Exposição Instante

Page 1

instante experiência acontecimento  em  arte  e tecnologia de 10 abril a 10 junho 2012


As formas de expressões artísticas contemporâneas anseiam, em cada contato, uma interação que seja única e irreproduzível. Cada ser humano também é singular e traz consigo uma experiência vivida distinta que interfere neste encontro, nas relações e inter-relações experienciadas no fruir e compartilhar o acontecimento artístico. Ao artista contemporâneo interessa investigar o improvável, os erros, os estranhamentos que suscitam um choque de percepções e incertezas capaz de sacudir a inércia, o conformismo e a alienação. Autonomia e independência também fazem parte deste percurso que despreza regras e conceitos do que deva ser arte e tecnologia, devolvendo aos visitantes o papel de protagonistas, seja na apropriação de sentidos e significados abertos à criação livre e compartilhada, seja na formulação de questões inusitadas, ampliando o campo experimental do qual participam a arte e as diversas mídias.


Assim como nos espaços de debates públicos e privados, espera-se uma reapropriação dos princípios de cidadania e ética visando o desenvolvimento de uma coletividade mais responsável, comprometida com a sustentabilidade e os valores positivos para as futuras gerações. A exposição “Instante: Experiência / Acontecimento”, no SESC Pinheiros, contribui para promover diversas reflexões e questionamentos sobre temas cruciais da contemporaneidade, ainda atrelada ao consumismo desenfreado, aos princípios do prazer imediato e fugaz, obstaculizando a oportunidade de uma vivência pulsante, diversa e pluralista, ampliada por um fruir artístico intenso e provacante. Para o SESC, defrontar-se com situações instigantes e desafiadoras é parte do instante privilegiado de aprimoramento que poderá fazer do participante um coautor da obra artística. Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do SESC São Paulo


O que conecta o trabalho “Caraxias” de Cildo Meireles, o “Atrator Poético” do grupo SCIArts e Edson Zampronha e “Tantalus Quest” de Fabiano Onça e o coletivo Colmeia? Como imaginar, num mesmo espaço expositivo, Waldemar Cordeiro, Rafael França e Paulo Nenflídio? Encontros aparentemente inusitados entre artistas de gerações e obras distintas; trabalhos que, numa primeira olhada, são dispares. A aparente disparidade de Instante se desfaz quando nos deparamos com sua proposta curatorial: uma exposição que, dentro da ampla temática “Arte e Tecnologia”, privilegia trabalhos de artistas brasileiros que realizam ou realizaram experimentos com os chamados multimeios, sejam eles câmeras de vídeo, gravadores de som, máquinas de fotocópias, computadores ou delicados sensores. São trabalhos artísticos que foram concebidos por meio de processos de uso, apropriação, desconstrução e reconstrução dessas tecnologias e que, por meio desses processos, acabam por repensar, questionar e expandir o próprio campo da arte. No Brasil, com a facilidade de acesso à tecnologia e seu barateamento a partir da década de 1960, muitos artistas passam a utilizar esses suportes em ações que trazem a bricolagem como procedimento, em espécies


de reengenharias produzidas através de gambiarras, reusos, apropriações e reapropriações de técnicas e meios, e concebem e criam trabalhos que distorcem, ressignificam, constroem e desconstroem a linguagem das artes visuais contemporâneas. Embora pautada numa forte perspectiva histórica e apresentando um panorama da relação arte/tecnologia no Brasil, a exposição não tem um sentido único e linear de visitação. O espaço expográfico se configura como a multiplicação de possibilidades sem uma rota para ser percorrida; o percurso é feito por cada visitante individualmente, e se constrói através das relações entre o que é apresentado e os atravessamentos possíveis, as permeabilidades entre os trabalhos; as visitas são experiências singulares, construídas in loco. Instante foi fomentado, construído e desconstruído inúmeras vezes tendo como ponto de partida o pensamento do filósofo francês Gilles Deleuze. A filosofia de Deleuze atravessa Instante, em especial os potentes conceitos de experiência e acontecimento. Experimentar, criar e sentir: a arte como o instante em que o presente se torna infinito. Melina Izar Marson e Gustavo Torrezan Curadores


instante experiência acontecimento  em  arte  e tecnologia

Waldemar Cordeiro, Paulo Bruscky, Letícia Parente, Cildo Meireles, Otávio Donasci, Anna Bella Geiger, Regina Silveira, Paulo Nenflídio, Rejane Cantoni e Daniela Kuschat, Ricardo Basbaum, SCIarts, Gisela Motta e Leandro Lima, Raquel Kogan, Fabiano Onça e Colmeia, Graziele Lautenschlaeger, Rafael França e Marco do Valle.


instante experiência acontecimento  em  arte  e tecnologia

waldemar cordeiro paulo bruscky letícia parente cildo meireles otavio donasci anna bella geiger regina silveira paulo nenflídio rejane cantoni e daniela kuschat marco do valle ricardo basbaum sciarts gisela motta e leandro lima raquel kogan fabiano onça e colmeia graziele lautenschlaeger rafael frança


Waldemar Cordeiro (Roma – Itália, 1925 | São Paulo – SP, 1973) é um dos pioneiros no uso do computador nas artes e porta voz do movimento concreto paulista. Os trabalhos Derivadas de uma imagem I e II (1969) e A mulher que não é B.B. (1971), realizados em colaboração com professores da USP, tiveram pesquisas desenvolvidas no Centro de Arteônica do Instituto de Artes da Unicamp e estão entre os primeiros trabalhos do artista no campo de processamento de imagens.

Paulo Bruscky (Recife – PE, 1949) possui pesquisas e obras marcadas pela experimentalidade e pela irreverência em suas criações, que questionam o estatuto da arte. No Brasil, é pioneiro na arte postal e xerográfica. Em Registros (1979) se vale de máquinas fotocopiadoras para o processo de produção do vídeo.

Letícia Parente (Salvador – BA, 1930 | Rio de Janeiro – RJ, 1991), uma das pioneiras em vídeo arte no Brasil, trabalhou com questões relativas ao corpo, identidade e feminilidade. Marca Registrada (1974) é considerado um de seus trabalhos mais provocativos e perturbadores, onde a ar­tista borda, em seu próprio corpo, os dizeres “Made in Brazil”, questionando as noções de pertencimento e território.


Cildo Meirelles (Rio de Janeiro – RJ, 1948), artista multimídia, aproximou a arte conceitual de considerações políticas e sociais específicas do Brasil, tendo atuação notória durante a ditadura militar brasileira. Os trabalhos Mebs / Caraxia (1970/1971) trazem uma faceta menos explorada do autor por serem trabalhos que priorizam o áudio, mas que não abdicam das questões que permeiam sua trajetória.

Otávio Donasci (São Paulo – SP, 1952), artista multimídia, tem como uma das características mais marcantes de suas produções a mescla entre homem e máquina, como nas célebres performances da série “Videocriaturas”. Com Meditação no Espaço (1981), Donasci produz “ecos” da captação e edição de imagens e sons.

Anna Bella Geiger (Rio de Janeiro – RJ, 1933) tem uma obra marcada pelo uso de diversas linguagens e pela exploração de novos materiais e suportes. Nos anos 1970, sua produção tem caráter experimental e ela trabalha com fotomontagem, fotogravura, xerox, vídeo e Super-8. O trabalho Passagens nº 1 (1974) foi realizado através dessas experimentações em arte/ tecnologia, e dialoga com a obra “Nu descendo a escada”, de Marcel Duchamp.


Regina Silveira (Porto Alegre – RS, 1939) utiliza multimeios em suas criações, e seu trabalho caracteriza-se pela utilização diversa de materiais e pela discussão aguda sobre as ilusões da representação. Em A Arte de Desenhar (1980), explora suas experiências e estudos de anamorfoses que geram desenhos, esculturas, instalações e intervenções em objetos variados.

Paulo Nenflidio (São Bernando do Campo – SP, 1976), artista multimídia, investiga em seus trabalhos o elo entre artes visuais, música e tecnologia. Elementos como som, eletrônica, movimento, construção, invenção, aleatoriedade, física, controle e automação estão presentes em suas obras. Em Teia (2008) o artista apresenta uma grande estrutura composta por fios que sugere uma analogia às veias e conexões neurais, capaz de captar a proximidade humana e acionar a emissão de diferentes tipos de sons.

Gisela Motta (São Paulo – SP, 1976) e Leandro Lima (São Paulo – SP, 1976) trabalham juntos como artistas plásticos desde 1997. Suas obras exploram as possibilidades de união entre dois elementos distintos, lidando com opostos complementares e criando obras onde estes opostos se integram, sem se anularem. Controle de Velocidade (2008) apresenta um sistema desenvolvido para calcular e apresentar a velocidade do público em uma exposição, revelando a velocidade média do movimento durante a visita, e faz referência à segurança nas instituições culturais e ao papel do público no sistema da arte.


Marco do Valle (Taquaritinga – SP, 1954), transita entre meios, e sua produção artística tem como principais questões a ciência e o uso de materiais em meios sociais. É também professor do curso de Artes Visuais da Unicamp. Em A Performance da Santa (1979), uma estatueta de Nossa Senhora Aparecida, inspirada em um artefatosouvenir bastante popular, dança um bolero de imagem em movimento dentro de um televisor vintage. A obra foi realizada com a colaboração de Walter Silveira e Tadeu Jungle

Ricardo Basbaum (São Paulo – SP, 1961) é artista multimídia, professor, curador e crítico. Trabalha com diversas linguagens artísticas explorando as diferentes possibilidades de criação e interação com a obra. Referencia-se como um “artista-etc.” É a questão (1991) foi produzido durante sua residência artística na Unicamp. Na obra a imagem de um olho desenhado, ícone recorrente em sua produção, é colocada em diferentes situações.

SCIArts é um coletivo multidisciplinar formado por Fernando Fogliano (São Paulo – SP, 1956), Julia Blumenschein (São Paulo – SP, 1982), Milton Sogabe (São Paulo – SP, 1953), Renato Hildebrand (Lages – SP, 1954) e Rosangella Leote (Canoas – RS, 1961) que desenvolve projetos unindo arte, ciência e tecnologia, construindo espaços poéticos onde predomina a interação entre obra, ambiente e espectador. Em Atrator Poético (2005), o grupo cria, juntamente com Edson Zampronha uma instalação multimídia que propõe o diálogo entre público, imagem, som e ferro fluído. O trabalho contou também com a colaboração de Bruno Bastos e Hélio Vieira


Rejane Cantoni (São Paulo – SP, 1959) e Daniela Kutschat (São Paulo – SP, 1964) criaram em 1999 o projeto “OP_ERA”, que vem sendo desenvolvido desde então. OP_ERA – Sonic Dimension (2005) é uma instalação que tem a forma de um cubo escuro, preenchido por fios que lembram cordas de um instrumento musical. Cada uma dessas cordas virtuais vibra segundo uma determinada frequência de luz e de som, de acordo com a posição do visitante e seu modo de interação.

Raquel Kogan (São Paulo – SP, 1955) dialoga com os materiais, as mídias e as linguagens tradicionais e contemporâneas, pesquisando a relação entre espaço e tecnologia. Reflexão#3 (2005) é um “projeto em processo” em que expectador e a imagem formam um todo, provocando situações de surpresa e desorientação, gerando uma tensão entre a realidade e a projeção.

Fabiano Onça (São Paulo – SP, 1975), game designer e artista, se uniu ao coletivo de artistas e produtores Colmeia para realizar Tantalus Quest (2008), um jogo presencial em que os vários participantes, separados em dois times, buscam formar figuras geométricas o mais rápido possível, através de movimentos corpóreos.


Graziele Lautenschlaeger (Rio Claro – SP, 1983) pesquisa em seus trabalhos multimídia as relações entre narrativa e espaço. Em Don´t Give Up! About a history that doesn´t want to be told (2008), a artista cria uma instalação interativa que produz um jogo conflitante como questão. O desafio de uma história que não quer ser contada leva à busca da construção de narrativas com imagens e sons que são descontruídos por um software que tende a levar ao caos.

Rafael França (Porto Alegre – RS, 1957 | Chicago – EUA, 1991), é um dos mais significativos nomes da vídeo arte brasileira da década de 1980. A trilogia Reencontro (1984), Getting Out (1985) e As if Exiled Paradise (1986) investiga a linguagem do vídeo, alterando os padrões clássicos, a narrativa linear e o som sincronizado com a imagem, criando um enredo de contrastes entre sensações e realidade.


SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Danilo Santos de Miranda Superintendentes Comunicação Social Ivan Giannini Técnico-Social Joel Naimayer Padula Administração Luiz Deoclécio Massaro Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Sérgio José Battistelli Gerentes Ação Cultural Rosana Paulo da Cunha Adjunta Flávia Carvalho Assistentes: Juliana Braga e Nilva Luz Estudos e desenvolvimento: Marta Colabone Adjunta Andrea Nogueira Artes Gráficas Hélcio Magalhães Adjunta Karina Musumeci SESC Pinheiros Cristina Riscalla Madi Adjunto Ricardo de Oliveira Silva Coordenadores Cristiane Ferrari, Adriana Iervolino, Cristina Tobias, Claudio Hessel, Fabiano Oliveira, Luciano Amadei, Ricardo Paschoal Curadoria e coordenação Melina Izar Marson e Gustavo Torrezan Exposição Instante Arquitetura Pedro Mendes da Rocha Produção Arte 3 Projeto Gráfico Preface Design Consultoria Ana Godoy e Márcio Harum


Realização SESC Pinheiros Produção

arte3

Rua  Paes Leme, 195 CEP 05424-150 Tel:  (11)  3095 9400 email@pinheiros.sescsp.org.br


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.