Especial sobre Winter's Tale - Uma História de Amor

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entre magia e o realismo Winter’s Tale – Uma História de Amor O enredo

Winter’s Tale – Uma História de Amor fala de destinos cruzados, milagres, o poder do amor e a batalha eterna entre o bem e o mal. Esta é a estreia na realização do argumentista Akiva Goldsman e é baseado no livro do jornalista Mark Helprin. A música da obra tem assinatura oscarizada, de Hans Zimmer, contando no elenco com nomes como Colin Farrell, Jessica Brown Findlay, Russell Crowe e Jennifer Connelly.

Winter’s Tale – Uma História de Amor começa em Nova Iorque, em 1916. Peter Lake (Colin Farrell) é um ladrão irlandês que entra numa enorme mansão com o objectivo de assaltá-la. Contudo, a casa não está vazia e, lá, Peter encontra alguém que mudará, para sempre, a sua vida. Ela é Beverly Penn (Jessica Brown Findlay), uma jovem belíssima, por quem Peter se apaixona logo que a vê. Só que ela está a morrer e, com o tempo implacável a passar, os dois criam uma história só deles, um amor profundo e avassalador. E a fantasia começa quando o protagonista é perseguido por Pearly Soames (Russell Crowe), acabando por cair de uma ponte e renascendo

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no século XXI. Peter terá agora de contar com a ajuda de Virginia Gamely (Jennifer Connelly), uma estranha que poderá auxiliá-lo a descobrir o que aconteceu e, claro, salvar o seu eterno amor.

Uma história de amor mágica e irresistível Winters’s Tale – Uma História de Amor não é uma história típica e habitual, mas nem por isso menos encantadora e fascinante. Numa entrevista, o realizador falou um pouco sobre o misticismo e unicidade da obra: “O ‘felizes para sempre’ não é algo que imaginemos quando o filme começa ou tão pouco quando o casal se conhece. Há uma história de amor tradicional nos primeiros dois terços do filme, mas, na ver-

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dade, onde é mesmo tradicional é no fim, já que termina como a maior parte das histórias de amor, com um a sobreviver ao outro. E depois a questão é a seguinte: como é que se encontra um propósito? E eu queria mostrar isso de uma forma dramática e cinematográfica, ao invés de uma espécie de meditação sobre a natureza da perda. Mas é uma história de amor que atravessa o tempo e a mortalidade”. Colin Farrell é o protagonista, explicando que “é um órfão, filho de imigrantes que saíram da Ellis Island. Eles deixaram-no num pequeno barco, para que pudesse viajar até Manhattan, rezando e esperando que ele sobrevivesse. Ele consegue sobreviver e é depois apanhado por uma quadrilha, que depois deixa e conhece uma rapariga. A história passa-se em 1916 e 2014 e o conto passa-se durante um século, desafiando as convenções do tempo e do espaço. É um argumento muito invulgar e mágico”. Farrell acrescentou ainda em entrevista que a obra “tem elementos de Do Céu Caiu Uma Estrela (1946), a ideia de as estrelas terem uma sabedoria própria, interessando-se pelos assuntos da humanidade. E a ideia de que o tempo se dobra sobre si mesmo e não é linear, dando a sensação de que o amor é transcendente”. Akiva Goldsman salienta que “se acreditas em magia, então tens de acreditar que o amor é mágico, porque é transformador. É uma sugestão de uma espécie de conexão entre as pessoas, duas ou muitas, que é mais do que aquilo que podemos ver, tocar, ouvir e cheirar. Assim, se acreditas no amor e na magia, não será difícil acreditar em milagres, porque o amor é mágico. A ideia de epifania e uma experiência transcendente são, para muitos de nós, mais rapidamente associadas ao amor – apaixonar-se, amar os nossos filhos e os nossos pais – e à perda. Este é o material do mundo por trás do mundo, o mundo mágico e profundo. Estas são as coisas sobre as quais eu penso que são fantásticas de escrever e vou fazê-lo até que me deixem”.


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O desafio da adaptação cinematográfica Winter’s Tale – Uma História de Amor é a adaptação cinematográfica do livro homónimo escrito por Mark Helprin, em 1983. A obra foi aclamada pela crítica, tendo sido considerada em 2006 pelo The New York Times como um dos melhores trabalhos na ficção americana dos últimos 25 anos. Akiva Goldsman sempre esteve fascinado pelo livro “Winter’s Tale”, mas apenas se dedicou definitivamente ao mesmo após a morte da sua mulher devido a um ataque cardíaco, em 2010. “De repente, o livro transformou-se de algo que eu adorava na única coisa que importava”, disse em entrevista. Goldsman cresceu em Nova Iorque, o que acaba por ter um significado acrescido, já que, como o próprio diz, “algumas pessoas dizem que a obra é uma carta de amor a Nova Iorque”. Sobre isso, o cineasta considera que “é um romance muito, muito bonito para os nova-iorquinos. Mas o mais importante, para mim, é o realismo mágico – um género que não é muito comum na ficção americana e certamente também não é vulgar na cinematografia americana – que é a combinação do mundo do real com o fluir da magia, o que realmente me entusiasma. Isso realmente seduziu-me. E depois, é uma história de amor verdadeiramente transcendente. É a noção do amor que torna o impossível em algo possível. E se fores um romântico e sentimentalista, como eu sou, é difícil não ficar seduzido e magnetizado”. Neste sentido, Goldsman disse, também em declarações à imprensa, que vê o mundo como “um conto de fadas adulto onde tudo tem um propósito”, o que faz com que se compreenda que tenha chorado no metro de Nova Iorque, há 30 anos, enquanto lia o romance de Mark Helprin. Não obstante, a adaptação teve as suas inerentes dificuldades, como refere Akiva Goldsman: “O livro é bem mais complexo e profundo do que certamente um filme de duas horas conseguirá ser. Está mais perto das mil páginas do que das 120 habituais de um argumento. Portanto, tive que fazer aquela parte que é natural numa adaptação, que é perceber o que poderia manter e o que seria sacrificado. Há mesmo muitas partes do livro que não fazem parte do filme, como uma personagem,

Colin Farrell, Jessica Brown Findlay

chamada Hardesty Marratta, que tem centenas de páginas que lhe são dedicadas, que nem sequer aparece no filme”. Já Colin Farrell confessa que não leu o livro, mas que pensa lê-lo um dia. Mas o actor explica o porquê desta opção: “Já fiz anteriormente filmes que eram baseados em livros, li os livros e depois estava sempre a perguntar “por que não podemos ter isso no filme?”. Inicialmente, aquilo por que me apaixonei, que me atraiu o suficiente para me permitir fazer um filme durante quatro ou cinco meses, foi o argumento. Quando faço um filme, centro tudo no argumento e confio que a pessoa que o adaptou do livro fez um bom trabalho”.

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De argumentista a realizador Esta é a estreia na realização de Akiva Goldsman, o argumentista de Uma Mente Brilhante (2001) – pelo qual venceu um Óscar –, Cinderella Man (2005), O Código Da Vinci (2006), entre outros. Quando ganhou mais importância em Hollywood, Goldsman tentou convencer a Warner Bros. para que fosse ele a adaptar e produzir a história de “Winter’s Tale”. Só que o livro é denso e complexo, o que levou a que Goldsman se dedicasse a outros projectos, como a produção de Hancock e a escrita, produção e realização de episódios da série científica da Fox, Fringe. Ainda demorou até que Goldsman se entregasse por completo a este seu sonho antigo. O cineasta

confessa mesmo que lhe foi difícil, durante muito tempo, descobrir como transpor no ecrã o que pensa ser “algo de muito literário e maravilhoso na ideia do destino incompreendido e da perda que conduz a um diferente tipo de ganho”. Sobre esta primeira experiência na realização de uma longa-metragem, Goldsman diz que foi “emocionante e assustador. Tenho escrito e produzido alguns filmes e fi-los de muito perto. Eu estive no set de quase todos os filmes que já produzi e escrevi, por isso sabia o que era a realização. O que não sabia era justamente que seria um processo tão intenso”.

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Tatiana Henriques


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