06. Soldier Snow Leopard - Protection Inc. - Zoe Chant - Exclusive Books

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Staff Tradutora. Keyla Y. Revisora/Leitura Final: Caroline Formatação: Andreia M.


Justin não consegue sentir nada. Literalmente. Sequestrado, torturado e transformado em uma besta por uma agência secreta de operações secretas, suas emoções foram arrancadas para tornálo o perfeito assassino. Agora ele usa seus superpoderes para caçar os cientistas que o quebraram. Ele não se importa que sua missão signifique sua morte. Ele não pode se importar. Até que ele a encontra. A shifter Leopardo da Nev Fiona é a espiã perfeita ... porque ela tem que ser. Ela nunca pode deixar sua guarda cair, nem mesmo com seus amigos mais íntimos. Ninguém pode aprender seu terrível segredo. Especialmente não o herói ferido e misterioso que seu leopardo insiste dizer ser seu verdadeiro companheiro ... Quando seus caminhos se cruzam durante uma missão perigosa, Fiona não pode deixar Justin para enfrentar o perigo sozinho - ele pode lidar com qualquer ameaça, mas ele não vai cuidar de si mesmo. E fingir ser um casal em lua de mel é a história de capa perfeita para o seu perigoso jogo de gato e rato no glamoroso Carnaval de Veneza. Mas como eles se protegem de riscos menos mortais, não é só Justin correndo o risco de começar a sentir de novo ...


Justin Justin Kovac estava sentado em um carro estacionado ao lado de uma solitária estrada rural, preparando-se para rastrear seu inimigo. O céu parecia fechado como aço, e estava da mesma cor. As árvores sem folhas pareciam o arranhar de garras. Granizo sacudia e empilhava na terra escura. Quando o olhar de Justin foi para o espelho retrovisor, ele viu um rosto que combinava com a paisagem incolor: a pele pálida como as pedras de granizo, os olhos e os cabelos negros como lagos no inverno. Maçãs do rosto afiadas. Uma boca que esquecera como sorrir. Ele mal podia ver um traço do homem que ele tinha sido um dia. Aquele homem, cujos amigos o chamavam de Red (Vermelho), ria e brincava ao longo da vida. Ele amava sua equipe e sua vida na Força Aérea. Ele acreditava que daria a vida para salvar seus amigos. Então ele e sua equipe foram sequestrados pela agência de operações negras chamada Apex. E ele aprendeu que não bastava apenas estar disposto a dar a sua vida. Os bravos homens e mulheres que haviam sido capturados com ele haviam morrido tentando salvá-lo, deixando-o como único sobrevivente. E então, não havia nada entre ele e a Apex. Apex fez dele um shifter. Foi dado a ele poderes especiais. E tirado tudo que o fez quem ele era. Ele perdeu seus amigos. Sua carreira. Sua honra. Sua integridade. Sua esperança. Sua risada. Até a cor dos seus olhos. Ele se tornou o sujeito Sete, seu rato de laboratório. E o assassino deles. A única coisa que Apex foi incapaz de tirar dele era seu desejo pela liberdade.


Agora ele tinha sua liberdade. E ele não tinha ideia do que fazer com ela. Eu tenho uma ideia, sibilou seu leopardo da neve. Nós deveríamos caçar. — Você leva tudo tão ao pé da letra. — Justin falou em voz alta. Sua respiração nublando no ar gelado. — Eu quis dizer que não sei o que fazer com a minha vida de agora em diante. Mas seu leopardo da neve estava certo. Uma base da Apex foi destruída quando ele se soltou, mas ele sabia que havia pelo menos mais uma restante. Ele não sabia onde estava, assim como não sabia do paradeiro atual dos agentes sobreviventes da Apex da base onde ele havia estado preso. Mas ele iria descobrir. — Apenas um. — Um fluído de névoa flutuou dos lábios de Justin enquanto ele falava. — Bem, eu posso rastrear apenas um deles com o meu poder. Você deve encontrá-los todos, sibilou seu leopardo da neve. Encontreos e mate-os! — Estou trabalhando nisso. — Quando Justin estendeu a mão para empurrar uma mecha de cabelo dos olhos, seu braço roçou o metal frio da maçaneta da porta. Instantaneamente, sua mente o transportou para uma de suas lembranças. O metal da mesa do laboratório estava gelado contra sua pele nua. Ele estava amarrado, com o conjunto usual de sensores ligados ao seu corpo. O Dr. Attanasio aproximou-se dele com uma seringa cheia de líquido azul-esverdeado. — O que é isso? — Justin perguntou, fazendo o melhor para manter a voz firme. — Uma pequena coisa que eu projetei para torná-lo mais forte. — disse o médico com orgulho. — Por que as correias?


— Você vai ver. — disse o médico, com um sorriso sádico pairando em seus lábios. Ele abaixou a seringa para o braço de Justin. O líquido queimava em suas veias. Justin rangeu os dentes, esperando que a sensação diminuísse. Mas isso não aconteceu. Em vez disso, o ardor se espalhou por todo o corpo, ficando mais dolorido a cada segundo, até que ele sentiu como se tivesse sido engolido por chamas. Talvez o material tenha aumentado um pouco sua força, mas não o fez forte o suficiente para quebrar as alças, que tinham sido projetadas para segurar shifters. Mas mesmo enquanto estava gritando e lutando, incapaz de se conter, percebeu quando o Dr. Attanasio chegou um pouco mais perto do que deveria para substituir um sensor desalojado. Os braços de Justin estavam amarrados, mas ele conseguiu mover furtivamente um dedo para roçar a minúscula pele nua entre a luva de látex do médico e o punho de seu casaco branco. O Dr. Attanasio nunca notou. Mas Justin tinha um pressentimento, impossível de descrever, mas inconfundível, e sabia que seria capaz de encontrar o médico novamente, não importava onde ele se escondesse. Havia uma alça prendendo o seu peito, uma correia em sua cintura e um metal frio contra o seu braço. Ele estava completamente preso. O grito de terror e raiva de seu leopardo da neve subiu a um tom insuportável. Justin agarrou as correias e puxou. Elas romperam-se, libertando-o. Ele caiu em si, ajoelhado na neve ao lado do carro, com o cinto de segurança em ruínas pendurado ao lado dele e os punhos cerrados com tanta força que suas unhas estavam cavadas nas palmas das mãos. Atordoado, Justin olhou em volta, tentando se orientar. Seu leopardo da neve estava rosnando, frenético e furioso. Mate! Mate! Mate! — Acalme-se. — disse Justin. Sua voz falhou, sua garganta estava crua. Ele estava gritando? — Está tudo bem. Estamos livres.


A raiva cega de seu leopardo da neve esfriou em ódio. O médico. Mate o médico. Justin abriu a boca para concordar, depois se forçou a dizer: — Vou procurar o médico. Então vamos ver o que acontece. Mate-o, insistiu seu leopardo da neve. Ele nos machucou. Era tentador. Mas ele já estava farto de ter que matar, só porque alguém ordenou. teve o suficiente de matar só porque alguém disse para fazer. Se havia uma coisa que poderia tornar o “homem” diferente do sujeito sete, era fazer suas próprias escolhas. — Vamos ver. — Justin disse com firmeza. Voltou para o carro, fechou os olhos e, cautelosamente, lembrou-se exatamente do momento em que tocou o Dr. Attanasio, mantendo-se a uma distância mental para não se afogar em suas próprias lembranças. Onde você está, doutor? Justin sentiu um puxão em sua mente. Não era o conhecimento de um local, muito menos de um endereço, apenas uma sensação de que seu alvo estava “nesta direção”. Nossa presa, informou seu leopardo da neve. Justin começou a rastrear esta trilha, seguindo essa atração interior. Ele esperava que o local não fosse longe demais. Por tudo que ele sabia, ele estava seguindo em direção à China. Mas o Dr. Attanasio não estava longe; ele nem havia saído do estado. A sensação desse caminho terminou em um apartamento em São Francisco. Justin estacionou perto do prédio até que viu o Dr. Attanasio sair. Então ele desativou seu sistema de segurança, entrou e revistou o local. Com base no que encontrou no laptop e nos papéis do médico, o Dr. Attanasio não estava mais trabalhando para a Apex, mas agora estava ocupado desenvolvendo drogas sintéticas altamente viciantes. Enojado, Justin espalhou várias escutas no apartamento, então recolocou tudo exatamente do jeito que ele encontrou.Ele checou para ter certeza de que não tinha perdido nada e que todos os seus micro espiões estavam


perfeitamente escondidos antes de entrar em um canto sombrio para esperar que o médico voltasse. Nós esperamos deitados, sibilou seu leopardo da neve interior, enviando a Justin uma sensação de satisfação. Fingir a espera era a coisa favorita do grande gato. Justin fundiu-se na capacidade calma e fria do predador. Ele não estava entediado ou inquieto. Ele não pensava. Ele apenas esperava. Estava bem. Quase como ser invencível... Seu leopardo da neve se moveu alarmado. Ele odiava a capacidade de Justin de controlar a adrenalina, que tinha o efeito colateral de suprimir seu predador interno. Você não precisa de controle, o grande gato assobiou. Você só precisa esperar. Eu não posso esperar o tempo todo, Justin retornou. Agora fique quieto. Horas depois, a porta se abriu. O Dr. Attanasio entrou, acendendo a luz enquanto fechava a porta atrás de si. Justin fechou a distância entre eles em um instante, torcendo os braços do médico atrás dele com uma mão e colocando a outra sobre a boca do Dr. Attanasio. Mate-o, rosnou seu leopardo da neve. Arranque sua garganta! Justin mentalmente se distanciou da raiva do gato grande. Ele manteve a voz calma e baixa enquanto se dirigia ao médico. — Grite e eu vou te matar.Quando eu tirar a mão, você pode falar, mas faça isso em voz baixa. Acene com a cabeça se você entendeu. Com os sentidos aguçados do predador, Justin podia sentir o cheiro acre do suor frio do médico. Trêmulo, o Dr. Attanasio assentiu. Justin soltou o médico e entrou na frente dele. — Sujeito Sete! — Dr. Attanasio engasgou. — Surpresa. — Justin comentou, inexpressivo.


— Como você me encontrou? — A voz do médico se elevou em terror. Justin baixou a mão, com a palma para baixo, num gesto de - baixe a voz. O Dr. Attanasio continuou, calado mas frenético. — Eu usava luvas toda vez que tinha que colocar as mãos em você. E eu nunca deixei você me tocar. Então alguém deve ter me fodido! Quem? Justin manteve o rosto imóvel, certificando-se que ele não revelasse nada com um piscar de olhos. — Quem você acha? — Um dos médicos? Eles sempre ficaram com ciúmes de mim, porque meus experimentos tiveram resultados. — Estudando o rosto de Justin, o Dr. Attanasio disse: — Ou era um dos gerentes de projeto? Eu estou certo? Quem? Justin escondeu sua satisfação. Então o Dr. Attanasio estava em contato com alguns outros sobreviventes da Apex. No caso de ele não ter mencionado todos que ele conhecia, Justin levantou levemente uma das sobrancelhas e fez um pequeno e involuntário tremor de cabeça. Siiim! sibilou seu leopardo da neve com imensa satisfação. Nós brincamos com a nossa presa. — Não foi nenhum deles? — O Dr. Attanasio pareceu perplexo, depois ainda mais assustado. — Quem pode ser, então? Quem? Não há mais ninguém que saiba onde eu... — Ele parou, obviamente percebendo que havia revelado demais. — Isso é o que você pensa. — disse Justin. Com alguma sorte, o Dr. Attanasio ligaria para seus malvados colegas de trabalho e exigiria que lhe dissessem quem mais estava lá fora. Antes que o médico tivesse a chance de se recompor, Justin lentamente estendeu a mão, deixando que o Dr. Attanasio a visse. O médico se encolheu. — Não me machuque! Justin estava tentando manter a calma por dentro enquanto olhava do lado de fora, mas algo estalava dentro dele com aquelas palavras. — Por que diabos eu não deveria? Você me machucou até eu desejar morrer, só para fazer isso parar!


O Dr. Attanasio estremeceu de novo, mas não havia remorso em sua expressão, apenas medo. Defensivamente, ele disse: — Era necessário. Nós fizemos grandes avanços científicos. De qualquer forma, olha o que você ganhou. O processo Ultimate Predator (Poderoso Predador) deu-lhe poderes além de qualquer coisa que humanos normais ou mesmo shifters possam sonhar. Claro, o processo não foi agradável, mas não fizemos nenhum mal a você. — Não me machucou? — Uma raiva amarga queimou Justin, quente e dolorosa como a substância química que o médico havia injetado em suas veias enquanto ele estava amarrado à mesa do laboratório. — Nenhum dano? Você... Ele se forçou a parar. Ele não queria dar ao médico a satisfação de saber que ele tinha conseguido chegar a ele. Mais importante, ele não queria mostrar fraqueza na frente do homem que, sem dúvida, estaria reportandose aos seus outros inimigos no instante em que saísse da sala. Mas dentro de sua mente, em seu pensamento ecoava: Você arruinou minha vida. Você me quebrou. Seu leopardo da neve assobiou em reprovação. Não é verdade. Ao invés de entrar em uma discussão inútil com seu leopardo da neve, Justin forçou sua mente a sair de seus devaneios focando no inimigo em sua frente.Ele agarrou sua presa pela garganta. O médico soltou um guincho estridente de terror. — Estou tocando em você agora. — disse Justin. — E você sabe o que isso significa. Dr. Attanasio apenas olhou para ele, seus olhos cheios de pânico. — Diga-me. — disse Justin. — Diga isso para que eu saiba que você entende. — Eu não posso falar quando você está me estrangulando... — A voz do Dr. Attanasio sumiu quando ele percebeu que Justin tinha apenas envolvido os dedos em torno de sua garganta, e não estava exercendo qualquer pressão. — Uh, é o seu poder Ultimate Predator. Quero dizer, é um deles. Você pode me acompanhar agora. Em qualquer lugar do mundo,


tanto quanto sabemos. Você não precisa saber onde estou. Você consegue sentir o meu... Aroma, sibilou seu leopardo da neve. Com imensa satisfação, ele acrescentou: Você pode correr, mas não pode se esconder. — Impressão. — concluiu o médico. — Isso mesmo. — Justin aumentou a pressão, apenas ligeiramente. — Você realmente está fazendo drogas sintéticas, ou isso é uma fachada para a Apex? — Apex se foi! — Dr. Attanasio sufocou. — Você e o sujeito Oito destruíram tudo. Agora, são apenas as drogas, juro! Justin considerou ver se ele poderia extrair mais informações dele, então decidiu continuar seguindo com o seu primeiro plano. Ameaçando-o mais para assustá-lo o suficiente para dar mais informações. — É melhor que seja. — disse Justin. — Se eu descobrir que você está envolvido em sequestro ou fazendo uma de suas experiências malucas ou qualquer outra coisa que você fazia na Apex, eu vou rastreá-lo, assim como eu rastreei alguns de seus outros colegas. E eu farei a você exatamente o que fiz com eles. Os olhos do Dr. Attanasio se arregalaram ainda mais, lembrando Justin de um sapo-boi. — O que? Quem mais você rastreou? Você os matou? Justin olhou para os olhos do médico, silenciosos e sem expressão. Ele sabia o efeito que seu olhar tinha nas pessoas, mesmo quando ele não as tinha pela garganta. Com certeza, o médico engoliu em seco e desviou o olhar, o sangue escorrendo do rosto até ficar com uma cor pastosa desagradável. Sem uma palavra, Justin virou as costas e saiu do apartamento, deixando a porta se fechar lentamente atrás dele. Onde você vai? O silvo de seu leopardo da neve subiu em frustração. Mate-o, mate-o! Um cansaço esmagador tomou conta de Justin. Ele estava tão cansado de discutir com seu leopardo da neve. Se o gato grande não o pressionasse


exigindo a morte de alguém, ele estaria o tempo todo seguindo outro caminho, insistindo em acreditar que coisas muito boas para ser verdade, como companheiros, matilhas e felicidade, estavam logo ali virando a esquina. Eles não são bons demais para ser verdade, sibilou seu leopardo da neve. Lembre-se de como você insistiu que o seu companheiro de matilha o abandonou, e eu continuei dizendo que ele voltaria por você? Quem estava certo sobre isso? Você estava, Justin admitiu. Mas ele não queria falar sobre Shane. Ele mal podia suportar pensar em seu velho melhor amigo. Confiável Shane, a quem Justin não confiava. Leal Shane, a quem Justin havia traído. Para tirar seu leopardo da neve do assunto, Justin disse: Pare de chamá-lo de meu companheiro de matilha. Leopardos não fazem parte de bandos. Os Shifters sim, seu leopardo da neve respondeu. Volte para dentro, mate nossa presa e vá para o seu bando. Eles nos ajudarão a caçar o resto de nossos inimigos. Nós passamos muito tempo caçando sozinhos. Pelo que pareceu a milionésima vez, Justin explicou: Precisamos deixá-lo em paz por enquanto, então ele achará que é seguro conversar com seus colegas. Não vamos fazer nada a nenhum deles até descobrirmos onde fica a base da Apex. Então nós... Rasgaremos suas gargantas, sibilou seu leopardo da neve. Justin encolheu os ombros. Talvez ele os matasse, ou talvez telefonasse em uma denúncia anônima ao FBI e os colocasse atrás das grades. Baseado em sua própria experiência, ele sabia que sofrer em cativeiro era um destino pior do que a morte, então ele estava seriamente tentado a jogá-los na cadeia. Mas seu leopardo parecia incapaz de entender esse argumento. Percorreu o corredor, com os sapatos de sola macia que fazia pouco som mais do que as patas de um gato, e abriu a porta da escada de emergência. Tinha um sinal de aviso de que um alarme dispararia se fosse


aberto, mas ele desativara o alarme antes de entrar no apartamento do médico. Quando chegou ao telhado, deitou-se para que ninguém pudesse ver sua silhueta. Justin duvidava que alguém estivesse procurando por ele, a não ser possivelmente pelo Dr. Attanasio, mas a furtividade se tornara um hábito, e ele não queria ser morto antes de se certificar de que a Apex fosse embora para sempre. De barriga para cima no concreto aquecido pelo sol, pegou os fones de ouvido, enfiou-os nos ouvidos e escutou os sons dentro do apartamento do médico.Ele ouviu o farfalhar de passos e depois o médico disse: — Olá? Justin não pôde ouvir a resposta; Dr. Attanasio devia estar falando em seu celular, que Justin não tinha sido capaz de hackear. Mas ele podia ouvir cada palavra do médico, alto e claro. — O experimento sete está vivo! Ele invadiu meu apartamento... — O médico detalhou o que havia acontecido, depois disse: — Não, eu estou em contato com você.Você sabe alguma coisa sobre outra pessoa? Eles têm que ser avisados... se já não for tarde demais. Houve uma breve pausa em que Justin se perguntou com quem ele estava falando. Tinha que ser um médico ou um gerente de projeto, mas isso poderia ser um monte de gente. O Dr. Attanasio exclamou: — O Sr. Bianchi está fora de si se acha que está seguro em Londres! Você quer apostar que um oceano é suficiente para parar o experimento sete? Eu não faria! Diga ao Sr. Bianchi para contratar todos os guarda-costas que ele puder colocar as mãos. Outra pausa. — Não, não sei se ele alguma vez tocou algum de nós. Eu pensei que ele não tivesse me tocado... até agora. Assim, ou temos um rato ou ele pegou nossas impressões às escondidas ou o seu poder não funciona do jeito que ele disse e tudo o que ele precisava fazer era nos cheirar, porra! Eu queria que tudo o que precisássemos fazer fosse farejar nossa presa, sibilou seu leopardo da neve.


Eu gostaria de ter tido o bom senso de fingir que meu poder funcionava de maneira diferente, Justin respondeu. Eu deveria ter dito a eles que precisava colocar minha palma inteira na pele nua de alguém por cinco minutos. Então eles teriam sido menos cuidadosos ao meu redor, e eu poderia ter conseguido todas as suas impressões. Uma onda de autocensura tomou conta dele, tão intensa que ele pôde sentir a amargura, como se tivesse mastigado uma aspirina. Era uma ideia tão simples, mas não lhe ocorrera até que fosse tarde demais. Ele não tinha sido inteligente, sorrateiro ou rápido o suficiente para tocá-los todos. Ele não salvou seus amigos. Ele traiu Shane. Ele havia se traído. Ele... Preste atenção, sibilou seu leopardo da neve. Nossa presa está falando de novo. Justin chamou sua atenção de volta para o médico, que estava dizendo: — O que ele está fazendo lá, afinal? Outra pausa. O médico deu uma risada amarga. — Claro. O Sr. Bianchi está ficando fabulosamente rico lidando com armas, e eu estou preso fazendo malditas drogas sintéticas. E eu não posso voltar para a Apex, ou o sujeito Sete voltará e... não, eu te disse, ele não disse quem ele matou, muito menos como ele fez isso. Mas eu vi seus olhos. Este não é um homem. Ele é um predador. Eu vou ficar onde estou. Qualquer outra coisa seria suicídio. O Dr. Attanasio não disse mais nada. A conversa estava claramente terminada. Justin rolou e olhou para o céu que escurecia. Finalmente, ele tinha uma pista sobre um dos homens mais altos da Apex, um que ele nunca foi capaz de tocar. Londres era uma cidade grande, mas Justin estava confiante de que, se tivesse tempo suficiente, ele poderia encontrar Bianchi lá. E o Sr. Bianchi poderia saber onde ficava a base ou saber quem estava. Se não, Justin poderia voltar para San Francisco e perseguir o Dr. Attanasio até descobrir com quem o médico estivera conversando. Não importa o que, esta era uma grande chance. Ele deveria estar feliz. Mas ele não sentia nada além da dor que o estava dilacerando desde


que escapara da Apex, uma agonia ardente de raiva, culpa, vergonha e perda, lembranças de um passado que ele não suportava recordar e temia por um longo caminho à frente dele, como milhares de quilômetros de estrada ruim. Estava em seus ouvidos como um grito de metal contra metal, em seu peito como uma faca cravada em seu coração, em seus ossos com uma dor latejante como se ele não tivesse dormido em semanas. Convivia com esta agonia todos os momentos de todos os dias. Exceto quando ele era invencível. Não, sibilou seu leopardo da neve. Justin mal o ouviu. As palavras do Dr. Attanasio estavam ecoando em sua mente, alto o suficiente para abafar todo o resto: Este não é um homem. Ele é um predador. Todos aqueles dias cruéis e noites solitárias na Apex, ele sonhara e sonhava em fugir. Então ele saiu e percebeu que não havia escapatória. Ele poderia ficar longe da Apex, mas ele não poderia ficar longe de si mesmo. Tudo o que ele tinha feito - tudo o que tinha sido feito para ele, tudo o que ele havia se tornado - era irrevogável. Ele não podia mudar isso. O melhor que ele podia fazer era não se importar. Felizmente, havia uma maneira de fazer isso. Não faça isso! Seu leopardo da neve deu um rosnado baixo que provavelmente teria feito o Dr. Attanasio desmaiar de terror. Você está fazendo muito isso.Isso vai te matar. Justin tentou reprimir sua resposta automática, mas seu leopardo da neve pegou de qualquer maneira: Quem se importa? A raiva, o medo e a frustração do gato grande surgiram através de Justin enquanto ele rosnava em desespero, eu me importo! Eu quero viver! Com isso, Justin se sentiu culpado. Ele pescou por alguma resposta que seu leopardo da neve acharia reconfortante e que seria honesto. Seu predador interior era uma parte dele, afinal de contas; ele não podia mentir para si mesmo.


Ele se estabeleceu, eu não tenho intenção de morrer ainda. Era verdade, até onde ia: ele não tinha intenção de morrer até que destruísse Apex e pudesse ter certeza de que nunca prejudicariam ninguém novamente. Depois disso, ele não se importava com o que acontecesse com ele. Mas como era altamente improvável que ele sobrevivesse enfrentando toda uma agência de operações negras sozinho, ele não precisava se preocupar com o - depois disso. Ele fechou os olhos e imaginou-se sozinho em uma vasta planície sem marcas de branco ofuscante. Um campo de gelo. Imaginou o gelo subindo por seus pés e subindo por suas pernas, a princípio tão frio que ardia e depois entorpeceu. Quando o gelo atingiu seu coração, a queimação se transformou em agonia. Justin rangeu os dentes, sabendo que a dor seria breve. Um momento depois, seu coração ficou dormente e uma abençoada calma tomou conta dele. Ele abriu os olhos. Ele estava sozinho no telhado, tão sozinho quanto estivera em seu campo de gelo imaginário. Justin não podia sentir seu leopardo da neve. Ele não conseguia sentir nada. Sem culpa, sem raiva, sem vergonha, apenas uma boa disposição para fazer o que fosse necessário. Sem dor. Ele podia se lembrar de qualquer coisa que tivesse acontecido com ele na Apex e não sentir nada. Se alguém atirasse nele, ele não sentiria nada. Ele não ficaria com fome ou cansado. Ele não precisava comer nem dormir. Ele era imparável. Invencível. Eu gostaria de poder ficar assim o tempo todo, Justin pensou enquanto voltava para as escadas. Parece muito melhor. A única razão que ele não sabia era que, se permanecesse invencível por muito tempo, ele morreria. Você tem que comer e dormir para viver, e quando ele era invencível, ele não só não precisava, ele não podia. E, embora um homem pudesse passar cerca de um mês sem comer, os experimentos da Apex mostraram


que, se ele ficava mais de uma semana sem dormir, seu corpo começava a romper perigosamente. Não se preocupe, ele disse em silêncio, embora soubesse que seu leopardo da neve não podia ouvir ou falar. Não vou continuar por tempo suficiente para causar qualquer dano. Apenas algumas horas. Oito, no máximo. Justin imaginou que ele podia ouvir o chiado irritado do gato grande: Mentiroso.


Fiona O discurso da dama de honra fora perfeito, com todos rindo ou enxugando os olhos em todos os lugares certos. Agora Fiona Payne levantou a taça para concluí-lo. — Um brinde! Os convidados do casamento ergueram suas taças e as seguraram no alto. Grace estava radiante no único vestido de noiva que Raluca projetara, de seda branca com renda preta e fitas rosa. Seus saltos grossos de couro preto espreitavam do fundo da bainha artisticamente esfarrapada do vestido. Rafa estava radiante com o braço em volta dela e o sol reluzindo em seu cabelo brilhante. Todos pareciam felizes, desde os parentes de Rafa, dos leões, os amigos de teatro de Grace, até os companheiros de equipe de Rafa e Fiona, da Protection Inc. E as companheiras de seus companheiros de equipe. Hal, o imenso shifter urso e chefe da Protection Inc., sentou-se ao lado de sua companheira, a corajosa paramédica Ellie, com sua enorme mão descansando protetoramente sobre sua barriga de grávida. Nick, o shifter lobo ex-gângster, recostou-se em seu assento com um braço ao redor de sua companheira shifter dragão Raluca. Lucas, o dragão shifter e ex-príncipe, sentou-se com a ruiva Journey, que estava enfeitada com ouro e jóias que ele tinha dado a ela. E Shane, o silencioso shifter pantera que era o melhor amigo de Fiona no time, fez uma parceria com a shifter leopardo Catalina, que era também sua outra metade e que se juntou ao time para trabalhar ao seu lado. Da equipe original de guarda-costas, apenas Destiny e Fiona ainda eram solteiras. Mas era certamente apenas uma questão de tempo antes de Destiny encontrar seu próprio companheiro. E então Fiona seria deixada sozinha.


Não vou ficar completamente sozinha, disse Fiona a si mesma com firmeza. Eu ainda terei a Protection Inc. Seu leopardo da neve se agitou dentro dela. Um bando é bom, mas não o suficiente. Nós precisamos do nosso companheiro. Silêncio, Fiona repreendeu seu predador interior. Nós não precisamos de ninguém. A necessidade é fraqueza. Tardiamente, ela acrescentou, e a Protection Inc. é uma agência de segurança privada — uma equipe . Só porque somos todos shifters não faz disso um bando. Apenas lobos têm matilhas. De repente, ela percebeu que tinha ficado em silêncio em meio ao brinde, enquanto todos olhavam para ela com expectativa. Esperando que Grace não estivesse se arrependendo de tê-la escolhido como dama de honra, Fiona concluiu suavemente: — Aqui está um casal que realmente merece o seu prazer para sempre. Para Grace e Rafa! — Para Grace e Rafa. — em coro os convidados, e beberam. Fiona deu uma última olhada em seu copo. Lucas havia providenciado uma garrafa de fogo de dragão, o único licor finalizado com um sopro de chamas de um dragão real. A bebida laranja-avermelhada fervilhava e rolava como chamas líquidas, emitindo fiapos de fumaça. Ela inalou seu aroma sensual de frutas e fogo enquanto ela inclinou-a para os lábios. Fiona não era alheia a alta sociedade e suas bebidas caras e sofisticadas. Ela bebera champanhe Dom Perignon que custava dois mil dólares por garrafa e um raro uísque envelhecido por oitenta anos sob um castelo escocês. Mas nada que ela tenha bebido chegou perto do fogo do dragão. Tinha gosto de cerejas colhidas sob um sol de verão, de rosas escuras como sangue e brilhantes como fogo, de sonhos, esperanças e desejos, e deslizava por sua garganta como ouro derretido. Ela ficou sozinha com o calor do fogo de dragão aquecendo seu corpo, observando os pares acasalados se virarem um para o outro e se beijarem. Eles eram seus amigos mais íntimos, seus únicos amigos, mas ela se sentia como uma pessoa de fora. Estar no meio de todo aquele amor e intimidade, quando ela sabia que ela nunca experimentaria isso por si mesma, era como ser esfaqueada por um milhão de pequenas adagas, bem no coração.


Não, ela pensou. Não adagas. Cacos de gelo. Ela podia ver seu reflexo em seu copo vazio: uma mulher com a pele tão pálida como gelo e cabelos brancos como a neve, em um vestido da cor de um lago congelado. Eu sou a rainha do gelo, ela pensou. Eu tenho um pedaço de gelo onde meu coração deveria estar. Eu estou destinada a viver nos picos congelados onde nada cresce. Eu sou apenas uma espiã aqui embaixo, onde está quente. Algum dia todo mundo vai descobrir o que eu realmente sou e me mandar de volta para onde eu pertenço. Na maioria das vezes, ela podia se concentrar em seu trabalho o suficiente para esquecer isso. Mas agora não. Fiona desejava tudo de bom aos casais, mas também desejava estar em outro lugar. Você só tem que aguentar o dia de hoje, ela se lembrou. Amanhã, você estará indo em outra missão secreta. Mais um dia, e em vez de beber licor raro enquanto usava um requintado vestido de grife, ela estaria arriscando sua vida espionando um negociante de armas internacional implacável que vendia armas para terroristas, gângsteres e até mesmo pequenos ditadores. Ela não podia esperar. Fiona estava diante de um homem que ordenaria sua morte com um estalar de dedos, se ela fizesse um movimento falso. Elson não havia chegado ao topo do mundo do crime organizado internacional por acidente; ele era implacável, desconfiado e inteligente. O FBI estava tentando infiltrar um agente secreto em sua organização por anos. Alguns falharam. Outros entraram e depois apareceram mortos. Desesperados, entraram em contato com a Protection Inc. para obter ajuda. E assim Fiona havia se insinuado em sua organização, fingindo ser uma espiã inescrupulosa de aluguel. Ela havia provado ao Sr. Elson, ela esperava, fornecendo-lhe informações precisas sobre alguns de seus concorrentes. Mais um mês ou dois disfarçados, e ela deveria ter informações suficientes para repassar ao FBI para que eles pudessem derrubá-lo, e a sua organização e vários outros grupos criminosos da barganha.


Tudo o que ela tinha que fazer era manter a calma. Mas então, esta era sua especialidade. Legal, seu leopardo da neve ronronou. Calma. Fria. — O que você tem para mim? — Fiona perguntou. Sua voz era plana, incolor, quase entediada. Como a falta de maquiagem e o terno cinza, sua voz combinava com o seu disfarce como a perfeita espiã: sem emoção e sem memória. Uma mulher invisível. O Sr. Elson juntou os dedos, irresistivelmente lembrando-a de Marlon Brando em O Poderoso Chefão. Que é basicamente o que ele é, ela pensou. Apenas menos a parte em que ele se preocupa com sua família. Até onde ela sabia, a única coisa com que o Sr. Elson se importava era ficar mais rico. — Há um homem que recentemente se tornou uma pessoa de interesse. — respondeu o traficante de armas. — Ele terminou um acordo que eu estava tentando fazer em Londres. Ele destruiu mercadorias no valor de um milhão de dólares e tirou o milhão em dinheiro das pessoas com as quais eu estava tentando negociar. Mercadoria, ela pensou. Significado de armas ilegais. Quem quer que fosse o homem, ele tinha que ser muito duro - e muito imprudente - ter enfrentado representantes de duas facções diferentes do crime organizado. Ela não deixou nenhum desses pensamentos aparecer em seu rosto. — O que você gostaria que eu fizesse com ele? — Seu usual. Insinue-se em sua vida. Ou cama. —Ele lhe deu um olhar desagradável. — Mas você pode se passar por quem quiser. Se fizer sentido, você pode dizer a ele que está trabalhando para mim. Fiona permitiu que sua verdadeira surpresa aumentasse seus olhos. — Eu posso O Sr. Elson pareceu divertido. — Se isso ajudar sua missão, que é recrutá-lo. Se ele está atrás de dinheiro, poder ou vingança - você sabe, as coisas de sempre que as pessoas querem - diga a ele que eu darei a ele. Junto


com o perdão por estourar o meu acordo. Se você acha que revelar para quem você está trabalhando vai colocá-lo fora, não faça isso imediatamente. Descubra qual é o seu objetivo e convença-o de que é o mesmo que o seu. Quando você achar que é a hora certa, me avise, e enviarei outra pessoa para fazer uma oferta a você. — E eu o convenço que devemos tomar. — Ela assentiu com a cabeça. — Entendi. Ele ergueu a mão. — Eu não acabei. Eu preferiria que ele trabalhasse para mim. Mas agora, ele é um canhão solto. Eu não quero que ele corra por aí, criando problemas para mim sempre que ele quiser. Então, se você não conseguir recrutá-lo, eu quero que você o mate. Fiona franziu a testa ligeiramente, mas por trás do desânimo que demonstrava, seus pensamentos girando rapidamente. Se ela estivesse apenas usando um fio, ela o teria tido ali mesmo. Infelizmente, ele sempre tinha pessoas a revistando antes de entrarem em sua presença, então ela não estava. Ela poderia testemunhar que ele disse isso, mas seria a palavra dele contra a dela. Mas se ele chegasse a entregar-lhe uma arma do crime, ela teria tanto testemunho quanto uma prova física para apoiá-la. Mas ela nunca alegou ser uma assassina, então estaria fora do personagem não protestar. — Eu não sou uma assassina. O traficante de armas deu-lhe um olhar penetrante que acelerou seu ritmo cardíaco. — Você está dizendo que não vai fazer isso? — Eu estou dizendo que eu não sou a melhor pessoa para um assassinato. — ela respondeu calmamente. — E você sempre contrata os melhores, não é? — Não estou exigindo que você faça algo que requeira habilidades especiais. Eu sei que você não é uma atiradora. Ou uma mestre de kung fu. — Ele lhe deu um sorriso oleoso, como se a ideia de ela poder atirar com precisão ou lutar com as próprias mãos e pés fosse absurda. Você sabe pouco, Fiona pensou. Ela aprendeu a atirar e lutar com os melhores: Hal e Rafa, que eram ex-SEALs da Marinha, Destiny, uma atiradora


de elite do Exército, e Shane, que realmente era um mestre em artes marciais, embora de karate em vez de kung fu. Tomando seu silêncio para concordar, ele prosseguiu. — Mas se você pode plantar uma escuta no bolso do casaco de alguém, você é mais do que capaz de colocar algo na bebida de alguém. Eu só quero ter certeza de que você vai, se eu te der a ordem. — Eu vou. Mas se chegar a esse ponto, quero ser paga pelo perigo. Duplique minha taxa diária. E não apenas por aquele dia. Para toda a tarefa. — Feito. Interiormente, ela relaxou. A demanda gananciosa por um bônus de assassinato claramente o convenceu de que ela era a criminosa sem coração que ela estava posando. — Eu deveria ter pedido pelo triplo. — ela comentou. Ele soltou aquela risada oleosa novamente. — Muito tarde. Você já concordou. E, embora tenha certeza de que você é inteligente demais para sonhar em falar alguma coisa sobre essa tarefa para alguém, ou em me trair e levar seu alvo para outra pessoa, devo lembrá-la de que as conseqüências disso seriam... desagradáveis. — Você está certo. — disse Fiona, inexpressiva. — Eu sou muito inteligente. — Excelente. Agora para o dossiê. — Ele abriu uma pasta em sua mesa, mostrando a ela uma foto em preto e branco, obviamente tirada de uma câmera de segurança. Um homem estava jogando outro contra a parede. As costas do atacante estavam viradas; o outro homem parecia aterrorizado. — Aqui está o alvo atacando um dos meus homens. — disse Elson. — Seu nome real é desconhecido. Baseado em seu conjunto de habilidades, eu suspeito que ele é um ex-agente do governo que foi desonesto. Isso pode ser um ponto para você. Diga a ele que você odeia o governo também, e você deveria se dar bem como uma casa em chamas.


Fiona pegou a pasta. Ela encontrou mais fotos de câmeras de segurança que não mostravam o rosto do homem, e um relatório detalhado sobre seu encontro com os homens de Elson, que ela escutou e mentalmente resumiu como — Um cara chutando todas as nossas bundas, como diabos ele faz isso? — Então ela virou uma página e encontrou uma foto que mostrava ele de perfil. Ele era incrivelmente bonito, mesmo em preto e branco granulado, com feições agudas que pareciam ter sido esculpidas em mármore. Sua pele estava muito pálida, seus olhos e cabelos muito escuros. Seu rosto era uma máscara inexpressiva, revelando nada. Fiona mal conseguiu disfarçar seu choque aparecer em seu rosto. Ela o conhecia. Ou, mais precisamente, ela o reconheceu. No mês anterior, ela havia sido sequestrada e mantida sob a mira de uma gangue. Aquele homem apareceu do nada para resgatá-la. Ele pediu a ela para não contar a ninguém que ele esteve lá, e ela manteve essa promessa. Depois disso, ela se encontrou acordada durante a noite, passando por cima do encontro em sua mente. Tantas coisas sobre o homem tinham sido tão misteriosas. Ele havia sido ferido no tiroteio, mas alegou que não sentia nenhuma dor. Ela sentiu um choque estranho quando seus olhos se encontraram e novamente quando suas mãos se tocaram, e ela poderia jurar que ele também sentiu. Ele salvou a vida dela. E antes que ela pudesse aprender alguma coisa sobre ele, até mesmo seu nome, ele havia desaparecido. Parecia que ela ia descobrir agora. — Encontramos um de seus esconderijos. — O Sr. Elson deixou cair dois pedaços de papel em seu arquivo. Um tinha um endereço na cidade de Nova York e outro tinha uma passagem de avião para Nova York em nome falso. Seu olhar mais uma vez se desviou para a foto. Aqueles olhos escuros eram tão assombrosos. E tão assombrados . Eles a fizeram se perguntar se ele sorria e como ele se pareceria. Ela sorriu para o Sr. Elson enquanto fechava o arquivo. — Ele é todo meu.


Fiona passou toda a viagem de avião para Nova York, perguntando-se sobre seu homem misterioso. Ele era realmente um agente desonesto? Isso poderia explicar por que ele a fez jurar por segredo, por que ele se recusou a deixá-la levá-lo a um médico, e por que ele fugiu. Ou era uma reportagem de capa para esconder o fato de que ele ainda estava trabalhando para o governo, talvez em operações secretas? Isso também explicaria seu comportamento. De qualquer forma, ela ficou aliviada ao saber que ele estava vivo e bem, ou pelo menos bem o suficiente para lutar. Ele parecia pálido, magro e cansado antes de ter sido baleado, e desapareceu sem sequer deixar colocar uma atadura em sua ferida. Ela estava tão preocupada que ele poderia ter desmoronado em algum lugar na vizinhança que ela retornou mais tarde e rondou toda a região como um leopardo da neve, mas não encontrou nenhum traço dele. Se ele é um agente do governo, vou contar tudo a ele, pensou Fiona. Talvez ele possa me ajudar com a minha missão e eu possa ajudá-lo com a sua. E se ele ainda estiver com a aparência tão ruim, eu vou ver se posso ter uma palavra com o seu superior sobre fazê-lo tirar umas férias longas, uma vez que ele terminasse com este trabalho. Se ele é um ladino... Essa seria uma situação muito mais complicada. Quando ela pensou que ele era apenas outro criminoso, ela pretendia ir em frente e tentar recrutá-lo, exatamente como o Sr. Elson queria, no interesse de manter o seu disfarce. Mas isso foi antes que ela soubesse que ele era o homem que salvou sua vida. Agora que ela sabia, não conseguia convencê-lo a se envolver na organização criminosa do Sr. Elson, e duvidava muito que ele estivesse interessado. Talvez ela pudesse dizer a verdade. Mas se ele estivesse disposto a ir junto e fingir ser recrutado, ela estaria colocando ele em perigo. E se ele não fosse, então, toda a sua missão poderia terminar ali. Eu acho que terei que improvisar, ela decidiu. Confie no seu instinto, concordou com o leopardo da neve.


Mas ela não iria apenas subir e se levantar. Tudo o mais de lado, ela estava desesperadamente curiosa sobre ele. Quem era ele? Seu esconderijo acabou por ser em um bairro que parecia o set de um filme de zumbis. Tirando os zumbis. Até agora, pelo menos, pensou Fiona, olhando para um beco deserto e cheio de lixo. Mas não a teria surpreendido se alguém saísse subitamente cambaleando, talvez por trás da lixeira enferrujada. Foi uma boa localização para um esconderijo. Com as ruas vazias, literalmente alguém se aproximando seria notado. Então, em vez de tentar se esgueirar, o que era claramente impossível, ela agarrou a bolsa com uma mão e o celular na outra enquanto corria pela calçada, lançando olhares nervosos por cima do ombro a cada segundo. Lá. Agora ela era uma turista perdida à procura de um lugar seguro para chamar um táxi e dar o fora dali. Ela passou pelo esconderijo, um prédio aparentemente abandonado, depois se escondeu nas sombras de um beco sem saída. Se ele estivesse em casa e assistindo, ele a perderia de vista ali, mas acreditava que ela não podia sair sem que ele notasse. A única saída era o caminho de volta ou uma parede de concreto muito alta e lisa para qualquer um pular ou subir. Qualquer humano. Fiona tirou as sapatilhas de balé preto e colocou—as na bolsa. Depois tirou as calças, a blusa, o sutiã e a calcinha, dobrou—as num quadrado apertado e juntou tudo com as sapatilhas. Eles eram todos de seda fina, que ela comprou de propósito porque comprimia bem. Ela estremeceu brevemente, ficando nua e descalça no ar frio da noite. Então ela convocou seu leopardo da neve. Para pular e atacar... Para caçar na neve... Para fazer parte da noite... Seu calafrio desapareceu. Ela estava quente e confortável em seu casaco branco manchado de preto. Seus sentidos se aguçaram, permitindo que ela farejasse o ar. Lixo, mais lixo, cerveja derramada, gasolina, o cheiro


de mofo dos pombos e o odor mais acentuado dos ratos. Mas os únicos aromas humanos eram fracos e desbotados. Seu alvo não estava em casa. Mesmo assim, ela pretendia ser cuidadosa. Ela se abaixou e delicadamente segurou a alça da bolsa entre os dentes afiados. Então ela se agachou, enrijecendo os quadris poderosos e saltou para o alto. Ela facilmente limpou a parede e pousou levemente na calçada, sua bolsa balançando em suas mandíbulas. E lá estava a parte de trás de seu esconderijo, com as janelas fechadas e uma escada de incêndio que levava ao telhado. Fiona saltou para a escada de incêndio, depois foi até o telhado. Ela testou a porta da escada. Estava trancada. Ela largou a bolsa, voltou a ser mulher, vestiu as roupas e tirou um conjunto para arrombar fechaduras. Foi aberto em menos de três minutos. Agora o esconderijo era todo dela. Se ela ainda fosse um leopardo, ela teria ronronado. Como humana, ela se permitiu um pequeno sorriso. Fiona se moveu silenciosamente pela escada escura, todos os seus sentidos alertas. Se ele tivesse sido descuidado o suficiente para deixar um laptop aqui, ela sugaria a informação. Se ele tivesse deixado alguns pertences, ela aprenderia algo sobre ele com eles. Ela plantaria algumas câmeras antes que ela desaparecesse tão sorrateiramente como ela veio. Então ela iria observá-lo em seu lazer. No fundo da escadaria, ela piscou até que seus olhos se ajustaram o suficiente para ver o luar infiltrando através das poucas janelas abertas. Ela estava em um armazém abandonado cheio de caixotes vazios e os restos de máquinas enferrujadas. Então ela viu um colchão em um canto e uma mochila ao lado. Fiona correu em direção a ela. Uma mão apertou a boca dela e um braço forte apertou-a contra o peito de um homem. Uma voz começou a falar em seu ouvido. — Quem...


Fiona não deu a ele a chance de terminar a frase. Seu coração estava batendo com o choque, mas ela reagiu instantaneamente, chutando para trás para derrubar os pés de seu agressor. Seu pé encontrou o ar vazio quando o homem que a segurava mudou seu peso, evitando seu ataque. Ele é rápido. Mas seu aperto se afrouxou. Fiona caiu, escorregando de seu alcance e se afastando. Ela rolou, então imediatamente saltou para seus pés. O homem diante dela estava agachado, como um gato pronto para atacar. Mesmo na penumbra, ela o reconheceu imediatamente. O luar transformou-o em uma imagem em preto e branco como a da foto: calça e camisa preta, pele branca, cabelo preto caindo sobre a testa lançando uma sombra que fez seus olhos desaparecerem na escuridão. Mas ele se movia com uma graça que nenhuma fotografia poderia capturar, tão belo e mortal quanto um leopardo na selva. Quando ela o conheceu há um mês, ela achou que ele parecia magro demais. Ele tinha perdido mais peso desde então, e as linhas em seu rosto eram mais profundas. Ele moveu a cabeça ligeiramente para dar uma olhada melhor nela, e a luz da lua iluminou seus olhos. Ela os tinha visto antes, mas eles ainda eram surpreendentes. Eles eram poços de escuridão, e não apenas por causa de sua cor. Algo sobre eles a fez pensar que ele tinha visto coisas que ninguém deveria ver. Parece que ele passou pelo inferno, ela pensou. Ele sussurrou seu leopardo da neve. Você precisa ajudá-lo. Fiona não tinha ideia de como seu leopardo da neve sabia o que ele tinha passado, já que Fiona certamente não sabia. Ela lançou sua voz baixa e calma enquanto dizia: — Eu não vou te machucar. Não se preocupe. — Eu não estou preocupado. — Ele também falou com calma - não, categoricamente. A total falta de emoção em sua voz era enervante. Ela não podia nem dizer se ele a reconheceu. — O que você está fazendo aqui?


Fiona raramente era pega de surpresa, mas não esperava que ele a pegasse invadindo a casa dele, por isso não tinha a mínima idéia do que dizer ou fazer, principalmente porque ela ainda não sabia nada sobre ele. Finalmente, debatendo-se, ela perguntou: — Você se lembra de mim? Sua expressão não mudou. — Claro. Ela não tinha ideia do que dizer, mas tinha que dizer alguma coisa. Esperando que chegasse a ela antes que ela tivesse que terminar a frase, ela começou. — Bem ... Um flash de luz se moveu pelo chão. Era o tipo de reflexão que iluminaria o cano de um rifle. Fiona instintivamente se lançou para protegê-lo. No mesmo instante, ele mergulhou na direção dela. Eles colidiram duramente e dolorosamente, derrubando um ao outro. Quando eles caíram, o estalo de uma arma soou, e a janela em que estavam, se quebrou. O vidro tilintou no chão. Uma fração de segundo depois, outro tiro explodiu uma pequena cratera no chão de concreto, a dois centímetros do rosto de Fiona. Eles se agarraram e rolaram juntos. Sua força combinada os enviou para a parede oposta. Mais tiros foram disparados, batendo nas paredes e ricocheteando no chão, enquanto eles subiam na segurança da escada. Eles subiram as escadas juntos. Com a estranha atenção aos detalhes que às vezes vinham com uma descarga de adrenalina, Fiona estava muito consciente de que, de alguma forma, acabaram de mãos dadas. Ele tinha um aperto forte, e com suas pernas mais longas, ele estava praticamente puxando-a pelas escadas, mesmo que ela pudesse correr mais rápido do que a maioria dos homens. — Os tiros estavam vindo do oeste. — ela engasgou. — Nós poderíamos descer pela escada de incêndio, está do outro lado. — Talvez devêssemos pensar nisso. — ele respondeu, sua voz áspera e irregular. — Talvez haja um segundo atirador.


Eles pararam na porta que levava ao telhado. Estava escuro como breu. Fiona não podia vê-lo em tudo. Ela não conseguia nem ver suas próprias mãos. — Existe outra saída? — Ela perguntou. — Sim. — Ele estava tão perto que ela podia sentir seu hálito quente em sua bochecha. — Eu tenho uma corda escondida lá. Nós poderíamos cruzar nossos dedos, e torcer para não estarmos cercados por todos os lados e podermos descer. — Se você tem um celular escondido também, eu poderia ligar para pedir ajuda. — Fiona sugeriu. Ela perdeu sua bolsa no armazém. — Ou a polícia ...? — Dizer o que. Você fica aqui. Eu vou descer. Se eu não for baleado no caminho, eu vou fazer a ligação e depois corro. Se eu for... — Ele deu de ombros. — Bem, eles não estavam atirando em você. Você estava apenas no caminho. E você nunca viu seus rostos, então você não é uma testemunha. Eu acho que se você esperar um pouco, eles iriam embora e você poderia sair em segurança. Não o deixe entrar em perigo sozinho, sibilou seu leopardo da neve. Você deve protegê-lo! Eu estou nisso, Fiona respondeu silenciosamente. Ela sentiu um horror instintivo em sua falta de preocupação por si mesmo. — Tenho minhas dúvidas sobre isso. — ela respondeu. — Não tenha tanta certeza de que eles estão atrás de você. Eles poderiam facilmente estar atrás de mim. Houve um breve silêncio. Então ele disse: — Sério? — Mesmo. Eu também tenho inimigos. E se ficarmos aqui conversando por muito mais tempo, alguém virá para terminar o trabalho. Se a corda é o que temos, é melhor começarmos a escalar. Outro silêncio. Então, com o que soou como relutância, ele disse: — Tudo bem. Mas fique aqui até eu arrumar tudo.


Abriu a porta, deixando entrar uma lufada de luar, depois se abaixou e rapidamente se arrastou pelo telhado. Ela o viu erguer algo, depois abaixar e retirar uma mochila. Ele se contorceu até a beira do telhado, pegou um rolo de corda da mochila e amarrou-o em torno de um cano resistente, depois virou-se e fez sinal para ela. Fiona se arrastou para ele. — Pronto? — Eu estava prestes a perguntar isso a você. — Ele jogou a corda por cima. — Eu vou primeiro. Não comece a subir até que eu tenha descido completamente. — No caso de você levar um tiro? Ele encolheu os ombros. — Minha corda, minhas regras. Ela mordeu o lábio, odiando o pensamento disso. — Tem outra arma lá? Eu poderia te cobrir. — Ah, claro. — Ele abriu a mochila novamente e entregou-lhe uma pistola em um coldre de ombro, em seguida, colocou a mochila sobre os ombros e segurou a corda. Não deixe que ele se afaste, seu leopardo da neve a incitou. — Espere! — Fiona agarrou seu pulso. — Mais uma coisa. Não fuja de mim. Seus olhos cintilaram, mas ela não pôde ler sua expressão. Ela procurou por algo que ele achasse persuasivo. Era tão difícil quando ela sabia tão pouco sobre ele, nem mesmo o nome dele. Mas ele arriscou sua vida para salvar a dela quando eles se conheceram, e saltou para protegê-la quando o tiroteio começou. Se ele queria ajudá-la especificamente ou se ele era apenas o tipo de protetor, ela não sabia. Mas de qualquer forma, ela poderia usar esses instintos para mantê-lo ao seu lado. — Eu preciso da sua ajuda. — disse ela. Certificando-se que ele podia ouvir a verdade de suas palavras, ela disse: — Se você desaparecer sem mim agora, eu ficarei sozinha. Eu poderia ser morta.


— Se você precisar de mim, eu não vou a lugar nenhum. — ele respondeu instantaneamente. Eu sabia disso, pensou Fiona. Ele vai ficar comigo se ele achar que precisa me proteger. E isso me dá a desculpa perfeita para ficar com ele para que eu possa protegê-lo. Assim que ela teve esse pensamento, ela se perguntou sobre isso. Por que ela estava tão determinada a protegê-lo? Bem, ele salvou a vida dela. Duas vezes. Ela lhe devia. Isso era tudo. — Se eu descer, vou cobrir você. — disse ele. — Se? — Fiona ecoou. — Eu vou ter você sabe, eu sou uma excelente atiradora. Você vai descer. — Isso é verdade, você é. Eu lembro da última vez que nos conhecemos. Você disparou três vezes rápido com uma arma desconhecida e acertou todos os três tiros. — Seu comentário pareceu sincero, mas ele não pareceu seguro por sua própria crença de que ela poderia cobri-lo. Nem ele parecia preocupado. Ele falou sem rodeios, como se não se importasse de um jeito ou de outro. Então, sem aviso, ele balançou na borda. Ela observou atentamente, procurando por qualquer movimento revelador ou brilho de luz que pudesse ser um atirador, mas não viu nada. Ele desceu pela corda com agilidade de gato, e teve seus pés na calçada dentro de segundos. Ele sacou sua arma com um movimento rápido como um raio, então se fundiu nas sombras. Fiona recolocou a pistola no coldre, pendurou-a no ombro e o seguiu para baixo, esperando que ele acabasse de se proteger e não tivesse desaparecido de verdade. Mas quando chegou ao beco, ele saiu das sombras e acenou para ela. Ele rapidamente a conduziu através de um labirinto de becos escuros e estreitos, às vezes batendo em cercas, até que ela viu as luzes móveis de uma rua movimentada no final de um beco que se cruzava. — Espere. — ela disse. — Tenho certeza de que os perdemos agora. Vamos pegar um táxi para o meu hotel. Eu vou ficar no Ritz Carlton.


Ele deu-lhe um olhar duvidoso. — O Ritz, como no hotel mais famoso de Nova York? Não muito furtivo. — Eu não fiz a reserva em meu próprio nome. — disse ela. — E não vamos descer do táxi ali, apenas perto o suficiente para andar. Como você disse, é famoso. Isso significa que tem boa segurança. Tudo acontece lá, vai estar cheio de policiais em poucos minutos. E se alguém fosse assassinado lá, seria uma grande notícia. Mesmo se formos rastreados lá, o que provavelmente não seremos, ninguém tentará nada até sairmos. Isso nos dará um pouco de espaço para respirar. Ela podia ver que ele tinha dúvidas sobre a ideia, mas nenhum argumento real contra ela. — A menos que você tenha um lugar melhor para ir? — Ela perguntou. — Não. Você está certa, em qualquer lugar que eu fosse seria como o lugar que acabamos de sair. Não haveria nada que nos impedisse de ser emboscado novamente. Espere um segundo. Vamos ver se consigo ficar menos visível. Ele abriu a mochila, tirou um paletó bem dobrado e abotoou a camisa. Fiona virou as costas quando ele tirou um par de calças de terno e sapatos polidos. — Eu terminei. — disse ele depois de um momento de farfalhar. Ela ficou surpresa com o quão diferente ele parecia quando ela se virou. Não foi só a roupa. Ele também colocou um par de óculos de aro preto. Enquanto ela observava, ele caiu um pouco, arruinando sua postura perfeita. Ele não conseguia disfarçar completamente suas feições marcantes ou graça felina, mas agora ele parecia muito menos perigoso: um belo atleta profissional, talvez, ao invés de uma arma letal em forma humana. E onde ele aprendeu a fazer tudo isso, eu me pergunto? Fiona pensou. Ela observou, fascinada, enquanto ele abria o zíper de alguns fechos em sua mochila e os ziguezagueava em uma configuração diferente, transformando-a em uma pequena mochila do tipo que um homem de negócios poderia levar para uma viagem noturna. Ela passou a pistola e o coldre, que ele guardou.


— Você perdeu sua bolsa? — Ele perguntou. — Sim, mas eu tenho meu cartão de crédito e cartão do quarto no meu bolso. — respondeu Fiona. — Eu posso cobrir o táxi. — Eu vou fazer isso. — disse ele. — Eu suponho que você já pagou pelo quarto. O quarto. Ela tinha esquecido sobre essa parte. Se eles ficassem juntos, eles estariam no mesmo quarto; se quisessem atrair o mínimo de atenção, não poderiam pedir para acrescentar outra cama. Isso poderia fazer as pessoas se perguntarem por que ela não pediu uma quando reservou o quarto, e que relação eles tinham. Considerando que, se ele simplesmente aparecesse com ela, todo mundo iria assumir que eles eram um casal em férias. O que significava que eles ficariam em um quarto com apenas uma cama. Se Fiona fosse do tipo de corar, ela teria corado. Na verdade, ela se sentiu um pouco quente. A ideia de dividir um quarto com ele - dividir uma cama com ele - fez um arrepio passar... alguma coisa... subir e descer por sua espinha. Não foi de medo; ela nunca sentiu medo dele e certamente não o temia agora. Excitação? Antecipação? Não desejo, com certeza. Ele era um homem bonito e ele a intrigava, mas ele era muito estranho e distante para que ela o quisesse assim... Bem, talvez tenha sido desejo. Só um pouco. Um efeito colateral da combinação de sua aparência deslumbrante, o fato de que ele repetidamente salvou sua vida, e os traços persistentes de sua adrenalina. Uma reação puramente instintiva, não algo real. Ela não o conhecia bem o suficiente para isso. Ela nem sabia o nome dele. Ela queria pelo menos descobrir isso, mas se ela perguntasse agora, ele provavelmente só lhe daria um pseudônimo. Ainda assim, ela tinha que chamá-lo de algo, se eles iam se passar por um casal. — Qual é o nome da sua identidade? — Ela perguntou. — Andrew Wright. E o seu?


— Anne Burns. — Anne e Andy. Que coincidência. Eu suponho que você é minha namorada? — Ele parecia completamente sereno com a idéia: não excitado, não afobado, não qualquer coisa, mas talvez levemente divertido. Por alguma razão, isso a incomodava. Mas ela não deixou transparecer. — Sim. Eu vou deixar você saber quando estivermos perto o suficiente do Ritz que você deve segurar minha mão ou algo assim. — Vamos?— Ele indicou a rua. Eles chamaram um táxi para um hotel diferente perto de Fiona, depois foram até o Ritz. A rua estava viva com moradores e turistas, então eles não conversaram. Qualquer coisa que eles pudessem dizer, eles não queriam ouvir. Mas quando se aproximaram do hotel, ela disse: — É na próxima esquina. — Ah. — Ele colocou o braço em volta da cintura dela. Fiona engoliu em seco. Ela estava tentando não pensar naquela cama, mas ter o braço em volta dela não estava ajudando. Tudo bem, ela pensou. Vou pensar sobre isso. Isso vai me ajudar a entrar no personagem como sua namorada. Seu braço estava quente e forte. Sua mão estava pousada no quadril de uma maneira que sugeria ternura e sensualidade, como se pudesse deslizar - e abaixar - a qualquer momento. Como seria ser tocada - realmente tocada - por aqueles dedos longos e espertos? Como sentiria sua barba no rosto se ele a beijasse? O que sentiria em seu corpo se ele continuasse a beijá-la? Calor acumulou em sua barriga. E mais abaixo. Seu coração batia mais e mais rápido. Basta! Ela afastou sua mente dessas fantasias. Fingir era uma coisa. Agora, realmente ter que compartilhar uma cama seria terrivelmente constrangedor. Isso tudo era estritamente comercial.


Com o braço ainda ao redor de sua cintura e chamando sua atenção tanto quanto se estivesse em chamas, ela caminhou pelo saguão e entrou no elevador. Outro casal entrou com eles, então eles subiram em silêncio. Pareceu uma eternidade antes de chegarem ao seu andar. Ela abriu a porta do seu quarto. Ele entrou. Ela deslizou o sinal de “Não perturbe”. A porta se fechou atrás deles, deixando-os sozinhos. Seu braço ainda estava em volta da cintura dela. Provavelmente ele tinha esquecido que estava lá, mas ela não tinha. Ela não queria se afastar dele, mas se forçou a fazê-lo. Uma vez que ele não estava mais a tocando, ela não pôde deixar de se arrepender de ter se afastado. Eu tive que, ela disse a si mesma. Isso era apenas uma encenação. Ele tirou os óculos e os guadou no estojo. Agora que ela estava de frente para ele em uma sala bem iluminada, sua atenção foi capturada pelo quão exausto ele parecia. Sua pele não estava apenas pálida, era branca. As sombras sob seus olhos eram manchas negras. — Você está bem? — Então, lembrando-se de como ele tinha sido baleado e não sentiu quando se conheceram, ela perguntou: — Você poderia ter sido atingido? — Não. — Você tem certeza? Você pode não sentir isso. — Eu verifiquei quando mudei de roupa. — disse ele. — Eu não fui. Essa resposta não a satisfez. — Quando foi a última vez que você dormiu? Ele fez um som como uma risada, mas sem qualquer humor real. — Você me pegou. Uma semana atrás. — Uma semana!? — Fiona olhou para ele. Ela às vezes ficava sem dormir por vários dias, mas uma semana era muito mais longa do que até mesmo um shifter conseguia. — Isso é impossível. Três dias sem dormir e você começa a alucinar! — Não. — Ele suspirou. — Não, não para mim. Mas preciso deixar ir.


— Deixar o quê... Deu-lhe um longo olhar, como se decidisse se devia ou não responder, depois suspirou de novo. — Eu tenho uma... uma coisa... que me deixa ficar sem dormir por longos períodos. Sem comida também. Mas estou no meu limite de tempo que posso continuar. Estou te dizendo. Vou colocar um alarme na porta. Então eu vou deixar... isso... ir, e nós dois podemos dormir um pouco. Nós podemos fazer nossas apresentações pela manhã. Eu prometo a você que não vou desaparecer no meio da noite. — Uma coisa? — Ela repetiu, perplexa. — Você quer dizer uma droga? Com uma expressão sofrida, ele disse: — Por que as pessoas continuam me acusando de estar usando drogas? Não, não é nada disso. É apenas algo que posso fazer. Antes que ela pudesse interrogá-lo mais, ele abriu a mochila e tirou um pequeno alarme portátil, que ele prendeu na porta e ativou. Era o tipo de coisa que Fiona teria usado se não tivesse perdido a bolsa. Eles sabiam tantas coisas semelhantes. Como atuar um personagem. Como se disfarçar. Como fotografar. Como evitar atrair atenção. Como se proteger se você precisar dormir. Quem era ele? — Meu nome é Fiona. — disse ela. — É meu nome verdadeiro. Você não precisa me dizer seu sobrenome, mas qual é o seu primeiro? Só para que eu pare de pensar em você como 'ele' e 'você'. Ele não respondeu por um longo tempo, que ela estava prestes a dizer a ele para esquecer, ela o chamaria de Andy. Então ele disse: — Justin. Fiona mal se impediu de dar a resposta idiota: — Esse é um bom nome. — Ela não podia deixar de pensar nisso, no entanto. Antes que ela pudesse pensar em algo sensato para dizer, Justin disse, mais para si mesmo do que para ela e em uma voz tão baixa que era quase um sussurro, — Tudo bem. Ele fechou os olhos e pareceu se preparar.


Um sentimento inquietante de antecipação veio sobre Fiona, como se ela estivesse assistindo a um filme de terror e não soubesse se a próxima cena seria a heroína matando o monstro ou sendo rasgada em pedaços por ele. Seu leopardo da neve soltou um grunhido comprido e arrepiante. O que é isso? Fiona perguntou em silêncio. Seu leopardo da neve não respondeu em palavras, mas o rosnado se transformou lentamente em um ronronar que fez com que Fiona se sentisse como se seu corpo estivesse vibrando. O que? Fiona exigiu. O que diabos está acontecendo? Justin abriu os olhos. Eles eram pretos, tão pretos, mas não mais espelhos. Por fim, ela pôde lê-los. Podia ler ele. As linhas em seu rosto falavam do cansaço da dor, e a escuridão de seu olhar lhe dizia que ele não tinha acabado de passar pelo inferno, mas ainda estava morando lá. Mas isso não foi tudo o que ela viu. As linhas fracas ao redor de seus olhos e boca tinham sido esculpidas pelo riso. E além do que ela podia ver literalmente, ela sentia coragem e compaixão, perseverança e lealdade, uma paixão pela justiça e uma imensa capacidade de amar. Havia algo mais também. Antes, sua atração por ele tinha sido mais uma possibilidade do que uma realidade: uma apreciação de sua aparência e competência, além de um pouco de - eu poderia estar nisso se ele mostrasse um pouco mais de emoção. Mas no instante em que ele teve seus olhos fechados, o desejo pegou fogo dentro dela. De repente, ela o queria no nível mais primitivo possível. Ela queria rasgar a roupa dele, queria que ele rasgasse a sua roupa, queria pressionar a pele nua até sentir como se estivessem se fundindo em um único ser, uma única alma... Ahhh, disse seu leopardo da neve em um ronronar estrondoso. Então é isso. Então o que é o que? Fiona respondeu. Ele é nosso companheiro, seu leopardo da neve ronronou. — De jeito nenhum! — Fiona exclamou em voz alta.


Mas ela falou em choque, não em negação. As palavras de seu leopardo da neve pareciam profundamente corretas; não simplesmente corretas, mas expressando uma verdade profunda. De que outra forma ela poderia ter sentido muito sobre ele apenas olhando em seus olhos? Por que mais ela se sentiria tão motivada a protegê-lo quando ele fora tão claramente capaz de cuidar de si mesmo? Tinha que ser porque seu gato grande estava certo: ela e Justin eram perfeitamente compatíveis. Tudo o que tinham que fazer agora era conhecer um ao outro. Meu companheiro, ela pensou, impressionada. Ela tinha visto os laços entre os companheiros, e nunca imaginou que muita confiança e amor poderiam ser direcionados a ela. Ela não fez nada para ganhar isto. Mas aparentemente ela recebeu esse tesouro ela merecendo ou não. Depois de uma vida de solidão e frio, ela finalmente poderia entrar e aquecer as mãos no fogo. Justin recuou, olhando para ela em choque e horror. — Não. — ele respirou. Como ela, ele também parecia estar respondendo a uma voz interior. Sua própria voz se elevou em um grito surpreendentemente alto: — Não! Eu não posso ter uma companheira! Eu não farei isso! EU... Ele parou, balançando como se estivesse tonto. Instintivamente, ela estendeu a mão para firmá-lo. Ele saltou para trás, as mãos levantadas para afastá-la. Então seus olhos se fecharam. Antes que ela pudesse reagir, ele caiu no chão desmaiado. Fiona caiu de joelhos ao lado dele, amaldiçoando-se por ter ficado surpresa demais para pegá-lo e amortecer sua queda. Ela sentiu um pulso na garganta dele e ficou imensamente aliviada ao encontrar um. Quando ela rolou para as costas dele, ela viu o peito dele se movendo uniformemente enquanto ele respirava. Ele provavelmente está exausto, ela pensou. Dado o que ele dissera, a única parte surpreendente era que demorara tanto tempo para entrar em colapso.


Mesmo assim, ela tirou a jaqueta e a camisa para verificar se havia ferimentos. Ela não encontrou nenhum, mas notou uma cicatriz em forma de estrela logo abaixo de seu coração. Fiona sabia o que fazia cicatrizes assim; tanto Hal quanto Shane as tinham. Justin teve sorte de sobreviver sendo baleado tão perto de seu coração. Isso deve ter sido uma ligação estreita. Ele estava esparramado no chão, a cabeça inclinada para trás e a garganta exposta. A posição o fez parecer terrivelmente vulnerável. Ela colocou os braços sob ele, apoiou a cabeça e o pescoço na curva do cotovelo, respirou fundo e se levantou. Os joelhos dela se retorceram, mas a força do shifter permitiu que ela o levasse para a cama e o deitasse gentilmente. Ele não se mexeu quando ela tirou o cinto e os sapatos, em seguida, puxou as cobertas sobre ele. Uma vez que ela soube que ele não estava ferido e estava tão confortável quanto ela poderia fazê-lo, sua urgência desapareceu, dandolhe espaço para pensar sobre o que tinha acontecido antes que ele tivesse desmoronado. Meu companheiro, ela pensou. Este homem é meu companheiro. Por fim, ronronou seu leopardo da neve. O gato grande estava tão cheio de contentamento e satisfação que ela estava praticamente lambendo as patas e tomando sol. Os sentimentos de Fiona eram consideravelmente mais complicados. Ela não podia negar que se sentia profundamente e instintivamente atraída por Justin, nem que também tinha razões mais racionais para se sentir assim. Ele salvou sua vida duas vezes! Ele foi rápido em pensar e rápido em agir, hábil em lutar e em estratagemas, competente, inteligente e corajoso. Desde o primeiro momento em que se conheceram, eles trabalharam juntos tão bem quanto ela com companheiros de equipe que ela teve por anos. Havia também a pequena questão de ele ser devastadoramente bonito e incrivelmente sexy. Especialmente quando ele estava em movimento. Ela nunca tinha visto nada para combinar com sua graça predatória, nem mesmo de seus companheiros de equipe shifter.


Ele poderia ser - ele era - o parceiro que ela sempre desejou, e nunca acreditou que ela encontraria. E ainda. Ela tinha tantas perguntas sobre ele. Por que ele estava fugindo? Que diabos era a coisa que lhe permitia ficar sem comida ou dormir por uma semana, e por que os impedia de se reconhecerem como companheiros? Ele era claramente um shifter, já que ele também sabia que eles eram companheiros, mas que tipo? Ele nasceu ou foi transformado em um? Ela nem sabia o sobrenome dele. Vamos aprender tudo sobre o nosso companheiro, ronronou seu leopardo da neve. Quando ele acordar. Sim, Fiona pensou sombriamente. Quando ele acordar, vamos aprender um monte de coisas que preferimos não saber. Seu leopardo da neve bufou uma negação desdenhosa. Mas a mente de Fiona já tinha voltado ao momento em que seu leopardo da neve lhe disse que Justin era seu companheiro. Ela foi dominada pela felicidade, e desejo. Mas embora ele obviamente tivesse recebido as mesmas notícias de sua própria fera interior, o que quer que fosse, ele não estava feliz. Ouvir que ela era sua companheira era uma notícia tão ruim para ele que o chocou, juntamente com a exaustão, realmente o fez desmaiar! O que tornava ainda pior era que ela já sabia por que ele reagiu assim. Ele deve ter tido um vislumbre de sua alma ao mesmo tempo em que ela teve um vislumbre dele. E o que ele viu o horrorizou. Ele literalmente viu meu passado? Uma onda de vergonha apavorada passou por ela com o pensamento. Ele sabe o que eu fui, o que eu sou? Claro que não, sibilou o leopardo da neve. Como se Fiona fosse uma criança, o gato grande continuou. Você viu o passado dele? Não? Então ele não viu o seu. Mas isso não fez com que Fiona se sentisse melhor. Se Justin tivesse reagido assim apenas por um senso geral de sua personalidade, o que ele faria se soubesse o que ela realmente fez?


A mesma coisa que qualquer um faria, ela pensou. Correria gritando. Seu leopardo da neve assobiou, ele parece um homem que corre? Ou grita? Eu não quis dizer isso literalmente, pensou Fiona. Mas ele não gostaria de ter nada a ver comigo. Foi difícil manter o segredo de seus companheiros de equipe. Seria impossível mantê-lo de um companheiro. Ela se sentou em uma cadeira ao lado da cama, onde podia ficar de olho em Justin, e se forçou a fazer o que ela fazia melhor: analisar friamente a situação. Justin obviamente precisava de ajuda. Ele lembrou a ela um pouco de Shane, quando Hal o trouxe pela primeira vez para o time: cauteloso, assombrado, perigoso, mas também frágil, como se tivesse uma rachadura no centro de sua alma. Mas ele ficou melhor com o tempo, e muito melhor desde que ele se encontrou com Catalina. Ele ainda poderia ter uma cicatriz, mas a ferida havia fechado. Talvez se ela pudesse recrutar Justin para o time, ele também poderia ser curado. Mas se ela quisesse que ele ficasse por perto tempo suficiente para ela se tornar amiga dele e convencê-lo a se juntar a ela na Protection Inc., ela nunca poderia deixá-lo ficar mais perto dela do que seus companheiros de equipe. Um amigo poderia aceitar ser mantido a uma pequena distância. Uma amiga poderia aceitar não saber nada sobre seu passado. Mas seus companheiros de equipe não mantinham segredos um do outro. Não foi nem isso que eles não fizeram; Até onde ela podia dizer, eles não podiam. Fiona não podia negar a verdade devastadora. Ela encontrou o homem que deveria ser seu verdadeiro amor. E eles nunca poderiam estar juntos.


Justin Justin emergiu de um sono profundo, tornando-se lentamente consciente de que estava aquecido e confortável. Ele não estava acostumado a sentir algo agradável quando acordava depois de ser invencível por tanto tempo. Mas quando ele alcançou dentro de si, tão cautelosamente como se estivesse cutucando um osso quebrado, ele não encontrou nem a dormência da invencibilidade, nem a miséria física e angústia mental que normalmente caiam sobre ele quando ele emergia daquele estado. Ele se sentiu tonto e fraco, mas nada pior que isso. Além disso, ele estava em uma cama de verdade, com um colchão firme debaixo dele, um travesseiro sob a cabeça e cobertores macios sobre ele. Isso também era estranho. Ele ficou muito quieto, mantendo os olhos fechados e respirando exatamente como antes, fingindo dormir. Ele poderia ter sido capturado... Não, ronronou seu leopardo da neve. Isso também não era familiar. Seu leopardo da neve assobiava e rosnava e gritava. Ele não ronronava. Justin nem sabia que ele poderia ronronar. Até... Com isso, sua memória retornou em uma inundação. Ele se lembrou de como Fiona invadira seu esconderijo, como eles haviam sido atacados e escaparam juntos, e então se esconderam, de todos os lugares, no Ritz Carlton. Ele se lembrou de sua decisão de deixar sua invencibilidade, e como ele se preparou para o retorno da fome e do esgotamento esmagador, amarga culpa e desespero sombrio, uma necessidade desesperada de sono e pesadelos que o fariam desejar que ele nunca durmisse de novo. E ele se lembrou de olhar nos olhos de Fiona.


Ele os tinha visto antes, é claro, mas ele tinha estado invencível então e então os percebeu sem emoção. Assim como ele tinha percebido ela sem emoção. Nas duas vezes em que se encontraram, ele se sentiu levado a protegê-la. Ele supôs que isso era devido aos remanescentes de seu senso de dever e desejo de fazer a coisa certa. Mas tinha sido uma compulsão sem sangue, desprovida da determinação ardente que ele sentiu em combate para salvar seus amigos ou morrer tentando. Quanto à própria Fiona, ele notara que ela era alta para uma mulher e magra, movia como se tivesse sido treinada para lutar, tinha cabelos loiros e olhos verdes e tinha mais ou menos a idade dele. Quando ele era invencível, nada era lindo nem feio. Tudo simplesmente era, sem nenhum valor ligado a ele. Ele podia olhar para um arco-íris arqueado sobre uma colina verde e um monte de lixo podre em um beco escuro, e não ter vontade de ver um ao invés do outro. Quando ele tirou o escudo de gelo e deixou seu leopardo da neve voltar ao seu coração, ele foi inundado de sentimentos. Fiona não era apenas uma mulher alta e loira, ela era a mulher mais linda que ele já tinha visto. Ela não era apenas capaz de se mover rapidamente, ela saltou como um raio para protegê-lo com seu próprio corpo. E os olhos dela - ele poderia olhar para os olhos dela para sempre. Eles eram de um verde claro como a grama lavada pela chuva, como pequenas folhas se abrindo na primavera, como vidro de praia preso ao sol. Quando ele os viu, realmente os viu, sentiu seu coração começar a se abrir como uma flor. E naquele instante de contemplar aquele verde incrível, ele de alguma forma viu diretamente a alma de Fiona. Sentira coragem e inteligência, disciplina e orgulho, bondade e lealdade, e uma paixão ardente, quente o suficiente para queimá-lo em cinzas, se alguma vez pegasse fogo. Ele não podia imaginar que ele se importaria. Por uma fração de segundo, ele ficou impressionado com os sentimentos que achava que nunca mais experimentaria. Esperança. Alegria. Desejo.


Então seu leopardo da neve ronronou, Ela é a única. Ela é nossa companheira. As palavras do gato grande enviaram Justin de volta à Terra. Ele não poderia ter uma companheira. Ele, emparelhado com essa mulher incrível? Ela deveria estar livre para voar até a mais alta das alturas, não ser acorrentada a um soldado quebrado. Sua vida era uma bagunça. Ele tinha feito coisas terríveis que ele nunca poderia expiar. Seu corpo era uma ruína, sua mente era um campo de batalha. E ele ia morrer. Não, seu leopardo da neve rosnara. Nós vamos viver para a nossa companheira! Eu não farei! Justin tinha gritado silenciosamente, tropeçando para trás como se o leopardo da neve tivesse sido um verdadeiro animal agachado na frente dele, em vez de uma voz dentro de sua mente. Eu não posso. Eu não vou. Você irá! A voz de seu leopardo da neve subiu em um grito aterrorizado - e aterrorizante. Você deve! Você ainda acha que terei um final feliz? Justin exigiu com sarcasmo amargo. Conchas e sinos de casamento e bebês no tapete? Que piada! Eu estou pegando fogo e não vou levá-la comigo! Justin franziu a testa, tentando lembrar o que aconteceu depois disso. Ele tinha uma vaga lembrança da escuridão se aproximando dele, como se estivesse olhando para um túnel encolhendo. Ele deve ter desmaiado. E então Fiona deve tê-lo colocado na cama. Ela teria que ser forte para ter lutado com ele do chão, mas ela deve ser uma shifter também. Ele se perguntou de que tipo. Talvez um gato grande como ele. Ela se movia como um gato. Sim, ronronou seu leopardo da neve. Somos os dois do mesmo tipo. Justin sabia o que seu predador interno estava sugerindo, mas ele ignorou em vez de discutir. Fiona disse que precisava de proteção, então ele a protegeria. Se isso exigisse dar a vida por ela, ele faria isso de bom grado. Mas ele nunca poderia ser seu companheiro.


— Justin? — Era a voz de Fiona, clara como cristal e suave. — Você está acordado? — Sim. — Sua voz estava rouca, sua boca e garganta secas. Ele tossiu, depois abriu os olhos. Fiona sentou-se em uma cadeira ao lado da cama. Ela era tão linda. Seu vislumbre dela no curto espaço de tempo entre quando ele foi capaz de ver a beleza e quando ele desmaiou não foi o suficiente. Ele bebeu sem vergonha, saboreando cada detalhe. Ela tinha um cabelo tão loiro que era quase branco, trançado e enrolado em volta da cabeça como uma coroa. Ela vestia uma roupa mais casual do que as roupas ninja que ela usava antes, calça preta que mostravam suas longas pernas e uma blusa azul que se agarrava a seus seios e dava aos olhos, olhos incríveis, o brilho azul-marinho, de uma lagoa tropical. Ela o examinou com preocupação. — Como você está se sentindo? — Estou bem. — ele disse automaticamente. Envergonhado por estar deitado ali na cama enquanto ela se sentava sobre ele, ele tentou se sentar. Antes que ele estivesse totalmente em pé, sua visão ficou esmaecida e o quarto girou em torno dele. Fiona colocou a mão no peito dele, empurrando-o de volta para baixo. — Você está tentando me fazer pegar você do chão de novo? Fique onde está. Vou pegar algo para você beber. Ele ficou imóvel, respirando profundamente, desejando que sua tontura diminuísse. A sala voltou ao foco e ele a observou abrir um minibar bem abastecido. — Jack Daniels. — ele chamou. – Com gelo. — Primeira coisa de manhã? — Ela gritou de volta. — Não admira que você não possa se sentar. — Eu estava brincando. — Na verdade, ele não tinha nenhum álcool em... anos, ele percebeu. A Apex não colocava minibares nas celas de seus prisioneiros.


— Eu sei. — Fiona pegou uma pequena garrafa plástica de suco de laranja da parte de trás do frigobar e trouxe para ele. — Eu posso segurar isso por... — Não! — Ele queria protegê-la e ser forte por ela. Já era ruim o suficiente que ele tivesse desmaiado e feito ela carregá-lo; ele dificilmente iria fazê-la segurar a garrafa nos lábios como se ele fosse um inválido. Então, percebendo que ela fez uma oferta gentil e ele respondeu gritando, ele acrescentou: — Desculpe. Eu não queria gritar. Mas eu só fiquei tonto porque me sentei rápido demais. Eu deveria estar bem se eu for devagar. — Tudo bem.— Ela parecia duvidosa. Ela provavelmente tinha razão. Justin ainda se sentia tonto. — Você pode me dar uma mão, se quiser. — Já que você me pediu com jeitinho...— Ela se inclinou e colocou o braço sob suas costas. A ação a trouxe tão perto que seus seios quase tocaram seu peito. Ele podia sentir o calor do corpo dela, e sentir um cheiro fraco de sabonete florido e um ainda mais fraco, um aroma quente e vivo que tinha que ser seu próprio aroma natural. Justin inalou profundamente, absorvendo-o. Isso lhe dava uma sensação estranha, em parte como se ele estivesse sonhando e em parte como se estivesse mais acordado do que estivera em toda a sua vida. Uma onda de calor percorreu seu corpo, tornando-o muito consciente de que ele tinha um. Quando ele era invencível, seu eu físico não era nada mais que uma ferramenta, algo que ele estava ciente, mas não podia sentir a si mesmo, como uma arma na mão. Agora ele estava de repente vivo dentro de seu corpo, experimentando o perfume, e o toque... e desejo. Ele queria Fiona. Queria ela com uma intensidade que ele não tinha sentido em... anos, devia ser. Ele queria tirar as roupas dela, segurar os seios dela com as mãos e sentir os mamilos endurecendo contra as palmas das mãos, pressionar a nudez dela contra a dele...


Sente-se primeiro, ronronou seu leopardo da neve, soando distintamente divertido. Sacudido de volta à realidade, Justin apressadamente ajudou Fiona a levantá-lo, apoiando as palmas das mãos no colchão e levantando-se. Uma vez que ele estava encostado na cabeceira da cama, ela tirou o braço e deslizou um travesseiro atrás das costas. — Obrigado. — disse ele, desejando que ele pudesse pedir a ela para colocar o braço de volta. — Sem problemas. Aqui está. — Ela destampou o suco de laranja e o estendeu. Ele estendeu a mão, mas suas mãos tremiam. Ele derramaria tudo sobre a cama se ela desse a ele. — Desculpe. — ele murmurou novamente. — Eu realmente fiz um bom trabalho desta vez. Se eu fosse meu paciente, eu diria para mim. E, em seguida, colocaria uma intravenosa. Não se preocupe, porém, o suco de laranja é de baixa tecnologia, mas tão bom quanto. Eu ficarei bem quando eu conseguir meu açúcar no sangue de volta. Fiona deu-lhe um olhar curioso, depois enfiou a garrafa na mão esquerda. Ela segurou as próprias mãos ao redor dele, ainda segurando. — Você se lembrou. — disse ele. — Lembrei...? — Que eu sou canhoto. — Tocou-o. Ela o conhecia, mesmo um detalhe tão pequeno. Havia tão poucas pessoas que restavam. — Eu nunca esqueço a mão de uma pessoa. — ela respondeu. — Agora beba. O calor de suas mãos o firmou no fundo, tanto quanto seu aperto estabilizou seu tremor. Com o apoio dela, ele levou a garrafa aos lábios sem derramar uma gota. O suco era doce, azedo, frio e fresco, sem sabor residual químico. Justin não conseguia se lembrar da última vez que ele tomou suco de laranja. Provavelmente foi antes de ele ter sido capturado pela Apex.


Inesperadamente, uma lembrança lhe invadiu a mente, de estar sentado à mesa da cozinha ao amanhecer, bebendo um copo de suco de laranja espremido na hora enquanto via o sol nascer. Ele não se lembrava por que ele estava acordado tão cedo ou há quanto tempo tinha sido. Mas ele podia recordar o silêncio pacífico e o céu coberto de ouro como se tivesse sido ontem. Quando ele terminou de beber, Fiona perguntou: — Como você se sente agora? — Melhor. — Ele sentiu a força fluindo de volta para ele com cada gole. — Eu deveria comer alguma coisa antes de tentar sair da cama. Ela deu-lhe um olhar afiado. — Uma semana com isso também, hein? Ele assentiu, tentando pensar em uma maneira de mudar de assunto. Ele não queria mentir para ela, mas ele não queria falar sobre isso também. Cada aspecto de seu poder era doloroso: o que era, como ele tinha adquirido... — Por quê? — Seu tom não era exigente, mas também não era um que ele pudesse ignorar. — O que você estava fazendo que era tão importante que não podia parar para comer ou dormir por uma semana inteira? E então havia a parte que ele menos queria discutir: por que ele usou seu poder. Diga a ela, sibilou seu leopardo da neve. Ela é sua companheira. Ela precisa saber. — Eu... — Justin abruptamente se sentiu trêmulo novamente. Sua pele arrepiou quando ele começou a suar frio. — Podemos adiar isso por um tempo? Pelo menos até depois do café da manhã? Fiona tocou a testa dele. Seus dedos eram frios e reconfortantes, e ele não pôde deixar de desejar que ela os deixasse lá. — Você parece que precisa de um médico, não café da manhã... — Não! — O grito explodiu de sua garganta sem sua intenção, alto o suficiente para fazer seus próprios ouvidos doerem. Ela afastou a mão.


Abaixando a voz, ele disse: — Nenhum médico. Sério, eu não preciso de um. Já fiz isso antes e me recuperei bem, sem ajuda nenhuma. — Como você conseguiu isso? — Ela perguntou duvidosa. — Deitei onde eu caí até conseguir pegar algumas barras de granola dos meus suprimentos de emergência. — ele admitiu. – Estou totalmente sem estoque, no entanto. Eu ia comprar mais hoje, mas... Ela balançou a cabeça, claramente não impressionada com o planejamento de emergência. — Vou ligar para o serviço de quarto. Estou com fome também, na verdade. Ele não gostou da idéia de algum estranho entrar no quarto quando ele não podia nem sair da cama. Mas a alternativa era Fiona sair sozinha para buscar alguma coisa, e ele gostou menos ainda. — Vou te dar o código para desligar o alarme da porta. — disse ele. — Mas você pode me passar minha bolsa primeiro? Ela entregou-lhe sua mochila e ele pegou sua arma. Ele segurou, certificando-se de que sua mão estava firme o suficiente para atirar. — Você está bem. — disse Fiona. — Você poderia acertar um centavo em um barril. Ele olhou para ela, assustado e um pouco alarmado. Ele treinou fazendo exatamente isso. — Você não está ativa, está? Em algum tipo de missão...? Para seu imenso alívio, ela balançou a cabeça. Ele não queria nada com os militares. Não havia como saber quem poderia estar passando informações para a Apex. — Eu nunca servi. As pessoas que me ensinaram eram veteranos, no entanto. Você? — Força Aérea. — Ele hesitou, perguntando-se como descrever seu status atual. Ele foi listado como morto em ação, mas dizendo isso ele mesmo era uma contradição em termos. Finalmente, ele disse: — Não mais. — Você era um médico? — Não. Eu tenho treinamento de paramédico. Mas eu era um PQ, isso é um Resgate de Operações Especiais. Para quedistas.


Fiona estava assentindo. — Eu sei. Um dos caras que me ensinou foi um PQ. Por tudo o que ele achava que deixara a vida para trás, sentia as agitações do orgulho. — Não é de admirar que você atire tão bem. Para evitar mais perguntas, ele se inclinou para esconder a arma debaixo das cobertas, onde pôde sentir o metal frio contra o quadril. Isso o fez se sentir melhor em saber que estava lá. Ele pode não ser capaz de pular e socar alguém, mas ele poderia atirar de onde estava. Se ele precisasse, ele poderia protegê-la. — Você quer minha outra arma? Ela puxou a gola da blusa, expondo uma clavícula primorosamente esculpida e a alça do coldre de ombro. — Eu deveria ter adivinhado. — disse Justin. — Mantenha, isso combina com você. — Obrigada, não se importe se eu fizer. — Ela passou-lhe o menu de serviço de quarto. Incerteza, ela disse: — Peça qualquer coisa. Meu prazer. — Isso é muita gentileza - quero dizer - sua, mas eu sou um cara antiquado. Insisto em pegar o cheque. — Veja se você ainda quer, depois de ler os preços. — observou Fiona. Ele pensou no milhão de dólares que ele confiscou de Elson. Então ele abriu o menu e leu os preços. — Uau. Agora ela estava abertamente rindo. — Você tinha que ver sua cara! Este é o Ritz. — Vinte e oito dólares por salsichas e ovos !? — Justin exclamou, indignado. — Vinte dólares para frutas fatiadas e um dinamarquês?! — O Ritz. — ela lembrou a ele. — Sério, eu posso cobri-lo. Eu estou no trabalho. É uma despesa de negócios. Justin não pôde deixar de perguntar: — Qual é o seu trabalho, exatamente? Você é do FBI? Ela balançou a cabeça. — Segurança privada. Segurança privada muito bem paga.


— Bem, eu sou um vigilante muito bem pago. Então coma. Comigo. Mas já que você é obviamente uma mulher independente que gosta de pagar a sua parte, você pode me comprar uma xícara de café. — Eu vou comprar uma cafeteira inteira de café para você. Que neste lugar é um sacrifício financeiro substancial, deixe-me dizer-lhe. O que você quer? Vou fazer o pedido. Ele jogou o cardápio de volta para ela. — Filés e ovos. E um lado de bacon e batatas fritas. E a cesta de doces, o que quer que seja. — Isso é muito. — disse ela em dúvida. — Especialmente quando você não comeu nada em uma semana. Não vai te deixar doente? — Não. Já fiz isso antes, lembra? Com um encolher de ombros, ela pegou o telefone e fez seu pedido. Quando ela terminou, lembrou-lhe o código de alarme. Ele deu a ela e observou-a desativar o alarme, em seguida, escondê-lo em sua mochila. Então ela voltou para o frigobar e remexeu até encontrar uma garrafa de suco de maçã. — Para ajudar você até o café da manhã chegar. — disse ela. — Obrigado. — Justin pegou dela, meio lamentando que ele não precisava mais de ajuda para segurá-la. Ser capaz de beber uma garrafa de suco sem assistência não era grande coisa. Mas ele sentia falta dos dedos dela cobrindo os dele. — Você parece melhor. — disse Fiona enquanto ele bebia. — Eu acho que você precisa de mais seis noites de sono, no entanto. Finalmente. — Será que você conseguiu dormir na noite passada? — Ele esperava que ela não tivesse ficado acordada a noite toda para se certificar de que ele não parasse de respirar. — Eu dormi. Eu observei você por um tempo, mas você parecia estar profundamente adormecido. Então eu fui dormir também. — Um leve rubor rosa manchou suas bochechas. — Em cima das cobertas. — Você poderia te-las levantado. — ele comentou. — Não é como se eu estivesse em condições de tentar qualquer coisa.


— Você não teria de qualquer maneira. — ela atirou de volta. — Você é um cavalheiro antiquado. — Absolutamente. Então você teria estado duplamente segura. — Mas a brincadeira sobre as camas o lembrou de algo. — Ei, precisamos nos preparar antes que o garçom entre. Estamos posando como um casal. E você pediu uma mesa de cama, então presumivelmente nós dois estamos tomando café da manhã na cama. Eu estou bem, eu tenho minha camisa e os cobertores sobre minhas calças. Mas você deveria estar de pijama ou camisola ou algo assim. Seu rubor se aprofundou, embora sua expressão não mudasse. — Eu sei. Eu vou mudar para algo mais café da manhã na cama. Ela pegou uma pequena mala do armário e desapareceu no banheiro com ela, deixando-o sozinho em uma cama que de repente parecia grande, fria e vazia. Minha companheira, ele pensou. Ele estava tentando não pensar sobre isso. A coisa toda era uma cruel piada cósmica. Mas Fiona sabia disso também, então eles teriam que discutir isso mais cedo ou mais tarde. Justin estremeceu, pensando em tudo que ele não queria falar e logo teria que fazer. Talvez se ele apenas desse a ela o mínimo que ela precisava saber, não doeria muito. E uma vez que ele dissesse, ela saberia, e então terminaria. Ele nunca teria que falar sobre isso novamente. Como tirar um band-aid, ele pensou. Um puxada rápida é o caminho mais fácil. Ela levou o tempo dela no banheiro. Ele se perguntou se ela estava evitando ir para a cama com ele. Ele pensou que brincar sobre isso tornaria isso menos embaraçoso, mas talvez ele só tivesse feito isso pior. Ela saiu do banheiro. Justin sentiu seu queixo se abrindo e fechado com um estalo. Não olhe, ele disse a si mesmo.


Foi difícil não fazê-lo. Ela pisava delicadamente no chão, como um gato descalço. Ele tentou apenas observar seus pés, já que essa não era uma das partes mais sensuais do corpo. Apenas em Fiona, eles eram. As suas eram estreitas e graciosas, com arcos altos e tornozelos finos. Quanto mais Justin fixava seu olhar neles, mais ele sentia como se estivesse desenvolvendo um fetiche por pés. Ele levantou os olhos. As pernas de Fiona pareciam durar para sempre, esguias, mas de aparência forte, como as de uma bailarina. Sua camisola azul-clara era curta e sedosa, girando em torno de seus joelhos e flutuando para cima a cada passo que dava. Ela tirou o sutiã para preservar seu disfarce, já que ninguém usa sutiã debaixo de uma camisola. Seus mamilos eram duros o suficiente para fazer pontos contra o tecido fino. Porque o ar estava bom? Ou...? Justin forçou o olhar para cima de seus seios, lembrando-se de que ele estava tentando não constrangê-la. A renda ao redor do decote se agarrava a seu peito, sua cor cremosa era apenas um pouco mais pálida que sua pele. Ela tirou o cabelo das tranças e o escovou, então caiu pelas costas como uma cascata de água branca. Ele se agitava e flutuava com eletricidade estática, aumentando a impressão de água corrente. Seria difícil ficar sentado na cama com ela naquela roupa maluca, sentindo o calor de seu corpo a poucos centímetros de distância e não ser capaz de tocá-la. Então a toque, sibilou seu leopardo de neve impacientemente. Fique quieto, Justin respondeu. Um leve rubor cor de rosa coloriu o peito de Fiona e começou a subir em direção ao rosto dela. Ele obviamente estava olhando para ela por muito tempo. Para quebrar a tensão, ele disse levemente: — Você está muito melhor preparada do que eu. Eu esqueci completamente de arrumar meu pijama. Seu rubor desapareceu quando ela respondeu com aparente alívio: — Sem pijamas. Sem barras de granola. Você pelo menos lembrou da sua escova de dentes?


— Receio que não. — Bem, eu não estou compartilhando a minha. Você terá que bater na loja de presentes. — No Ritz? Aposto que custa cem dólares. — Isso é porque é banhada a ouro. — disse ela prontamente. Justin riu. Uma batida na porta o fez pular. Seus dedos se fecharam sobre a arma em baixo das cobertas. Fiona foi até a porta, olhou pelo olho mágico e deu-lhe um aceno de cabeça. Mas ele notou que ela estava atrás da porta enquanto a abria, para não estar na linha de fogo se houvesse alguma. Ela abriu a porta e deixou entrar uma empregada com um carrinho de empurrar. — Bom dia! — A empregada empurrou o carrinho para a cama. Para Fiona, ela disse: — Você pode voltar para a cama. Aconchegar-se! Fiona sorriu para a empregada e ficou na cama ao lado dele. Ela se aconchegou ao lado dele quando a empregada começou a montar uma grande mesa de bandeja. Ele respirou fundo ao sentir seu corpo quente pressionado contra o dele. Ele podia sentir seu peito subir e descer enquanto ela respirava. — Isso não é bom, querida? — Ela disse docemente. Ele inclinou a cabeça contra a dela. Seu cabelo solto era tão sedoso quanto parecia. Tinha fios erguidos com eletricidade estática e agarrados a sua bochecha e garganta. Ele teve que engolir para ter certeza de que sua voz sairia suave antes que ele pudesse dizer: — Com certeza é. Uma pausa do escritório. — Vocês dois apenas relaxem e desfrutem do seu café da manhã. — disse a camareira enquanto preparava uma série de pratos na bandeja. Então ela indicou um controle remoto em uma pequena mesa ao alcance da cama. — Não sei se você percebeu, mas a porta tem uma fechadura eletrônica com controle remoto. Então você não precisa se levantar quando eu sair, você pode trancar a porta da cama.


— Oh, obrigada. — disse Fiona. — Não, eu não tinha notado. Justin não tinha, mas ele suspeitava que Fiona tinha. Mas ela sorriu e acenou com a cabeça quando a empregada demonstrou, em seguida, colocou-o de volta na mesa e saiu com um aceno. Quando a porta se fechou atrás da mulher, Fiona levantou o controle remoto e apertou o botão. A porta clicou quando a fechadura se encaixou. Por um momento, nenhum dos dois falou ou se moveu. Justin podia sentir seu pulso trovejando em seus ouvidos. Ele estava dolorosamente consciente de cada centímetro quadrado de sua pele que estava tocando a dela. Era impossível concentrar-se em algo que não fosse isso, e em saber que ele deveria se afastar dela naquele instante, e ao mesmo tempo ser completamente incapaz de fazer isso. Você tem que fazer, ele disse a si mesmo. Você sabe que sua besta falou com ela também. Conduzi-la é cruel. — Sobre a coisa de companheiro... — ele começou. Ao lado dele, ele a sentiu enrijecer. Quando você tinha algo difícil de dizer, você tinha que apenas dizer isso. — Eu não posso. Me desculpe, mas... eu simplesmente não posso. O que você está dizendo? rosnou seu leopardo da neve. Rápido, peça desculpas e implore para que ela te perdoe pelo seu momento de loucura! Fique quieto, Justin disse silenciosamente. Pare de me mandar ficar quieto, sibilou seu leopardo da neve. Fique quieto, ou vou fazer você ficar quieto, Justin retrucou. Com um assobio final irritado, o gato grande diminuiu. Fiona se afastou dele, mas estava observando-o atentamente, seu rosto ilegível. Ele não podia dizer se ela estava ferida ou se sentia incrivelmente desajeitada. — Olha. — disse ele. — Estou uma bagunça. Eu acho que isso é bem óbvio. Isso não tem nada a ver com você. Você é ótima. Eu só...


— Você simplesmente não pode. — ela terminou. Sua voz estava fria. — Eu entendi, tudo bem? Isso é tudo que você tem a dizer. Eu não preciso de uma explicação detalhada. Justin estava imensamente aliviado. A última coisa que ele queria fazer era dar-lhe uma análise ponto a ponto da extensão de seus danos e da frieza de seu futuro. No momento seguinte, ele estava envergonhado de seu próprio alívio, que ele ganhara às custas dela. Ele começou uma conversa que obviamente a deixou desconfortável, quando ele sabia que ela precisava de sua proteção e não podia simplesmente sair. Na verdade, ele percebeu, ela estava literalmente presa: com uma mesa cheia de bandeja sobre as pernas, ela nem conseguia sair da cama facilmente. Justin pegou o controle remoto. — Você sabe o que é isso? Suas sobrancelhas se levantaram. — Você não estava ouvindo a empregada? — É um dispositivo de inversão de tempo. — Ele indicou a luz mais fraca. — Eu vou apertar este botão e voltar no tempo... Vamos ver... Dois minutos. Ela estava olhando para ele como se ele fosse um lunático, mas ele estava acostumado a esse tipo de olhar. — E então toda essa conversa nunca terá acontecido. — continuou ele. — Estaremos de volta onde estávamos antes de começar, uma agente de segurança privado bem paga e um vigilante fodido fingindo ser um casal, prestes a desfrutar do café da manhã de três mil dólares na cama. Sua boca tremeu com diversão relutante. — Um vigilante fodido e bem pago. Não esqueça essa parte. — Bem, claro. Caso contrário, não poderia pagar a sobretaxa de inversão de tempo. Como se contra sua vontade, uma risada explodiu de seus lábios. Então, sacudindo a cabeça, ela se recostou nos travesseiros. — OK. Bata em mim.


Justin apertou o botão, diminuindo as luzes, então as iluminou novamente. Ele olhou para a mesa da bandeja em surpresa simulada. — Ah! Nosso café da manhã! — Parece ter aparecido magicamente. — Sua voz era distintamente sarcástica. — Quão legal. — Este é o Ritz. — disse Justin, imitando suas inflexões. Mais uma vez, ele tirou uma risada dela. Embora seus corpos não tocassem mais, eles ainda sentavam perto o suficiente para que ele pudesse sentir a mudança enquanto ela relaxava. — Pare de falar e coma. Eu continuo me preocupando que você vai desmaiar de novo. Uma pontada que não tinha nada a ver com sua forma ruim estava perfurando seu peito. Apesar de seu tom leve, ele podia ouvir que ela queria dizer isso. Ele não estava acostumado com qualquer um se importando com seu próprio bem, só com o fato dele ser uma ferramenta útil que eles não queriam quebrar. Shane se preocupa com você, sibilou seu leopardo da neve. Justin não queria pensar em Shane. Esperando distrair seu leopardo da neve e satisfazer Fiona de uma só vez, ele pegou a primeira coisa ao alcance na bandeja, uma massa do tamanho da cesta e enfiou-a na boca. Seu leopardo da neve não era o único que distraía. O sabor e as texturas estouraram na boca de Justin como fogos de artifícios. Rico creme, cobertura de limão picante, massa macia. Como o suco de laranja, o sabor não era apenas bom, mas chocante para seus sentidos. Era como se ele estivesse provando comida pela primeira vez. Justin levantou sua caneca de café, respirando seu perfume, depois tomou um gole. O café era objetivamente excelente. Especialmente em comparação com todo o café terrível que ele teve em sua vida. Ele às vezes tinha ficado desesperado o suficiente no campo, quando ele precisava ficar acordado, mas não tinha sido capaz de tomar o tempo para aquecer a água, ele rasgava os pacotes de café instantâneo e os colocava diretamente em sua boca. Mesmo café queimado e frio era melhor que isso, muito menos a suavidade da xícara que ele tinha agora.


— Bom, huh? — Comentou Fiona. — Melhor café que tive na minha vida. Melhor confeitaria também. — Ele examinou a cesta. Era um tesouro de doces, desde os vagamente saudáveis (bolinhos assados com cobertura de mirtilo) até os decadentes (cheesecakes de chocolate em miniatura) até ainda mais decadentes (tortinhas que pareciam ser inteiramente compostas de caramelo salgado). — Quer um? — Obrigada, eu vou provar. Quando eu terminar meus ovos. — Ela estava trabalhando em um prato de ovos mexidos com lagosta, coberto com caviar e frutas frescas ao lado. Com esse lembrete, Justin voltou sua atenção para seu bife e ovos. Ele acreditava na teoria de que ele precisava da proteína. Mas agora ele se perguntava o quão delicioso eles seriam, dado o café e a massa. Ele cortou o bife e os ovos fritos, então a gema laranja escorreu sobre o filé, encheu sua garfada com batatas fritas e deu uma mordida. Era, sem surpresa, o melhor filé e ovos que ele já tivera. A carne estava perfeitamente cozida e suculenta, o ovo saboroso, a batata estava macia por dentro e crocante por fora. Ele terminou tudo, junto com o (também melhor de todos) bacon em tempo recorde. Quando ele terminou, ele sabia que não teria problemas em se levantar. Ele provavelmente precisava de um pouco mais de descanso para estar em seu melhor físico, mas sua fraqueza se foi. Mas ele não tinha vontade de se levantar. Sentia-se perfeitamente contente em ficar onde estava, naquela cama confortável, com os melhores doces e café da manhã e Fiona ao seu lado. Olhando de relance para Fiona, que havia terminado seus ovos e estava pegando as últimas pérolas negras de caviar com um pedaço de torrada, ele pensou, eu ficaria feliz em colocar um pacote de café instantâneo em minha boca, contanto que ela esteja sempre ao meu lado. Mas esse pensamento o fez perceber algo. A comida e café do Ritz foram excelentes. Mas fazia muito tempo desde que ele registrara o gosto de qualquer coisa, boa ou ruim. Quando ele pensou em sua última refeição, ele teve uma vaga lembrança de um hambúrguer e café em uma lanchonete. Mas ele não tinha ideia se o café havia sido queimado ou recém-feito, ou se


o hambúrguer tinha sido suculento ou cozido demais. A refeição tinha sido apenas combustível para ele, e comer era nada além de uma tarefa que ele tinha que executar. Ele não se importava o suficiente para achar desagradável. — Fiona? Obrigado. Isso foi maravilhoso. — Ele acenou com a mão sobre a bandeja do café da manhã. — Graças a você. — ela respondeu prontamente. — Você é o único que está pagando. Ele debateu se queria dizer mais, então ela entenderia como ele estava se sentindo, ele não queria que começasse com um interrogatório, tipo “O que há de errado com você? O que aconteceu com você?” mas ela lhe deu algo muito precioso para deixar passar sem nem mesmo dizer a ela. Justin tocou seu ombro. Ela não pulou, mas ele a sentiu respirar assustada. Ele soltou a mão, mas não se afastou. — Eu não sinto prazer em comer por... anos, talvez. Faz tanto tempo que nem tinha percebido até aproveitar, agora mesmo. Ele se preparou para sua pena. Mas isso não veio. Em vez disso, ela deu a ele um olhar longo e pensativo, então pegou algo de seu próprio prato. Era um morango pequeno, redondo e perfeito, vermelho brilhante e salpicado de sementes não maiores que grãos de areia. — Aqui.— Ela levantou para seus lábios. Ele não teve tempo para pensar na má idéia que era. Ele apenas viu os dedos longos e elegantes, sentiu o cheiro picante e abriu a boca. Ela colocou a fruta entre os lábios dele. Ele mastigou e engoliu e sentiu uma explosão brilhante de doçura. Então, incapaz de resistir, ele fechou os lábios sobre as pontas dos dedos dela antes que ela pudesse afastá-los. Seus olhos de esmeralda se arregalaram enquanto ele explorava os dedos dela com a ponta da língua, sentindo a pele macia e a suavidade de suas unhas, saboreando o sabor picante do suco da baga e o leve sal de sua pele. Tudo o que ele estava fazendo era beijar as pontas dos dedos dela. Uma vez, anos atrás, ele teria pensado nisso como o menor dos gestos, um pouco de preliminares para ser apreciado brevemente antes de descer para


o evento principal. Mas agora, com Fiona, tinha uma intensidade vertiginosa. Seu coração batia forte como se estivesse no meio de uma maratona. Seu olhar estava trancado no dele quando ele baixou a mão para o cesto de doces. Mas ele não precisava olhar para baixo. Ele sabia onde tudo estava. Justin pegou uma torta de limão do tamanho de uma mordida. Ele nunca em sua vida viu nada tão sexy quanto assistir seus lábios rosados abertos para ele. Ela inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos quando ele colocou o bolo em sua boca. Como ele tinha feito, ela comeu em uma única mordida, em seguida, capturou as pontas dos dedos com os lábios. O interior de sua boca era macia, úmida e quente, tão quente. Ela lambeu os dedos dele como se estivesse com fome para prová-lo, então chupou, primeiro suavemente e depois com mais força, fazendo-o imaginar que outras partes dele poderia sugar. Uma onda de desejo tomou conta dele, tão intensa que o fez se sentir meio louco de desejo. Ele tinha que ter mais. Eles se moveram ao mesmo tempo, dois corpos com um único pensamento, abaixando as mãos e inclinando-se para um beijo. Os lábios de Fiona eram suaves como pétalas de rosa, macias como veludo, e sua boca era quente como fogo. Seu perfume o rodeava, delicado e sensual como a mulher a quem pertencia. Em todos os lugares que ela o tocava, sua pele formigava como se tivesse adormecido e voltasse à vida. Mas não foi doloroso. Estava em êxtase. Justin estava sobrecarregado de sensações e emoções. Não apenas seu corpo, mas seu coração de repente se sentia vivo de novo, cheio até a borda com sentimentos tão fortes que estavam no meio do caminho para a dor. Ele não estava apenas sexualmente atraído por Fiona, ele estava atraído por ela como uma pessoa, suas brincadeiras e sua fragilidade, sua força e vulnerabilidade, sua competência, inteligência e gentileza. Ela era muito mais do que ele merecia, e ainda assim ela estava aqui. Talvez, apenas talvez, seu longo pesadelo tivesse finalmente acabado. Talvez houvesse esperança. Ele estendeu a mão cegamente para empurrar a mesa da bandeja para fora do caminho deles. Um líquido quente se derramou sobre a mão dele.


Dr. Elihu espremeu mais algumas gotas de líquido na mão de Justin. Agonia ardente penetrou até seus ossos, mas a mordaça em sua boca o impediu de gritar. — Não é ácido. — O médico sorriu como se tivesse feito uma piada. — Claro que não! Mesmo com suas habilidades de cura, isso poderia causar cicatrizes permanentes. E não queremos danificar nossa arma. Este é um agente nervoso inofensivo que o Dr. Attanasio inventou para enviar sinais de dor ao seu cérebro. Tudo o que você precisa fazer para se livrar disso é laválo. O Dr. Elihu sorriu novamente. — Ou invoque sua invencibilidade de adrenalina. Então você não vai sentir nada. A dor o fez sentir frio e doente. Cada centímetro de sua pele estava suando. Justin tentou se concentrar no gelo subindo por seu corpo, mas sua mão parecia estar em chamas. Era impossível se concentrar em qualquer coisa, somente na dor. Mate o médico, sibilou seu leopardo da neve. Arranque sua garganta! Justin sabia que lutar era inútil, mas a dor quebrou seu autocontrole. Seu leopardo da neve tomou conta de seu corpo, arremessando-se contra as correias... Justin bateu em uma superfície dura. Algo suave estava em cima dele, sufocando-o. Ele arremessou longe, frenético para escapar. Só então ele percebeu onde estava. Ele aparentemente se jogou para fora da cama em um emaranhado de cobertores. Fiona tinha se arrastado para a beira da cama e estava se inclinando, estendendo a mão para ele. — Justin! Você está bem? — Não. — ele conseguiu. — O que está errado? Ele não podia nem começar a responder isso. Seu leopardo da neve estava gritando dentro de sua cabeça em um tom de terror e raiva. Ele mal podia ouvir seus próprios pensamentos. Justin cambaleou a seus pés. — Eu tenho que ficar sozinho.


Ele correu para o banheiro e fechou a porta atrás dele. Ela bateu com um estrondo, que o fez pular. Justin tropeçou para a pia, abriu a torneira e começou a jogar água fria no rosto. Pare, ele ordenou o seu leopardo da neve. Pare com isso! O gato grande ficou em silêncio. Justin ficou tremendo, com a água gelada pingando de seu rosto para o peito, as mãos segurando a pia de porcelana fria. Você está no Ritz, ele disse a si mesmo. Não na Apex. O laboratório em que eles te prenderam se foi. O Dr. Elihu está morto. Shane o matou. Gradualmente, ele conseguiu recuperar o fôlego. Seu batimento cardíaco diminuiu e o tremor diminuiu. O choque e o medo desapareceram, deixando apenas o cansaço. E culpa. O que ele estava fazendo? O que ele estava pensando? Como ele poderia ter cedido à tentação e conduzido Fiona, quando ele sabia - e acabara de provar, sem sombra de dúvida - quão inadequado ele era como companheiro para ela? Era o egoísmo beirando a crueldade. Agora que tudo acabou, a coisa toda parecia surreal. Ele a beijou. Sentiu um desejo intenso o suficiente para tirar o fôlego. E antes disso, eles estavam curtindo o café da manhã juntos na cama. Ele estava brincando. Provocando. Mesmo rindo. Por aquele breve momento no tempo, ele se sentiu como ele mesmo novamente. Seu antigo eu, aquele que ele perdeu. Aquele que morreu na Apex. Você não morreu, seu leopardo da neve sibilou impaciente. Você está aqui agora, vivendo e respirando. Eu não sou mais aquele cara, Justin respondeu. Eu sou apenas o que sobrou dele.


Fiona Fiona estava do lado de fora da porta do banheiro, sua mão congelada na posição de quase bater. Ela esteve lá por pelo menos um minuto, debatendo consigo mesma se deveria bater na porta, como seu frenético leopardo da neve insistia em fazer, ou adiar, como ela mesma estava certa de que Justin preferiria. Mas ele não está em perigo físico, certo? Fiona perguntou pela terceira vez. Você saberia se ele estivesse, certo? Relutantemente, seu leopardo da neve assobiou seu acordo. Mas ela imediatamente acrescentou: Ele precisa de nós. Se ele não responder, arrombe a porta. Você deve ir até ele e lamber suas feridas! — Eca. — murmurou Fiona. Silenciosamente, ela continuou, eu não estou mais lambendo. Eu lambi seus dedos um minuto atrás, e olhe o que aconteceu. Como de costume, o gato grande não conseguiu entender a ironia. Se você não vai lambê-lo, pelo menos, acaricie sua pele e faça-o se sentir melhor. Fiona suspirou. O que quer que estivesse errado com Justin, era óbvio que a última coisa que ele queria era que ela o tocasse de qualquer maneira. Ainda assim, ela tinha que verificar. — Justin? Mas assim que ela falou, o chuveiro ligou. Sua voz sem dúvida foi abafada. Bem, pelo menos agora ela sabia que ele não estava no chão novamente. Ela se afastou da porta do banheiro e rapidamente mudou de volta para suas roupas de rua, em seguida, convocou a empregada para recolher a mesa da bandeja, que ela tinha certeza que ele não gostaria de ser confrontado.


Quando a empregada apareceu, ela indicou a cesta de massa mais intocada. — Devo deixar isso para depois? E o café? Fiona ficaria feliz em ver o último dos doces, mas eles pertenciam a Justin e ele poderia não se sentir da mesma maneira. Além disso, ele provavelmente poderia usar as calorias. — Certo. Obrigada. A empregada removeu o resto do material do café da manhã, depois fez a cama. Fiona trancou a porta e sentou-se na cama, ouvindo o chuveiro. Sem mais tarefas para executar, ela ficou sozinha com seus pensamentos. Normalmente ela tentava solucionar os problemas, mas agora ela se sentia completamente perdida. Ela estava acostumada a se deparar com um problema e apresentar um plano para resolvê-lo. Mas agora ela estava sobrecarregada com alguns problemas que não tinham soluções e alguns que ela não conseguia resolver porque nem sequer entendia qual era o problema. Sem mencionar sua própria culpa em ceder à tentação e beijar Justin quando ela sabia perfeitamente bem que eles nunca poderiam ser companheiros. Ela não só o levou quando não podia seguir, ela aparentemente o empurrou para algum tipo de colapso. E, sobrepondo tudo e tornando impossível focar em qualquer outra coisa, ela continuou pensando na dor crua nos olhos de Justin e sua própria incapacidade de ajudá-lo. Isso fez seu coração doer. Claro que você pode ajudá-lo, seu leopardo da neve sibilou. Lamba suas feridas e... — Fique quieta! — Fiona explodiu. — Ou pelo menos pare de dizer isso! — Você tem um animal que nunca se cala, hein? Eu também. Assustada, Fiona olhou para cima. Justin saiu do banheiro. Seu peito e pés estavam descalços, e seu cabelo molhado pendia em fios brilhantes em volta do rosto. Ela mordeu a língua ao perguntar se ele estava bem. Ela não sabia muito sobre ele, mas uma coisa que ela descobriu era que ele não gostava dessa pergunta. — O meu é um leopardo da neve. — disse ela.


Justin, na verdade, sorriu para isso. Parecia frágil, mas real. — Não brinca! Então, o meu também. — Sério? — Fiona ficou surpresa e ao mesmo tempo não; ele se movia com a graça de um gato predador. Um pouco como Shane, chegou a pensar nisso, que poderia se tornar uma pantera. Ele assentiu, depois sentou-se na cama a um braço de distância dela. — Podemos conversar? — Claro.— disse ela, surpresa. Ela esperava que ele fingisse que nada havia acontecido. — Pode falar. — A bola está comigo, hein? Ele tentou sorrir, mas ela podia ver que ele já estava começando a se arrepender de começar a conversa. Se ela quisesse alguma resposta dele, teria que se mover rápido antes que o momento passasse. Ela sabia muitas maneiras de fazer as pessoas se abrirem e pensar que a ideia foi delas... Ele é nosso companheiro, seu leopardo da neve sibilou. Não o manipule. Culpa esfaqueou Fiona. Ela sabia que o gato grande estava certo, e isso piorou. Era tão fácil e natural voltar a mentir e manipular. Era o que ela fazia, no fundo . Se ela queria ser diferente, para ser melhor, ela tinha que desafiar toda a sua natureza. E isso significava estar em guarda a cada segundo de cada dia. Ela tentou de novo, da maneira mais honesta e franca que conseguiu. — Há obviamente algo errado, mas não tenho ideia do que é. Eu quero te ajudar, mas eu não sou uma leitora de mentes. Se há algo que eu deveria saber, você vai ter que me dizer. Ele respirou fundo, depois outra vez. — Tudo bem. Eu farei o meu melhor. A coisa é, você pode ter algumas surpresas desagradáveis de qualquer maneira. Metade do tempo eu não sei o que vai me impedir até que isso aconteça. Quando estávamos, quando estávamos nos beijando, derramei um pouco de café quente na minha mão. Isso me trouxe lembranças de quando eles despejaram coisas em mim, um produto químico em chamas...


Ele parou para respirar novamente. Fiona desejou poder colocar o braço ao redor dele e abraçá-lo com força, mas ele estava tão ferido que ela tinha certeza de que ele saltaria de sua pele se ela tentasse. Finalmente, ele prosseguiu: — O que não me deixa dormir ou comer. Chama-se invencibilidade à adrenalina. Fui seqüestrado por uma agência de operações negras e mantido em um laboratório. Eles me deram esse poder. Me transformaram em um shifter também. Eles disseram que estavam fazendo experimentos e talvez fosse verdade, mas também era tortura. Eles me fizeram... Justin engoliu em seco. Seus punhos cerraram com tanta força que suas juntas ficaram brancas. — Eu costumava ser um soldado, um aviador. Eu resgatei pessoas. Salvei suas vidas. Então Apex me levou, e eles me transformaram em um assassino. Ele parou de repente, como se alguém tivesse colocado a mão sobre a boca. Seus olhos escuros pareciam estar passando por ela ou através dela, e não sobre ela. Era como se ela nem estivesse ali: como se ele estivesse novamente no laboratório, forçado a suportar coisas terríveis, sozinho. A mente de Fiona estava acelerada. Ela podia dizer pela dificuldade que ele estava tendo que ele nunca contou a ninguém esta história antes, mas era tudo muito familiar para ela. A Apex, a agência de operações secretas que sequestrou pessoas, transformou-as em shifters e deu-lhes poderes a um preço terrível. Os – experimentos - sádicos. Serem forçados a se tornarem assassinos. A mesma coisa aconteceu com Shane. E até onde ela sabia, apenas uma outra pessoa havia sobrevivido. — Eu sei quem você é. — ela deixou escapar. — Você é Red! Os olhos de Justin voltaram para o foco assustado. — Sim, é como eles me chamavam nos PQ. Como você sabia? — Sou amiga de Shane Garrity. Ele me disse que você e ele eram PQ juntos até a Apex capturou vocês dois. Ele disse até o ano passado que achava que você estava morto.


— Você e Shane são amigos? — Justin balançou a cabeça com espanto. — Mundo pequeno. Como você o conhece? — Nós dois trabalhamos na Protection, Inc. É uma agência de segurança privada totalmente mutável. — Mundo ainda menor. Eu conheci alguns de seus companheiros de equipe. Mais ou menos. — Eu sei. Shane disse que você apareceu do nada e ajudou Nick quando ele foi ferido. — Nick. — disse ele pensativo. — Rapaz jovem com olhos verdes e muitas tatuagens? Perna quebrada, costelas quebradas, ombro deslocado, feridas por mordida, ferimentos por arma de fogo e choque? Como ele está? — Ele está bem. — ela assegurou. — Completamente recuperado. — Deixe-me fazer uma pergunta estranha. Você se lembra do que estava fazendo três dias antes do que aconteceu com Nick... — Justin falou como se não pudesse acreditar no que estava dizendo. — ... foi mordida, atirou e caiu de uma altura? — Sim. Eu estava disfarçada com alguns personagens desagradáveis que começaram a suspeitar que alguém os estava espionando. Eles me interrogaram sob a mira de uma arma. Houve alguns momentos que era pegar e correr. Mas, no final, convenci-os de que outra pessoa era o espião. Eles me soltaram, e eu escapei com a informação que procurava. O FBI arrombou as portas a tempo de impedi-los de assassinar o homem que eu acusei. — Hã. Bem, isso explica muito. Eu estive pensando que meu poder estava com defeito. Mas aposto que estava realmente rastreando você. Mesmo que eu nunca tenha te tocado, nunca tenha te visto. Fiona não tinha ideia do que ele estava falando. — Não entendi? — É outra coisa que a Apex fez comigo. Quando eu toco as pessoas, posso localizá-las, não importa para onde elas vão. Três dias antes de Nick ter seu dia terrível, horrível, nada bom, muito ruim, tive a sensação de que alguém estava com problemas e precisava da minha ajuda. Não é assim que


meu poder funciona normalmente, então achei melhor ir ver o que estava acontecendo. O problema é que eu não recebo um endereço na minha cabeça. Eu só tenho um senso de 'tenho que chegar'. — Justin apontou em demonstração. — Então eu entrei no meu carro e comecei a dirigir dessa maneira. — continuou ele. — Quando cheguei, o sentimento se foi. Mas eu estava em Santa Martina e sabia que Shane morava lá, então pensei que talvez ele estivesse em perigo e comecei a procurá-lo. Eu encontrei um cara que não era Shane, mas ele com certeza precisava de ajuda. Shane apareceu alguns minutos depois, ele estava perto. Mas eu acho que a pessoa que eu estava originalmente focando era você. — Foi assim que você me encontrou quando aqueles bandidos estavam prestes a me matar? — Sim, do mesmo jeito. Tive a sensação de que alguém estava com problemas, segui-a e encontrei você. — Por causa do... — Ela estava prestes a dizer. “O vínculo de companheiro”. Mas não havia vínculo algum. Justin não queria ser seu companheiro, e ela nunca poderia ser dele mesmo que ele quisesse. Ela parou sem terminar a frase. — Sim. Eu suponho que seja por causa de... — Justin obviamente achou tão estranho quanto ela, porque ele terminou com— ... isso. Mas havia algo que era mais importante e mais fácil de falar do que a estranha interação entre seu vínculo de companheiro não real e o poder de Justin. — Shane está muito preocupado com você. — ela disse. — Eu vou ligar para ele agora e dizer a ele que você está comigo... — Não! — Justin agarrou seu pulso como se ele pensasse que ela estava prestes a pegar um telefone. Então ele soltou como se fosse uma batata quente. Mais calmamente, ele repetiu: — Não. Não conte a ele. Não conte a ninguém. — Por que não?— Fiona ficou intrigada. Do jeito que Shane falou sobre ele, ela pensou que eles eram melhores amigos. — Ele pode manter


um segredo. Você deveria ligar para ele, só para deixá-lo saber que você está bem. Justin suspirou. — Bem, este é o problema. Eu não estou. — É exatamente por isso que você precisa entrar em contato com ele. Apex também o levou. E deixe-me dizer-lhe, quando eu o conheci, ele não estava muito bem. Mas ele está muito melhor agora. Ele entenderia o que você passou. Ele poderia ajudá-lo. Ele virou o olhar escuro para ela. — Eu disse não. Eu prometi proteger você, e eu quis dizer isso. Mas estou pedindo uma coisa em troca. Não conte a ninguém sobre mim. Se você não pode me prometer isso, eu vou te levar a algum lugar seguro e depois vou desaparecer. Para o bem. Fiona recuou. Depois de lutar por suas vidas juntos, depois da conexão pessoal que sentiram como se tivessem tido uma, mesmo depois de beijá-la de uma maneira que tinha certeza que ele queria fazê-lo, ele estava falando com ela como se não fosse nada além de uma cliente que o contratou. — Eu estava dando a minha opinião. — disse ela friamente. — Isso é tudo. Eu não tinha intenção de ir atrás de suas costas. Você não precisa me dar um ultimato. Se você está decidido a sofrer sozinho, longe de mim impedi-lo. — Bom. — Mas ele não parecia feliz. Então ela se lembrou de algo. Sem jeito, ela disse: — Só tem uma coisa. Eu não vou contar a ninguém sobre você. Mas alguém já sabe. Isto é, ele não sabe o seu nome ou quem você é. Mas a razão de eu ter ido até o seu apartamento é que estou em uma missão secreta, fingindo ser uma espiã freelancer para me infiltrar na organização de um traficante de armas chamado Epson. — Justin olhou para cima, interessado. — Eu sei quem é. Eu atrapalhei um acordo de armas que ele estava tentando fazer com um grupo terrorista. Oh. Ele fez você vir falar comigo? Ela assentiu, depois delineou suas duas missões: a real e a que Elson a enviara. — E então ele ordenou que eu matasse você se eu não pudesse te recrutar. Suas sobrancelhas se levantaram. — O que você disse?


— Eu fiz ele dobrar meu salário. — Nesse caso, você pode me comprar outra xícara de café. — Eu vou comprar uma xícara para você. — ela respondeu. — Eu não o fiz triplicar. Justin sorriu e a tensão entre eles diminuiu. Seu sorriso era tão raro e brilhante, era como um vislumbre do sol em um dia nublado, transformando tudo em ouro. Ela notou mais uma vez que seus cílios eram de um brilhante vermelho acobreado, surpreendendo contra seus olhos meia noite. — Eles te chamaram de vermelho por causa de seus cílios? — Huh? — Então a realização se espalhou por seu rosto. — Não. Eu tingi meu cabelo. Se não, atraio muita atenção. As pessoas se voltam para olhar para mim quando eu passo. Eu aposto que eles fazem mesmo, ela pensou. Ele pegou a caneca e tomou um gole. — Obrigado. Isso é ótimo. Ou talvez eu deva agradecer a Elson. Ela deslizou a cesta de massa para ele. — Para ir com o seu café de bônus de assassinato. Justin pegou um quadrado de limão e passou-lhe a cesta. Ela serviuse de um puff de creme. — Todas as suas tarefas são tão fascinantes? — Eu tento. — Ela comeu o creme, pensando sobre como seria não sentir o gosto de comida por anos. De certa forma, explicava por que ele era tão magro e por que ele não parecia se importar se não comesse por uma semana de cada vez. Mesmo assim, ela não entendia por que ele não se esforçava para manter-se em boa forma, mesmo que não gostasse. Não era como se ele não tivesse força de vontade ou disciplina para fazê-lo. Mas ela tinha certeza de que era uma das muitas coisas que ele não queria falar. Então, em vez disso, ela perguntou: — Por que você acabou com o acordo de Elson? — Eu estava perseguindo um cara chamado Bianchi. Ele era gerente intermediário da Apex, mas agora é comerciante de armas. Enquanto eu


tentava falar com ele, acabei escutando um grupo terrorista que estava pensando em comprar armas de Bianchi, mas Elson lhes ofereceu um acordo melhor. Eu não podia deixar essas armas cair nas mãos de terroristas. Então eu tive que abandonar meu plano original e terminar o negócio. Explodi as armas e deixei uma denúncia anônima com o MI-5 para coletar um monte de terroristas e traficantes de armas ilegais. — E o milhão de dólares? — Eu ainda tenho isso. Eu coloquei em um cofre sob um nome falso. Eu imaginei que precisaria sobreviver de alguma forma enquanto faço minhas coisas - eu deveria estar morto, então não posso ter acesso ao meu próprio dinheiro - e o que sobrar, eu darei para caridade. Eu não acho que tenha um dono legítimo para poder devolvê-lo. Agora um homem com integridade, pensou Fiona. Dê a ele um milhão de dólares de dinheiro sujo não rastreável, e ele pegou o que ele precisa para sobreviver e dá o resto. Como se eu precisasse de mais razões pelas quais nunca poderíamos ser companheiros. Justin franziu o cenho. — Fiona? Algo está errado? — Não. — Antes que ele pudesse prosseguir, ela perguntou: — O que aconteceu com Bianchi? — Eu perdi ele. Aparentemente, ele ouviu falar sobre o que aconteceu com o acordo de Elson, e isso o assustou. Eu finalmente descobri que ele tinha ido para Nova York, então eu vim para cá. Mas parece que ele está em Veneza agora. Ele é dono de uma casa lá, aparentemente. — Veneza, Califórnia? — Veneza, Itália. Eu ia comprar uma passagem hoje. — Junto com barras de granola. — Ela se lembrava dele se chamando de vigilante. — Então qual é o seu grande plano? Rastrear todos que já trabalharam na Apex? — Sim. Mas não apenas por vingança. A base que Shane e eu destruímos não era a única deles. Eles têm pelo menos mais uma, mas eu


não sei onde fica. Eu espero que Bianchi possa me levar até lá, ou me levar a alguém que possa me levar até lá. Eu quero destruir toda a operação deles, para que eles nunca mais possam ferir ninguém. A voz de Justin subiu em comando, e seus olhos brilharam com paixão. Apesar de todos os danos que lhe haviam sido causados, ele ainda era o homem que havia saltado para as zonas de combate e, sozinho, derrotara uma gangue de terroristas e os bandidos de Elson, simultaneamente. Se alguém pudesse fazer isso, seria ele. — Quer uma parceira? — Perguntou Fiona. — Você se juntaria a mim? — Justin parecia espantado, como se ele não pudesse imaginar alguém querendo ficar com ele. — Se você quiser. — Ela tentou soar casual, como se não se importasse se ele quisesse ou não. Mas ela pensou, eu te seguiria até os confins da Terra. Aquele sorriso brilhante dele iluminou seu rosto. — Claro que eu quero! Eu só... eu não sabia que você também queria a Apex. Eu sentiria isso por qualquer um que te machucou, ela pensou. Ela disse: — Explodi a base deles na Sierra Nevadas. — Mesmo? Você pessoalmente? Eu imaginei que sua equipe tivesse feito. — Eu assumo as acusações. Eu pessoalmente. Com minhas próprias duas mãos. — Ela as segurou para sua inspeção. Justin olhou para ela solenemente, depois tirou um chapéu imaginário e fez uma reverência muito honesta de uma posição sentada. — Eu tiro meu chapéu para você. E também, eu te devo uma bebida. Você tomaria uma taça de vinho italiano na Itália? — Eu vou. — Ela pensou rapidamente. — Elson espera que eu esteja me aproximando de você. Então, se continuarmos fingindo ser um casal, este é o nosso disfarce para a viagem, e também com Elson. Nós podemos matar dois pássaros com uma pedra só.


— Parece bom. — Ele se levantou, de repente cheio de energia, e ofereceu-lhe a mão. — Vamos fugir para Veneza juntos? Não havia nada que ela quisesse mais. Mas antes que ela pudesse pegar a mão dele, toda razão que o plano inteiro era uma péssima idéia surgiu em sua mente. Ela ia ser uma agente tripla em um jogo mortal de engano, enfrentando dois negociantes de armas internacionais diferentes, uma poderosa agência de operações secretas, e quem quer que fosse que tivesse atirado neles na noite anterior, tudo sem a ajuda ou mesmo conhecimento de sua equipe. Sua equipe inteira iria querer ajudar Justin com o plano dele, se eles soubessem, mas ela prometeu não dizer uma palavra. Na verdade, ela concordou em mentir para todos os seus amigos. Shane estava desesperado para ajudar Justin, mas Fiona não podia nem dizer que ela o conhecia. Shane a perdoaria se - quando - ele descobrisse? Ou ela destruiria a melhor amizade que já conhecera com outra mentira? Pior de tudo, ela estaria sozinha com Justin na cidade mais romântica do mundo, fingindo ser um casal, e sabendo o tempo todo que eles nunca poderiam tocar exceto enganar os observadores com uma demonstração de amor falso. Fiona não conseguia imaginar nada mais excruciante. Justin ainda estava lá, cheio de excitação e esperança. Ele passou por tanto. Ela não podia tirar isso dele. Não só isso, mas ela tinha que ficar com ele para protegê-lo. Ele estava decidido a assumir Apex, e se eles se separassem, ele faria tudo sozinho. Nenhuma pessoa, por mais dura que fosse, teria uma chance. Ele salvou sua vida duas vezes. Ela não podia deixá-lo jogar só. Ele é seu companheiro, sibilou seu leopardo da neve. Você não pode se afastar do seu companheiro. Seu leopardo estava certo, de certa forma. Quando chegasse a hora, Fiona não conseguiria se afastar dele. Não importa o quanto doesse.


Ela pegou a mão dele. Como a primeira vez que eles tocaram, quando ele colocou uma arma sob o olhar atento de seis assassinos, uma sacudida atravessou seu corpo. O que é isso? Fiona perguntou. O vínculo de companheiro, seu leopardo da neve ronronou. Tentando fazer você parar de negar e se conectar. O leopardo da neve de Justin aparentemente lhe disse algo semelhante. Com uma gentileza que picou mais que um tapa na cara, ele disse: — Acredite em mim, se eu pudesse ser seu companheiro, eu seria. Eu simplesmente não posso. Fiona sentiu que perderia a cabeça se o ouvisse dizer mais uma vez. — Vamos esclarecer isso. Você não é o único a fazer essa ligação. Eu também. Então você pode parar de dizer isso. — Você não quer ser minha companheira? — Agora ele parecia magoado. — Não é que eu não queira. Eu simplesmente não posso. — Ela repetiu suas palavras em sua mente, percebeu que elas eram idênticas ao que ele havia dito antes, e apressadamente disse. — Desculpe. Eu não estava tirando sarro de você. Parece que estamos no mesmo barco aqui. Se fôssemos pessoas diferentes com vidas diferentes, nós nos reuniríamos e seria ótimo. Mas nós somos as pessoas que somos, com as vidas que temos. E isso não está acontecendo. Ele assentiu bruscamente. — Ei, somos ambos adultos. Então estamos atraídos um pelo outro. Então nossos leopardos continuam nos dizendo para irmos em frente. E daí? Nós concordamos que não vamos, então não vamos. — Certo. — respondeu Fiona, mantendo a voz calma e fria. — Nós não vamos. Não foi até que ela se virou para começar a fazer as malas e percebeu que nenhum deles havia soltado a mão do outro.


Todas as escolhas que fiz na vida, não tinha espaço para um companheiro, eu fiz anos atrás, ela pensou. E agora é tarde demais. O dispositivo de inversão de tempo era apenas uma piada. Ela soltou.


Justin Justin olhou ao redor com cautela quando eles deixaram o Ritz. Nem ele nem Fiona tinham ideia de quem atirara neles na noite anterior, nem se os assassinos tentaram rastreá-los. Ele caminhou ao lado dela com todos os seus sentidos estendidos, pronto para protegê-la se ele pegasse o menor indício de perigo. Mas tudo estava em paz quando eles chamaram um táxi para o aeroporto, nem tiveram dificuldade em comprar as passagens para o próximo voo de partida para Veneza. Ele teve que admitir, posando como um casal feliz, fez todo o cenário mais plausível. Especialmente a maneira como Fiona riu feito uma menina e pendurou no braço dele. O funcionário até piscou para eles. Justin forçou um sorriso. Metade dele desejava não ter concordado com aquela história do disfarce em particular - sabia perfeitamente que era frustrante para Fiona, sem mencionar que o torturava - e metade dele se culpava da oportunidade de tocá-la. Você pode tocá-la o quanto quiser, sibilou seu leopardo da neve. Seu idiota. Justin ignorou o gato grande. Mas ele manteve o braço em volta da cintura fina enquanto passeavam pelo aeroporto. Ele comprou uma escova de dentes e outros materiais de viagem, e ela comprou um telefone descartável barato para substituir o que havia perdido no armazém. — E uma bolsa nova? — Ele perguntou. Ela olhou para uma exibição de bolsas de grife e balançou a cabeça. — Vou pegar um em Veneza. Uma carteira também. É a Itália, eles serão mais legais do que qualquer coisa que eu puder comprar em um aeroporto. — Você já esteve lá antes?


— Eu estive em Roma. Não Veneza. Eu sempre quis ir, mas nunca cheguei até aí. E você? — Eu nunca viajei para qualquer lugar fora dos EUA. — Assim que ele disse isso, percebeu como estava completamente errado. Ele não só passou bastante tempo no Afeganistão, ele acabou de voltar da Inglaterra. Mas não era como se ele fosse capaz de aproveitar às vistas em qualquer país. — Quero dizer, não por diversão. Ela parecia entender o que ele queria dizer, o que era bom porque ele não podia explicar em público. Sua identidade falsa, Andrew Wright, era o chefe de RH de uma cadeia de lava-rápido de carros e nunca servira nas forças armadas. Com um brilho travesso em seus olhos, ela observou: — Essas viagens de negócios mantêm você preso nos escritórios o tempo todo. Você pode muito bem nunca ter deixado a América. — Oito horas por dia em escritórios com ar condicionado que parecem todos iguais. — ele respondeu, mantendo uma expressão séria. — Apresentações de power point sem fim sobre plataformas de software integradas. Às vezes eu realmente me pergunto se estou no caminho certo da carreira. — Bem. — disse Fiona depois de uma pausa em que ele tinha certeza de que ela estava tentando não rir. — É o que acontece quando você escolhe a segurança no emprego em um ambiente de trabalho mais variado. O anúncio de embarque interrompeu a conversa, mas ele ainda sorria enquanto se juntavam à fila. Ele nunca se cansaria de falar com ela, mesmo quando eles tivessem que manter seus personagens e não pudessem falar livremente. Seu senso de humor era tão astuto e inesperado. Mas ele não podia esperar até que eles estivessem sozinhos, para que ele pudesse aprender mais sobre ela. Ele queria saber de tudo: não apenas eventos vitais cruciais como o lugar onde ela crescera, por que ela havia se tornado guarda-costas, e se ela tinha nascido uma metamorfa ou transformada em uma, mas pequenas coisas cotidianas como seu gosto pela leitura, quais eram seus desejos secretos por comidas e as porcarias, e se ela seguia os esportes. Se ela não o fizesse, talvez ele pudesse convertê-la. Ele adoraria levá-la para um jogo


de futebol, compartilhar uma cerveja e um saco de amendoim e ver como ela se pareceria em um boné de beisebol (muito sexy, ele apostou). Ela literalmente baixou o cabelo quando eles tomaram café da manhã juntos, mas ele estava morrendo de vontade de vê-la fazer isso metaforicamente. Pareco m isso, ele ordenou sua própria imaginação traiçoeira. Você não está levando ela para nenhum jogo de beisebol. Vamos ver isso, ronronou seu leopardo da neve. Justin balançou a cabeça em descrença quando eles embarcaram no avião. Desde que ele conheceu Fiona, seu gato interior tinha feito uma reviravolta completa de seu modo habitual de rosnar e assobiar em fúria ou pânico, a ronronar com o que Justin poderia jurar era presunção satisfeita. Era tão bizarro que ele nem sabia como argumentar. — Janela ou corredor? — Fiona perguntou. — Corredor. — disse ele instantaneamente. Ele não esperava que nada acontecesse no vôo, mas na chance de que isso acontecesse, ele queria seu corpo entre ela e qualquer atacante. Eles tomaram seus lugares. Ele teria comprado bilhetes na econômica, por puro hábito, se nada mais. Mas Fiona fez a reserva e foi para a classe executiva. Os bancos eram inesperadamente confortáveis. — Isso com certeza é melhor que... — Transportes militares, ele pensou, mas substituiu. — Econômica. Mais uma vez, Fiona deu a ele aquele sorriso encantador que lhe dizia que sabia a verdade por trás das palavras. — Sim. Olha, eles inclinam totalmente para trás. Ela inclinou seu assento para trás até que ele estava praticamente deitado completamente. — Durma um pouco, querido. Você teve uma semana difícil. — Eu tomei o assento do corredor para me certificar de que ninguém te incomode. — ele protestou. Suavemente, ela respondeu: — E ninguém vai, se você estiver nele. Todos os comissários de bordo tentam chegar até você para me entregar


lanches que eu não quero, você vai acordar em um piscar de olhos e parálos. Certo? Ele considerou isso. Não importava o quão exausto ele estivesse - e ele ainda estava cansado - ele não conseguia se imaginar dormindo durante uma tentativa de ataque a Fiona. E ela estava certa de que qualquer atacante teria que alcançá-lo. — Sim. Nenhum pacote indesejado de amendoim vai passar por mim. — Então vá dormir. Você não quer continuar cansado em Veneza e perder suas férias. Ela estava certa de que ele seria menos eficiente - e menos capaz de protegê-la - se ele ainda estivesse privado de sono quando chegasse. Mas o pensamento de dormir em um lugar público cheio de estranhos o inquietava, mesmo sabendo que ele acordaria se houvesse algum perigo. Justin mordeu o lábio inferior, tentando descobrir como transmitir isso. — Eu odiaria perder o filme a bordo. Pode ser algo excitante. Ele alcançou os controles do assento. Fiona pegou a mão dele. — Vou ficar de vigia. Se algo aparecer e eu souber que você gostaria de ver, eu vou te acordar. Ele também a entendia perfeitamente: vá dormir. Eu vou ficar de guarda para que você possa se sentir seguro. Era o tipo de coisa que os PQs faziam um pelo outro. Requeria confiança absoluta. Mas ele confiava nela. — Obrigado. — Ele soltou os controles do assento e enrolou os dedos ao redor dos dela, tentando transmitir com o fecho e os olhos sozinhos o quanto isso significava para ele. — Eu farei o mesmo por você a qualquer hora. Você nunca perderá um filme pelo qual você está ansiosa. Não enquanto eu estiver por perto. Os olhos verdes de Fiona brilharam. Com lágrimas? Então ela piscou e eles se foram. — Eu vou te abraçar.


Fechou os olhos e afastou-se para o calor reconfortante da mão dela segurando a sua, a vibração familiar dos motores, e o som estranho de seu leopardo da neve ronronando. Justin foi acordado pelo aumento da pressão do ar quando o avião chegou para pousar. Foi horas depois, mas a mão dela ainda estava envolvida em torno da dele. Ele piscou para ela. — Já chegamos? Ela deu um suspiro distintamente não feminino. — Quase. E se você não parar de perguntar, vou virar esse avião pelo ar. Ele levantou o assento. Para seu pesar, isso a fez soltar a mão dela. — Nenhum filme que eu queria ver, hein? — Nada com lutas de armas, batalhas de artes marciais ou explosões. — Com um leve toque em sua voz, ela disse: — Apenas pessoas falando sobre seus sentimentos. Beijando e ficando nus. Nada do que você estaria interessado. — Ficando nus em um filme de bordo? — Justin perguntou. — Isso é diferente. Fiona furtivamente chutou seu tornozelo. — Nus com lençóis cobrindo as peças com classificação R. — Se eles ficarem nus de verdade, me acorde. Ela o chutou de novo. Ele manteve uma cara séria e olhou além dela, pela janela. Era noite. Veneza era uma ilha de luzes cintilantes no meio de um mar escuro. Quando o avião pousou, ele sentiu que não estava entrando em um país desconhecido, mas entrando em uma vida desconhecida. Seu leopardo da neve ronronando. Fiona, guardando seu sono. Ele mesmo, com alguém para proteger. Eles pegaram suas malas despachadas no carrossel de bagagens. Justin imediatamente pegou sua mochila e se dirigiu para o banheiro, onde ele poderia tirar sua arma e amarrá-la sem alarmar ninguém. Ao fazê-lo, viu Fiona levar sua pequena mala para o banheiro feminino, presumivelmente pelo mesmo motivo. Isso também parecia surreal. A última vez que ele


esteve na companhia de alguém que também sempre carregava uma arma, ele era um PQ. Era como se ele tivesse voltado para um tempo melhor. A sensação de estranheza aumentava quando eles saíram do aeroporto e, em vez de pegar um táxi, pegaram um vaporetto - uma lancha do tamanho de um ônibus. Ela seguiu em frente, zumbindo no motor, e os desembarcaram em uma cidade de prédios antigos, com água batendo nas soleiras das portas da frente. O luar cintilava na água dos canais, as flores cresciam nas janelas das casas que perfumavam o ar e os pássaros noturnos cantavam. Justin sentiu como se ainda estivesse em um sonho - um muito agradável, pela primeira vez - enquanto ele e Fiona caminhavam pelos canais. Mas ele acordou com pressa quando ela pegou o telefone e programou o endereço que ele havia lhe dado em seu GPS. Veneza era uma ilha tão pequena que tudo ficava a pouca distância - inclusive a casa de Bianchi. Eles se dirigiram para lá. Uma vez que eles estavam sozinhos em um beco escuro, ele pegou o braço dela. — Espere. Ele fechou os olhos. Mas antes que ele pudesse invocar o gelo, ela o agarrou pelo ombro. — O que você está fazendo? — Ela sussurrou ferozmente. Ele abriu os olhos. — Demoro um ou dois minutos para me tornar invencível. — O que? Por que você faria isso? — Eu sei que dissemos que íamos checar quando chegássemos. Mas podemos aproveitar a oportunidade agora. Ou alguém poderia nos identificar e atacar. Então eu pensei que seria melhor fazer isso agora. Leva tempo e foco, e eu não quero perder minha chance. — Isso não foi o que eu quis dizer. Por que você está fazendo isso? Justin lembrou-se de quando ele lhe explicara isso, e decidiu que ele devia ter ficado tão abalado por ter contado a ela sobre a Apex que sua


explicação de seu poder não fazia sentido para ela. — Quando sou invencível, não sinto dor. — Então? — Ela exigiu. — Você é um PQ. Por quê você se importa com a dor? — Não é só dor. São os efeitos do dano. As feridas nem sempre machucam imediatamente, mas se você levar um tiro, você vai cair se dói ou não. Se eu sou invencível, não vou. — Se você levar um tiro, temos problemas maiores do que se você desmaiar ou não no local. — disse ela secamente. — Não faça isso. Ela está certa, seu leopardo da neve sibilou. Justin o ignorou. Seu leopardo sempre votou contra o seu poder. — Por que não? — Por que não?— Suas sobrancelhas se levantaram. — Você se olhou no espelho ultimamente? Para sua informação, parece que você acabou de sair de uma zona de guerra. — Vai ser por um par de horas, no máximo. — ressaltou. — E não é como se eu estivesse comendo ou dormindo de qualquer maneira. Vou tirálo assim que terminarmos. — Hmm. — Ela não parecia feliz, mas claramente não tinha um bom argumento contra isso. Ela não sabe que você não pode mudar quando você é invencível, sibilou seu leopardo da neve. Se ela acha que pode, ela pode tomar ações com base nisso. Você não pode deixá-la entrar em perigo acreditando em uma mentira que poderia prejudicá-la! Justin havia se esquecido disso. Relutantemente, ele disse: — Eu não posso mudar quando sou invencível. Só para você saber. — De jeito nenhum! — Fiona baixou a voz. — Então esqueça isso! Não vale a pena. — Sim, vale! — Justin insistiu, então lembrou de abaixar a voz também. — Não é como se quiséssemos nos transformar em leopardos da neve em Veneza. Atrairia muita atenção!


Ela cruzou os braços. — Eu quero ter essa opção. Para nós dois. Olha, isso deveria ser reconhecimento. Vamos apenas verificar o lugar. Se parece que podemos entrar, podemos repassar essa discussão. Justin olhou em volta, inquieto. Eles estavam no beco discutindo, e nem sempre em sussurros, por minutos agora. — Bem. Vamos sair daqui. Eles saíram do beco e continuaram em direção à casa de Bianchi em silêncio. Justin não mais notou Veneza como um lugar bonito, mas apenas observava todas as áreas onde os assassinos poderiam estar escondidos e os lugares onde eles poderiam se esconder se fossem atacados. Fiona se moveu ao lado dele como um gato, seus pés silenciosos. Quando se aproximaram da mansão de Bianchi, ele sentiu sua vulnerabilidade como uma arma na cabeça. Como ele deveria protegê-la quando tudo o que precisaria para derrubá-lo era um dardo, uma bala ou até mesmo uma faca? Ele se aproximou dela, seus sentidos em alerta máximo, pronto para se jogar na frente dela. — Pare de me amontoar. — ela sussurrou. — Eu sinto que vou tropeçar em seus pés. Relutantemente, ele se afastou. Nós podemos proteger nossa companheira melhor assim, seu leopardo da neve assobiou. Se alguém atacar, podemos atacar e arrancar suas gargantas! A ferocidade de seu leopardo o tranquilizou quando eles entraram em uma lacuna sombria entre edifícios para observar a casa de Bianchi. Era patrulhada por um grande número de seguranças armados, todos alertas e profissionais. Justin assistiu invisível das sombras, procurando por falhas na segurança, mas não viu nenhuma. Ele olhou para Fiona no caso de ter visto algo que ele perdeu, mas ela balançou a cabeça. Eles saíram tão furtivamente quanto eles entraram. Uma vez que eles estavam em outro beco vazio, ela disse: — Eu poderia ser capaz de ir disfarçada e entrar em sua casa como empregada doméstica ou assistente ou algo parecido. — Sozinha? — Justin odiava essa ideia.


— Ele sabe como você é. — ela apontou. — Ele até sabe que você está atrás dele. Não tem como você entrar. Ou poderíamos esperar que ele saísse e o pegássemos do lado de fora. A menos que você tenha uma ideia melhor. — Não... — Ele considerou uma terceira possibilidade, então balançou a cabeça. — Não. — O que você estava pensando agora? — Bem, eu poderia matar os guardas. Mas não tenho certeza se poderia conseguir todos eles antes que alguém pudesse soar um alarme. E mesmo se eu pudesse, eles provavelmente apenas contrataram seguranças, não são funcionários da Apex. Eles são inocentes. O olhar que ela lhe deu o fez se sentir como se pudesse ver todas as pessoas que ele matou para a Apex. Seu olhar estava sem piscar, os olhos sem cor ao luar. — Eu não sou mais o Sujeito Sete. — ele disse. — Pelo menos, estou tentando não ser. — Oh, Justin. — Sua expressão mudou tão completamente que ele se perguntou se ele interpretou mal a primeira vez. Ela pegou a mão dele na dela. — Eu sei que você não é . Eu não acho que você tenha sido realmente. — Você não... — As palavras ficaram presas em sua garganta. Ele engoliu em seco e continuou: — Você não sabe o que aconteceu lá. As pessoas que morreram por minha causa. — Eu sei que não foi sua escolha. Ele queria dizer a ela que isso não importava, mas tudo em que ele podia se concentrar era o calor de suas mãos, o toque de sua pele como uma corrente elétrica, e a simpatia escrita em todo o seu rosto. E não apenas simpatia, mas empatia. Como se ela não apenas se sentisse mal por ele estar rasgado por dentro com culpa, mas também sentisse a mesma coisa. O que não fazia sentido. Ela não fez nada de errado. Ele viu em sua alma, que brilhava como o sol. Ele era o único com escuridão dentro dele.


— Eu... — Suas mãos se fecharam sobre as dela. Mesmo quando ele segurava a mão dela, estava quebrando seu coração que ele sabia que teria que deixá-la ir. — Obrigado. Ela não respondeu, mas simplesmente ficou ali, olhando nos olhos dele. Ela era tão linda. No ar fresco da noite, ele podia sentir o calor saindo de seu corpo. Sua cabeça estava inclinada para cima, os olhos meio fechados, os lábios entreabertos. Seria tão fácil abaixar-se e saborear a doçura aveludada de seus lábios, puxá-la para perto e sentir seu corpo moldar-se ao seu... ... e levá-la comigo, como um homem se afogando, puxando seu salvador para baixo. Justin se endireitou com um puxão. Ao mesmo tempo, Fiona arrancou as mãos dele como se tivesse sido queimada. Ela se abaixou, evitando os olhos dele, e bateu nas coordenadas de GPS em seu telefone. — Não estamos longe do nosso apartamento. — disse ela. — Vamos dormir um pouco e descobrir um plano de manhã. — Certo. Eles caminharam pelos canais até o lugar onde iriam ficar. Eles reservaram um apartamento no aeroporto, mas como era a alta temporada turística e foi em cima da hora, não tiveram muitas opções. Eles tinham escolhido este apartamento mais por segurança do que por conforto, por que tinha um lance de escadas estreito que seria impossível subir sem ser ouvido, e com uma bela vista dos canais que também significava que eles poderiam pular pela janela se eles precisassem. Eles usaram o código que o dono lhes dera para abrir a caixa de correio para pegar a chave, destrancar a porta e levar a bagagem para o andar de cima. O apartamento tinha um banheiro, uma quitinete com um minifrigobar, uma chapa elétrica, e um quarto de tamanho médio com uma mesa e cadeira, mas sem sofá. Também tinha apenas uma cama. Novamente.


Fiona sentou-se, evitando os olhos, e tirou o laptop da pequena mala. — Deixe-me fazer uma pesquisa sobre Bianchi. Ver se consigo descobrir onde podemos emboscá-lo. — Parece uma boa ideia. Para evitar olhar para aquela maldita cama, Justin foi até a varanda e ficou olhando para os canais. O luar transformava as águas paradas em prata líquida e as pontes arqueadas em marfim brilhante. A lua cheia se refletia na água como uma imensa pérola. Ele nunca tinha visto nada tão bonito em toda a sua vida, exceto pelos olhos de Fiona. Se ele tivesse sido invencível, ele não teria pensado que valeria a pena uma segunda olhada. — Justin? Voltou para dentro e sentou-se na cama, a uma distância prudente dela. — Encontrou algo? — Encontrei. Bianchi parece ser uma pessoa caseira. Ele faz festas extravagantes e diverte os convidados, mas ele não sai muito de casa. Ele recebe a maior parte do que ele precisa através de entregas. Se nós pularmos a casa dele e esperarmos que ele saia, poderemos estar literalmente esperando por semanas. — Não é como se eu tivesse algum lugar que eu precisasse estar. — Justin apontou. — Mas se você tiver... — Oh, espere. — Fiona se inclinou sobre seu laptop. — Há uma vez que ele sai. Ele é um grande fã do Carnaval. — Ele vai ao carnaval? — Justin teve dificuldade em imaginar o gerente frio da Apex torcendo em um festival de corridas ou atirando bolas de golfe em tigelas de peixes dourados. — Não carnavais. O Carnaval de Veneza. É um festival antigo que eles ainda celebram aqui. Naquela época, reis e rainhas se misturavam com plebeus, mas todos usavam máscaras para que ninguém soubesse quem era quem. E as máscaras davam às pessoas permissão para fazer coisas que nunca poderiam fazer em suas verdadeiras personalidades.


Ela virou o laptop em sua direção. Ele examinou as fotos de pessoas posando nas ruas e praças de Veneza em trajes elaborados e máscaras. Alguns usavam vestidos de baile cobertos de rendas, algumas capas negras, algumas máscaras eram brancas e tristes, outras pareciam marteladas de ouro, e algumas tinham longos bicos de pássaros. — É na próxima semana. — disse Fiona. — É por isso que tivemos tanta dificuldade em encontrar um lugar para ficar, é um momento de alta temporada para os turistas. E, aparentemente, Bianchi gosta de se vestir com roupas incrivelmente extravagantes para mostrar a todos como ele é rico. Tipo, máscaras feitas com ouro verdadeiro. E o Carnaval acontece nas ruas, não dentro. — Ah, ha. Nós poderíamos pegá-lo enquanto ele vagueia pesando ouro. — Exatamente. E nós estaríamos em máscaras também, então ele não veria você chegando. Também teremos que comprar roupas, é claro. Justin olhou duvidoso para as roupas, que tendiam para o enorme, elaborado e espalhafatoso. — Há algum em que possamos vestir? — Tenho certeza de que poderemos encontrar alguma coisa. Vai ser caro, já que é tão de última hora. — Meu milhão de dólares está indo rápido. Eu me sinto mal pela caridade que eu estava planejando dar. — Pense nisso como apoiar artesãos locais. — ela aconselhou. — Essa é uma boa causa. — Verdade. Bem, talvez isso seja o melhor. Estamos aqui de qualquer maneira, então podemos tirar uma semana e conhecer a cidade. Se Bianchi é um caloteiro, não precisamos nos preocupar com ele me localizando. Pode ser divertido. Os olhos de Fiona brilharam de prazer. — Oh, vai ser mais do que divertido. Eu queria vir aqui por anos. Podemos ver o Palácio dos Doges, a Basílica de São Marcos e a Ponte dos Suspiros e... — A ponte dos suspiros? — Justin repetiu.


— É porque os condenados seriam levados por ele a caminho da prisão. Eles suspiravam em sua última visão da beleza de Veneza antes de serem trancados em suas celas sem janelas. — Deve ser uma boa visão. No entanto, se você vai ficar trancado, um estacionamento provavelmente é suficiente para fazer você suspirar, se não tiver paredes. — Ele bocejou. — Com licença. — Vamos descansar um pouco.— Ela lançou-lhe um olhar meio divertido, meio preocupado. — Você ainda tem cinco noites para pôr em dia. — Não funciona exatamente assim. — Oh? — A borda em sua voz estava de volta. — Como isso funciona exatamente? — Não preciso de uma noite de sono para cada noite que perdi. Isso é tudo. Para evitar mais conversas sobre esse assunto, ele tirou o pijama da bolsa, foi até o banheiro e fechou a porta. Ele normalmente dormia em boxers, mas ele comprou pijamas no aeroporto, dado que ele estava hospedado com Fiona. Ele deliberadamente selecionou os piores, não que qualquer pijama fosse especialmente sexy. Mas quando confrontado com a escolha entre um conjunto preto simples que se agarrava ao seu corpo e um conjunto folgado da cor de um copo de leite esquecido sob o sofá por uma semana, ele escolheu o último. Nenhum ponto tentando o destino. Não só ele iria garantir que ele não pareceria atraente para Fiona, ele esperançosamente também fazia com que ele não se sentisse em um clima sexy. Quando ele saiu de pijama cor de mofo, ela o olhou com descrença. Então, sacudindo a cabeça, ela pegou uma braçada de tecido e entrou no banheiro. Enquanto ela estava se trocando, ele colocou alarmes nas portas das escadas e na varanda. Ele tomou seu tempo fazendo isso. Ele tinha memórias extremamente vivas de sua camisola curta e flutuante, e ele não queria ser pego olhando. Mas quando Fiona emergiu, ele teve que reprimir uma risada. Ela comprou roupas de dormir novas também, e aparentemente com a mesma


ideia que ele teve quando adquiriu a dele. Ela usava uma camisola excessivamente modesta de flanela xadrez vermelha, com mangas compridas, gola alta e uma bainha que quase chegava ao chão. Se ela estivesse fazendo testes para um filme com um título como Confronto no Sagebrush Ridge, teria sido perfeito. Mas como um dispositivo desestimulante, foi um total fracasso. Ela ainda parecia sexy. Além disso, adorável. Ela tirou o cabelo, mas deixou as tranças dentro. Eles penduraram quase até a cintura, dando-lhe um ar de colegial. Justin teve o desejo quase irresistível de pegar um e dar um puxão. Ele teve que cruzar os braços sobre o peito para se conter. Deixou que ela escolhesse o lado da cama, então entrou no outro, mantendo a maior distância possível. Era uma cama de tamanho normal, não uma kingsize ou mesmo uma queensize, de modo que não tinha muito espaço. Se houvesse mais de dois travesseiros, ele teria tentado amontoálos em uma barreira. Mas talvez fosse melhor que não houvesse. Construir uma parede seria infantil e não faria nada além de tornar uma situação constrangedora mais embaraçosa, chamando a atenção para sua falta de jeito. Como ele disse, ambos eram adultos. Eles eram perfeitamente capazes de dormir na mesma cama e não fazer nada além de dormir. — Boa noite, Fiona. — Boa noite, Justin. — Ela apagou a luz. A cama era confortável, mas o sono não vinha. Ela estava tão perto dele que ele se sentia aquecido pelo calor do corpo dela. Cada pequeno movimento que ela fazia era transmitido para ele pelas cobertas e colchões. Ele podia ouvi-la respirar suavemente, quieto, mas tão chamativo como um concerto ao vivo em plena explosão. Até mesmo o ar ao redor deles era perfumado, fraco mas inconfundivelmente, pela fragrância persistente de seu xampu e, abaixo disso, seu próprio aroma natural. Mas mais distração do que o simples fato de sua presença era o conhecimento de que tudo o que ele tinha que fazer era estender a mão, e ele a tocaria. Tudo o que ele tinha que fazer era pedir, e ele poderia tê-la em seus braços e sentir a paixão crua de seus beijos. A força de vontade


necessária para não tocá-la o fez cerrar os dentes, e se deitar lá rígido como uma estátua tombada, deixava seus músculos tremendo de tensão. Toque nela, sibilou seu leopardo da neve. TOQUE-A. Se ele ficasse lá por mais um segundo, ele ia fazer isso. Justin saiu da cama. A voz de Fiona subiu bruscamente. — Você está bem? — Sim eu estou bem. Desculpa. Eu não consegui dormir. — Oh. — Ela parecia aliviada, mas não surpresa. Ele olhou para ela. O luar vindo das janelas fez seu cabelo brilhar como prata. E ela não se mexera desde que eles tinham deitado na cama, mesmo que tivesse sido - ele checou o relógio - há uma hora. Ela obviamente estava deitada acordada também. Pegou o travesseiro e caiu no tapete ao pé da cama, depois começou a remexer no armário. Encontrou uma lâmpada sem lâmpada, várias caixas de sapato, um conjunto de chinelos de quarto em formato de elefante e um grande prêmio! Um cobertor que ele espalhou abaixo do travesseiro. — O que você está fazendo? — Fiona se sentou e acendeu a luz da cabeceira. — Vou dormir no chão. — disse ele. — Não, você é o único que não dorme há dias. Você pega a cama. Eu vou tomar o chão. — Não seja ridícula. — protestou Justin. — Você fica na cama. Sou eu quem não quer estar lá. — Só porque estou nisso. Bem, não mais. Eu estava saindo de qualquer maneira. Você estava me distraindo também. — Ela saiu da cama. — Volte para a cama. Eu vou tomar o chão. — Não! — Ele a viu olhando para o cobertor e sentou-se nele antes que ela pudesse deitar nele e reivindicá-lo. — Olha, eu estou acostumado a dormir no chão duro. Você não está. Então você pega a cama.


— Você está certo, você não dormiu em uma boa cama pelo o quê? Anos? Então você deveria tê-la. — Isso é por escolha. — justificou Justin. — Pelo menos, nos últimos dois meses, tem sido por escolha. Se eu quisesse uma boa cama, poderia ter conseguido uma. — Isso é verdade. — disse Fiona, pensativa. Mas em vez de voltar para a cama, ela continuou: — Você tem muito dinheiro. Você tem um milhão de dólares. Por que você estava de cócoras em um armazém abandonado? — Eu não queria que ninguém soubesse onde eu estava. — Você tem uma identidade falsa. Você poderia ficar no Ritz. — Não me ocorreu ficar em qualquer lugar agradável. — ele admitiu. — Então, aproveite estar em algum lugar legal agora. — Ela apontou com firmeza para a cama. — Não. — Por que não? — Fiona exigiu. — Eu não posso dormir em uma cama enquanto você está no chão. — disse Justin, frustrado. — Esqueça. Eu não farei isso. — Bem, eu também não vou. — Ela começou a embrulhar o travesseiro e cobertores da cama em seus braços. — O que você está fazendo? Ela marchou para o banheiro com eles, desaparecendo de vista. Com a voz ligeiramente abafada, ela respondeu de volta: — Estou dormindo na banheira! — O que? Por quê? Ela não respondeu, mas ele ouviu seus cobertores ruidosos. Ele tinha certeza de que ela estava fazendo isso de propósito. O bater de cobertas e bater os travesseiros durou muito mais tempo do que o necessário, e então o silêncio caiu.


Incapaz de acreditar que ela estava realmente passando por isso, ele se levantou, foi até a porta do banheiro e bateu. — Entre. — ela chamou. — Porta aberta. — Eu posso ver isso. — Ele entrou. Com certeza, ela tinha construído uma espécie de ninho para si mesma na banheira. — Você tem que estar brincando comigo. Ela cruzou os braços sobre o peito. — Não. Eu desisti da cama. Se você não dormir, vai ficar lá. Vazia. Então você pode muito bem levar isso. — O mesmo para você! Eles se encararam. Então Justin olhou para o ninho da banheira e começou a rir. — Você sabe que isso é ridículo, certo? Ela manteve sua carranca trancada e carregada por mais alguns instantes, então escapou uma risadinha. — Sim. — Então você vai levar a cama agora? — Sem chance. Ele contemplou preguiçosamente pegá-la, cobertores e tudo, e jogála de volta na cama. Mas ele rapidamente descartou essa noção. Por um lado, ela voltaria logo para a banheira assim que ele a soltasse. Por outro lado, ela indubitavelmente lutaria contra ele. E por um terço, ele tinha a sensação de que qualquer luta física entre eles levaria à coisa exata que ele deixara a cama para evitar. — Tudo bem. — disse ele. — Boa noite. — Boa noite. — ela disse. — Bons sonhos. — Não bata sua cabeça na torneira quando você acordar. Fiona revirou os olhos para ele, em seguida, de má vontade, moveu o travesseiro para a outra extremidade da banheira. — Bons sonhos. — disse Justin, e voltou para seus cobertores no chão.


Fiona Fiona contorceu-se na banheira, mas tentou fazê-lo em silêncio, para que não acordasse Justin se ele conseguisse dormir. Era incrivelmente desconfortável. Mas ela dificilmente voltaria para a cama se ele estivesse no chão. Talvez se ela ficasse na banheira, ele eventualmente decidisse que, uma vez que a cama estava ali e vazia, ele poderia dormir nela. Ela afofou o travesseiro pelo que parecia ser a trigésima vez em que ouviu um som do outro quarto. Fiona congelou, abruptamente em alerta máximo. A adrenalina subiu por suas veias, ela silenciosamente se levantou da banheira e foi até a porta do banheiro, que ela havia deixado entreaberta. Mas quando ela olhou, não viu ninguém no quarto, mas Justin, deitado no chão com a cabeça virada para longe dela. Enquanto ela observava, ela ouviu o som novamente. Desta vez, ela poderia identificá-lo como um gemido suave. — Justin? Ele sentou-se ereto com um suspiro. Sua mão esquerda agarrou seu quadril, não encontrou nenhuma arma e caiu. — Fiona. — Sua voz tremeu ligeiramente, em seguida, estabilizou. — Algo está errado? — Não. Você está bem? Ele empurrou o cabelo para fora do rosto. — Estou bem. Volte a dormir. Pegue a cama se quiser. Tenho certeza de que é mais confortável que a banheira. — Tenho certeza que é mais confortável do que o chão. — ela respondeu. — Vá você. Deitou-se no tapete e fechou os olhos. Ela voltou para a banheira.


Quando ela acordou na manhã seguinte, rígida, apertada e com um torcicolo no pescoço, encontrou-o fazendo alongamentos no chão. Ela se sentou e se juntou a ele. Ele não parecia mais descansado do que ela se sentia, mas ela não mencionou. Qual era o ponto? Ele apenas dizia que estava bem e se aborrecia com ela por perguntar. Ela tomou um banho e se sentiu melhor depois de uma infusão de água quente. Quando foi a vez dele, ela contemplou seu telefone. Ela tinha que ligar para o Sr. Elson, mas ela podia esperar até que Justin saísse para fazer a ligação, para que ele pudesse ouvi-la. Isso a salvaria de ter que recapitular para ele depois. Mas o pensamento dele observando e escutando enquanto ela se tornava a espiã sem coração a fazia se encolher. Ele saberia que era apenas uma encenação, claro. Mas, mesmo assim, ela não queria que ele a visse fazer isso. Mais que isso, ela não queria que ele visse como ela era boa em ser falsa. Ela fechou os olhos, levou um momento para entrar no personagem, depois ligou para o Sr. Elson. Ela tinha sua linha direta, e ele pegou no primeiro toque. — Fale baixo. — ela sussurrou. — Ele está no chuveiro no quarto ao lado. — Então você está dentro. — o Sr. Elson respondeu em voz baixa, parecendo satisfeito. — E muito, se ele está tomando banho perto de você. — Bem, ele ainda não está tomando banho comigo. Mas eu vou chegar lá. Apenas me dê tempo. — Enquanto ela falava, ela se deu um tapinha nas costas por ter feito a ligação longe do ouvido de Justin. O pensamento de dizer essas linhas enquanto ele estava ouvindo era tão horrível que ela nem tinha certeza se poderia fazê-lo. O Sr. Elson deu sua risada oleosa. — Bom trabalho. Onde você está? Ela fez um cálculo muito rápido da probabilidade de ele rastrear seu telefonema e decidiu não arriscar uma mentira. Ele certamente tinha a capacidade técnica e, no mundo do crime organizado, pagava para ser paranóico. — Veneza. Itália.


— Que romântico. — ele disse secamente. — Ele deve estar ferido. Ele lhe contou por que ele realmente está aí? — Ele me deu a impressão de que foi porque ele foi ferido. — Eu acho que é realmente uma viagem de negócios. — respondeu Elson. — Um rival de negócios meu mora aí. O mesmo homem que foi o assunto da aquisição hostil do seu namorado. Aquele que o trouxe à minha atenção. Como de costume, ele teve o cuidado de não dizer nada muito incriminador ao telefone, para o caso de alguém estar gravando ou escutando. — Se ele está aqui a negócios, o que você gostaria que eu fizesse sobre isso? — Eu não me importo se a empresa do meu rival cair. — disse Elson. Fiona traduziu isso facilmente como “Deixe Justin matar Bianchi se ele quiser”. — Apenas continue com sua tarefa. Parece que está indo bem. Aprendeu alguma coisa sobre ele? — Não muito. Ele mantém a boca fechada. Eu ainda estou tentando, tenho que ir. — ela sussurrou, então desligou. O chuveiro ainda estava correndo, mas ela conseguiu o que queria. De repente, terminar a ligação reforçaria a ideia de que ela estava indo para trás das costas de Justin. E ela não queria gastar mais tempo conversando com aquele traficante de armas desprezível, ou sendo aquela pessoa falsa e desprezível, que ela absolutamente precisava ser. O chuveiro foi desligado. Alguns minutos depois Justin saiu, completamente vestido e secando o cabelo molhado. Seu rosto estava corado pelo calor e seus olhos estavam brilhantes. Eu gostaria de ter estado no chuveiro com ele, ela pensou. Perguntome se o corpo todo fica rosado...? — Ei, acabei de desligar o telefone com Elson. — Ela recapitulou a conversa para Justin, que ouviu com interesse.


— Deveria ter me deixado ouvir. Eu adoraria ver você fazer o seu trabalho. Quando o inferno congelar, ela pensou. — Outra hora. — disse ela. — Vamos conseguir nossas máscaras e fantasias agora? — Ele perguntou. — Eu aposto que você já encontrou um lugar para pegá-las. — Eu fiz, na verdade. — Você é boa com computadores. — Eu apenas pesquisei isso. Qualquer um poderia ter feito isso. — Eu não tenho tanta certeza sobre isso. Eu vou arriscar e dizer que eu acho que você encontrou o melhor lugar em Veneza para fazer o tipo de figurino que precisamos e que pode fazer um trabalho rápido se você pagar o suficiente, e você descobriu isso mesmo sem saber muito italiano. Estou certo? — Você está certo. — E a informação que você encontrou sobre Bianchi precisou um pouco mais do que o google, não foi? Fiona assentiu. — Eu tive que hackear a informação. — E você arromba fechaduras, certo? Eu presumo que foi assim que entrou naquele armazém em que eu estava me escondendo. — Sim. — O que mais você faz? — O que é isso, uma entrevista de emprego? — Fiona exigiu. — Uh-huh. Eu estou tentado a contratar um guarda-costas que pode se transformar em um leopardo da neve, mas ela tem que ser multitalentosa. Caso contrário, eu poderia me contratar. Obviamente. Ela riu e disse: — Me dou bem com coisas mecânicas e eletrônicas em geral. Nós temos uma sala de tecnologia na Protection, Inc., e eu gosto de ir


lá e mexer. Faço alarmes e rastreadores e pequenos robôs e assim por diante. — Você tem que ter cuidado com os robôs. — disse ele. — Eles estão sempre tentando dominar o mundo. — Tudo bem, eu tenho cuidado para não torná-los muito inteligentes. — Então, você constrói robôs não muito brilhantes, arromba fechaduras, invade computadores e se transforma em um leopardo da neve. Além de ser uma agente disfarçada, uma atiradora e uma lutadora corpo a corpo. Justin parecia divertido e genuinamente admirado enquanto listava suas habilidades. Muitos homens ficavam intimidados por uma mulher competente, e alguns expressavam isso ficando hostis. Mas ele parecia sinceramente encantado com tudo o que ela podia fazer, como se tivesse esperado toda a sua vida para se associar a uma mulher que pudesse construir robôs de cachorros instáveis. — Existe alguma coisa que você não pode fazer? — Ele perguntou. Eu não posso ser honesta, nem mesmo com as pessoas que mais me importam, ela pensou. Eu não posso amar ou ser amada. Colocando um sorriso irônico que não fez nada além de fazê-la se sentir ainda mais falsa, ela disse: — Eu não sei cozinhar. — Bom, eu estava começando a me sentir inferior. Eu não posso construir robôs. Mas eu sou um excelente chef. Se comprarmos mantimentos, eu provarei isso hoje à noite. — Então, depois de uma batida perfeitamente cronometrada, ele franziu a testa e disse:— Espere. Deixeme reescrever isso. Sou um chef amador razoavelmente bom que domina a arte de cozinhar com ingredientes que você pode pagar com um salário da Força Aérea. — Eu não tenho lagosta e caviar todos os dias. — ela respondeu. — E qualquer coisa caseira seria um deleite. Eu só desfruto isso quando um colega me convida para jantar. — O que? Shane aprendeu a cozinhar?


— Shane absolutamente não fez. E Catalina é ainda pior, se é que isso é possível. Quando eu vou para a casa deles, nós pedimos fora. Eu espiei em seus armários uma vez e não havia nada neles além de MREs e comida de gato. — Vendo a expressão de Justin, ela acrescentou:— Para seus gatos. — Isso é um alívio. Você me preocupou por um segundo. Ela riu e disse: — Hal e Destiny cozinham. E Nick faz churrrascos. — Claro que ele faz. O churrasco é uma arte viril adorada por homens jovens com muitas tatuagens. — Também de pais de meia idade. O que eu acho que Nick aspira ser algum dia. Ele estava muito animado por Ellie ter ficado grávida. — Quem é Ellie? — Justin perguntou. — Ela é nossa chefe, a companheira de Hal. Ela é uma paramédica. Hal a conheceu quando ele a protegeu depois que ela testemunhou um assassinato e concordou em testemunhar. — Acho que a conheci. — disse ele. — Ou a vi, de qualquer maneira. Construída como Catalina, mas com cabelo loiro encaracolado? — Não me diga que você a salvou também! — Não não. Eu a vi com alguns de seus outros companheiros de equipe depois que você explodiu a base da Apex, mas antes de você aparecer no ponto de encontro. — Ele engoliu em seco, o brilho desaparecendo de seus olhos. — Ela e Catalina estavam tratando Shane por um tiro no peito. Ele parecia mal. Choque, desconforto respiratório, acho que ele estava sangrando internamente. Ele passou os dedos pela cicatriz, depois esfregou como se ainda doesse. — Ele me pediu para ficar com ele. Mas eu tinha alguns caras da Apex na minha trilha e tinha medo de levá-los até ele. O mesmo de sempre. Ele precisava de mim e eu o abandonei. — Ele teria feito o mesmo se achasse que era a única maneira de proteger você. Eu devo ter chegado logo depois que você saiu. Eu segurei sua mão... — Fiona se lembrava da cena como se tivesse acontecido ontem. Shane deitado no chão, olhos fechados, rosto pálido. Ela hesitou, depois


confessou: — Eu tinha certeza de que ele estava morrendo. Eu me senti tão indefesa. E com medo. Justin colocou uma mão reconfortante em seu ombro. — Alguém deveria ter dito que ele não ia morrer. Os paramédicos saberiam. — Oh, eles fizeram. Mas uma coisa é ouvir e outra acreditar. — Não é a verdade. A mão de Justin ainda descansava em seu ombro, quente e reconfortante. Ela desejou que ele não tivesse que partir de volta então. Se ele estivesse lá, ela tinha certeza que ele poderia tê-la convencido de que Shane iria se recuperar. Ela desejou conhecer Justin mais cedo, ponto final. Ela não se vangloriava de que, se o tivesse encontrado imediatamente depois de ter escapado da Apex, ela teria sido capaz de convencê-lo a se juntar à Protection, Inc. Shane tinha dito a ela que tinha perguntado a Justin, e ele se recusou. Mas se eles tivessem se conhecido antes disso, antes de ele ser capturado e ela... ter errado... talvez tudo fosse diferente para os dois. E agora é tarde demais. Como se em resposta a seu pensamento, Justin se afastou dela. — Vamos tomar um café antes de pegarmos nossas fantasias. Este é o lugar onde eles inventaram o café expresso, certo? Aposto que é bom aqui. Colocando outro dos seus perfeitos sorrisos falsos que ela odiava, Fiona disse: — Todas aquelas bebidas que você pediu na Starbucks foram inventadas na Itália. Expresso. Cappuccino. Macchiato. — Café com especiarias de abóbora? — Não, esse é todo americano. — Unicórnio frappucino? Seu sorriso falso se derreteu em um real quando ela percebeu que ele estava brincando com ela. — Peça um desses aqui e veja o que acontece. — Talvez possamos encontrar o cara que inventou isso. Vou procurar um toldo rosa princesa.


— E um sinal com um chifre.— Ela pendurou sua bolsa por cima do ombro. — Venha, vamos. — Espere. — Justin colocou um par de óculos escuros e um boné de beisebol, em seguida, inclinou o visor para baixo para lançar uma sombra sobre o rosto. Era um disfarce simples, mas era bom; ninguém o reconheceria a menos que se aproximassem, e dificilmente permitiria que Bianchi fizesse isso. Também o fazia parecer muito mais com o turista que ele deveria ser. — Ficou bom. — disse Fiona. Justin inclinou o boné para ela. — Obrigado. Eles encontraram um café bem na frente de seu apartamento. Ao contrário das cafeterias americanas, não havia mesas. Você ficava de pé em um bar de madeira polida enquanto tomava seu café. — O que você quer? — Ela perguntou. — Um frappucino de unicórnio, é claro. — Quando ela pisou em seu pé, ele disse: — Mas se você me trouxe para o lugar errado e eles não têm um, eu vou tomar um cappuccino. E isso, aquilo e aquilo. — Ele apontou para vários doces atrás do vidro. Fiona, que falava um pouco de italiano, pediu para ele e para si mesma, depois retirou a quantia correta de dinheiro de sua carteira para pagar por ela. — Você pode fazer qualquer coisa. — ele comentou. — Exceto fazer você mesmo. Trágico. Eu poderia, claro. Lançou um olhar cético ao bolo de amêndoas, fitas de confeitaria salpicadas com açúcar em pó e bolinhos fofinhos cobertos com frutas cristalizadas. — Voce não poderia. — Eu poderia. Mesmo. Quer dizer, eu preciso de uma receita. A confeitaria é um trabalho muito preciso. Você não pode simplesmente improvisar a quantidade de farinha e nem da manteiga. Mas com certeza eu poderia fazer isso. Pergunte ao Shane.


Fiona mordeu a língua antes de dizer. “Eu poderia, se você me deixasse dizer a ele que você está vivo”. Em vez disso, ela disse: — Você fez cupcakes para os seus... — Ela não podia dizer “Amigos da Força Aérea”. — Então suavemente disse. — Amigos do lava rápido? Justin, que obviamente não estava acostumado a ter parceiros em seus disfarces, parecia estar completamente em branco por um segundo. Então ele disse: — Absolutamente. Sempre tinha uma bandeja pronta para quando nós entrávamos... uh... nos treinamentos de negócios. — Ele parecia irritado, e ela sufocou uma risadinha quando percebeu o porquê: ele queria dizer algo como “missões de combate”, e tinha sido forçado a arruinar sua própria piada com uma substituição que não foi nada engraçado. — Sério, não é? — Ela perguntou. — É verdade. — Literalmente cupcakes? — Literalmente cupcakes. Alguns dos meus amigos eram pais. Ou mães. Quando o filho de um deles fazia aniversário, eu fazia cupcakes personalizados. Eu fiz pequenos desenhos de Darth Vader ou Rainbow Dash ou Harry Potter na cobertura. — Você realmente precisa conhecer minha amiga Grace. — disse Fiona. — Ela acabou de se casar com outro amigo meu. Eles trocaram o tradicional bolo de casamento por cupcakes de vários sabores. Sua amiga Paris os assou, em algo como vinte sabores diferentes. Veludo vermelho. Limonada rosa. Torta de limão. Rosa. — Esqueça Grace, quero conhecer Paris. Nós poderíamos trocar receitas. Fiona cutucou-o. — Pare de falar e coma. Você não tocou em seus doces. Ou o seu café. Ela pegou seu próprio café e tomou um gole, observandofurtivamente pela borda da xícara. Seus cabelos negros caíram para frente enquanto ele inclinava a cabeça para beber. Ela se perguntou como seria se ele parasse de tingir. Olhos negros e cabelos brilhantes de cobre: não é de admirar que as pessoas olhassem para ele.


A felicidade inconsciente que iluminou seu rosto enquanto provava seu café lhe dava uma pontada de alegria e tristeza, girando juntos com os rosas e roxos em um frappucino de unicórnio. Ela estava feliz por ele estar se divertindo, finalmente, e com o coração partido que ele sofreu tanto e por tanto tempo que algo tão comum quanto desfrutar de uma xícara de café era tão significativo para ele. Esses sentimentos só ficaram mais fortes quando ela o assistiu experimentar cada um de seus doces com prazer, como se ele não pudesse acreditar que estava realmente sentindo prazer. Quanto a ela, ela não conseguia acreditar que este era o mesmo homem sem expressão e sem emoção que não parecia se importar com nada, nem mesmo com a própria vida. Por que era incapaz de sentir dor, fome ou cansaço, tirando todos os seus sentimentos? Oh. Fiona se sentiu estúpida por não ter percebido isso antes. Claro. O poder de - invencibilidade - de Justin era na verdade a incapacidade de sentir, ponto final. Dor. Prazer. Tudo. Não é de admirar que ele não pudesse mudar enquanto o usava — ele também não podia sentir o seu leopardo da neve. Ela pensou que o poder era ruim para ele, mesmo antes de descobrir o que era, apenas porque isso estava obviamente prejudicando sua saúde. Mas agora que o vira comendo doces e rindo de suas piadas, beijou-o e segurou sua mão enquanto dormia, um frio horror veio sobre ela ao pensar nele deliberadamente apagando tudo o que o tornava quem ele era. Justin olhou para cima, sorrindo, e ela se assegurou de apagar qualquer vestígio de seus pensamentos de sua expressão. Ele ofereceu-lhe um toque de massa açucarada. — Você tem que provar isso. É delicioso. Ela pegou e mastigou. — Obrigada. Realmente é. Encorajado, ele ofereceu a ela pequenas porções de seu bolo e pãezinhos para ela provar depois a questionou sobre seu favorito. Ela ofereceu-lhe uma mordida de seu biscoito em troca.


Mas o tempo todo, ela estava pensando em sua invencibilidade. Permitiu-lhe o poder através da fome, ferimentos e cansaço, mas por causa disso, ele se deixou ficar com fome, ferido e exausto quando não precisava. Por que não apenas comer, dormir e ter mais cautela? Ele chamou isso de poder, mas parecia mais uma barganha do Diabo. E usá-lo à custa de sua saúde - pior, à custa de si mesmo - era pura loucura. Fiona limpou as últimas migalhas de seus lábios. — Vamos pegar esses mantimentos. Eu te aviso, eu estarei esperando um gênio da culinária depois de toda aquela propaganda. — Eu só tenho uma chapa quente. — Justin protestou. — Gênios requerem um forno. Ela se obrigou a sorrir, mas sua brincadeira e facilidade fizeram seu coração doer. Parecia tão frágil e temporário, e ele estava tão disposto a jogá-lo fora. Bem, ela não ia ficar parada e deixá-lo fazer isso. Enquanto eles saíam, ela silenciosamente prometeu ter certeza de que ele nunca mais usaria sua invencibilidade. O mercado mais próximo era um conjunto de barcos ancorados. Eles ficaram em plataformas flutuantes de madeira para examinar cestos de tomates gordos e camarões, alcachofras e tangerinas com folhas ainda grudadas em seus galhos. Ela teve que impedi-lo de comprar mais do que caberia na geladeira pequena e nas prateleiras estreitas. Eles voltaram para o apartamento e descarregaram seus mantimentos, depois partiram para pegar seus disfarces de Carnaval. Apesar de seu GPS e mapas, eles se perderam. Veneza era um labirinto de becos sinuosos e era impossível caminhar em linha reta. Várias e várias vezes, eles seguiriam em uma direção, depois tinham que sair de seu caminho para atravessar uma ponte que se arqueava sobre um canal, fazer mais alguns desvios e se encontrarem de volta no mesmo lugar. Mas não havia pressa. Ela ficava de olho em problemas e Justin obviamente também, mas ela também tinha um olho para a beleza da cidade. Por onde quer que fosse, havia algo adorável para se ver: uma antiga catedral, uma jardineira de papoulas na janela, um gondoleiro carregando


seu barco por um canal verde, uma estátua de leão alado, um vislumbre de uma mulher dançando através de uma janela enevoada. As luzes da rua eram feitas de vidro rosa. O ar estava fresco, com um toque de sal. Um vento frio soprou, mas o sol estava brilhando. Alguns dos gondoleiros estavam cantando. E através de tudo, Justin estava andando ao lado dela, então, se algum perigo acontecesse, ele estaria perfeitamente posicionado para colocar seu corpo entre ela e ele. Mas, enquanto o fazia, também contava piadas, apontava gárgulas nos telhados e jogava migalhas de biscoito para os pombos. Ela sabia que ele tinha passado por coisas terríveis, e ela tinha visto algumas das cicatrizes que ele tinha. Aquela em seu peito era provavelmente a menor delas. Mas apesar de tudo isso, ele era tão vibrante, engraçado e envolvido com a vida. Tão vivo. Isso a fez sentir como se tivesse vivido toda a sua vida por trás de uma redoma de vidro, nunca sujando as mãos ou molhando os pés. Se ele pegasse minha mão e me levasse para a água, eu entraria com ele, ela pensou. Para o oceano. Na lama. Dentro do fogo. Qualquer lugar. Seu GPS apitou, assustando-a. Eles ficaram tão perdidos que encontraram seu destino por acaso. — Querida. — disse a ele, lembrando-lhe de seu disfarce: — Chegamos. Rapidamente ele captou a mensagem,e colocou o braço em volta da cintura dela. Ela estremeceu involuntariamente. Era por isso que eles não se tocaram durante o percurso. Toda vez que eles faziam isso, ficava difícil se concentrar em qualquer coisa, mas como ela queria poder tocá-lo sempre que quisesse. O quanto ela queria que ele tocasse seu seio com sua outra mão. O quanto ela queria que ele passasse os dedos pelo cabelo dela e a beijasse tão apaixonadamente quanto no Ritz, mas que não parasse dessa vez. Quantos, quantos... Droga. Ela abriu uma velha porta de madeira, lindamente esculpida com homens e mulheres em elaborados trajes e máscaras. No interior, lindas máscaras penduradas nas paredes, algumas decoradas com penas e outras


com jóias, cada uma delas uma obra de arte. Os manequins vestindo trajes bonitos pareciam festeiros congelados. Um velho sentado a uma mesa de trabalho cumprimentou-a em italiano. Hesitante, Fiona respondeu na mesma língua. — Eu e meu... — Ela não sabia a palavra para - namorado - então substituiu por. — O homem que eu amo, queremos fantasias de carnaval e máscaras. O homem que eu amo. De jeito nenhum que ela estaria contando a Justin o que ela disse. Mas agora era tarde demais, o fabricante de máscaras sorria para eles, como os velhos sorriam para os jovens amantes. Ele respondeu em uma inundação de italiano rápido. Ela só entendia cerca de um terço dele, mas entendeu que o nome dele era Sr. Toscani e que era um trabalho árduo, então custaria muito mais do que o habitual e seus produtos eram caros, porque eram os melhores. E, a propósito, essa loja tinha trezentos anos e foi passada de pai para filho. Teria ele mencionado que era muito caro porque era o melhor? Fiona assegurou-lhe que ela tinha muito dinheiro, e ela estava lá porque era o melhor. Isso pareceu agradar ao Sr. Toscani, que falou mais rápido do que nunca. Tudo o que ela conseguia entender era que ele queria saber se ela tinha algo específico em mente, ou se ela seria sábia e deixaria que ele projetasse algo perfeito para os dois. O pensamento de tentar descrever trajes e máscaras específicas em italiano era tão aterrador que ela agradeceu: — Você projeta. Mas nós somos... hum... — Ela procurou as palavras para - artistas de rua - e finalmente disse: — Pessoas que atuamos por dinheiro nas ruas. — O quê? — Exclamou o senhor Toscani. Uma enxurrada de italianos, além de gestos com as mãos, fez com que ela percebesse que aparentemente havia dito que eles pegaram ratos à beira da estrada para jantar. Ou talvez lagartos. Definitivamente havia comida e pequenas coisas apressadas envolvidas. — O quê? — Ecoou Justin. — O que ele está dizendo? Espere. Esqueça isso. O que você disse pra ele?


Ela fez uma careta para ele, depois tentou novamente. — Nós somos como... Cirque du Soleil. — Ah! — Em inglês, o Sr. Toscani disse: — Acrobatas! — Sim, acrobatas. — disse ela com gratidão. Em italiano, ela acrescentou: — Você projeta. Mas nós devemos... — Ela fez um gesto com a mão que ela esperava transmitir um salto mortal para trás. — Sim, sim. — disse o Sr. Toscani em inglês. — Eu posso fazer. — Então ele gritou: — Chiara! Giovanni! Um homem e uma mulher apareceram na parte de trás da loja com fitas métricas. A mulher agarrou Fiona e o homem pegou Justin. A próxima coisa que ela sabia, eles estavam sendo medidos mais minuciosamente do que ela já havia sido medida antes, e ela tinha sido vestida para vestidos de baile personalizados. Quando Chiara terminou as medições, ela levantou uma folha grossa de papel umedecido. Cuidadosamente, ela disse em inglês: — Para a máscara. Segure a respiração. Um minuto. Fiona prendeu a respiração e Chiara pressionou o papel contra o rosto. Estava frio e úmido, e se agarrava desagradavelmente à boca e ao nariz dela. Sessenta longos segundos passaram antes de serem removidos. Uma impressão do rosto de Fiona permaneceu no papel, que Chiara cuidadosamente deixou de lado. Fiona olhou bem a tempo de ver Giovanni se aproximar de Justin com o mesmo papel. O breve flash de alarme aumentou os olhos de Justin antes de levantar a mão para afastar o papel. Giovanni disse alguma coisa em italiano, num tom reconfortante. Em inglês, Chiara disse: — Está seguro. Não se preocupe. — Eu sei que é seguro. Eu só... — Justin olhou para Fiona, claramente esperando por algum tipo de resgate. Uma explosão de fúria incandescente a consumiu quando percebeu qual deveria ser o problema. Um desses monstros sádicos da Apex deve ter


colocado algo no rosto para cortar a respiração - sufocou-o ou afogou-o ou algo assim - e ele estava com medo de ter um flashback. Ela se colocou entre ele e os fabricantes de máscara. Em italiano, ela disse: — O homem que eu amo é, é... — Claustrofóbico. — disse Toscani, em inglês. — Sim. — Justin disse com alívio. — Eu sou claustrofóbico. Em italiano, o Sr. Toscani disse: — É comum. Nós podemos esperar. Ele gostaria de um pouco de água? Ar fresco? Um remédio natural? Conhaque? — Espere.— disse Fiona, e puxou Justin para um canto. — Desculpe. — disse ele em voz baixa. — Eu continuo tropeçando nessas minas terrestres aleatórias na minha cabeça. Fiona não parou para pensar. Ela apenas colocou os braços em volta dele. Seus músculos estavam duros e tensos, mas relaxaram sob o toque dela. — O que eu posso fazer? Ela sentiu uma respiração instável, depois mais constante. — Bem. Parece que está passando. — Sr. Toscani também lhe ofereceu água, algum tipo de remédio fitoterápico e conhaque. Justin conseguiu um sorriso. — Você não consegue atendimento ao cliente assim nos EUA. Na verdade... Se ele estiver falando sério, eu aceitarei o conhaque. Pode ajudar se eu tivesse algo na minha boca que é realmente diferente de... — Ele parou. Agua? Uma mordaça? Ela desejou, não pela primeira vez, que ela tivesse os sádicos Apex na frente dela agora. Ela iria sufocá-los para ver se eles iriam gostar. Mas a raiva dela não era o que ele precisava agora. — Brandy, e eu mantenho meu braço ao seu redor? — Ela sugeriu. — Sim. Eu acho que daria certo. — Justin suspirou. — Você nunca acreditaria que eu costumava fazer coisas extremamente viris.


Fiona se virou, certificando-se de que ele estava olhando nos olhos dela enquanto ela dizia: — Sim. Eu iria. E não é, costumava. Você ainda faz. Ela não tinha certeza se ele acreditava nela. Uma coisa é ouvir e outra acreditar, pensou ela. Mas ele se endireitou de qualquer maneira. — Espero que seja um bom conhaque. — Em Veneza? Claro que é. Provavelmente está envelhecendo em um barril há cem anos. O Sr. Toscani mandou Chiara fazer isso, o tempo todo dizendo a Fiona para deixar Justin saber que os clientes se apavoravam com a impressão da máscara o tempo todo. Ele incluiu uma pantomima vívida de um homem grande, alto e forte desmaiando, que conseguiu um meio sorriso de Justin. Quando Giovanni voltou com um pequeno copo de conhaque, Justin bebeu a maior parte, em seguida, tomou o último gole em sua boca e deu um aceno ao fabricante de máscara. Fiona manteve o braço apertado ao redor de sua cintura enquanto Giovanni pressionava o lenço branco úmido sobre o rosto. Justin ficou imóvel, seu corpo rígido. Sessenta segundos passaram como uma eternidade. Mas ele não se moveu até que Giovanni tirou o papel, e ela o sentiu ceder em uma súbita liberação de tensão. Os fabricantes de máscaras parabenizaram-no por sua coragem, que ela pôde ver envergonhada. Ela pagou e recebeu a promessa de que tudo estaria pronto a tempo para o Carnaval, e então saíram correndo. Justin foi direto para um local ensolarado, olhou ao redor, depois tirou o boné e os óculos escuros. Ele olhou para o céu azul, respirando profundamente. Fiona supôs que ele estivesse se lembrando de que ele não estava naquela câmara subterrânea de tortura na Apex, e ficou lívida de raiva novamente. Se ela pusesse suas mãos naqueles monstros, eles se arrependeriam do dia em que colocaram as mãos nele. Eles se arrependeriam do dia em que nasceram. Rasgue suas gargantas, sibilou seu leopardo da neve. Não se preocupe, Fiona respondeu. Nós vamos ter a nossa chance.


Justin Justin ficou ao sol, concentrando-se no calor em sua pele. O laboratório sempre fora tão frio e a mesa de metal e os instrumentos mais frios ainda. As luzes eram de um branco fluorescente e sombrio. Mas ele não estava no subterrâneo mais. A luz do sol provava isso. Se ele apenas ficasse tempo suficiente, talvez pudesse acreditar. Fiona colocou o braço ao redor dele. Ele se inclinou para ela, pensando o tempo todo que ele não deveria estar aproveitando tanto. Ela merecia um homem que não estivesse danificado, que fosse inteiro. Ele não queria falar sobre o que havia acontecido. Mas ninguém estava por perto para ouvir, e ela precisava de uma explicação. — Eles chamaram de experimento. Eles amarraram-me a uma mesa e puseram um pano sobre o meu rosto, e em seguida a Dra. Mortenson jogou água sobre o tecido até eu... — Eu sei qual o nome que se dá a isto. — rosnou Fiona, parecendo notavelmente com seu leopardo da neve. — E não é 'experimento'. É tortura. — Ela fez isso uma vez quando eu ainda não tinha desenvolvido minha invencibilidade. E então, depois que me tornei invencível, para ver se eu aguentava mais tempo antes de desmaiar. Não faço nem ideia de quais foram os resultados, se tinha mais alguem perto dela recebendo seus chutes sádicos, me deixando permanentemente fodido. Seu punho cerrou contra sua barriga. — Você não está permanentemente fodido, tá bom? Fodido seria se você fugisse de lá e depois se recusasse a me contar o que foi que aconteceu. — Você é minha parceira. Eu não posso fazer coisas que te afetem e nem mesmo dizer o porquê.


Oh, sibilou seu leopardo da neve. Eu acho que você deve contar pra ela o porque que você realmente usa seu poder? Ou como você foi capturado em primeiro lugar? Ou... Justin falou em voz alta, para abafar qualquer coisa que seu leopardo pudesse dizer. — Vamos andar por aí, ok? Fazer passeios turísticos. Quero esquecer estes dias ruins. Ela enrolou a mão ao redor da dele, o que deixou sua mente derretida. — Eu voto na Ponte dos Suspiros. A semana que se seguiu foi a época mais frustrante, emocionante, excruciante, mas ainda a mais maravilhosa de sua vida. Eles fingiam ser turistas, então faziam todas as coisas que os turistas faziam: alimentavam os bandos de pombos na Praça de São Marcos, faziam passeios de gôndola ao luar, exploravam becos sinuosos, fotografavam belas igrejas antigas e tinham macarrão e pizza, sorvetes e doces, e uma variedade de bebidas e cafés extravagantes. Fiona era a melhor companheira de viagem possível, mesmo quando eles tinham que falar em código porque ele estava fingindo ser um gerente de lava rápido de carros e ela estava fingindo ser uma professora de história do ensino médio. E, claro, eles também estavam fingindo ser um casal. Era lá que entrava a parte excruciante. Eles andavam de mãos dadas, juntavam os braços e ficavam tão perto que ele podia sentir o perfume leve de seu cabelo. Mas eles nunca se beijaram, mesmo que isso tornasse seu desempenho mais convincente. Ele assumiu que Fiona nunca tentou pela mesma razão que ele, que eles acabariam tendo sexo contra a parede em algum beco escuro, ou teriam que se jogar no canal mais próximo para se prevenir. E, claro, toda noite ela teimosamente ia dormir na banheira, e ele no chão do quarto, não importava o quanto ele a persuadisse a apenas pegar a maldita cama. Ela nem concordava em deixá-lo tomar a banheira. Toda manhã, ele acordava duro e cansado, e ele podia ver que Fiona também. Na segunda manhã, eles entraram em uma rotina de se alongar juntos antes de irem tomar o café da manhã e degustar seus doces.


Os doces eram comprados, é claro. Mas como ele prometera, Justin cozinhava para ela. Ele não podia fazer nada extravagante com apenas uma chapa quente, mas, por outro lado, ele tinha acesso a frutos do mar frescos, frutas, verduras, e uma incrível variedade de queijos, sem mencionar a massa com nomes que Fiona traduzia como - pequeno bigode ou chapéus de palhaço ou estranguladores de sacerdotes. Se você está na Itália, cozinhe pratos italianos, ele pensava assim. Então, ele refogou o pequeno camarão com azeite e alho, prosciutto sobre fatias de melão maduro e mozzarella com fatias de tomates maduros. Ele não cozinhava a anos. Mas voltou para ele como se nunca tivesse parado. E ele sempre gostou de cozinhar, mas nunca gostou tanto, quanto cozinhar com Fiona inclinada sobre o balcão, atentamente observando-o cortar e mexer, depois comia sua comida como se tivesse tendo orgasmos múltiplos. Às vezes, ele tinha que cavar as unhas em sua coxa sob a mesa para impedir-se de inclinar-se impulsivamente sobre a mesa e beijá-la. Ela disse não, ele se lembrou, lembrando apenas tardiamente que ele também dissera não. Mas suas razões para isso, que pareciam fazer sentido na época, pareciam cada vez mais nebulosas com o passar dos dias. E à noite, porém, quando ele ficava sem dormir no chão do quarto, se questionava a respeito desta decisão. Mesmo quando ele não tinha pesadelos, ele não dormia bem, acordando de repente a cada poucas horas com uma sensação de mau presságio ou então ficava deitado acordado com um pau duro que ele não podia fazer nada porque Fiona estava no quarto ao lado. Mas o pior foi quando ele acordou de um pesadelo da Apex, suando e desorientado, seu coração batendo e seu leopardo gritando em sua cabeça. Toda vez, ele se esforçava para ouvir a respiração suave e uniforme de Fiona no banheiro. Era reconfortante e enlouquecedor tê-la tão perto, e ao mesmo tempo tão longe. Ele ficava ali, mordendo a língua para se impedir de chamála para vir e abraçá-lo, para provar a ele com o toque quente de seu corpo que ele realmente escapara e nunca mais voltaria. Ela estava bem ali... Ainda. Mesmo quando sentia que ia perder a cabeça por causa da frustração sexual ou apenas pelo desejo, era maravilhoso estar com ela. Mesmo o desconforto e a dor eram sentimentos. Depois de anos vagando pelo mundo como um fantasma, Justin finalmente se sentia vivo.


Dois dias antes do Carnaval, eles partiram para explorar uma parte de Veneza que ainda não tinham ido. Era em uma área que tinha pouco fluxo de pessoas, até mesmo moradores locais. À medida que avançavam, viram menos e menos pessoas. Eles pararam em uma galeria de arte tranquila, depois uma igreja antiga com belos vitrais. Estava muito pacífico. Atravessaram uma ponte sobre um canal e depois entraram num jardim murado. Estava completamente vazio, exceto por alguns pássaros. Passaram por um conjunto de canteiros de rosas, depois por uma clareira cercada por sebes altas, com uma fonte de mármore no meio. Fiona parou para examinar algumas esculturas na fonte. — Pare! — A voz veio de trás dele. No mesmo instante, outro homem saiu em frente a ele de uma pausa nas sebes, com uma arma apontada. — Eu tenho uma arma apontada diretamente para a cabeça da sua linda namorada. — disse o homem atrás dele. — Faça um movimento falso, e eu vou atirar nela. Agora coloque suas mãos para cima. Vocês dois. Eles levantaram as mãos. Fiona estava tremendo. Uma mistura de fúria quente e medo frio fez o estômago de Justin virar. Ele podia sentir que o homem atrás dele não estava perto o suficiente para ele girar e desarmálo antes que ele atirasse nela. Ele não podia mudar e depois virar rápido o suficiente também. Então uma calma familiar tomou conta dele. Apesar do mau posicionamento, eles eram apenas dois homens. Ele poderia lidar com isso. Além do mais, ele e Fiona poderiam lidar com isso. Ele a tinha visto sob fogo antes. Se suas mãos tremiam, era porque as fazia tremer. — Sua linda namorada. — pensou Justin. Ele acha que sou a única ameaça. Ele e Fiona poderiam usar isso para sua vantagem. Ele olhou para ela. Na hora certa, ela se encolheu e disse com uma voz alta e aterrorizada: — Por favor, não me machuque! Aqui, pegue minha carteira!


Ela começou a enfiar a mão na bolsa, mas o homem atrás dela gritou: — Pare! Um movimento e você está morta! Fiona puxou a mão de volta e começou a chorar. Ela não estava apenas soluçando ruidosamente, mas lágrimas verdadeiras escorriam pelo seu rosto. Justin ficou impressionado. Ele não poderia ter feito isso em um milhão de anos. Sua confiança cresceu. Claro, ter um atirador atrás dele tornava a situação muito mais difícil, mas... Um terceiro homem saiu na frente deles, também com uma arma apontada para eles. Justin nunca tinha visto o primeiro e não havia reconhecido a voz do homem atrás dele, mas este ele conhecia. — McConnell. — disse Justin. — Gosto de ver você aqui. McConnell não mordeu a isca. Friamente, ele disse: — Faça a sua namorada calar a boca. — Anne. — disse Justin. — Annie, baby. Por favor, pare de chorar. Está bem. Não vou deixar ninguém te machucar. Fiona continuou soluçando. — Cale a boca, ou eu vou explodir sua cabeça. — disse McConnell. Ela engoliu em seco, respirou forte, em seguida, pressionou as mãos sobre a boca. Seus soluços diminuíram, embora suas lágrimas continuassem a fluir. Como diabos ela faz isso? Justin se perguntou. Mesmo nessa situação perigosa, ele foi aquecido por seu orgulho nela. Ela poderia construir cães robôs e explodir bases Apex e chorar quando precisasse. Quando eles saíssem dessa bagunça e voltassem para algum lugar com um forno, ele ia assar todos os bolos do mundo. — Quem é ele, Andy? — Ela perguntou com uma voz trêmula. — Você... você o conhece? — Diga a sua namorada bonita. — zombou McConnell. — Eles são terroristas. — disse Justin. — Variedade caseira. Supremacistas brancos.


— Somos combatentes da liberdade. — cuspiu McConnell. — Protegendo nossa terra natal. — Eu não entendo. — disse Fiona, fungando. — Andy, o que você tem a ver com os terroristas? McConnell deu uma risada curta e sem humor. — Seu namorado não é quem você pensa. Ele costumava ser um agente do governo. Operações escuras. Um assassino. — O quê? — Fiona guinchou. Sua voz subiu, sem dúvida, na esperança de atrair a atenção, quando ela disse: — Um assassino! — Cale-se. Mais uma palavra da sua linda boca, uma única exclamação e será a última que você vai dizer. — disse McConnell. Justin só ficou surpreso que ele a deixou sair com aquela voz alta por tanto tempo quanto ele. A arma de McConnell tinha um silenciador, assim como a arma de seu amigo. Aliás, o mesmo acontecia com Justin e Fiona. — Vá em frente. — disse McConnell. — Diga a sua preciosa senhora por que estou aqui. — Como eu disse. — Justin colocou uma ponta sarcástica em sua voz. Ele não sabia muito sobre McConnell, mas em sua experiência, os terroristas nunca levaram bem a ser ridicularizados. — Eles são terroristas. O pai deste imbecil era o líder deles. Ele estava planejando explodir alguns prédios para fazer um ponto, e quem se importa com quantas pessoas estavam neles? A agência para a qual trabalhei me enviou para matá-lo, então eu fiz. Eles imaginaram que uma vez que o líder tivesse ido embora, o resto deles se espalharia como as baratas que são. Parece que eles estavam meio certos. Eu quero dizer sobre eles serem baratas. — Cale a boca. — rosnou McConnell. — Você é o único que me disse para falar. — Justin disse com um encolher de ombros. — Você atirou em mim em Nova York? McConnell deu um passo para mais perto de Justin. — Sim eu fiz. — Sua pontaria é uma merda. — Justin zombou. — Ou você colocou um dos perdedores aqui para fazer isso.


Ele esperava que, se ele irritasse o homem atrás dele, tirasse a arma de cima de Fiona e voltasse para ele. Eles sabiam que Justin não podia ver onde aquela arma estava apontada, então não precisava estar apontada para ela. Apenas a ameaça já era suficiente. — Estou feliz que erramos em Nova York. — McConnell rosnou. — Uma bala na cabeça é boa demais para você. Eu quero ver você implorar por uma morte rápida. Justin riu. — De você? Você não me assusta. Você não podia assustar uma garotinha. Eu aposto que você bate como uma também. McConnell ficou vermelho de fúria. Ele aproximou-se, ainda segurando a arma para Justin, e levantou o punho. — Agora! — Justin gritou. Em um piscar de olhos, Fiona se foi. Um leopardo da neve saltou sobre o homem ao lado de McConnell, fazendo sua arma voar. No mesmo instante, Justin pegou a arma de McConnell de sua mão e atirou nele. Antes que ele caísse, Justin se virou para pegar o homem atrás dele. Mas não havia um homem atrás dele. Haviam dois. Justin atirou e viu um homem cair no chão. Mas o outro estava mais longe, e se abaixou atrás de uma árvore no momento em que Justin atirou novamente. A bala bateu no porta-malas, enviando farpas voando e deixando o último inimigo ileso. Justin caiu e rolou. Ele ouviu o estalo suave de uma arma silenciada, e uma bala lançou um jato de terra a dois centímetros de sua bochecha. Ele rolou novamente. Mas ao contrário de seu inimigo, ele não tinha cobertura. Se ele mudasse, ele apenas apresentaria um alvo maior. Um leopardo da neve saltou dos galhos de uma árvore próxima. Houve outro estalo suave uma fração de segundo antes que o felino caísse em cima do inimigo. Justin ficou de pé e correu para ajudá-la. Mas já estava acabado. O último terrorista estava morto com o pescoço quebrado. O leopardo de Fiona se agachou sobre ele, rosnando.


Alívio o inundou. Ela estava bem. A batalha acabou e... O gato grande se afastou de sua presa. Ela saltou com graça mortal, mas agora ela estava estranhamente desajeitada. Quando ela se virou para ele, ele viu uma mancha vermelha em seu pelo branco. O coração de Justin quase parou. Então seus anos de experiência de combate começaram. Ele pegou uma bandagem de pressão do bolso de sua jaqueta. Mantendo a voz calma, ele disse: — Fiona, você pode voltar agora. O leopardo da neve deu um passo à frente. Quando a pata esquerda tocou o chão, ela puxou de volta e assobiou. Uma corrente de sangue fluiu de sua pata e começou a se acumular no chão. Um arrepio de medo percorreu sua espinha. Ela estava sangrando muito, mesmo se colocasse um esparadrapo não grudaria no pelo e, mesmo com silenciadores, alguém teria ouvido os ruídos suspeitos e chamado a polícia. Eles tinham que sair de lá e rápido. — A luta acabou, Fiona. Você não precisa mais ser um leopardo. Mude. Ela soltou um som agudo. Se alguém tivesse conseguido perder o grito e o estalar de tiros, isso certamente chamaria sua atenção. E por que ela não mudava? Algo estava muito errado. Alguma idéia do que está acontecendo? Justin perguntou a seu próprio leopardo da neve. Seu gato interior deu um grunhido confuso, depois disse: Ela parece estar assustada. Justin já havia percebido essa parte. Mas ela era incapaz de mudar porque estava com medo, ou estava com medo porque não podia mudar? Seu próprio leopardo não ajudava. Mas os dez anos de Justin como PQ deram-lhe muita experiência em cuidar de pessoas feridas em situações perigosas. Ele havia tratado civis em pânico e soldados que não cooperavam porque não queriam deixar o campo enquanto seus amigos ainda estavam lutando.


Em um tom suave, ele disse: — Você está sangrando muito. Eu preciso estancar o sangue. Vou colocar minha mão no seu ombro, tudo bem? Vai doer, mas tenho que fazer isso. Movendo-se lentamente para que ela pudesse ver o que ele estava fazendo, ele estendeu a mão e pressionou com força o seu ombro, parando o sangramento. O leopardo sibilou de dor, mas deixeu-o fazer isso. Lamba sua ferida e cure-a, sibilou seu próprio leopardo da neve. Boa ideia, Justin respondeu. Bem. Mais ou menos. Com a mão livre, ele acariciou a pele macia da cabeça dela. Se ela era incapaz de mudar porque estava com muita dor para se concentrar, ele deveria ser capaz de fazer com que ela relaxasse. Se era porque havia algum produto químico na bala que a estava impedindo, ambos estavam ferrados. E ele não podia sequer começar a pensar em como explicar isso para a polícia - especialmente porque a única pessoa que sabia falar italiano era atualmente um leopardo da neve. Mas apressá-la só iria piorar as coisas. Então ele inclinou a cabeça contra a dela e falou baixinho em seu ouvido, mantendo sua voz e corpo tão relaxados como se tivessem todo o tempo do mundo. — Eu estou aqui com você. Eu cuidarei de você. Uma vez que você voltar, eu vou te levar para fora e dar-lhe analgésicos e chá. Ou canja de galinha, se preferir. Se você quiser, eu farei o meu melhor para assar cupcakes na chapa quente. Você pode deitar na cama e assistir e rir de mim. Filmar no seu telefone e colocá-lo no YouTube. Aposto que conseguiria um milhão de acessos. Justin quase perdeu o equilíbrio quando o leopardo da neve desapareceu e Fiona apareceu em seu lugar, nua e trêmula, o sangue muito brilhante contra sua pele pálida. Ele rapidamente aplicou a bandagem de pressão no ferimento do tiro em seu ombro, depois checou seu pulso e respirou. Para seu alívio, ambos estavam dentro dos limites normais. Ele arrancou a camisa do terrorista mais próximo e usou-a para limpar o sangue dela e dele. Então ele começou a tirar sua própria camisa, imaginando que ela preferia usar suas roupas do que do supremacista branco.


— Eu tenho um vestido na minha bolsa. — disse ela. Sua voz estava trêmula, mas firme. — Ok, ótimo.— Ele abriu e desenrolou o vestido, em seguida, ajudou a vestir-se. Era preto e solto, com mangas compridas e um zíper na parte de trás - perfeito para esconder ataduras e manchas de sangue, e fácil de se mexer mesmo com um braço sem movimentos. Que foi, sem dúvida, porque ela escolheu, além de ser mole o suficiente para enrolar e enfiar em uma bolsa. — Meus sapatos. — disse Fiona. — Coloque um deles em mim e o outro na minha bolsa. Qualquer um que me veja sendo carregada com um sapato vai pensar que torci meu tornozelo. — Boa ideia. Justin afivelou um sapato, enfiou o outro em sua bolsa junto com os restos de seu vestido rasgado e limpou as impressões digitais da arma de McConnell. Com alguma sorte, a polícia presumiria que os terroristas haviam se atacado. Então ele gentilmente levantou-a e levou-a para fora do jardim o mais rápido que pôde, enquanto ainda parecia mais ou menos casual. Seu coração batia forte quando ele saiu do jardim, mas o beco estreito estava vazio. Ele refez seu caminho pelos canais e atravessou as pontes. Fiona ficou em silêncio em seus braços. Ele podia ver toda dor que ela estava sentindo por causa da tensão em seu corpo e suas audíveis tentativas de controlar sua respiração. Mas ele não precisava imaginá-lo a partir de sinais: sabia o que era levar um tiro. Justin sentiu uma dor fantasma em sua própria cicatriz. A bala que levara salvando-o passara pelo ombro esquerdo. Alguns centímetros abaixo, e teria atingido seu coração. E então nenhuma quantidade de primeiros socorros ou de shifter teria feito alguma diferença. Sua coragem e inteligência, seus lindos olhos e lábios suaves, o calor de seu corpo e a bondade de seu coração: tudo isso teria desaparecido para sempre. O pensamento disso o atingiu como um soco no estômago. Por tudo o que ele tentou manter a distância, literal e emocionalmente, ele não conseguiu fazê-lo da maneira mais importante. Ele deixou sua alma se entrelaçar com a dela. Perdê-la seria como ter seu próprio coração cortado.


Eu sei, ronronou seu leopardo da neve, presunçoso como sempre. Você tem uma alma agora. Você tem um coração. Justin se lembrou de todos os furiosos argumentos silenciosos que tivera com seu gato interior, insistindo que a Apex havia destruído seu coração e alma. Eu não sou nada além de uma concha vazia, ele disse várias vezes. Eu sou apenas uma máquina que respira. Seu leopardo da neve - a voz de sua própria esperança - forçou-o a continuar quando queria desistir. Mas fora Fiona quem lhe mostrara que ele era capaz de mais do que apenas sobreviver. Ela confiava nele, e então ele aprendeu a confiar novamente. Ela ofereceu-lhe beleza e doçura, riso e tato: tudo o que tornou a vida não apenas digna de ser vivida, mas um dom maravilhoso e precioso. Como Dorothy soprou em Oz, ele foi transportado de um mundo sombrio e cinzento para um de cor deslumbrante. E Fiona foi quem pegou a mão dele e o levou até lá. Acima de tudo, ela o ensinara a amar de novo. Amor. A palavra veio naturalmente à sua mente. E olhando para a mulher em seus braços, ele não podia mais negar isso. Ele a amava. Ele sempre a amaria. — Se fôssemos pessoas diferentes com vidas diferentes, nos reuniríamos e seria maravilhoso. — ela disse. — Mas somos as pessoas que somos, com as vidas que temos. E isso não vai acontecer. Se ele não pudesse ser seu amante, ele seria seu parceiro, seu protetor, seu cavaleiro em uma armadura danificada. Ela deu a ele seu coração de volta. Se estar juntos, mas separados, o quebrasse novamente todos os dias de sua vida, ainda valeria a pena o preço.


Fiona O ombro de Fiona queimava como se tivesse sido apunhalada com um atiçador em brasa. Sua pele se arrepiou de suor frio e ela se sentiu enjoada e tonta. Então, era assim que se sentia quando se levava um tiro. Era ainda pior do que ela imaginava. Ela sabia que deveria apresentar alguma história ou plano, caso a polícia os detivesse, mas não conseguia se concentrar em nada além da dor em seu ombro. E pior do que isso, em como o choque e a dor fizeram com que ela perdesse o controle e a capacidade de mudar e ficasse presa no corpo de seu animal. Pois o que deve ter sido apenas alguns minutos, mas parecia uma eternidade, ela pensou que nunca seria capaz de se tornar uma mulher novamente. Foi seu pior pesadelo que se transformou em uma realidade aterrorizante. Ela quase sentiu o gelo escorregadio sob suas patas, ouviu o eco de uma voz furiosa... E então outra voz cortou seu pânico. Com todos os motivos para ser tão frenético quanto ela, Justin continuava calmo e confiante. Ela se agarrou ao som de sua voz e ao toque reconfortante de suas mãos como se estivesse perdida em uma nevasca, e ele era o guarda vindo para resgatá-la. Ele a salvou. Não apenas tratando sua ferida, mas usando apenas sua voz e suas mãos para resgatá-la de um destino pior que a morte. Sem ele, ela poderia ter perdido sua humanidade para sempre. — Obrigada. — ela sussurrou. — Você salvou minha vida. — Graças a você. — ele respondeu suavemente. — Você salvou a minha. Levou uma bala por mim. Você não deveria ter feito isso. Este deveria ser o meu trabalho.


Ele estava andando suave e cuidadosamente, mas seu pé escorregou em uma pedra solta, sacudindo-o para frente. O choque percorreu todo o seu corpo. Ela sufocou um grito de dor. — Desculpe. — Justin murmurou. — Eu sei o quanto isso dói. Nós não estamos longe agora. Me conte, o que você pode sentir sob suas mãos? Surpreendida com a pergunta, ela teve que se concentrar até mesmo para descobrir isso. Ela tinha os braços em volta do pescoço dele. — Sua camisa. — Ela moveu a mão um pouco. — Sua pele. — Era suave e quente, bom de tocar. — Seu cabelo. — Tente esfregar um pouco do meu cabelo entre os dedos. Preste atenção em como se sente. Ela obedeceu. Era sedoso, quase quente pelo sol. A dor desapareceu de sua consciência quando ela tentou sentir os fios individuais, como eles escorregavam por entre os dedos... ... e então eles estavam na sombra fresca, subindo um lance de escadas. Eles chegaram ao apartamento, ela percebeu. Eles estavam seguros. Casa. Justin deitou-a gentilmente na cama, trancou a porta, pegou o kit médico que ele tinha colocado em sua mochila e examinou-a. Ela ficou imóvel, observando-o. Suas feições agudas estavam tensas de preocupação, mas relaxaram quando ele terminou. — Não há ossos quebrados. — disse ele. — Nenhum choque. É doloroso e você perdeu um pouco de sangue, mas não é uma lesão séria. Pelo menos, não para um shifter. Se você descansar hoje e amanhã, deverá estar de pé no dia seguinte. — Período perfeito. — O dia depois de amanhã era o Carnaval. — Sem pressão. Se você não estiver preparada para isso, eu mesmo posso enfrentar Bianchi. — Não, eu não vou deixar você ir sozinho. — Ela tentou agarrar o braço dele, mas a dor aguda atravessou seu ombro. Ela não pôde reprimir um gemido.


— Fácil. Ninguém vai a lugar algum agora. Deixe-me pegar algo para a dor. — Ele encheu uma seringa e deu-lhe uma injeção. — Respire fundo. Novamente. Mais uma vez. Como você se sente agora? Apenas assim, a dor foi embora. O mesmo aconteceu com o sentimento de tontura, junto com a incapacidade de se concentrar. Fiona mal podia acreditar. — Isso foi rápido. — Deixe-me saber quando você precisar de mais. Isso deve te segurar esta noite, no entanto. Eu vou mudar a bandagem agora. Feche seus olhos se você estiver enjoada. — É o meu corpo. — disse Fiona, e manteve os olhos abertos. Apesar das circunstâncias, gostava de vê-lo trabalhar. Suas mãos se moviam com tanta habilidade e ele era tão rápido e confiante. Em apenas alguns minutos ele terminou, e ele puxou os cobertores sobre ela. — Você quer se sentar ou deitar? — Ele perguntou. — Sentar-me. Ele colocou os braços ao redor dela e a ajudou a se sentar, colocando travesseiros atrás das costas. — Como está? Confortável? — Sim, obrigada. — Eu vou fazer um chá para você. Ajudará com a perda de sangue. Agora eu sei como ele era antes que a Apex o pegasse, Fiona pensou enquanto o observava fazer o chá. — Seus pacientes devem ter amado você. — disse ela. — Meus pacientes geralmente tinham acabado de ser baleados no Afeganistão, então eles teriam amado qualquer um que estivesse tentando ajudá-los, em vez de tentar matá-los. Ela olhou para ele. — Você não pode me dizer que isso não é nada. Se você encontrasse alguns civis chorando, quem seria melhor em acalmá-los, você ou Shane?


— Você ficaria surpresa com o quão reconfortante Shane pode ser quando ele se dedica a isso. Mas sim, isso vem um pouco mais naturalmente para mim. — Você gostaria de ser um paramédico novamente? — perguntou.

Ela

Ele ergueu os olhos, derramando chá em uma caneca, seus olhos escuros pensativos. — Eu não sei. Eu não tinha pensado nisso. Eu não tinha... Não, eu não deveria falar sobre isso agora. Você está ferida, você precisa descansar. — Eu estou descansando. O que você ia dizer? — Eu vou te dizer enquanto você bebe o seu chá. — Ele se sentou ao lado dela, soprou o chá, em seguida, estendeu para ela. — Cuidado. Pode parecer um pouco pesado. Ela pegou a caneca, mas como ele a avisou, parecia mais pesado do que deveria. Justin pegou a mão dela e ajudou-a a apoiar a caneca antes que ela pudesse beber. — Vá em frente. — ela o incitou. Suas mãos ficaram onde estavam, mantendo as dela firmes, enquanto ela bebia o chá. — Eu não esperava sobreviver depois de derrubar a Apex. — ele disse calmamente. — E eu não me importava muito. Eu acho que você pode ter percebido isso. Apesar do calor do chá, suas palavras a fizeram sentir frio. — Eu tive me perguntando sobre isso. — Mas agora... — Ele desviou o olhar, como se não pudesse suportar encontrar seus olhos. — Eu encontrei algo que vale a pena viver. Fiona também desviou o olhar. A pressa de alívio que sentia estava fazendo seus olhos queimarem, o que era estranho. Chorar era uma fraqueza. Ela podia fazer suas lágrimas fluirem como parte de um papel que ela estava desempenhando, mas ela não chorou de verdade desde os nove anos de idade. Mas, embora não houvesse lágrimas, quando ela falou, sua voz saiu tão tensa como se sua garganta estivesse entupida com elas.


— Estou tão feliz, Justin. Eu gostaria que você tivesse mudado de ideia, desde que viemos para cá. Mas se você não tivesse mudado, eu iria parar você. Eu não tinha intenção de deixar você simplesmente jogar sua vida fora. — Sério?— Agora ele soou engasgado. — Não se preocupe com isso. Eu não vou. Eu prometo. — Bom. Ele limpou a garganta. Quando ele falou de novo, sua voz voltou ao normal. — Então, voltando à sua pergunta, eu não tinha pensado sobre o que eu faria no futuro porque ainda não tinha pensado que tivesse um. Agora que sim, ainda não posso voltar para a Força Aérea. Não há nenhuma maneira de chegar tão perto do governo novamente. Então, quando tudo isso acabar, talvez eu queira ser paramédico. Embora possa ser um pouco... lento... depois de ser um PQ. Fiona quase mordeu a língua com a sugestão que saltou para sua mente. Será que era cedo demais? Ou a hora perfeita? Mentalmente, cruzando os dedos, ela disse: — Você poderia se juntar à Protection, Inc. tem toda a emoção que você poderia querer. E você poderia fazer coisas médicas às vezes. Justin não reagiu mal, mas ele não pulou de alegria também. Ele simplesmente disse: — Shane me convidou também. — Eu sei. — Eu disse a ele que pensaria sobre isso. — E? — Ainda estou pensando nisso. Aqui... Ele inclinou a caneca para que ela pudesse pegar as últimas gotas de chá. Nesse gesto, como quando ele enfaixou seu ombro ou a ajudou a sentar, ela podia sentir seu carinho tão forte como se fosse transmitido através das palmas de suas mãos. Ele era assim com todos os seus pacientes, ela tinha certeza. Não é de admirar que eles o tenham amado. Ter toda aquela preocupação e atenção dirigida a ela era reconfortante, mas algo sobre isso trouxe de volta aquela queimação em seus olhos.


Porque ele te ama tanto, ronronou seu leopardo da neve. Ela encheu seu coração até transbordar. Não, ele não me ama, Fiona a corrigiu. Porque nada disso é pessoal. Ele seria assim com todos. E eu quero que seja só para mim. Eu vejo, o gato grande ronronou. Então é assim, hein? Fiona percebeu que, em seu aborrecimento com a completa leitura errada da situação pelo leopardo da neve, ela dissera coisas que normalmente guardava para si mesma. Coisas que ela normalmente manteria de si mesma. Ela desejou que não tivesse. Seus olhos ardiam mais do que nunca. Para seu grande alívio, Justin se levantou para lavar e guardar o copo. Isso deu a ela tempo para se recompor. Eu sou a rainha do gelo, ela disse a si mesma. Eu não choro. As lágrimas são um líquido quente. Tudo dentro de mim está congelado. Ela imaginou aquele gelo se fechando em torno de seu coração em um escudo vítreo. A queimação diminuiu. Quando ele voltou, ela estava de volta ao seu jeito legal. — Você quer dormir com o que está vestindo? — Ele perguntou. — Ou você quer sua camisola? A última coisa que queria era entrar naquele quente e áspero vestido da vovó que comprara no aeroporto, na esperança de desencorajar pensamentos lascivos (tanto dele quanto dela). Mas ela nunca dormiu em suas roupas. Por outro lado, esta noite foi a única noite em que ela poderia se despir, se quisesse, e nem ela nem Justin ficariam tentados a fazer um movimento. — Você poderia me trazer a camisola que eu usei no Ritz? — Ela perguntou. Trouxe-lhe a camisola curta de cetim e colocou-a na cama. Em um tom prático, ele disse: — Eu posso ajudá-la a vestir-se. Ela tentou levantar o braço esquerdo, estremeceu e disse: — Obrigada.


Ele a vestiu de maneira profissional enquanto a ajudava a sair do vestido preto e vestir a camisola, mantendo os olhos fixos no rosto o tempo todo. Seu rosto corou com um leve tom de rosa nos poucos segundos em que ela estava nua, mas ele nem disse nem fez nada que estivesse fora do lugar de um médico para um paciente. Um minuto depois, ele colocou os cobertores sobre ela. Seu olhar foi em direção ao banheiro enquanto ela se lembrava dos arranjos de dormir da noite anterior. Depois disso, Justin disse: — Você não vai dormir na banheira hoje à noite. Fiona não tinha certeza se era capaz de sair da cama, mas tinha que suportar pelo menos uma resistência simbólica. — Se você for ficar no chão... — Se você quiser, vou dividir a cama. Ela piscou, surpresa pela facilidade com que ele cedera. — Você quer? — Sim. — Então eu vou. Ela ainda deve ter parecido confusa, porque ele gentilmente afastou uma mecha de cabelo de seu rosto e disse: — Deixei Shane quando ele estava machucado e precisava de mim, e vou me arrepender pelo resto da minha vida. Eu não vou te deixar agora. Nem mesmo que seja tão perto quanto o chão, se você me quer mais perto. — Eu quero você mais perto. — Então eu estou aqui. — Ele tirou a camisa, dando-lhe uma visão tentadora de seus ombros e peito. Também de sua trilha do tesouro, que ele não tingiu para combinar com seu cabelo. Ele desenhava uma linha de cobre brilhante entre o abdômen antes de desaparecer na fivela do cinto. — Você se importa se eu dormir só de boxer? É o que eu normalmente faço, mas... Ela riu. — Você pode demitir o pijama cor de vômito. — Eu estava pensando neles como cor de fungo. Mas é perto o suficiente.


Ele ficou de cueca, depois foi para a cama com ela e apagou a luz. O luar brilhava pela janela, dando ao seu cabelo um brilho como a asa de um corvo. Com um desejo desesperado, ela desejou poder acariciá-lo. Não porque isso a faria se sentir melhor, embora tivesse certeza de que seria. Mas só porque ela queria. Silenciosamente, Justin disse: — Você nunca foi ferida antes, foi? — Não. Eu tive alguns cortes e contusões. Nada sério. Mas você disse que isso não era sério também. — Medicamente, não é. Mas é uma ferida de bala e foi perto do seu coração. Sete centímetros abaixo e você poderia ter morrido. — Esta não é uma conversa alegre para termos antes de eu ir dormir. — disse Fiona, desconfortável. Ela não sabia onde ele estava indo com isso, e ela não tinha certeza se gostaria de onde iria acabar. — Estou falando sobre isso porque é o tipo de coisa que abala as pessoas. Se você acordar à noite e precisar de qualquer coisa - outra dose de analgésico, um pouco de água ou se você quiser que eu abrace você apenas diga meu nome. Eu não quero você deitada ali sofrendo e envergonhada de me chamar. Se você precisar de um pouco de ajuda, isso não é nada para se envergonhar. Sim, é, pensou Fiona. Então ela reconsiderou. Justin soava como se ele estivesse falando por experiência pessoal. Em todo o tempo que eles estiveram juntos, ela nunca perguntou a ele sobre a cicatriz em seu peito. Nem ele a pressionou por qualquer detalhe de seu passado. Era como se ambos tivessem decidido tratar o tempo juntos como se não tivessem nem um passado nem um futuro, mas viviam apenas numa bolha bonita e temporária no tempo presente. Mas ele estava tão perto, quase se tocando, que chegava a parecer que ela tinha recebido permissão para ficar mais íntima. — Você foi ferido. — disse ela. Ele engoliu em seco. — Sim. — Isso te sacudiu?


— Sim. Não era como se ele respondesse em monossílabos. Ela sabia que estava empurrando-o e esperava que não fosse longe demais. Mas havia algo que ela queria saber. — Você precisou de ajuda? — Eu... — Justin ficou em silêncio. Assim, quando ela abriu a boca para dizer a ele para esquecer, ele explodiu com: — Eu não posso falar sobre isso, me desculpe, eu só... — Não, “me” desculpe. — ela interrompeu. — Esqueça isso. Eu não deveria ter perguntado. Ele respirou fundo. Quando ele falou de novo, ele parecia mais calmo. — Não se preocupe com isso. Agora vá dormir. Você precisa de descansar. — Boa noite então. — Boa noite. — Ele passou os dedos sobre o ombro ileso, leve como uma pena, em seguida, virou-se para encará-la. Ela fechou os olhos. A dor se foi, e ela não sentiu nada além de uma sonolência irresistível. Apesar do que Justin havia dito, ela duvidava que ela o acordasse com demandas por água ou analgésicos, muito menos para ele abraçá-la. Ela não podia imaginar pedir por tal coisa. Fale pelos necessitados! Não esperando acordar até a manhã, ela caiu no sono. Ela acordou em uma sala sem luz inundada pelo luar prateado. Seu ombro não doía, mas parecia tenso e pesado. Por um momento, ela ficou confusa, primeiro insegura onde estava, depois ficou intrigada com o fato de estar na cama em vez da banheira. Então a memória voltou, junto com o conhecimento do que deve tê-la acordado. Justin estava rígido na cama ao lado dela, as mãos apertadas no travesseiro, cada músculo tenso. Embora o quarto estivesse frio, suor escorria por sua testa, por isso seu cabelo estava molhado. Ele murmurou algo que Fiona não conseguiu entender, depois emitiu um som abafado como se alguém o estivesse estrangulando. — Justin?


Ele acordou com um suspiro, olhos negros se abrindo e sem ver, e tirou as cobertas, gritando: — Não! Pare! — Justin. — disse Fiona, mantendo a voz calma e baixa. — Você está seguro. Você estava sonhando. Você está aqui comigo agora. Ele se virou, ainda respirando com dificuldade, e se levantou em um cotovelo para olhar para ela. Ela viu sua expressão mudar de medo para confusão e depois para preocupação. — Você precisa de outra dose? — Ele perguntou. — Eu vou pegar o meu kit. — Meu ombro está bem. Acordei porque você estava tendo um pesadelo. — Oh. — Justin deitou-se, mas ele não relaxou. Todo o seu corpo tremia como se estivesse com febre. Cautelosamente, sem saber se o toque dela seria bem-vindo, ela colocou a mão no ombro dele. Como se ele estivesse apenas esperando por essa permissão, ele jogou um braço ao redor dela e a agarrou como se fosse um homem se afogando, agarrando uma corda, pressionando sua bochecha contra a dela. Ela podia sentir seu peito arfando em respirações dolorosas como soluços, mas ela não podia dizer se a umidade em sua pele era suor ou lágrimas. Fiona segurou-o com força, acariciando seus cabelos e costas. Ela não podia dizer a ele que estava tudo bem - claramente não estava - então ela disse novamente: — Você está seguro. Você está seguro agora. Eu protejo você. Gradualmente, seu tremor diminuiu para tremores ocasionais, e sua respiração se estabilizou. Ele disse alguma coisa, mas estava abafado demais para ela entender. — Desculpe, eu não entendi... — ela começou. Erguendo a cabeça, ele disse: — Eles amarraram-me a uma mesa. O metal estava tão frio. Eu lutei e lutei, mas não consegui me soltar. Um


médico se inclinou sobre mim. Ele... — Justin se interrompeu, estremecendo. Rasgue sua garganta, sibilou seu leopardo da neve. Ele machucou nosso companheiro. — Vou matá-lo para você. — disse Fiona, calma, mas certa. — Apenas me diga o nome dele. Justin conseguiu dar um leve sorriso. — Isso é doce vindo de você. Mas você está atrasada. Shane já o fez. — Da próxima vez que eu vir o Shane, vou agradecer a ele com uma caixa de chocolates. Ele soltou um suspiro de surpresa. — Coloque uma fita nele. — Absolutamente. Uma grande e vermelha. E um laço. Justin soltou um suspiro profundo e ela sentiu um pouco da tensão dele sair. — Faça isso. Ele ficou em silêncio por um tempo, sua respiração quente em sua garganta. Então ele disse: — Fiona? — Sim? Segundos se passaram antes que ele respondesse. — Isso é algo que nunca contei a ninguém. Eu me lembro da primeira vez que pulei de um avião. Depois que meu para quedas abriu, foi divertido. Mas naquele primeiro momento que eu olhei para baixo, o momento antes de eu pular, eu estava aterrorizado. E minha primeira vez em combate, a mesma coisa. Eu estava bem quando começou. Mas o momento antes... — Justin, tenho certeza que com todo mundo é assim. Você realmente acha que é a única pessoa a ter medo por alguns segundos antes de arriscar sua vida? — Ninguém diz isso. — Você não disse isso. — respondeu Fiona. — Olhe, ter medo não te torna uma pessoa fraca. Isso te torna mais corajoso. Não há nada de especial em fazer algo que você não tenha medo de fazer.


— Sim, bem, esse é o problema. Há algo de que eu tenho medo e preferiria não fazê-lo. — E o que é? — Eu sei que nós concordamos em manter nossas mãos longe um do outro. — Seus músculos começaram a se tensionar novamente enquanto ele prosseguia, — Mas eu estou com medo de que se você parar de me tocar, e eu adormecer desse jeito, eu vou... Eu vou... Ele não precisava terminar. Ela sabia o que ele estava pensando. Ele estaria de volta lá na mesa de metal frio. Apertando ao redor dele, ela disse: — Eu não vou te soltar, Justin. EU... Ela queria dizer, eu nunca vou deixar você ir. Mas ele não queria isso. Ele não a queria . Não como sua companheira, de qualquer maneira. — Você é meu amigo. — ela disse em vez disso, tentando manter a voz firme. Ela não queria que ele soubesse que ela estava segurando as lágrimas. — Durma. Eu vou te abraçar. Justin soltou um suspiro longo e agitado. Então ela sentiu-o relaxar. Quando ele falou, sua voz estava mais calma do que tinha sido desde que ele acordou. — Obrigado. Vou pegar sua caixa de chocolates depois. — Com uma fita vermelha? Ele balançou sua cabeça. — Verde. Para combinar com seus olhos. Justin se acomodou contra ela e ela o sentiu bocejar. Então, com a cabeça no peito e o cabelo macio acariciando a garganta, ele ficou imóvel. Em poucos minutos, sua respiração profunda lhe disse que ele estava dormindo profundamente. Fiona ficou acordada por mais tempo, segurando-o perto. Ela sabia que não fazia diferença se ela dormisse ou não - não era como se ela pudesse afastar os pesadelos - mas ela sentiu como se precisasse ficar acordada para guardar o sono dele.


Suas palavras voltaram para ela tão vividamente como se ele estivesse sussurrando em seu ouvido: eles me amarraram na mesa. Eu lutei e lutei. Ela estremeceu. Justin se mexeu em seu sono, seus dedos flexionando contra suas costas. — Eu estou aqui. — ela murmurou, acariciando seus cabelos. — Eu não vou deixar você ir. Ele deu um suspiro suave e virou a cabeça em seu toque. Agora seus lábios estavam pressionados contra sua garganta. Fiona estremeceu, embora não de frio. Então o cansaço tomou conta dela e ela também dormiu. Ela acordou com a luz dourada da manhã. Justin estava deitado em seu lado, com um braço jogado sobre sua cintura. Ele estava dormindo. Um feixe de luz solar caiu em seu rosto, transformando seus cílios em minúsculas faíscas de fogo. Fiona se levantou, apoiando-se na mão direita, para olhar melhor para ele. Ela esperava que ele acordasse no instante em que ela se movesse, pronto para o perigo, mas ele continuou dormindo. Quando ela o vigiara no Ritz, ele parecia pálido e desgastado, os ossos afiados sob a pele e o corpo tenso, como se até o sono não trouxesse nenhum descanso verdadeiro. Mas o sol de Veneza lhe dera um bronzeado quente, e as refeições que ele cozinhara haviam preenchido seu corpo. Ele já não era dolorosamente magro, mas era solidamente musculoso quanto o leopardo que ele poderia se tornar. Normalmente, mesmo quando ele parecia feliz, havia uma cautela subjacente a ele, como se ele estivesse sempre esperando o outro sapato cair. Agarrava-se a ele mesmo no sono. Mas agora, pela primeira vez desde que ela o conhecia, ele parecia em paz. Fiona sentiu uma tremenda onda de ternura por ele. Ela queria protegê-lo e curar suas feridas, lutar ao seu lado e segurá-lo a noite toda. Eu o amo.


A percepção era aterrorizante, mas inegável. Ela o amava como nunca amara nenhum homem antes. Como se ela nunca tivesse amado outro homem. E embora ele estivesse ali com ela, mesmo tocando-a, ela nunca poderia tê-lo do jeito que ela queria. Ele estava disposto a ser amigo dela, mas nada mais. Seus olhos queimavam enquanto pensava: Isso é o que acontece quando você perde o controle de seus sentimentos. Se eu puder me contentar em ser amiga de Justin, então ficarei feliz em ganhar sua amizade. Se eu continuar desejando poder ser sua companheira, então ficarei frustrada e solitária e sentir que perdi algo que nunca chegou a começar. Seu leopardo da neve deu um assobio irritado. Você é sua companheira. Diga-lhe isso, respondeu Fiona. O felino deu um encolher de ombros felino. Nosso companheiro ficou gravemente ferido. Ele está com muita dor para ver claramente. Uma vez que ele se sentir melhor, ele vai cair em si. Fiona duvidava muito disso. Claro, uma vez que ele se recuperasse mais, estaria pronto para um relacionamento com alguém. Mas nenhuma quantidade de cura emocional de sua parte poderia mudar quem Fiona era, nem mesmo tudo que ela fez desde que se juntou à Protection, Inc. poderia apagar seu passado. Mas não fazia sentido pensar no que não podia ser mudado. Ela fez suas escolhas, e agora ela tinha que viver com as conseqüências. Isso era tudo. A queimação em seus olhos aumentou até que uma lágrima transbordou. Caiu na bochecha de Justin com um pequeno respingo. Fiona recuou horrorizada quando ele abriu os olhos. O movimento sacudiu seu ombro e ela estremeceu. Justin sentou-se, os olhos arregalados de alarme quando ele percebeu as lágrimas que corriam pelo rosto dela. — Você deveria ter me acordado! Deixe-me pegar meu kit, eu vou te dar...


— Não, não. — disse ela apressadamente. — Meu ombro está bem. Dói um pouco, isso é tudo. Eu não preciso de nada para isso. Justin, que já havia passado as pernas pela beira da cama, parou, ainda franzindo a testa. — Você está chorando. Se não é seu ombro, o que é então? Será que você teve um pesadelo? Ela poderia dar-lhe essa desculpa e salvar-se do embaraço hediondo de confessar seu amor não correspondido. Seria tão fácil convencê-lo. Ele já estava meio convencido por si mesmo. “Sim”, ela poderia dizer. “Eu tive um pesadelo terrível. Eu sonhei que estava sangrando até a morte. Eu me sinto toda abalada, exatamente como você disse”. Ele a seguraria e confortaria e diria a ela que era normal depois de ser ferida em combate. E isso seria tudo. Era incrivelmente tentador. Ela sabia que ele acreditaria nela. E se ela dissesse a verdade, isso tornaria o relacionamento deles muito mais estranho, e a faria parecer patética. E necessitada. Não, sibilou seu leopardo da neve. Não minta para o seu companheiro! Fiona rangeu os dentes. A ideia de contar a Justin a verdade era muito mais assustadora do que enfrentar terroristas armados. — Fiona? — Justin colocou a mão sobre a dela. — Se você não quer falar sobre isso... E lá estava ele, dando-lhe uma saída fácil. Ela nem precisaria mentir. Ela poderia honestamente dizer: — Eu não quero falar sobre isso. — Ele fez a suposição errada, é claro, mas não era realmente sobre ele? Não! Fiona disse a si mesma. É tarde demais para mim, mas não vou mentir para ele agora. Justin merece mais do que isto. — Eu não tive um pesadelo. — Para seu horror, ela mais uma vez se desmanchou em lágrimas enquanto prosseguia: — Eu estava chorando porque - porque estou apaixonada por você - e você não está apaixonado por mim.


Por um momento, Justin simplesmente olhou para ela com total espanto. Então, um sorriso brilhante surgiu em seu rosto, brilhante como o sol nascente. — Mas eu estou. Ele se inclinou e beijou suas lágrimas. Seus lábios eram quentes contra sua pele, seu toque suave. Ele acariciou suas costas como se ela fosse um gato, e como um gato, ela arqueou as costas em sua mão. E então seus lábios encontraram os dela, e sua paixão provou seus sentimentos melhor do que as palavras jamais poderiam. Uma parte dela que havia estado congelada durante anos derreteu como a geada sob um sol de verão. Ele me ama, ela pensou, quase atordoada demais para responder. Talvez eu não mereça isso. Talvez eu o perca quando souber o meu segredo. Mas bem aqui, neste momento, Justin me ama. — Eu deveria parar?— Justin perguntou de repente. — O que? Por quê? — Seu ombro. Ela havia esquecido completamente disso. Agora que ele trouxe a atenção para ela, ela notou que doía. Mas ela não tinha absolutamente nenhum desejo de parar. — Só não me jogue contra a parede. — disse ela. — Eu vou guardar isso para mais tarde. — disse Justin com um sorriso. — E falando em segurança... — Você não precisa usar camisinha. Eu tenho um DIU. — Que bom. — ele comentou. — Não faço ideia de como pedir isto em italiano. Eu provavelmente voltaria com uma berinjela. Ou... Ela o interrompeu com um beijo. Suas línguas se encontraram com igual paixão, enviando deliciosos arrepios de prazer por sua espinha. Seus braços fortes se fecharam em torno de suas costas, fazendo-a se sentir segura e protegida. Suas mãos deslizaram sob a pequena bainha de sua camisola, subindo até as coxas dela até que ela engasgou em sua boca. Sua atenção estava nela, por ela e ardendo de desejo.


Justin cuidadosamente tirou a camisola, lentamente trabalhando sobre o ombro machucado. Deixou de lado, depois se sentou e olhou para o corpo nu dela. O calor em seus olhos era como fogo negro. Ela se sentiu mais molhada só de vê-lo observá-la, como se ela fosse a mulher mais desejável do mundo. Como se ele morreria se ele não pudesse tê-la, agora mesmo. — Você é tão linda. — Sua voz era rouca. — Eu tenho a coisa mais linda na cidade mais bonita do mundo, aqui mesmo nesta sala. — E quanto ao Grande Canal? Justin balançou a cabeça, sorrindo. — Nem mesmo perto. Não é quente. Não respira. Fiona estendeu a mão e puxou sua boxer. Ela saiu, deixando-o nu. Então ela também teve que banquetear seus olhos. Ele era perfeitamente proporcionado, alto, magro e musculoso, com pernas longas e ombros largos. Ela se achou fascinada pelas partes diferentes de seu corpo, por sua vez, agora que ela finalmente tinha permissão para olhar seu preenchimento. Seus dedos eram longos e graciosos, as clavículas e os ocos de sua pélvis lindamente esculpidos, os mamilos rosados que ela mal podia esperar para provocar com os dedos e a boca. Sua ereção dura mostrou a ela o quanto ele a queria, não apenas com seu coração e mente, mas com seu corpo. Uma gota brilhante de líquido frisava na ponta. Ela se sentou e lambeu, desfrutando de sua doçura escorregadia. Justin gemeu ao toque de sua língua, seu corpo enrijecendo e seus punhos cerrados em seus lados. Então ele se mudou de volta. — É melhor guardar isso para mais tarde. Eu não faço amor há três anos. Finalmente. E eu só tenho uma chance. — Oh, eu tenho certeza que você pode ir mais que uma vez. — Provocante, ela acrescentou: — Talvez você não seja nenhum adolescente mais, mas também não anda de bengala. Ele olhou para ela com tanta ternura que fez seu coração doer. — Mas há apenas uma primeira vez com você.


E então, quando ele começou a se agachar na cama, ela o puxou de volta. — Você está certo. Para mim também. Então vamos ficar cara a cara. Estou pronta agora. Ele a abaixou até que ela estava recostada com as costas apoiadas nos travesseiros. — Eu acho que esta será a posição mais confortável para você. Mas me pare se doer. Ela não podia imaginar que ela notaria se isso acontecesse, mas ela assentiu. Sua antecipação era tão intensa que ela estava tremendo com isso, sua respiração estremecendo em sua garganta, seu coração acelerado. Justin também estava respirando com dificuldade, suas mãos tremendo. Ela teve a sensação de que ele mal estava se controlando. Ele se ajoelhou sobre as coxas dela. Mesmo esse contato foi o suficiente para fazê-la suspirar. Sua ereção dura como aço tocou seu monte, enviando um choque de prazer através de seu corpo. Ela instintivamente empurrou para ele, fazendo-o sussurrar. — Calma. Deixe-me fazer o trabalho. Ele se inclinou para beijá-la. Ansiosamente, ela o beijou de volta. Seus lábios se uniram quando ela acariciou seu cabelo fino, sua barba áspera, os fortes músculos de suas costas. Ele lentamente empurrou através de suas dobras escorregadias até que elas estavam totalmente juntas, então começou a balançar suavemente dentro dela ao invés de empurrar. Ela nunca sentiu nada parecido. Cada movimento enviava ondas de prazer através de todo o seu corpo, construindo e construindo até que ela mal pôde suportá-lo. Ela se forçou a abrir os olhos, que haviam se fechado. Ela queria ver o rosto de Justin. Seus olhos estavam abertos, olhando para ela com tanto amor que ela sentiu como se seu coração fosse explodir. Ou talvez já tivesse sido quebrado, e o que ela sentia agora era a dor da cura. As ondas se elevaram e a quebraram em um crescente êxtase. Por um breve mas eterno momento, ela não sabia onde ela começava e Justin terminava. Eles eram um ser, unidos em uma alegria eterna. Como ela estava contente em seus braços, brincando com seu cabelo sedoso, Justin de repente riu, seu peito vibrando contra o dela.


— O que é tão engraçado? — Ela perguntou. — Você. — disse ele. — Você dormiu em uma banheira por uma semana inteira, quando poderíamos estar fazendo isso em vez disso. — As pessoas que dormem no chão não devem atirar pedras. — retrucou ela. Então, curiosa, ela perguntou: — Por que você? — Eu estou supondo a mesma razão que você estava na banheira. Eu pensei que você não estivesse apaixonada por mim. Bem, e também imaginei que estaria morto em seis meses, no máximo. E mesmo que não fosse, achei que você merecia alguém que não estivesse tão danificado. Eu não queria prender você. — Você não me prende. — Seus dedos entrelaçados com os dele, então se fecharam. — Você me levanta. Mas ela não podia deixar de pensar em sua outra razão para negar seu vínculo. O que aconteceria se Justin descobrisse a verdade sobre o passado dela - a verdade sobre ela? Nada, ronronou seu leopardo da neve. Exceto te aproximar mais. Fiona duvidava muito disso. O pensamento de dizer a ele fazia com que quisesse correr nua em uma tempestade de neve. Mas como ela disse a ele, não havia nada de corajoso em fazer algo que não te assustasse. — Eu tenho mantido algo de você. — ela admitiu. — Mas eu não quero que haja mais segredos entre nós. Justin apertou a mão dela, correndo o polegar em pequenos círculos sobre as costas dela. — Você não precisa me dizer nada até que esteja pronta. Ela engoliu em seco. Seu coração batia rápido como o de um coelho. — Estou tão pronta quanto sempre estarei. Deixe-me apenas acabar com isso. E então você pode tomar... uma decisão. Ele nem sequer piscou. Seus olhos escuros, que pareciam tão frios e duros, agora pareciam macios como veludo. — Não é exatamente chocante que algumas coisas ruins tenham acontecido com você. Você nunca fala sobre o seu passado. É como se você tivesse crescido no escritório da


Protection Inc. Então eu já sei que algo aconteceu. Eu só não sei o que. Mas seja o que for, isso não me fará pensar menos de você. E... — Você não pode saber disso! — Fiona explodiu. Como se ela não tivesse falado, ele continuou, — E isso não vai me fazer te amar menos. Porque nada poderia.


História de Fiona Eu amava meu pai. Minha mãe morreu me tendo, então papai me criou. Ele era mecânico. Quando eu era criança, costumava ficar na oficina dele. No começo eu apenas passava suas ferramentas para ele. Era o nosso jogo. Ele estendia a mão e dizia: — Chave inglesa— e eu entregava para ele, como se ele fosse um cirurgião e eu fosse uma enfermeira. As pessoas que traziam seus carros achavam isto hilário. Quando eu tinha sete anos, ele estava me ensinando como fazer reparos básicos. No meu nono aniversário, ele me comprou meu próprio kit de ferramentas, com ferramentas pequenas o bastante para caber nas minhas mãos. Eu queria ainda ter... Esse foi o ano em que ele morreu. Um motorista bêbado bateu no carro enquanto eu estava na escola. Papai foi morto instantaneamente. O motorista mal teve um arranhão. Ele era um cara rico e podia pagar um bom advogado, e ele usou para obter liberdade condicional. Nunca ficou um dia na cadeia. Mamãe e papai não tinham família. Éramos só os três. Então, eu fui colocada com uma família adotiva. Eu disse que não os queria, mas eles me disseram que não era sobre o que eu queria, e sim do que eu precisava. Eu disse que não precisava de ninguém. Eles não me ouviram, é claro. Então toda vez que eles tiravam os olhos de mim, eu destruía tudo à vista. Eles finalmente não aguentaram mais e me mandaram de volta para os assistentes sociais. Imediatamente, outro casal me quis. Eu acho que eu era uma garota fofa. Mas o homem cometeu o erro de me dizer que eu poderia chamá-lo de papai. Dois conjuntos de porcelanas substituídos depois, fui enviada para uma casa de apoio. E eu fiquei lá.


Não foi uma vida terrível. Eu definitivamente gostei mais do que dos pais adotivos tentando me fazer amá-los. A comida era institucional e minhas roupas eram baratas e eu não tinha luxos, mas felizmente era perto de uma escola pública com um bom programa de ciência e tecnologia. Tinha um laboratório de eletrônica onde eu pude fazer o que gostava. Também tinha um laboratório de informática e um professor que costumava trabalhar para o Google. Acabei recebendo uma bolsa de estudos para estudar ciência da computação. A faculdade foi boa. Eu fui bem. Meus professores gostaram de mim. Eu não fiz amigos, mas também não tinha na escola e nem onde eu vivia. Isso não me incomodava. Eu disse a mim mesma que não precisava de ninguém. Eu queria aprender tudo o que pudesse. Não apenas sobre computadores, mas também sobre finanças. Eu tinha um objetivo em mente e não era ser a melhor da minha turma. Quando eu tinha nove anos, fiz uma promessa para mim mesma. Foi o de vingar do homem que matou meu pai. Então, eu fiquei de olho nele. Por treze anos. Foi fácil; Eu ainda estava na mesma cidade e ele estava por toda a internet. Seu nome era Jared Kelly, e ele era dono de uma empresa farmacêutica que era famosa por aumentar o preço dos medicamentos que as pessoas precisavam para viver. Ele matou meu pai e fugiu com isso, e as pessoas estavam morrendo sendo que poderiam viver se ele não tivesse decidido cobrar-lhes setecentos dólares por comprimido. No momento em que me formei na faculdade, eu tinha um plano e estudei o suficiente para que pudesse executá-lo. Comprei algumas roupas que pareciam mais caras do que realmente eram, além de um celular que fiz alguns pequenos ajustes. E eu fui a um clube onde Kelly gostava de beber e bater em mulheres bonitas e loiras que eram jovens o suficiente para serem suas filhas. Foi tão fácil. Isso foi o que me surpreendeu. Eu passei anos planejando e estudando formas que poderiam dar errado, mas nada aconteceu. Eu deixei Kelly dar uma olhada em minha roupa, e a próxima coisa que vi, foi ele me levando para sua casa. Eu disse a ele como era famoso e


brilhante, rico e bonito, e ele engoliu tudo. Quando chegamos à sua casa, eu disse a ele o quanto sua casa era boa, e ele me mostrou o lugar todo, se gabando. Ele tinha um laptop deposido ali na mesa da sala de estar. Ele perguntou se poderia me pegar uma bebida, e eu disse que adorava coquetéis extravagantes e apostava que ele sabia fazer alguns realmente especiais. Ele disse que poderia me fazer o melhor coquetel que eu já tinha tomado, mas levaria alguns minutos. Eu disse para ir em frente, e eu esperaria na sala de estar para que eu pudesse me surpreender com isso. Eu tinha lido sobre seu coquetel superespecial em uma entrevista com ele em alguma revista on-line para pessoas ricas e eu sabia que levava cerca de quinze minutos para ser feito. Enquanto ele estava na cozinha fazendo isso, eu invadi seu laptop. Quando terminei, fiz meu próprio telefone tocar. Fingi que minha irmã sofreu um acidente e estava no hospital. Kelly não queria me levar até lá, mas uma vez que eu disse que tinha dito à minha mãe em cuja casa eu estava, ele me chamou um táxi. Deixou-me no hospital, entrei, esperei um pouco, chamei outro táxi, voltei ao meu quarto de motel miserável, liguei meu laptop ao de Kelly e comecei a examinar suas finanças. Eu percebi que não havia como, um homem como ele, não estar fazendo todo tipo de coisas desonestas. E eu estava certa. Eu percebi que ele estava sonegando seus impostos, e ele estava, mas acabou que ele também estava cometendo fraude no mercado de ações. E provavelmente outros crimes que eram tão complicados que nem eu mesma sabia o que eram. Então, baixei todos os dados e os enviei anonimamente ao IRSS e ao FBI. Mas havia uma coisa que eu fiz antes de fazer isso. E isso não fazia parte do meu plano. Originalmente, eu só queria que Kelly fosse para a cadeia. Mas quando eu estava em sua casa, olhando para todas as coisas legais que ele tinha, eu pensei, por que um homem como Kelly deveria viver assim, quando um homem como meu pai tinha que trabalhar tanto para ter tão pouco? E quando eu estava olhando para sua conta bancária, que tinha mais zeros do que eu tinha visto em toda a minha vida, eu pensei, eu não posso


dar a papai nada disso. Ele se foi. Mas se eu desse um pouco disso para mim mesma, talvez essa fosse a próxima melhor coisa. Então, eu transferi parte do dinheiro dele para minha própria conta, apaguei o registro dele e depois o entreguei. Eu estava certa: ele estava cometendo crimes financeiros que eu nem tinha notado. Mas o FBI descobriu o que eles eram. E a Receita Federal achou que ele escondera parte de seu dinheiro tão bem que nem eles conseguiram encontrá-lo. Eu tinha tomado, é claro, mas desde que ele realmente estava escondendo dinheiro para fugir dos impostos, eles não acreditavam nele. Você pode matar o pai de uma menininha e ir embora se tiver dinheiro suficiente. E não é ilegal aumentar os preços dos remédios até que pessoas doentes não possam viver. Mas a única coisa que você não consegue fazer é enganar seus impostos. É por isso que Al Capone foi preso. E o mesmo aconteceu com Jared Kelly. Eu estava planejando a minha vingança desde os nove anos. Isso me manteve viva todos esses anos. Agora foi feito. Eu pensei que me sentiria satisfeita, mas não me senti. Eu me senti perdida. Eu não sabia o que fazer da vida. Eu só aprendi sobre finanças e computadores para poder arruinar a vida de Kelly, não para ter uma carreira no mercado de ações ou para fazer os impostos de outras pessoas. Mas quando eu estava flertando com Kelly, e fazendo com que ele fizesse aquela bebida idiota e complicada e achasse que era ideia dele, e hackear seu laptop, e atender a chamada falsa da minha irmã inexistente... eu gostei de fazer aquilo. Foi perigoso, tenso e eu tive que usar todas as minhas habilidades. Isso me fez sentir viva. Em toda a minha vida entre o dia em que papai morreu e a noite em que entrei naquele bar, tinha deixado o tempo passar. Quando eu estava pesquisando Kelly, eu conheci um monte de outros homens ricos e fedorentos como ele. O mundo parecia cheio deles. Quem sairia perdendo, realmente, se eu desviasse parte do dinheiro que eles haviam roubado das outras pessoas? Por que não pagar um pouco das minhas contas às custas deles?


Então, usei o dinheiro dele para comprar roupas mais extravagantes, e comecei a procurar por patifes endinheirados. Foi fácil. Eu apenas flertava, sorria e paparicava-os até que eles me deixaram sozinha com seu telefone ou laptop, e então eu esvaziava suas contas bancárias e desaparecia. E foi assim que tudo começou. No começo eu só roubei de homens que eram escória da terra. Então eu me ramifiquei para homens que eram apenas moderadamente escamosos. Depois, para homens que eram muito ricos. Nunca houve um momento em que decidi deixar de ser uma ladra que só roubava pessoas que mereciam para me tornar uma que só roubava pessoas que podiam pagar. Mas isso aconteceu. E eu apenas continuei. Não demorou muito para que eu tivesse muito dinheiro. Eu poderia ter investido, vivido e nunca mais roubado. Mas eu comecei a gostar do estilo de vida. Era emocionante. E em algum lugar no fundo da minha mente, eu estava com medo do que aconteceria se eu desistisse. Quando você fica em um carrossel por tempo suficiente, você cai quando pula. E se eu parasse de roubar e nunca mais me sentisse viva novamente? Talvez se eu não tivesse sido parada, teria acordado alguma manhã e pensado: — O que estou fazendo com a minha vida? É essa a pessoa que eu realmente quero ser? — Mas não foi isso que aconteceu. Eu visei um bilionário da tecnologia, Carter Howe. Ele era apenas um playboy rico, não um criminoso ou uma pessoa terrível, tanto quanto eu sabia. Então, eu não esperava encontrar nenhum problema. Eu deveria explicar que nenhum dos homens de quem eu roubei recebeu mais alguma coisa de mim do que um beijo, e a maioria deles nem percebeu isso. Uma vez que eles começaram a me pressionar por sexo, se eu não tivesse conseguido invadir suas contas até então, eu dava uma desculpa para sair, depois desaparecia e seguia em frente. Então, se eu não conseguisse chegar até eles em um ou dois encontros, geralmente eu desistia. Mas Carter era diferente. Quando eu disse a ele que queria esperar, ele disse que estava bem, em vez de ficar agressivo. Ele não deixou seu telefone ou laptop por aí, sua porta do escritório estava sempre trancada, e ele nunca me deixou sozinha por tempo suficiente para eu arrombar a


fechadura. Então, em vez de vê-lo uma ou duas vezes, nós namoramos, por alguns meses. Em retrospecto, acho que nos vimos como um desafio. Ele queria entrar em minha calcinha, e eu queria entrar em seu laptop. Eu estava confiante demais e descuidada. Eu esqueci porque ele era bilionário. Ele não herdou seu dinheiro, como a maioria dos homens que eu enganei. Ele ganhou, e ganhou em computadores. Ele tinha o mesmo tipo de habilidade que eu. Tenho certeza de que foi assim que ele me pegou. Ele deve ter verificado a minha identidade falsa, encontrado algo que não se somava, e ficou desconfiado. Eu apareci para um encontro em sua casa. Nós deveríamos ir à ópera, e eu estava usando salto alto e um vestido de cetim vermelho, sem alças, até o chão. Ele me disse como eu estava linda, e então ele pediu desculpas e disse que precisava fazer uma ligação de negócios e levaria cerca de quinze minutos. Eu sorri e disse que tinha trazido um livro. Ele entrou em seu quarto e fechou a porta, e eu peguei a outra coisa que eu trouxe, que era um conjunto de abridores de fechaduras, e abri seu escritório. Ali estava o computador dele. Eu entrei muito rápido - muito rápido, o que deveria ter me dado a dica - configurei o acesso remoto para que eu pudesse entrar no meu laptop, desliguei-o, tranquei a porta atrás de mim e sentei em seu sofá para ler o meu livro. Eu lembro como eu me sentia inteligente. Até o ponto em que ele entrou segurando um monitor. Ele deu a volta, e havia um vídeo colorido em alta definição de mim invadindo seu escritório, completo com grandes imagens em sua tela de computador mostrando exatamente o que eu tinha feito lá. Eu tinha verificado o escritório por câmeras escondidas, é claro, mas eu obviamente não tinha verificado bem o suficiente. Como eu disse, ele era um bilionário da tecnologia e conhecia sobre isso. Eu não podia negar o que fiz, então eu blefei. Eu disse: — Sou agente do FBI e você está sob investigação por fraude de valores imobiliários. — Besteira!— Ele disse. Eu disse: — Eu vou provar isso. Vou ligar para o meu escritório em casa e colocá-los na linha.


Eu peguei minha bolsa. Eu estava indo para o meu spray de pimenta. Todos esses anos explorando as pessoas, e essa foi a primeira vez que eu usei. Mas eu nunca tive a chance. Carter se moveu mais rápido do que eu já vi alguém se mover antes. Ele pegou minha bolsa antes que eu pudesse chegar a ela e a jogou do outro lado da sala. Ele estava tão bravo que me assustou. Eu disse: — Prejudicar um agente federal é uma ofensa capital. E me manter aqui contra a minha vontade é seqüestro. Apenas me deixe ir, e isso será o fim disso. Eu comecei a ir em direção à porta da frente. Ele entrou na minha frente. E ele disse: — Pare de mentir para mim. Eu sei o que você é. Você é uma predadora. Eu deveria te mostrar o que isso realmente significa. Eu pensei que ele ia me matar. Entrei em pânico e corri para a cozinha. Eu ia pegar uma faca para tentar afastá-lo e sair correndo pela porta dos fundos. Mas eu nunca tentei correr de salto e um vestido longo antes. Eu tropecei e saí voando. Minha cabeça bateu em sua bancada de mármore, e tudo ficou preto. Eu acordei gelada. Minha cabeça doía. Quando abri os olhos, não consegui ver nada além de branco. Apenas manchas brancas, girando em torno de mim em um vento gelado e mais branco embaixo de mim. Era neve. Eu estava em um campo de neve, no meio de uma nevasca. Mesmo quando me lembrei do que tinha acontecido, não fazia ideia de onde estava ou como tinha chegado lá. Carter morava em Las Vegas. Não nevava assim lá. Eu gritei por ajuda, mas eu tinha minha duvidas que mesmo que alguém estivesse lá, eles não poderiam me ouvir por causa do vento. Então eu levantei e comecei a andar. Eu ainda estava de salto alto e vestido de cetim. No que diz respeito a proteger-me do frio, eu poderia estar nua. Meus sapatos continuavam escorregando na neve, mas eu estava com medo de congelar se os tirasse. Eu estava usando muitas jóias caras - uma gargantilha de diamantes, brincos e uma pulseira de esmeralda - mas estava tão frio que


o metal queimava contra minha pele. Eu finalmente os tirei e os deixei cair na neve. Quando tirei a pulseira, notei que minha mão esquerda estava sangrando um pouco. Eu tinha algumas feridas, não muito profundas. Eu não conseguia pensar do que elas eram. Eu finalmente imaginei que tinha esfaqueado minha mão em um garfo ou algo assim quando eu caí. Depois de alguns minutos, o sangue congelou. Eu pensei: Talvez eu tenha morrido quando bati minha cabeça. Talvez eu esteja no inferno. Eu não tinha certeza se acreditava no Inferno, mas uma vez que esta ideia me ocorreu, eu não conseguia parar de pensar nisso. Eu era uma ladra. Eu era egoísta e gananciosa. Eu tomei e tomei e nunca dei nada a ninguém. Talvez eu tenha sido enviada para este lugar porque eu pertencia a ele porque meu coração era frio como gelo. Não sei quanto tempo andei antes de ouvir uma voz. Uma voz baixa sibilando dentro da minha cabeça. Dizia: Deixe-me assumir. Eu achava que estava tão congelada que estava alucinando. Pelo menos, eu esperava que fosse uma alucinação e não um demônio. Eu ignorei e continuei tropeçando na nevasca em meus saltos altos e vestido de ópera. De vez em quando eu escorregava no gelo ou tropeçava em uma pedra enterrada na neve e caía. Toda vez que eu fazia, eu ficava com a neve no meu vestido e no meu cabelo, e ficava ainda mais frio e úmido. A voz continuou sibilando, exigindo que eu deixasse isso acontecer. Isso me assustou. Eu senti como se estivesse perdendo minha mente. Finalmente eu tropecei, caí e não consegui me levantar. Eu estava muito fraca e meus braços e pernas estavam muito dormentes. Eu me deitei na neve e pensei: É isso. Eu vou morrer aqui. Se eu já não estiver morta. A voz assobiou, Deixe-me assumir, ou você definitivamente vai morrer! Eu posso sobreviver ao frio. Você não pode. A essa altura eu estava tão desesperada que até uma alucinação parecia melhor que nada. Eu disse: — Faça isso.


Então a voz se tornou mais do que apenas uma voz. Eu senti isso... a presença... dentro da minha cabeça. Era feroz, selvagem e brava, e faria qualquer coisa para sobreviver. E eu fiz. Eu pude sentir isso. Ela assobiou, Deixe de ser humana. Sinta-me. Concentrei-me no que senti daquela presença: raiva e orgulho, crueldade e astúcia, e acima de tudo, a vontade de sobreviver. Afastei a parte de mim que era Fiona e tentei ser aquela outra parte de mim. Meu corpo parecia se esticar. E então eu me tornei outra coisa. Eu não estava mais com frio. Eu estava agachada de quatro no que restava do meu vestido, com a cauda presa. Eu pude ver através da nevasca que eu estava no pico de uma montanha. E eu pude sentir o cheiro que havia presa por perto. Eu deixei aquele outro eu me guiar. Eu espreitei minha presa pela neve, encontrei-a tremendo em uma caverna rasa, e então me joguei. Era um pequeno cervo. Foi muito bom puxar para baixo e comer tudo. Então me enrolei na caverna e dormi. Quando acordei, a nevasca havia parado. Mas eu ainda era um leopardo da neve. E eu fiquei assim por muito, muito tempo. Por meses, eu caçava e andava naquela montanha. Eu continuei tentando voltar atrás, mas nunca consegui. Eu estava presa dentro do leopardo. Havia apenas o suficiente de mim para perceber que se isso era o Inferno ou real, era meu castigo. Carter estava certo: eu era uma predadora. E agora eu me tornei uma de verdade. A cada dia que passava, o leopardo ficava mais forte e eu ficava mais fraca. Eu podia me sentir desgastada e sabia que, eventualmente, nada restaria de mim. Eu seria um leopardo da neve que nem lembrava que um dia fui uma mulher. De vez em quando, eu via um caminhante ou dois. Quando os encontrava, tentava ir até eles para pedir ajuda. Só que não conseguia falar e tudo o que viram era um leopardo da neve sibilando para eles. Eles corriam por suas vidas. Parecia que eles estavam vendo o que eu realmente era: um monstro. Eu finalmente parei de tentar.


Então, um dia cheirei algo estranho ao vento. Era um animal, mas não um que eu pudesse identificar. Eu escalei uma árvore para me deitar e ver o que era. Eventualmente, surgiu em vista. Era um enorme urso peludo, muito peludo. E carregava uma mochila na boca. Isso foi tão estranho que eu empurrei para trás os instintos do meu leopardo da neve e resolvi descer um pouco mais para baixo. O urso cheirou o ar, depois olhou para mim com aqueles enormes olhos cor de avelã. Deixou cair a mochila. Havia um brilho no ar e o urso se foi. Um grande homem nu estava na neve onde ele estava. Ele abriu a mochila, tirou algumas roupas e se vestiu como se a coisa toda fosse completamente normal. Eu fiquei fascinada e subi um pouco mais. Eu pensei: ele é como eu. Ele é uma pessoa e um animal. Quando pensei nisso, percebi que demorara muito tempo até ser humano o suficiente para pensar em palavras. Aquilo me assustou. O homem olhou para mim e chamou: — Meu nome é Hal Brennan. Eu sou um shifter urso, como você viu. Eu estou supondo que você é um shifter também, e você está preso nesta forma. Isso esta certo? Eu não sabia como responder, mas ele disse: — Se você está preso, desça exatamente um galho abaixo. Eu pulei outro ramo e sentei lá. Ele disse: — Eu imaginei isto. Algumas histórias sobre um leopardo da neve se aproximando das pessoas aqui voltaram para a comunidade shifter. Não há leopardos em Wyoming. Mais cedo ou mais tarde, alguém vai decidir que você está chegando perto demais das pessoas e precisa ser capturado ou fuzilado, ou você é um espécime raro de um leão albino e deveria estar em um zoológico. Eu gostaria de tirar você daqui antes que isso aconteça. Tentei dizer: — Sim, por favor, tire-me daqui. — Mas tudo o que saiu foi um longo chiado. Hal disse: — Eu acho que posso ajudá-lo a mudar de volta. Mas você vai ter que descer. Eu não vou te machucar, eu prometo.


Meu leopardo da neve não queria fazer isso. Ela não confiava nele. Para ser sincera, eu também não. Mas naquele momento, não me importei. Se ele pudesse me ajudar a me tornar uma mulher de novo, ótimo. E se ele me matasse, isso seria melhor do que ficar presa assim para sempre. Eu pulei da árvore e caminhei até ele. Ele disse: — Ótimo. Eu vou falar com você. Eu prometo, isso é muito mais fácil quando você tem ajuda. Agora deite-se. Eu vou me sentar ao seu lado. Deitei-me e deixei que ele se sentasse ao meu lado. Hal me disse mais tarde que ele nunca tentou falar com um shifter preso antes, e ele não tinha ideia se poderia ou não fazer isso. Mas eu não sabia disso. Ele parecia completamente confiante, e isso me deu esperança. Ele colocou a mão na minha cabeça e me arranhou atrás das orelhas. Eu me contorci um pouco. Fazia tanto tempo desde que eu fui tocada. Mas foi bom. Calmante — Vou lhe fazer algumas perguntas. — ele disse. — Apenas acene ou balance a cabeça. Você nasceu um shifter? Eu balancei a cabeça. — Eu imaginei isso. — disse Hal. — Então, eu estou supondo que alguém te mordeu. Isso esta certo? No começo eu não tinha certeza. Então me lembrei das feridas na minha mão. Eu assenti. Isso pode soar estranho, mas foi a primeira vez que percebi que Carter deve ter feito isso comigo. Quando fui mordida, eu nem sabia que existiam shifters. E então eu quase congelei até a morte, e então meu leopardo da neve me dominou. Eu não tinha contexto para nada e não estava em condições de pensar com clareza. Mas uma vez que Hal sugeriu que alguém tivesse me mordido, lembrei-me do que Carter havia dito sobre me tornar um predador de verdade. Ele fez isso comigo, pensei, e rosnei.


Hal nem sequer recuou. Ele apenas disse: — Eu estou supondo que não era algo que você queria. Eu balancei a cabeça e rosnei novamente. Rasgue sua garganta, veio aquela voz sibilante. Ele nos machucou. Hal continuou: — Você já ouviu falar de shifters antes que alguém lhe transformasse em um? Eu balancei a cabeça. — Tudo bem. — disse ele. — Deixe-me contar sobre eles. Nós. Hal ficou sentado na neve por algo como uma hora, acariciando minha pele e falando sobre shifters. Ele explicou que a voz dentro de mim era meu leopardo da neve, e que era a parte de mim que era emoção crua e instinto animal e a vontade de sobreviver. — Seu leopardo tomou o controle de você porque você precisava. — explicou Hal. — Você teria morrido sem isso. Mas é seguro voltar a ser mulher agora. Uma vez que você voltar, eu vou te dar algumas roupas, vamos caminhar até o meu carro, e eu vou te dar uma boa refeição de comida humana, o que você quiser. E então eu vou levá-la para ficar com alguns shifters que podem te ensinar tudo. O que você acha? Parecia ótimo. Eu senti esse estranho estrondo no meu peito e meu corpo começou a vibrar. Um momento depois, percebi que estava ronronando. Muito casualmente, Hal disse: — Então, aqui está como você volta a forma humana. Pense em algo que apenas um humano pode fazer. Algo que você fez muito, para que você possa imaginar como se parece, sente, cheira e soa. Eu costumava estar na Marinha, então eu poderia imaginar limpando minha arma. A maneira como sinto o metal em minhas mãos. O peso disso. O cheiro do óleo. O som das partes clicando. Você lembra de algo assim? Eu nem precisei pensar sobre isso. Quando Hal mencionou metal e óleo, algo surgiu em minha mente. Estava consertando um motor de carro, como eu costumava fazer com o papai. Eu podia sentir o cheiro do óleo do motor e sentir o peso da chave na minha mão...


E assim, eu era uma mulher novamente, estendida na neve com a grande mão de Hal descansando sobre o meu ombro. Ele me ajudou a levantar e tirou o casaco comprido e colocou sobre mim. Então ele me pegou, já que ele não tinha trazido nenhum calçado que me servisse e me levou ao seu carro. Tínhamos um longo caminho pela frente - estávamos em Wyoming e ele morava na Califórnia. Eu não tinha dinheiro, claro, então ele pagava por tudo, até pelas minhas roupas. Eu não era muito boa companhia. Eu estava com vergonha de dizer a ele exatamente o que tinha acontecido, então tudo o que eu disse foi que um homem tinha me transformado contra a minha vontade e eu não queria dizer quem era. Principalmente, quando eu olhava pela janela, prometi nunca mais voltar a ser aquele predador. Eu não gostava de quem eu era. Mas eu não sabia quem queria ser. Quando chegamos à fronteira da Califórnia, Hal me ofereceu uma escolha. Ele disse que poderia me deixar com sua família de shifters de urso. Ele disse que eles viviam da natureza, tipos de sal da terra que viviam em uma pequena cidade rural e não gostavam do mundo moderno. Ele disse que seriam gentis comigo, mas eles eram intrometidos e não aceitariam um - não quero falar sobre isso - como resposta. Ou ele poderia me levar para a cidade onde ele morava e me apresentar a uma amiga dele, uma shifter de tigre que costumava ter problemas para controlar seu poder também. Ele disse que ela era amigável, e respeitaria minha privacidade. Desnecessário dizer que eu escolhi a amiga. Esta acabou sendo Destiny Ford, uma das guarda costas da Protection Inc. Naquela época, havia apenas três deles, Hal, Rafa e Destiny. Ela me deixou ficar em seu apartamento e me orientou a mudar até que eu pudesse fazê-lo facilmente. E como eu estava desempregada e não tinha nada para fazer, ela me levou ao escritório e me mostrou tudo. Quando cheguei lá, vi que o sistema de segurança deles era péssimo e o sistema de computadores ainda pior. Então eu consertei tudo para eles, e ensinei algumas habilidades no computador enquanto eu fazia isso. Em troca, eles me ensinaram a atirar e lutar. Acabei descobrindo, que eu tinha um jeito para isso. Eventualmente Hal me ofereceu um emprego.


Achei que precisava de algo para fazer, para não voltar a roubar só porque estava entediada. Eu não esperava me apegar aos meus companheiros de equipe. Mas o que aconteceu. Eles são os únicos amigos que eu tenho, e eles ainda não sabem o que eu sou. Eu sei que deveria ter te contado antes. Eu simplesmente não conseguia encarar isso. Você resgatou pessoas e salvou suas vidas. Eu menti e roubei o dinheiro deles. Pelo menos eu não estou mentindo mais.


Justin Fiona olhou-o nos olhos, o queixo erguido e a mandíbula aberta, como se estivesse diante de um pelotão de fuzilamento e pretendesse morrer bravamente. Ela acha que vou julgá-la, Justin percebeu. Então, com uma pontada como se tivesse sido esfaqueado no coração, pensou: Não, é pior que isso. Ela acha que eu a desprezo. — Eu te amo. — disse ele. Seus olhos verdes claros se arregalaram e seus lábios tremiam, como se quisesse acreditar nele, mas tivesse medo. Como se a única coisa mais dolorosa do que saber o pior fosse pensar que talvez não fosse verdade, e então ter sua esperança tirada de você. Justin entendia muito bem isso. Ele a puxou para seus braços, esperando que seu toque a convencesse mais do que suas palavras. Ela estava rígida como um manequim, não quente e derretendo nele como antes. Mas ele a abraçou e beijou suas bochechas, garganta e lábios até que ela se suavizou contra ele. — Eu te amo. — ele repetiu. — Você achou que isso mudaria o que eu sinto? Tudo o que faz é me fazer te amar ainda mais. Você amava seu pai e lutou por justiça para ele. Você teve a resistência e tenacidade para sobreviver ao inferno absoluto. Toda a sua vida foi esmagada em pedaços, mas você não desistiu, você se levantou e construiu uma vida totalmente nova. Na verdade, você fez isso duas vezes e, na primeira vez, você tinha apenas nove anos. Fiona, você é incrível. Ela olhou para ele como se ele tivesse perdido a cabeça. — Eu era um ladra. Uma criminosa.


— E daí? Aquele cara, o Kelly, eu ouvi falar dele. Seu pai não foi a única pessoa que ele matou. Pessoas morreram porque ele era ganancioso. Você fez um favor ao mundo quando o colocou fora. — Kelly, claro. — disse ela. — Eu nunca me arrependi do que fiz com ele. Mas os outros... — O que, como aquele cara que mordeu você e te jogou no topo de uma montanha, em uma nevasca ?! — Uma onda de fúria quente fez seus punhos se apertarem. — Aquele filho da puta! Ele ainda está em Vegas? Assim que terminamos com Bianchi, ele é o próximo. Vou fazê-lo pagar pelo que ele fez com você. Seu cabelo roçou o queixo dele enquanto ela balançava a cabeça. — Tarde demais. Ele já está morto. Ele tinha um pequeno avião particular que gostava de pilotar - deve ter sido assim que ele me levou para Wyoming - e ele caiu em algum lugar no Pacífico. Desapontado, Justin murmurou: — Espero que ele tenha tido tempo para saber o que estava acontecendo. Espero que ele tenha ficado tão assustado naqueles últimos minutos quanto você ficou quando acordou naquela montanha. Fiona abriu as mãos em um gesto de - quem sabe. — Eu também, para ser honesta. Mas nós nunca saberemos. A caixa negra está no fundo do oceano. De qualquer forma, ele se foi. — Boa viagem. — disse Justin. — Você não deveria se sentir culpada por tentar roubá-lo. Ele merecia muito pior. Claro, roubar é errado. Mas não é como se você tivesse arruinado a vida de alguém. Eles tinham muito dinheiro para poupar. Eles provavelmente perderam mais do que você tirou deles em um dia normal no mercado de ações. — O problema, não é se os caras que roubei mereciam ou não, ou podiam pagar ou não. A questão é que eu não me importei com nada além da minha próxima aventura e minha próxima emoção. Uma vez que fui forçada a fazer uma pausa e pensar em quem eu era, eu realmente não gostei de mim mesma. — Ela abaixou a cabeça, deixando o cabelo cair para frente para esconder seu rosto. Suavemente, ela disse: — Meu pai era um


homem honesto. Não consigo imaginá-lo ficando orgulhoso da mulher que me tornei. — Aposto que ele ficaria orgulhoso da mulher que você é agora. Ela olhou para cima, assustada. — Você protege as pessoas. — disse Justin. — Você prende os criminosos. Toda a sua carreira é sobre tornar o mundo um lugar melhor. Você é brilhante, bonita e gentil. E você constrói pequenos cães robôs. Que pai não gostaria disso em uma filha? — Ele definitivamente teria gostado dos robôs. — disse ela, e sorriu um pouco. — Eu não tinha pensado nisso antes. Obrigada por dizê-lo. — Você poderia ter voltado a ser uma ladra, se quisesse. Você não fez. Sim, há coisas em seu passado que você se arrepende. Coisas de que você tem vergonha. Mas você não pode mudar o passado. O que importa é o que você faz a partir de agora. Fiona olhou-o com firmeza nos olhos. — Isso mesmo, Justin. Agora é o que importa. Para você também. Seu primeiro impulso foi negar, argumentar, dizer que era diferente para ele. Mas era isso? Claro, ninguém morreu por causa dela. Mas ela passou pelo inferno. E ela saiu do outro lado. Ele passou pelo inferno também, embora de um tipo diferente. E você saiu, ronronou seu leopardo da neve. Aqui está você, do outro lado. — Talvez você esteja certa. — Sua voz saiu em um sussurro. — Você sabe que eu estou. — Ela bocejou. — Desculpa. De repente, estou muito cansada. — Você deveria voltar a dormir. Precisa descansar para se curar. — Tudo bem. — Ela deixou ele ajudá-la a se deitar, então o puxou para baixo ao lado dela. — O mesmo para você. Me faça companhia. Eu não vou deixar você ir. Segurando-se apertadamente, caíram num sono profundo e curativo.


Fiona passou o resto do dia e o próximo descansando. Quando ela acordava, ele se certificava de que ela comesse e bebesse, e então eles ficaram juntos se beijando e conversando; quando ela dormia, ele se certificava de que ela estivesse segura e aquecida em seus braços. E enquanto estava aninhado nos braços dela, ele dormia tranquilamente e sem medo. Talvez tudo o que ele precisasse, fosse saber que, se ele estivesse em seus braços, ele não acordaria sozinho. Durante aqueles dois dias e noites, Justin foi mais feliz do que estivera em toda a sua vida. Fiona confiara nele o suficiente para lhe contar o segredo mais sombrio de sua vida. Agora que ela tinha desabafado, ele podia ver que um peso havia sido tirado dela. A sombra atrás de seus olhos, que ele percebeu sem saber o que era, havia desaparecido. Se ele nunca tivesse feito mais nada para ajudar alguém em sua vida, ele teria se contentado apenas com isso. E ela o amava. Sempre que ele olhava para ela enquanto ela dormia, com o cabelo platinado espalhando-se sobre o travesseiro e os lábios rosados levemente separados, ele pensava: Ela me ama. Toda vez, o pensamento o enchia de uma alegria atônita. Fiona tinha visto o quanto ele estava machucado, mesmo que ela não soubesse todos os detalhes, e ela ainda o amava. Ele nunca pensou que ele se consideraria sortudo de novo... mas ele se sentiu com sorte. Eu te disse, ronronou seu leopardo da neve. Sim, sim, você é mais esperto do que eu, Justin respondeu. Não deixe isso subir à sua cabeça. Eles se levantaram de madrugada na manhã do Carnaval, para pegar suas fantasias antes que as ruas se enchessem de foliões fantasiados e se certificassem de que pegassem Bianchi quando saísse. O ar da manhã estava muito frio e Fiona apertou o casaco ao redor de seu corpo. Na loja, o Sr. Toscani entregou-lhes uma sacola contendo os pacotes embrulhados, junto com uma enxurrada de italianos. Justin e Fiona sorriram e assentiram.


— Alguma idéia do que ele estava dizendo? — Justin perguntou uma vez que eles estavam fora. — Não muito. — admitiu Fiona. — Bem, eu entendi que os pacotes pretos são para você e os brancos são para mim. Ele fez uma careta para ela. — Ele entregou os pretos para mim e os brancos para você. Não há pontos para isso. Você teve alguma ideia do que eles realmente são? — Absolutamente nenhuma. — ela admitiu. — Eu me lembro de você dizer a ele que éramos como o Cirque du Soleil. Eu os vi uma vez. Espero que ele não tome isso literalmente, ou você será um palhaço e eu serei uma minhoca de bolinhas. — Acho que vamos descobrir. — disse ela alegremente. — Se eu não puder me mover ou enxergar, eu vou como um leopardo da neve. — ele avisou. — Você pode dizer a todos que eu estou de quatro e usando uma pele de tapete. Sua risada clara ecoou nas ruas vazias. Quando eles voltaram para o apartamento, ela sugeriu: — Vamos nos surpreender e trocar separadamente. — Certo. Impressione-me com sua beleza. Ainda mais do que você normalmente faz, quero dizer. Pegando seus pacotes, ele entrou no banheiro e fechou a porta. Quando ele se virou para abaixar os pacotes, seu reflexo no espelho chamou sua atenção. Instintivamente, ele começou a se afastar. Então ele deu um olhar a sí mesmo. Desde que Apex o havia levado, ele odiava ver seu próprio reflexo. Viver no subsolo tinha empalidecido sua pele e seus manipuladores tingiram seu cabelo. Sua pele e cabelo poderiam mudar, é claro. Mas os olhos dele não. Antes de ter sido forçado a passar pelo processo Ultimate Predator, eles eram de um verde profundo e intenso. Depois, ele os observou lentamente escurecerem. No começo, ele pensou que estava imaginando. Mas dentro de três meses, eles eram negros como óleo de motor. Durante semanas ele


olhou e olhou, tentando ver o homem que ele foi, dentro daqueles fragmentos de gelo negro. Ele nunca pôde. Finalmente, ele parou de tentar. A Apex o manteve em boa condição física, mais ou menos. Eles lhe davam refeições nutritivas, atribuíam-lhe um programa de exercícios e certificavam-se de que nenhuma de suas - experiências - causasse qualquer dano físico permanente. Eles monitoraram cuidadosamente quando e por quanto tempo ele era invencível, e sempre lhe davam bastante tempo de recuperação depois. Mas como ele não dormia bem mesmo quando não era invencível e os tranquilizantes não funcionavam nele, ele sempre parecia cansado e desgastado. No final do primeiro ano, havia novas linhas em seu rosto. Sempre que seus cabelos começavam a crescer entre os trabalhos de tingimento, ele via fios brancos prematuros. Toda vez que ele vislumbrava a si mesmo no espelho, pensava: não sou eu. O incomodava tanto que acabara pendurando uma toalha no espelho do banheiro. Depois que ele escapou, ele tentou voltar à sua cor de cabelo natural, mas isso durou apenas uma semana. Então as cabeças e olhares virados o deixaram nervoso demais, e ele tingiu novamente. Sem ninguém para impedi-lo de se tornar invencível, ele permaneceu assim mais e mais, e por mais e mais tempo, até perder tanto peso que até a forma de seu rosto mudou. Sempre que ele via seu reflexo, na vitrine de uma loja ou no espelho retrovisor, um estranho olhava de volta para ele. Mas agora, Justin parou para olhar para si mesmo. Ele recuperou muito do peso que perdera, e a luz do sol de inverno lhe deu um leve bronzeado. Seus cabelos e olhos ainda eram da cor errada. Mas quando ele encarava seus próprios olhos, ele conseguia se ver naquelas profundezas escuras. Eu pareço tão diferente, ele pensou. E mesmo assim eu pareço comigo. Justin ficou paralisado no espelho até que o barulho do outro quarto o puxou de volta para sua tarefa atual. Ele desembrulhou o pacote maior sem dar uma olhada ao traje, sua mente ainda nessa percepção. Então ele desembrulhou a máscara.


A visão disso o trouxe de volta à terra. Era uma meia-máscara, cobrindo a parte superior do rosto, feita de couro macio pintado de preto e branco com um toque de cor atraente. O lado esquerdo estava pintado de preto, com linhas delicadas para indicar riso. O lado direito estava pintado de branco, com linhas de tristeza e, logo abaixo do buraco cortado para o olho, uma única lágrima escarlate. Insatisfeito, Justin pensou, não é de admirar que o Sr. Toscani seja famoso. Eu acho que um verdadeiro artista pode ver as coisas sem ser contado. Só então ele olhou para sua fantasia. Como o Sr. Toscani prometera, era fácil mudar. Consistia em botas pretas polidas, calças pretas, camisa branca, jaqueta preta e um longo casaco preto. Os botões do casaco e do paletó eram prateados e havia uma faixa branca no paletó. Era lindamente feito e perfeitamente adaptado, e não se parecia em nada com um traje do Cirque du Soleil. O que parecia era um uniforme militar para uma ocasião formal. Ele vestiu a camisa, as calças e as botas, depois o coldre de ombro. Lentamente, ele abotoou a jaqueta de modo que a única exibição branca fosse o colarinho da camisa. Trajes negros, ele pensou. Parece o meu uniforme azul da Força Aérea. Ele vestiu o casaco preto. A bainha girou em torno de suas panturrilhas. Ficaria muito dramático quando ele andasse, mas não impediria seus movimentos. Se necessário, ele poderia dar de ombros em um instante. Agora que ele estava em uma espécie de uniforme, ele parecia mais com seu antigo eu do que nunca. Seu cabelo estava começando a crescer, dando-lhe uma faixa de cobre brilhante na linha do cabelo. Se fechasse os olhos para esconder o negro, ele poderia ser o homem que eles chamavam de Red, que tinha entrado naquele helicóptero com Shane, Mason e os outros para o que ele achavam que seria apenas mais uma missão. Red tinha conseguido todos, mas Shane matou. Ele colocou Shane no inferno e lhe deu cicatrizes que ele suportaria pelo resto de sua vida.


Ele não podia arriscar que isso acontecesse com Fiona. Ela está ferida, ele pensou. Vulnerável. O homem que ela precisa agora é o Sujeito Sete. Não! O grunhido dentro de sua cabeça era alto e frenético, quase um grito. Não. Justin fechou os olhos e convocou o gelo. Seu leopardo da neve continuou a gritar com ele até que o gelo atingiu seu coração. Então o grito foi cortado. Justin estava sozinho no escuro silencioso. Ele abriu os olhos, colocou a máscara e voltou para o quarto. Fiona agora usava um vestido na altura do joelho e uma meia máscara. Ela girou ao redor, fazendo a saia girar. — Bom. — disse Justin. — Você não terá nenhum problema em se mover com isso. Fiona parou, congelada. — O que é que você fez? — O que você quer dizer? — Você está usando esse seu poder. Não é? Não era uma pergunta. — Invencibilidade. Sim eu estou. — Tire isso. — ela exigiu. Justin sacudiu a cabeça. — Por que não? — Você foi ferida recentemente. — ele lembrou. — Eu preciso de mais uma vantagem para compensar isso. — Exatamente como se transformar em um robô me compensa ter um ombro dolorido? Pacientemente, ele explicou: — Quando sou invencível, não sinto dor nem choque. Se eu levar um tiro, ainda posso continuar... — Eu sei disso! — A voz de Fiona subiu. — Você já me contou. Então deixe-me dizer uma coisa que eu já lhe contei, se você levar um tiro, temos


problemas maiores do que se você desmoronar no local ou meia hora depois. Tire. — Não. — Ele verificou seu relógio. — Nós precisamos ir. — Eu sei. Tire e depois podemos ir embora. — Eu não vou. — Ele tentou ler sua linguagem corporal. Ela estava com raiva, obviamente; seus braços estavam cruzados sobre o peito e seu rosto estava rosa brilhante. Ela parecia não querer abandonar o assunto. — Tudo bem. Você fica aqui. Eu vou sozinho. Sua boca se abriu. — O que? Não! — Ou nós vamos juntos, ou eu vou sozinho. De qualquer maneira, estou indo como estou. O rubor de Fiona passou de rosa para vermelho. — Bem. Não há razão para tentar falar com você quando você está assim. Mas nós vamos depois de tirá-lo. Justin encolheu os ombros. Isso não fez diferença para ele. — Certo. Vamos. Eles partiram em silêncio. Mas eles já haviam revisado completamente seu plano, então não havia necessidade de discuti-lo novamente. Eles chegaram ao mirante escolhido com vista para a casa de Bianchi. Os guardas ainda estavam lá. Justin e Fiona se acomodaram para esperar. Com o passar do tempo, mais pessoas começaram a aparecer. Muitos deles estavam em máscaras e fantasias. Como Fiona havia previsto, alguns encontraram bons pontos para ver e serem vistos, e permaneceram neles. Sem dúvida, Justin e Fiona supostamente estariam fazendo a mesma coisa, se alguém os notasse. Ele não achava que seus trajes eram espetaculares o suficiente para atrair muita atenção, o que era bom. Às 8:00 da manhã, as ruas estavam lotadas. Às 9:14, Bianchi apareceu. Ele estava vestido como um rei, com um manto de ouro e coroa e meia máscara, e acompanhado por quatro homens vestidos como cortesãos, que presumivelmente eram seus guardas. Ele


começou a andar lentamente pela rua, claramente apreciando a atenção dos transeuntes. Justin esperou que ele passasse pelo beco em que ele e Fiona estavam. Eles então esperariam que ele se distanciasse, para começarem a segui-lo. Ele se virou para entrar no beco. Justin brevemente considerou pular ele e seus homens ali... mas não, eles estavam muito perto da casa e de todos os outros guardas. Até mesmo o menor erro que permitisse que alguém gritasse traria todos os outros correndo. Eles teriam que deixar Bianchi e seus guardas passarem. Mas enquanto ele passava, era possível que ele pudesse reconhecer Justin de seu corpo ou da metade inferior de seu rosto, ou mesmo de seus olhos, se ele chegasse perto o suficiente - e era um beco estreito - então ele poderia facilmente chegar bem perto. Justin teve que esconder seu rosto. Ele se virou para Fiona. Ela obviamente teve exatamente o mesmo pensamento, porque quando Justin deu um passo para virar as costas para Bianchi, ela se aproximou dele. Ela apertou-o pela cintura, ele passou os braços ao redor de suas costas e pressionou os lábios nos dela. Eles ficaram assim, fingindo beijar, até que Justin ouviu seus passos passarem, depois desapareceram na distância. Ele se endireitou e disse baixinho: — Vamos contar até dez, depois seguimos. O rosto de Fiona estava vermelho novamente. Com uma voz baixa e grossa, ela disse: — É uma pena que você não possa sentir dor agora, porque eu adoraria dar um tapa em você e fazer você sair dessa. — Não é assim que funciona. — Eu sei disso. — sussurrou Fiona com raiva. — Eu apenas, não importa. Vamos atrás deles. Eles saíram do beco e seguiram Bianchi e seus guardas da corte à distância pelas ruas de Veneza, esperando por uma chance de emboscá-los. Se eles não conseguissem um, eles tinham um plano pronto para atraí-los para um prédio vazio, ou mesmo para Fiona falar com Bianchi em seu apartamento. Mas quarenta minutos depois, eles tiveram a chance. Bianchi


olhou para uma ponte lotada ao longo de um canal e, em seguida, chamou seus homens para atravessar um beco vazio. Justin esperou até estarem no meio do caminho, então acenou para Fiona. De mãos dadas e rindo, eles correram para o beco, depois se separaram e bateram. Justin deu um soco nos dois guardas à esquerda, nocauteando-os, depois bateu um cotovelo no plexo solar de Bianchi enquanto abria a boca para gritar. Bianchi caiu no chão, ofegante como um peixe. Justin olhou para o lado. Os outros dois guardas também estavam inconscientes no chão com Fiona de pé sobre eles. Eles não tinham tempo a perder. Eles puxaram os guardas para as portas e os colocaram em posições sentadas, então parecia que eles estavam bêbados ou cochilando. Justin se inclinou sobre Bianchi e tirou sua própria máscara. — Lembra de mim? Do jeito que os olhos do homem ofegante se arregalaram, ele se lembrava. Justin recolocou a máscara. — Lembra-se do meu poder? — Justin agarrou-o pela garganta, recebendo sua marca. — Agora posso rastreá-lo em qualquer parte do mundo. Sobre o ombro de Bianchi, Justin observou Fiona delicadamente tocálo. Bianchi, distraído pelas ameaças de Justin, não pareceu notar que ela estava fazendo isso. Tampouco piscou quando Fiona extraiu o celular e o colocou na frente da blusa. — Agora, levante-se. — Justin puxou-o para seus pés. — Você vem comigo. Faça qualquer indicação de que algo está errado e vou quebrar seu pescoço. Bianchi assentiu freneticamente. Justin saiu do beco com ele, com Fiona seguindo. Eles andaram até que Justin avistou outro beco vazio onde podiam conversar sem a possibilidade de alguém notar os guardas nocauteados. Justin levou-o para ele. Fiona andou silenciosamente atrás deles. Com alguma sorte, Bianchi não tinha ideia de que ela estava lá; com muita sorte, ele nunca a tinha visto.


Justin encostou-se casualmente no beco e indicou a Bianchi para fazer o mesmo, como se fossem amigos conversando. Fiona estava atrás dele, silenciosamente trabalhando em seu celular. — Onde está a base da Apex? — Justin exigiu. — Hum… Não existe base da Apex. Você destruiu tudo. Justin novamente levantou a máscara e deixou Bianchi dar uma boa olhada em seus olhos. O traficante de armas recuou. — Onde está a base da Apex?— Justin repetiu. — Se eu te disser, então você terá conseguido o que queria, e então você vai me matar! — Bianchi balbuciou. — Eu não matei o Dr. Attanasio. — disse Justin. Sobre o ombro de Bianchi, ele viu Fiona segurando o celular, depois assentiu para ele. Justin de repente agarrou Bianchi pelos ombros. Ele pulou e gritou. Ao fazê-lo, Fiona substituiu o celular, depois se virou e saiu silenciosamente do beco. — Isso é porque ele me disse o que eu precisava saber. — Justin continuou. — Então a escolha é sua. Diga-me onde é e continue vivo, ou não me diga e morra. O que vai ser? Bianchi gemeu e fungou, depois disse: — Está nas Montanhas Bitterroot, em Montana. Há uma estrada de terra ao largo do Lost Trail Pass. A placa diz - Perigo de incêndio - e há alguns rabiscos de grafite no canto inferior direito. Siga-o por dezenove quilômetros. A entrada é escondida por alguns pedregulhos do lado direito. — É melhor que seja verdade. — disse Justin. — Porque se não for, vou voltar para você. — É verdade, é verdade, eu juro! — E não diga a eles que estou indo. — Eu não vou! — Bem. Agora volte para casa. Eu não quero ver seu rosto novamente. — Justin deu-lhe um empurrão na direção longe de Fiona. Bianchi não precisava de mais encorajamento. Ele fugiu.


Um minuto depois, Fiona se juntou a ele. — Ele derramou tudo? Justin encolheu os ombros. — Ele me deu algumas orientações. Pode ser real, pode ser uma armadilha. Você pegou o celular dele, certo? — Hackeado e grampeado. — ela respondeu. — Vamos ver se ele diz alguma coisa interessante. Eles colocaram os fones nos ouvidos, escondendo-os com as fitas de suas máscaras, e ficaram esperando com os braços em volta um do outro. Se alguém passasse por ali, eles deveriam se parecer com amantes desfrutando de um momento privado longe das multidões. Demorou dez minutos para que a voz frenética de Bianchi se aproximasse dos fones de ouvido. — Acabei de ser atacado pelo Sujeito Sete! Ele pegou meus guardas e me ameaçou! Exigiu que eu lhe dissesse onde está nossa base! Uma voz fria de mulher respondeu. Justin reconheceu como sendo a Dra. Mortenson. — Você disse a ele? — Não! — A voz de Bianchi saiu em um grito alto o suficiente para fazer Fiona estremecer. — Eu dei a ele as instruções para as montanhas Bitterroot, assim como você disse. Mas você tem que ter certeza de pegá-lo quando ele aparecer. Caso contrário, ele vai me matar! Ele colocou a mão na minha garganta! Ele tem minha impressão! — Vamos pegá-lo. — disse Mortenson. — Eu mesma estarei lá, para ter certeza de que tudo dê certo. Como ele é imune a tranquilizantes, faremos isso da velha maneira. — O que você quer dizer? Ela deu uma risada sem humor. — Você disse que a entrada era pelos pedregulhos, certo? Vamos montar um monte de armadilhas de urso modificadas em volta delas. Acolchoado, para que não quebremos o tornozelo dele. Então alguns guardas entram com armaduras de nível de esquadrão de bombas, confiscam suas armas, algemas e o deixam louco, e nós terminamos. — Tudo bem. Apenas mantenha-me informado. — Bianchi desligou.


Justin tirou os fones de ouvido. Fiona fez o mesmo. — Nós terminamos. — disse ela. — A invencibilidade. Tire agora. Justin considerou e balançou a cabeça. — Ainda não. Seus lábios pressionaram juntos em uma linha branca. — Por que não? O perigo acabou. — Se formos direto para o aeroporto, podemos estar em Montana para emboscar a Dra. Mortenson em mais um dia. Eu precisarei disso então. Eu posso tirar isso depois. Ela olhou para ele por um longo tempo sem responder. Então ela disse: — Deixe-me perguntar uma coisa. Não me responda imediatamente. Eu quero que você pense nisso primeiro. A Dra. Mortenson é quem te afogou. Como você se sente em se vingar dela? Ele pensou sobre isso e disse: — Ela é uma sádica. Ela fez isso comigo porque deu um pontapé nisso. Chamar de experiência era apenas uma desculpa. Ela vai machucar mais pessoas se eu não a derrubar. — Eu disse como você se sentiu , não... — Fiona cruzou os braços sobre o peito. — Eu quero que você lembre como foi quando ela fez isso. Faça isso, Justin. Ele não viu nenhum motivo para não fazer. Ele lembrou da Dra. Mortenson derramando água em seu rosto até encher seus pulmões. Ele tinha certeza que estava morrendo quando finalmente desmaiou, mas ele acordou ainda amarrado naquela mesa fria. Seu primeiro pensamento foi lamentar que ele não tivesse morrido, porque estar vivo significava que ela faria isso de novo. Mas era apenas uma lembrança. Ele podia recordar que ele sentiu dor e sufocação, pânico e vergonha por estar em pânico, mas nada disso significava nada para ele agora. — Eu lembro. Isso não me incomoda. Eu sei que seria se eu não fosse invencível. Mas eu sou, então... — Ele deu de ombros. Fiona tirou a máscara. Seus olhos estavam brilhando. Molhados. Uma lágrima deslizou por sua bochecha.


Algo se mexeu em seu peito. Não dor, ele não podia sentir isso, mas a sensação de que a dor estava lá, doendo ou não. Foi assim que se sentiu quando você recebeu morfina. A dor não foi embora. Apenas parou de incomodar você. — Qual é o problema?— Justin perguntou. — Eu não sei como chegar até você. Eu suponho que eu poderia esperar uma semana até você atingir seu limite e ter que tirá-lo ou morrer, mas... — Seus punhos cerraram em seus lados, então abriram. Ela apertou ambas as mãos dele nas dela. — Você me ama? — Sim. — ele disse automaticamente. Ele sabia que sim. Ele simplesmente não podia sentir isso. Como aquela dor fantasma, ele poderia dizer que seu amor existia, mas estava além de sua capacidade de perceber. — Então tire agora. Faça isso como um favor para mim. Eu sei que você não quer. Mas faça assim mesmo. Faça isso porque você me ama e eu estou pedindo a você. Essa sensação de sentimentos fora de seu alcance aumentou. Ele se pegou tentando levantar a mão para pressioná-lo contra a cicatriz sobre o peito. Como se doesse, mesmo que não doesse. Ou talvez fosse o coração dele que quase doía. Sua razão para querer permanecer invencível era parte e parcela daquele nó de não completamente sentimento. Como a razão pela qual ele estava com Fiona. E ele nunca entenderia a menos que ele fizesse o que ela estava pedindo. — Tudo bem. — disse ele. E, sabendo que era verdade, mesmo que ele não pudesse sentir isso. — Porque eu amo você. Justin fechou os olhos e abriu o coração.


Justin Mesmo antes de abrir os olhos, a lembrança das últimas horas voltou, só que agora com as emoções ligadas. Quando ele pressionou seus lábios contra os de Fiona em um beijo de gozo frio, sem um traço de amor, paixão ou desejo. Não é de admirar que ela estivesse furiosa. Como uma vez ele era invencível, ele não viu qualquer razão para não continuar assim. Ele sabia que isso poderia matá-lo, e ele simplesmente não se importava. Em uma onda de horror e vergonha, ele se lembrou de como fizera Fiona chorar. Ele a amava. Como ele poderia ter feito algo tão cruel com alguém que amava? Amor! Ele não foi capaz de amar Fiona. Ele literalmente esqueceu o que o amor era. Justin sentiu o sangue escorrer de seu rosto. — Oh Deus. Dedos fortes se enterravam nos braços dele. — Justin! Ele abriu os olhos. Fiona estava segurando-o, o rosto ainda manchado de lágrimas. Ele podia ver sua beleza agora, mas mais importante, ele podia vê-la . Ela estava desesperadamente tentando salvá-lo de si mesmo. E ele lutou contra ela. — Sinto muito. — disse ele. — Eu sinto muito. — Pedir desculpas não adianta. — ela sussurrou, sua voz embargada e irritada. — Prometa-me que você nunca fará isso de novo.


Ele hesitou. Parte dele estava protestando, mas eu preciso disso! Outra parte estava gritando: Dói Fiona! Seu leopardo da neve rosnava furiosamente, olha o que te faz fazer! Veja o que isso faz para sua companheira! Sua primeira inclinação foi dizer ao seu leopardo da neve para calar a boca. Mas foi assim que toda essa confusão começou. Só porque seu leopardo foi forçado a ele não significava que ele tinha que tentar empurrálo para baixo e ignorá-lo. Seu leopardo da neve era a voz de seus próprios instintos e emoções mais profundos. Talvez valesse a pena ouvi-lo. Justin esperou pacientemente enquanto seu leopardo da neve corria através de seus grunhidos frenéticos e gritos de Não faça isso! É ruim para você! Isso vai matar a nós dois! Mas ele se acalmou quando percebeu que, por uma vez, Justin estava ouvindo. Você tem que dizer para sua companheira porque você acha que precisa dele, seu leopardo da neve sibilou. Você precisa contar a ela o que aconteceu na Apex. Justin se encolheu. Ele queria dizer não posso. Mas quando ele olhou para Fiona e sentiu seu amor por ela, como um fogo queimando em seu coração, ele sabia que podia. Foi sua escolha, assim como virar uma nova folha era sua escolha. Apenas como contar sua história, que obviamente a aterrorizava. — Eu não posso fazer essa promessa até que eu saiba que você entende o que isso significa. — disse ele. — Mas é uma longa história, e as pessoas podem entrar em contato a qualquer momento. Vamos voltar. Eu vou te contar assim que estivermos sozinhos. Ele esperava que ela ficasse irritada por ele não concordar imediatamente. Mas em vez disso, ela pegou a mão dele. — Eu agradeço. Eu sei que isso é difícil. Ainda tenho medo de contar aos meus companheiros minha história. Mas eu vou de qualquer maneira. Eu me sinto muito melhor desde que te contei. E como você não me culpou, isso me faz pensar que talvez eles também não o façam.


— Shane não vai. — disse Justin. — Eu o conheço e não há como. Pelo que você me contou sobre Hal, posso imaginar que ele também não. E Nick, acabei de me lembrar de nosso breve encontro, mas ele disse algumas coisas que me fizeram pensar que ele mesmo cometeu alguns crimes. — Nick é um ex-gangster. Eu dei-lhe o inferno quando ele se juntou ao grupo pela primeira vez. Olhando para trás agora, eu não o queria por perto, porque ele me lembrava do que eu costumava ser. Mas foi injusto da minha parte. Eu lhe devo um pedido de desculpas. — Nunca é tarde demais. — Realmente não é. — Ela apertou a mão dele, então disse: — Agora que você pode apreciá-lo, vamos tentar de novo. O que você achou da minha fantasia? Fiona levantou a mão sobre a cabeça e girou abaixo como uma bailarina. Sua saia alargou-se, mostrando suas coxas magras mas musculosas. Agora ele podia admirar seu traje e a mulher nele. Seu vestido era de cetim branco bordado com cristais transparentes, como um campo de neve salpicado de gelo. O top apertado oferecia uma visão tentadora de seu decote delicioso. Sapatilhas brancas de balé cobriam seus pés delicados. Ela usava uma elaborada tiara de prata, penas brancas e jóias claras cintilantes. Sua meia máscara era feita de renda branca decorada com os mesmos cristais transparentes que estavam em seu vestido. Um cristal de safira em forma de lágrima foi colocado sob o olho dela, e uma série de pequenas lágrimas de safira enfeitava a máscara. A trilha de cristal azul continuava sobre o ombro do vestido e fazia um padrão assimétrico no corpete e saia, até que circundava a parte inferior da saia em um padrão ondulado, como o mar. O Sr. Toscani tinha visto o coração de Fiona, assim como vira o de Justin: ele a vestira como uma rainha da neve cujas lágrimas estavam derretendo o gelo. — É lindo. — disse Justin. — Você é linda. Sinto muito que não consegui ver antes. — Agora você pode. Isso é o que importa.


Ele deu uma segunda olhada. Seus ombros e braços estavam nus e suas pernas também. — Você não está congelando? Ela deu de ombros, depois deu um sorriso irônico. — Você tem que sofrer pela beleza. Justin colocou o braço ao redor dela e a abraçou, compartilhando seu calor. — Não, você não precisa. Eles saíram do beco. Era o meio da manhã agora, e o Carnaval estava a todo vapor. As ruas estreitas estavam cheias de pessoas em trajes elaborados e máscaras. Gárgulas vivas espreitavam das janelas, reis e rainhas eram levados ao longo dos canais por gondoleiros, e amantes mascarados em trajes elaborados valsavam nas praças. Era bonito. Mais do que bonito - era mágico. Justin sentiu como se tivesse saído da realidade, e para o tipo de sonho que ele costumava ter, do tipo que ele estava arrependido de deixar passar. Ele não podia acreditar que ele tinha visto tudo isso mais cedo e quase nem mesmo registrado, e muito menos apreciado isso. Ele esperava sentir medo por todo o caminho de volta ao apartamento, agora que ele concordou em contar sua história. Mas em vez disso, ele se sentiu estranhamente leve. Ele podia sentir novamente. Ele podia perceber beleza e experimentar o amor e aproveitar o aperto quente da mão de Fiona na dele. Inesperadamente, a alegria entrara em seu coração, preenchendo-o até a borda, como se estivesse compensando o tempo perdido. Uma enorme multidão se reuniu na Praça de São Marcos. Ao acompanhar os aplausos selvagens, uma jovem vestida de anjo saltou de uma torre alta e flutuou pendurada em um fio invisível, espalhando confete sobre a multidão. Justin pegou uma das tranças de Fiona. — Você tem confete em seu cabelo. — Você também. Isso combina com você. Você deveria usá-lo o tempo todo.


— Talvez eu possa contratar esse anjo para me seguir e borrifá-lo lá de cima. Fiona riu. O som claro encheu seu coração, e ele se inclinou para beijála. O toque de seus lábios foi um choque tão intenso como se ele tivesse colocado o dedo em uma tomada elétrica, mas um choque de prazer, em vez de dor. Ela balançou contra ele, seu corpo parecendo derreter no dele. Ele ficou instantaneamente duro como uma rocha, doendo de desejo. Depois daquela longa manhã de vazio entorpecido, a corrida de amor e luxúria fez sua cabeça nadar. Se eles não estivessem em público, ele teria rasgado suas roupas ali mesmo. Seus olhos estavam queimando com um fogo de esmeralda, e suas unhas mordiam seus ombros. Ela estava respirando com tanta força como se acabasse de terminar uma maratona. Ela abaixou a cabeça e deu um beliscão repentino em sua garganta que enviou um raio de desejo em sua espinha. — Venha. — Sua voz saiu em um grunhido áspero, como o de seu leopardo. Eles atravessaram a multidão, desviando dos foliões fantasiados enquanto corriam pelas ruas estreitas. Suas botas batiam contra os paralelepípedos; seus chinelos de couro não emitiam nenhum som. Ele só sabia que seus pés estavam tocando o chão pelo barulho que eles faziam. Parecia que ele estava voando. Parecia que o tempo durava para sempre antes de chegarem ao apartamento. Justin estava tremendo com a intensidade de seu desejo; Ele deixou a chave cair na primeira vez que tentou abrir a porta. Fiona pegou, mas se atrapalhou quando tentou desbloqueá-lo. Suas mãos também tremiam. Quando finalmente conseguiram abrir a porta, Justin a fechou atrás deles e empurrou o ferrolho no lugar com a palma da mão. Então eles subiram a escada juntos e entraram no quarto. Antes mesmo de chegarem à cama, eles estavam nos braços um do outro, beijando-se apaixonadamente. Ele estava vagamente ciente de que os dois ainda usavam suas máscaras, mas a dele era feita de couro fino e a


dela de renda; eles não interferiram. Tirá-los exigiria levantar as mãos da pele macia dos ombros nus, e ele não suportaria fazê-lo. Daqui a pouco, ele pensou vagamente. Fiona tinha puxado a camisa e acariciava seu peito. Suas mãos deslizaram sobre as cicatrizes de tiros no peito e nas costas, mas isso não o incomodou. Se qualquer coisa, seu toque o fez perceber que eles eram apenas cicatrizes agora. As feridas haviam sarado. E então ele se esqueceu completamente delas, porque as mãos dela caíram para puxar a fivela do cinto. Ele a ajudou a desfazê-la, depois a puxou e a jogou de lado. A cama estava bem ali na frente deles, mas seu sangue estava ficando quente demais e seu pulso batendo rápido demais para tomar o tempo para se deitar. Nem podia imaginar ter tempo para se despir. Ele precisava estar dentro dela agora, fundindo seus corpos até que todas as barreiras entre eles se dissipassem. Fiona deu-lhe um empurrão para a frente e suas costas encontraram a parede. Em voz baixa e rouca de excitação, ela disse: — Mal posso esperar. — Nem eu. Ela empurrou as calças até os quadris, e deslizou a palma da mão ao longo dele enquanto ia. Ele gemeu, empurrando em sua mão. Seu corpo inteiro parecia estar em chamas. Suas mãos estavam mais uma vez tremendo quando ele levantou a saia, sentindo o calor de suas coxas, e puxou sua calcinha. Ela caiu em torno de seus tornozelos. Fiona saiu dela, depois a chutou. Ele colocou a mão sob a saia e enfiou um dedo em suas dobras lisas. Ela gritou em voz alta apenas com aquela breve carícia, e ele sabia que ela estava tão perto da borda quanto ele. — Vamos lá. — ela sussurrou. — Bem assim. Ela ficou na ponta dos pés, pressionando-se contra ele. Justin colocou as mãos sob as coxas dela e levantou-a. Ela agarrou seus ombros e beijou-o com força enquanto ele deslizava para dentro dela como uma chave em uma fechadura.


Ele engasgou com a intensidade da sensação. Ela estava tão quente, molhada e apertada por dentro, agarrando-o por dentro. Fiona também ofegou, seus olhos se arregalando. Quando ele começou a empurrar, ela beijou seus lábios, sua garganta, suas bochechas, suas pálpebras. Enquanto seu prazer crescia dentro dele, seu amor por ela queimava mais e mais até explodir em um calor branco extático, como o coração de um sol. Justin se encostou na parede, segurando Fiona em seus braços. Ela estava tão desossada e contente como um gato ao sol, a cabeça apoiada em seu ombro. Ele sentiu que poderia ficar assim para sempre. Depois de um tempo, ela levantou a cabeça e cutucou-o. — Você não está ficando cansado? — Nunca. — Então ele admitiu: — Mas meus pés podem estar começando a adormecer. Ela riu. — Vamos tomar um banho. Ele a levou para o banheiro, onde tiraram as máscaras e se despiram. Fiona soltou suas tranças e Justin ajudou-as a desenrolá-las, seus cabelos deslizaram através de seus dedos como seda, antes de entrarem no chuveiro. A água quente lavou seu suor e fez seu cabelo parecer fluir como líquido. Ela poderia ter sido um espírito da água criado para puxá-lo para as profundezas, não para se afogar, mas para encontrar uma nova vida em um estranho mundo novo. Quando saíram do banho e se vestiram novamente com suas roupas normais, Justin se sentou na cama. Você não é corajoso se não está com medo, ele pensou. Ele sentia que se contasse esta história, iria doer tanto que poderia matá-lo. Ele ainda se sentia exatamente como na primeira vez que esteve a quase quatro mil quilômetros acima do solo com um paraquedas preso às costas. Mas ele acenou para Fiona. — Venha aqui. Eu tenho uma história para você. Ela se enrolou ao lado dele e colocou os braços ao seu redor. Acariciando as costas, ela disse baixinho: — Nós não conversamos sobre isso, mas sei o que você fez. De volta a Nova York, você me disse que o Apex


forçou você a se tornar um assassino. Mas isso não foi sua escolha. Eu não te culpo por isso então, e aprender os detalhes não vai mudar nada. — Isso não é o que eu vou lhe dizer. Como você disse, eu não desisti e decidi me tornar um assassino. Eu nunca teria feito isso se tivesse tido uma escolha, mas não é o que me mantém acordado à noite. — Então o que é? Quando ele começou a falar, ele esperava que o amor dela fosse o seu pára quedas.


História de Justin Havia oito de nós na missão onde fomos capturados pela Apex. Havia uma equipe de quatro PQs, eu e Shane e dois outros caras, e a tripulação do helicóptero que estava nos transportando. Eu não conhecia a tripulação do helicóptero antes, mas era um vôo bem longo e eu sou um cara tagarela - pelo menos, eu era - então eu os conheci um pouco no final das contas. Não que fossemos melhores amigos ou algo assim, mas conversamos sobre filmes e sobre as famílias deles e sobre esportes. Eu e Elizabeth, que era uma das atiradoras de porta, apostamos na Série Mundial. Ela pensava seriamente que os Cubs iriam ganhar desta vez. Eu já conhecia os outros PQs. Eu tinha trabalhado com Armando algumas vezes, apenas o suficiente para que eu gostasse dele e confiasse nele para ter minhas costas. Mason era um amigo meu. Eu tinha assado um dos cupcakes dos Jogos Vorazes para seus filhos no último aniversário. Eles levavam flechas de chocolate branco e respingos de sangue que eram geléia de framboesa. Sua mãe achava que eles eram muito sangrentos, mas Mikayla os amava. Além de mim, Shane não estava perto de ninguém na missão. Ele não se aproximava de muitas pessoas. Ele é exigente. Se você é amigo dele, isso é um grande negócio para ele. Ele será leal a você para sempre. Eu não sei se ele mencionou seu próprio apelido. É Retorno. É de um velho filme de cowboy chamado Shane que muitos de nós assistimos na base. Foi principalmente uma piada sobre essa parte onde esse garoto começa a gritar: “Volte, Shane! Volte!” Mas havia também uma parte que não era uma piada, que era a que Shane sempre voltaria para você. Os detalhes da missão não são importantes. Tudo o que você precisa saber é que estávamos em combate e fui atingido. Parecia que alguém tinha


dado um soco no meu peito com um taco de beisebol. Não doeu a princípio, foi apenas um tremendo impacto que me derrubou. Eu sabia que tinha que dar o fora da linha de fogo, mas não conseguia me levantar. Shane correu e me arrastou para a cobertura mais próxima, e isso nos separou de todos os outros. No começo eu não percebi o quão ruim estava. Eu estava usando colete à prova de balas, então pensei em soltar o vento. Mas foi uma bala perfurante. No momento em que ele tirou minha armadura para dar uma olhada, uma poça de sangue já havia começado a se espalhar abaixo de mim. Essa foi a primeira vez que vi Shane com medo. E isso me assustou tanto quanto o sangue. Meu peito começou a doer e ficou pior e pior. Ele me deu uma injeção de morfina, que ajudou com a dor, mas ele não conseguiu que o sangramento parasse. Shane estava tentando ficar de olho no inimigo ao mesmo tempo em que ele estava me ajudando. Mas ele finalmente largou a arma, colocou as palmas das mãos no meu peito e inclinou todo o seu peso sobre elas. Ele estava me dizendo que eu ficaria bem e ficaria com ele, mas também sou paramédico. Eu sabia que ele estava ficando desesperado, e que se eu não fosse atendido o mais rápido possível, eu sangraria até a morte. Então Shane desmoronou em cima de mim. Eu pensei que ele tinha sido baleado também. Foi o pior momento da minha vida inteira. Então eu vi esse pequeno dardo preto saindo de sua mão. Eu estava apenas pouco consciente naquele momento, então eu não entendi o que isso significava até mais tarde. Então eu desmaiei também. Eu nem acho que eles tiveram que me tranquilizar. Acordei em um hospital e vi todo mundo, e achei que tínhamos sido resgatados e estávamos de volta à base. Passou um bom tempo antes de eu perceber o que realmente estava acontecendo. Shane me disse mais tarde que no começo eu estava em tão mau estado que ninguém queria me estressar, e então quando eles tentaram, eu estava tão grogue, que eu apenas dizia, “Uh-huh, uh-huh”, e caia dormindo e depois, não me lembrava de nada. Aquela bala perfurante causou muitos danos. Passou semanas antes que eu pudesse me sentar na cama.


O que aconteceu foi que a Apex se aproveitou da distração de Shane cuidando de mim e da distração do resto da equipe estando em combate, e atirou em todos nós com dardos tranqüilizantes e nos aprisionou em um laboratório subterrâneo. Eu estava em uma unidade de terapia intensiva, e todos os outros foram colocados em barracas anexadas a isso. Eles tinham permissão para me visitar desde que não causassem nenhum problema. Shane se mudou comigo. Ele dormiu no chão até que eles colocaram outra cama para que eles pudessem parar de tropeçar em cima dele. Médicos, enfermeiras e cientistas podiam entrar e sair, mas sempre que estavam em nossos quartos, um bando de guardas com armas de dardo também. Havia mais guardas do lado de fora das portas e as portas estavam sempre trancadas. Eles nos capturaram como sujeitos de teste para um processo chamado Ultimate Predator. Era pra te transformar em um super soldado, mas na maioria das vezes isso te matava. Quando me recuperei o suficiente para entender o que estava acontecendo, Elizabeth e Neil, o co-piloto do helicóptero, já estavam mortos. Shane sabia que eu estava com medo - com medo que eu morresse de meus ferimentos, com medo de que a Apex decidisse que eu era demais para continuar vivo, com medo de ficar desamparado e sozinho. Ele ficava me dizendo que qualquer um que quisesse me machucar teria que passar por ele primeiro, e ele nunca me deixaria. Mas esse era o problema. A razão pela qual a Apex nos mantinha todos juntos era para que eles pudessem me usar como refém. Enquanto ninguém estivesse disposto a me deixar, nenhum de nós poderia escapar. Eu lhes disse para irem de qualquer maneira. Eu disse uma vez que eles fossem embora, eles poderiam obter ajuda e voltar e me resgatar. Mas eu só disse isso para convencê-los a sair, não porque achasse que eles realmente poderiam. Achei que meu único valor para a Apex era como refém. Não havia sentido em experimentar em mim quando não havia sequer uma chance que eu sobrevivesse. Se todos os outros escapassem, Apex provavelmente me mataria.


Shane disse: — Você está certo, alguém tem que pedir ajuda. Mas este não sou eu. Eu não estou deixando você. Eles criaram um plano para que alguns deles lutassem e distraíssem os guardas, enquanto alguns deles tentavam escapar. Shane foi um dos lutadores, claro. Se eu pudesse sair da cama e lutar, mesmo que soubesse que isso iria me matar, eu teria. Mas tudo que eu podia fazer era ficar lá e assistir. O plano falhou. Eles conseguiram nocautear alguns guardas, mas isto foi tudo. Depois disso, o Apex aumentou a segurança. Eles continuavam levando as pessoas para o laboratório. Colocandoos através do processo Ultimate Predator. Toda vez, os médicos disseram que aprenderam muito e estavam melhorando o processo, e da próxima vez funcionaria. Isso nunca aconteceu. Todos morreram. Todos. Finalmente Shane e eu fomos os únicos que sobraram. Eu recuperei muito, no sentido de que eu poderia me levantar e andar devagar pela sala. Mas eu não podia correr. Eu não podia lutar. Se Shane e eu tentássemos escapar, ele teria que me carregar, e então ele não poderia lutar. Eu disse a ele para me deixar. Eu implorei a ele. Eu disse a ele que preferia morrer a viver sabendo que ele jogara sua vida fora para salvar alguém que não poderia ser salvo, e eu quis dizer isso. Mas ele não me ouvia. Eu pensei que com certeza eles levariam Shane para a próxima experiência e me salvariam para o final. Mas eles não fizeram. Eles me levaram. Eu estava contente. Pelo menos eu não teria que morrer sozinho. E então me sentia mal por pensar assim, porque significava que Shane iria. Shane ficou furioso quando eles vieram por mim. Mas isso não fez diferença. Eles atiraram nele com uma arma de dardo, e acabou assim. Foi um processo de dois passos: primeiro eles te transformam em um shifter, e então eles usaram o Ultimate Predator para tentar lhe dar poderes. Eu não percebi até que me tornei um shifter porque eles fizeram isso primeiro. Eu


não sabia que shifters tinham poderes de cura. Mas uma vez me tornei um, comecei a ficar muito melhor, o processo foi muito mais rápido. Percebi que a Apex poderia ter feito isso antes, mas me deixaram sofrer para manter todo mundo na linha. Mas eu estava tão feliz por ser forte e saudável novamente, que eu não me preocupei muito com isso. Shane e eu planejamos pular os guardas e lutar por nossas vidas quando eles vierem fazer o Ultimate Predator, que era a parte que matava. Mas a Apex era esperta demais para isso. Eles não enviaram guardas de forma alguma Eles drogaram nossa comida em vez disso. Acordei no laboratório e já estava feito. Eu me sentia bem. Os médicos estavam todos animados. Eles pensaram que finalmente conseguiram acertar. Eles me colocaram de volta com Shane, que estava feliz em me ver entrar. E então, de repente, eu estava no chão com Shane me segurando. Eu não conseguia respirar. Eu pensei que tinha acabado para mim, que o processo me matou depois de tudo. Mas não foi bem assim. Apenas quase. Eu acordei em outra UTI. Aparentemente eu estava lá há semanas e mal consegui passar por isso. Eu estava sozinho. Eu pensei que isso significava que Shane estava morto. Mas os médicos disseram que finalmente aperfeiçoaram o Ultimate Predator nele. Eles disseram que ele saiu bem, ele conseguiu poderes, e ele os usou para escapar. No começo eu não acreditei. Mas eles descreveram como ele fez isso, e com certeza soou como um tipo de plano de Shane. Então eu pensei: “Ele finalmente aceitou meu conselho. Ele escapou e foi buscar ajuda e vai voltar para mim. Eu só preciso esperar por alguns dias. Uma semana, no máximo. E então nós dois seríamos livres”. Só que ele não voltou. Eu pensei: “Bem, talvez ele tenha tido algum problema. Vou fugir e procurar por ele. Eu estava sob forte segurança, mas eles obviamente queriam que eu fizesse coisas para eles, então eles teriam que me deixar sair mais cedo ou mais tarde. Eu percebi que no momento em que eles fizessem, eu deslizaria a coleira que eles tinham em mim e iria procurar por Shane”. Descobri que eles tinham uma coleira do inferno. Minha versão do Ultimate Predator - a defeituosa, a que quase me matou - fez com que eu


precisasse fazer um tratamento a cada dez dias, ou eu morreria de forma lenta, horrível e dolorosa. Eu não acreditei nos médicos quando eles me disseram isso, então eles disseram para que eu ficasse à vontade para não fazer os tratamentos e ver o que aconteceria. Foi horrível e doloroso. Eu cedi e pedi o tratamento antes de chegar à parte da 'morte'. E então eles me tiveram. Se eu fugisse, morreria. Mas eles disseram que melhoraram depois de mim, então isso não aconteceria com Shane. Ele não precisava voltar a menos que quisesse. E ele não fez. O tempo passou. Eu finalmente percebi que ele não voltaria. Depois disso, praticamente parei de me importar com qualquer coisa. Claro, era tudo um truque. Eles tinham Shane o tempo todo, em uma base diferente. Eles disseram que eu tinha morrido e me disseram que ele havia me abandonado, então não iríamos nos procurar. Eles mentiram sobre Shane não precisar do tratamento também. Quando ele finalmente escapou, quase morreu disso. Eu pensei que ele me abandonou, quando ele realmente desistiu de sua própria chance de liberdade para ficar comigo. Ele não segurou isso contra mim, mas é difícil de me perdoar. Não consigo me perdoar por nada do que aconteceu.


Fiona Quando Justin começou sua história, Fiona não tinha pensado que ele seria capaz de passar por isso. Ele engasgava toda vez que ele dizia os nomes dos homens e mulheres que haviam morrido, e toda vez que ele lhe contava como Shane se recusara a deixá-lo. Quando ele terminou, ele estava tremendo e encharcado de suor. Mas ele terminou. E Fiona o amava por isso. Afagando o cabelo molhado do rosto, ela disse: — Conheço um monte de pessoas corajosas. Mas você é o homem mais valente que já conheci. — Eu não fiz nada corajoso. Shane e Mason e Elizabeth e... — Ele balançou a cabeça, incapaz de citar o resto dos nomes. — Eles lutaram como o inferno. Eu apenas fiquei lá, deitado. — Você apenas ficou lá, porque você foi baleado no peito. — Fiona apontou. — O mesmo que Shane fez quando foi baleado. Não é como se você estivesse tendo um ataque de vapores porque um morcego se emaranhou no seu cabelo! Justin soltou um bufo de ar divertido. — Isso é certamente uma imagem vívida. — Então, foi fácil para você dizer a todos para se salvar e deixar você para trás? Foi fácil para você dizer a Shane para deixá-lo preso pelo inimigo, ferido e desamparado e sozinho? E que tal me contar essa história agora, foi assim tão fácil? — Não. — Ele falou tão baixinho que Fiona só pôde ouvi-lo porque estavam pressionados muito perto. — Não, nada disso foi fácil. Se você está definindo coragem pelo quanto algo te assusta, então sim, levou um pouco.


Demorou muito, pensou Fiona. Ela não podia imaginar fazer o que ele tinha feito. Ela teria implorado para eles não a deixarem. Mas ela ficou quieta. Tinha sido difícil o bastante para Justin admitir isso mesmo. Ele continuou: — Eu me perguntava se os poderes do Ultimate Predator que recebíamos eram influenciados por quem éramos e o que queríamos. Shane sempre foi meio intimidante e furtivo, e ele conseguiu isso o mais longe que pôde. Catalina adorava gatos, e ela conseguiu a agilidade de um. — Catalina costumava ter dificuldade em fazer os homens levá-la a sério. — disse Fiona. — E o outro poder dela é super força. Difícil zombar de uma mulher que pode jogar você pela sala com uma mão. — Certo. E quanto ao que eu queria, era levantar da cama do hospital e parar de segurar todo mundo, mesmo que eu caísse morto assim que saísse. E é isso que a invencibilidade me deixaria fazer. — Também leva a dor embora. — disse Fiona calmamente. — Eu imagino que você queria isso também. — Sim. — Ele suspirou. — Eu sei que é principalmente por isso que eu tenho usado. Mas não é por isso que não posso prometer nunca mais usálo. Enquanto eu for invencível, nunca precisarei ser um fardo para ninguém. E ninguém mais vai morrer porque eles tiveram que cuidar de mim. — Oh, Justin... — A dor em sua voz era tão crua que Fiona não conseguia imaginar nada para fazer ou dizer para melhorar. Tudo o que ela podia fazer era abraçá-lo com força. Mas ele relaxou em seus braços, então talvez ela tivesse feito a coisa certa. Então seus pensamentos voltaram ao que ele disse. Ela estava tão envolvida em como era doloroso para ele que ela não tinha considerado se era realmente verdade. Mas quanto mais ela considerava, examinando-o com o mesmo olho objetivo que ela carregava em uma máquina quebrada que precisava consertar, menos convincente parecia. — Se eu tivesse sido invencível quando fui atingido na missão, eu teria continuado lutando. — disse ele. — E então Shane não teria sido distraído por mim, e a Apex não teria sido capaz de esgueirar-se sobre ele.


Assim, Fiona pensou. Isso não pode estar certo. — O que teria acontecido se você fosse invencível, e você continuasse lutando?— Ela perguntou. Ele parecia confuso com a pergunta dela. — Acabei de te falar. Shane não teria sido capturado. Talvez nenhum de nós teria. — Não, quero dizer, literalmente, o que teria acontecido? Me fale sobre isso. Vocês estavam todos brigando, os agentes da Apex estavam se aproximando de você com rifles tranquilizantes, você foi atingido por uma bala perfurante e sua ferida foi ruim o suficiente para que você acabasse acamado por semanas. O que teria acontecido se você fosse invencível na época? Ela podia ver pela sua expressão que ele nunca pensou, se eu tivesse sido invencível, nada do resto teria acontecido. Lentamente, ele disse: — Eu teria continuado lutando. Então eu teria mantido sangrando. E correr por aí teria piorado. Eu teria morrido em dez minutos. Talvez menos. — O que você acha que a Apex teria feito então? — Provavelmente exatamente o que eles fizeram, só Shane estaria me dando CPR. — Justin franziu a testa. — Ok, eu entendo o que você quer dizer. Mas o importante é o que aconteceu na Apex. Foi quando eu realmente precisaria de invencibilidade. Se eu não tivesse caído, todos nós teríamos saído de lá. E então ninguém teria morrido. — Exceto você! — Bem... — Ele falou como se quisesse discordar dela, mas não conseguia descobrir como. — Você é o especialista em medicina, não eu. O que teria acontecido se você tivesse os mesmos ferimentos, mas você fosse capaz de se levantar, correr e lutar de qualquer maneira? Justin levou um momento para pensar sobre isso, então relutantemente disse: — Eu teria morrido. Mas eu estava disposto...


— Sim, você estava disposto. E quanto a Shane? Ele é um paramédico também. Ele saberia o que aconteceria. Mesmo se você tivesse a sua invencibilidade, ele teria deixado você usá-lo assim? — Umm. — Ainda mais relutante, Justin admitiu: — Eu realmente tentei sair da cama algumas vezes. Ele me segurou. Ameaçou dizer aos médicos para me amarrarem se eu tentasse de novo. Fiona olhou para ele, as sobrancelhas levantadas, deixando suas próprias palavras penetrarem. — Eu não tinha me lembrado disso até que você me lembrou agora. — disse ele lentamente. — Você sabe... Talvez não tivesse nem mesmo feito diferença se eu nunca tivesse sido baleado em primeiro lugar. Shane estava distraído e eu estava fora para a contagem, mas os outros não estavam. Apex ainda capturou todos nós. Então, se eu não tivesse sido ferido, eles provavelmente não teriam nos mantido juntos ou teriam tido mais segurança desde o começo. Uma vez que nos transformaram em shifters, mas antes de nos colocarem no Ultimate Predator, eles nos acorrentaram às paredes. Eles poderiam ter feito isso desde o começo. — Eles acorrentaram você às paredes? — Fiona repetiu. O fato de ele ter dito aquilo como se fosse um pequeno detalhe que não tinha sido importante o suficiente para mencionar antes tornava ainda mais horripilante. — Sim. Isso é muito ruim, né? — Horripilante! — Ela apertou a mão dele. Ele levou a mão aos lábios e beijou-a. — Estou feliz por ter lhe contado. Quando eu estava mantendo tudo engarrafado dentro de mim, eu não tinha perspectiva. Eu tinha tanta certeza de que a única coisa que nos impedia de escapar era eu. — O que estava impedindo você de escapar era a Apex. Tudo o que aconteceu foi culpa deles e sua escolha. Não sua. Por um longo tempo, ele ficou em silêncio, parecendo pensativo. — Você está certa sobre a invencibilidade. Está parando meu próprio coração


e para quê? Mais cinco minutos para fazer algo que não vai mudar nada, às custas da minha vida? Não, eu não posso mais fazer isso. Eu não vou. Fiona o abraçou. — Você não precisa, de qualquer maneira. Você estava sozinho antes. Agora você me tem. Não esqueça, eu sou uma guarda costas. Onde quer que você vá, eu estarei lá para cuidar de você. — O mesmo para você. — disse ele prontamente. Então seu olhar se afastou dela e da luz brilhante da janela. — Você quer sair de novo? Nós temos todo o resto do dia. E o carnaval é apenas uma vez por ano. — Absolutamente. Eu não acho que nós poderíamos conseguir um vôo antes de amanhã, de qualquer maneira. Deixe a Dra. Mortenson esfriar seus pés em Montana. Ela ofereceu a mão para Justin, mas ele não se moveu. Sua testa se enrugou enquanto tentava se lembrar de algo, e então ele disse abruptamente: — Não podemos ir para Montana. É uma armadilha. Ela sabia que eu estava ouvindo. Se nós aparecermos, ela não vai ter um par de homens com armadilhas para ursos, ela vai ter muitos homens com algo que ela acha que pode me derrubar. Redes, talvez. Dardos tranqüilizantes não funcionam mais em mim. Foi um dos efeitos colaterais do Ultimate Predator. Ela confiava em seu julgamento, mas não entendia como ele descobrira isso. — O que faz você pensar que é uma armadilha? — Dra. Mortenson tinha esse tom que ela sempre usava quando mentia sobre algo para me foder. Eu não percebi isso na época porque eu era invencível. Eu acho que porque eu não posso sentir emoções, é mais difícil para eu pegá-las. Eu só percebi quando pensei na ligação agora mesmo. — Ele deu uma risada irônica. — Você estava certa sobre a invencibilidade é uma má notícia. Se eu mantivesse em todo o caminho para Montana, ela teria nos pego de surpresa. Ela hesitou em trazer a solução óbvia. Ele atirou antes... mas as coisas mudaram. Eles mudaram e o relacionamento deles também. Eles despiram um ao outro para a verdade nua, e nenhum deles se encolheu com o que eles tinham visto. Ela não teve que segurar mais nada dele.


— Ainda podemos emboscá-la. — disse ela. — Só precisamos de reforços. Vamos trazer minha equipe. Pela primeira vez, Justin não se esquivou da sugestão. — Sim. Você está certa. Está na hora. — Você está bem em ver Shane? Seus lábios se curvaram num sorriso meio divertido e meio triste, fazendo-a pensar na máscara que o Sr. Toscani fizera para ele. — Nós fomos melhores amigos há dez anos. Ele salvou minha vida mais vezes do que eu posso contar. Eu quero vê-lo. É só que eu me sentia culpado por levar um tiro e ele não me deixar pensar que ele tinha me deixado e depois eu o deixei... Me pare antes que eu continue com isto. — Ajudaria se eu lhe dissesse que Shane se sente culpado por acreditar que você estava morto e deixar você? — Na verdade não. Mas eu vou sobreviver. E eu quero dizer oi para Catalina. E ver Nick, eu sempre gosto de ver meus pacientes depois que eles estão recuperados. E estou curioso sobre seus outros companheiros de equipe. Eles devem ser ótimos. — Eles são. — assegurou Fiona. — Você vai amá-los. Exceto... — O quê? — Justin perguntou desconfiado. — Eles são muito protetores. Então sempre que alguém vem com um companheiro... — Eles agem todos como irmãos mais velhos, né? Você quebra o coração dela, eu quebro suas pernas? Fiona tentou e não conseguiu pensar em uma maneira de explicar os rituais de trote dos companheiros da Protection Inc. o que faziam - incluindo ela - soar como um bando de lunáticos. — Algo parecido. Justin sorriu. — Não fique tão nervosa. Não tenho nenhuma intenção de partir seu coração, então minhas pernas estão seguras. Ela desistiu. Provavelmente eles não fariam isso com ele, de qualquer forma. Shane certamente não, Catalina já conhecia Justin, e Nick lhe devia uma. E todos os companheiros anteriores eram civis. Era natural que se


preocupasse que uma princesa delicada ou uma gerente de palco de cabelo roxo não tivesse a vontade de aço e a coragem desafiadora que o companheiro de equipe precisava e merecia. Mas Justin era um PQ. Sua vontade e coragem já haviam sido provados sem sombra de dúvida. Ele pegou a mão dela. — Vamos. Vamos nos despedir do anjo confete antes de irmos.


Justin Quando Fiona e Justin se dirigiram para o escritório da Protection Inc., ela disse: — Sobre a coisa do trote que mencionei... — Vai ficar tudo bem. — Justin disse distraidamente. Ele deu um tapinha na mão dela, onde descansava no volante. — Eu só quero dizer a Shane que sinto muito. Ela lançou-lhe um olhar estranho, depois sorriu. — Ele vai estar na lua para ver você. A pedido de Justin, ela havia mandado uma mensagem para Shane para ter certeza de que ele estava no escritório, mas não tinha dito nada além de que ela estava entrando. Ele mandou uma mensagem de volta, A turma está toda aqui, almoçando. Se você se apressar, pode haver alguns sanduíches para você. Eles estacionaram em um estacionamento subterrâneo, onde Justin deu um olhar apreciativo para os vários belos carros esportivos, e também para um carro blindado parecido com um tanque. — Alguém tem necessidade de velocidade. Várias pessoas, na verdade. — O Dodge Viper pertence a Nick, o Porsche Carrera pertence a Lucas e a Ferrari pertence a Grace. E o carro blindado é de Hal. Seu carro anterior foi explodido, então ele ficou um pouco obcecado com a resistência. — Eu posso ver como isso poderia acontecer. — ele disse. Eles entraram no saguão, onde ele olhou para o piso de madeira, o sofá de couro preto e as fotos de animais nas paredes. Havia um lobo em uma floresta, uma pantera à espreita em um galho de árvore, um leopardo da neve preso no meio do pulo de um penhasco com neve para o próximo... — Ah-ha. — disse Justin. — Bela foto sua. Onde isso foi tirado?


— Destiny me arrastou em uma viagem de esqui para Mammoth. — disse Fiona. — Ela achou que seria divertido estar em meu ambiente natural, e eu não consegui descobrir como dizer para ela, que eu não queria ir. É uma ótima foto, mas foi a última vez que deixei alguém me levar para algum lugar onde a neve é a atração principal. — Para o nosso aniversário, eu vou levá-la para o Vale da Morte. — ele ofereceu. — Lugar mais quente da Terra. Boas caminhadas também. — Isso mesmo, nós temos um aniversário agora. E é no inverno, no Vale da Morte. Eu voto no Taiti. — Ela pegou o celular. — Deixe-me pegar você e Shane um momento antes de todo mundo pular em você. Olhando por cima do ombro, Justin leu o texto: Entre no saguão. Sozinho. — Isso não parece nada suspeito. — observou ele. Shane entrou. A porta se fechou atrás dele quando ele parou e olhou fixamente. Todas as palavras que Justin queria dizer se dissolveram. Ele sabia naquele momento que não havia necessidade de desculpas, e que ele não tinha nada para se desculpar. Shane era o amigo que ele havia perdido e encontrado e reencontrado novamente, desta vez para sempre. — Ei, estou de volta. — disse Justin. — Há quanto tempo. — Muito tempo, Red. — Shane puxou-o para um abraço de quebrar os ossos. Por um momento, Justin ficou surpreso demais para responder. Pelo que ele se lembrava, Shane não era do tipo de abraços. Então ele jogou os braços ao redor de seu amigo. Se algum dia houvesse um homem que merecesse um abraço, era Shane. — Eu recebo um abraço?— Catalina perguntou da porta. Justin e Shane se separaram, sorrindo. — Claro que você não quer ter suas orelhas arranhadas?— Justin perguntou, em seguida, levantou-a e girou-a.


— Você quer um abraço também?— Shane perguntou a Fiona com ironia. Ela ergueu a mão para detê-lo, parecendo levemente horrorizada. — Obrigada, mas eu vou passar. — Você parece bem, Justin. — disse Catalina, inspecionando-o. — Muito melhor do que quando te vi pela última vez. Shane deu a ele e Fiona um olhar afiado. — Como vocês dois se encontraram? — Bem... — Fiona começou. Antes que ela pudesse continuar, uma multidão inteira entrou no saguão. Justin reconheceu Ellie, a paramédica loira que estava cuidando de Shane depois que ele foi baleado, e que agora estava visivelmente grávida. Mas o resto eram estranhos. Um coro de exclamações e perguntas surgiram da multidão, metade dirigida a Fiona e metade a ele. Ele se sentiu um pouco atordoado. Ele só tinha acabado de se acostumar a ter conversas com uma pessoa, e ele não tinha sido o centro desse tipo de atenção por anos. Um rapaz de jaqueta de couro preta lhe deu uma palmada nas costas. — Obrigado, cara. Não pense que me esqueci de dizer isso antes. — Sim, muito obrigada. — disse uma mulher elegantemente vestida, com cabelos prateados e tatuagens de prata enrolado em torno do braço. — Eu lhe devo uma grande dívida. Foi só então que Justin reconheceu o par. A última vez que ele os viu, ela estava em roupas de dança esfarrapadas e manchadas de sangue, agachada em um beco escuro e segurando o homem, que estava nu, gravemente ferido e pálido com o choque. — Você deve ser Nick. — disse Justin. — Como está sua perna? — Está bem. — disse Nick, sacudindo a mão com desdém. — Completamente curada. Então, o que você está fazendo aqui? Visitando Shane?


Antes que Justin pudesse responder, a voz clara de Fiona cortou a conversa. — Todo mundo, esse é Justin Kovac. Também conhecido como Red. Ele e Shane eram PQs juntos. Ele é um shifter leopardo da neve. E ele é meu companheiro. A sala instantaneamente se dividiu em duas facções. Shane, Catalina, Nick e a mulher de cabelos prateados pareciam encantados e começaram a parabenizá-lo e a Fiona. E todos os outros - não apenas os companheiros de equipe de Fiona, mas as mulheres que devem ser suas companheiras ficaram em silêncio, olhando para ele com desconfiança. Um homem bonito com um monte de cabelos negros e brilhantes trocou o brilho por um sorriso encantador quando ele ofereceu a Justin a mão dele. — Eu sou Rafa Flowes. Prazer em conhecê-lo. Vai ser bom para Shane ter outro companheiro da Força das Cadeiras para conversar. Justin ouvira isso antes, junto com piadas sobre a Força da Cadeira, e tinha uma resposta pronta. — Nossas cadeiras viajam a Mach 3. — Então, lembrando-se de Fiona dizendo que Rafa era um SEAL da Marinha, ele acrescentou: — Eu ouvi que as ondas são ótimas em Santa Martina. Nós devemos ir algum dia. Eu vou levar uma bóia para você. Rafa riu, e quando ele voltou para a multidão, seu sorriso permaneceu. Um homem grande apertou a mão de Justin e disse com uma voz muito profunda: — Ótimo ver Fiona emparelhada. Você provavelmente a conhece melhor do que nós agora. Você pode ver que essa turma gosta de brincar, mas nunca conseguimos pegá-la. Ela é tão legal e controlada. Mas eu aposto que ela baixa a guarda em torno de você. Sentindo-se estranho, Justin disse: — Bem... Um jovem com uma corrente de ouro enrolada na garganta disse: — Sim, Justin, diga-nos algo que possamos provocá-la. Apenas para diversão. — Como uma história embaraçosa de quando ela era criança. — o grande homem continuou. — Continue. Derrame o feijão na rainha do gelo. Na verdade, Fiona contara algumas histórias que eram exatamente o tipo de coisa que os amigos provocavam uns aos outros. Mas ela era privada.


Se seus colegas de equipe já não conheciam essas histórias, Justin não tinha o direito de repeti-las. Em um tom projetado para acabar com todo o assunto, ele disse: — Se Fiona quiser que você saiba algo sobre ela, ela pode dizer por si mesma. Ele esperava que os homens tentassem de novo - o tipo de cara que forçaria a sujeira em uma mulher, mesmo com intenções inofensivas, não era do tipo que desistisse na primeira recusa - e acusar Justin de ser tenso e sem diversão. . Em vez disso, eles se entreolharam e sorriram. — Você é um bom homem. — disse o homem grande, em um tom totalmente diferente. — Muito honroso. — disse o homem com a corrente de ouro, soando como sinceramente aprovado. — Fiona não merece menos. Shane lançou a ambos um olhar exasperado: — Vocês, esse é Justin. Claro que ele é honrado. Em um tom frígido, Fiona disse para os homens: — Vocês já tiveram o suficiente em testar meu companheiro? Porque eu certamente já tive o bastante de vocês fazendo isso. — Oh. — Justin disse, iluminado. — Foi isso que você me avisou. Eu estava esperando algo um pouco menos sutil. Como: “Veja esta pá? É com o que vou te enterrar se você a machucar”. Ele olhou para os homens com nova apreciação. Eles não estavam apenas olhando para Fiona, eles a conheciam bem o suficiente para checar por algo que realmente pudesse machucá-la. É claro que ela não deveria estar com um homem que não manteria seus segredos, mesmo que aparentemente sem importância, ou respeitar seu direito de tê-los! — Talvez eu consiga uma pá. — disse Fiona friamente, olhando para eles. Justin deu um tapinha no ombro dela. — Está tudo bem, Fiona. Sem danos causados. — Hal Brennan. — disse o homem grande, oferecendo a Justin a mão dele.


Justin piscou, sua percepção do homem mudando. Então esse era o chefe de Fiona - aquele que se sentou com ela na neve, pacientemente trazendo-a de volta para a humanidade. Não admira que ele não tenha se apresentado antes. Seu pequeno truque nunca teria funcionado se Justin soubesse quem ele era. — Prazer em conhecê-lo. — disse Justin, e queria dizer isso. — Eu sou Lucas. — disse o homem com a corrente de ouro. Depois de uma pausa suficiente para Justin não estar esperando um sobrenome, ele acrescentou: — Dragomir. Sua mão, quando Justin sacudiu, era estranhamente quente. Exceto por Fiona, as mulheres da Protection Inc. se agruparam. Ellie e Catalina formavam um grupo com a mulher de cabelos prateados, uma mulher negra curvilínea de tranças curtas, uma mulher de cabelos roxos com um vestido rosa babado e botas de combate, e uma ruiva vestindo roupas casuais e jóias de aparência muito cara. As mulheres que não conheciam Justin estavam olhando fixamente para ele. — Oi. — disse ele, oferecendo a mão para quem quisesse levá-la. A mulher com tranças se apresentou como Destiny, a companheira de equipe de Fiona. A ruiva se apresentou como a companheira de Lucas, Journey, e a mulher de cabelos prateados como a companheira de Nick, Raluca. A mulher de cabelos roxos pegou a mão dele. — Oi. Sou Grace Chang, a companheira de Rafa. Seu cabelo, uau. Muito retrô. Mas você sabe, se você está indo para um visual grunge dos anos 90, você realmente deveria estar usando uma camisa de flanela xadrez e tênis Converse de alta qualidade em preto e branco. Seus jeans estão bem, mas você precisa rasgá-los um pouco. — Uma camiseta do Pearl Jam também funcionaria. — sugeriu a ruiva. — E seu cabelo deve ser branqueado, não preto. — Destiny disse, examinando-o criticamente.


Instantaneamente autoconsciente, Justin levou a mão ao couro cabeludo. — Não é para ser assim. Eu vou cortar a parte tingida assim que ela crescer um pouco mais. Todas as mulheres murmuraram com simpatia. Grace vasculhou sua bolsa, que tinha a forma de uma Hello Kitty com alfinetes de segurança e tirou um pedaço de papel. — Achei! Isso vai ser perfeito. Tome isso, Justin. Fiona era a dama de honra no meu casamento. Eu ficaria honrada que seu companheiro o tivesse. As outras mulheres se inclinaram para olhar o papel, murmurando baixinho entre si e bloqueando sua visão. — O que...?— Justin começou. — Excelente. — disse a mulher de cabelos prateados, endireitandose. — Fiona merece um companheiro que ela possa se orgulhar de estar junto em qualquer ocasião. — E você vai gostar, Justin. — disse Catalina, sorrindo. — É muito relaxante. Apenas o que você precisa. — Mas o que é isso? — Um cupon para um dia em um SPA! — Destiny segurou-o e leu em voz alta: — Inclui um corte de cabelo e coloração, manicure e pedicure, limpeza de pele, designer de sobrancelha e extensões de cílios.— Mas a melhor parte é a depilação masculina! Ele não tinha ideia do que isso era além do corte de cabelo, mas tudo parecia profundamente alarmante. — Como funciona isto? Felizmente, Grace disse: — É quando eles acabam com TODOS os seus pelos! — Ou raspados todos! — Disse Journey. — Como uma pista de pouso! — Disse Catalina. — O que é perfeito para você, certo? Desde que você estava na Força Aérea... Ellie fez um gesto gráfico com uma navalha imaginária.


— Este é um spa de luxo. — disse Raluca em tom de reprovação. — Eles não vão raspar o cabelo, Justin. Eles vão usar cera quente, seguida de um laser. O rosto de Justin parecia tão quente como se a cera e o laser já tivessem sido aplicados. Ele olhou desesperadamente em torno procurando por uma rota de fuga. E então a moeda caiu. Finalmente. Ele pegou o cupom de Destiny e o embolsou. Mantendo a voz e a expressão tão sinceras quanto conseguiu, ele disse: — Obrigado, senhoras. Vocês estão certas, eu preciso disso. Especialmente a depilação. Está como a selva amazônica lá embaixo. Apenas vermelho em vez de verde. Talvez para o Natal eu possa fazer com que os profissionais pintem a maior parte do verde, e deixe um pouco do vermelho como acabamento. Por um breve instante elas o encararam com um horror muito satisfatório. Então elas começaram a rir. — Você estão satisfeitas? — Fiona perguntou, com as mãos nos quadris. — Meu companheiro passou no teste? — Sim. — disse Ellie, suas bochechas rosa brilhante. — Sim, nunca vamos fazer isso de novo. — Não precisava dessa imagem na minha cabeça. — murmurou Catalina. — Apenas visualize-o como um mangá em uma pista de pouso da Força Aérea. — sugeriu Justin. — Com algumas lantejoulas tecidas para representar as luzes da pista. — Pare! — Ela colocou as mãos sobre os ouvidos. — Você começou. — ele apontou. Shane riu e deu um tapinha no braço de Catalina. — Se você estivesse nos PQs com ele, você saberia que era melhor não tentar isso. — Eu estava com ele por duas semanas, e ele nem sequer deu um sorriso. — protestou Catalina.


— Isso não era representativo. — disse Shane. — Isso é o que Red realmente gosta. Suas palavras atingiram Justin como um raio. Ele passou anos em desespero, acreditando que ele tinha perdido tudo o que ele valorizava acima de tudo, ele mesmo. Ele pensara que o homem que jogara, brincara e gostara da vida morrera, e tudo o que restava dele era uma espécie de fantasma vivo. Mas aqui estava ele novamente, vivo e rindo. — Sim. — ele disse maravilhado. — É assim que eu sou. Fiona colocou o braço ao redor de sua cintura e segurou-o perto. Eles não precisavam trocar palavras para ele saber que ela tinha entendido o que ele quis dizer. — Vamos. Eu me lembro de Shane dizendo algo sobre sanduíches. Enquanto se dirigiam para o banheiro, Fiona cutucou Destiny. — Você é a próxima. Ela balançou a cabeça, enviando suas tranças voando. — Não. Eu vou deixar passar o felizes para sempre. — Então você e Ethan não são...? O breve lampejo de tristeza passou pelo rosto de Destiny antes que ela bufasse. — Aff! Que nunca, aqui, Marine e eu somos apenas amigos. Venha, eu o conheço há mais de um ano. Você não acha que eu não teria notado se fôssemos companheiros? Justin não tinha ideia de quem Ethan era, mas dado que ele e Fiona tinham sido forçados a dormir no chão e em uma banheira para manter as mãos longe um do outro, ele achou difícil imaginar que companheiros pudessem ser amigos por um ano sem perceber. Fiona encolheu os ombros sem compromisso, então disse: — Bem, haverá alguém. E quem quer que seja, vou fazê-lo corar mais forte do que Justin quando você explicou o mangá. — Se você fizer isso, eu vou fazer você corar mais forte do que Ellie quando Justin fez todos nós visualizar sua selva de lixo cor de Natal. — respondeu Destiny.


No refeitório, todos se sentaram para comer alguns sanduíches impressionantemente bons. Fiona e Justin contaram a história de como se conheceram, mas pararam quando pararam na parte em que concordaram em ir a Veneza juntos. Os dois olharam primeiro para Shane e depois para o outro. — Isso é comigo. — disse Justin. — Ela queria contar a você. Eu não concordei. — Está tudo bem, Fiona. — disse Shane. — Red me deu o deslize três vezes. Ninguém jamais foi capaz de fazer com que ele faça alguma coisa até que ele decida fazer. — Desta vez, eu quero ficar. — disse Justin, e continuou a história. Quando terminaram a história, a equipe imediatamente se ofereceu para ajudá-los na emboscada da Dra. Mortenson. Eles elaboraram um plano sólido para fazê-lo e decidiram que todos partiriam para Montana no dia seguinte. Justin ficou impressionado com o quão bem Hal os liderou, recebendo a contribuição de todos, incluindo Justin, enquanto ainda fornecia uma liderança forte. Ele ficou igualmente impressionado com o quão bem todos trabalharam juntos, tão bem e confiantemente como um time de PQ. Ele adorava ver Fiona em seu elemento, e ter a chance de mais uma vez planejar uma missão com Shane. Isso o fez sentir como se estivesse na Força Aérea novamente, uma parte essencial de algo maior que ele. Shane e Fiona pediram a ele para se juntar à Protection Inc., mas agora que ele realmente conheceu a equipe, ele sabia que não era com eles. Foi o chamado de Hal. Sem dúvida, Hal iria querer observá-lo nessa missão, ver o quão bem ele se apresentava e como ele se entrelaçava com os outros, e então... — Justin. — disse Hal. — Você gostaria de se juntar à equipe aqui na Protection Inc.? — Eu adoraria. — disse Justin, assustado. — Mas eu não preciso de passar por um período de experiência primeiro? Ou pelo menos fazer uma entrevista de emprego?


— Você já fez. — Hal se inclinou sobre a mesa para apertar sua mão. — Bem-vindo a bordo. Shane disse: — Bem-vindo a casa.


Fiona Fiona tinha esquecido completamente como era seu apartamento até ver a expressão de Justin quando ela abriu a porta. — Devo tirar meus sapatos? — Ele perguntou. Ela podia ver que ele estava completamente sério. Ela olhou com novos olhos para a extensão do tapete branco imaculado, as peças cuidadosamente selecionadas de móveis minimalistas e o único vaso azul em um pedestal. A cozinha aberta tinha piso aquecido e bancadas de granito. Tudo era perfeitamente de bom gosto, absolutamente perfeito e polido até parecer que nenhum ser humano jamais tocara nele, quanto mais morar ali. — Não se incomode. — ela respondeu, puxando-o para dentro, com sapatos e tudo. — Vou trocar os tapetes. Na verdade, se você se mudar para cá, eu vou reformar todo o lugar. Com a sua participação. Justin parecia horrorizado. — Você não quer minha opinião. Você não viu os lugares em que eu morei. Os armários são tão cheios de equipamentos esportivos antigos que quase não havia espaço para minhas roupas. As cozinhas têm tudo empilhado nos balcões. Na minha casa perfeita, haveria uma cama de cachorro no meio da sala. — Para voce? Não deveria ser uma cama de gatinho? — Fiona brincou. — Para o cachorro que sempre quis, se conseguisse um emprego que não envolvesse deixar o país a qualquer momento por até seis meses a cada vez. Quando eu era criança, minhas expectativas estavam em um labrador amarelo. Mas agora acho que vou apenas ao canil e resgatar quem precisa. — Isso vai ser todos eles. Você será a versão canina de Catalina. — Ela tem três gatos, certo? Três cães não são muitos. Eu só preciso de um grande quintal. Mas não precisamos morar juntos. Poderíamos ter


casas separadas e passar o máximo de tempo juntos. Eu não quero atrapalhar o seu estilo. — Ele agitou a mão em uma ampla varredura, absorvendo tudo, desde o tapete branco, as delicadas orquídeas até a escultura de vidro da arte moderna. Fiona considerou as maneiras que Justin poderia prejudicar seu estilo se vivessem juntos. Seus três cachorros derrubariam a mobília e deixariam bolinhas de borracha pelo chão. Seus armários se encheriam de tacos de beisebol e sapatos de escalada. Sua cozinha não seria mais impecável, porque ao contrário dela, ele realmente usava, assando cupcakes para as crianças (e Grace, e seus companheiros de equipe) e cozinhando deliciosas refeições para ela. Essa vida soou como o oposto de insuportável. Se qualquer coisa, ele complementaria o estilo dela. — Se nos mudássemos para uma casa com um quintal grande, você se importaria se eu mantivesse alguns quartos que os cães não são permitidos? — Ela perguntou. — Claro que não. — Seu sorriso disse a ela que ele realmente não queria viver separado. — Sua água viva de vidro terá um lar seguro. Com dignidade, ela respondeu: — Para sua informação, isso não é uma água viva. É uma escultura abstrata chamada Polychrome Angústia Doze. — Mime-se com a angústia policromata de um a onze, então. Eu vou manter os cachorros fora. — Você está por fora. — disse ela. — Saiba que, quando eu era uma garotinha, também queria um cachorro. Mas nunca moramos em um apartamento onde o senhorio os permitisse. — Nem eu. Havia algum em particular que você queria? — Um husky siberiano. Eles têm lindos olhos. — Eles tem. Quase tão bonitos quanto os seus. — Ele tocou sua bochecha, enviando um arrepio agradável através de seu corpo.


Só então, o telefone dela tocou com uma mensagem de texto. Por mais que ela gostasse de ignorá-lo, poucas pessoas tinham esse número, e uma mensagem de qualquer uma delas provavelmente seria urgente. — Espere. — ela disse. — Eu tenho que verificar isso. O texto dizia: Oi Annie é sua velha amiga Julie. Eu tenho novidades sobre namorados! Ligue-me agora para todos os detalhes sujos e sujos. Ela gemeu. — Hora perfeita. — O que é? Fiona virou o telefone para mostrar o texto. — É o Elson. Ele tem algo urgente para me dizer. Os 'detalhes sujos e sujos' são para o caso de você ver o texto, para me dar uma desculpa para falar em particular. — Você acha que deveria ligar para ele? — Sim, seria melhor. Eu ainda estou esperando obter provas suficientes para jogá-lo na cadeia. Se eu sumir do mapa, ele pode mandar idiotas para ver se eu peguei o dinheiro dele e corri. Ela fechou os olhos, colocando seu disfarce de espiã, então fez a ligação. Pela primeira vez em sua vida, Elson parecia preocupado. — Você está sozinha? — Sim. Podemos conversar agora. — Oh, bom. — Ele parecia aliviado. — Onde voce está? — Santa Martina. — Perfeito. Eu tenho um amigo aí que você precisa conhecer. Fiona deixou sua verdadeira cautela passar quando perguntou: — O que está acontecendo? — Eu encontrei algumas informações sobre o seu namorado. Lamento dizer que ele é uma má notícia. É hora de terminar o relacionamento. Você precisa conhecer meu amigo agora. Ele pode te dizer como sair fora com segurança.


Fiona pensou rápido, depois disse: — Tudo bem. Me dê o endereço dele. Elson deu a ela, depois desligou. Ela se virou para Justin. — Bem, isso é uma complicação. — O que foi? — Eu tenho que matar você. Ele olhou para ela, depois soltou uma risada incrédula. — É sério? — Sim, sério. Parece que Elson descobriu quem você é e acha que você é muito quente para lidar. Ele quer que eu vá pegar a arma do crime. Veneno, eu suponho. — Uau. Isso é uma complicação. O que você quer fazer sobre isso? Como posso ajudar? Uma calorosa onda de amor impregnou Fiona por sua confiança em suas habilidades, e disposição de deixá-la tomar suas próprias decisões e a firme determinação em ficar ao seu lado. — Elson ameaçou matar você antes, e eu posso testemunhar isso. — disse ela. — Mas se ele realmente me ordenar e me entregar uma arma do crime, isso será muito mais forte contra ele. E se eu não fizer isso hoje à noite, vou perder a minha chance. Quem sabe quanto tempo estaremos em Montana, ou para onde iremos depois disso. Se eu protelar Elson por dias, ele vai achar que estou ficando com medo. Ou pior. Então é melhor eu ir buscar o veneno. — E...? — E então eu entrego a arma do crime e tudo o que eu descobri até agora para o FBI. — disse ela com um encolher de ombros. — Eu queria ter mais sobre ele, mas espero que isso seja bom o suficiente. Como não estou planejando colocar cianureto em seu café, esse é o fim dessa missão. Justin sorriu. — Bom plano. Mas eu quis dizer: 'E como você quer que eu ajude você?' Eu assumo que terei que assistir de longe, mas posso ouvir? Você vai usar um fio?


Ela balançou a cabeça. — Eu não posso arriscar. Elson me revistou todas vezes que eu encontrei com ele. Ele faz isso com todos que se aproximam dele. Terá que ser através da visão. Fiona mandou uma mensagem para Hal para que ele soubesse o que havia acontecido e passasse o endereço. Ele respondeu: Você precisa de apoio? Eu tenho reforço, ela respondeu. Justin, inclinou sobre o ombro, acrescentou um emoji de leopardo da neve. Eles foram até o ponto de encontro com Justin agachado no lado do passageiro. Era em uma parte industrial da cidade muito estranha e deserta à noite. Ela estacionou nas sombras atrás de um prédio abandonado, cujo telhado teria uma boa visão de seu local de encontro, depois saiu e caminhou até o armazém onde a reunião seria realizada. Fiona esperava que nada desse errado, mas foi bom saber que Justin a observava. Ela tinha apoio em missões secretas antes, é claro, e se ele não estivesse lá, ela teria chamado um de seus companheiros de equipe. Mas esta foi a primeira vez que ela realmente sentiu que não estava sozinha. Ela bateu na porta do armazém. — Entre. — uma voz masculina respondeu. Fiona entrou. O armazém estava mal iluminado e cheio de equipamentos industriais antigos, mas ela imediatamente viu o homem que falara com ela. — Venha. — disse ele. — Eu preciso te dar um tapinha. Você está armada? — Eu tenho uma pistola em um coldre na coxa. — ela respondeu. — Vou ter que descarregar isso. Apenas procedimento. — Não há problema. — Fiona esperava isso. Os guardas de Elson sempre faziam o mesmo quando ela o visitava.


O homem descarregou a pistola e devolveu-a a ela, depois deu-lhe uma verificada completa, mas profissional, verificando atentamente os fios. Então ele ofereceu-lhe um pequeno saco de plástico branco. — É insípido e inodoro, e se dissolve em líquido quente. — Ele sorriu desagradavelmente. — Vai te dar uma boa noite de sono. Fiona embolsou isto. — Obrigada. Vou deixar o Sr. Elson saber quando tudo tiver terminado. Pode levar alguns dias até eu ter a chance de experimentar. — Isso é bom. Ela se virou e foi para a porta. E então congelou nos cliques inconfundíveis de armas sendo armadas. Uma luz branca brilhante inundou o armazém. Quando ela piscou, ofuscada, dez homens saíram de trás do maquinário, apontando para a sua cabeça. Eles foram seguidos por uma mulher de meia idade vestida em um jaleco de médico. — O que...? — Fiona começou, chocada e perplexa. — Quem...? O sorriso mais sádico que Fiona tinha visto em toda a sua vida espalhou-se pelo rosto da mulher. Ela se virou para as janelas e ergueu uma grande placa de papel. Escrito: SUJEITO SETE VENHA DESARMADO OU ELA MORRE Apesar das armas apontadas para ela, Fiona não pensou duas vezes. Ela pulou para a mulher. Uma pequena dor como uma picada de agulha lhe picou as costas. Suas pernas ficaram dormentes e ela caiu no chão. Fiona lutou freneticamente para se levantar, mas não conseguia mexer as pernas. Tudo o que ela podia fazer era apoiar-se nos cotovelos. O homem que lhe dera o pacote de pó branco - provavelmente farinha de trigo, ela pensou amargamente – inclinou-se sobre ela. Fiona atacou com um golpe de mão que Shane lhe ensinou, quebrando o nariz. Ela teve um segundo de satisfação antes de ser perseguida por mais dos guardas. Eles


lutaram com ela, confiscaram sua pistola vazia e algemaram as mãos atrás das costas. Furiosa e assustada - mais por Justin do que por si mesma - ela gritou a plenos pulmões: — JUSTIN! SAIA DAQUI! Seu esforço deixou seus ouvidos zumbindo e sua garganta crua. Mas mesmo quando ela gritou, ela sabia que era em vão. Ele nunca a deixaria. A mulher no jaleco médico disse: — Na verdade, não importa se o Sujeito Sete entra ou não. Nós cercamos o prédio onde ele está escondido, então vamos pegá-lo de qualquer maneira. Esta é apenas minha pequena experiência para determinar as respostas a duas perguntas. Um, ele se importa com o que acontece com você? E dois, ele se importa o suficiente para se sacrificar? — Você tem que ser a Dra. Mortenson. — disse Fiona. Como a médica sádica obviamente gostava de mostrar o quão inteligente ela era, ela continuou: — Como você nos encontrou? — Sr. Elson nos contou. — explicou Mortenson. — Ele fez algumas pesquisas independentes, descobriu quem era o Sujeito Sete e decidiu que não seria um funcionário confiável. Então ele nos contatou e sugeriu um acordo mutuamente benéfico: ele entregava o Sujeito Sete para nós, e nós o tiramos do mercado e pagamos o Sr. Elson pelo privilégio. Uma vez que comparamos as notas, ficou óbvio que você era mais do que apenas uma espiã. Então nós aumentamos nossa oferta, e conseguimos dois pelo preço de... bem, pelo preço de dois, na verdade. Mas acho que você vale a pena. — Eu não sei o que você pensa que eu sou... — Fiona começou. — Você é uma shifter. — Evidentemente, a médica continuou: — Eu posso dizer pela sua resposta ao dardo tranquilizante. Uma dose anestesia os humanos, mas paralisa parcialmente os shifters. Leva dois dardos para bater um shifter inconsciente. Mas o que será realmente fascinante será ver se... A porta foi aberta. — Não! — Fiona gritou. — Justin, corra!


Justin entrou, suas mãos levantadas acima da cabeça. Seu rosto estava pálido, sua boca apertada. Mas ele viria para ela de qualquer maneira, como ela sabia que ele faria. — Sujeito Sete. — disse a Dra. Mortenson. — Bem-vindo a casa. Ela deu um leve puxão de cabeça. Um guarda entrou na porta do lado de fora e apertou o gatilho da sua arma de dardos. Justin se virou e pulou para o homem com a arma. Ele deu um passo à frente antes de cambalear e depois cair no chão. — Bem que eu imaginei. — A voz da Dra. Mortenson praticamente escorria de satisfação. — Era impossível saber se funcionaria até eu testar, mas nossa nova fórmula foi especialmente projetada para superar a resistência do sujeito sete aos agentes tranquilizantes. Fiona queria assassiná-la. Ela estava falando sobre Justin como se ele fosse um rato de laboratório. Justin apoiou as palmas das mãos no chão e dirigiu-se a Dra. Mortenson. — Se você deixá-la ir, eu vou cooperar com o que você quiser de mim. Ela é apenas um shifter normal, nada de especial. Você não precisa dela. A Dra. Mortenson fez um som - tch-tch. — É por isso que eu preciso dela. Você está certo, ela não é nada especial. Então a única razão pela qual eu tenho que mantê-la viva é para influenciar você. Comporte-se mal e ela morre. Ou pior. O rosto pálido de Justin ficou vermelho. Ele lutou freneticamente, e com um grunhido de esforço, conseguiu se forçar até as mãos e joelhos. — Como eu hipotetizo. Sua resistência ainda é ligeiramente maior que a de um shifter comum. Espero que ele recupere a consciência mais cedo também. — A médica estalou os dedos. — Dê-lhe outra dose. O homem com a arma de dardos disparou novamente. — Não! — Justin gritou. — Não! Eu irei matar... Seus olhos se fecharam. Ele caiu e ficou imóvel.


Fiona deixou sua cabeça descansar no chão de concreto frio, amaldiçoando a si mesma. Ela não deveria ter deixado Justin ir com ela. Ela deveria ter dito a Hal que queria mais apoio - mas com aquela grande emboscada, quem quer que ele mandasse não seria capturado também? Nesse caso, ela não deveria ter vindo de qualquer maneira. Com um esforço tão forte que parecia tangível, Fiona se recompôs. Culpar a si mesma era uma perda de tempo e uma distração do que precisava ser feito. Ela tinha saído de situações ruins antes. Ela só precisava ficar calma e manter sua inteligência. — Atire nela também. — disse a Dra. Mortenson. — Eu não quero nenhum problema no avião. Uma dor aguda atingiu as costas de Fiona. Pouco antes da escuridão levá-la, ela pensou: Nós queríamos saber onde fica a base da Apex. Eu acho que estamos prestes a descobrir.


Fiona Fiona acordou sentada em uma cadeira. Ela abriu os olhos com um suspiro. Ela estava em uma sala branca estéril. Suas mãos estavam algemadas atrás das costas e os tornozelos estavam algemados à cadeira, ambos com grilhões de metal para evitar que ela se movesse, e a cadeira estava presa ao chão. Pelo jeito a Apex não queria arriscar. Justin também estava algemado a uma cadeira. Ele parecia alerta o suficiente, provavelmente estivera acordado por mais tempo. A Dra. Mortenson estava sentada atrás de uma pesada mesa de aço com um computador. Quatro guardas, dois armados com rifles tranquilizantes e dois com armas de verdade, ficaram ao seu lado. Minha equipe - nossa equipe - nos localizará, disse Fiona a si mesma. Quando descobrirem que estamos desaparecidos, eles saberão de onde sumimos e quem provavelmente esteve envolvido, e eles nos encontrarão. Foi assim que encontramos Shane quando a Apex o sequestrou. Mas a comparação com Shane foi menos reconfortante do que ela pretendia. Levaram muito tempo para rastreá-lo e, enquanto isso, ele e Catalina quase haviam morrido. — Bem-vinda de volta ao mundo dos vivos. — disse a médica. — Estávamos esperando por você, não é , sujeito sete? A alegria em sua voz fez a pele de Fiona arrepiar. Justin não respondeu, mas seus punhos cerraram. — Lembra-se de como eu disse que você era minha influência sobre o Sete. — Dra. Mortenson continuou. — Eu vou testar isso agora. Gastamos muito tempo, dinheiro e esforço com ele e ficamos muito desapontados quando ele fugiu. Queremos ter certeza de que isso nunca mais acontecerá.


— Não vai. — disse Justin. Ele parecia assustado. Fiona não o culpou nem um pouco. O conteúdo da sala provocou um arrepio em sua espinha: mesas de metal com alças, aparelhos e máquinas de aspecto médico que ela não conseguia identificar e - o mais horrível de tudo - uma cadeira de madeira com um emaranhado de fios elétricos presos a ela. Uma cadeira elétrica, ela pensou. Mas não para execuções. É para torturar prisioneiros até que eles desejem morrer. Mas os olhos de Justin deslizaram sobre a cadeira elétrica com apenas um recuo. Em vez disso, seu olhar foi capturado por uma mesa de metal perto de uma pia industrial com um balde e um pano pronto. Fiona não entendia por que aquilo, de todas as coisas, era o que o assustava. Era a coisa mais inocente em toda a sala. Então lembrou-se de como a Dra. Mortenson o afogara até que mal conseguisse suportar uma folha de papel úmido no rosto, e se sentiu fisicamente doente. Tentando manter a voz calma, ela disse: — Justin, lembra daquela promessa que você me fez de não usar sua invencibilidade? Esqueça. Se ela tentar torturá-lo, faça-o para não sentir dor. — Um plano razoável. — disse a Dra. Mortenson. — No entanto, não vai funcionar. Sete, diga a ela porque não. Justin soltou um suspiro longo e trêmulo. — Desliga automaticamente se eu desmaiar. Preciso de um minuto ou dois para me concentrar para ativá-lo, e não posso fazê-lo se estiver estressado demais. Os tranqüilizantes não trabalham comigo - quer dizer, na época eles não trabalhavam - então, se eles queriam que eu parasse de ser invencível e eu não estivesse cooperando, eles tinham que cortar meu oxigênio. — Ele sacudiu a cabeça para a mesa, pela pia. — É assim que isso começou. — E, claro, a sua amiga Sujeito Dez... — A Dra. Mortenson indicou Fiona. — Também pode sentir dor. — Não a machuque! — Justin soou frenético. — Eu te disse, eu vou cooperar. — Vou precisar de alguma prova disso. — respondeu a médica.


A Dra. Mortenson estalou os dedos para os guardas. Os que tinham armas de verdade empataram com Fiona, e os que tinham armas tranquilizantes apontaram para Justin. — Lembre-se, ela é dispensável.— avisou a médica. Então ela caminhou até a cadeira dele e soltou suas amarras. Ela indicou a mesa ao lado da pia. — Deixe-me na maca. Justin ficou branco. — Eu vou fazer isso... — Não! — Fiona explodiu. — Não faça isso por mim! Ele a ignorou, seu olhar fixo na Dra. Mortenson. — Com duas condições. Uma. Leve-a embora. Eu não quero que ela veja. Dois. Me coloque com ela depois, então eu saberei que ela está bem. — Concordo. — disse a médica. Justin se levantou. — Justin, não! — Gritou Fiona. Então, percebendo que nunca poderia persuadi-lo, também se voltou para a médica. — Me torture em vez disso. Eu não vou lutar também. — Hmm. O que eu ganharia com isso? — Novos dados. — sugeriu Fiona. — Eu nunca fiz isso antes. Minhas reações podem ser mais interessantes que as dele. — Isso não é sobre ciência. — disse Justin a Dra. Mortenson. — Você só quer me punir por fugir. Bem. Faça. Apenas deixe-a fora disso. Ele caminhou até a mesa e deitou-se sobre ela. — Não! — Fiona gritou, frenética. — Faça isso comigo em vez disso! — Tirem ela daqui. — Justin disse calmamente. — Agora. A Dra. Mortenson estava claramente curtindo a cena inteira. Com um suspiro dramático, ela disse: — Ah, tudo bem. Lembre-se, Sujeito Sete, quanto tempo o acordo dura é inteiramente com você. — Eu sei. — Ele estendeu a mão e puxou as correias em seu próprio peito.


Dentro da cabeça de Fiona, seu leopardo da neve soltou um grito longo e sem palavras de pura raiva. Uma névoa escarlate apareceu nos olhos de Fiona. Embora soubesse que era inútil, ela se lançou contra suas amarras, decidida a matar a médica antes que ela pudesse machucar seu companheiro. — Eu vou ser mais dura com ele se você não parar de lutar. — disse Mortenson drasticamente. — Cada minuto que você luta é um minuto extra que ele vai gastar aqui. Fiona ficou mole. Ela deixou os guardas soltá-la da cadeira e escoltála para fora. A porta eletrônica se fechou atrás deles. Rasgue sua garganta, sibilou seu leopardo da neve. Eu vou, prometeu Fiona. Quando os guardas a acompanharam por um corredor e depois a trancaram em um pequeno quarto com duas camas, ela tentou não imaginar o que estava acontecendo com Justin. O que ele estava de bom grado sofrendo para protegê-la. Ela não podia suportar pensar nisso, mas não conseguia pensar em mais nada. Pareceu uma eternidade antes que a porta se abrisse. Dois guardas apoiavam Justin entre eles. Seus olhos estavam abertos, mas a cabeça dele pra baixo e seus pés arrastaram no chão. Quando Fiona estendeu a mão para ele, mais quatro guardas nivelaram seus rifles tranquilizantes para ela. — Eu não vou atacar vocês. — Ela tentou manter a voz calma, mesmo que ela estivesse sentindo o contrário. — Apenas deixe-me tê-lo, tudo bem? — É melhor você não tentar nada. — um guarda avisou. — Não faça movimentos bruscos. Movendo-se devagar, Fiona colocou o braço de Justin sobre o ombro e o braço em volta da cintura dele. Ele não conseguia suportar seu próprio peso. Quando ela o deitou em uma das camas, os guardas recuaram. A porta se fechou atrás deles. Ela se ajoelhou no chão ao lado da cama. Seu cabelo estava molhado, seu rosto estava pálido, e ele tremia como uma folha em um vento forte.


Quando ela tocou sua bochecha, sua pele estava fria. Ela puxou o cobertor sobre ele, então pegou o cobertor da outra cama e colocou sobre ele também. Finalmente, ela juntou as camas estreitas para que ela pudesse deitar na outra e segurá-lo. — Você não deveria ter feito isso. — disse ela. — Deveria ter sido eu. Sua voz era tão suave que, mesmo deitada com os braços ao redor dele, ela teve que se esforçar para ouvir. — Eu não podia deixar ela te machucar. Você sabe disso. Além disso, tive que terminar a demonstração. Fiona se perguntou se ele estava delirando. Nervosa, ela disse: — Que demonstração? — Que eu estou com muito medo, fraco e quebrado para arriscar fazer uma pausa para isso. Aliviada por ele estar fazendo sentido, ela perguntou: — Qual é o seu plano? Ir para ela na próxima vez que ela nos levar para o laboratório? Ele balançou sua cabeça. — Pule os guardas na próxima vez que eles entrarem. Será a última coisa que alguém esperará. Duvidosamente, ela disse: — Você pode? — Eu acho que sim. Eles não têm relógios aqui para nos manter desorientados, mas um dos guardas me arrastando estava usando um relógio. Eu dei uma olhada para ele. São 1:00 da manhã. Eles vão empurrar o café da manhã por volta das 9:00. Isso me dá oito horas para me recuperar. Fiona não queria jogar água fria em seus planos, mas havia um problema muito óbvio com isso. — Você realmente acha que nós dois podemos tirar seis guardas sem que nenhum de nós seja pego por um dardo? — Não. — Então, para sua surpresa, ele sorriu. — Mas eu acho que posso tirar seis guardas sozinho, sem me importar se eu for atingido. — Mas... — Os dardos não me afetam. — Eles não fazem?


— Quando você foi emboscada no armazém, não pude resgatar você e não pude pedir ajuda. Minha única chance era me levarem junto com você. Eu não tinha um plano para me libertar depois até que eles atiraram em mim com um dardo. Eles sabem que os tranquilizantes não funcionam em mim, então eles só fariam isso se achassem que tinham um que fizesse isso. E eu sei como eles geralmente funcionam. Então eu fingi. — Uau. — Pela primeira vez desde que eles foram capturados, Fiona se sentiu esperançosa. Admiradamente, ela disse: — Você é sorrateiro. — Obrigado. Eu aprendi com você. É sério. Lembrei-me do que vi você fazer e tentei fazer parecido. Embora eu não conseguisse descobrir como chorar na hora. Como você faz isso? — Você já chorou no cinema? — Nunca. — declarou ele. — Bem... O Shawshank Redemption me deixa um pouco enevoado se eu estiver assistindo sozinho. Fiona traduziu isso de cara como nunca chegar em casa inesperadamente quando eu estiver assistindo este filme, porque você vai me pegar chorando como um bebê. Tentando não rir, ela disse: — Se você quiser chorar, imagine a cena mais comovente neste filme e repita o diálogo para si mesmo. Há alguma frase que você se lembra? — Certo. “Lembre-se, Red, a esperança é uma coisa boa, talvez a melhor das coisas, e nada de bom morre”. — Os olhos de Justin se encheram de lágrimas quando ele citou a linha. Fiona tinha esquecido que ele compartilhava um apelido com um dos personagens. Isso deve ter parecido como se essas palavras tivessem sido faladas diretamente para ele. A esperança nunca morre. Não admira que isso tenha o tocado tão profundamente. — Uau. Funciona. Ele enxugou os olhos. — Qual é o seu? — O rei leão. Quando o pai de Simba morre. — Ela ficou aliviada quando ele não apontou o paralelo com a vida dela, mas simplesmente


apertou a mão dela, deixando-a saber que ele entendia sem fazê-la falar sobre isso. Seus olhos se fecharam e foi um momento antes de abri-los novamente. Ele parou de tremer e sua pele ficou mais quente, mas Fiona percebeu que ele ainda estava exausto e abalado. Ela beijou sua bochecha. — Vá dormir. Você precisará da sua cura shifter. Você tem um grande dia pela frente. Justin assentiu e fechou os olhos. Ele pareceu desistir imediatamente, mas Fiona ficou acordada por mais tempo. Uma vez em sua vida, ela tinha tudo e ainda queria mais. Mais roupas de grife, viagens mais caras, mais noites na cidade. Ela tinha conseguido tudo o que ansiava quando era adolescente na casa de apoio, vivendo de segunda mão e depois teve cereais de marca própria com leite em pó. Mas isso não a fez feliz. Quanto mais ela tinha, mais vazia ela se sentia. Agora, enquanto ela segurava Justin perto, ela já não se sentia vazia, mas ela queria algo mais desesperadamente do que ela já quis qualquer coisa antes. Eu quero que Justin saia daqui com segurança e nunca precise se preocupar com a Apex novamente, ela pensou. Eu quero que ele consiga sua casa com o grande quintal e os três cachorros. E eu. Eu quero que ele tenha o feliz para sempre que ele merece. Ela esperava que não estivesse pedindo demais.


Justin Justin estava deitado na cama, de olhos fechados, esperando que os guardas entrassem na cela. Ele dormiu profundamente e se sentia muito mais forte, mas seu coração batia rapidamente. Uma vez que os guardas descobrissem que ele ainda era imune aos seus tranquilizantes, eles nunca os usariam novamente. Ele só teria uma chance. O clique alto da abertura da porta quase o fez pular, mas ele ficou parado. Ele ouviu passos entrando. — Ei, Justin, eles trouxeram comida... — Fiona disse, sacudindo-o levemente. — Justin? Ela o sacudiu com mais força. Deixou-se cair fracamente. — Justin? — respirando!

Sua voz era aguda com alarme. — Ele não está

Mais passos, correndo. Fiona exclamou: — Ei! Esse foi o sinal: todos os guardas estavam lá dentro. Quando uma mão masculina desceu pela garganta, sentindo um pulso, Justin se mexeu. Suas grandes patas atacaram os guardas curvados sobre ele, enviando-os voando para as paredes. Com o canto do olho, ele viu Fiona girar para socar o guarda mais próximo na mandíbula enquanto pegava seu walkie-talkie e pegava sua identidade. Ele pulou para colocar seu corpo entre ela e os guardas enquanto ela girava para fechar a porta. Uma dor aguda picou o lado de Justin, depois o pescoço dele. Ele ignorou e atacou o guarda que estava atirando nele, batendo-o no chão. A cabeça do homem bateu no concreto e ele ficou imóvel. Justin olhou para cima. Fiona tinha pegado um rifle tranquilizante e estava meticulosamente atirando dardos em todos os guardas abatidos,


certificando-se de que eles estavam fora para a contagem. O primeiro guarda que ele atacara, que acabara de ficar de pé, caiu de novo e ficou imóvel. A cela ficou em silêncio. Todos os guardas estavam inconscientes no chão. Justin se virou de volta. Ele deu uma olhada rápida em Fiona para se certificar de que ela estava ilesa, e arrancou dois dardos de seu corpo. Então ele vestiu o uniforme e os sapatos do guarda que era o mais próximo em tamanho com ele, e pegou a identificação do guarda e o rifle tranquilizante. Fiona fez o mesmo. — Você foi ótima. — disse Justin. — Você também. Eles trocaram um beijo rápido, em seguida, abriram uma fresta da porta. O corredor estava vazio. Eles saíram e usaram uma identificação para fechar e trancar a porta, depois partiram. Quando eles viraram a esquina, eles quase se depararam com quatro guardas que estavam saindo de uma sala. O pulso de Justin trovejou em seus ouvidos, mas Fiona assentiu agradavelmente para eles. Os guardas assentiram de volta. Um deles trancou a porta atrás de si e então eles se dirigiram para a direção oposta. Justin estava imensamente aliviado. A porta que os guardas tinham acabado de trancar tinha uma pequena placa que dizia SUJEITO NOVE. — Espere aí. — Justin murmurou. — Shane era o Sujeito Oito e a Dra. Mortenson a chamou de Sujeito Dez. Eles tem alguém aprisionado aqui. Precisamos soltá-lo. — Vamos entrar. — disse Fiona. — Eu não quero continuar essa conversa aqui em pé no corredor. Justin usou seu cartão de identificação para desbloquear a cela, e eles entraram e trancaram a porta atrás deles. Um homem estava sentado no chão com os joelhos para cima e o rosto enterrado em seus braços. Uma bandeja de refeição intocada estava


no chão ao lado dele. Ele deve ter ouvido eles entrarem, mas não moveu um músculo. O coração de Justin se apertou. Quantas horas ele passou na Apex naquela exata posição? Ele se agachou na frente do prisioneiro, fora do alcance fácil, caso o homem atacasse em pânico ou raiva. Falando suavemente e gentilmente, ele disse: — Ei. Nós não estamos com a Apex. Somos prisioneiros que acabamos de escapar. E queremos levá-lo conosco. A cabeça do homem se ergueu. Ele olhou para Justin, assustado e desconfiado. — Você! — A exclamação de Fiona estava cheia de choque e fúria. Justin ficou de pé. O prisioneiro estava olhando para Fiona como se ele tivesse visto um fantasma, e ela parecia pronta para matá-lo. — Quem é ele? — Justin perguntou. — Carter Howe. — Fiona cuspiu. — O homem que me mordeu e me deixou para morrer no frio. Raiva vermelha envolveu Justin. Ele se moveu mais rápido do que pensava, puxando o prisioneiro de pé e socando-o no rosto. Carter cambaleou contra a parede, sangrando de um lábio cortado. Justin recuou o punho para bater de novo... ... e só então percebeu que o homem não estava tentando revidar. Ele nem estava se defendendo. Ele ficou parado, os braços ao lado do corpo e as mãos abertas. Justin parou, irritado e frustrado. — Vamos, lute! Pela primeira vez, Carter falou. Mas não foi para Justin. Seu olhar estava fixo em Fiona. — Sinto muito pelo que fiz com você. Foi errado. — Desculpa não vai adiantar! — Ela retrucou. — Eu sei. Vá em frente e me mate. Eu mereço. E eu não me importo. — Carter inclinou a cabeça para trás, expondo sua garganta. Justin olhou para Fiona. Ela parecia tão inquieta quanto ele se sentia. Ele pegou a mão dela enquanto os dois se afastavam do homem.


— O que você quer fazer com ele? — Justin perguntou a ela. — Eu ia te ajudar a se safar de apanhar feio. — ela respondeu. — Mas agora não tenho tanta certeza. A menos que isso seja algum tipo de truque. — Eu não penso assim. — Justin reconheceu o olhar vazio e sombrio do prisioneiro; parecia estar vendo seu próprio reflexo há algum tempo atrás. Para Carter, ele disse: — Há quanto tempo você está aqui? — Eu não sei. — Supostamente seu avião caiu sobre o Pacífico. — disse Fiona. — Se é quando eles o levaram, seria mais de um ano. Carter não pareceu nem um pouco surpreso. Ele parecia perdido em seu próprio inferno particular. — Bem feito para você! — Justin explodiu. — Você mordeu Fiona contra sua vontade. Você a deixou congelar até a morte! — Não. — Mais uma vez, Carter falou com Fiona ao invés de Justin. — Eu mordi você, sim. Mas eu não te deixei para morrer. Eu fiquei te vigiando fora da sua vista para ter certeza de que você não congelaria ou cairia de um penhasco. Quando te vi mudar, fui embora. Achei que você passaria uma noite na montanha lamentando todas as suas escolhas de vida e decidindo mudar de vida, depois voltar para a civilização. — Não foi o que aconteceu. — disse ela. — Eu sei. — Carter respondeu. — Eu finalmente ouvi através da videira shifter que algum shifter de urso tinha ido àquela montanha e resgatado uma mulher que tinha estado presa em um leopardo da neve. Eu percebi que tinha que ser você. Eu juro, eu não tinha ideia de que você ainda estava lá. Eu não sabia que ficar preso em seu animal, era possível. — Isso não é uma desculpa. — Justin disse furiosamente. — Você foi o único que a mordeu! Tudo o que aconteceu por causa disso foi culpa sua. Pela primeira vez, Carter falou com Justin. — Eu sei. Acredite em mim, eu sei. — Por que você fez isso?— Perguntou Fiona. — E não se atreva a dizer que você estava apaixonado por mim. Eu sei que você não estava.


— Não, eu não estava. — Carter respondeu. — Mas eu gostei muito de você. Quando descobri que você não se importava comigo - que você estava apenas me usando - me senti traído. Eu estava com raiva e queria te ensinar uma lição. Bem, sou eu quem foi ensinado. Eu coloquei um animal em você contra sua vontade. Quer ouvir sobre alguma justiça poética? A Apex fez o mesmo comigo. — Apex te fez um shifter antes mesmo de você me conhecer? — ela perguntou. — Não não. Eu nasci com meu leopardo. Apex levou embora. Ele se foi. — O olhar sombrio em seus olhos se aprofundou. — E eles colocaram outra coisa. — Eles fizeram? — Justin disse, perplexo. Ele não tinha ideia de que isso era possível. — E que animal é? — Uma... uma coisa. Nem sei como chamá-lo. — Carter estremeceu. — Deixa pra lá. Vá em frente, se vingue. Eu não vou brigar. Justin olhou para Fiona. Carter a havia enganado; o que fazer com ele era seu direito. Ela cruzou os braços sobre o peito. — Falar é fácil. Mas ação significa alguma coisa. Se você realmente quiser fazer as pazes comigo, pode nos contar tudo o que sabe sobre essa base e como sair dela. Você deve ter pegado algo em um ano. Nós nem sabemos onde estamos. — Alaska. A base fica a nordeste de Fairbanks. — Carter lhes deu instruções para a pista de pouso, depois acrescentou:— Você está apenas tentando escapar, ou está tentando explodir a base? — Eu gostaria de poder, mas não é como se eu tivesse trazido explosivos comigo. — disse Fiona. — Você não precisa deles. A base tem um mecanismo de autodestruição. Eles fazem exercícios de evacuação, é assim que eu sei onde fica a pista de pouso. Você provavelmente poderia disparar o comando de autodestruição do computador no laboratório da Dra. Mortenson. — Carter se encolheu ao dizer o nome dela, fazendo Justin sem querer simpatizar com ele. — Se você está disposto a arriscar.


— Nós estamos. — Justin e Fiona falaram simultaneamente, então sorriram um para o outro. Ela lhe deu instruções para a cela deles, então jogou para ele um crachá de identificação. — Nós drogamos os guardas e os trancamos lá dentro. Pegue um uniforme e um rifle tranquilizante, depois roube um veículo e saia daqui. Carter pegou a identidade automaticamente, depois ficou olhando para ela. — Você está me deixando ir? — Eu dificilmente vou prendê-lo aqui enquanto explodimos o lugar. Olha, eu não era a pessoa mais legal para você também. Então é assim que eu estou fazendo as pazes com você. E agora que sei o que esse lugar pode fazer com você... — Fiona encolheu os ombros. — Para ser honesta, acho que você já foi punido o suficiente. Justin estava pensando nas mesmas linhas. Na verdade, ele ficou tentado a dizer mais. Mas Carter havia prejudicado Fiona; Justin não tinha o direito de se oferecer para ajudar o homem. Ela parecia saber o que ele estava pensando, no entanto, porque ela disse: — Justin, se há algo que você queira dizer a ele, está tudo bem para mim. Mas só se você quiser. — Eu não quero. O que eu quero é matar esse cara pelo que ele fez com você. Mas sim, acho que é a coisa certa a fazer. — Justin virou-se para Carter, que estivera ouvindo com visível perplexidade. — Você não é o único que foi ferido pela Apex. Não precisa ser o fim da sua vida. Você pode passar por isso. Eu te garanto. E se você precisar me ouvir dizer isso de novo, pode me ligar na Protection Inc. em Santa Martina. Pela primeira vez, alguma vida surgiu nos olhos de Carter. — Obrigado. Ele abriu a porta e saiu. Ela se fechou atrás dele, deixando Justin e Fiona sozinhos. — Eu não posso acreditar que me ofereci para deixar aquele cara chorar no meu ombro. — Justin murmurou. — Desde que você me contou sobre ele, eu queria lançá-lo para fora de um avião sem um pára-quedas. Eu ainda quero.


— Eu queria me vingar dele por muito mais tempo do que isso. — disse Fiona. — Mas vê-lo aqui agora, assim... Não tenho certeza se perdoo ele. Mas eu não estou mais com raiva. Havia uma paz em seus olhos verde-gramados que ele não tinha visto antes. Se fosse preciso encontrar seu antigo inimigo novamente para colocálo ali, então ele estava feliz por ela ter tido a chance. — Para o laboratório? — Ela perguntou. Ele assentiu. — Queria ter conseguido tirar uma impressão da Dra. Mortenson. Ela era muito cuidadosa, no entanto. Talvez se você tivesse me dado aulas de choro mais cedo, eu poderia tê-la atraído para mais perto. Ela riu. Eles saíram da cela e se dirigiram para o laboratório. Justin esperava que a médica estivesse lá. Ele não ia chegar a nenhum tipo de entendimento com seu inimigo. Ele só queria ter certeza de que ela não escaparia. Fiona recuou quando ele abriu a porta, para o caso de algum guardião empunhando um dardo estivesse lá dentro. Mas o laboratório estava escuro e vazio. Ele acenou para ela enquanto ele acendia as luzes. Um forte clarão branco iluminou a cadeira elétrica com o emaranhado de fios. As mesas de aço com suas correias para segurá-lo. A pia industrial. O pano para o rosto dele. O balde de água. Água enchendo seus pulmões. Dor esfaqueando no peito dele. Seu leopardo da neve gritando de terror e agonia. Ele estava se afogando em terra seca, indefeso, morrendo... — Justin... A voz e o toque de Fiona o trouxeram de volta à realidade. Seu braço quente estava ao redor de seus ombros, firmando-o. Ele se forçou a entrar no laboratório e fechar a porta atrás dele. — Estou bem. E ele estava. Ele odiava estar no laboratório com o equipamento de tortura e as memórias, mas ele podia aguentar. Apex o machucou, mas não o quebrou.


— O que eu posso fazer? — Você pode me ajudar a explodir este inferno na terra. — Ele deu a ela um empurrão em direção ao computador. — Vá fazer sua coisa genial hacker. Ela o beijou, depois se acomodou atrás dele. Ele foi guardar a porta, tomando uma posição onde podia ver a porta e Fiona, mas não o equipamento de tortura. Parecia que ele ficou lá por muito tempo, a sala silenciosa, exceto pelo zumbido do equipamento elétrico e o bater de seus dedos nas teclas. — Consegui! — Exclamou Fiona. Ela acenou para ele e indicou uma chave. — Quer fazer as honras? — Eu não poderia privá-la do prazer. — Eu explodi a última base. — ela apontou. — Está é toda sua. — Desde que você coloca dessa maneira... — Ele bateu a tecla. Uma alta gravação automatizada começou a tocar. — Atenção! A seqüência de autodestruição foi inicializada. Todo o pessoal, saia das instalações imediatamente. Isso não é um treinamento. A base se autodestruirá em quinze minutos. — Como se sente? — Fiona perguntou, sorrindo. — Muito satisfeito. — Ele se virou para dar uma boa olhada na mesa, na pia e no balde. Eles não o incomodavam tanto agora que ele sabia que eles seriam vaporizados nos próximos quinze minutos. Ele ouviu passos correndo no corredor do lado de fora, junto com muitos gritos. Justin ficou de olho na porta, mas ninguém tentou entrar. Parecia que todo mundo estava muito ocupado dando o fora dali. — Parece que há algumas câmeras de circuito fechado. — disse Fiona, olhando para a tela. — Aqui estão algumas filmagens de fora da nossa cela… Os guardas que nocauteamos estão sendo retirados... Ah-ha, e aqui está a pista de pouso. Tem alguns veículos da neve, mas ninguém os leva. Eles estão todos se acumulando em um par de pequenos aviões. — Você vê a Dra. Mortenson em algum lugar?


— Ainda não. Deixe-me continuar procurando. A gravação tocou novamente. — Atenção! A seqüência de autodestruição foi inicializada. Todo o pessoal, saia das instalações imediatamente. Isso não é um treinamento. A base se auto-destruirá em catorze minutos. Justin ouviu uma comoção do lado de fora da porta. Ele se aproximou, com o rifle tranquilizante pronto. Foi só porque ele estava ouvindo com tanto cuidado que ouviu o leve silvo de uma porta automática atrás dele. Ele se virou. Uma porta escondida se abriu na parede atrás da mesa de Fiona. Absorvida em seu trabalho, ela não havia notado. A Dra. Mortenson estava na porta, com o rosto torcido de fúria e uma pistola na mão. Ela olhou para Justin, então, com um sorriso sádico, girou a pistola na direção de Fiona. Ele sabia o que aquele sorriso significava. A Dra. Mortenson não ia tomar mais reféns. Ele destruiu o trabalho de sua vida, e ela iria se vingar matando a mulher que ele valorizava mais do que sua própria vida. Ele não teve tempo de gritar um aviso ou trazer seu próprio rifle para carregar. Em vez disso, ele saltou para a frente para proteger Fiona com seu próprio corpo. O estalo de um tiro encheu o ar quando um duro impacto bateu em seu lado. Como ser atingido por um taco de beisebol, ele pensou. Eu lembro disso. Ele caiu em uma expansão contra a parede, com uma mesa de metal e a cadeira elétrica parcialmente em cima dele. Fiona bateu na parede com tanta força que o rifle tranquilizante que ela tinha no ombro voou e derrapou pelo chão. Quando ela pulou para ele, Justin viu a Dra. Mortenson espreitar por trás de uma mesa de metal virada. — Esquerda! — Ele gritou. Fiona mergulhou para a esquerda assim que a médica atirou. A bala bateu na parede e Fiona se abaixou atrás da pesada mesa de aço. Justin


empurrou a mesa e a cadeira, mantendo a mesa de lado para que ele pudesse usá-la como proteção. Ele tentou pegar seu próprio rifle, então percebeu que ele havia caído quando ele pulou. Agora ele e Fiona estavam presos um ao lado do outro, e apenas o inimigo estava armado. Qualquer um deles poderia se tornar um leopardo da neve e atacar a médica, mas ela poderia atirar neles antes que ela caísse. Como se quisesse esfregar isso, a Dra. Mortenson atirou novamente. Ele ouviu o distintivo ricochete de uma bala quicando no metal e viu um dente aparecer na mesa. A gravação automática veio, assustando-o. — Atenção! A seqüência de autodestruição foi inicializada. Todo o pessoal, saia das instalações imediatamente. Isso não é um teste. A base se auto-destruirá em treze minutos. Enquanto jogava, ele deu uma olhada mais de perto em Fiona. Para seu imenso alívio, ela não foi atingida. Mas ela parecia preocupada. Ela apontou para ele, depois apertou a mão para o lado esquerdo. Ele olhou para baixo. Sua camisa estava encharcada de sangue ao lado. Ele levantou e examinou as feridas internas e externas. Ambos estavam sangrando muito, e longe o suficiente para que ele precisasse de ambas as mãos para cobri-los. Ele aplicou pressão, estremecendo. Mas ele estava mais preocupado com o quão fraco e tonto ele se sentia. Ele poderia ficar lá e disparar uma arma, se ele tivesse uma arma. Mas se ele tentasse mudar e pular na médica, ele provavelmente desmaiaria no meio do caminho. O medo frio apertou um punho ao redor de seu coração enquanto pensava: Está acontecendo de novo. Eu fui atingido e não posso ajudar as pessoas dependendo de mim. Tudo o que estou fazendo é distrair Fiona quando ela precisa se concentrar em se proteger. Então não faça, sibilou seu leopardo da neve. Concentre-se no agora. O que está acontecendo agora? O que você pode fazer agora para proteger sua companheira? Justin podia ver um pouco através da confusão de fios da cadeira elétrica, e ele examinou seus arredores. Papéis da escrivaninha estavam espalhados por toda parte. O computador foi esmagado. O balde com que a


Dra. Mortenson o havia afogado tinha sido derrubado, e uma grande poça de água estava espalhada pelo chão. Ele podia ver os dois rifles tranquilizantes, mas nenhum estava perto o suficiente para pegar sem levar um tiro. A Dra. Mortenson provavelmente também via os rifles, o que significava que ela sabia que ambos estavam desarmados. Ele se perguntou por que ela não tinha acabado de chegar e atirar neles... mas não, ela não arriscaria chegar tão perto de pessoas que poderiam se transformar em leopardos da neve. — Atenção! — Bradou a gravação. — A seqüência de autodestruição foi inicializada. Todo o pessoal, saia das instalações imediatamente. Isso não é um teste. A base se auto-destruirá em doze minutos. Se eles esperassem, talvez a Dra. Mortenson resolvesse fugir em vez de arriscar ser explodida com seu laboratório. Mas ele achava que era mais provável que ela cruzasse os dedos para que ela pudesse matá-los antes que eles pudessem pular nela, levantar e vir matá-los. Na verdade, surpreendeuo que ela não tivesse vindo para ele já. Ele estava ferido, incapaz de fazer muita luta... Ah! Ela não devia saber que ele foi atingido. Justin pegou o olho de Fiona. Ele tirou a mão do lado e apontou para o chão aberto entre eles e a médica: precisamos atraí-la para fora. Então ele correu o dedo pelo canto do olho até a bochecha, traçando uma linha de sangue que, ele esperava, pareceria com lágrimas. Fiona assentiu, depois disse bruscamente: — Justin? Justin! Não desmaie! Fique comigo! Ele gemeu de dor, o que não foi difícil, então murmurou: — Dói. — Apenas segure-se. — Sua voz tinha a calma forçada de uma mulher à beira do pânico. — Podemos esperar ela sair. Com um tempo perfeito, o anúncio foi reproduzido novamente. — Atenção! A seqüência de autodestruição foi inicializada. Todo o pessoal, saia das instalações imediatamente. Isso não é um teste. A base se auto-destruirá em onze minutos.


Lembre-se, Red, a esperança é uma coisa boa, talvez a melhor das coisas, e nada de bom morre, pensou Justin. Ele deixou as lágrimas encherem os olhos e entupirem a garganta, depois disse: — Não consigo parar o sangramento. Eu estou assustado. — Eu sei, Justin, eu sei. — respondeu Fiona. — Apenas tente manter a pressão sobre isso, tudo bem? Eu estarei com você assim que puder. Justin rangeu os dentes. Ele estava perdendo muito sangue. Mas não havia nada que ele pudesse fazer sobre isso. Ele tinha que manter as duas mãos livres para estar pronto quando a médica saísse em sua armadilha. Fiona continuou falando em seu tom sonolento, e apavorado. Enquanto isso, Justin manteve o controle das linhas de visão. Ele e Fiona estavam do mesmo lado da sala e podiam se ver. Fiona estava atrás de uma pesada mesa de aço e não podia ver o lado oposto da sala, onde estava a Dra. Mortenson. A Dra. Mortenson, que estava escondida atrás de uma mesa de aço, não conseguia ver nada a não ser que ela espiasse. Mesmo assim, ela acabava de ver a mesa, a cadeira e a confusão de cabos elétricos presos à cadeira que o estava escondendo, não ao próprio Justin. No entanto, ele podia ver a mesa da Dra. Mortenson e o espaço entre ela e ele através de uma fenda do tamanho do olho mágico na fiação. Justin apostou que a Dra. Mortenson também havia descoberto as linhas de visão. Se ela quisesse matá-lo sem ser atacada por Fiona, teria que esperar até que Justin não estivesse olhando, então se movesse silenciosamente para que Fiona não a ouvisse. Ele apontou bruscamente para Fiona: Agora. — Justin! — Ela gritou. — Acorde! Acorde, Justin! Justin! Fascinado, ele observou a Dra. Mortenson se levantar, olhar diretamente para ele e sorrir com aquele sorriso sádico dela. Quando ela saiu de trás da mesa, ele viu que ela tirou os sapatos. Seus pés descalços se moviam silenciosamente pelo chão enquanto ela se aproximava dele. Fiona ainda estava chamando por ele, sua voz cada vez mais frenética.


Dra. Mortenson olhou para a grande poça de água do balde que cobria o chão entre ela e Justin. Ela entrou, com muito cuidado, para não respingar. Justin saltou para fora com um fio da cadeira elétrica em sua mão. Ele enfiou a ponta quebrada na poça e, com a outra mão, acionou o interruptor. Um estalo alto soou e um arco branco de eletricidade saltou. A Dra. Mortenson soltou um longo e agudo grito de agonia, depois lançou-se para frente. Ela ficou imóvel, o rosto na água. Um fio de fumaça subiu de suas roupas. — Atenção! A seqüência de autodestruição foi inicializada. Todo o pessoal, saia das instalações imediatamente. Isso não é um teste. A base se auto-destruirá em dez minutos. Justin desligou o interruptor e soltou o fio. Ele sabia que eles tinham que sair de lá, e ele disse a si mesmo para se levantar. Em vez disso, ele encontrou-se cedendo contra a cadeira virada com manchas pretas dançando diante de seus olhos. Fiona deu um pulo, mas ao invés de correr para ele, ela correu para os armários de remédios. Ele observou atordoado quando ela puxou uma gaveta cheia de ataduras e trouxe para ele. Ele tirou um par de bandagens de pressão e as aplicou. Para seu alívio, o sangramento parou. — Qualquer outra coisa que você deveria fazer? — Ela perguntou. Fique quente, deite-se com os pés elevados e comece um IV, ele pensou. Então, descanse imediatamente. — Atenção! A seqüência de autodestruição foi inicializada. Todo o pessoal, saia das instalações imediatamente. Isso não é um teste. A base se auto-destruirá em nove minutos. — Sim. — ele disse. — Saia já daqui. — Eu posso carregar você. — ela ofereceu. Ele sabia que ela era forte o suficiente. Mas isso a atrasaria - talvez o suficiente para matar os dois. — Apenas me ajude. Vamos ver o quão rápido eu posso ir.


Ela colocou o braço ao redor de sua cintura, ele colocou o braço em volta dos ombros dela, e eles se levantaram juntos. Ele ficou aliviado ao descobrir que, com o apoio dela, eles poderiam descer pelos corredores vazios em uma corrida desajeitada e vacilante. Eu seria mais rápido se fosse invencível, ele pensou. Eu não precisaria da ajuda dela. Seu leopardo da neve deu um grunhido de aviso. Mas Justin não estava seriamente tentado. Ele ainda podia se mover, e isso era bom o suficiente. Se ele fosse invencível, ele não notaria se ele começasse a sangrar novamente. Pior de tudo, ele não amaria Fiona. Se eu não conseguir, quero morrer amando-a, ele pensou. Ela abriu uma porta e eles saíram para o ar gelado e um campo branco se estendia em todas as direções. A neve caía ligeiramente de um céu cinzaesbranquiçado. Levou um momento para perceber que estavam na pista de pouso; os aviões foram embora. Não havia carros, o que fazia sentido porque não parecia haver estradas. Vários pequenos veículos de aspecto esquisito, como trenós motorizados, estavam estacionados sob uma saliência. — Ótimo. — disse Fiona com uma clara falta de entusiasmo. — Só ficou os veículos de neve. Então era isso que eles eram. Justin tinha ouvido falar deles, mas nunca viu um antes. — Você sabe como dirigi-los? — Atenção! A seqüência de autodestruição foi inicializada. Todo o pessoal, saia das instalações imediatamente. Isso não é um teste. A base se auto-destruirá em quatro minutos. — Sim. — Fiona já estava indo para o mais próximo. — Destiny me ensinou. Eu simplesmente não sou grande fã de coisas relacionadas a neve, isso é tudo. Vamos em frente. Ela ajudou-o, depois subiu em seguida. — Segure-se. Ele passou os braços ao redor dela, pressionando o peito contra as costas dela. A chave havia sido deixada na ignição. Ela ligou e começou a deslizar pela neve. Ele ficou surpreso com o quão rápido era. Pelo que


parecia, ele esperava algo como um carrinho de golfe e estava se perguntando se seria melhor correr. Mas era rápido como um carro. Ele relaxou. Eles não estavam em perigo de serem pegos na explosão. Ele contou os segundos em sua mente, e quando chegou a três minutos e meio, ele a cutucou. — Pare. Eu quero ver a explosão. Ela virou o veículo, depois parou. A base apareceu à distância. Um segundo depois, explodiu com um estrondo ensurdecedor, seguido pelo leve empurrão da onda de choque. Os detritos subiram para o céu e depois caíram. E então não sobrou nada além de um monte de escombros. Tinha acabado. A Dra. Mortenson estava morta. Apex foi destruída. Justin finalmente conseguiu o que jurou fazer, todos aqueles anos atrás. Mas quando ele imaginou isso, ele sempre pensou que morreria fazendo isso. Então não haveria mais dor, nem mais culpa, nem mais tentativas. Ele acabaria com tudo isso. Ele imaginou que seria um alívio. A camisa encharcada de sangue de Justin estava começando a congelar no ar gelado. Seu lado doía tanto que o fazia suar frio, e então isso congelou em sua pele. Apenas sentar-se direito era desagradável e difícil. Se ele soubesse que eles tinham tido alguns minutos de folga, ele teria dado a si mesmo uma dose de morfina e levado o equipamento para iniciar uma linha intravenosa. Ansiava por deitar-se em algum lugar como um homem perdido no deserto anseia por água, e eles nem tinham iniciado a jornada ainda. Mas o corpo de Fiona era quente contra o dele, e ele não queria fazer mais nada. Ele tinha uma equipe e amigos para voltar, e uma companheira com quem construir uma vida. E ele tinha cães para adotar. Ele deve ter dito um pouco disso em voz alta, porque ela disse: — Vamos para o abrigo assim que você estiver melhor. Eu quero ajudar a escolhê-los. — Claro. Eles são seus cachorros também. Espero que eles não sejam muito chocantes, depois dos seus cães robôs. Eu odeio desanimar você, mas cachorros reais babam.


— Tudo é uma troca. — disse ela com um encolher de ombros. — Cães robôs não te amam de volta. — É verdade. Talvez seja por isso que eles ainda não dominaram o mundo. — Eles provavelmente estão apenas esperando o tempo deles. Fiona se inclinou sobre o veículo e programou o GPS para Fairbanks, no Alasca. Ela girou ao redor para beijá-lo, seus lábios quentes em sua pele gelada, e então eles partiram para o deserto.


Fiona Fiona nunca imaginara que ficaria tão feliz que Destiny a tivesse arrastado naquela miserável viagem de esqui, onde aprendera a dirigir um veículo da neve. Mesmo se Justin soubesse como, fazê-lo em sua condição teria sido infernal na melhor das hipóteses e impossível na pior das hipóteses. Não tinha direção hidráulica, então girar significava lutar fisicamente com o guidão, e no terreno acidentado em que eles estavam viajando, ela continuava a se levantar e inclinar-se para o lado para evitar que caísse. Mesmo com sua força de shifter, era cansativo. Justin ficou sério, silencioso e estoico. No começo, ela tentou falar para manter o ânimo, mas o vento gelado chicoteava as palavras de sua boca, e seus esforços para gritar respostas obviamente o desgastavam ainda mais. Agora ela apenas seguia o GPS e dirigia, tecendo em torno de árvores e pedras. Mais algumas horas e chegariam a Fairbanks. Justin nunca concordaria em ir para um hospital, mas eles poderiam se esconder em um motel onde ele poderia se aquecer e deitar, e ela poderia chamar sua equipe para voar até a Dra. Bedford, a médica shifter que tinha tratado alguns dos colegas de equipe antes. O veículo bateu no que parecia ser uma parede de tijolos. Fiona foi atirada para frente. Ela automaticamente dobrou e rolou, caindo de ponta cabeça até que ela caiu em um banco de neve. Sacudida mas ilesa, ela saltou sobre seus pés. — Justin! Ele estava por perto. Em suas palavras, ele lutou para se sentar. Ele não parecia ter nenhum ferimento novo, mas seu braço estava pressionado sobre o lado ferido e ele estava obviamente com dor. — Estou bem. Você? — Estou bem.


Ela ajudou-o a subir e eles se arrastaram pela neve até o veículo de neve. Ele havia atingido uma grande rocha enterrada sob a neve, depois virou e bateu em uma árvore. A armação estava torta, um dos esquis estava dobrado e a gasolina escorria do motor. Mesmo que Fiona tivesse todas as suas ferramentas com ela, ela teria descrito como perda total. — Droga! — Ela explodiu quando viu os pedaços quebrados do GPS. — Nós não precisamos disso. — Justin assegurou. — Eu posso encontrar o caminho. Ela deu-lhe um olhar duvidoso. — Seu poder só encontra pessoas. Você conhece alguém em Fairbanks? — Não. — ele admitiu. — Mas é a sudoeste daqui. E lá está Santa Martina. Centenas de quilômetros depois de Fairbanks, mas ainda assim. Se eu rastrear Shane, isso deve nos colocar mais ou menos na direção certa. Ela beijou sua bochecha. — Você é um gênio. Concentrou-se brevemente e depois apontou. — Nesta direção. Quão perto de Fairbanks estamos? — Algumas horas. No veículo. Justin franziu a testa, sem dúvida, triplicando isso para descobrir quanto tempo sua jornada tinha que ser. — Não vai ser tão ruim. — ela prometeu a ele. — Nós vamos fazer isso como leopardos da neve. Nós vamos fazer melhor tempo, e nós vamos estar muito mais quentes. Mas ele estava balançando a cabeça. — Eu não posso. Se eu mudar, vou tirar minhas ataduras. Ela estremeceu em um flash de memória. — Nick fez isso uma vez. Ele quase sangrou até a morte. Ok, esqueça, então. Nós vamos apenas andar do jeito que somos. — Não. — ele respondeu com firmeza. — Você tem que mudar. Estamos falando de uma jornada de nove horas na neve. Se nós dois somos humanos, ambos ficaremos hipotérmicos, e então terminaremos. Se um de nós ficar razoavelmente em boa forma, teremos uma chance.


Fiona odiava a ideia de estar confortável enquanto ele estava congelando — especialmente quando ele era o único que estava ferido e mais precisava do calor. Mas ela não podia discutir com a lógica dele. Ninguém sabia onde eles estavam. Se eles se sentassem e esperassem para serem resgatados, congelariam até a morte. E ela não poderia ajudá-lo se ela estivesse incapacitada. Ela tirou a blusa e jogou para ele. — Põe isto. O vento frio esfaqueou em sua pele nua quando ela se despiu. Justin foi capaz de puxar sua camisa, que ela tirou de um guarda de segurança do sexo masculino, por cima dele. Então ele colocou as calças em volta da cintura, amarrou os sapatos no pescoço pelos laços e enfiou o sutiã e a calcinha no bolso. Para pular e atacar... Para caçar na neve... Para ser um com a noite... O frio amargo de repente não era mais do que agradável. Justin cambaleou, depois se segurou com a palma da mão apoiada nas costas dela. Ela se aninhou nele, farejando tanto seu cheiro natural quanto o forte cheiro de sangue, e ele acariciou sua cabeça. Eles partiram pela neve. Fiona manteve um ritmo lento, certificandose de que Justin pudesse acompanhar. Ele teve que se inclinar para apoiá-la, o que tinha que ser desconfortável, mas ele nunca reclamou. Ela tentou ficar em trechos nivelados de terra, evitando colinas e vales e áreas ásperas, mas era ele quem liderava o caminho. O terreno ficou mais duro e áspero, coberto de pedras, bancos de neve e árvores caídas, e a neve ficou mais profunda, indo dos joelhos até as coxas. A forma ágil de seu leopardo escorregou facilmente pela neve e seu pêlo espesso evitou o frio. Mas para Justin, era como se estivesse se arrastando em águas profundas. Ele se apoiou nela com uma mão e agarrou o lado com a outra, tremendo e ofegando e ofegando. Ela parou para deixá-lo descansar, empurrando-o para se sentar. — Vá em frente. — disse ele.


Ela não se mexeu e cutucou-o novamente. — Se eu me sentar, não sei se consigo levantar. — Seus dentes estavam batendo, e suas palavras saíram em estalos irregulares. — É melhor continuar. Relutantemente, ela continuou, mais devagar do que antes. A neve fraca diminuiu e terminou. No começo ela ficou aliviada. Ela tinha medo de uma nevasca. Mas a temperatura rapidamente começou a despencar, até que ela ficou com frio. O andar de Justin ficou cada vez menos coordenado, até que ele estava tropeçando, mesmo no nível do solo. Seus tremores mudaram para um tremor de corpo inteiro e depois pararam. Ela sabia o que isso significava: ele ficou tão frio que seu corpo estava começando a se desligar para economizar energia. Fiona olhou para cima, alarmada. Seus olhos estavam meio fechados, os lábios azuis de frio, o rosto pálido. Ele tropeçou e não se pegou, caindo sem ossos na neve. Seu primeiro pensamento foi mudar e buscá-lo. Mas ela precisava aquecê-lo, e ela poderia fazer muito melhor na forma em que estava. Então ela se deitou ao lado dele, envolvendo as pernas ao redor dele para mantêlo longe do chão gelado e enrolando seu corpo nele. Ao dar-lhe seu calor, ela estava perdendo seu próprio calor. Mas se ela não o fizesse, ele poderia congelar até a morte. Sem jeito de contar o tempo, ela não tinha ideia de quanto tempo ficaram ali. Mas depois de um tempo, Justin começou a tremer novamente, depois abriu os olhos. Ele olhou em volta, confuso, depois deu um sorriso cansado. — Oh. Obrigado. Acho que não nos divertimos muito, hein? Ela balançou a cabeça. Ele estendeu a mão trêmula para acariciar seus ouvidos. — Estou tão frio, meu lado ficou dormente. Sem dor. Pequenas bênçãos, eu acho. Fiona não entendia nada de medicina, mas isso não parecia um bom sinal para ela.


— Sim, eu sei. — disse ele, como se ela tivesse falado em voz alta. — Eu não acho que posso andar mais. Minha cabeça está girando. Acho que minha única chance de voltar a ficar em pé é tornar-se invencível. Ela assentiu e sacudiu a pata para ele: Faça isso. Justin fechou os olhos. Quando ele os abriu um minuto depois, eles eram espelhos negros, indiferentes e insensíveis. Embora ela concordasse que ele tinha que fazer isso, vê-lo daquele jeito fez um frio nela que era mais frio que o ar gelado. Ela se levantou, dando-lhe algo para se segurar. Ele forçou-se a suas mãos e joelhos, em seguida, colocou a mão nas costas dela e se ergueu. Assim que ele ficou em pé, ele desmoronou novamente. Fiona o colocou nas costas dela. Seus olhos estavam fechados, mas a audição de seu leopardo captou o som de sua respiração. Um momento depois, seus olhos se abriram. O olhar duro e frio se foi, e o homem que ela amava estava de volta. Sonhadoramente, ele disse: — Hipotensão ortostática. Hipotermia. Choque hipovolêmico. Eleve os pés, mantenha-se aquecido, dê fluidos aquecidos por via oral ou IV, evite imediatamente... Alarmada, Fiona deu-lhe uma cutucada dura com a cabeça. Justin piscou e pareceu se forçar a se concentrar. — Desculpa. Pensei que estava de volta ao treinamento médico por um segundo. Deixe-me traduzir. Minha pressão sanguínea está tão baixa que eu vou apagar se ficar em pé, invencível ou não. Você estava certa. A invencibilidade realmente não é boa para muita coisa depois de tudo. Ela se aninhou nele: está tudo bem. Ele respirou fundo e olhou para ela com tanto amor e resignação que ela sentiu seu coração se despedaçar como gelo. — Fiona... não vou conseguir. Não há sentido em nós dois morrermos. Você precisa me deixar. Raiva brilhou nela até que seu rosto se sentiu quente o suficiente para derreter a neve. Ela estava gritando quase antes de terminar de mudar. — Você realmente acha que eu deixaria você morrer? Se você desistir agora,


você é quem está me deixando. Para o inferno com isso! Nós sobreviveremos juntos ou morreremos juntos. ESTAMOS ENTENDIDOS?! Justin piscou, assustado. — Entendido. É melhor colocar suas roupas de volta. Foi só então que ela percebeu que estava ajoelhada nua com neve até a cintura. Ela recuperou suas roupas e as vestiu. Eles mal conseguiram aliviar o frio, mas o tempo que levou para se vestir também lhe deu tempo para se acalmar. Ela o puxou em seus braços, segurou-o perto e disse: — Lembre-se, Red, a esperança é uma coisa boa, talvez a melhor das coisas, e nada de bom morre. Com as bochechas pressionadas juntas, ela não podia dizer se a umidade que esquentava e depois congelava em sua pele eram suas lágrimas ou as dela. — Qual o caminho. — ela perguntou. Ele apontou. — Por aqui. Mas... — Hal levou Shane para fora da Apex e eu da montanha. — disse ela. — Você me carregou em Veneza. Eu vou levar você agora. Ela lutou para colocá-lo sobre os ombros carregando-o como um bombeiro, depois se levantou e começou a andar. Mesmo com a força de seu shifter, não era fácil andar com neve até a coxa carregando um homem que pesava mais do que ela. — Fique comigo, Justin. — disse ela. — Eu preciso de você. Ela sentiu ele respirar fundo. — Eu sei. Eu não vou te deixar. Fiona lutou contra a neve. Suas costas, joelhos e peito queimavam com esforço, e sua pele ardia de frio. Ela nunca esteve tão exausta em toda a sua vida, e eles provavelmente tinham pelo menos uma caminhada de seis horas pela frente. Mas Justin precisava dela, ela precisava dele, e ela era a única que podia andar. Ela andaria mesmo que isso a matasse.


A cada poucos minutos, da melhor maneira que conseguia calcular o tempo, ela pedia que ele apontasse o caminho, principalmente para ter certeza de que ele ainda estava consciente. — Direto. — ele costumava dizer, ou ocasionalmente. — Vire para a direita. Fiona bateu o dedo do pé em uma pedra enterrada na neve ou em uma árvore caída e quase caiu de cara no chão. Ela cambaleou, recuperou o equilíbrio e cuidadosamente passou por cima dela. — Qual o caminho. — ela perguntou. Ele não respondeu. Uma pontada de medo perfurou seu coração. — Justin! — Desculpa. Estou acordado. — Ele deu um suspiro cansado e exasperado. — Isso é exatamente o que precisamos. Meu poder se descontrolou. — O que você quer dizer? Você não consegue encontrar Shane? — Bem, eu posso . Mas está me dizendo que ele está... — Justin apontou para o céu. — ... lá em cima. Confusa demais para até ficar chateada, Fiona parou e olhou para cima. Uma imensa extensão cinza encontrou seu olho... e depois uma faísca de ouro. O sol está saindo, ela pensou com alívio. Finalmente. Talvez agora possamos parar, descansar e aquecer... A faísca ficou maior. Estava chegando mais perto, descendo do céu. — Ué. — Justin disse lentamente. — Você vê isso ... O que é isso? O coração de Fiona levantou tão alto quanto as nuvens, tão alto quanto um dragão poderia voar. — É Lucas! Um momento depois, Justin exclamou: — E Shane! O dragão dourado pousou na frente deles. Fiona estava tão exausta que o bufo de vento de suas asas quase a derrubou. Shane saltou, correu para cima e firmou-a enquanto ela cambaleava.


— Eu tenho você. — disse Shane para os dois. Urgentemente, ele acrescentou: — Foi a Apex, não foi? Eles estão seguindo vocês? Ela balançou a cabeça. — Nós explodimos a base deles. — O que, de novo? — Para Justin, ele disse: — E você! Eu tiro meus olhos de você por uma noite... Fiona sentiu Justin soltar uma risada suave quando Shane o tirou de seus ombros. Aliviados do peso e da tensão, os joelhos de Fiona começaram a se dobrar. Lucas, que se tornara homem quando ela não estava olhando, pegoua. — Você está machucada? — Só cansada. E com frio. — Ela viu que Shane estava assistindo, preocupado, e disse:— Não se preocupe comigo. Justin foi baleado. Shane tirou a mochila que estava usando, tirou uma lona e colocou Justin nela. Lucas ajudou Fiona ao lado dele. Ela assistiu em uma névoa de exaustão e alívio quando Shane puxou uma pedra plana e usou-a para elevar os pés de Justin, tirou um cobertor e kit médico da mochila, cortou a camisa de Justin, examinou, mas não removeu as ataduras, verificou seus sinais vitais e, finalmente, cobriu-o com o cobertor. Colocando uma mão no ombro de Justin, Shane disse: — Você vai ficar bem, Red. Você está hipotérmico e um médico precisa dar uma olhada nas feridas de tiro... Os olhos de Justin se arregalaram com um alarme reflexivo. — Uma médica shifter. — disse Shane. — A mesma que cuidou de você da última vez. O que você achou, que eu ia deixá-lo no pronto socorro mais próximo? Justin sacudiu a cabeça. Ele estava começando a desaparecer, seus olhos perdendo o foco, suas pálpebras tremendo. — Ei! — Shane estalou os dedos na frente do rosto de Justin, sacudindo-o acordado. — Fique comigo, Red. Apenas o suficiente para beber algo quente. Então você pode dormir. Tudo bem?


Justin assentiu. Ficar acordado, e muito menos falar, era obviamente um esforço, mas ele conseguiu soltar. — Cuide de Fiona. — Relaxe, Red. Estou cuidando disso. — Shane enfiou a mão na mochila, retirando um pacote de roupas e uma garrafa térmica. — Lucas, estou te treinando para médico. Coloque Red em roupas quentes gentilmente - e ajude-o a beber isso. Não deixe ele desmaiar até que ele termine. Lucas pareceu um pouco alarmado, mas começou a trabalhar. — Aqui, beba isso enquanto eu verifico você. — Shane entregou a Fiona outra garrafa térmica. Envolver suas mãos em torno desse calor foi uma das melhores sensações que ela sentiu em toda a sua vida. Então ela tomou seu primeiro gole do chá quente, continha algo doce e leitoso, e pensou: Não, isso é ainda melhor. Quando Shane começou a examiná-la, ela disse: — Como você nos achou tão rápido? — Eu estava esperando que você pudesse explicar isso, na verdade. Nós rastreamos você e Red em uma pista de pouso, mas depois perdemos vocês. Nós ainda estávamos tentando descobrir para onde vocês foram levados quando um cara ligou para o escritório. Ele disse: 'Um homem chamado Justin que trabalha na sua empresa e uma mulher loira que aparentemente se chama Fiona agora estão vagando em algum lugar a nordeste de Fairbanks, no Alasca. É melhor vocês pegá-los antes que fiquem congelados’. Então ele desligou antes que pudéssemos fazer qualquer pergunta. Alguma ideia de quem foi? Parecia que ele tinha alguma história com você. Carter, ela pensou. Tem que ser. — Sim. — ela disse. — Nós temos uma história. No breve silêncio antes de Shane responder, ela podia ouvir Lucas persuadindo-o. — Vamos, Justin. Mais um gole. Muito bom. Mais um agora...


— Quem quer que ele fosse, ele provavelmente salvou suas vidas. — Shane disse baixinho. — Red, de qualquer maneira. Ele é um cara durão e você cuidou bem dele, mas ainda está a cinquenta quilômetros de Fairbanks. Ela estremeceu involuntariamente. Shane ofereceu-lhe uma braçada de roupas. — Precisa de ajuda, ou eu deveria virar as costas? — Vire as costas. Quando ela vestiu as roupas quentes e secas, ela percebeu que a única razão pela qual Carter tinha conseguido ajudá-los era que Justin havia dito a ele onde ele trabalhava. Sua compaixão por um homem que ele tinha todos os motivos para odiar acabou salvando sua vida. — Último. — disse Lucas, segurando a garrafa térmica nos lábios de Justin. Justin engoliu em seco, fechou os olhos e murmurou: — Fi...? Ela levantou-o em seus braços e se inclinou para beijar sua bochecha. Ainda estava frio, mas um pouco de cor voltou à sua pele. — Estou aqui. Descanse agora. Eu estarei lá quando você acordar. — Bom. — ele sussurrou, e relaxou no sono. Shane pegou um celular, mandou uma mensagem e depois guardou sua mochila. — Como você está se sentindo, Fiona? Você pode ficar acordada para um passeio de dragão? — Estou cansada, mas não tão cansada. — ela respondeu. Lucas recuou, dando espaço para mudar. Um redemoinho de faíscas douradas girou em torno dele, em seguida, piscou para revelar o dragão que ele havia se tornado. Shane pegou Justin e colocou-o nas costas de Lucas e inclinando-se contra o peito de Shane, em seguida, deu uma mão para Fiona se sentar na frente. Shane passou os braços em volta do peito de Justin e depois gritou: — Eu o peguei! Lucas abriu as asas translúcidas e saltou no ar. Fiona nunca havia voado em dragões antes, já que os dragões normalmente só deixam seus companheiros montá-los. Sob outras circunstâncias, ela teria gostado, mas


agora ela só queria levar Justin em segurança para um médico e ela mesma cair em uma cama. Ela só percebeu que tinha cochilado quando foi surpreendida pela batida da aterrissagem. Eles estavam em frente ao escritório da Dra. Bedford, que ela tinha visitado pela última vez quando eles resgataram Shane da Apex, e seus companheiros de equipe estavam correndo para encontrá-los. Shane tinha os braços ao redor dela, assim como Justin. — Você está acordado? — Shane perguntou. — Sim. Como está Justin? Ele a soltou. — Ele está bem. Ainda fora. Mas bem. Ele reagiu muito mal da última vez que acordou aqui. — Ele teve uma lembrança? Catalina, que acabara de correr, disse: — Ele se transformou em um leopardo das neves e arrancou o inferno de Shane. Mas não se preocupe, a Dra. Bedford e eu tentamos fazer o lugar parecer menos... com um hospital. A equipe inteira se aglomerara ao redor deles agora. Ellie também estava lá, aparentemente tendo vindo com Hal, e também Raluca, com o cabelo despenteado e no que Fiona juraria ser uma camisola. Uma camisola de dormir muito bonita e cara, mas uma camisola no entanto. — O que você está fazendo aqui? — Fiona perguntou a ela. — Procurando por você e Justin. — disse Raluca. — O resto veio de helicóptero, mas Lucas e eu podemos voar mais rápido que isso. Nós só podemos carregar três pessoas cada vez, e dois de vocês foram perdidos. Deixei Catalina cavalgar em mim, já que ela é uma paramédica. — E eu realmente aprecio isso. — disse Catalina com entusiasmo. — Foi incrível! Nick ajudou Fiona a descer e Hal deu uma mão a Shane. Shane carregou Justin para dentro. Eles foram recebidos pela Dra. Bedford, uma mulher de aparência séria com trancinhas e óculos de aros de metal. Ela foi engolida em um


casaco preto por tanto tempo que ela tropeçou na bainha quando se aproximou. — Merda. Foi só então que Fiona reconheceu o casaco de Hal. Quando a Dra. Bedford indicou uma cama para colocar Justin, ela viu que os lençóis brancos do hospital tinham sido cobertos por uma colcha de retalhos. — Minha avó acabou de dar para mim, então ainda estava no porta malas do meu carro. — Destiny explicou quando viu Fiona olhando para ele. — Quando eu soube que vocês dois estavam perdidos no Alasca, eu peguei e trouxe comigo no helicóptero. Sorte, hein? Como não havia como disfarçar a banca de soro e o equipamento de monitoramento médico, Fiona não sabia o quanto o esforço ajudaria. Mas isso a tocou. Até mesmo pessoas como Hal e Destiny, que mal conheciam Justin, ofereceram seus próprios bens valiosos para tentar fazê-lo se sentir seguro e confortável. Ela sentou-se na beira da cama, segurando a mão dele, enquanto a Dra. Bedford se aproximava, um pouco nervosamente e segurando as bordas do casaco de Hal para que ela pudesse andar. Shane estava do outro lado e manteve a mão no ombro de Justin. Ele acordou com um suspiro quando a Dra. Bedford tocou o estetoscópio no peito. Então ele pegou o quarto e relaxou. — Oh. Aqui novamente. —Não pela última vez, penso eu. — a Dra. Bedford assegurou-lhe. — Agora respire fundo. Fiona sentou-se acariciando seus cabelos enquanto ele obedecia aos comandos da médica. Mas se era o casaco de Hal e a colcha de retalhos de Destiny ou a presença dela e de Shane ou algo que tinha mudado no próprio Justin, ele não parecia incomodado por estar no hospital, e apenas apertou um pouco a mão de Fiona quando a médica colocou uma máscara de oxigênio em seu rosto. Ele logo se afastou novamente e acabou adormecendo durante a tomografia computadorizada. Posteriormente, a Dra. Bedford relatou: — Não há hemorragia interna ou dano aos órgãos, nada que a sua genética


shifter não possa resolver. Ele só precisa descansar. E você também, Fiona. Você pode compartilhar a cama, se quiser. Fiona, agradecidamente, arrastou-se para a cama ao lado dele, colocando o braço sobre o peito para que pudesse senti-lo respirando. A última coisa que ela se lembrava era de Hal puxando a colcha de retalhos sobre os dois. Ela acordou ao som de vozes. Por um momento, ela não tinha ideia de onde estava. Então ela abriu os olhos. Justin estava sentado na cama ao lado dela, encostado em uma pilha de travesseiros e conversando com Shane e Hal. Ela não podia acreditar o quanto melhor ele estava - ainda cansado e pálido, mas seus olhos eram brilhantes e sua voz era forte. — Olá. — disse ele, olhando para baixo. — Nós acordamos você? Eu posso expulsá-los. — Não, está tudo bem. — Ela se sentou, esfregando os olhos. — Quanto tempo eu dormi? — Quase 24 horas. Você estava exausta. Eu não tinha ideia de quanto tempo você carregou Red. — Shane deu um tapinha no ombro dela. — Obrigado por cuidar tão bem dele. — De nada. — Fiona esfregou os olhos novamente. — Tem café? — Eu vou caçar algum por aí. — Shane saiu. — Hal estava apenas me informando. — disse Justin. — Não podemos prender ninguém por crimes que cometeram como parte da Apex, uma vez que não existia oficialmente. Mas Hal falou com o FBI e M-I6, e eles vão prender Bianchi por tráfico de armas, Attanasio por fabricar drogas, e Elson por tentativa de homicídio e toda uma lista de outros crimes. — Mas e a Apex? Se foi para sempre? — Fiona perguntou. — Espero que sim. — disse Justin. — Não importa se eles se foram ou não, qualquer um de vocês não precisa se preocupar com eles. — disse Hal. — Fiona explodiu duas de suas bases agora. Se eles tentarem começar de novo, aposto que eles deixam os EUA só para fugir dela.


Shane voltou com uma xícara de café e um monte de gente às suas costas. Fiona apressadamente tentou alisar o cabelo quando se deu conta de que toda a sua equipe aparentemente estava espreitando do lado de fora, apenas esperando que ela acordasse. — Oi. — ela disse. — Estou bem. Vocês não precisam se preocupar comigo. Isso claramente não os satisfez, porque todos eles se aglomeraram de qualquer maneira. E não apenas sua equipe, mas também seus companheiros. Grace e Journey, que tiveram tempo de se preparar em vez de ter que correr para o resgate em um piscar de olhos, estavam carregadas com arranjos de flores, uma mala e um familiar kit de ferramentas. — Isso é...? — Fiona começou. Grace assentiu. — Journey e eu passamos pelo escritório para lhe trazer algumas coisas que pensamos que você gostaria de ter. Seu kit de ferramentas... — Trocas de roupa... — Journey abriu a mala, mostrando as roupas que Fiona guardava no escritório em caso de emergência. — E algo para poder brincar! — Grace puxou um pequeno cão robô. Justin se inclinou. — Oh, eu tenho vontade de ver um desses. Ele sabe ir buscar? — Não, mas passa por obstáculos. Veja. — Fiona ligou o cachorro e o colocou no chão. Trotou pela sala, evitando os pés de todos, até chegar à porta. Ali, sentou-se nas ancas, apontou o nariz para o ar e emitiu um latido eletrônico. — Bom cachorro! — Disse Justin. Agora que Fiona tinha todos reunidos, ela decidiu não deixar de contar seu segredo. Todos deviam estar se perguntando sobre a dica anônima que os levou ao Alasca, e Justin certamente não teria dito nada sobre isso sem verificar com ela primeiro. Além disso, eles eram seus companheiros de equipe e amigos. Shane e Lucas acabaram de salvar sua vida. Raluca tinha


pulado da cama para ir em uma missão, embora ela não estivesse no time. Grace lhe trouxera um cachorro robô. — Todo mundo... — disse Fiona. — Há algo sobre mim que eu gostaria que todos vocês soubessem. Justin colocou o braço em volta da cintura dela e segurou-a perto quando ela começou a falar. Quando ela lhe contou essa história, foi incrivelmente difícil, aterrorizante e dolorosa. Mas a segunda vez foi muito mais fácil. Quando ela terminou, Nick balançou a cabeça com espanto. — E todo esse tempo eu pensei que você costumava pegar no meu pé porque você era uma flecha tão reta. — Peço desculpas. — ela começou. Ele a cortou. — Não se preocupe com isso. É legal, na verdade. Você era uma criminosa melhor do que eu! Isso abriu as comportas. Todos começaram a lhe assegurar que isso não importava e não se importavam. Mas ela já sabia disso. O lençol de gelo que ela mantinha entre ela e os outros tinha desaparecido para sempre, e seu medo do julgamento deles havia desaparecido. Ela inclinou a cabeça no ombro de Justin. Passaria algum tempo antes que eles voltassem para Santa Martina, mas, no que lhe dizia respeito, já estava em casa.

Epílogo Fiona As tranças de Fiona se soltaram. Eles voaram para fora, então chicotearam seu rosto enquanto ela se abaixava para moldar uma bola de neve. — Pegue! Ela jogou em um arco alto. Todos os seis cães correram pelo quintal, até mesmo Laila, a pequena chihuahua branca, que tinha que usar um suéter


para protegê-la do frio. Foxy, a mistura de três pernas, pulou e pegou, então bufou indignada quando se desintegrou em sua boca. Midge latiu, depois atacou Foxy, jogando-a sobre ela. O bando inteiro começou a brigar entre si, pulando e rolando na neve. — Eu tenho que dizer que a neve é muito mais divertida quando você tem cachorros. — comentou Fiona. — Mas mesmo assim, eu ainda não quero viver no Alasca. Dois centímetros são suficientes. Justin formou duas bolas de neve e as jogou ao mesmo tempo. Biscata, o Jack Russell terrier, e Lucy, a mistura de beagle e blue tick, correram para a mesma bola e colidiram. Biscata deu de ombros e mordeu a bola de neve, enquanto Lucy gritou, depois correu de volta para Fiona para se consolar. Angel, a Dálmata, pegou o outro perfeitamente intacto, e depois correu até Justin e deixou cair a seus pés. — Boa menina. — Ele acariciou seus ouvidos, em seguida, olhou para Fiona. — Você sabe, eu tive um pesadelo na outra noite, quando você estava fora, de guarda daquela mulher do perseguidor. — Ah não. Eu estava preocupada com isso. — Ambos tinham empregos na Protection Inc. desde que voltaram a Santa Martina, mas apenas durante o dia. Essa foi a primeira noite que passaram separados. Mas Justin não parecia chateado. — Angel me acordou. Ela estava na cama, acariciando meu pescoço e acariciando meu braço com a pata. Lucy estava na cama também, lambendo minha mão, e o resto deles estava empilhado ao meu lado e aos meus pés. Eles sabiam. Todos eles estavam em suas camas de cachorro no outro quarto quando eu adormeci. Então você não precisa se preocupar em me deixar sozinha. Eu pertenço à um bando. Eu ficarei bem. Os outros cães voltaram a sentar-se, ofegando alegremente a seus pés. Fiona deu a cada um uma massagem na orelha. — Assim como não podemos ficar apenas com os três, hein? — Na verdade, fiz isso de propósito. Eu sempre quis seis. — Você não!


Ele deu de ombros, sorrindo, até que ela jogou um punhado de neve nas costas de sua camisa. — OK! Não, na verdade não. — Depois de um momento, ele acrescentou: — Mas eu teria, se tivesse pensado nisso. Fiona se lançou para ele com outro punhado, mas ele se afastou e atravessou o pátio. Ela o perseguiu, acompanhada pelo bando de latidos deliciados, ao redor de seu grande quintal. Justin corria com facilidade, desviando-se das árvores, tirando os brinquedos dos cachorros do caminho e finalmente dando um salto voador pela piscina. — Exibido! — Ela gritou do outro lado. Ele riu, nem mesmo sem fôlego, e provocativamente acenou para ela. — Aqui, gatinha, gatinha! Em vez de segui-lo imediatamente, ela levou um momento para olhar para ele do outro lado da piscina. Sua camiseta estava subindo, dando a ela um vislumbre de uma das cicatrizes do seu lado. Ele ganhou mais alguns quilos de músculo sólido, graças às suas próprias refeições caseiras e à academia da Protection Inc., e era forte e ágil em vez de magro. Com seu brilhante cabelo de cobre, olhos negros e feições afiadas, ele parecia que iria se transformar em uma raposa ao invés de um leopardo da neve. Como ele havia dito, as pessoas se viravam para olhá-lo quando ele passava. Mas isso não pareceu incomodá-lo agora que ele não estava mais se escondendo nas sombras. Fiona pulou pela piscina e encurralou Justin contra a cerca. Ele ergueu as mãos. — Eu me rendo! — É melhor. — disse ela, e beijou-o. Ele a pegou em seus braços e segurou-a com força. Fiona relaxou em seu abraço, apreciando a força de seu aperto e o calor de sua boca. Ela acariciou seu cabelo macio e ombros largos, e ele deslizou as mãos sob a blusa para acariciar cada centímetro dela que ele poderia alcançar. Por muito tempo ficaram de pé e se beijaram como se tivessem se separado por meses, em vez de uma única noite. Então a neve começou a cair novamente, derretendo em seus rostos e polvilhando seus cabelos como confetes.


— Vamos entrar. Vou começar um incêndio. — Justin colocou o braço em volta dos ombros dela. E juntos, eles saíram do frio.


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