O satélite Quando eu era pequena, lá na roça do vovô Gaspar, a vovó Dina sempre me dizia: “hoje, logo mais (que significava final da tarde / início da noite), o satélite irá passar lá em cima”. Na hora do “logo mais”, lá estava eu no terreiro com os olhos vidrados no céu, esperando ansiosamente. A espera, sempre envolta por uma magia inexplicável, durou toda a minha infância, mas, confesso, nunca vi o tal satélite cruzar o céu limpo, deslumbrante e inesquecível do sítio. Nunca o avistei, mas também não perdi a esperança dos meus olhos o encontrarem. O tempo passou, cresci, e, de vez em quando, me pego contemplando outro céu, o da cidade grande, talvez, no fundo, à espera da passagem do satélite, aquele da vovó Dina. Tatiana Soledade, fevereiro de 2016.