Especial - Ao Encontro de Mr. Banks

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27 A história por detrás da história: como foi desenvolvido o processo criativo da adaptação cinematográfica do livro “Mary Poppins”, da escritora australiana P. L. Travers. Com dois protagonistas renomados (ambos oscarizados por duas vezes), Ao Encontro de Mr. Banks inspirase em factos reais de como Walt Disney demorou 20 anos a convencê-la a levar ao cinema o que viria a tornar-se num dos clássicos musicais do estúdio.

TATIANA HENRIQUES Tudo começou quando Walt Disney (Tom Hanks) prometeu às filhas que ia adaptar o livro de P. L. Travers. O que ele não imaginara é que demoraria 20 anos para cumprir a promessa. Nada fazia parecer que P. L. Travers (Emma Thompson) cedesse até que os seus livros começaram a vender menos e, devido a algumas dificuldades monetárias, a escritora aceitou viajar até Los Angeles, em 1961, para saber quais eram os planos de Disney para a adaptação. Apenas duas semanas foi o tempo disponível para este – juntamente com os virtuosos Richard e Robert Sherman – conseguir convencer a relutante escritora. Sobre a relutância de Travers, John Lee Hancock, o realizador de Ao Encontro de Mr. Banks, compreende as objecções da escritora: “Penso que estava com medo, tal e qual como no filme, quando se pede açúcar – eles vão pôr muito mais do que aquilo que precisamos”. Sem música, recurso a desenhos animados ou o uso da cor vermelha. Estas eram as principais exigências de P. L. Travers. Além disso, insistiu para que as sessões com os irmãos Sherman de preparação da adaptação fossem gravadas, pelo que há 39 horas de gravações, o que ajudou muito na construção da história de Ao Encontro de Mr. Banks. Aliás, Richard Sherman, compositor e letrista das músicas de Mary Poppins, foi consultor neste novo filme, o que acaba por ser uma interessante coincidência, já que Travers foi também consultora de Mary Poppins, tendo ambos a preocupação de dar aos seus filmes a verdadeira autenticidade do que estava a ser retratado.


28 Outra curiosidade é que a obra é a primeira a retratar o icónico empresário Walt Disney, interpretado por Hanks na ficção, que até era seu primo distante. Depois de aceitar participar, o actor norte-americano diz que ficou “com a boca seca pelas expectativas. É simplesmente o trabalho mais difícil que se poderia fazer”. Para ajudar na construção da personagem, viu várias e longas entrevistas, nas quais Walt Disney falava sobre o seu passado, o seu crescimento e as dificuldades inerentes ao início do funcionamento dos estúdios da Disney. Mas para Hanks, o importante foi quando encontrou entrevistas em que Disney mostra alguma consternação: “Ele deve ter prestado mais atenção às coisas que correram mal do que àquilo que correu bem”. Além disso, Hanks pôde contar com a ajuda da filha de Walt, Diane Disney Miller [falecida a 19 de Novembro de 2013], que lhe deu “acesso ilimitado aos arquivos e ao museu em São Francisco”. A sua colega Emma Thompson vê alguma similitude entre Disney e o próprio Tom Hanks: “O Tom é muito conhecido, tal como era Walt Disney. A resposta da multidão a Tom era muito semelhante, creio, àquilo que seria a resposta do público a Walt Disney. Há uma iconicidade semelhante”. Mas é claro que a personagem principal é mesmo P. L. Travers, em torno da qual toda a história se desenvolve. Sobre a personagem, Thompson considera que foi “a pessoa mais difícil” que já interpretou: “Por um lado, iria encontrar um monstro terrível. E, por outro, iria encontrar uma criança ferida. Ela era a mais extraordinária combinação de coisas. Julgo que isso era a parte assustadora. Muitas vezes interpretamos pessoas que são emocionalmente – ou, pelo menos, moralmente – consistentes de alguma forma, mas ela não o era, de modo algum. Não sabíamos o que poderíamos esperar”, revela. “Não podemos esquecer que ela não fez absolutamente nenhum esforço para sair ou socializar com eles [nas sessões com os irmãos Sherman]. Ela era horrível”, acrescenta. Emma Thompson (cujo primeiro filme que viu numa sala de cinema foi justamente uma obra da Disney, Fantasia) imaginou ainda o que diria P. L. Travers se tivesse visto este filme: “Penso que ela diria ‘Este filme é absolutamente ridículo! Não tem qualquer relação com aquilo que aconteceu. Mas é sobre mim. E as roupas eram realmente agradáveis’. Julgo que seria isto que ela diria”.

P. L. Travers P. L. Travers faleceu em 1996, escreveu cinco livros sobre Mary Poppins, além de outras obras. Era uma mulher reservada, sendo que a sua vida pessoal é desconhecida para a maioria das pessoas. Mas Emma Thompson considera que há, pelo menos, um aspecto que todos os fãs de Poppins sabem de certeza: a devoção total de Travers às suas personagens, aos livros e ao público. Daí o seu grande receio na adaptação cinematográfica da sua querida Mary Poppins. O pai da escritora era banqueiro e foi a sua inspiração para a criação do patriarca da história de Mary Poppins, Mr. Banks, a personagem que a ama mágica auxilia. Colin Farrell, que interpreta o progenitor, considera que este “era alguém que sofria de uma profunda melancolia e também de um caso incapacitante de alcoolismo, morrendo, infelizmente, muito novo. Mas, quando o conhecemos, ele parece ser um pai ideal, divertido, amoroso e carinhoso”. O livro “Mary Poppins” acabou por chegar mesmo ao Cinema em 1964 e ganhou cinco prémios das suas treze nomeações para os Óscares, incluindo o de Melor Actriz para uma inesquecível Julie Andrews, que começava assim da melhor forma a bem sucedida carreira que hoje faz dela uma figura artística lendária.

Emma Thom


mpson

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