Entrevista a João Paulo Macedo, Diretor Artístico do Fike 2015

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festivais

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FIKE – Festival Internacional de CurtasMetragens O FIKE – Festival Internacional de Curtas-Metragens está de regresso para a sua 13.ª edição. De 9 a 13 de Junho, o Alentejo mostra algumas das mais relevantes curtas-metragens realizadas recentemente. A METROPOLIS entrevistou João Paulo Macedo, Director Artístico do Festival, que revelou o que se pode esperar nesta edição. tatiana henriques 162 metropolis julho 2015

Quais são os principais destaques na 13.ª edição do FIKE? O primeiro grande destaque é mesmo o FIKE acontecer e ser o único evento desta dimensão em todo o interior do país. No contexto de grandes dificuldades no apoio à Cultura, particularmente sensível na região do Alentejo, que é sempre discriminada negativamente, a realização de eventos desta dimensão é, por si só, motivo de destaque. A título de exemplo, no ano em que o FIKE cresce, se consolida e desenvolve numa terceira cidade, o ICA – Instituto do Cinema e Audiovisual reduziu 50% o seu investimento no interior do país, de 20 para 10 mil euros. Não conheço nenhum outro Festival que tenha sido objecto de uma redução de apoio desta grandeza, que tem tanto de injusta como de incongruente com as políticas nacionais para


o sector. O envolvimento das entidades regionais é fundamental e – provavelmente – acima do que acontece com outros eventos similares pelo país fora. O Festival decorrer nestas três cidades (Beja, Évora e Portalegre) significa cobrir um terço do território nacional com uma Festa do Cinema. Além das autarquias locais, só o envolvimento e apoio da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, a Comissão de Coordenação Regional e da Universidade de Évora tornam possível a realização do Festival. Em termos do programa do Festival, o grande destaque é sempre o Cinema, cada um dos filmes por si merece uma visita ao FIKE. O conjunto da selecção apresentada é, de facto, uma oportunidade única no interior do país de acompanhar a produção mundial de cinema de curtametragem. Convidámos o músico Nik Phelps, instrumentista e compositor de bandas sonoras para cinema, mas também com destaque para o seu trabalho com Tom Waits e Dan Hicks, além de Tony Bennett, Earl “Fatha” Hines, Frank Zappa, Joe Williams, entre muitos outros, para integrar o Júri do Festival. Igualmente a actriz portuguesa Adelaide Teixeira, com um percurso artístico incontornável no Cinema Português, na curta e na longametragem e Carlo Dessi, produtor de Cinema e Televisão italiano e o Director Artístico do Festival de Cinema da Sar-

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denha. Também Rastko Ciric, músico, gráfico e realizador de cinema de animação e professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Belgrado. Foi o autor escolhido pela ASIFA para desenhar o cartaz da Festa Mundial da Animação 2015. Juntamente com Nik Phelps que orientará um workshop de animação e composição de banda sonora, com o objectivo da produção de um filme colectivo a ser apresentado no final do Festival.

Imagens: 1. «February»; 2. «Wrapped»; 3. «A thing so Small»

Destaco ainda o facto de o Festival ser de acesso gratuito em todas as suas actividades. Quais foram os critérios para a selecção dos filmes escolhidos? Os critérios de selecção não divergem muito entre festivais de cinema, em alguns casos mais condicionados por critérios de mercado e noutros, em que nos incluímos, em que o cariz cultural e de qualidade cinematográfica são as

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premissas das escolhas que fazemos. O que confere identidade a qualquer programação passa pela personalidade do projecto e pelo olhar com que se estabelecem essas premissas. No caso concreto do FIKE, procuramos viver muito próximo dos valores criativos mais do que de produção. Há sempre a sensação da urgência e da oportunidade, da necessidade de um filme ser realizado ou visto. Procuramos o risco e a irreverência, a criatividade e a ousadia técnica. Procuramos acima de tudo filmes que funcionem por si, que sejam um input no dia-a-dia de cada espectador. A responsabilidade de programar um Festival leva-nos a colocarmo-nos no lugar do realizador e no lugar do espectador. No fundo, é desta experiência que se afinam critérios e se define o perfil de uma programação. Sendo, em última análise, uma responsabilidade minha, enquanto director artístico, trata-se de um trabalho colectivo de análise fílmica que envolve muita discussão e muitas sensibilidades. Quais são os principais objectivos do FIKE? Promover o acesso dos públicos ao Cinema, a novos criadores e a novas experiências cinematográficas. Se entendermos o cinema como um espaço de diálogo intercultural, e através da programação do festival conseguirmos traduzir isso, estamos a contribuir para o desenvolvimento da região, para o encontro 164 metropolis julho 2015

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entre os criadores e o público, para a sensibilização para as práticas culturais. É incrível como tudo passa pelo cinema! Ao inter-relacionar o audiovisual com outras artes e outros sectores, regionais e internacionais, estamos a contribuir para a promoção do Alentejo, para a promoção de novas valências de desenvolvimento e imagem, para a atracção de novos públicos para a região. É uma clara ambição consolidar e continuar a crescer e a desenvolver novas experiências, afirmar-se nacional e internacionalmente como um espaço e um momento de referência em termos artísticos e culturais, mas também

nos aspectos económicos que envolvem um Festival Internacional de Cinema. Qual é o balanço que faz ao longo de todos estes anos de Festival? Apesar da discriminação com que são tratados os projectos do Interior neste nosso país e das enormes dificuldades que se têm de ultrapassar a cada edição, só posso fazer um balanço muito positivo do projecto que o colectivo do FIKE tem desenvolvido desde 2001. Digo isto porque, apesar do reduzido orçamento com que o Festival se debate a cada ano, conseguimos ultrapassar a carência focando a nossa atenção no essencial:


Imagens: 1. «The Dive»; 2. «Sara e a Sua Mãe»;

mostrar bom cinema. O contributo francamente positivo do Festival para a formação de públicos e para o acesso ao Cinema e à Cultura numa região como o Alentejo, tradicionalmente carente e ignorada por quem toma decisões no sector da cultura, em Lisboa, como o demonstra o resultado dos concursos dos últimos anos do ICA ou da DGArtes, é outro grande activo deste projecto. É um verdadeiro serviço público. O FIKE tem-se vindo a afirmar, a crescer e a alargar as suas actividades apesar de mais de uma década de desinvestimento na Cultura, apesar das distâncias aos centros de decisão e apesar do tecido económico pouco propício e da reduzida densidade populacional da região. Aqui o envolvimento das entidades regionais referidas acima, as parcerias que desenvolvemos no projecto Imaginários a Sul, apoiado pelo INALENTEJO no contexto do QREN, desempenha um papel fundamental. Olhando para o que foram as 12 edições anteriores fica, antes de mais nada, a sensação de termos dado acesso a muito e bom cinema e espaço para que muito e bom cinema se pudesse encontrar com o seu público.

2 FIKE 2014 - PALMARÉS Prémio FIKE Melhor Ficção ФЕВРАЛЬ (February) | Realizador: Ruslan Magomadov | Ficção, 2014, Rússia (Federação Russa) Prémio FIKE Documentário FORMALIN UND SPIRITUS (Spirit Of A Dissection) | Realizador: Iris Fegerl | Documentário, 2014, Alemanha Menção Especial Documentário NOZ W WOZIE (Knife In The Wife) |Realizador: Vita Drygas |Documentário, 2014, Polónia Prémio FIKE Melhor Animação FULIGEM (Soot) | Realizador: David Doutel, Vasco Sá | Animação, 2014, Portugal Prémio Direção Reginal de Cultura do Alentejo para o melhor filme português / Regional FULIGEM (Soot) | Realizador: David Doutel, Vasco Sá | Animação, 2014, Portugal Prémio Comendador Rui Nabeiro para a Melhor Curta-metragem Europeia ANOMALO (Anomalous) | Realizador: Aitor Gutierrez | Ficção, 2014, Espanha

(Summer Storm) | Realizador: Jose Manuel Segura | Ficção, 2014, Argentina Menção Especial Animação PADRE (Father) | Realizador: SANTIAGO 'BOU' GRASSO | Animação, 2013, Argentina Prémio FIKE Melhor Fotografia SOROA (The Field) | Realizador: Asier Altuna | Ficção, 2014, Espanha Menção Especial Melhor fotografia ФЕВРАЛЬ (February) | Realizador: Ruslan Magomadov | Ficção, 2014, Rússia (Federação Russa) Prémio FIKE Melhor Representação FERDINAND KNAPP | Realizador: Andrea Baldini | Ficção, 2014, França Menção Especial Melhor Representação RABBIT | Realizador: Matthew Richards | Ficção, 2014, Austrália Prémio do Público CONTE DE FÉES À L'USAGE DES MOYENNES PERSONNES (Fairytale For Average People) | Realizador: Chloé Mazlo | Animação, 2015, França

Prémio FIKE Melhor Argumento

Prémio da Organização

TORMENTA DE VERANO

CINEMA | Realizador: Rodrigo julho 2015 metropolis 165


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