Especial - Um Segredo do Passado

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AS NUANCES DA VIDA INTERIOR um segredo do passado

Um Segredo do Passado é a nova obra de Jason Reitman, realizador de Juno (2007) ou Nas Nuvens (2009), num registo diferente dos seus trabalhos anteriores. Para Reitman, este é um filme que “fala sobre as primeiras impressões e como elas podem ser enganadoras”. O cineasta confiou no brilhantismo do elenco, que tem nomes como Kate Winslet e Josh Brolin, numa obra que aborda mais os olhares e impressões do que propriamente um diálogo exaustivo. Um drama misterioso, profundo e com uma cena especial, que eleva o simples acto de confeccionar uma tarte.

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Kate Winslet, Josh Brolin, Gattlin Griffith

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Como tudo começa No Verão de 1987, aproxima-se o Dia do Trabalhador na cidade de Holton Mills, em New Hampshire. Henry (Gattlin Griffith) é um adolescente de 13 anos com poucos amigos e que passa o dia a ler ou a ver televisão, tendo como única companhia a sua mãe, Adele (Kate Winslet). Ela é uma antiga dançarina, divorciada e agorafóbica (medo de estar em espaços abertos ou no meio de uma multidão), pelo que depende muito do filho. Os dois vão comprar roupa para Henry a um centro comercial e, de repente, tudo muda. O responsável é Frank (Josh Brolin), um homem em fuga, misterioso e ferido, que pede a ajuda de Henry e Adele. Inicialmente, são obrigados a auxiliá-lo, mas o homem que, ao início, era temerário, mudará as suas vidas, ensinando a Henry lições tão simples mas importantes, como fazer uma tarte, lançar uma bola de basebol e também a ser mais altruísta e não sofrer com a inveja.

Do livro para o grande ecrã O filme é a adaptação do livro “Labor Day” , escrito por w e publicado no Verão de 2009, tornando-se, em pouco tempo, num best-seller (traduzido em português como Os Aromas do Verão, ed. Porto Editora). Jason Reitman seguiu a recomendação da produtora Helen Estabrook e leu a obra, concordando que poderia ser um excelente filme: “Sempre fui atraído por histórias com personagens que fazem coisas inexplicáveis. E sempre estive entusias-

mado, enquanto realizador, por contar uma história na qual o público vai questionar-se sobre a razão de algo estar a acontecer ou não. É um grande desafio de escrita e de realização o de criar um ambiente no qual as personagens farão coisas que nós não faríamos, mas de uma forma que decerto entenderíamos”, acrescentou numa entrevista. Joyce Maynard escreveu o romance em apenas dez dias, não sabendo como iria terminar, até que… realmente acabou. “Vi-o como um filme desde o início. Via um filme na minha cabeça e escrevi-o muito rapidamente, um recorde para mim, porque eu própria queria saber como iria terminar”. Kate Winslet assume adorar o livro e

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que gosta muito de fazer filmes que são adaptações de obras literárias, avivando ainda que é “um argumento tão belamente escrito, muito simples em vários sentidos, mas também complicado. Tudo é pequeno, mas também significa bastante neste filme, como uma complexa amálgama de emoções. A história em si é muito bonita e pura e fiquei muito atraída por isso, a forma como duas pessoas, contra todas as probabilidades, se conhecem e se relacionam de uma forma que, literalmente, muda a vida de ambos. Para mim, há algo de muito poderoso nisto”. Já Josh Brolin realça que o espectador pode ver “a consequência do seu passado, já que estão ambos traumatizados e constantemente assustados com isso, enquanto lenta-


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que poderá tornar-se decisiva para o futuro sucesso do filme. Para Um Segredo do Passado, Jason Reitman diz que “precisava de actores que já tivessem grande parte do ADN das personagens. Actores que, mesmo que não fizessem nada, se apenas respirassem, iríamos sentir as personagens e, honestamente, não conheço melhores actores do que o Josh Brolin e a Kate Winslet a fazer exactamente isso… fazer-nos sentir algo mesmo quando estão a fazer muito pouco”.

O realizador esperou um ano para que Kate Winslet estivesse disponível. Sobre a actriz britânica, afirma que “é uma das maiores actrizes vivas” e que “se tiver um argumento no qual ela esteja disposta a participar, espero um ano ou até cinco”. A admiração é mútua, tal como Kate Winslet disse em declarações à imprensa: “Falaram-me do filme estando ligado ao nome do Jason Reitman e isso é incrivelmente sedutor para qualquer actor. A ideia de trabalhar com o Jason e o Josh era irresistível”. Jason Reitman & Kate Winslet

mente abraçam a dádiva que lhes está a ser dado no presente, neste encontro que pode mudar tudo para eles”. Sobre Adele, o realizador refere que, quando a conhecemos, “temos a profunda sensação de que falta algo na sua vida, mas não sabemos o que é. Quando ela tem a improvável decisão de albergar este homem assustador, sentimos que há algo em Adele, uma história, uma beleza, uma espécie de vida, que está prestes a emergir”. Já em relação a Frank, Reitman salienta que, “em última análise, não sabemos se o Frank foi preso justamente, mas ele é, definitivamente, apavorante. Na primeira vez que o conhecemos, através de Henry, ele está a sangrar e a suar, parecendo estar a fugir de alguma coisa. E

leva o filme inteiro para que possamos descobrir se devemos confiar ou não nele”. Kate Winslet corrobora, dizendo que “é uma pessoa genuína, além de que conhecer e dar guarida a Frank começa também a revelar quem Adele é realmente e o que aconteceu com ela”. O actor que interpreta a personagem ajunta que “nunca temos a certeza se aquilo que o Frank faz é manipulação ou se é orgânico e verdadeiro, o que torna a experiência muito mais interessante”.

Os actores: uma escolha esmerada A escolha dos actores é sempre uma decisão que tem de ser ponderada e

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Não obstante, o realizador confessa que a maior descoberta neste filme foi Gattlin Griffith e explica: “Decidir quem iria interpretar o Henry foi a escolha de elenco mais difícil da minha vida. O Gattlin é naturalmente talentoso e habilidoso. Ele tem um instinto incrível e sabe completamente como transmitir todas as nuances emocionais no ecrã. Fui muito sortudo em tê-lo neste filme”. Sobre a personagem, Griffith diz que “ele está preso entre a infância e a vida adulta. Ele não pode falar com a mãe sobre aquilo pelo qual está a passar porque ela é emocionalmente perturbada. Com o seu pai, sente que já não faz parte da vida dele porque foi-se embora, fazendo com que Henry tome conta da mãe e seja o homem da casa”.


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Um narrador especial

A arte de fazer uma tarte

A história é contada por Henry enquanto adulto, pela voz de Tobey Maguire. Para Reitman, era necessário um actor forte para narrar o filme, “uma voz que fosse inteligente, profunda e interessante”. “Quando olhei para o rosto do Gattlin Griffith e o imaginei a crescer, pensei nas vozes mais cativantes da geração actual de actores. Não havia ninguém que se comparasse a Tobey Maguire e esperei e rezei para que ele aceitasse. O Tobey tem aquela voz invulgar que é simultaneamente adulta e inteligente, mas há também algo de bastante jovem nela, mesmo quando fala normalmente”. Já Tobey Maguire confessa-se um admirador da obra de Jason Reitman: “Fiquei emocionado quando ele me convidou para este papel. O Jason é um dos mais distintos realizadores e tem um olhar fantástico para as nuances da vida interior e do drama humano”.

O simples facto de fazer uma tarte caseira será o que mudará, para sempre, a história do relacionamento entre as três personagens. Tal deve-se à atenção de Frank pelos detalhes, o seu perfeccionismo e o modo atencioso como ensina Adele. Com um pormenor: depois de a tarte estar pronta, Frank fura a mesma desenhando um “A”. O realizador considera que “há algo de carinhoso, sensual e palpável acerca do modo como Frank ajuda e encoraja Adele”. “A tarte torna-se catártica e revela quem é verdadeiramente Frank”, acrescenta Reitman. Para recriar a tarte da forma exacta como Joyce Maynard descreve no livro, foi preciso entrar em acção um especialista, no caso, a “food stylist” Susan Spungen, que tentou, ao elaborar tarte após tarte, seguindo a própria receita de Maynard, que o doce ficasse com um ar caseiro e amador, algo, na ver-

tobey maguire

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dade, imperfeito. Para se prepararem para a cena crucial, Kate e Josh tiveram uma aula sobre tartes com Spungen e Maynard. Sobre a cena, a escritora considera que é “sexy” e que as mulheres em particular vão adorá-la, não sendo, claro, apenas sobre a confecção de uma tarte… Tatiana Henriques


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