projeto

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11. 12. Cópia Digital / Fotografia

37. Cópia digital / Fotografia com

56. Fotografia / Colagem sobre

/ Karl Schwarzschild / 1916

negativo de colódio úmido /

livro de rascunhos / Clarice

13. Cópia digital / Página de livro

Tarcisio Almeida e Joana Escoval

Machado / Salvador / Bahia /

/ Ponte de Einstein-Rosen /

/ Lisboa / 2013

2006

Ronaldo Rogério Mourão / 1979

38. Cópia digital/ Página de livro

57. Fotografia / Desenhos de

14. Cópia Digital / Ilustração /

/ Estrela de Raio X (HEAO-2

roupas recortadas - série

Potes para Kaxirí / Koch-

1978) / Ronaldo Rogério Mourão /

TNWMLC / Julia Valle / Belo

Grünberg / Roraima / 1913

1979

Horizonte / Minas Gerais / 2013

01. Fragmento de livro / Buracos

15. 17. Colagem / The Moon Is An

39. Cópia digital / Fotografia /

58. Aquarela / Berlin Baustelle

Negros, Universos em Colapso /

Island / Reykjavík / Thais Graci-

Início da viagem rumo a

Kopler / Thiago Bortolozzo /

Ronaldo Rogério Mourão / 1979

otti / 2013

Koimélemong/ Koch-Grünberg /

Alemanha / 2013

02. Fotografia digital / Ferve-

18. Fotografia digital / Miguel

Roraima / 1911

59. Fotografia Digital / Série

douro do Alecrim / Marcelo

Aflalo / Índia / 2008

40. Cópia digital / Documento /

Percografias / Raoni Gondim /

Kammer / São Felix do Tocantins

19. Transcrição de diário de

Passaporte família Okamoto /

Goiania / GO / 2012 a 2014

/ 2014

viagem / Miguel Aflalo / Índia /

Japão / 1932

60. Cópia digital / Fotografia -

03. Cópia digital / Subtração de

2008

41. Transcrição / João Cabral de

"The role of black holes in galaxy

imagem para as três primeira

20. Camisa bordada / Francisco

Melo Neto - O cão sem plumas

formation and evolution". Nature

épocas Pan-STARRS1 de PTF

Ramos / São Paulo / SP / 2008

(1953). In: ____. Morte e vida

460 (7252): 213-219

12dam em GP1, rP1 e iP1 /

21. 24. Fotografia digital /

Severina: e outros poemas / Rio

61. Cópia digital / Tramanho

Nature Publishing Group / 2003

Miguel Aflalo / Índia / 2008

de Janeiro / RJ / 2009

aproximado da terra se em

04. Fotografia digital / Encontro

25. Fotografia digital / Tarcisio

42. Cópia digital / Fotografia /

colapso com um buraco negro /

Grupo de Estudos c/ Karlla

Almeida / Anagé / Bahia / 2013

Documento do arquivo público /

Janson Treat and Alexander

Girotto e Suzy Okamoto / São

26.27. Cópia digital / Material

Rio de Contas / Bahia / Sec. XIX

Stegmaier – NGM Staff

Paulo / SP / 2013

Lítico - Sítio Aldeamento dos

43. 48. Cópia digital / Fotografias

62. Fotografia Digital / Série

05. Transcrição / The black holes

Mutans - Territórios e Ambientes

3x4 / Álbum de família / São

Percografias / Raoni Gondim /

in galaxy, formation and evolu-

da Serra de Monte Alto/ Joaquim

Paulo / SP / 1949 - 1990

Goiania / GO / 2012 a 2014

tion - Nature 460 (7252): 213-219

Perfeito Silva (org.), / Vitória da

49. Cópia Digital / Pintura s/

63. 67. Fotografia digital / Regis-

/ Cattaneo,A; Faber, S.M.;et al. /

Conquista / Bahia / 2010

fotografia / Série Fauna e Flora /

tro da exposição Mobiliário

2009

28. 29. Cópia digital / Página de

Dietmar Busse / Nova York /

Melancólico - MAC-RS / Luciano

06. Cópia digital / Página de livro

livro / Theda barra, devoradora

2010

Zanette / São Paulo / SP / 2006

/ Radiotelescópio do Instituto de

de homens e a Grécia nas ruínas

50. 51. Texto / Homem do Campo

68. Fotografia digital /

Tecnologia da Califórnia /

de Missolonghi, Eugéne Delac-

Flávia Memória / Fortaleza /

Fragmento de imagem - Encontro

Ronaldo R. Mourão / 1979

roix / Os Sentidos da Paixão /

Ceará / 2014

Grupo de Trabalho c/ Karlla

07. Cópia digital / Página de livro

org. Adaudo Novaes/ 1989

52. Cópia digital de montagem /

Girotto e Suzy Okamoto / São

/ Estrela de raio X (HEAO-2

30. Cópia digital / Frame Vídeo -

Shelter Series, wall version #1 /

Paulo / SP / 2013

1978) / Ronaldo R. Mourão / 1979

Descobertas Arqueológicas -

Batia Suter/ Holanda / 2012

69. Transcrição / Letra Curvas do

08. Cópia digital / Página de livro

Pau-Ferro / Carlos L. S. / Rio de

53. Cópia digital / Fotografia -

Rio / Elomar Figueira / 2005

/ Filamentos de Hidrogênio Via-

Contas / Bahia / 2008

California Redwood / autor

70. Colagem / The Moon is an

Láctea / Ronaldo R. Mourão /

31. Cópia digital / Fotografia /

desconhecido / 1950

Island / Thais Graciotti /

1979

Documento do arquivo público /

54. Cópia digital/ Página de livro

Reykjavík / 2013

09. Transcrição / O que é contem-

Rio de Contas / Bahia / Sec. XIX

/ Filamentos de hidrogênio Via-

71. Encarte / Assemble /

porâneo e outros ensaios - ed.

32. Transcrição / João Guimarães

Láctea / Ronaldo Rogério Mourão

Guilherme Falcão / São Paulo /

Argos / Giorgio Agambem / 2010

Rosa - A Boiada / Rio de Janeiro

/ 1979

SP / 2013

10. Cópia Digital/ Fotografia /

/ 2011

55. transcrição / Documento

72. Encarte / Por Uma Estética

Cerimônia de Recepção / Koch-

33. 36. Fotografia digital / Tarci-

arquivo público / Zé Carlos / Rio

da Experimentação da Criativi-

Grünberg / Alto Rio Negro / São

sio Almeida / Jaguaquara / Bahia

de Contas / Bahia / 1982

dade Baiana / Diane lima / Sal-

Gabriel da Cachoeira / Rio Tiquié

/ 2013

/ 1911

vador / Bahia / 2013


FUTURO HORIZONTES INTERNOS MEMÓRIA

HORIZONTES EXTERNOS

SINGULARIDADE

LUGAR

ACONTECIMENTOS

FICÇÃO

ACOPLAMENTOS

REPETIÇÕES

RESÍDUOS

FLUXO

SINGULARIDADE EXPANDIDA COTIDIANO

DISRUPÇÃO

IMINENTE VARIANTES SUJEITOS

COLAPSO


01

Estudando as equações do campo de Einstein, o físico alemão Karl Schwarzschild (1873 – 1916) encontrou a solução mais simples do buraco negro que provém unicamente da massa de uma estrela agonizante que tenha sofrido o colapso gravitacional quando o seu combustível nuclear esgotou-se completamente. Tal solução é, sem dúvida, a mais simples. Apesar do buraco negro constituir uma autêntico sumidouro de informações, pois nenhuma informação, nem mesmo a luz, pode escapar à sua ação deglutinadora, acredita-se que devem existir no universo outros tipos de buracos negros, com carga eletromagnética e rotação, uma vez que estas informações, que estão em permanência no universo, não desaparecerão quando uma estrela entra em colapso. Na realidade, a massa de um buraco negro é um dos seus elementos que será jamais completamente dragado, pois os seus efeitos permanecerão sob o aspecto de uma deformação no espaço-tempo. Por outro lado, as informações relativas ao campo magnético e elétrico, cujos efeitos dependem da distância, como a gravidade, estarão em interação com as partículas nucleares que os envolvem. Uma terceira forma de informação, que não será jamais perdida durante um colapso gravitacional, é o efeito proveniente da rotação, que irá dragar o espaço-tempo ao redor do buraco negro. Este último fenômeno, conhecido como efeito de LenseThirring, ou seja, rede inercial de dragagem, será tanto mais pronunciado quanto maior for a rotação e a massa do objeto que o produz. Assim, se um buraco negro for reduzido por uma estrela em rotação mais sensível, será o seu efeito sobre o espaço e tempo que o envolve.

Olha: a terra é uma bola. A bola gira. Gira o universo. Os homens giram também. Tudo é girar, tudo é rodar.

Maria de Andrade, “Danças”, em Remate de males

ESFERA DE FÓTONS

buraco negro de Schwarzchild [ sem carga e sem rotação ]

HORIZONTE DOS EVENTOS


02.03

SINGULARIDADE


04.05

Formação [ editar / editar código-fonte ]

Um buraco negro forma-se quando uma estrela super maciça fica sem combustível, o que faz seu núcleo diminuir até ficar reduzido a uma fração de seu tamanho original. Quando isso acontece, a gravidade produzida por ela sai do controle e começa a sugar tudo que encontra. Ele começa a sugar a massa da estrela, fazendo isso tão rápido que se engasga e expele enormes torrentes de energia. Ela é tão forte que acaba furando a estrela e lançando mais jatos de energia. A gravidade não suporta essa energia e a estrela finalmente explode (esta explosão é chamada de supernova). Em apenas um segundo de explosão é capaz de gerar 100 vezes mais energia que o nosso Sol produzirá em toda sua existência. O que resta no centro é o buraco negro.


4.

No firmamento que olhamos de noite, as estrelas resplandecem circundadas por uma densa treva. Uma vez que no universo há um número infinito de galáxias e de corpos luminoso, o escuro que vemos no céu é algo que, segundo os cientistas, necessita de uma explicação. É precisamente da explicação que a astrofísica contemporânea dá para esse escuro que gostaria agora de lhes falar. No universo em expansão, as galáxias mais remotas se distanciam de nós a uma velocidade tão grande que sua luz não consegue nos alcançar. Aquilo que percebemos como o escuro do céu é essa luz que viaja velocíssima até nós e, no entanto, não pode nos alcançar, porque as galáxias das quais provém se distanciam a uma velocidade superior àquela da luz.

Perceber no escuro do presente essa luz que procura nos alcançar e pode não fazê-lo, isso significa ser contemporâneo. Por isso os contemporâneos são raros. E por isso ser contemporâneo é, antes de tudo, uma questão de coragem: porque significa ser capaz não apenas de manter fixo o olhar no escuro da época, mas também de perceber nesse escuro uma luz que, dirigida para nós, distancia-se infinitamente de nós. Ou ainda: ser pontual num compromisso ao qual se pode apenas faltar.

bradas. O nosso tempo, o presente, não é, de fato, apenas o mais distante: não pode em nenhum caso nos alcançar. O seu dorso está fraturado, e nós nos mantemos exatamente no ponto da fratura. Por isso somos, apesar de tudo, contemporâneos a esse tempo. Compreendam bem que o compromisso que está em questão na contemporaneidade não tem lugar simplesmente no tempo cronológico: é, no tempo cronológico, algo que urge dentro deste e que o transforma. E essa urgência é a intempestividade, o anacronismo que nos permite aprender o nosso tempo na forma de um “muito cedo” que é, também, um “muito tarde”, de um “já” que é, também, um “ainda não”. E, do mesmo modo, reconhecer nas trevas do presente a luz que, sem nunca poder nos alcançar, está perenemente em viagem até nós.

7.

“Isto significa que o contemporâneo não é apenas aquele que, percebendo o escuro do presente, nele apreende a resoluta luz; é também aquele que, dividindo e interpolando o tempo, está a altura de transformá-lo e de colocá-lo em relação como os outros tempos, de nele ler de modo inédito a história, de “citá-la” segundo uma necessidade que não provém de maneira nenhuma do seu arbítrio, mas de uma exigência à qual ele não pode responder. É como se aquela invisível luz, que é o escuro do presente, projetasse a sua sombra sobre o passado, e este, tocado por este facho de sombra, adquirisse a capacidade de responder às trevas do agora.

0 6 . 0 7. 0 8 . 0 9

Por isso o presente que a contemporaneidade percebe tem as vértebras que-


10.11.12.13


14


1 5 . 1 6 . 1 7. 1 8


Dia 90 – 07/01/2008

Acordei tarde e não sabia mto o que fazer no dia. Hampi é um daqueles lugares p/ chil out. People stay for long time here. Shanti place to stay and do nothing. Apesar das ruínas, poucos turistas se preocupam em fazer turismo (...) Claro, fumando o tempo todo. Há tb muito climbers e yoges praticantes of course mas a maioria vem mais pra relaxar. Tb não lembro muito do dia mas o importante foi a minha segunda experiência escalando (...) resolvi subir o morro do templo (M....?), (...) dessa vez as pedras eram maiores. A escala das pedras aumentou, junto aumentaram os vãos, as alturas e as caves. Foi então que em uma destas caves me deparei com uma pequena bush. Dei a volta na possibilidade de haver espinhos e segui mais alguns metros. O lugar era uma espécie de clareira com pedras grandes fazendo o perímetro onde uma caverna mas com 3 saídas. Bastante luz. Segui até uma dessas saídas mas hesitei quanto a continuidade do caminho por ali. Dei meia volta, mais dois passo (...) Um corpo deitado no chão! A primeira imagem, uma caveira, um crânio de mandíbulas abertas em (de)composição mas com as roupas ainda inteiras. (...) De repente me senti ao extremo dos feelings, acho que pelo susto desta situação, por nunca ter visto ao vivo um corpo assim de perto. (...) Quando percebi que havia outro corpo ao lado. No mesmo estado, um senhor provavelmente com as roupas vestidas

pouco e tentar absorver um pouco tudo aquilo. (...) E quanto mais observava e tentava entender o por que, mais compreendia um pouco (...) Ouvi dizer a respeito que a morte é vista de uma outra forma por aqui, é aceita de outra forma. Tudo tem sua hora, pra tudo, o karma de cada um é que rege a vida. Percebi também um pouco mais do significado de um Holy Place (?) lugar sagrado. (...) homem, religião e lugar (...) forma mais pura. Entendi tb sobre o amor. Na real, eu não sabia exatamente o que se passava com eles mas acho que para mim não importava, eu não pertencia ali como eles. O que entendi, pra mim, é que se tratava de um casal de senhores que por algum motivo escolheram ali para ficar, para morrer. Estavam juntos, um ao lado do outro, com todas as roupas, pulseiras e anéis. Mais ao lado uma pequena mala empoeirada. Se era ou não true love eu não sabia. Mas se fosse era muito duro muito forte, muito verdadeiro. O susto e o choque foram, aos poucos, dando espaço a compreensão, a aceitação, a paz. Simplesmente uma lição de vida. Uma lição da India, deep India... Passada a lição, segui em silêncio, encontrei a trilha certa. Subi ao topo e passei lá em cima bons minutos. Desci, visitei o outro bazaar, alguns templos em torno. Fiz pedra no caminho principal e voltei a pousada beirando o rio... Ainda em silêncio. (...) fumei (...) juntei a turma...

19.20

também. Entrei em choque. (...) Demorei uns 5 minutos para absorver um


21.22.23.24.25


26.27


28.29.30.31


28 – V – 1952

6 horas da manhã. Claridade da madrugada. O sol ainda não saiu. Está clareando agora, resumindo – “romper da aurora”. Perto de nós, o grosso, enorme rolo reto, de bruma branca. (fumaça) desce da bocaína pela baixada. Sobre ele o outeiro, que marca o nascente. Grandes nuvens alaranjadas, que, a certa

sobre elas o céu se torna de difusos laivos cor de rosa, extensos.

São agora riscos, grossos, imensos, irradiados = aumentação dos raios do sol. Aumenta a claridade. “A bruma sobre o melôso. Aruvalho (orvalho) pesa, pesa na ponta da folha...”Um aruvalho nojento”...

O sol saindo (subindo) nossas sombras ficando grandes.

32.33.34.35.36

hora, se mudam em azuis – mas


3 7. 3 8 . 3 9 . 4 0 . 4 1

Na água do rio, lentamente, se vão perdendo em lama; numa lama que pouco a pouco também não pode falar: que pouco a pouco ganha os gestos defuntos da lama; o sangue de goma, o olho paralítico da lama. Na paisagem do rio difícil é saber onde começa o rio; onde a lama começa do rio; onde a terra começa da lama; onde o homem, onde a pele começa da lama; onde começa o homem naquele homem. Difícil é saber se aquele homem já não está mais aquém do homem; mais aquém do homem ao menos capaz de roer os ossos do ofício; capaz de sangrar na praça; capaz de gritar se a moenda lhe mastiga o braço; capaz de ter a vida mastigada e não apenas dissolvida (naquela água macia que amolece seus ossos como amoleceu as pedras).


4 2 . 4 3 . 4 4 . 4 5 . 4 5 . 4 7. 4 8


tempo. Se acaso interponho várias delas, posso chegar a formar uma temporalidade próxima ao que se entende como corpo. Assina o nome do quadro: Le PASSAGE de la vierge a la mariée. Quando pensa em formar, de quando em quando, uma temporalidade cor de carne empapando a paleta, Docampo reafirma este instante de avidez em transportar cheiro e temperatura com vistas a decorar a transparência da vitrine. Além do mais, no estrabismo de mover um cavalo no tabuleiro e olhar para a tela pensa: - De cada uma das quatro quinas, se acaso traço um giro – este -, uma dimensão ruge, foge, forma, força... (Como diria?). Para que se chegue à quarta – quando a obra? -, só mesmo assim, girando, girando e…, aperta a maçaneta e sai. Precisava encontrar um jeito de lidar com o enquadramento daqueles pigmentos, ou melhor, com a proximidade daquela tinta cor de carne.

As feiras de inventos, máquinas, objetos industriais, ferramentas e artefatos elétricos àquela época atraiam a atenção de todos em Munich. Com Docampo não seria diferente. Certo de que só atingiria a quarta dimensão caso provoo homem Docampo

casse esse movimento entre os cortes, as placas, as quinas, tablaturas e etc.,

49.50

após nomear o quadro, visualizou em PASSAGE o esboço de outro objeto. Em De um pistão a outro, ar, bolhas de ar. Mudando de lugar, mixturando elemen-

uma das feiras de negócios da capital bávara, Docampo – afeito ao torvelinho

tos, como num laboratório: pipetas, vidros de fina espessura, líquidos, luvas,

de dedos tomado pelo movimento de mixturar o óleo em círculos com o pincel

fumaça. Transubstanciação. Uma refração, um êmbolo, algum resultado

e a tinta sobre a paleta - ficou impressionado com a eloquência de uma hélice

efêmero. Abandona. Caminhando por uma rua de Munich, o francês macera um

de avião --- se acaso Docampo fosse brasileiro ou a viagem latinoamericana

gosto de alemão na boca. Passos lentos, ora rápidos, um tropeço, uma queda

que iria tomá-lo anos mais tarde se desse antecipadamente, talvez lêssemos

(depois outra). Ereção. Na transparência do vidro, ao mesmo tempo a imagem

em seus registros mnemotécnicos não a hélice de um MBR- 2 (Morskoi Blizhnii

de fundo e o reflexo. Parado em frente à vitrine, por uma fresta, sente um

Razvedchik), mas a de um Morelli cor de cobre. Talvez. (a questão seja outra).

cheiro quente de chocolate lubrificando o maquinário. Ao seu lado, na rua,

Enfim. Mais tarde, enquanto desdobrava o desenho do moedor de chocolate

também o vento frio acompanha o movimento dos pistões. Válvulas. Roldanas.

que trazia no bolso e o guardava na caixa/mala que o acompanhava cheia de

Rótulas. O joelho do francês dói com o frio de Munich. A fumaça que sai de sua

miniaturas e rascunhos, a insistência de Docampo em mover as placas do

boca não permite identificar que idioma murmura, talvez uma onomatopéia

tempo nas quatro quinas do quadro persistia. Afinal de contas, dentro das

atrás de outra e só. Segura o tabaco com os lábios. Enfia as mãos nos bolsos.

quatro brechas triangulares e suas diversas dimensões, Docampo, durante

Pede um café. Puxa uma caneta. Rascunha a máquina de moer chocolate -

anos, se deparou com homens, mulheres, crianças, gravatas, violinos, pianos,

descendente direta do moedor de café plasmado em tinta por estas mesmas

árvores, muros, igrejas, tabuleiros, perfis, trens, escadas, paisagens, lagos,

mãos alguns anos antes, pensa. A lembrança despista o gosto de chocolate

manchas, telhados, rodas, laços, cabelos, olhos, óculos, cachimbos, jornais,

implícito no desenho com o aroma explícito servido na xícara. Some. As corti-

camisas, bocas, pernas, mesas, cadeiras, gramados, chapéus, bigodes, casas,

nas do café e o entardecer deixam-no a nadar na penumbra. Ao sair, a intensi-

toalhas, xícaras, meias, dedos, bancos, cotovelos, bundas, dentes, paletós,

dade de um círculo de luz amarela (poste) sobre outro circulo de luz amarela

lâmpadas, seios, candeeiros, luminárias, bustos e etc. O que lhe fazia deduzir

(sol) o confundem. O homem tropeça e cai. Outra vez – sente o joelho. As peças

que qualquer coisa que dele se aproximava, qualquer coisa que a ele fosse

acopladas. No bolso a máquina é amassada, na rua o cheiro é frio, o chão é frio,

dada, esta coisa posta, estaria sempre - à sua maneira - já pronta. Entretanto, -

as mãos são frias e fazem pensar: - Por aqui um cadáver ganharia vida.

apesar de pronta, rangia em circunlóquio, nada poderia garantir que retirassem

O joelho, a máquina, o chão. Na mão um arranhão cor de carne. Além de desen-

desta mesma coisa a possibilididade de seu estar a vir. Docampo investe. Sua

har o homem pinta. Descobriu em Munich tons de tinta óleo cor de carne próxi-

cabeça gira. No percurso desta temporalidade dos corpos, hesitamos em saber

mos aos de L. Cranach, o Velho. Desamassou o papel com a máquina dentro.

até onde conseguimos acompanhar a suposição do quadrilátero cristalino que

Duvidou se era capaz de adivinhar a gramatura. Lembrou do vidro. Pensou em

vai sendo montada a cada lance, a cada transferencia, a cada deslizar das

lâminas. Nem bem chega em casa começa a misturar a pasta, a compor a cor

lâminas. Fendas. Feridas. Filigranas. Firulas. (naquela tarde, enquanto

da ferida na paleta. Muito laranja, vermelho-Carne-Cranach e escuro, - som-

Docampo fumava um cachimbo, alguém transpunha um vácuo estrelar cravado

bras e vultos do futuro, rabisca. Pinta. Pára. No intervalo em que pousa o pincel,

no meio dos cabelos de sua cabeça para uma película fotográfica em preto e

avança com um dos peões pretos. Afasta os olhos do reticulado xadrez, volta a

branco).

examinar a tela e pensa - a transparência do cristal são lâminas de cortes no


- Se a pintura rouba do homem o olho, a obra pede a este mesmo surrupiado

sistema de medidas e a balança. Coisas/obras, caixas/malas, olhos/mãos. Em

homem que possa continuar a vir. A obra pede passagem. Em cada coisa já

lugar de pintar para ciclopes, escrever para que a leitura das hordas engend-

dada, precisava interpolar o giro, as dimensões, os sentidos, os ângulos. Com-

rem obras. Participou de catálogos. Para alguns foi mesmo convidado a fazer a

preender um modo de escrever no outro a leitura em si, ruminava a mão direita,

capa. Numa delas, colou um peito de borracha e escolheu como legenda: -

movendo, sem pressa, desta feita, uma torre.

fazer o favor de tocar.

Assim como o raciocinio é testado a cada instante, Docampo submetia com

Ao contrário do que sua ênfase no curvilineo possa sucitar, Docampo --- que

cuidado a carne da pintura ao giro das hélices, a porosidade do esqueleto à

possuía também uma alcunha feminina chamada Rrose Sèlavy --- parecia

eletricidade dos campos, a transparência da retina à opacidade das pálpebras,

guardar um desejo atávico por quinas, muros, triângulos de 90°. Havia todo um

a sola grossa dos pés à membrana fina dos sexos. Mudou de cidade, de casa,

cuidado em germinar barreiras, em fazer crescer muros de contenção, pois era

de idioma, de amor, de nome, de endereço, de emprego, de amigos, de família,

justo através delas, do crescimento delas, sua interposição pesada, massiva,

de estatuto – do mármore à pele, dizia em tom gozoso. O campo da arte estava

era justamente na suposta coerência intransponível da matéria (tão sedutora e

aberto à encenação de uma miríade de ritos: - cada objeto era um corpo com

alquímica) que Docampo ativava os circuitos-elétricos do pensamento com

uma temporalidade a ser lida, repitia. – a vi(n)da do acontecimento não se

vistas a cindir a coesão, o nexo, as conexões– como os cantos dos olhos de

espera, anunciava. Espiral. Gérmen. Sêmem. Docampo escutava ao rasurar e

capitu para Bentinho, em Machado: jamais um veredito de escândalo ou de

executava ao retardar. Para ele era como se o corpo não terminasse nunca de

escárnio (ainda que outros varios). Daí o vulto da elipse, o amolado da hélice e

ganhar forma. Corpo lábil, massivo, trans-lúcido.

a proliferação das fimbrias na dispersão das coisas. Também em Docampo a

Na virada do século, a espiral na barriga do pai Ubu, em Alfred Jarry, parece

sável. Outra tópica). Contra o clarão do Uno - delimitado natimorto -, a escu-

que ainda obedece à progressão geométrica calculada por Arquimedes. No

ridão da gruta – indiscernível, envolvente, macia. Retardar a temporalidade do

pós-guerra, a filiação patafísica deste grande ciclista demonstra pela errância,

corpo era um exercício de travestimento (a)guardado. Escuro é algo que se

que para além da encruzilhada de anéis não há nada - a revolução de Copérnico

esconde entre as gretas, no hálito, no camino do labirinto auditivo, ou mesmo

foi apenas mais um dedo enxertando tubos milimétricos de círculos concêntri-

isso, de quando o olho lacrimeja e turva, lubrificando a cópula de outras mar-

cos. Apesar de tudo, continua havendo espirais e espirais. A figura da espiral

gens. Se tais recorrentes treliças faziam parte da prazerora inutilidade do tufão

hiperbólica (aberta, tendenciosa) delineia bem as conotações do pensamento

que reunia as coisas de Docampo, é porque a natureza delas era híbrida, mon-

de Docampo: fundada nos sulcos das conchas, a espiral demonstra ao mesmo

struosa, desnaturalizante. Assim como na virada do século os monstros, os

tempo a dobra da curva E a linha reta do planisfério. Foram várias as placas

incorrigíveis e os masturbadores eram marginalizados na ectopia de uma

rotativas construídas por Docampo. Algumas delas tornaram-se verdadeiros

organização social clinicável, Docampo parece reviver suas anamorfoses de

maquinários ópticos, com motores acoplados e protótipos pré-concebidos.

exílio na coleta de objetos pertencentes ao lugar-comum. Já prontos, perfeitos,

Outras retomaram a técnica pictórica e algumas até gravaram em seu bojo

Docampo os apresenta como troços mutilados, estilhaços de idéias pré-

algunas das notas que vinha guardando na antiga caixa/mala. Nas notas, o eixo

concebidas, onde qualquer separação por grupo, discurso ou disciplina certa-

que alinhava as palavras exibe uma espécie de narratividade sincopada que,

mente virará troça. Do vidro à pele. Do mármore ao osso. O nu começa experi-

pelo corte, confunde a diagramação do eterno. Como se em tudo houvesse um

mentando a pasta, dissolvendo-se na língua. O gênesis é o estágio (ou

ralo e muita agua escorrendo por ele. Sucção. - Não há nenhuma solução

momento) do balbucio infantil. O apocalipse é o epicentro do evangelho: anún-

porque não há nenhum problema, táticas de estudo sobre um lema, dois

cio que organiza o fim, os limites, as bordas. No homem Docampo a forma é

pontos.

uma ferida; são duas navalhas e três gumes; portais, dobradiças. Campos de força. Imantações. Docampo se disfarça, apaga o nome, o sobrenome, o rosto,

Se por um lado Docampo perdia o interesse no modo como as placas/cortes

a linearidade da fala. Quando envolto em capas de enigmas, parece querer

pareciam se unificar e tornar um só nos domínios da pintura – fosse símbolo,

apostar numa performatividade, algo que possa caber em uma cena, registro

fosse ícone -, por outro, os riscos de descolamento que os procedimentos de

ou confrontamento. Mas nem isso. Assim como a concha carrega e transmite

leitura asseguravam, ao mesmo tempo que o engoliam, garantiam-lhe uma

os confins do mar por um simples (d)efeito físico, Docampo descarta qualquer

energia impulsiva em aparência inesgotável. Big bang! Onomatopéias silencio-

regime de possessão espírita em nome da inteligência dos buracos negros, dos

sas. - Nada como permear o universo em signos, leu na calçada quando se

ecos, da lubricidade que o corpo dis-pensa. Encontra a transcendência na

agachou para amarrar os cadarços. As rótulas dos joelhos e as roldanas da

transmissão de energia, no breu do pixe, na capa corrosiva. Tubos repletos de

moenda: heráclito e seus rios. Ritos de passagem. Entre a noiva e a esposa não

gás. Docampo performer: Duchamp transformer: aparelho de conversão cinza:

há só uma película. O sexo não se localiza. A ruptura não coincide com a pre-

leque em suspensão sobre nossas cabeças: elipse sanfonada e pênsil,

sença. Toma folêgo antes do tempo – quando atevê o lugar onde irá (ir)romper

conectando fios soltos, afinando tensões. Tal é a vida desalmada das conchas,

-, ou ganha impulso depois – quando rechaça uma herança, desequilibrando o

ou melhor, dos moluscos e suas antenas.

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espiral irradia do vão de uma concha (o barulho do mar nos adverte do impen-


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Na terra do pequi e dos artífices maravilhosos, a ameaça de dizimação se faz presente com o paulatino desaparecimento de importantes representações da arte e da cultura. Seleiros, ferreiros e fogueteiros fazem parte da história, não havendo sucessores contemporâneos para suas artes, apesar de belas. As transformações do progresso interromperam as tradições transportadas pelos sábios e filósofos. Fizeram desaparecer o seleiro, que mantinha o ferreiro, que assegurava o garimpeiro, que tornava necessário o educador, que inspirava o poeta.

brilhante atuação de Juvenal Cândilo Oliveira é viva e saudosa lembrança. José Alfredo e Franco deixaram a certeza de harmonia entre arte e habilidade. Jõao Ramos foi o único na especialidade de barbear com alicate e prever chuva. Sem herdeiros da arte também morreu João Cotrim, entristecendo o povo.

Deixar morrer esses valores é o mesmo que separar o rio dos contos, Ziquinha da liberdade, João de Ritinha dos pequizeiros e Rio de Contas da história.

Zé Carlos, 1982

54.55.56

Não existe mais o mundo imaginário de Laurindo Reges, que subia à lua. A


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58.59.60.61


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63.64.65.66.67


Vô corrê trecho Vô percurá u'a terra preu pudê trabaiá prá vê se dêxo essa minha pobre terra véia discansá foi na Monarca a primeira dirrubada dêrna d'intão é sol é fogo é tái d'inxada me ispera, assunta bem inté a bôca das água qui vem num chora conforma mulé eu volto se assim Deus quisé Tá um apêrto mais qui tempão de Deus no sertão catinguêro vô dea um fora só dano um pulo agora in Son Palo Tring'Minêro é duro môço

a corda pura e a cuia sem um grão de farinha A bença Afiloteus te dêxo intregue nas guarda de Deus Nocença ai sôdade viu pai volta prás curva do rio Ah mais cê veja num me resta mais creto prá um furnicimento só eu caino nas mãos do véi Brolino mêrmo a deis pur cento é duro môço ritirá prum trecho alei c'ua pele no osso e as alma nos bolso de véi me ispera, assunta viu sô imbuzêro das bêra do rio conforma num chora mulé eu volto se assim Deus quisé num dêxa o rancho vazio eu volto prás curva do rio.

68.69

êsse mosquêro na cozinha


Buracos Negros

Impressão off set

Pesquisa, curadoria e

Não Têm Cabelo

S/ papel pólen

direção gráfica

*

Tipografias utilizadas

*

Black Holes

* Excelsior (1931) e Flama (2002)

Suzy Okamoto

Have No

Primeira impressão

Tarcisio Almeida

Hair

200 exemplares

Volume :

Junho 2014 Brasil


70.71.72

O único mérido do universo é o mais e não o menos. Percebemos demais as causas - eis o erro, a dúvida. O que existe transcende para mim o que julgo que existe. A realidade é apenas real e não pensada.

(Poemas inconjuntos, em Ficções do Interlúdio - F.P.)



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