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TATIANA HENRIQUES
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uben Alves é um jovem cineasta e actor luso-francês. A Gaiola Dourada é a sua primeira longa-metragem e foi um verdadeiro sucesso em França, tendo levado mais de um milhão de pessoas às salas. A Metropolis conversou com o realizador (que também participa como actor na obra, além de ter escrito o argumento) sobre as suas raízes e inspirações para a concepção deste novo filme, que chega em breve às salas portuguesas.
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alma lusitana
entrevista a ruben alves
Como surgiu a ideia para A Gaiola Dourada? Estava a escrever um argumento sobre o choque de culturas entre França e Portugal e que se passaria em Lisboa. O meu produtor leu-o e perguntou-me: “Por que não escreves sobre as tuas raízes, sobre os portugueses em França?”. Depois, vi uma reportagem sobre uma porteira portuguesa em Paris a quem o jornalista pergunta: “Pretende voltar um dia a Portugal?”. Ela respondeu: “Sim, claro, mas ainda me sinto bem aqui, na minha pequena gaiola dourada…”. A partir daí, comecei a escrever… É a sua primeira longa-metragem. Como foi a experiência? Extraordinária! Tudo correu bem, consegui criar uma atmosfera portuguesa num plateau francês. Havia muita ternura e verdade nestas gravações. Os actores investiram neste projecto com o coração e isso deu-me forças para enfrentar todos os aspectos importantes. Quatro anos de vida dedicados a um projecto é muito! É como uma pequena criança.
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No final do filme, podemos ver que o dedica aos seus pais. De que forma é que eles o inspiraram para esta obra? As suas vidas, simplesmente… O seu trabalho, a sua devoção. Ver os pais que trabalham duro, que deixaram o seu país numa ditadura e tudo o resto pelos seus filhos, para que eles tenham uma vida melhor do que as suas? É muito inspirador. Era o mínimo que eu podia fazer para retribuir tudo o que eles me deram. O filme estreou no território francês em Abril e foi visto por 1,2 milhões de espectadores. Estava à espera deste sucesso? Como espera que seja a recepção em Portugal? Ninguém sabe como um filme pode resultar, é como uma partida de póquer. Fizemos o filme da forma mais sincera possível e ter sido tão bem recebido é incrível. Em França, houve um fenómeno muito surpreendente, com muita emoção, em que famílias inteiras foram juntas ao cinema e até pessoas que nunca tinham ido ao cinema. Aqui, em Portugal, estou curioso para ver as reacções sobre o filme francês, mas tão lusitano! Talvez os portugueses que te-
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nham vivido da imigração fiquem mais tocados pela obra? Talvez os portugueses poderão ter um outro olhar sobre os seus imigrantes? Resposta em Agosto… Pensa que ainda há muitos emigrantes que têm a França como a sua “gaiola dourada”? Sim, claro! Toda a geração dos nossos pais, mas para a segunda geração já não, pois já estão perfeitamente integrados. Hoje em dia, existem muitos novos emigrantes que têm estudos e uma outra visão do mundo. Como é que eles vão viver a sua emigração? Falamos em trinta anos… O elenco é constituído por actores franceses e portugueses. Foi difícil dirigir actores de nacionalidades diferentes? Não, de todo! Todos falavam francês no plateau, com ocasionais pequenos delírios portugueses que eram bons. Mas quando temos a hipótese de ter bons actores é muito mais fácil, especialmente quando há um ponto em comum em todos: uma grande humanidade. A escolha do elenco foi feita por si? Sim, claro. Todas as personagens foram escritas, pensadas e escolhidas por mim. Conheço muito bem cada personagem. Por causa disso, a minha equipa dizia-me frequentemente que eu poderia interpretar to-
dos os papéis do filme! (Risos). No filme, podemos ver algum sentimento de vergonha pelas origens portuguesas. Pensa que isso ainda é uma realidade? Sim, talvez para alguns, mas mais a nível social. Quando vives nos bairros da moda e os teus pais são operários, pode
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haver no adolescente uma vontade de não assumir as suas origens. Espero que hoje em dia esta seja uma realidade quase inexistente e que as pessoas se assumam tal como são, bem como as suas raízes, sobretudo porque podemos ficar orgulhosos quando temos pais operários, trabalhadores e honestos!
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Como vê os cinemas português e francês actualmente? Conheço muito pouco do cinema português. Gostaria muito de ver surgir uma nova vaga de realizadores que sejam próximos do público com filmes populares, no bom sentido do termo. Sobre o cinema francês, há hoje uma riqueza com a herança do cinema dos nossos
pais e a influência da eficácia do cinema, sobretudo as séries americanas, que têm uma boa mistura variada. O cinema europeu não está morto, bem pelo contrário! Quais são os seus próximos projectos? Estou justamente de férias porque estou a gravar um fil-
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me, Yves Saint Laurent. Faço uma personagem espanhola, estamos na década de 1960 com roupas de lã em pleno mês de Agosto. Dá para acreditar? (Risos). Depois, deverei voltar à escrita para um novo projecto…
Crítica na página 84