Projeto de Graduação Tamara Clemente

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SUTURAS URBANAS _Regeneração da Identidade Territorial_

Tamara Silva e Clemente


apresentação 00

Baseando-me em uma percepção construída ao longo dos anos, e de contínuas discussões sobre a cidade, venho através desse projeto de graduação tentar responder aos meus anseios de realçar as nuances do território capixaba, suas qualidades e potenciais de desenvolvimento. Ao traçar os limites da minha intervenção, do Forte São João a Rodoviária de Vitória (incluindo o bairro Ilha do Príncipe), minha atenção foi bastante tomada pela relação da água com o bairro, um elemento tão próximo e valioso que se encontra atualmente excluído do cotidiano da cidade, assim como o valor histórico e outros potenciais. Neste plano urbanístico busco “recosturar” partes do tecido urbano que hoje se encontram deteriorados e fragmentados conferindo qualidade. Foquei-me em fundir mais os espaços e tornar visível a água nos espaços públicos e atividades cotidianas. Não apenas como paisagem, mas também como local de atividades e apropriações.


.introdução 01.


.introdução 01. O objetivo da minha intervenção é atingir identidade e qualidade de vida. Identidade é algo que tanto o Centro quanto seus bairros adjacentes já possuem, portanto não pretendo criá-las ou reinventá-las e sim torná-las visíveis a população de forma nítida. E em conjunto com a identidade agregar qualidade de vida. Há muitos pontos que definem qualidade de vida, mas estarei frisando na qualidade de espaços, em abrir ao público o que é seu. Fornecer uma base estruturadora que permita a apropriação natural e fluida do local. Há muito que ser feito, muitos planejamentos a serem aplicados no Centro para consolidar o bairro como local de uso comum e sua volta ao público. Muitos desses planejamentos dependem de incentivos governamentais, investimentos públicos e privados para que se concretizem. Portanto o planejamento arquitetônico e urbano vem como um primeiro passo e fator instigante de uma mudança maior. Deixo claro que com este projeto não almejo um retorno pleno da centralidade para o Bairro. Não é objetivo criar competição entre as diversas áreas da cidade e sim um caráter de complementação entre as mesmas.


.introdução 01. Meu ponto de partida veio da óbvia conexão da cidade com o mar, componente prioritário nas características de Vitória. A primeira percepção que tive é que apesar da proximidade física o cotidiano do capixaba está cada vez mais distante do contato com o mar. E o exemplo que me despertou para isto foi o Porto de Vitória, um ponto de transição no desenvolvimento da cidade, que atualmente transmite a sensação de confinamento, uma barreira entre a cidade e a água.

Uma atividade que proporcionou o crescimento e desenvolvimento econômico de Vitória, ao mesmo tempo bloqueou, em conjunto com trânsito, esse contato direto com a paisagem através da configuração de suas instalações. A altura dos armazéns, sua disposição na margem da baía e o acesso restrito aos mesmos afastam a população da água, da paisagem e também das atividades que ali se passam. A atividade portuária possui uma dinâmica interessante a ser acompanhada e deveria se unir ao território, se mesclar a paisagem e não bloqueála.


.introdução 01.

Outro ponto importante para resgatar a vitalidade do bairro é recuperar seus elementos históricos, percursos e funções. Permitindo que o espaço se transforme para se adaptar as necessidades atuais, e continue se desenvolvendo, porém sem renegar a sua história. Pode-se chamar de amarração dessa interação a reestruturação do sistema viário, possibilitando a exploração do território, interligando áreas atualmente de difícil acesso e focando sempre no transporte coletivo e no espaço público, ou seja, ampliando a acessibilidade e mobilidade urbana.


.primeiras impress천es 02.


.primeiras impressões 02.

Será que a cidade está preparada e tem a capacidade de suportar tamanho crescimento, resultante dos grandes (atuais) investimentos multi-setoriais, ou a mesma deve ser tão modificada em função de um “boom” econômico? O aumento de massa, de certa forma, não descaracterizaria o local?Não o colocaria como um item de fabricação urbana, um segmento de cidade que vem seguindo um modelo, dispensando os cuidados com sua identidade e história e qualidade de vida?


.primeiras impressões 02. Qual seria o futuro da cidade caso ela fosse aumentada “deliberadamente”, sendo enxertada com construções de empresas e moradias, aglomerando pessoas e as obrigando a uma convivência tão próxima que pode beirar o sufocamento?

Como pensar a expansão da cidade sem antes repensar o território que está “esquecido” e paralisado há tempos?


.a cidade 03.


.a cidade 03.


1924 - Cidade Alta


1928 – Avenida Jerônimo Monteiro


1940 – Vila Rubim


1960 – Baía de Vitória


1952 – Esplanada Capixaba


1970 – Esplanada Capixaba


1982 – Rodoviária de Vitória e Segunda Ponte



.ocupação do território 04.


OCUPAÇÃO TERRITORIAL


OCUPAÇÃO TERRITORIAL


.ocupação do território 04.

Como tornar esse espaço novamente interessante? Onde buscar atrativos?

Novas centralidades emergentes na periferia provocam ou não a fragmentação na cidade?


. o porto 05.





. o centro 06.


.o centro 06. As diversas modificações moldaram o Centro no que ele é hoje, com desaparecimento de atividades locais, grandes modificações, destruição e esquecimento do patrimônio em meio a uma confusa ocupação. O comércio se desenvolveu na parte baixa, pela oferta de serviços coletivos na área, como por exemplo, transporte. A Cidade Alta, além do Viaduto Caramuru (déc. 20) construído para melhorar o deslocamento de bondes (atualmente desativados) e atender a população, só veio receber transporte coletivo em 1999 com a implementação de microônibus. O Centro hoje perdeu seu status exclusivo de oferta de bens de consumo e com o deslocamento das pessoas para outras áreas da cidade perdeu também sua heterogeneidade e caráter agregador. Não é para tomar como partido que o centro não possui suas atividades próprias e circulação de pessoas, mas a visão geral do bairro atualmente foca na precariedade e desconforto causados pela sua configuração carregada e confusa.


.o centro 06.

PRESENÇA DA ÁGUA


1940 – Avenida Jerônimo Monteiro


2009 – Avenida Jerônimo Monteiro





.ilha do prĂ­ncipe 07.


.ilha do príncipe 07. Antigamente uma ilha, o local sofreu vários aterros para atender as necessidades de ligação entre Vitória e o continente (Vila Velha), devido as atividades portuárias. Os aterros prosseguiram ao longo dos anos, abrindo espaço para implantação da rodoviária, próxima a Ilha do Príncipe e pela necessidade de aplicação de saneamento da área que era utilizada como depósito de lixo. A Ilha do Príncipe é um local que possui uma ocupação desorganizada, com ruelas e becos entre as casas, situação que em alguns momentos causa a dúvida se estamos passando por uma área pública ou se estamos adentrando as casas dos moradores. Um local com construções que “sobem” umas nas outras e com pouca infra estrutura de serviços e quase nenhum espaço público para apropriação dos moradores, a região tem a possibilidade de um contato direto com a Baía de Vitória não fosse o muro que separa bairro e espaço cedido a empresas, como Flexibras.


.ilha do príncipe 07.

No “topo” do bairro algumas das ruas são mais largas e a aparência das casas leva a acreditar em uma infra-estrutura melhor para essa secção. O único local que se configura como praça é o terreno de uma igreja, mas que se encontra cercado por casas desordenadas, as quais impedem uma melhor visualização do morro da Fonte Grande, e não possui equipamentos para uso da população, limitando apropriação. O bairro apesar de ter sido agregado ao território através de aterros está segregado da cidade, pois é cercado por muros e pela avenida que cortam bruscamente esse contato com seu movimento viário e sua configuração confusa e depredada.




.outras รกguas 08.


.outras águas 08. Diferentes lugares do mundo apresentam o mesmo tipo de problema. Áreas urbanas, centrais, que sofrem deslocamentos, causando desvalorização e abandono das suas antigas centralidades. Essas se tornam um problema para o funcionamento da cidade pelo acúmulo de questões sociais e de infra-estrutura que pedem uma imediata reestruturação. Uma nova forma de pensar e projetar vem se consolidando nas últimas décadas. O resgate dessas áreas e implantação de novos usos se tornou primordial para reurbanização de cidades que buscam ser o foco de investimentos e requalificação. Em cidades portuárias, as frentes marítimas vêm sendo destacadas, como por exemplo, Baltimore, Boston e mais recentemente o Rio de Janeiro, com a estratégia de resolver as problemáticas e quebrar o “vício” de configuração sofrido com o passar dos anos.


.outras águas 08. A colaboração entre poderes público e privado em conjunto com a comunidade direcionam programas para novas ações que irão desenvolver áreas culturais, habitacionais e econômicas. Para se adequar aos parâmetros atuais, esses locais têm que se restabelecerem com importância, muitas vezes, global.

Em muitos casos o turismo é foco para revitalização. Em busca do lazer e de implantar o consumo e a cultura, as frentes marítimas são transformadas em cenários que atraem crescimento econômico e interesse do público, também com a ajuda de obras imponentes e assinadas por arquitetos conhecidos mundialmente, como a Opera House de Sidney, o Museu Guggenheim em Bilbao.


.outras águas 08. A abertura de shoppings, bares e restaurantes também se tornaram especialidades desses projetos, implantados de forma compatível com o lugar, como os cafés e praças de configuração bucólicas na Europa.


.outras รกguas 08.

BALTIMORE


BOSTON


BOSTON


.intervenção 09.


.intervenção 09. O deslocamento de serviços e residências para outras regiões de alguma maneira “sugou” o movimento e moldou os hábitos dos moradores. Modificações feitas ao longo dos anos com caráter reparativo e emergencial, não previam o planejamento futuro, resultando na má conservação e indefinição aos olhos da população. Hoje formam a imagem do centro os diversos comércios que poluem a imagem das edificações. Essas edificações em muitos casos já perderam seu “valor patrimonial” por não guardarem a memória de forma conservada e também não conseguem se adaptar a dinâmica atual por não receberem o tratamento e reforma necessários para essa transição.


.intervenção 09. O comércio precisa receber diretrizes para que a ocupação não seja desordenada, continuando a invadir as calçadas e empurrar as pessoas para a rua, resultando em toda a confusão visual. Com o planejamento para atrair novas atividades, o Centro poderá voltar a se conectar com os bairros que o rodeiam e que detêm de maior visibilidade atualmente. A reabilitação de elementos com potencial, porém subutilizados, resgatam a história da cidade, mas com usos reformulados, colocando o bairro de volta a um convívio público mais abrangente.


Escadaria S達o Diogo


.intervenção 09. Apesar de suas diversas atrações naturais, elementos históricos e estéticos, Vitória não conseguiu se consolidar como um foco turístico. A falta de investimentos e planejamento estrutural são problemas que impedem este desenvolvimento. A cidade está localizada no pólo de circuitos culturais e turístico e apesar disso não está inserida em tais atividades. A cidade contemporânea busca sair da artificialidade dos traçados em busca da liberdade de uso, percepção, apropriação. Procura agregar o cotidiano, a realidade social a necessidade de vazios e descanso. Em alguns casos a rigidez afasta, segrega, define a massa que se abriga em um espaço. Os parênteses no tecido urbano são incessantemente trabalhados para se inserirem novamente na centralidade, consequentemente caindo na cenografia que exclui o que os mantêm funcionando, o cotidiano, substituindo o por agentes artificiais.


Vista da cidade de Vitoria (ao fundo) a partir da margem de Vila Velha.


Vista da Ponte Florentino Avidos a partir do Museu Ferroviรกrio


Porto de Vit贸ria


.intervenção 09. Esses espaços parênteses são tratados como espaços de fluxo viciado onde o usuário, passante, guarda em memória uma pré definição de uma imagem congelada sempre associada a este não lugar. São frames que predefinem um espaço sem aprofundamento. Não há exploração da identidade. É preciso percorrer um território para conhecê-lo, para agregá-lo e complementá-lo, porém o medo do estranho, do diferente, atrasa esta experiência.

Os vazios, os não lugares, segundo Solá Morales são locais esquecidos, presos em uma história, em um período de tempo que se tornam obsoletos e não tem afinidade com o restante da cidade e suas atividades. São corpos estranhos. A intervenção apresentada neste trabalho consiste em pegar o bairro do Centro, um parênteses na história atual, e instigar as experiências e vivências com liberdade e qualidade de vida.




.intervenção 09. A intenção é novamente trazer o Centro para um público diversificado e sem estigmas, onde a relação lugar-usuário seja algo natural agradável com equipamentos que abasteçam a toda a cidade e propiciem a apropriação. As pessoas poderão tirar proveitos destes equipamentos disponíveis além de ter a oportunidade de usufruir de um espaço de qualidade, que atualmente é desconhecido para muitos. A água é um dos mais fortes pontos desse trabalho. Pretendo trazê-la de volta para a cidade. Resgatando sua utilização para transporte e lazer e demarcando para conhecimento da população seu antigo traçado Por toda trajetória o objetivo é abrir espaços, mostrar o Centro, trazer qualidade para seus usuários e atiçar a circulação de pessoas que hoje em dia não o conhecem. Deixar sempre a possibilidade da reação do local à ação do usuário, tentando sempre evitar que a estrutura se torne novamente engessada e dificulte a inevitável variação que surge com a apropriação.


MAPA DE RECONHECIMENTO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO


.o projeto 10.


.o projeto 10. No desenvolvimento do projeto para essa área me preocupei sempre em manter as características do bairro, adicionando elementos que venham a dar mais destaque. Porém não vejo esses elementos como grandes alegorias, mas sim equipamentos que atendam a população e instiguem a apropriação do espaço de forma fluida e individual, cotidiana e também prazerosa. Cada usuário fará seu reconhecimento do local e se utilizará do mesmo a partir de suas sensações formando um espaço heterogêneo através das particularidades das pessoas e as histórias que carregam. É um espaço para a cidade, que contempla as necessidades da região do Centro, como transporte e serviços e incentiva os moradores de outros bairros de Vitória a se apropriarem também, através do destaque dado ao patrimônio, a cultura e lazer além dos serviços providos, o que consequentemente atrairá investimentos e desenvolvimento interessantes a visitantes externos.


.o projeto 10.

O contato com a água é outra preocupação presente neste projeto. O objetivo é que as pessoas vivenciem esse contato de perto, de forma coletiva e individual, reconheçam pelo território as antigas margens e utilizem-se das atuais com reformulação proposta para o local. Que a água não se resuma a frames, e que suas atividades e interação com a cidade sejam reativadas em sua totalidade. Lembrando sempre que este trabalho se trata de um plano de base para o processo de reestruturação para a área em questão. Com diretrizes que objetivam impulsionar a renovação.



.o projeto 10.

O projeto viário serve como conector das intervenções realizadas neste plano, e com a devida reestruturação farão parte, de forma efetiva, da cidade. Como o trânsito é um dos principais fatores de ruptura no Centro, a proposta é reestruturá-lo tornando-o eficiente, mas sem o impacto físico e visual que apresenta atualmente. O objetivo é incitar o uso de transporte público de qualidade na região, assim como na cidade como um todo. Todos os modais propostos se conectarão tanto em suas estações e terminais quanto pelo estabelecimento da tarifa unitária para utilizá-los.

VIÁRIO


Trรกfego na Avenida Beira Mar






.o projeto 10. As duas principais avenidas, Beira Mar e Jerônimo Monteiro, serão “aliviadas” do fluxo intenso de carros e ficarão restritas a passagem de veículos de transporte coletivo e veículos particulares que se destinem ao bairro. Os demais veículos que hoje utilizam tais avenidas como área de transição, serão deslocados para o túnel, por onde também passará o metrô. Essas duas avenidas agora formam um binário, como pode ser visualizado no mapa viário. O VLT passará pelas avenidas principais distribuindo os passageiros para o interior dos bairros em micro-ônibus, bonde, sistema público de bicicletas. O bonde é um resgate de um meio de transporte antigo O sistema público de bicicletas colocará a disposição dos cidadãos, através do pagamento de tarifas, postos de bicicletas pela cidade para facilitar a locomoção.

VIÁRIO


.o projeto 10.

O transporte aquaviário agrega importantes valores ao novo sistema viário, facilitando o contato com a margem de outros municípios e agilizando o deslocamento também em Vitória. Além de ser um valioso resgate do contato com a água no cotidiano dos habitantes da cidade.

Os catraieiros por sua vez receberam portos de atracamento mais bem preparados e destacados, dando assim sua devida importância.

VIÁRIO


Imagem de catraieiros na Ba铆a de Vit贸ria


Vista da Avenida. Esquerda: Pal谩cio Anchieta, Direita: Porto de Vit贸ria


Foto montagem referente a nova implantação


Corte esquemรกtico referente ao sistema viรกrio proposto


Viaduto Caramuru


Viaduto Caramuru – Croqui de implementação do bonde


5 2 4 1

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.o projeto 10.

Após a análise da Ilha do Príncipe percebi que o estreitamento físico criado pelos aterros só ajudou para o afastamento maior do bairro com a cidade como um todo. A retirada da Flexibras também facilita essa aproximação e aumenta o território do bairro propiciando uma ocupação, desta vez, ordenada, para movimentar o espaço com novas residências, serviços e comércio para a cidade.


Vista da Flexibras


Vista da casa de uma moradora d Ilha do PrĂ­ncipe


.o projeto 10.

Todo o entorno da ilha foi planejado para garantir apropriação plena tanto da água quanto do território. Um contraste com a densa ocupação do bairro é a nova visão e contato com a água e vegetação disponibilizadas para tornar o espaço mais apropriado, estreitando o contato com bairros adjacentes como o Centro e Santo Antônio e também com a margem a frente de Vila Velha. A ilha será toda conectada por pontes em sua maioria prioritárias para pedestres e transporte coletivo.


Zoom do mapa de setorização na região da Flexibras


1 Zoom do mapa de intervenção na região da Flexibras


.o projeto 10.

A Vila Rubim mantém seu mercado original, porém recebe uma reestruturação espacial mais agradável e com maior variedade de usos. A Rodoviária foi agregada ao território da ilha e recebeu também nova configuração em sua edificação e dinâmica, abrindo espaço em uma região privilegiada para novos usos como hotel e comércios. Com a verticalização da edificação da rodoviária abre-se espaço para comercio e áreas de lazer em seu entorno

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1 Perspectiva da Ilha do Príncipe e Rodoviária


Ilustração da implantação futura da rodoviaria. Projeto: Villa Ordos 100 – RSVP - China


.o projeto 10. O maior receio para essa requalificação da Ilha do Príncipe era que as modificações não gerassem pré-requisitos para uma expulsão de seus moradores, frutos de uma forte especulação imobiliária. O objetivo é abrir o espaço da cidade trazendo serviços e usos atrativos a todos, mas que possam mesclar com o cotidiano dos moradores e incluí-los nas interações. Após muitas dúvidas cheguei à conclusão que um uso de maior destaque como a implantação de um Centro de Dança e Música, que possa receber apresentações de grande porte em conjunto com oficinas para a população, não só da Ilha do Príncipe, mas dos demais bairros que o cercam e que carecem de investimentos seria uma boa resolução. Isso geraria empregos na região com o surgimento de serviços complementares e ao mesmo tempo em que chamará a cidade a se apropriar do espaço estará prestando um serviço para a comunidade local, que é de baixa renda. Além de fazer um complemento de cultura com o Museu Ferroviário, em Vila Velha, que compõe a vista da ilha.


Imagem referente ao Centro de Dança e Música na Ilha Do Príncipe


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Vista da reconfiguração da Ilha do Príncipe. Vila Rubim à direita


.o projeto 10.

Adjacente a Santa Casa estão quadras que intercediam a frente marítima e o Parque Moscoso, com potencial para receber novos usos e requalificar-se. Neste “miolo” a proposta é aproveitar os edifícios com valor histórico, renová-los e criar uma galeria com lojas, restaurantes espaços culturais, cinemas que se estendam por toda a rua. Incluído nesta intervenção e posicionando-se como um marcador deste uso estão os silos dos Moinhos Buaiz,que neste projeto cede seu espaço industrial ao convívio público. A via torna-se de circulação preferencial ao pedestre.


Simulação das Galerias próximo ao Parque Moscoso


Canal entre o Porto de Vit贸ria e Pal谩cio Anchieta


.o projeto 10.

O Porto de Vitória é motivo para intermináveis discussões quanto ao seu futuro. Continuará o porto exercendo suas atividades nessa área ou não? O que pretendo, no entanto, é mantê-lo preparado para que tais atividades aconteçam, mas interagindo com o espaço que ocupa e não o bloqueando. Se o porto está na cidade nada mais certo que integrar-se a ela. Sendo assim proponho a demolição dos armazéns 2, 3 e 4 abrindo a visual, contato e espaço público para a cidade. Os demais armazéns, 1 e 5 irão serão estruturados para abrigar a parte logística e administrativa do porto e receber atividades culturais, respectivamente.


Exemplo da barreira criada pelos armaz茅ns do Porto de Vit贸ria


Frente Marítima exemplificando a falta de contato entre água e território


Frente Marítima com vista para o Armazém 5 do Porto de Vitória


Interior de um dos armazĂŠns do Porto de Vitoria


.o projeto 10. Ao longo da atividade portuária uma nova área pública se forma em plataformas, com movimento em seu traçado, que induzem a apropriação livre, para contato mais individual com a água ou para atividades que interajam tanto com o mar quanto com a cidade além dos serviços que se desenvolverão tanto nas plataformas quanto as margens da mesma. A paisagem antes fragmentada agora se mostra plena, sem muros. Para manter essa interação desejada no espaço, as plataformas são desenhas de forma que suas edificações que abrigam serviços surjam da superfície sem atrapalhar o visual e permitam total apropriação pelo passante. Os serviços virão complementar a apropriação voltada para o lazer e também para atender o Terminal Intermodal que se localizará nesse espaço e abastecerá o bairro e também a cidade com diversidade de meios de transportes que interagem entre si.


Vista dos ArmazĂŠns 5 e 1 (ao fundo)


Vista do ArmazÊm 5 – Terminal Intermodal


Vista do Armaz茅m 1 do Porto de Vit贸ria


Vista do Armaz茅m 1 do Porto de Vit贸ria



.o projeto 10.

Complementando a rede de transporte que atende a cidade é projetado na área um Terminal de Passageiros, que permitirá que os navios de cruzeiros tenham uma área exclusiva e preparada para receber a função. Além disso, o desembarque acontecerá diretamente em um eixo que se conecta com as principais atrações históricas e culturais do Centro, regados por transportes públicos que agilizam o acesso.


Terminal de Passageiros


.o projeto 10.

Essa região depara-se também diretamente com a Esplanada, local que será descrito a seguir e que tem como característica a intenção de verticalização para receber atividade empresarial e usos complementares como restaurantes e lojas. Sendo assim, vejo este local ideal para abrigar um Centro de Convenções.

A idéia do Centro de Convenções surgiu por acreditar que o mesmo por receber conferências e eventos que reúnem pessoas vindas de diversas áreas deve ser implantado em um local significativo para a cidade e ser tratado de forma a contemplá-la, enriquecê-la e também divulgá-la. Com instalações próprias para os eventos que abrigará em conjunto com uma área pública, acontecendo no pavimento térreo, aproximará o usuário do espaço do entorno.


Terminal de Passageiros e Centro de Convençþes


- Ilustração da intenção formal para o Centro de Convenções. Projeto: Pavilhão Austríaco Shanghai Expo 2010


- Ilustração da intenção formal para o Centro de Convenções. Projeto: Pavilhão Austríaco - Shanghai Expo 2010


.o projeto 10. O que fiz neste projeto foi destacar um percurso principal que detém de vários destes elementos tornando-os mais acessíveis e agradáveis ao público. Para melhor mostrar estes percursos e eixos descreverei alguns dos mesmos a seguir. Começando pelo “Eixo Moscoso” que conecta o Porto de Vitória ao Parque Moscoso através da Avenida República. O entorno do parque era ocupado em sua maioria por residências nobres, atualmente substituídas por edificações multifamiliares. A próxima parada é o Palácio Anchieta, sede do governo do Estado, construído no século XVI pelos jesuítas para abrigar o Colégio Santiago. Na lateral do Palácio Anchieta, separados por uma praça atualmente tomada por carros que ali estacionam, está o Palácio Domingos Martins, antiga sede da Assembléia Legislativa.


Vista do Palรกcio Domingos Martins


Imagem da praรงa ao lado do Palรกcio Anchieta tomada por carros


.o projeto 10.

O percurso segue pela Rua Pedro Palácio e chega à Escadaria Maria Ortiz, assim nomeada para homenagear a mulher homônima que, junto com outros moradores, articulou resistência à invasão holandesa. O local, antigamente conhecido como Ladeira do Pelourinho foi substituído pela escadaria em 1924. Com localização privilegiada forma mais um importante eixo destacado neste trabalho. Do topo da escadaria até a Praça Oito tem-se um agradável e bucólico ambiente cercado por edificações que molduram a paisagem voltada para a Baía de Vitória. Ambiente este, ideal para uma área de lazer com bares e restaurantes que atendam a vida diurna e movimentem a vida noturna com interação social e cultural (ver croqui nº3) que se expandam até a frente marítima.


Escadaria Maria Ortiz


Esquema Maria Ortiz – referente a proposta de nova apropriação do espaço


Croqui Escadaria Maria Ortiz


Foto montagem Escadaria Maria Ortiz


.o projeto 10.

Neste mesmo trecho está a Catedral Metropolitana, parte do circuito histórico proposto. A primeira matriz da igreja foi construída em torno de 1550 e demolida para erguer uma edificação mais imponente para receber a Catedral. Sua construção iniciada em 1920 durou 50 anos e tem caráter eclético com traços de arquitetura gótica, inspirados na catedral alemã da cidade de Colônia. Essa é uma área que durante a semana fica visualmente conturbada e de difícil acesso pelos inúmeros carros que estacionam ao seu redor, escondendo a importância desta praça e da edificação que poderiam ser apropriadas mais efetivamente pela população.


Praรงa em frente a Catedral Metropolitana


Catedral Metropolitana


.o projeto 10. A Praça Costa Pereira é provavelmente o núcleo do circuito histórico por ser um dos pontos mais conhecidos do Centro de Vitoria e além de sua própria importância abriga em seu entorno o Teatro Carlos Gomes e o Teatro Glória, que está sendo renovado para receber o SESC em suas instalações. Com o tempo, a modificação dos usos, a intensificação do comércio e o constante fluxo da Avenida Jerônimo Monteiro reduziram bastante esse caráter de lazer. Hoje há muita confusão de veículos, publicidade de comércio e edifícios que dificultam a utilização da praça como área de lazer e permanência. Além de esconderem um dos mais importantes eixos traçados O “Eixo7 de Setembro” é de suma importância para o Centro, mas necessita de uma repaginação para melhor atender a população e reconectar o espaço com a frente marítima. Proponho, assim, a demolição de alguns edifícios e tratamento de outros que evidenciarão essa idéia.


.o projeto 10. Contornado a praça e subindo novamente para a Cidade Alta está o Convento de São Francisco com o esqueleto do átrio, não finalizada, possui estética e espaço para abrigar usos que movimente e chamem atenção para o local, com o cuidado de não comprometer seu caráter histórico.


.o projeto 10. Finalizando, há a Avenida Jerônimo Monteiro, um eixo marcante no bairro que abriga diversas edificações importantes para a cidade, mas hoje caracteriza-se apenas pelo corredor de passagem de carros, anúncios e propagandas que poluem o espaço seccionando o bairro de maneira brusca, deterioram as edificações, impedindo sua apropriação.


Detalhe de fachada desconfigurada na Av. Jer么nimo Monteiro


.o projeto 10. As cidades carregam em seu piso e edificações sua história. Berlim por exemplo, tem marcado na rua, em meio ao asfalto o limite do muro que separava a cidade em Oriental e Ocidental. A barreira não existe mais fisicamente, porém a marca no piso ilustra a história ao percorrer a cidade, com carga sentimental, impedindo que seus moradores se esqueçam dessa época e repassando para os turistas sensações não vivenciadas através livros e fotos. O resgate que pretendo é evidenciar a ligação da água com a identidade e história da cidade. É trazer de volta a antiga margem do território propondo a instalação de um feixe metálico que percorra as ruas e mostre para as pessoas de forma sutil o antigo contorno. Despertando a curiosidade e sensações ao transitar pelo espaço.


.conclus達o 11.


.conclusão 11. O território possui a capacidade de se reinventar e de se adaptar, é importante garantir que esse processo aconteça de forma saudável, oferecendo uma plataforma para que o mesmo não se consuma instantaneamente e sim cresça e se desenvolva. Esse trabalho foi realizado com o intuito de iniciar o processo de regeneração do tecido do Centro de Vitória. A análise do território me fez chegar à conclusão que para iniciar esse processo de regeneração seria necessário trazer para o local algo que representasse sua identidade e o distinguisse. Os pontos destacados foram a presença da água, paisagem e elementos históricos e culturais, extremamente fortes no bairro e ainda assim extremamente negligenciados. Um trabalho de graduação dificilmente não irá tomar um rumo de análise pessoal. O envolvimento adquirido durante o processo do trabalho torna, praticamente, impossível que isso não seja aparente no projeto. Posso concluir que coloquei nesse projeto minhas impressões e sensações sobre o Centro, apresentando uma base plausível de um desenvolvimento saudável e apropriado para o local.


Agradeço ao meu pai, pois tudo o que realizo é graças ao seu apoio e carinho. Por estar sempre ao meu lado me ensinando e me ouvindo. Minha mãe pelo amor e também pelo apoio diário. À minha irmã, amiga e companheira. Ao Bruno pela companhia e carinho e por dividir momentos tão bons. Aos meus amigos tenho muito que agradecer já que compartilharam comigo experiências e fizeram de cada momento os mais incríveis possíveis. “Os Menino”: Karlão, John e Semáforo, Fernandinho pelo o que ensinaram e dividiram comigo. A partir de vocês a arquitetura se tornou mais “real”. Luila grande e querida amiga de uma vida inteira. Luena, amiga maravilhosa. A convivência através da faculdade me trouxe uma amizade que vai pra sempre comigo. Ao Rafael, dividimos até a fatídica experiência de pg e me ajudou muito. Gabriel, grande amigo que me ajudou e até salvou para concluir esse trabalho.

A todos com quem convivi e que continuarão comigo após essa etapa:, Michel, Uai, Jey, Janaína, Junim, Mirella e Giovana. Reinaldo pela amizade e orientação. Gerhardt amigo mais que querido e de sempre. Rogério por orientar e conversar de forma amiga abrindo meus olhos a questionamentos e me guiar na realização desse trabalho.


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