Especial - Golpada Americana

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golpada americana Golpada Americana é o novo filme de um dos realizadores-sensação dos últimos tempos: David O. Russell. Mas ele não volta sozinho, reunindo novamente muitos dos actores com quem já tinha trabalhado anteriormente, como Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence. O cineasta que dá mais valor ao carácter intrínseco das personagens do que ao argumento em si, encerra agora o que considera ser a sua “trilogia da reinvenção” iniciada com The Fighter – Último Round (2010) e prolongada por Guia para um Final Feliz (2012).


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G TATIANA HENRIQUES Golpada Americana passa-se na década de 1970 e conta a história do vigarista Irving Rosenfeld (Christian Bale), que trabalha com a sua astuta sócia – e amante – Sydney Prosser (Amy Adams). Os dois são obrigados a colaborar com um irreverente agente do FBI, Richie DiMaso (Bradley Cooper), que vai infiltrar Rosenfeld no perigoso, mas sedutor, mundo da máfia. Simultaneamente, os três vêem-se também envolvidos com a política do país, através do vigoroso candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Tudo parece correr pelos ajustes até que surge Rosalyn (Jennifer Lawrence), a esposa temperamental e imprevisível de Rosenfeld, que vai revolucionar todo este plano mirabolante.

David O. Russell com Jennifer Lawrence

A história é inspirada num dos maiores escândalos dos Estados Unidos, protagonizado por Mel Weinberg (interpretado na ficção por Bale), que foi acusado de fraude e outros crimes. Para reduzir a sua pena de três anos de prisão, Weinberg aceitou colaborar com o FBI e assim nasceu a investigação Abscam, que serviu de base para o filme. Na época, Weinberg fingiu que era um representante de um sheikh árabe fictício que queria investir nos Estados Unidos, comprando arte falsificada, por exemplo. Estas operações acabariam em Fevereiro de 1980 e abrangeram a Flórida, Nova Iorque e Nova Jérsia, mas tornaram-se mais importantes do que inicialmente se pensava, indiciando casos de corrupção pública.


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Jeremy Renner

sexual ou sensual, simplesmente não me tinham proposto nenhum que parecesse que fosse genuíno e que não apoiasse somente os personagens masculinos”, refere a actriz nascida em Itália e criada no seio de uma família mórmon, que acrescentou que, após ler o argumento, quis construir uma personagem “em que tudo fosse justificado e não senti que ela fosse uma sociopata sexy”. Para o seu colega Bradley Cooper, o desafio parece ter sido mais do que cumprido: “Vai ser uma grande surpresa para as pessoas, porque ninguém a imagina assim. Penso que ela nunca teve um papel tão exigente e não acho que tenha havido uma personagem feminina tão difícil nos últimos anos no cinema. Ela é tão sexy, vulnerável, assombrada, perigosa, divertida… é realmente tudo”. E parece que o primeiro que reparou nesta potencial versatilidade da actriz foi mesmo David O. Russell, que lhe disse enquanto trabalhavam em The Fighter – O Último Round: “Tu não és nada uma princesa da Disney” [em alusão ao filme Uma História de Encantar, 2007].

Weinberg recebeu 250 mil dólares pelos direitos de adaptação e esteve em Los Angeles, onde conheceu Christian Bale, que lhe pediu várias vezes para repetir o que ia dizendo, para poder imitar o modo como este falava. Apesar de ser inspirado na sua vida, o nome verdadeiro de Weinberg não é usado no filme, mas sim Rosenfeld. Além disso, Weinberg diz que há uma cena em que ele aparece vestido com um casaco verde, o que, segundo o próprio, nunca aconteceria, já que “não seria visto com um casaco verde. Os homens sábios usam roupas escuras”. O elenco de Golpada Americana é recheado de estrelas, com actores oscarizados ou nomeados para as estatuetas douradas. Entre as grandes mudanças a nível visual (já que a obra se passa na década de 1970), as verdadeiras surpresas prendem-se com o carácter das personagens, onde podemos ver os actores a superarem-se e a fazer algo completamente diferente do habitual. Exemplo disso é Amy Adams, que deixa de lado a candura típica de outros papéis para entregar-se a uma personagem sensual e calculista. “Nunca lutei contra ou a favor de interpretar uma mulher

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Amy Adams


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Jennifer Lawrence

O protagonista, Christian Bale, é também uma personagem marcante. O actor britânico (que já venceu um Óscar justamente por The Fighter – O Último Round) é conhecido pelas mudanças radicais corporais que faz pelas suas personagens. Aqui não foi excepção: engordou mais de 18 quilos e curvou a postura para interpretar a personagem, o que fez com que lesionasse a coluna. Mais uma vez, Bradley Cooper enaltece o colega: “Julgo que é o melhor papel dele e ele já teve vários fantásticos”, acrescentando até que “está mais sexy do que em qualquer outro papel. Penso que esta personagem é estranhamente mais sexy do que Batman e Patrick Bateman”. Por falar em Bradley Cooper, este surpreende com os seus marcantes caracóis (resultado de um tratamento diário com 100 rolos), o que, defende, tem uma razão de ser, já que a personagem pretende ser “o que na verdade não é, o que é algo perigoso para um jovem forte ser mentalmente – porque ele pode causar muitos estragos”. Para o actor norte-americano, já nomeado para um Óscar para Melhor Actor por Guia para um Final

Feliz, “Golpada Americana foi formidável e estou muito orgulhoso”. “Foi um filme incrivelmente desafiante. É maravilhoso, sexy, divertido, estrondoso e bonito”, conclui. Outra das estrelas é, claro, Jennifer Lawrence, que venceu o Óscar de Melhor Actriz por Guia para um Final Feliz, o que fez com que ficasse ainda mais famosa. Mas a jovem de 23 anos parece não se deixar afectar pelo potencial deslumbramento. “Sinto-me normal, por isso espero ser tratada dessa forma”, contou numa entrevista. Em Golpada Americana, Lawrence usa vestidos justos, um penteado espampanante e fala com pronúncia de Nova Jérsia (por inspiração no reality-show The Real Housewives of New Jersey). E algo disto deve-se à intromissão da própria actriz: antes de começar a rodagem, sugeriu algumas alterações a David O. Russell, sobretudo a nível físico, alterando-lhe a roupa ou o cabelo e depois os diálogos. A actriz exemplifica dizendo que se caminha de forma diferente quando se está de saltos altos ou de sapatos rasos, daí a importância destas mudanças da personagem a nível físico. Sobre

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Rosalyn, Lawrence diz que “as suas acções são terríveis, loucas, dramáticas e não fazem sentido. Sim, ela é manipuladora, mas também tem que ver com ingenuidade, porque ela é nova e não sabe fazer as coisas de outra forma. Não percebe a gravidade do que faz, o que penso que faz dela uma personagem mais fácil de compreender e de se gostar”. David O. Russell é também argumentista dos seus filmes e tem um modo muito próprio de os filmar. Em entrevistas, o realizador declarou que quando se ensaiam as cenas, “há falta de surpresa e pode haver falta de vitalidade”. Daí que os actores estejam sempre em personagem no set, sempre preparados, já que a câmara nunca está verdadeiramente desligada, o que “dá algum relaxamento e aumenta a exigência para todos, até para mim”. Segundo Christian Bale, muito do que foi feito no filme é fruto de improvisação, o que se deve

ao trabalho do realizador – que diz que detesta argumentos –, que tem como principal preocupação as personagens em si. Prova disso mesmo é também o modo como pensa nelas, escrevendo-as especificamente para determinados actores, tendo falado com eles sobre o projecto antes mesmo de o argumento estar terminado: “O meu impulso para começar a filmar é o de encontrar personagens capazes, de facto, de me emocionar. Depois é que começo a pensar no universo em torno delas. E, por último, mesmo no fim, na trama em si. Golpada Americana é o meu terceiro filme consecutivo sobre personagens que querem reinventar-se, que são sonhadores assumidos. O que procuro é retratar grandes crises de amor e paixões intensas da forma mais honesta possível”. Golpada Americana tem estado em grande destaque na actual temporada dos prémios do cinema norte-americano, sendo um dos títulos a acompanhar com mais atenção na próxima cerimónia dos Óscares.

Bradley Cooper, Christian Bale


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