutilizadas, com potencialidade de desenvolvimento e melhoria das condições habitacionais da população moradora, incluindo equipamentos sociais e culturais, espaços públicos, serviço e comércio de caráter local:

70

II – cadastramento dos moradores da área, quando ocupada, a ser realizado pela Secretaria Municipal de Habitação, validado pelos membros do Conselho Gestor da respectiva ZEIS; III – projeto com proposta para o parcelamento ou remembramento de lotes e plano de massas associado a quadro de áreas construídas por uso;

Art. 52. Nas ZEIS 3 que contenham um

IV – previsão de áreas verdes, equipamentos sociais e usos complementares ao habitacional, a depender das características da intervenção;

conjunto de imóveis ou de quadras deverá ser elaborado um projeto de intervenção contendo, de acordo com as características e dimensão da área, os seguintes elementos:

V – dimensionamento físico e financeiro das intervenções propostas e das fontes de recursos necessários para a execução da intervenção;

I – análise sobre o contexto da área, incluindo aspectos físico-ambientais, urbanísticos, fundiários, socioeconômicos e demográficos, entre outros;

VI – formas de participação dos moradores da área, quando ocupada, e dos futuros beneficiários quando previamente organizados, na implementação da intervenção;


71

VII – plano de ação social e de pós-ocupação; VIII – soluções para a regularização fundiária, de forma a garantir a segurança de posse dos imóveis para os moradores. § 1º O projeto de intervenção, no caso das ZEIS 3, poderá ser elaborado como uma Área de Estruturação Local ou Área de Intervenção Urbana – AIU e poderá utilizar o Reordenamento Urbanístico Integrado, previstos no arts. 134, 145 e seguintes desta lei. § 2º Nas ZEIS 3, em caso de demolição de edificação usada como cortiço, as moradias produzidas no terreno deverão ser destinadas prioritariamente à população moradora no antigo imóvel.

Figura

33.

Artigo

306

PDE.


Além das também as Áreas Urbana que ele

ZEIS, temos de Intervenção define como:

Das Áreas de Intervenção Urbana (AIU) Art. 145. As áreas de intervenção urbana são porções de território definidas em lei destinadas à reestruturação, transformação, recuperação e melhoria ambiental de setores urbanos com efeitos positivos na qualidade de vida, no atendimento às necessidades sociais, na efetivação de direitos sociais e na promoção do desenvolvimento econômico, previstas no Projeto de Intervenção Urbanística elaborado para a área.

Figura 34. Artigo 145 PDE.

72


6.5. Proposta de Plano Urbano – Plano de Massas Tendo em vista tudo que foi exposto anteriormente e, considerando as proposições da Operação Urbana e os recursos do novo Plano Diretor, foi elaborado e proposto um plano de massas para a região de enfoque, porém considerando apenas a área do perímetro

73

entre a Marginal Tietê e a ferrovia, ou seja, oposta ao desenvolvimento principal do bairro. Pois, seguindo o conceito de metástase positiva, discutido anteriormente, espera-se que tais medidas possam se expandir pelo bairro. Figura 35. Perímetro de intervenção do plano.


74

6.5.1. Diretrizes e intenções

MOBILIDADE

ÁREAS VERDES

•-Preservação do eixo viário da Avenida Gastão Vidigal;

• Abertura do Parque Villas Bôas para a cidade;

•-Criação de um eixo pedonal na Rua Major Paladino, interligando a Estação da CPTM Imperatriz Leopoldina ao Conjunto Habitacional Ponte dos Remédios e ao SESC-Vila Leopoldina;

•--Manutenção dos canteiros centrais da Avenida Gastão Vidigal;

•-Criação de um terminal de parada de ônibus interligado também ao sistema ferroviário;

•--Ampliação das áreas verdes revitalização das já existentes;

•-Criação de novos eixos de passagens através da abertura de quadras e térreo livre, permitindo maior fruição. •-Ampliação e manutenção das calçadas.

•--Implantação de sistema de drenagem com capitação das águas pluviais. e


75 MORADIA, COMÉRCIO E INDÚSTRIA

EQUIPAMENTOS URBANOS E SOCIAIS

• Preservação de parte industrial ativa, concentrada em região de fácil acesso à Marginal;

• Preservação dos órgãos institucionais existentes;

• Preservação das áreas residenciais existentes; • Criação de pólo de comércio e serviços ao longo da R. Major Paladino; • Implantação de edifícios de uso misto com fachadas ativas; • Reurbanização de favela, incluindo a também a despoluição do córrego existente; • Implantação de HIS (Habitação de Interesse Social).

• Implantação de UBS (Unidade Básica de Saúde); • Implantação de equipamentos educacionais como creches e centro de assistência ao Idoso; • Implantação de quadras poliesportivas abertas; • Implantação de equipamentos cultura, esporte e lazer;

de

• Melhorias no sistema de iluminação pública.


6.5.2.Desenho urbano como elemento de requalificação do território

76

Figura 37. Córrego próximo a área irregular

Figura 38. Edifício de inclusão social

Figura 36. Mapa de uso do solo da área.

Figura 39. Entrada da área irregular do Jd. Humaitá


77

1

2

3 1-R. Major Paladino 2-Av. Dr. Gastão Vidigal

3- Estação CPTM

Figura 40. Plano de Massas.


78

1

2

3 1-R. Major Paladino 2-Av. Dr. Gastão Vidigal

3- Estação CPTM

Figura 41. Plano de Massas.


6.5.3. Ocupação dos vazios e Integração entre os novos equipamentos A ocupação dos vazios da área se dá através da implantação de equipamentos, sejam eles edifícios ou elementos urbanos, como pistas de skates, parklets, praças equipadas, que fazem com que os espaços hoje desocupados, sejam apropriados e usufruídos pela população local, criando assim uma maior vivência e revitalização da área. Propõem se também dar um destaque a relação da área com a linha férrea, de forma que essa não seja apenas uma barreira. O atual projeto proposto

79

pela SISTRNSP Engenharia para modernização e ampliação da estação de trem da Vila Leopoldina, já propõem essa integração entre R. Major Paladino e a Avenida Imperatriz Leopoldina através de uma passage em nível. Com o adensamento populacional proporcionado pelo conjunto habitacional em contrução é interessante que se tenha um pólo de comércio e serviços próximo gerando assim empregos próximo as residências e evitando grandes deslocamentos, fortalecendo assim uma dinâmica local.



SESC - VILA LEOPOLDINA


7.1.ESCOLHA DO LOCAL E OBJETO DE PROJETO

82

O objeto do projeto em desenvolvimento trata-se de um SESC, localizado no bairro da Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo. A escolha do território de intervenção se deu a partir da análise do bairro, suas potencialidades, deficiências e das transformações urbanísticas pelas quais vêm passando, algumas delas previstas na Operação Urbana Vila Leopoldina -Jaguaré. Sendo assim, a área de intervenção está delimitada pela ferrovia e pela Ponte dos Remédios e, apesar de ser razoavelmente adensada, tendo

em vista a predominância de unidades residenciais, empresas e galpões industriais ativos, é uma área subutilizada e carente de equipamentos públicos, bem como, de comércio e serviços. Por isso, resolveu-se criar um projeto que englobasse esses usos e valorizasse a área e essa sua nova identidade. Com isso, chegou-se a ideia do SESC, pois é um equipamento que contém um programa diversificado que contempla serviços, lazer, cultura, educação e esportes, e possui uma rede difundida pela cidade e já é de conhecimento da população.


7.2. O TERRENO E PARTIDO DE PROJETO

83

O lote escolhido está localizado na Rua Major Paladino, próximo à Ponte dos Remédios, conforme imagens abaixo:

Figura 42. Localização do terreno.


São antigos galpões industriais que estão desativados a mais de 25 anos e, alguns vem sendo subutilizados como quadras de tênis para aluguel, ou seja, um uso que não traz nenhum retorno para a região. Com uma área de aproximadamente 15.000m², buscou-se aproveitar o máximo da linearidade e nivelamento do terreno. Sua topografia é praticamente plana, possuindo apenas 2m de desnível no sentido transversal. Quanto à orientação de insolação, a sua frente, localizada na Rua Major Paladino está voltada para a direção

84

Figura 43. Localização do terreno.

Figura 44. Localização do terreno.

Figura 45. Localização do terreno.

Nordeste. O lote está situado em duas esquinas e, sua face posterior está voltada para o Jardim Humaitá, uma área com uma praça central e residências no entorno. O gabarito da área é predominante baixo, no máximo 12m de altura, no caso de alguns galpões


e, desconsiderando o Conjunto Habitacional que ainda está em construção. Um dos pontos importantes a ser considerado para implantação do projeto é a questão da poluição sonora, uma vez que a Rua Major Paladino tem um fluxo diário intenso de veículos, como automóveis, ônibus e também muitos caminhões, por estar localizada próxima à Marginal Tietê e ser rota de acesso à CEAGESP. É, portanto, uma via coletora, com três faixas e mão única que recebe e redistribui o fluxo de cinco vias locais, além daquele que

85 vem da Ponte dos Remédios, ou seja, da Marginal. Além disso, ela é pouco arborizada, comparada a outros pontos do bairro, pois a vegetação mesmo que em menor intensidade, ajuda a diminuir os ruídos.

Figura 46. Classificação das vias.


A ideia é que a partir do seu programa com atividades de lazer, cultura, educação, crie-se um novo contexto para a área, construindo um local que se torne um pólo de convivência para os moradores e frequentadores da área, além de atrair outras pessoas para região. Pois, a ideia é se fazer um equipamento público, aberto para cidade. Por isso, uma das principais referências é o centro cultural Gabriela Mistral, em Santiago do Chile, que trabalha com a requalificação da área em que está inserido através da abertura da quadra, criando fluxos e locais de passagem e permanência. Além disso, tem como embasamento referências de outros SESC’s e concursos para o mesmo, principalmente o SESC Pompeia, da arquiteta Lina Bo Bardi e do concurso para o SESC de Franca, no interior de São Paulo. A ideia inicial partia da inserção de uma praça central, para onde estariam voltadas às principais atividades

86 do edifício. Porém, ao longo do desenvolvimento do projeto, resolveu-se aproveitar ao máximo das características do terreno, principalmente, o fato dele interligar três ruas e dar acesso à vila Jd. Humaitá, local predominantemente residencial e marcado por uma praça central. Ao invés de ocupar todo o terreno, ou implantar dois blocos de atividades, resolveu-se aproveitar ao máximo das características do terreno, principalmente, o fato dele interligar três ruas e dar acesso à vila Jd. Humaitá, local predominantemente residencial e marcado por uma praça central. A partir disso, foi feita a abertura da quadra interligando as ruas Galileu Emendabili e Major Paladino, criando assim um eixo de fluxo pelo qual as pessoas podem transitar pelo terreno e chegar ao outro ponto explorando o objeto arquitetônico, e não apenas circundando-o. Para tanto, resolveu-se alterar o mínimo possível a topografia, o que gerou


87

Figura 47. Alternativas para ocupação do terreno.

a necessidade de criar uma escadaria que interligasse os dois pontos. O edifício possui dois acessos distintos voltados para a praça central, um dá acesso ao complexo esportivo e de lazer e, o outro dá entrada ao volume que contempla as demais

atividades oferecidas. Porém, os blocos se interligam no primeiro pavimento, através de passarelas, permitindo assim, que os frequentadores circulem livremente pelos espaços que lhe são permitidos. Além disso, são três eixos de circulação vertical, sendo dois

Figura 48. Distribuição dos acessos e fluxos.


deles de uso geral e um para carga e descarga que contempla os ambientes de exposição, restaurante e teatro. O edifício terá forte incidência solar, principalmente na fachada voltada para a R. Major Paladino, devido à sua orientação. Essa iluminação natural, assim como a ventilação serão bem aproveitadas. Porém, para maior conforto térmico, elementos como brises e vidros insulados foram adotados como componentes das fachadas, de forma a enaltecê-las sem prejudicar a vista externa de quem está dentro do edifício, dando maior privacidade e conforto. Quanto à estrutura, optou-se por trabalhar com concreto armado aparente e lajes em grelha, seguindo uma modulação de 8mx8m, conciliando os usos que exigiam vãos livres maiores e também, suas cargas. O programa foi distribuído de acordo com o vínculo de atividade desenvolvidas, sendo elas voltadas

88

Figura 49.Esquema de insolação.

para esporte, cultura, educação, social e administrativas. Sendo que as atividades esportivas ficaram concentradas em um bloco específico para que possam ter um uso e horário mais independente das demais, uma vez que, tem um grande interesse da população local por atividades de lazer e esporte. Já o teatro, por exigir uma grande área livre em


89 termos estruturais e, por ter um uso mais esporádico ficou locado no último pavimento. Com isso, espera-se criar um objeto marcante e representativo para a área, que seja um espaço de diversas atividades, mas também contemplativo e de permanência, com o qual as pessoas se identifiquem e se apropriem do espaço oferecido.

Figura 50.Distribuição dos usos.

Figura 51.Distribuição do programa.



O PROJETO



93 93


94 94


95 95


96 96


97 97


98 98


99 99


100 100


101 101


102

DETALHE CONSTRUTIVO

102


103

PERSPECTIVAS

103


7.4. BARREIRAS ACÚSTICAS

104

Conforme relatado anteriormente a acústica urbana do região é um ponto importante e que influência diretamente no projeto, considerando que o programa contempla ambientes como exposição, biblioteca, restaurante, teatro, salas de aula, dança, música, entre outros. A primeira forma de verificar as questões do ruído na região, foi fazer medições com decibelímetro e montar um mapa sonoro das imediações do terreno de projeto, considerando o levantamento de usos predominantes da área.

Figura 52.Mapa com locação dos pontos de medição.


Para tanto, foram selecionados 8 pontos, sendo que cada um foi analisado em três momentos diferentes, para poder assim verificar e comparar a frequência de ruídos na área e saber quando que é mais ou menos intenso para poder fazer um paralelo com a programação das atividades oferecidas pelo SESC. Sendo assim, analisou-se a quarta-feira no período da manhã e da noite e, o domingo pela manhã, conforme dados abaixo:

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Tabela 4. com níveis de ruído no entorno.

Podemos concluir que a área a noite é muito mais tranquila do que durante o período da manhã e que, se tem uma diferença considerável comparando a Rua Major Paladino com a rua Galileu Emendabili.


Considerando como parâmetro os índices fornecidos pelo aplicativo do decibelímetro e que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) estabelece 55dB como nível médio de ruído diário e que, acima de 75dB já começa a se ter desconforto acústico para qualquer situação ou atividade. Podemos observar que os valores obtidos nas medições, nos períodos da manhã ultrapassam esses estimados, ou seja, a poluição sonora tem uma grande influência na área, dificultando a execução de certas atividades e causando incomodo Considerando os dados das medições passamos à análise da influência dos ruídos das ruas no projeto. Como relatado anteriormente, a rua Major Paladino é uma via coletora, com aproximadamente 8,70m de largura, dividida em 3 faixas. Já as ruas Galileu Emendabili e Ministro Silva Maia, são vias locais com larguras de aproximadamente

106

Figura 53.Níveis de ruído

7m e 9m, respectivamente. Com relação a rua Major Paladino, o edifício projetado foi implantado recuandose 12m da calçada, devido à localização das entradas do estacionamento e também a ideia de criar calçadas mais amplas para conforto do pedestre. O edifício projetado possui paredes em concreto aparente com espessura de 20cm, cortinas de vidro insulado duplo com espessura de 6mm, brise-soleil horizontal


metálico e painéis metálico deslocáveis. Considerando que os ruídos interferem nos andares mais altos da edificação e que, voltado para fachada da Rua Major Paladino temos no segundo pavimento o restaurante, no pavimento inferior a biblioteca e no térreo o setor de exposição, é necessário analisar a interferência dos ruídos nesses ambientes de forma a isolá-los através de uma barreira acústica se necessário e impedir também que um ambiente Para obter os valores dos níveis sonoros internos do ambiente a partir dos ruídos externos, foram lançados os dados referente à via e ao projeto na planilha de cálculo do Acústico 3.0. Considerando que os pontos mais altos sofrem mais com os ruídos, analisou-se o segundo pavimento, onde está localizado o bandejão, que atende aproximadamente 270 pessoas. Foram considerados os materiais da fachada, o acabamento de piso

107 e a quantidade de frequentadores. De acordo com o relatório obtido no programa, apesar dos níveis de ruído urbano na área serem altos, eles não interferem tanto nos ambientes internos do SESC e podem ser barrados apenas utilizando como elementos de isolamento a parede de concreto com espessura mais grossa (20cm) e vidro com espessura mínima de 6mm e espaço da parede, uma vez que quanto mais pesado o material maior a isolação. Além disso, o fato do edifício estar 12m recuados da calçada também é um fator satisfatório, assim como a taxa de ocupação, pois as pessoas e os móveis também absorvem os sons. As barreiras sonoras funcionam como anteparos que impedem que a fonte produtora de ruído se propague e interfira no receptor. Como já visto, quanto mais denso o material melhor atua como isolante. Portanto, um muro pode ser uma barreira e, não necessariamente ele precisa ser de concreto ou alvenaria, pode ser de vidro.


Madeira e placas de gesso também são bons revestimentos isolantes e podem ser utilizados como barreiras acústicas. Porém, dependendo das condicionantes de projeto e implantação, as vezes não basta escolher um material que seja apenas um bom isolante como barreira sonora, mas é importante também ter um bom índice de absorção. Isso, geralmente é necessário quando o edifício está implantado muito próximo a fonte de ruído. No caso do SESC Vila Leopoldina, não há necessidade de acrescentar uma barreira acústica, uma vez que, conforme analisado ele está recuado das fontes de ruído e, a própria estrutura do edifício em concreto armado aparente e fechamentos em vidro insulado duplo já atuam como isolantes acústicos de forma eficaz. Além de que, a proposta do edifício é que ele seja aberto para a cidade e tenha um térreo de uso público, sem barreiras físicas. Pois, ao se implantar uma barreira, além

108 das questões acústicas é necessário pensar também no seu impacto na paisagem, no entorno, nos acessos, na segurança e na eficiência. Porém, pode se explorar a criatividade aliada a técnica. Resolvida a questão do isolamento dos ruídos externos, é necessário pensar nos ambientes internos, pois como já mencionado, no térreo temos o setor de exposição com pé-direito duplo (8m) e já na parte superior está situado o restaurante. Sendo assim, e considerando que a o edifício possui uma estrutura homogênea é necessário amenizar as transmissões de ruído por impacto utilizando materiais elásticos e duráveis atuantes como isolantes de impacto, entre eles temos: concreto, celular, tecidos, lãde- vidro, pisos elevados, entre outros. Por se tratar de um ambiente de exposição e ter essa característica mais lúdica e, até mesmo para contrapor com a frieza do concreto aparente, a solução adotada será o isolamento de impacto feito com tecidos coloridos


colocados a 0,50cm da laje superior.

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Figura 55.Ruído de impacto sobre piso, entre pavimentos de edifícios Figura 54.Espaço de convivência e restaurante na Praça das Artes, SP. (Brasil Arquitetura)

Outro ponto considerado era que a partir a da abertura da quadra, pudesse aumentar os níveis sonoros de ruídos na área residencial localizada na face posterior do terreno de projeto. Porém, analisando a distância total da principal fonte de ruído, a Rua Major Paladino, até a Rua Galileu Emendabili são aproximadamente 112m e, a própria volumetria do SESC absorve o som e faz com que ele se dissipe antes de chegar a área residencial, sendo assim, os níveis de ruídos sonoros também são satisfatórios.

Figura 56 .Implantação do projeto com pontos de medição.



CONSIDERAÇÕES FINAIS



8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

113

A Vila Leopoldina é um bairro em transformação e crescimento, como exposto anteriormente e, tais mudanças são regidas pelo avanço do mercado imobiliário na área. A cada oportunidade é lançado um novo empreendimento, em sua maioria de alto padrão, trazendo consigo atividades de comércio e serviço voltadas, principalmente para esse público, mas não deixa de trazer melhorias para o bairro como um todo, considerando aspectos de infraestrutura. Por outro lado, as evidentes divisões do bairro tendem a crescer com esses avanços do setor imobiliário, considerando que parte da população local aos poucos vai sendo excluída e tendo que se deslocar para outras áreas da cidade, enquanto outra parcela vai ficando as margens do novo bairro verticalizado.

Enquanto os novos moradores têm a disposição uma gama de atividades de serviços e lazer oferecidas com conforto dentro dos próprios condomínios, cercado por muros, outra parte da população e frequentadores da Vila Leopoldina tem que lidar com a falta de equipamentos públicos, de atividades culturais e de lazer, com os problemas de mobilidade. E nessa somatória, quem perde é a cidade, pois com tal segegação vão se gerando cada vez mais áreas isoladas e inóspitas, propícias ao aumento da violência urbana. Por isso, a importância de vivenciar a cidade, gerar usos e atividades que tragam o convívio, o aprendizado e a vivência do coletivo, a ideia de apropriação do espaço público, rebatendo assim os vazios e a intolerância, pois a cidade é de/para todos.


Sabemos que solucionar os problemas urbanos de grandes metrópoles como São Paulo é uma tarefa árdua que envolve muito além de questões políticas. Porém, é inegável o quanto as políticas de gestões públicas precisam progredir. O SESC hoje é um equipamento social que supre a falta de ação do governo para com o bem estar e formação da população devido ao programa de atividades e serviço que oferece. Ao se propor um SESC como objeto de projeto, idealiza-se englobar em único espaço diferentes atividades que são essenciais para a formação do cidadão, seja através da cultura, da educação ou do esporte e capazes de propagar o convívio e bem-estar social. Mas, se tem clareza que ele por si não é capaz de suprir todas essas as necessidades da população, bem como, sanar todos os problemas da área no qual está sendo inserido. Ao longo do desenvolvimento desse trabalho foram surgindo discussões e

114 indagações referentes aos temas de estudos e, boa parte delas foram aqui apresentadas. Porém, algumas ainda persistem e outras surgem, como por exemplo, se a Vila Leopoldina tem capacidade para suportar as transformações que estão ocorrendo, considerando também a saída do CEAGESP da região e a implantação de habitação de interesse social, proporcionando um adensamento populacional ainda maior e, o quanto isso pode agravar os problemas atuais da área ou trazer melhorias. Para tanto, é preciso acompanhar como essas transformações vão progredir, até quando e como vão se resolver os conflitos atuais, para então se fazer uma análise sobre outro olhar.


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122

Figura 21.Acervo próprio, tirada em 03/11/2015 - Taís Lima Figura 22. Acervo próprio, tirada em 28/05/2009 - Taís Lima Figura 23. Mapa produzido por Taís Lima com base do Mapa Digital da Cidade de São Paulo. Figura 24. http://migre.me/sd3XR - Acesso em: 27/09/2015.

Figura 25. http://www.marcosacayaba.arq.br/imagens/thumbs/fotos/88_11.jpg - Acesso em: 02/10/2014. Figura 26. Acervo próprio, tirada em 03/11/2015 - Taís Lima Figura 27. 27/09/2015.

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123

Figura 35.Mapa do perímetro d eintervenção elaborado por Taís Lima, com mapa do Google Earth -Acessado em 19/10/2015. Figura 36.Mapa de uso do solo elaborado por Taís Lima, com base cartográfico do Mapa Digital da Cidade (MDC) de São Paulo. Figura 37. Google Earth -Acessado em 19/10/2015. Figura 38. Google Earth -Acessado em 19/10/2015. Figura 39. Google Earth -Acessado em 19/10/2015. Figura 40.Plano de massas elaborado por Taís Lima, com base cartográfico do Mapa Digital da Cidade (MDC) de São Paulo. Figura 41. Plano de massas elaborado por Taís Lima, com base cartográfico do Mapa Digital da Cidade (MDC) de São Paulo. Figura 42.Fonte Google Earth -Acessado em 01/03/2015. Figura 43. Acervo próprio Taís Lima - 28/02/2015. Figura 44. Acervo próprio Taís Lima - 28/02/2015. Figura 45. Acervo próprio Taís Lima - 28/02/2015. Figura 46.Mapa de classificação das vias elaborado por Taís Lima, com base cartográfico do Mapa Digital da Cidade (MDC) de São Paulo. Figura 47. Elaboração Taís Lima - Estudo de projeto SESC-Vila Leopoldina. Figura 48. Elaboração Taís Lima - Estudo de projeto SESC-Vila Leopoldina.


124 Figura 50. Elaboração Taís Lima - Estudo de projeto SESC-Vila Leopoldina.Figura 51.Elaboração Taís Lima - Estudo de projeto SESC-Vila Leopoldina. Figura 52.Mapa com locação dos pontos de medição elaborado por Taís Lima, com base cartográfico do Mapa Digital da Cidade (MDC) de São Paulo. Figura 53. Acervo próprio - Foto do aplicativo decibelímetro. Figura 54. www.ecophon.com.es/templates/Print.asp?id=14204&renderoption=5&CurrFName=/templates/ eco_FDPage1.as - Acesso em: 30/10/2015. Figura 55. http://www.arqbacana.com.br/internal/agenda/read/13418/1%C2%B0-arq!tour-pra%C3%A7adas-artes - Acesso em: 30/10/2015. Figura 56. Implantação de projeto SESC Vila Leopoldina, elaborada por Taís Lima. Tabela 1. http://www.redesocialdecidades.org.br/br/SP/sao-paulo/regiao/+vila-leopoldina/unidades-basicasde-saude - Acesso em: 10/09/2015. Tabela 2. http://www.redesocialdecidades.org.br/br/SP/sao-paulo/regiao/+vila-leopoldina/equipamentosculturais-publicos - Acesso em: 10/09/2015. Tabela 3. http://www.redesocialdecidades.org.br/br/SP/sao-paulo/regiao/+vila-leopoldina/equipamentosculturais-publicos - Acesso em: 10/09/2015. Tabela 4. Elaboração Taís Lima - Referente aos níveis de ruídos no entorno do terreno de projeto.




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