ITCProsa - Edição Especial - Mês das mulheres

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edição nº05

AS MULHERES DA ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA Março é considerado o mês das mulheres e, em homenagem ao mês que passou, esta edição do ITCProsa vai falar sobre as mulheres e como elas são fundamentais para a Economia Popular Solidária.


mulheres e o MERCADO DE TRABALHO Segundo dados do IBGE, em 1976 cerca de 29% das mulheres estavam desenvolvendo alguma atividade econômica. Já em 2007, esta porcentagem passou para mais de 40% (considerando a PEA – população economicamente ativa – que inclui pessoas que possuem alguma ocupação ou que então que estão a procura de emprego). Entretanto, este aumento não se fez tão evidente entre as pessoas empregadas e registradas, pois a inserção de parcela significativa do contingente das trabalhadoras no mercado de trabalho, ainda são as atividades informais, pouco ou não remuneradas e o trabalho doméstico.

mulheres e a economia solidária

Jussara Carneiro Costa, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Mulheres, Gênero e Feminismos da UFBA, em seu trabalho Mulheres e economia solidária: hora de discutir a relação! afirma que ao se estudar a composição dos grupos participantes da economia solidária, há uma expressiva participação das mulheres. Segundo dados do Atlas Nacional da Economia Solidária, divulgado pela SENAES no 2007, dos 14.954 empreendimentos até então mapeados, os homens representavam 64% dos integrantes e as mulheres, 36%. Os grupos formados apenas por mulheres equivaliam a 16% do total, enquanto que os constituídos somente por homens chegam a 11%. Já no mapeamento feito em 2013, foram registrados19.708 empreendimentos econômicos solidários no Brasil, sendo que 43,6% das pessoas vinculados a estes grupos eram mulheres e 56,4%, homens. “Entretanto, os indicadores mais importantes para uma análise das relações de gênero no âmbito da economia solidária referem-se ao tipo de grupo no qual a presença das mulheres predomina: elas são maioria nos empreendimentos menores, compostos por até dez pessoas, já os homens são hegemônicos nos empreendimentos com mais de vinte integrantes. Os grupos com menor número de integrantes tendem, via de regra, a funcionar na informalidade; acessam poucos recursos, na maioria das vezes do próprio grupo ou de fundos assistenciais de igrejas ou organizações menos restritivas quanto a critérios de viabilidade do investimento e até mesmo ao monitoramento da aplicação. Em boa parte dos casos, as atividades que desenvolvem funcionam como complemento à renda obtida com outras atividades ou por outros membros das famílias. Mesmo assim, conseguem sobreviver às dificuldades, surpreender na capacidade de serem autogestionários e participar com frequência de organizações III Encontro de Troca de Experiências Entre Empreendimentos de Economia Solidária Gerenciados por Mulheres políticas como fóruns e redes.” Leia o artigo completo em: http://www.revistas.ufg.br/index.php/fchf/article/viewFile/15649/9881

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Fatinha é artesã da Associação dos Artesãos de Viçosa, a ADAV. Para ela, trabalhar com o artesanato é gerar uma fonte de renda enquanto se estimula a criatividade, a produção cultural e também a divisão do trabalho, pois em uma associação tem que se estar disposta a cooperar com o grupo. Ela diz que se envolver com o artesanato e a Economia Popular Solidária trouxe a ela independência, aumento sua auto estima, crescimento e fortalecimento junto ao seu grupo, ela passou a respeitar e a se sentir mais respeitada, e alegria por estar em uma organização que não existe exploração e na qual é possível se renovar e se valorizar sem ter medo. Na Economia Popular Solidária o artesanato é um dos segmentos que no qual mais se predomina a presença feminina.

Bela e Maysa são colaboradoras na Rede Agroecológica de Prosumidores/as Raízes da Mata, que funciona em Viçosa. Maysa acredita que a importância de estar trabalhando com agroecologia e também estar ocupando esses lugares enquanto mulher, é que se percebe que isso estimula muito as agricultoras a se empoderarem e assumirem esse papel também enquanto produtoras e enquanto donas do negócio delas. Para Bela, como nas propriedades o cuidado com o quintal sempre fica mais por conta das mulheres, enquanto as culturas maiores ficam sob os cuidados do homens, então é mais fácil para as mulheres se inserirem nas questões da agroecologia. E como elas encontram na Rede um lugar para poder comercializar, se sentem mais incentivadas a continuar com esse tipo de produção.

Para Isabel, associada da ACAMARE, Associação dos Trabalhores da Usina de Triagem e Reciclagem de Viçosa, a importância das mulheres neste segmento de trabalho aumentou bastante. Para ela, no momento, há uma participação maior de mulheres do que homens na reciclagem. Na ACAMARE, a maioria das pessoas associadas são do sexo feminino, e ela acha que este fato está aparecendo também em outros ambientes de trabalho. Além disso, acredita que as mulheres estão assumindo cada vez mais papéis de poder e responsabilidade em diversos espaços.

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Dona Marlene é agricultora familiar e vive e trabalhaemViçosa. Ela produz de tudo um pouco, frutas, legumes, verduras, hortaliças, e as comercializa na Rede Agroecológica de Prosumidores/as Raízes da Mata. Para ela, a importância do trabalho da mulher na agricultura é a contribuição com a família, porque é um complemento na renda. Nem sempre são contribuições muito grandes, como no seu caso, que só produz e vende em pequena escala, mas já é algo muito importante pois dignifica a pessoa e dá mais valor pro trabalho da mulher no campo. Nem Dona Marlene nem seu marido utilizam agrotóxicos, e segundo ela, sempre foi assim, pois é o jeito deles de trabalhar. Entretanto, hoje, junto com o trabalho na Rede, ela consegue entender a importância de se trabalhar dessa maneira mais saudável, que não afeta nem a sua saúde ou de sua família, nem a saúde de quem irá consumir seus produtos.

Maria do Carmo, Gracinha e Rosângela fazem parte da Associação Quilomba Herdeiros do Bânzo, na cidade de Ponte Nova-MG, uma associação cultural que resgata tradições da cultura a-frobrasileira. Para elas, ser negra é ser uma mulher forte, de raça, de trabalho. É ter que lidar, além de todas as outras dificuldades, com o preconceito. Elas também dizem que trabalhar com a cultura negra nem sempre é fácil, pois em muitos casos falta não só reconhecimento, mas também reconhecimento de identidade. As pessoas não reconhecem aquilo como expressão cultural da região, nem mesmo brasileira. Assumem aquilo como sendo alguma coisa de fora. Para Rosângela, mulher negra aqui em Ponte Nova é muito difícil, significa ter coragem, enfrentar e assumir a negritude.

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CARTAS DAS MULHERES DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: - Trecho da carta escrita no 2º Encontro das mulheres da América Latina e Caribe da Economia Solidária: “Nós, mulheres, que somos a grande maioria na Economia Solidária. Somos negras, indígenas, brancas, jovens, idosas, de todas as crenças e de todos os territórios, reunidas (...) para aprofundar o debate sobre temas comuns da nossa realidade. Estamos todas produzindo ou comercializando coletivamente como catadoras, agricultoras,costureiras, artesãs, cozinheiras, doceiras, pescadoras, sociólogas, educadoras, dentistas, metalúrgicas, tecelãs, outras e até mesmo como Gestoras Públicas. O atual modelo de desenvolvimento é estruturado na exploração do trabalho, nos valores capitalistas, pela apropriação privada de recursos naturais, pela concentração de riquezas e da terra e pela mercantilização da vida. Isto produz discriminação e desigualdades estruturais nas relações sociais entre homens e mulheres e, sobretudo, para as populações negras, indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais, sendo as mulheres e crianças, oriundas desses grupos, as maiores vítimas. Diante disto, reafirmamos a necessidade de políticas públicas estruturantes para um novo modelo de desenvolvimento que possibilite o reconhecimento das mulheres como sujeito político, a importância da sua auto-organização e o fim da divisão sexual do trabalho, que desvaloriza e separa o trabalho das mulheres em relação ao dos homens.”

- Trecho da carta escrita no 3º Encontro das mulheres da América Latina e Caribe da Economia Solidária: “A economia solidária é uma prática, econômica e social, que se estende pelo mundo inteiro, sendo a América Latina uma das regiões onde mais vem se desenvolvendo, produzindo experiências alternativas, que se contrapõe à lógica excludente do sistema neoliberal e do mercado capitalista. E nós, mulheres, estamos na base desta construção, no campo e na cidade; na agricultura; na produção e nos serviços; ligadas às nossas comunidades e à movimentos diversos, gerando alternativas - não apenas econômicas mas também de inclusão social e de sustentação da vida, em todas as suas dimensões. (...) Como mulheres, valorizamos o trabalho reprodutivo e o cuidado com nossas famílias e nossas comunidades. Sabemos da importância deste trabalho para a sustentação da vida e queremos que seja reconhecido, valorizado e transformado em ações sociais e políticas públicas. Como mulheres, temos sofrido com a desigualdade, a discriminação, a violência, que nos anulam, nos invizibilizam, despotencializando nossa capacidade e reproduzindo um mundo onde somos consideradas cidadãs de segunda categoria em muitas dimensões. A economia solidária tem sido um espaço importante de busca de alternativas, de nossa autonomia econômica, de revelar nossa capacidade produtiva, de nos afirmar como trabalhadoras e como construtoras de um mundo novo, baseado na cooperação, na autogestão e na solidariedade.”

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Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares Casa 3, Vila Matoso Campus Universitário, UFV Viçosa - MG CONTATO: (31) 3899-2798 itcpufv@gmail.com www.itcp.ufv.br

/itcpufv2003

produção deste material Alvino Amaral Marcela Oliveira Taís Pires

DIAGRAMAÇÃO Taís Pires

REVISÃO E COORDENAÇÃO DO PROJETO Bianca Lima Costa

PROEXT

Programa de Extensão Universitária

PEC

Pro-reitoria de Extensão e Cultura


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