Entrevista a Diogo Vilhena

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shortcutz Diogo Vilhena é um cineasta português natural de Vila Nova de Milfontes, que conta já com 12 anos de experiência. Começou a dar nas vistas com a curta-metragem documental «Cinema Com Gente Dentro», sobre o cinema ambulante em Portugal. Desde aí, tem estado envolvido em vários projectos. A METROPOLIS conversou com o realizador sobre a sua carreira e planos futuros. entrevista Tatiana Henriques

Como começou o seu encantamento com o mundo audiovisual e cinematográfico? No início dos anos 90, durante a rodagem de «A Casa dos Espíritos», a maior produção de cinema feita em Portugal, fiquei deslumbrado com o plateau de rodagem. Depois, em 1995, por ocasião dos festejos dos 100 anos do cinema, entre ciclos de cinema de autor, e outros clássicos, esta experiência gratuita contribuiu para o crescimento da minha curiosidade sobre este mundo. Como correu a experiência decorrente de «Cinema Com Gente Dentro»?

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Diogo Vilhena No âmbito de uma cadeira de Documentário do curso de Som e Imagem na ESAD de Caldas da Rainha, estruturei um projecto conjunto com uma equipa de alunos, entre eles: Rui Pedro Lamy, Rodrigo Coito e Edgar Libório. Rumámos 400 km a sul durante duas semanas para realizar um documentário sobre uma actividade profissional em vias de extinção. Sendo um projecto académico, o filme pretendia mostrar uma abordagem séria sobre aquilo que é o Cinema Ambulante, tendo como elemento principal António Feliciano, ícone da minha infância, e que eu, de alguma forma, pretendia eternizar. Ele foi o responsável pelo meu primeiro contacto com o Cinema; o meu e o de muita gente que viveu em Vila Nova de Milfontes, Sabóia, e muitas aldeias do

Litoral Alentejano, por onde passou, tornando o seu cinema fixo, situado num antigo campo de cultivo de girassóis, no mítico Cinema Girassol, que é um lugar que pertence à memória colectiva de muita gente. É um projecto que guardo na alma por ter sido o primeiro e por ter sido produzido com muito esforço, com apenas uma câmara da universidade e outra emprestada. “Tudo é cinema. O filme, a aldeia, a máquina, o projeccionista e as pessoas. Uma viagem pelo que resta do cinema ambulante, uma outra forma de ver e sentir cinema. Onde o Cinema deixa de ser só uma sala, e toma a dimensão de um lugar comum entre a acção e emoção de quem vê e de quem dá a ver. Uma forma de mostrar cine-


ma em aldeias esquecidas, que já não existe, apenas subsiste”. Este foi o meu ponto de partida para iniciar esta viagem pelo mundo da partilha de cinema nas aldeias. De que se trata o projecto “Redes do Tempo”? O Museu de Sines promove, desde Setembro de 2007, o projecto “Nas Redes do Tempo”, que procura conhecer melhor o património do concelho, através do registo da memória dos sineenses com mais conhecimento de vida e através da recepção do contributo da população em depoimentos, objectos, fotografias e outros documentos. Desde 2010, comecei a integrar a equipa de forma a

estruturar uma série de documentários com o objectivo de dar a conhecer um retrato mais fiel do que era a VIDA das camadas populares, em particular, das que se dedicavam a actividades tradicionais, como os pescadores, os corticeiros e os operários. Esta é a forma de salvaguarda da memória, da tradição oral e do património imaterial, de forma a criar, a partir do mesmo registo, vários conteúdos de fácil acesso que servem várias plataformas de divulgação da memória. Pode falar-nos um pouco melhor sobre o POROS? Prefiro não desvendar muito, pois é um projecto ainda em conclusão.

fotos: «Antes Morto que Vivo» OUTUBRO 2014 metropolis 155


Que outros projectos tem na calha para o futuro? O futuro continua a passar pelo documentário. Os projectos em que me tenho envolvido motivam-me para continuar a caminhar no sentido de registar para memória futura aquilo que o tempo se encarrega de apagar. Timeless é uma estrutura que permitirá concluir projectos como o «Tempo da Fome», a salvaguarda de retratos de uma época com o objectivo de conhecer na primeira pessoa aquilo que foi uma era. Este é um exemplo daquilo que se pode criar a partir da memória oral. Como vê o Cinema Português hoje em dia? O cinema em Portugal é um artesanato, progressivamente feito por muita gente a trabalhar nele de forma muito séria. No entanto, aqui existe um grande peso do passado mas que está mesmo a mudar e isso dá muito alento para desenvolver novos e bons projectos de cinema a sério, com estruturas a sério e bem desenvolvidas, onde não é necessário para fazer bons filmes mega orçamentos ou grandes estruturas de produção. No entanto, onde falha é na distribuição e na forma como o cinema chega às pessoas e como as pessoas consomem cinema, esta é a grande questão. Passa por uma mudança de mentalidade, uma mudança na própria forma de consumir cinema, 156 metropolis OUTUBRO 2014

pois não se imprimem quadros, metem-se na parede e passa-se a ter uma exposição em casa, certo? Então não se pode confundir cinema com consumo por downloads. Tem de existir apoio à divulgação e à promoção daquilo que se faz bem feito em todas as áreas com igual visibilidade.

Topo: «Poros» Baixo: «Silêncio» e spot «Festival Músicas do Mundo


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