Crítica de Obediência

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Obediência ter roubado uma cliente naquele dia. Sandra (Ann Compliance (EUA, 2012 90 Dowd), a gerente, não min.) Realização: Craig Zobel duvida da veracidade da Intérpretes: Ann Dowd, Dreama Walker, Pat Healy. chamada e obedece a tudo a que o homem diz. Mas não é a única. Alguns em sempre limites serão ultrapassaquem está do dos. As consequências: imoutro lado da pensáveis. Por sua vez, o linha é quem diz realmente ser e, nesse medo faz com que Becky (Dreama Walker), a funcaso, obedecer poderá cionária de 19 anos, obenão ser o melhor camindeça a tudo, apesar da sua ho… renitência, num desenrolar de acontecimentos Num dia especialmente inacreditáveis. Mais tarde atarefado de um restauno filme, o espectador rante de fast-food, um homem liga e identifica-se percebe quem é a pessoa que dá as ordens e pode como polícia, acusando surpreender-se com o seu uma das funcionárias de

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modus operandi… Obediência é um filme difícil de assistir, parece pouco verosímil de tão non-sense que acaba por ser, mas a verdade é que é baseado em factos reais, o que torna tudo ainda mais perturbador. Aliás, foram reportados mais de 70 casos semelhantes a este nos EUA, um número chocante, sobretudo ao conhecer-se os contornos da história. Craig Zobel, realizador e argumentista, tem um trabalho esmerado, impressionando pela construção de uma narrativa bem encadeada,

prendendo o espectador. Os seus planos criativos e pertinentes tornam-se noutro dos trunfos da obra. A fotografia é mais um aspecto bem conseguido, apesar de não ser especialmente inovadora e surpreendente. Já a banda-sonora é um dos factores menos trabalhados, o que é de lamentar, pois poderia ter ajudado a incrementar o clima de medo e tensão que é retratado ao longo da obra. Quanto ao trabalho de representação, a actriz que interpreta Sandra, a gerente algo atrapalhada mas nada céptica, é a alma do filme. Todos os outros actores convencem, mas não brilham particularmente, sobretudo a protagonista, que poderia ter tido uma interpretação mais segura e profunda. Numa demonstração da ingenuidade e fraqueza humanas, Obediência mostra o poder que a noção de autoridade pode ter no ser humano que acredita – com poucas dúvidas – no que lhe mandam fazer, sem questionar. Desconfortável mas também com potencial pedagógico, a obra está bem construída, mostrando uma crença irreflectida e o poder do medo perante as consequências de não obedecer a determinada ordem. Obediência é um murro no estômago, uma história invulgar e penetrante que, decerto, ficará na memória de quem a vir. Tatiana Henriques

abril 2014 metropolis 101


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