Cultivar 184

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Cultivar Grandes Culturas • Ano XV • Nº 184 • Setembro 2014 • ISSN - 1516-358X Destaques

Nossa capa

Risco incessante.................................30

Wanderley Dias Guerra

O papel do vazio sanitário na luta sem trégua dos produtores de soja contra o pesadelo da ferrugem-asiática

Danos intensos..........................12 Alvo ampliado...........................34 Impactos da resistência...............46 Como manejar percevejos, insetos com potencial para sugar a rentabilidade das lavouras na ausência de medidas adequadas de manejo

A presença do fungo Corynespora cassiicola, comum em áreas de soja, em cultivos de algodoeiro

Índice

A eterna batalha travada por produtores e pesquisadores no combate a plantas daninhas resistentes

Expediente Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

Diretas

04

Cercosporiose e nutrição em café

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• Editor

Manejo de percevejos em soja

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• Redação

Alerta redobrado para o percevejo marrom

14

Pragas que atacam as raízes de soja

20

Solos e cobertura vegetal no plantio direto de soja

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Nossa capa - Vazio sanitário contra ferrugem-asiática 30 Mancha alvo em algodoeiro

34

Trichoderma e controle biológico

38

Manejo de plantas daninhas resistentes

46

Empresas - Viagem técnica Dow AgroSciences

49

Mancha de diplodia em milho

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Coluna ANPII

56

Coluna Agronegócios

57

Mercado Agrícola

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REDAÇÃO

• Vendas

Sedeli Feijó José Luis Alves

Gilvan Dutra Quevedo Karine Gobbi Rocheli Wachholz

Rithieli Barcelos

CIRCULAÇÃO

• Design Gráfico e Diagramação

• Coordenação

• Revisão

• Assinaturas

MARKETING E PUBLICIDADE

• Expedição

Cristiano Ceia

Simone Lopes Natália Rodrigues Clarissa Cardoso

Aline Partzsch de Almeida

• Coordenação

Edson Krause

Charles Ricardo Echer

GRÁFICA: Kunde Indústrias Gráficas Ltda. Grupo Cultivar de Publicações Ltda. CNPJ : 02783227/0001-86 Insc. Est. 093/0309480 Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Pelotas – RS • 96015-300 Diretor Newton Peter www.grupocultivar.com cultivar@grupocultivar.com Assinatura anual (11 edições*): R$ 204,90 (*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 22,00 Assinatura Internacional: US$ 150,00 Euros 130,00 Nossos Telefones: (53) • Geral 3028.2000 • Comercial: • Assinaturas: 3028.2065 3028.2070 3028.2066 • Redação: 3028.2067 3028.2060

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: cultivar@grupocultivar.com Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.


Diretas Congresso

Durante a IV edição do Congresso da Associação dos Distribuidores de Insumos Agropecuários (Andav), em agosto, em São Paulo, a Basf apresentou aos representantes das distribuidoras e revendas agrícolas de todo o país a nova campanha denominada “O Maior Trabalho da Terra”. “A ideia retrata a nova geração de agricultores, mais sofisticada e profissionalizada. Todas as ações têm foco na valorização do agricultor, na sustentabilidade e na sucessão da atividade agrícola”, ressaltou o diretor de Marketing da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf para o Oswaldo Marques Brasil, Oswaldo Marques.

Novos rumos

Elias Guidini foi nomeado gerente de Marketing de Cultivos para Negócios Sul da Basf, com destaque para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O executivo será responsável também pela definição de estratégia de marketing para as culturas de soja e arroz. Guidini exercerá atividades de marketing para campanhas de vendas, além de identificar, planejar e implementar ações necessárias para fomentar vendas do portfólio de produtos da marca. “A área sob minha responsabilidade é altamente tecnificada e sua produtividade é crescente. O principal desafio é colaborar com os agricultores oferecendo tecnologias que os auxiliem a aumentar a produtividade e rentabilidade”, explicou Guidini.

Nematoides

Elias Guidini

Evolução organizacional

Em continuidade às mudanças em sua estrutura de negócios, a Bayer CropScience anunciou novas alterações. Fernando Prudente assumirá a diretoria de Marketing Estratégico Algodão e Culturas Extensivas, com a missão de desenvolver toda a estratégia de proteção de cultivos, sementes, biotecnologia, genética da fibra e serviços especializados para as culturas de algodão, milho, arroz, trigo e feijão no Brasil. Estuardo Jara se encarregará da diretoria de Inovação e Portfólio, bem como do Portfólio de Produtos, identificando oportunidades de mercado e soluções para as necessidades de proteção de cultivos, além de gerenciar o ciclo de vida dos produtos, desde a criação de seu conceito até o momento de seu lançamento no mercado. Já Cristiano Figueiredo assumiu como desafio a diretoria de Negócios Cerrados Distribuição, com a meta de liderar e implementar a estratégia de negócios da empresa no Centro-Oeste brasileiro.

Fernando Prudente, Cristiano Figueiredo e Estuardo Jara

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Parceria

Durante a safra 2013/14, a Bayer CropScience colocou em prática o modelo de negócio em parceria com triticultores do norte do Paraná e a Biotrigo Genética, empresa nacional de melhoramento de trigo e desenvolvimento de cultivares. Chamado de Grão Premium, o projeto envolve o cultivo da variedade TBio Noble e o programa de manejo integrado Muito Mais Trigo, da Bayer. Com intuito de proteger todo o potencial produtivo da variedade a empresa posiciona o seu portfólio de defensivos, destacando o fungicida Fox no manejo das principais doenças que atacam a cultura. “O mercado busca por qualidade, características diferenciadas e segurança alimentar diante de uma assistência técnica aprimorada, envolvendo boas práticas e manejo recomendado”, ressaltou o gerente de Clientes da Bayer CropScience, Mário Rissi. Mário Rissi Segundo pesquisadores, os nematoides têm potencial para causar até 70% de danos no cultivo da soja. Diante desse cenário, a FMC Agricultural Solutions lança o novo nematicida/inseticida Rugby 200 CS aplicado com o sistema PulverEasy. O Rugby 200 CS aplicado no sulco de plantio promove a proteção do sistema radicular da soja. O gerente de Produtos para Tratamento de Sementes e Solo da FMC, Michel Nessrallah, explicou outros benefícios do produto. “A nova tecnologia permite uma aplicação eficaz no campo, com um rápido início do controle dos nematoides, flexível, pode ser aplicado nas mais variadas situações e manejos, conta com residual prolongado, protegendo a raiz da planta por um tempo muito superior aos tratamentos de sementes Michel Nessrallah utilizados atualmente”, destacou.

Novidades

A Arysta LifeScience apresentou as principais novidades da marca durante o Congresso da Andav. A empresa anunciou aos produtores de milho e trigo a aprovação da extensão do uso de Select 240EC no controle de plantas daninhas para aplicação em préplantio dessas duas culturas. Além disso, o inseticida Orthene 750 BR agora está disponível com nova formulação, batizada de “Tecnologia Maxi Performance”. E mantendo a mesma quantidade, o produto também está em embalagem menor, com redução de até 25% em relação à versão anterior. “O redimensionamento da embalagem permite ao produtor melhorar o rendimento logístico e de armazenamento do produto”, informou o coordenador de Produtos & Mercados da Arysta LifeScienSérgio Chidi ce, Sérgio Chidi.

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Cana

Marcos Couto Gaio assumiu a posição de diretor de Vendas para os segmentos de Cana-de-açúcar e Hortifrúti da FMC. No setor de agronegócio, já atua há mais de 25 anos com lideranças de projetos no Brasil e na América Latina. Gaio é graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Viçosa, pós-graduado em Marketing pela ESPM e possui MBA pela FGV/Ohio University. “Assumir esse novo desafio para atuar com a líder de mercado em cana é uma grande oportunidade profissional na minha carreira. Quero contribuir com a minha experiência para alcançar os resultados de Marcos Couto Gaio crescimento da FMC”, disse Gaio.

Aplicação Responsável

Entre abril e junho deste ano, 2.866 profissionais ligados às culturas de milho, soja e cana-de-açúcar foram capacitados pelo Programa de Aplicação Responsável da Dow AgroSciences. Em seu primeiro ano na cultura de cana-de-açúcar, o Programa realizou 48 treinamentos, somando 1.305 participantes, ou cerca de 45% do total de profissionais treinados em todo o programa nesse período. “Em 2014, temos como meta tornar acessíveis as tecnologias e boas práticas agrícolas ao maior número possível de profissionais ligados à aplicação”, ressaltou Ana Cristina Pinheiro, coordenadora de Boas Práticas Agrícolas da Dow AgroSciences.

Trigo

A Dow AgroSciences obteve o registro federal do herbicida Tricea, um pós-emergente seletivo para a cultura do trigo. “O produto é recomendado para o controle de plantas daninhas que comprometem a produtividade das lavouras. Entre os diferencias do produto está o amplo espectro de controle em pós-emergência, atuando em plantas daninhas tanto de folhas largas quanto de folhas estreitas e ainda com efeito residual no solo”, destacou o gerente de Marketing de Herbicidas da Dow AgroSciences, Marcus Fiorini. Tricea estará disponível nas redes distribuidoras Dow AgroSciences dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Na próxima safra de inverno, o produto poderá ser adquirido em todo o território nacional.

Participação

A Ihara participou do IV Congresso Andav, onde demonstrou suas soluções para o produtor, além de reforçar os serviços e os programas de distribuição com representantes do agronegócio. De acordo com o gerente de Marketing de Distribuição da Ihara, Alessandro Gazzinelli, o evento foi uma excelente oportunidade para estreitar ainda mais o relacionamento da empresa com seu público. “Nosso principal objetivo foi levar soluções por meio de novas tecnologias e serviços ao produtor, divulgando o nosso portfólio, já que o evento recebe representantes de todo o Alessandro Gazzinelli país”, disse Gazzinelli.

Ana Cristina Pinheiro

Fitopatologistas

Nos dias 31 de julho e 1º de agosto a UPL realizou a Reunião do Eagle Team, com participação de renomados fitopatologistas. Com o intuito de encontrar melhores alternativas para o manejo de fungicidas, com prevenção de resistência, o encontro teve por objetivo entender as particularidades do desenvolvimento dos fungos e discutir estratégias para que causem o menor dano possível nos grandes cultivos. “A população está cada vez mais exigente, quer consumir mais e, cada vez, com mais qualidade. Para acompanhar esse processo, o agricultor precisa aumentar sua produção e, por consequência, evitar prejuízo”, opinou o gerente de Marketing da UPL, Gilson Oliveira. A expectativa é trabalhar com as informações levantadas, mapeando o cenário regional brasileiro, a fim de possibilitar ao produtor menores índices de doenças nas culturas e proporcionar o aumento do rendimento de grãos.

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Marcus Fiorini

Colheita Farta

A DuPont Brasil Proteção de Cultivos divulgou, em evento realizado na cidade do Rio de Janeiro, a relação dos vencedores do Programa DuPont Colheita Farta Safra 2013/14. O projeto premia anualmente, por região, os sojicultores que obtêm os melhores índices de produtividade atrelados ao manejo químico preventivo da ferrugem asiática. O gerente de Produtos Fungicidas da DuPont Proteção de Cultivos, Maxwell Borges, informou os nomes dos campeões: Alexandre Seitz, de Guarapuava (PR), foi o primeiro colocado, seguido por Paulo Sérgio Ferrari, de Campo Mourão (PR), e pelos sócios Massaru Hachiya e João Hachiya, de Bonfinópolis de Minas (MG). Seitz colheu 99,80 sacas/ha; Paulo Sérgio chegou a 90,54 sacas/ha e os sócios Hachiya a 85,60 sacas/ha.

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Café

Antiga e atual Fotos Eugênio Chaves

Velha conhecida dos produtores de café a cercosporiose é uma vilã agressiva, que provoca sérios prejuízos. Entre as estratégias para enfrentá-la está o manejo adequado da nutrição mineral para constituir e aumentar as barreiras de resistência à doença

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cafeeiro destaca-se no cenário nacional, sendo o Brasil o maior produtor e exportador mundial, com área plantada (espécies Arábica e Conilon) de 2.282.619 hectares, contribuindo tanto no cenário social quanto econômico de vários municípios brasileiros. Apesar dessa importância, o cafeeiro sofre inúmeras perdas, causadas principalmente por doenças, pragas, déficit hídrico e deficiências nutricionais. Entre as doenças presentes na cafeicultura está a cercosporiose, causada pelo fungo Cercospora coffeicola, uma das principais e mais antigas doenças conhecidas do cafeeiro. Pode ocorrer tanto no viveiro quanto no campo. No viveiro de mudas, a doença é favorecida por regas diárias, por excesso de adubação com K e por falta de Ca, devido à ausência de calagem no substrato. As mudas apresentam desfolha intensa, tornando-se raquíticas e impróprias para o plantio. Nas folhas, os sintomas são de manchas circulares de coloração castanhoclara a escura, com centro branco-acinzentado, quase sempre envolvidas por um halo amarelado. Além dos sintomas nas folhas, nas plantas em produção a doença pode ocorrer nos frutos, cujos os sintomas são pequenas manchas necróticas e deprimidas, de cor marrom a negra. Quando a doença ocorre nos frutos, acarreta a queda precoce, a maturação é acelerada, aumenta o número de grãos chochos e ocorre a aderência da polpa ao pergaminho, dificultando a despolpa e causando prejuízos ao agricultor, além de reduzir a qualidade da bebida. A intensidade dos sintomas da doença, bem como as variáveis fisiológicas da planta, pode ser influenciada por fatores como temperatura, molhamento foliar, intensidade luminosa, oferta de água, fertilidade do solo e desequilíbrio nutricional. Os nutrientes minerais exercem funções específicas no metabolismo vegetal, afetando, assim, seu crescimento e sua produção. Além disso, a nutrição mineral pode promover modificações morfológicas ou químicas que aumentam ou reduzem a


O potássio (K) é um dos nutrientes de maior importância para a cultura do cafeeiro, sendo o segundo elemento mais exigido pela cultura. Plantas deficientes em K tornam-se mais suscetíveis à doença devido à função metabólica desempenhada por este elemento. O potássio ativa enzimas, que atuam na fotossíntese e na respiração, auxilia na formação de aminoácidos e açúcares, atua na absorção celular, regula a abertura e o fechamento dos estômatos, além de estar envolvido no transporte de carboidratos para os frutos e outros órgãos do cafeeiro, sendo capaz de contribuir com a resistência das plantas a doenças, pragas e veranicos. Em geral, a nutrição adequada em potássio resulta em menor incidência de doenças devido ao aumento da resistência à penetração e à colonização de patógenos. Atingido o suprimento ótimo de potássio para o crescimento das plantas, não há mais incremento na resistência com o aumento de doses. Acima da dose de equilíbrio, em trabalhos com solução nutritiva e no campo, observou-se aumento na cercosporiose provavelmente devido à competição do K+ com os cátions Ca2+ e Mg2+. Essa competição pela absorção dos cátions ocasionou em desordem nutricional, reduziu a espessura da cutícula e da parede celular e favoreceu a penetração de C. coffeicola. Algumas práticas de manejo de fertilização potássica, como a utilização de cultivares eficientes na absorção de potássio, a utilização de métodos de aplicação adequados, com maior número de parcelamentos, sempre de acordo com análise de solo e folhas, além da adequação da umidade do solo, seja por irrigação ou cobertura morta, e também o fornecimento de Ca e Mg por meio de calagem, podem auxiliar no controle da cercosporiose. Tanto no campo quanto no viveiro, muitas vezes é comum encontrar excesso de K sem a devida calagem. Essa última, essencial tanto para aumentar o pH quanto para fornecer os íons Ca e Mg, fundamentais em processos de resistência e também para a fotossíntese e respiração, pode também

resistência das plantas às doenças, como as alterações nas paredes das células da epiderme, tornando-as mais grossas, com maior acúmulo de celulose e lignina e ainda mais resistentes, bem como alterar a composição química e a síntese de compostos fenólicos. Para expressar a resistência é necessário não somente ter o material ou a semente de variedades resistentes, mas fornecer condições ambientais necessárias à formação das barreiras contra o patógeno, como exemplo, a água e os nutrientes em equilíbrio. Frequentemente, o controle da cercosporiose baseia-se no uso de fungicidas protetores e sistêmicos, no entanto, uma prática alternativa ou capaz de maximizar a resistência, reduzir o impacto ambiental e aumentar a sustentabilidade financeira é manejar a nutrição mineral para constituir e aumentar as barreiras de resistência à doença. Quando a nutrição é balanceada, células epidérmicas lignificadas e com cutícula espessa são formadas, servindo como barreira física, evitando a penetração das hifas. Ocorre o melhor controle na permeabilidade da membrana citoplasmática, evitando a saída de açúcares e aminoácidos para os espaços intercelulares, capazes de nutrir os patógenos. Além da formação de compostos fenólicos, com distintas propriedades fungistáticas, ou seja, os benefícios da nutrição mineral balanceada são muitos. Portanto, os nutrientes minerais, macro e micronutrientes, exercem forte influência na incidência e na severidade de doenças e esta influência depende das funções que cada elemento desempenha no metabolismo e nos mecanismos naturais de defesa das plantas. Em viveiros, a utilização de substratos pobres em matéria orgânica,

com desequilíbrio de nutrientes, pode predispor as mudas à cercosporiose. Baixas dosagens de nitrogênio e altas de potássio, sem a presença do cálcio, proporcionam aumento na severidade da cercosporiose e consequentemente maior desfolha do cafeeiro. Ou seja, o conhecimento dos efeitos dos nutrientes minerais sobre a suscetibilidade do cafeeiro à cercosporiose pode auxiliar na elaboração de estratégias de manejo. O nitrogênio (N) é o nutriente mineral mais abundante na matéria seca das plantas e é responsável por promover o crescimento vigoroso da planta, sendo essencial para a produção de aminoácidos, proteínas, hormônios de crescimento, fitoalexinas e fenóis. Em condições de deficiência, pode tornar a planta debilitada, levando ao crescimento mais lento. Entretanto, seu uso em doses excessivas resulta na produção de tecidos jovens e suculentos, além de prolongar o estádio vegetativo e/ ou retardar a maturidade da planta. Logo, doses excessivas ou deficientes criam condições favoráveis ao ataque de patógenos. No caso da cercosporiose do cafeeiro, o aumento das doses de N, até o máximo recomendado, ao contrário do que ocorre com outras doenças, reduz a sua intensidade. Além disso, o momento de aplicação do adubo, o seu maior parcelamento, a dose utilizada, a fonte de N usado, o tipo de solo e a interação de tais fatores podem influenciar no aumento ou na redução da doença. Uma estratégia seria a programação de uma adubação balanceada com quantidade suficiente para o crescimento adequado da planta, evitando períodos de excesso, perda ou condições ambientais favoráveis ao patógeno.

Edson Ampélio Pozza

Sintomas da cercosporiose em frutos do cafeeiro

Área onde não houve adubação balanceada, com excesso de K e deficiência de Ca

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Edson Ampélio Pozza

Mudas com adubação equilibrada de cálcio e potássio (esquerda). À direita, mudas sem adubação com cálcio no solo, resultando em intensa desfolha pela cercosporiose

que não ocorra a competição do cálcio com o potássio e o magnésio e, também, indisponibilização de micronutrientes devido à calagem em excesso. O conteúdo de fósforo (P) no cafeeiro e no solo é relativamente baixo, mas doses excessivas de fertilizantes fosfatados são utilizadas nas covas e nos sulcos de plantio da cultura. A resposta das plantas à nutrição fosfatada no estádio inicial de crescimento e de desenvolvimento pode estar relacionada ao papel do P na síntese de proteínas e reações enzimáticas, por constituir proteínas necessárias à divisão celular, atuar no processo de absorção iônica, transferência de energia, além de ter grande influência sobre o desenvol-

Eugênio Chaves, Marília Goulart da Silva, Edson Ampélio Pozza e Adélia Aziz Alexandre Pozza, Universidade Federal de Lavras

Fotos Eugênio Chaves

reduzir a toxidez por alumínio e aumentar a CTC (t) do solo. O cálcio (Ca) é constituinte essencial da parede celular da planta. A deficiência de Ca acarreta em parede celular fina e com menor rigidez, tornando a planta vulnerável ao patógeno. Ca é utilizado na síntese de novas paredes celulares na lamela média, bem como na divisão celular. Trabalhos realizados na Universidade Federal de Lavras mostraram que com o aumento das doses de cálcio em solução nutritiva e no campo, até o ideal e com equilíbrio na solução do solo, houve redução na área abaixo da curva de progresso da incidência da cercosporiose. No campo devem-se aplicar doses equilibradas para

vimento do sistema radicular. No solo, o fósforo pode reduzir a oferta de ferro, manganês, zinco e cálcio, elementos que estão envolvidos no mecanismo de resistência das plantas às doenças. Com isso, indiretamente, o excesso de fósforo pode afetar a sanidade de mudas. Outro elemento, cujo teor na planta é afetado por doenças, é o magnésio (Mg). As plantas absorvem magnésio na forma de Mg 2+ e a principal função deste macronutriente é a ativação de enzimas, cofator enzimático e também como componente da molécula de clorofila. Com isso, o magnésio pode afetar o tamanho, a estrutura e a função dos cloroplastos, sendo, portanto, essencial nos processos de fotossíntese, respiração e síntese de compostos orgânicos. O ataque do fungo Cercospora coffeicola está relacionado à nutrição mineral das plantas, ou seja, plantas mais debilitadas, pela falta de nutrição ou excesso de produção, são os maiores alvos da doença. Por essa razão, é extremamente importante que as lavouras cafeeiras sejam bem formadas e conduzidas, além de adubadas de acordo com a recomendação da análise de solo, foliares, sua carga pendente, oferta de água e seguindo as características do solo. A maior parte dos programas de tratamento fitossanitário para a cultura do cafeeiro já inclui o controle preventivo da doença. Consequentemente, reduz as aplicações de defensivos agrícolas, o impacto ambiental e aumenta a sustentaC bilidade da lavoura.

À esquerda, folha com sintoma de ferro, apresentando clorose internerval em folhas novas (rede fina das nervuras sobre fundo amarelado). À direita, folhas com sintomas característicos de deficiência de zinco (ramos curtos, folhas com tamanho reduzido e entrenós curtos)

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Soja

Danos intensos Cecilia Czepack

Ataques de percevejos em grãos, vagens, ramos, hastes e em sementes levam severos prejuízos aos produtores de soja. O monitoramento destes insetos antes da adoção do controle químico é tarefa essencial para que o manejo seja realizado de modo adequado e sustentável

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as diferentes regiões produtoras de soja ocorre um complexo de espécies de percevejos, sendo que Euschistus heros, Piezodorus guildinii e Nezara viridula são consideradas as mais importantes. A predominância de uma dessas espécies varia em função do local, do clima das cultivares e do estágio e desenvolvimento da cultura. Da mesma forma a extensão dos danos depende, entre outros fatores, do estágio de desenvolvimento das plantas durante o período de infestação, visto que ocorrem desde a fase vegetativa. Dentre os percevejos, a espécie Euschistus heros se destaca com populações superiores no Cerrado. Essa espécie é nativa da América Tropical e está bem adaptada aos climas mais quentes, sendo abundante no Centro-Oeste do Brasil. E. heros é o menos polífago dentre os percevejos da soja. Durante a safra, podem ocorrer até três gerações, que se alimentam também de leiteiro, algodoeiro e mamona, por exemplo. Após a colheita da soja, busca talhões mais tardios ou abrigos, onde se alimenta destas e de outras plantas hospedeiras. Completa a quarta geração e entra em dormência (diapausa) na palhada da cultura

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anterior ou nas suas proximidades, onde se protege da ação de parasitoides e predadores. Nesse período não se alimenta e consegue sobreviver graças às reservas de gorduras que foram armazenadas antes da diapausa. Esta espécie é uma das que menos migram entre as ocorrentes na cultura da soja.

Danos causados pelos percevejos

Como outros percevejos fitófagos, E. heros é, em geral, responsável por reduções no rendimento e na qualidade das sementes, em consequência dos danos causados pelas picadas em si, bem como pela inoculação de patógenos, como o fungo Nematospora corylii. Este fungo é uma levedura que pode causar a deterioração das sementes, semelhante ao ataque de bactérias. No campo, os grãos atacados ficam menores, enrugados, chochos e tornam-se mais escuros. A má-formação das vagens e dos grãos provoca a retenção foliar nas plantas de soja, que não amadurecem na época da colheita. Por isso, o complexo de percevejos representa alto risco à produtividade da soja. Podem causar danos irreversíveis à cultura, alimentando-se diretamente dos grãos desde o início da sua formação nas vagens.

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Os percevejos sugam a seiva nos ramos, hastes ou vagens, injetam toxinas e/ou inoculam fungos que provocam manchas nos grãos. Quando sugam ramos, causam a “retenção foliar” (onde não há maturação fisiológica das folhas e/ou hastes, enquanto as vagens maturam). Este sintoma pode ser causado por todas as espécies de percevejos. Esta retenção foliar parece, possivelmente, estar associada ao desequilíbrio do ácido indolacético (AIA) na planta, decorrente da sucção causada pelos insetos. Entre as espécies, e com a mesma densidade populacional, é nítida uma maior retenção foliar causada pelo ataque de P. guildinii, enquanto E. heros é a espécie que causa a menor retenção. As plantas com retenção foliar apresentam folhas e hastes verdes em intensidades variáveis e, normalmente, demonstram um grande número de vagens com grão chocho que, dependendo da intensidade do ataque, podem apresentar todas as vagens chochas. Devido a esse intenso desequilíbrio, a planta continua verde, tentando repor a carga perdida. Quando o ataque dos percevejos ocorre nas vagens, as perdas podem atingir valores superiores a 30%. Quando atacam vagens em formação, podem causar o surgimento de vagens chochas, secas e/ou sem a formação de grãos e, em decorrência disso, as vagens secam e se tornam marrons. Se o ataque ocorrer nas vagens em fase de granação, podem aparecer deformações, murchamentos e manchas nos grãos. Neste caso, os grãos podem perder o valor para a comercialização, por terem o teor de óleo reduzido. As perdas no poder germinativo das sementes podem ultrapassar 50%, além de terem queda no vigor. Segundo Fraga & Ochoa (1972) em legumes menos desenvolvidos, o conteúdo das sementes pode ser totalmente sugado, resultando em sementes chochas e achatadas, reduzidas a uma lâmina. O ataque durante a fase de desenvolvimento resulta em sementes pequenas, enrugadas e deformadas, podendo-se visualizar as manchas características na área da punctura. Na fase em que a soja encontra-se com sementes formadas, mas ainda com elevado teor de água, as manchas ocasionadas pela alimentação são bem características, no entanto, o enrugamento é menos pronunciado (Turner, 1967). Quando o ataque dos percevejos se dá nos grãos, ocorre perda na qualidade e também das sementes, principalmente pela inoculação do fungo Nematospora corylii, que causa a mancha-de-levedura, também conhecida como mancha-de-fermento. Estas manchas nos grãos, no entanto, são causadas especialmente por Nezara viridula e Piezodorus guildinii, e são menos comuns em ataques de E. heros. O efeito da alimentação por sugadores de sementes, quer seja econômico (redução da produtividade da cultura no campo) ou eco-


Figura 1 - Dinâmica da população de percevejos na cultura da soja

dos estes horários para as amostragens. As amostragens devem ter maior intensidade nas bordaduras da lavoura onde, em geral, os percevejos começam seu ataque. Em função do uso de cultivares de soja pertencentes a diferentes grupos de maturação, as primeiras lavouras colhidas servem de fonte de infestação de percevejos para as lavouras vizinhas e, por isso, as cultivares mais tardias, que ainda estão desenvolvendo vagens e grãos, devem ser levadas em consideração. Sendo assim, recomenda-se muita atenção com essas lavouras de período tardio, pois a intensa e rápida migração dos insetos pode causar danos irreversíveis à soja.

Controle

lógico (redução da aptidão da planta), resulta em morte dos embriões e enfraquecimento das sementes e, consequentemente, diminui sua viabilidade, a germinação e o vigor. Da mesma forma, ocorrem reduções no número de sementes produzidas pela planta, alteração na composição química e introdução de patógenos. As sementes de soja têm viabilidade reduzida proporcionalmente à extensão do dano, conforme afirmam Galileo & Heinrichis (1978). O teste de tetrazólio, além de avaliar a viabilidade e o vigor dos lotes de semente, fornece o diagnóstico das causas pela redução da qualidade, como danos mecânicos, deterioração por umidade e danos de percevejos, que são os principais problemas que afetam a qualidade fisiológica da semente de soja. Porém, além desses, os danos de secagem, de estresse hídrico e de geada podem também ser facilmente visualizados pelo teste (Costa et al, 2007). A porcentagem de danos de percevejo é dada pela classe TZ1-8. A classe TZ 4-5 mostra sementes de soja viáveis e a classe TZ 6-8 para sementes inviabilizadas, isto é, que são mortas pela ação da picada do percevejo, sementes de soja viáveis. Em estudo realizado comparando diferentes cultivares de soja e grupos de maturação, os resultados referentes ao teste de tetrazólio mostraram que os percevejos presentes na área sem controle toruxeram dano total às sementes (TZ 1-8); para a classe TZ 4-5 a diferença entre a área tratada e a não tratada foi inferior. Para a classe TZ 6-8 a porcentagem de sementes mortas foi superior na área sem controle de percevejos. No entanto, nessa classe observou-se um aumento na porcentagem nos materiais dos grupos de maturação médio e tardio, pelo fato de estarem mais expostos a uma população superior e por mais tempo. Os dados deste trabalho confirmam que a

intensidade dos danos está correlacionada com a população de insetos, com o grupo de maturação dos materiais e com o manejo de pragas. Do total de danos causados por percevejos, os mais prejudiciais são aqueles localizados próximos ou na região embrionária, que também inviabilizam a utilização do grão para semente (Gazzoni 1998). Em suma, os percevejos causam danos à soja pela redução da produtividade por efeitos nas vagens e/ou grãos, pelas reduções do poder germinativo e vigor das sementes, pelas reduções nos teores de proteínas e óleos dos grãos e ainda pela inoculação de patógenos nas sementes. Além disso, por promoverem a retenção foliar no final do ciclo da soja, o que, geralmente, leva a um maior uso de dessecantes.

Nível de controle

Níveis de controle indicados para os percevejos da soja, atualmente, com o objetivo de controle químico: a) campos de produção de grãos = 2 percevejos/metro da cultura; b) campos de produção de sementes = 1 percevejo/metro da cultura. As amostragens são realizadas com uso do pano de batida em um metro linear de fileira de plantas (pano de batida 1m x 1m) Durante horas mais quentes do dia (entre 10h e 16h) estes insetos não são facilmente localizáveis no campo, devendo ser evita-

A implementação de até três pulverizações de inseticidas nas bordaduras (150m a 200m de largura, durante a fase vegetativa) tem sido útil para controlar os percevejos migrantes, especialmente em cultivares tardias, antes que estes insetos estabeleçam gerações capazes de causar danos acentuados. Inclusive, trata-se de uma técnica muito seletiva aos inimigos naturais, já que a área é pulverizada parcialmente. A pulverização de bordaduras é eficiente se o ataque da praga ainda não está generalizado por toda a lavoura, o que pode ser diagnosticado nas amostragens. Outro momento importante é realizar o controle na fase compreendida entre R2 e R5.1, se a praga estiver presente em níveis populacionais consideráveis. Esta tem sido uma prática muito eficaz para prevenir danos econômicos e grandes surtos de percevejos no final de safra. Surtos que, muitas vezes, têm levado os produtores a fazer aplicações sucessivas para controlar a praga, às vezes três ou quatro delas e, mesmo assim, tendo danos. Outro aspecto a se considerar é a diminuição das populações de final de safra, onde atingem o pico populacional e costumam migrar para outras áreas ou servir de sobreviventes na região, tornando-a muito infestada. Logicamente, as aplicações de final de safra devem ser criteriosamente baseadas em amostragens, levando em conta as restrições quanto ao intervalo de segurança (carência) do agroquímico C utilizado (Figura 1). Lucia M. Vivan, Fundação MT

Figura 2 - Sementes de soja, com problemas de lesões de danos de percevejo identificados pelo teste de tetrazólio, submetidas ao período de pré-condicionamento de 6 horas/41ºC. Londrina (PR), 2007. (Costa et al, 2007)

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Soja Cecilia Czepack

Alerta redobrado

Em uma conjuntura que integra expansão da soja, aumento de cultivos de segunda safra e crescimento do uso de variedades precoces, maior atenção precisa ser dispensada em relação ao manejo de pragas. É o caso do percevejo marrom, inseto com alto potencial de danos

O

Brasil é um dos maiores produtores de grãos no mundo, cuja produção aumentou rapidamente nos últimos 30 anos, atingindo, na última safra, a produção de 87 milhões de toneladas de soja em 30 milhões de hectares e 75 milhões de toneladas de milho em 15 milhões de hectares. O cultivo da soja, nesse período, melhorou consideravelmente com o aporte de tecnologias adaptadas à região do Cerrado brasileiro, atingindo produtividade média ao redor de 3.000kg/ha. O ganho com tecnologia, em parte, se deu com a adoção do Sistema de Plantio Direto, maquinário de melhor desem-

penho e, principalmente, pela utilização de novas cultivares, entre outros. Em razão da importância da cultura da soja no agronegócio, que representa cerca de um quarto do PIB nacional, qualquer que seja a ação nesse sistema assume grau de importância nesse cenário. Assim sendo, qualquer perda no sistema agrícola é de fundamental importância econômica no agronegócio brasileiro. Em particular, em algumas regiões agrícolas a importância da soja é grande, como no Cerrado brasileiro, onde representa a base da economia. A expansão da soja, bem como o aumento das culturas em segunda safra, prin-

Figura 1 - Rendimento de grãos das principais culturas

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cipalmente o milho em safrinha, tem gerado ambiente propício para perdas significativas ao produtor. Dentre as perdas na cultura da soja os prejuízos por insetos-pragas podem alcançar valores significativos ao país. Um fenômeno crescente na cultura da soja é a utilização cada vez maior de soja precoce, com destaque para promissoras variedades de ciclo ao redor de 100 dias. Dessa maneira, o foco é favorecer a semeadura antecipada para melhorar as condições para a segunda safra (safrinha) nas regiões produtoras. A semeadura antecipada tem proporcionado melhor rentabilidade do sistema e favorecido

Figura 2 - Variação temporal da área ocupada pelas culturas na região de Rio Verde

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a diversificação nas culturas da segunda safra, como milho, feijão, algodão, girassol. Nesse sistema sucessivo se observa a ocorrência mais intensa de pragas comuns às culturas. No entanto, é importante salientar que a lucratividade com duas safras sucessivas ocorre pela diluição dos custos fixos, da otimização do solo, máquinas e mão de obra e entrada antecipada do grão quando os preços estão melhores. Outro aspecto interessante na utilização de cultivares precoces é o pico de ocorrência de pragas foliares quando a planta já estaria mais desenvolvida. Em variedades precoces pressupõe-se que o nível de dano seja menor em comparação com variedades mais tardias. Nesse contexto, o manejo de pragas passa a ter maior importância. Nos recentes anos tem sido observada a presença de percevejos na cultura da soja preferencialmente nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Portanto, materiais de ciclo mais tardio ou semeados a partir de novembro estão mais sujeitos ao ataque de percevejos, pois essa maior infestação estaria atacando a cultura no estádio vegetativo R3. Relativo às pragas na cultura da soja, os percevejos pentatomídeos são os que causam mais perdas. Os danos podem ocorrer diretamente nos grãos, reduzindo o peso e o tamanho. Indiretamente afetam a qualidade

Figura 3 - Germinação e sintoma do ataque do percevejo marrom em sementes e vagens de soja. Rio Verde, 2014

sanitária e fisiológica, causando aborto de grãos e vagens e reduz o poder germinativo no caso de lavouras para semente. O ataque de percevejos também pode gerar condições para a transmissão de doenças às sementes de soja. Ao se alimentarem, esses insetos injetam enzimas digestivas e leveduras que colonizam os tecidos das sementes, causando distúrbios necróticos que podem gerar redução na porcentagem da germinação e do vigor da plântula. Os sintomas desses ataques de percevejos são detectados em laboratório no teste de tetrazólio. Esses danos são cumulativos durante o período de formação das vagens e enchimento de grãos, portanto, a

partir de R3. Assim sendo, o simples fato de reduzir a população de percevejos não elimina totalmente os problemas de alta infestação inicial desses insetos. Outra característica do ataque de percevejos que afeta a qualidade do grão (colheita) é a retenção foliar de soja (soja louca), que ocorre quando as vagens estão maduras, mas as folhas ficam verdes e não caem. Dessa maneira, no aspecto de peso gerará perdas no rendimento final ao produtor e, indiretamente, afetará as condições para armazenamento, aumentando o custo pelo desconto “padrão” na recepção do armazém. O dano provocado por percevejos afetaria a fisiologia da semente (porcentagem


Figura 4 - Regressão da germinação, porcentagem de sementes picadas por percevejo e Figura 5 - Agroquímicos utilizados pelos produtores no controle de pragas na cultura da soja porcentagem de sementes inviabilizadas pelo dano de percevejos, a partir de R3, em níveis na região Sudoeste de Goiás de infestação 0, 2, 4 e 6 percevejos por metro. Rio Verde-GO, 2013.

de emergência e vigor), o que geraria inviabilização de campos de sementes. Várias espécies de percevejos são consideradas pragas na cultura da soja no Brasil, sendo três as principais: o percevejo verde pequeno (Piezodorus guildinii), o percevejo verde (Nezara viridula) e o percevejo marrom (Euschistus heros). O Percevejo-marrom-dasoja ocorre mais frequentemente nas regiões produtoras de soja, embora o percevejo verde pequeno tenha maior potencial em causar danos à soja. Devido às características de comportamento do inseto, à dificuldade de controle e aos crescentes danos causados, o manejo dos percevejos tem levantado questionamentos no que se refere ao seu nível e momento de controle. Tem sido subestimados os danos causados por essas pragas. Nessa dificuldade de controle, tem sido observado o aumento da quantidade de ingredientes ativos no manejo da praga, principalmente a utilização de piretroides e neonicotinoides em detrimento dos organofosforados. No rendimento da soja, atenção deve ser dada aos componentes de produção. Os três componentes de produção são: quantidade de legumes, por unidade de área, quantidade

de grãos por legume e peso médio de grãos. A quantidade de legumes é estabelecida a partir de R3, influenciada pela quantidade de flores e nós. A quantidade de grãos no legume (três, em média) e o peso médio do grão é característica de forte apelo varietal e por condições ambientais. Desses componentes, então, o mais importante para o agricultor é a quantidade de legumes fixados com três grãos, pois algumas variedades podem abortar mais de 50% das flores e ainda compensar o rendimento de grãos. Portanto, cabe ao agricultor preservar o legume na planta, passando pelo controle de percevejos na cultura, principalmente legumes na região proximal ou adoção de semeadura antecipada. A severidade da injúria provocada por percevejo depende, entre outros aspectos, do tempo de exposição, do período de início do ataque a partir de R3 e da idade do percevejo. Em experimentos realizados nas duas últimas safras pode-se ratificar esses conceitos, porém, com danos mais intensos quando a planta permaneceu sob infestação constante. Os danos por percevejos, em população constante, alcançaram perda ao redor de 500kg/ha por inseto em infestação de um

por metro, a partir de R3 no ano agrícola 2011/12. O dano foi menor no ano seguinte, cerca de 400kg/ha. A partir de R5 a perda no rendimento de grãos ainda foi significativa, variando de 200kg/ha a 400kg/ha. A partir de R6 houve perda próxima de 90kg/ha em 2011/12 e não ocorreu prejuízo em 2012/13. Deve-se salientar que a infestação foi constante a partir da infestação inicial. Em razão do alto potencial de danos do percevejo marrom, maior atenção deve ser dispensada ao seu manejo e mais dados analisados, principalmente em variedades precoces. A utilização de variedades precoces está se generalizando em todas as regiões do Cerrado e é uma tendência o aumento de áreas com soja de ciclo ao redor de 100 dias. E o que se observa também são variedades mais dependentes de inseticidas. Nessas variedades torna-se imperativo a manutenção das vagens na planta para ganhos de produtividade no C negócio. Márcio Fernandes Peixoto LaborEnto - IFGoiano/Rio Verde Simone Borges Ferreira, Ag. Goiana de Assist. Téc. Ext. Rural e Pesq. Agropec. - Emater

Figura 6 - Rendimento de grãos em razão de infestações constantes, 0, 2, 4 e 6 de percevejos marrom/m a partir de três estádios fenológicos, R3, R5 e R6, em dois anos agrícolas, 2011/12 A) e 2012/13 (B) na região de Rio Verde (GO)

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Soja

Mal pela raiz

Charles M. Oliveira

Corós, larvas e percevejo castanho-da-raiz estão entre os insetos subterrâneos que atingem a soja e afetam os nódulos de fixação biológica de nitrogênio, o estabelecimento do estande, o vigor e o desenvolvimento das plantas e, consequentemente, a produtividade da cultura. Para que o manejo dessas pragas seja efetivo é necessário fazer o monitoramento preciso antes mesmo da instalação da lavoura, com o objetivo de adotar táticas de controle preventivas

A

s plantas de soja podem ser atacadas por pragas desde a germinação das sementes e emergência das plantas até a sua fase de maturação fisiológica, sendo esses organismos maléficos constituídos por insetos, moluscos, diplópodes e ácaros. Essas pragas são classificadas como de importância primária, regional ou secundária, em função da sua frequência de ocorrência, abrangência e do potencial de danos que podem causar na cultura. Os problemas se iniciam com a presença de lagartas na cobertura a ser dessecada e os insetos de solo, seguidos pelas pragas de superfície que atacam especialmente as plântulas. Em seguida vem os besouros e as lagartas, que se alimentam de folhas, flores e até mesmo de vagens e, finalmente, os su-

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gadores e as brocas, que atacam as folhas, as vagens ou os grãos em formação. As pragas que atacam as raízes da soja são normalmente insetos subterrâneos pertencentes a diferentes grupos, sendo Coleoptera e Hemiptera as duas principais ordens que abrangem este complexo de organismos. Este grupo de pragas apresenta, normalmente, uma forte associação com o solo onde ocorre e pode destruir as raízes da soja ou até mesmo os nódulos de fixação biológica de nitrogênio; também afeta negativamente o estabelecimento do estande, o vigor e o desenvolvimento das plantas e, consequentemente, a produtividade da cultura. Dentre as pragas que atacam as raízes da soja na região Centro-Oeste, destacam-se as

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larvas subterrâneas rizófagas de besouros melolontídeos, também denominados de corós, bicho-bolo ou pão-de-galinha e os percevejos castanho–da-raiz, os quais, embora possam ocorrer durante todo o ciclo da cultura, causam danos mais severos nos estádios iniciais de desenvolvimento das plantas. Essas duas pragas apresentam normalmente hábitos alimentares polífagos, ou seja, que se alimentam de várias espécies de plantas, sejam elas cultivadas ou não.

Corós rizófagos

Corós rizófagos são larvas de coleópteros da família Melolonthidae que apresentam coloração branca no corpo, três pares de pernas torácicas e se posicionam no formato


Embrapa

C

Figura 1 - Danos de corós na cultura da soja

no perfil do solo, não mais se alimentam e apresentam baixa mobilidade. O coró-da-soja-do-cerrado, Phyllophaga capillata (Figura 3), é outra espécie que tem sido constatada causando danos na cultura da soja no Distrito Federal e em Goiás. A postura do inseto ocorre dentro de uma câmara construída pela fêmea no solo, sendo suas larvas ativas no início da estação chuvosa, em outubro, persistindo até o mês de março. A partir do mês de abril, a larva cessa sua alimentação e constrói uma câmara pupal, onde entra em diapausa, permanecendo nesta condição até os meses de junho a julho, quando se transforma em pupa. Em setembro o adulto sai do solo, acasala-se e oviposita, iniciando-se um novo ciclo. Nos estados de Goiás e Mato Grosso tam-

bém está constatada a espécie de coró Liogenys fuscus (Figura 4), que vem sendo estudada desde a safra 2002/03, quando causou perdas de 50% a 100% nas lavouras de soja. Estes insetos, após completarem seu ciclo, os adultos saem do solo entrando em revoada nos meses de setembro e outubro, coincidentemente com as primeiras chuvas da região. A fase larval apresenta três instares, sendo os dois últimos mais prejudiciais ao sistema radicular das plantas. Após a semeadura da soja, que ocorre normalmente nos meses de outubro a novembro, observa-se no solo maior proporção de larvas de 1o, 2o e em menor quantidade as do 3o instar. Semeaduras tardias ou em “safrinha” tendem a sofrer maiores danos, uma vez que há predomínio de larvas de 2o e 3o instares que são mais vorazes. As larvas de Lucia Vivan

A

Charles M. Oliveira

Embrapa

de U, quando em repouso. Várias espécies de corós se desenvolvem no solo, porém, apenas uma pequena porcentagem desses organismos causa danos nos cultivos agrícolas, podendo ocorrer tanto no sistema de plantio direto como no convencional. Os danos de corós na soja (Figura 1) são causados pelo consumo de raízes ou até mesmo dos nódulos de fixação biológica de nitrogênio, acarretando-se redução na capacidade das plantas de absorver água e nutrientes, ingredientes esses essenciais para o seu desenvolvimento. Essa intensidade de danos é maior em plantas jovens de soja, cultivadas em solo de baixa fertilidade, com camadas adensadas e em condições de déficit hídrico. As plantas atacadas por corós apresentam inicialmente desenvolvimento retardado, seguido por amarelecimento, murcha e morte, podendo esses sintomas ocorrer em grandes reboleiras distribuídas irregularmente nas lavouras. Em condições de alta infestação de corós no solo, pode ocorrer até 100% de perda da lavoura, especialmente quando a presença de larvas mais desenvolvidas coincide com a fase inicial de desenvolvimento das plantas. O coró-da-soja, Phyllophaga cuyabana (Figura 2) é uma espécie que apresenta uma geração/ano (univoltine) e que tradicionalmente ocorre nas lavouras de soja do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. A revoada de adultos desta espécie se dá durante os meses de outubro e dezembro. Após o acasalamento, os ovos são colocados no solo, onde se concretiza o completo desenvolvimento das fases imaturas do inseto. As larvas apresentam três estágios de desenvolvimento (instares) e, no final do terceiro estágio, passam por um período de diapausa, quando se aprofundam

B

Figura 2 - Adulto (A) e larva (B) de Phyllophaga cuyabana

Figura 3 - Larva de Phyllophaga capillata

Figura 4 - Adulto de Liogenys fusca

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Embrapa

Figura 5 - Adulto de Cyclocephala forsteri

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e se alimenta de restos vegetais em processo de decomposição. Na verdade são reconhecidos como insetos benéficos no agroecossistema, pois, em função do seu comportamento, auxiliam na incorporação e fragmentação da matéria orgânica e na capacidade de infiltração de água no solo, em lavouras instaladas no sistema plantio direto.

Percevejos castanho-da-raiz

Dirceu Gassen

No Brasil, há registros da ocorrência de percevejo castanho em vários estados brasileiros, embora exista incidência mais acentuada na região dos Cerrados. O ataque desses insetos ocorre, normalmente, em grandes reboleiras nos cultivos de soja, sendo observados focos de infestação de até 70 hectares. Os danos na soja são decorrentes da sucção contínua da seiva nas raízes, o que pode levar ao enfraquecimento ou até mesmo à morte das plantas. As diferentes espécies de plantas hospedeiras que o percevejo castanho-da-raiz se alimenta apresentam graus diferenciados Embrapa

3o instar apresentam mobilidade no solo e, no início do período de estiagem, aprofundam-se neste até a 20cm e 30cm de profundidade, onde constroem sua câmara pupal. Quando param de se alimentar, limpam o abdome e transformam-se em pupa dentro da câmara pupal entre os meses de julho e agosto. Os adultos permanecem no solo por aproximadamente 30 dias, aguardando a presença de umidade ideal para sua emergência. Após as primeiras chuvas, entre os meses de setembro e outubro, inicia-se novamente a revoada e a fase de postura. Outras espécies de corós de menor importância econômica podem, eventualmente, ser observadas em associação com a soja na região do Cerrado. Santos e Ávila (2007) constataram o coró Cyclocephala forsteri (Figura 5) em lavouras de soja cultivada no sistema plantio direto no município de Maracaju (MS), sendo a oviposição do inseto observada no período de novembro a janeiro, embora o potencial de danos dessa espécie na soja não tenha sido determinado na cultura. Na safra 2004/05, em uma área de cultivo de soja, no mesmo município, foram também encontrados larvas e adultos de Anomala testaceipennis no solo, sem que fossem observados danos nas plantas de soja. Algumas larvas de melolontídeos, que têm o hábito de construir galerias verticais no solo, são frequentemente encontradas nas lavouras de soja da região Centro-Sul do País, especialmente nos sistemas de integração lavoura-pecuária. Esse grupo de corós, geralmente representado por espécies do gênero Bothynus (Figura 6), não é considerado praga

de suscetibilidade ao seu ataque. Ávila et al (2009) constataram que o algodoeiro foi a espécie mais suscetível à alimentação de S. castanea, seguido por soja, milho, sorgo e arroz. Esses percevejos predominam em solos arenosos, especialmente naqueles com pastagem degradada. Como são de hábito subterrâneo, tanto ninfas como adultos alimentam-se sugando a seiva das raízes das plantas de soja. Os sintomas de ataque nas plantas (Figura 7) dependem da intensidade e da época de ocorrência da praga na cultura, variando do murchamento e amarelecimento das folhas a um subdesenvolvimento e secamento da planta, podendo causar perdas de até 100% da lavoura. A presença dos percevejos castanho-daraiz nas lavouras é facilmente reconhecida pelo forte cheiro que estes insetos exalam, quando o solo é movimentado nas áreas infestadas. No Brasil, as principais espécies de percevejo-castanho associadas à cultura da soja são Scaptocoris castanea, S. carvalhoi e S. buckupi. Ávila et al (2009) constataram que no estado de Mato Grosso do Sul ocorre, pelo menos, duas espécies de percevejos castanho, sendo elas Scaptocoris castanea e S. carvalhoi. A primeira espécie foi encontrada em lavouras de soja, algodão e milho e a segunda em áreas de pastagens. Os focos de infestação do percevejo têm sido mais frequentes na região norte do estado, sendo a maior incidência observada no município de São Gabriel do Oeste. Nos últimos anos foram também constatadas severas infestações de percevejos castanho-da-raiz, especialmente nos sistemas de plantio direto do Cerrado brasileiro. No estado de Goiás, as revoadas dessa praga iniciam-se no período chuvoso durante o mês de novembro e persistem até março, período em que há predominância de adultos no solo. Informações insuficientes sobre alternativas eficazes para o controle dessas pragas têm levado os produtores a efetuarem aplicações preventivas e curativas de inseticidas, muitas vezes sem resultados satisfatórios de controle. No estado do Mato Grosso há ocorrência da espécie S. castanea em todas as regiões,

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Figura 6 - Adulto (A) e larva (B) de Bothynus sp



Lúcia Vivan

Figura 8 - Flutuação populacional de percevejo castanho-da-raiz durante um ano

Figura 7 - Danos na soja causados por percevejo castanho

já a espécie S. carvalhoi foi identificada na região leste do estado em áreas de soja, milho e algodão. As informações mais recentes sobre os percevejos castanho-da-raiz foram obtidas por Nardi (2006), que descreveu a ocorrência do polimorfismo alar em S. carvalhoi. Esse estudo revelou a existência de indivíduos de asas curtas (braquípteros) e longas (macrópteros), destacando a importância dessas alterações morfológicas para a colonização de novas áreas, uma vez que a revoada, realizada somente pelos adultos macrópteros, constituise da única forma de dispersão desses insetos por longas distâncias. Durante períodos do ano de maior umidade, este inseto permanece nas camadas mais superficiais do solo, mas, em condições mais secas, se desloca para camadas inferiores para profundidades além de 1,5m (Figura 8). Em trabalhos realizados com coberturas vegetais, no estado do Mato Grosso, no período de entressafra observou-se redução da população para a cobertura realizada com crotalária (Crotalaria spectabilis), em relação às áreas com plantio de milheto, sorgo e braquiária. No entanto, com plantios sucessivos de algodão durante a safra, observou-se redução da população de percevejo castanho-da-raiz ao final de três anos, o que indica que a cultura do algodoeiro interfere no desenvolvimento desse inseto.

8) ou os nódulos de rizóbios, especialmente nos estádios iniciais de desenvolvimento da soja implantada sobre uma área em que havia sido cultivado feijão ou milho. Esses tipos de danos podem reduzir o estande ou afetar negativamente a fixação biológica de nitrogênio nas plantas de soja.

Manejo das pragas que atacam as raízes da soja

Para que o manejo de pragas que atacam a parte subterrânea das plantas de soja seja efetivo, é necessário fazer o monitoramento preciso desse grupo de pragas antes mesmo da instalação da lavoura, uma vez que todas as táticas de controle a serem implementadas são preventivas. Muitas vezes, o planejamento das técnicas de manejo de pragas subterrâneas é realizado com base no mapeamento dos sintomas de danos e análises de produção de cultivos anteriores. Tanto para o manejo de corós como do percevejo-castanho é de fundamental importância a realização de amostragens no solo, com o objetivo de avaliar as espécies presentes, o seu nível populacional, os estádios e o desenvolvimento predominante desses insetos. No planejamento das táticas de controle a serem implementadas, devem ser considerados fatores da planta, do solo e da

Outras pragas subterrâneas

Cochonilhas das raízes do gênero Pseudococcus sp. são também frequentemente observadas no coleto de plantas de soja cultivadas no sistema plantio direto, embora em baixas densidades. Em condições de alta infestação de ninfas e adultos desta praga na cultura, as plantas podem atrasar o seu desenvolvimento e reduzir a massa seca da parte aérea, bem como do número de vagens e o peso dos grãos de soja. Larvas de Diabrotica speciosa ou de Cerotoma spp. Podem, eventualmente, ser observadas atacando raízes de soja (Figura

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Figura 9 - Seedlings de soja atacados por larvas de Diabrotica speciosa

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praga a ser manejada. Dentre as técnicas que podem ser utilizadas para o controle de corós e percevejocastanho, destacam-se: manipulação da época de semeadura, preparo do solo com implementos adequados e aplicação de inseticidas nas sementes ou em pulverização no sulco de semeadura. Como os adultos dos corós apresentam normalmente forte atração pela luz, o uso de armadilhas luminosas durante o período de emergência do inseto no solo pode capturar um número expressivo de adultos durante a noite e, assim, contribuir para reduzir a sua infestação nos cultivos subsequentes. A aplicação de inseticidas nas sementes e no sulco de semeadura da soja constitui alternativa promissora para o manejo de corós, especialmente em sistemas conservacionistas, como o sistema de plantio direto. Já no caso do percevejo-castanho, inseticidas aplicados nas sementes não tem-se mostrado uma tática eficiente. Todavia, a pulverização no sulco de plantio com inseticidas químicos, especialmente quando o percevejo está localizado próximo da superfície do solo, pode proporcionar um bom controle da praga, dependendo do produto e da dose empregados. O cultivo de crotalária em áreas infestadas com percevejocastanho tem também contribuído para a redução populacional dessa praga no solo. O controle biológico do percevejo-castanho empregando-se fungos entomopatogênicos pode ser, também, uma alternativa promissora. Xavier e Ávila (2006) identificaram quatro isolados de Metarhizium anisopliae, que proporcionaram níveis de controle de S. carvalhoi superior a 80%, em condições de laboratório. Todavia, a eficiência desse fungo no controle do percevejo-castanho, em C condições de campo, não foi avaliada. Crébio José Ávila, Embrapa Agropecuária Oeste Lúcia Madalena Vivan, Fundação Mato Grosso



Soja

Cobertura vegetal Fotos Divulgação

Efeitos da matéria orgânica em solos argilosos, submetidos à palhada e à aplicação de nitrogênio em sistema de Plantio Direto na cultura da soja

O

Sistema de Plantio Direto (SPD) baseia-se no conceito de que, com a adição de resíduos das plantas de cobertura, consegue-se aportar mais carbono no sistema, uma maior cobertura vegetal e a mínima mobilização do solo, proporcionando e mantendo a qualidade física do solo e consequentemente um maior benefício à revitalização ambiental de um determinado agroecossistema. Com o desenvolvimento do sistema de semeadura direta, a mobilização restrita à linha de semeadura e a conservação da superfície coberta por restos culturais anteriores reduzem a ação da erosão. A erosão do solo é um processo que também responde pela redução dos níveis de matéria orgânica do solo. A perda de solo e nutrientes pela erosão hídrica é um fator determinante do empobrecimento do solo e da redução da

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produtividade da maioria das culturas (Alves, et al, 2006). Diante das práticas de manejo conservacionistas, a rotação de culturas possibilita benefícios físicos, químicos e biológicos para o solo e a melhoria da produtividade de grandes culturas, favorecendo ganhos líquidos ao produtor e sustentabilidade. Os tratamentos com gramíneas favorecem o aumento da agregação do solo, a redução da densidade, o aumento de porosidade e o crescimento da humificação de acordo com a dose de N. Este trabalho foi instalado em Capão Bonito, na área experimental localizada no Instituto Agronômico de Campinas IAC/Apta/SAA. A altitude média é de 600 metros, a declividade de 6,5% e o relevo é suavemente ondulado. O solo é classificado como Latossolo Vermelho distrófico e o clima é subtropical (tipo

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Cfa). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, perfazendo cinco tratamentos e quatro repetições. Cada parcela dimensionada com 200m² de área (20m de comprimento e 10m de largura). As plantas de cobertura para outono-inverno e primavera foram: aveia branca (IAC-7)

Amostras do solo foram coletadas para a realização de avaliações


e tremoço (Lupinus albus). Avaliou-se a produtividade da soja no sistema de cultivo com semeadura direta, assim como a aplicação de nitrogênio em cobertura nas plantas de cobertura de outono/inverno com cinco tratamentos. Durante o período de outono/inverno, as plantas de cobertura receberam 30kg/ ha de N (T2) e 60kg/ha de N (T3). Foi avaliado mais um tratamento sem N (T1), a leguminosa (T4), e pousio (T5) como testemunha. No final de outubro as plantas de cobertura foram dessecadas para o plantio da cultura de verão, ou seja, soja transgênica de tecnologia Round UP Ready 7908 (RR) adaptada à região de Campinas. Após a colheita, foram feitas medição de altura de plantas e produtividade da cultura da soja. Nas parcelas experimentais foi realizada a abertura de minitrincheiras para a coleta das amostras compostas do solo das camadas superficiais estratificadamente 0m – 0,025m, 0,025m – 0,05m, 0,05m – 0,10m e 0,10m – 0,20m, sendo seis subamostras para formar uma amostra composta. Após a coleta as amostras foram secas ao ar e peneiradas em peneira de malha de 2mm para a obtenção da fração da terra fina seca ao ar (TFSA). Para os estudos detalhados de labi-

Experimento foi conduzido em Área Experimental do Instituto Agronômico de Campinas

lidade e humificação da matéria orgânica do solo, prepararam-se as amostras através do fracionamento físico por granulometria utilizando o ultrassom Sonifier-Branson (Feller et al, 1947), para dispersar as frações do solo em diferentes tamanhos de partícula como areia (>53 mícron). Após a sonicação,

a amostra foi retirada e seu conteúdo destinado a uma peneira de 53 mícron, onde a amostra é lavada com água destilada e a partícula com carbono lábil ligado à fração areia obtida. Esta fração foi submetida à secagem em estufa a 45 graus Celsius em béqueres de 400ml. Após a secagem, as amostras de areia


Tabela 1 - Atributos físicos do solo nos tratamentos com Gramínea com 0N* (T1), Gramínea com 30N (T2), Gramínea com 60N (T3), Leguminosas (T4) e Pousio de Inverno (T5) no Latossolo Vermelho distroférrico, após três ciclos de cultivos, em Capão Bonito (SP) Camada

T1

T3

T2

T4

T5

T4 PT 0,513 a 0,548 a 0,538 a 0,535 a 0,543 a 0,535 a 0,533 c 0,565 abc MICRO 0,383 a 0,388 a 0,400 a 0,393 a 0,363 a 0,385 a 0,383 a 0,403 a DMP 3,122 a 2,418 a 2,109 a 1,912 a 1,584 a 1,660 a 1,963 a 2,072 a T3

T1

T2

0,523 a 0,533 a 0,530 a 0,540 bc

0,533 a 0,520 a 0,518 a 0,535 c

0,383 a 0,373 a 0,373 a 0,368 a

0,365 a 0,375 a 0,368 a 0,365 a

3,058 a 2,005 a 1,391 a 2,041 a

3,107 a 2,080 a 1,596 a 2,223 a

DS 0-0,05 0,05-0,10 0,10-0,20 0,20-0,40

1,288 a 1,298 a 1,203 a 1,205 a

0-0,05 0,05-0,10 0,10-0,20 0,20-0,40

0,140 a 0,158 a 0,160 a 0,175 a

0-0,05 10,053 bc 0,05-0,10 10,645a 0,10-0,20 8,507a 0,20-0,40 16,582a

1,298 a 1,210 a 1,263 a 1,323 a 1,263 a 1,273 a 1,300 a 1,245 a 1,228 a 1,268 a 1,170 a 1,305 a 1,158 a 1,170 a 1,208 a 1,148 a MACRO 0,150 a 0,173 a 0,135 a 0,160 a 0,138 a 0,148 a 0,138 a 0,143 a 0,163 a 0,150 a 0,178 a 0,148 a 0,158 a 0,168 a 0,145 a 0,163 a AG>2,00mm 12,940 ab 10,327 bc 12,423 abc 11,360 abc 10,545a 10,507 a 10,470 a 11,247 a 8,794 a 10,207 a 11,199 a 11,361a 18,360a 13,861 a 12,922 a 15,708

0.525 a 0,520 a 0,530 a 0,540 bc 0,378 a 0,383 a 0,365 a 0,385 a 2,839 a 1,892 a 1,952 a 2,276 a

Tabela 2 - Resultados da fração granulométrica (g/g) por tratamento, analisadas estatisticamente pelo teste de Tukey em Capão Bonito (SP) Tratamento Triticale 0N Triticale 30N Triticale 60N Mucuna Cinza Pousio Média

Areia 0,054Ca 0,031Ba 0,032Ba 0,033Ba 0,062Ca 0,04B

Tratamento Triticale 0N Triticale 30N Triticale 60N Mucuna Cinza Pousio Média

Areia 0,005Ca 0,004Ca 0,004Ca 0,005Ca 0,005Ca 0,005C

N Argila 0,194Bb 0,181Bb 0,147Ab 0,225Ab 0,404Aa 0,023A S Argila 0,024Ba 0,021Ba 0,014Bb 0,020Ba 0,023Ba 0,02B

C Silte Fino (I) 0,300Aa 0,275Aa 0,206Aa 0,239Aa 0,278Ba 0,26A

Média 0,18b 0,16b 0,12b 0,16b 0,24a

Areia 0,680Ca 0,327Ca 0,264Ba 0,742Ca 0,921Ca 0,59C

Argila 3,522Bb 3,648Bb 6,029Aa 3,590Bb 3,823Bb 4,12B

Silte Fino (I) 0,031Ab 0,039Aa 0,032Ab 0,038Aa 0,038Aa 0,04A

Média 0,02a 0,02a 0,017b 0,02a 0,02a

Areia 11,627Aa 10,454Aa 8,010Ca 21,772Aa 13,782Aa 13,13B

C/N Argila Silte Fino (I) 18,191Ab 18,697Aa 20,181Ab 19,494Aa 73,485Aa 35,430Ba 16,013Ab 22,080Aa 11,535Ab 21,742Aa 27,88A 23,49AB

Silte Fino (I) 5,534Aab 5,362Ab 6,492Aa 5,188Ab 5,792Aab 5,67A

Média 3,24b 3,11b 4,26a 3,17b 3,51b Média

16,17b 16,71b 38,97a 19,95b 15,68b

Médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha ou minúscula na coluna não diferem segundo teste de Tukey para P<0,05.

aspecto ser revertido no solo, dependendo do sistema de rotação adotado.

Conclusões

Em Capão Bonito é possível alocar cinco plantas em dois anos agrícolas

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T5

*Kg ha-1. Letras iguais na linha, para cada atributo, não diferem entre si pelo teste t de Student (LSD).

Divulgação

foram moídas em almofariz e peneiradas em peneira de 100 meshes, um grama da fração areia que passou pela peneira foi armazenado em tubos de eppendorf para leitura do CNHS. O restante da amostra (partículas argila e silte) foi levado para provetas de 2.000ml para o fracionamento por sedimentação. Os tubos de eppendorfs contendo as frações de solo foram analisados no Setor de Fertilidade, pertencente ao Centro de Solos do IAC. Para realizar a leitura de C (carbono), N (nitrogênio) e S (enxofre) das amostras, as mesmas foram pesadas com aproximadamente 100mg da fração e misturada junto à mesma quantidade da substância óxido de tungstênio. Esta mistura foi compartimentada em pastilhas onde foram encaminhadas para a leitura em um equipamento analisador elementar de CNHS, marca Elementar, modelo Vario Macro. Desde a caracterização da área experimental, houve um aumento nos valores de densidade do solo em Campinas, mesmo com a adição continuada de resíduos. Devido às temperaturas mais altas no verão e o inverno seco, a adoção de plantas de cobertura pode não estar sendo eficiente na melhoria da estrutura do solo e na diminuição da compactação, entretanto, o aumento nos teores de carbono pode contribuir com a sustentabilidade do sistema. A análise de significância para as amostras de solo está descrita na tabela 2. Em Capão Bonito é possível alocar cinco plantas em dois anos agrícolas, contribuindo com a adição de fitomassa em cobertura e a ciclagem mais rápida dentro do agroecossistema, mesmo com uma boa distribuição de chuvas ao longo do ano. Quanto maior a adição de N, maior a contribuição das frações mais humificadas, em um primeiro momento, podendo este

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A matéria orgânica particulada (> 53 mícron) de Capão Bonito é sempre maior com a utilização de culturas de cobertura. Todavia, em clima subtropical, o aporte de fitomassa é facilitado em função do clima. Através das frações granulométricas avaliadas pode-se inferir maior ou menor humificação, dependendo da relação C/N, principalmente das frações < 53 mícron para a humificação e > 53 mícron para verificar a labilidade C do carbono. Sandro Roberto Brancalião, IAC Michelly Tomazi, Embrapa Agropecuária Oeste



Nossa capa

Risco incessante

Fotos Wanderley Dias Guerra

Pesadelo dos produtores de soja, a ferrugem-asiática é causada pelo fungo biotrófico Phakopsora pachyrhizi que demanda hospedeiro vivo para sobreviver. Neste contexto o vazio sanitário tem enorme importância na busca por retardar a incidência da doença na safra. A presença de plantas tigueras, às margens de rodovias, em campo e até mesmo dentro de cidades, como tem sido constatado em Mato Grosso, torna ainda mais desafiador o manejo

A

introdução da ferrugem-asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, no Brasil em 2001, teve como consequência alterações no sistema produtivo da cultura. Uma das mudanças foi a adoção do vazio sanitário, período sem plantas de soja no campo durante a entressafra, que varia de 60 a 90 dias, onde a regra é a proibição da semeadura de soja e a eliminação de plantas de soja voluntárias (guaxas) que germinam a partir de grãos perdidos na colheita. As semeaduras autorizadas nesse período constituem-se exceções e devem ser monitoradas durante todo o ciclo da cultura, realizando aplicações periódicas de fungicidas para evitar a ocorrência da ferrugem. O fungo P. pachyrhizi é um patógeno biotrófico, que necessita de hospedeiro vivo para sobreviver e se multiplicar. Antes da implantação do vazio

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sanitário, as semeaduras de soja durante o inverno permitiam a sobrevivência do fungo (ponte verde) fazendo com que a doença ocorresse no início do desenvolvimento da cultura na safra. O principal objetivo do vazio sanitário é reduzir a quantidade de esporos do fungo durante a entressafra e, assim, retardar a ocorrência da doença na safra. O vazio sanitário foi adotado pela primeira vez em 2005, no Mato Grosso, por meio de uma Recomendação Técnica Conjunta e, em 2006, regulamentado por Instruções Normativas e Portarias nos Estados de Mato Grosso, de Goiás e do Tocantins. Atualmente, é adotado em 12 estados, no Distrito Federal e no Paraguai (Figura 1). As particularidades da medida para cada Estado podem ser consultadas nas Instruções Normativas, Portarias e Resoluções disponíveis no site do Consórcio

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Antiferrugem (www.consorcioantiferrugem. net). Os produtores que não cumprirem as Instruções Normativas estão sujeitos a notificações e multas. A necessidade da adoção do vazio sanitário em alguns estados ocorre uma vez que, na maioria das regiões produtoras de soja no Brasil, não haja estresse de temperatura e de umidade para a sobrevivência do fungo P. pachyrhizi durante todo o ano e, se houver plantas de soja no campo, o fungo pode se multiplicar continuamente. O estabelecimento do período mínimo do vazio foi baseado em dados de pesquisa da sobrevivência de esporos do fungo em folhas destacadas. O controle da soja voluntária deve ser iniciado com a maximização do processo de colheita, pois quanto menor for a perda de grãos, menor será o potencial de instalação


Alta infestação em área de safrinha de soja em Campo Novo do Parecis (esquerda) e coleta e avaliação de plantas guaxas em Mato Grosso

dessas plantas voluntárias. Mesmo com uma eficiente colheita ocorrem perdas de grãos, que podem não germinar na mesma época e não se desenvolver de maneira uniforme, resultando em populações de plantas de diferentes tamanhos e vigor, o que interfere diretamente no controle, pois quanto mais desenvolvida a soja voluntária, maior será a dificuldade de controle, principalmente com o uso de herbicidas. Os principais produtos para essa finalidade são o paraquat, o paraquat + diuron e o glufosinato de amônio, que possuem ação total, e o 2,4-D, o diquat, a atrazina e o metsulfuron, que são específicos para dicotiledôneas. Outra opção é o controle mecânico, através de capina ou roçada. No entanto, apesar do esforço dos produtores, tem sido observada a sobrevivência de muitas plantas de soja voluntárias no meio de lavouras, especialmente de milheto, girassol e crotalária, que continuam servindo como ponte verde para o fungo.

Apesar da grande efetividade do vazio sanitário, diversos problemas interferem na sua eficiência. No estado do Mato Grosso, por exemplo, a produção de soja é praticamente toda escoada via terrestre até a região Sul, Rondonópolis e Alto Taquari, onde é embarcada em vagões. Nesse trajeto é comum a perda de grãos ao longo das rodovias, ocorrendo a emergência de plantas voluntárias às margens das estradas que servem não só como hospedeiras do fungo P. pachyrhizi, mas também de outras pragas. As cidades das regiões produtoras cortadas por rodovias de intenso fluxo têm seus canteiros transformados em verdadeiras lavouras de soja voluntária. Esforços têm sido feitos no sentido de conscientizar a administração dos municípios e as mantenedoras das rodovias a fazer a erradicação dessas plantas. Em 2014, no mês de julho, as chuvas que ocorreram em várias regiões favoreceram a emergência de plantas voluntárias e a sobre-

vivência de P. pachyrhizi. No Mato Grosso, a Superintendência Federal de Agricultura (SFA/MT), com parceria da Aprosoja e da UFMT, tem constatado a presença frequente de plantas de soja infectadas pelo fungo nas margens de rodovias e nos canteiros dentro de cidades. Além dos problemas para a eliminação da soja voluntária também há outras limitações conhecidas. Embora o Brasil adote essa medida, o inóculo do fungo pode ser mantido em países vizinhos como o Paraguai e a Bolívia. Os esporos de P. pachyrhizi são facilmente disseminados pelo vento e as lavouras dos países vizinhos representam uma fonte de inóculo para as brasileiras. A partir de 2011, o Paraguai passou a adotar o vazio sanitário de 1º de junho a 30 de agosto. Outra limitação é que P. pachyrhizi possui mais de 60 espécies de plantas hospedeiras em 52 gêneros pertencentes à família Fabaceae (leguminosas), embora

Detalhe de folhas guaxas tomadas pela ferrugem

Folhas recolhidas para análise do fungo Phakopsora pachyrhizi

Funcionários de prefeituras auxiliam na erradicação de plantas voluntárias que nascem até em áreas urbanas

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Fotos Wanderley Dias Guerra

Figura 1 - Períodos de vazio sanitário para a entressafra de 2014

Plantas tomadas de ferrugem em Campo Verde, no Mato Grosso

a principal seja a soja. Apesar dessas limitações o vazio sanitário mostrou-se efetivo e deve ser realizado com o máximo de rigor, eliminando as plantas voluntárias desde o início. A ampliação do período do vazio sanitário em alguns estados foi discutida na reunião do Consórcio Antiferrugem, realizada em 30 de julho de 2014. A principal razão para a ampliação é tentar reduzir o número de aplicações de fungicidas durante a safra. O extenso período de semeadura e a possibilidade de semear soja após soja (safrinha) favorecem a disseminação dos esporos do fungo que se multiplicam nas primeiras semeaduras para as semeaduras tardias, havendo a necessidade de antecipar as aplicações de fungicida, reduzir o intervalo entre aplicações e aumentar o número de pulverizações nas lavouras. A consequência do excesso de aplicações é a alta pressão de seleção para resistência dos fungos aos fungicidas. Os fungicidas utilizados no controle da ferrugem pertencem a três grupos químicos, os Inibidores da Desmetilação (DMI - “triazóis e triazolinthiona”), os Inibidores de Quinona Oxidase (QoI – “estrobilurinas”) e, a partir de 2013, as moléculas Inibidoras da Succinato Desidrogenase (SDHI – “carboxamidas”).

Esses fungicidas são sítio-específicos e possuem risco de resistência. Populações de P. pachyrhizi menos sensíveis aos DMIs foram observadas nas lavouras a partir de 2007. A partir de 2008, somente misturas de DMI e QoI têm sido recomendadas para o controle da ferrugem. Apesar do baixo risco de resistência completa de P. pachyrhizi aos fungicidas QoI, esses produtos possuem baixa eficiência de controle quando utilizados sozinhos, sendo recomendados somente em misturas a partir de 2004. Os resultados dos ensaios em rede da safra 2013/14 mostraram uma queda significativa de eficiência dos QoI e de várias misturas de DMI e QoI em semeaduras tardias. Fungicidas SDHI apresentam risco de resistência médio a alto. Na conjuntura atual, com o grande número de aplicações realizadas na safra, haverá grande pressão para resistência a esse grupo, apesar de estarem sendo

comercializados somente em misturas com fungicidas QoI. A mistura como estratégia antirresistência só é efetiva quando os princípios ativos usados de forma isolada têm eficiência para o controle da doença. Essa situação não ocorre para a maioria das misturas comercializadas atualmente. O vazio sanitário, como medida isolada, não resolve o problema da ferrugem, mas já demonstrou ser efetivo na redução do inóculo nas primeiras semeaduras, resultando em menor número de aplicações de fungicida e reduzindo o custo de produção. A ampliação desse período em algumas regiões pode contribuir para reduzir ainda mais o número de pulverizações, diminuindo a pressão de seleção para resistência aos novos fungicidas. Os fungicidas representam a principal ferramenta para o controle da ferrugem durante a safra e a redução da eficiência que vem sendo observada nos

Urédia da ferrugem esporulando, comprovado em laboratório que fungo está viável

Guerra mostra plantas voluntárias de soja colhidas em área de milheto

Ferrugem em Nova Mutum, Mato Grosso

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Plantas voluntárias em área urbana, próxima de armazéns

ensaios, em curto espaço de tempo, é preocupante. O desenvolvimento e o registro de novos princípios ativos no Brasil são um processo longo e se medidas não forem tomadas para reduzir a pressão de seleção para resistência, essa ferramenta pode deixar de funcionar, inviabilizando o controle da fer-

Guaxas nascem à beira de rodovias que cortam cidades produtoras de soja

rugem. O produtor cada vez mais precisa se conscientizar que para as novas tecnologias terem longevidade, sejam elas novos produtos, novos transgênicos ou novas cultivares com resistência, seu uso deve ser feito de forma cautelosa seguindo as recomendações C preconizadas pela pesquisa.

Claudia V. Godoy, Claudine D. S. Seixas, Maurício C. Meyer e Fernando S. Adegas, Embrapa Soja Wanderlei Dias Guerra, SFA/MT


Algodão

Alvo ampliado

Doença tradicional na cultura da soja, a mancha alvo, causada pelo fungo Corynespora cassiicola, pode estar presente também em lavouras de algodoeiro do oeste baiano, norte do Mato Grosso do Sul e algumas regiões de Mato Grosso. Diante da severidade observada nessas áreas, novos questionamentos precisam ser respondidos pela pesquisa para que se estabeleçam medidas adequadas de manejo

N

a safra (2013/2014) algumas lavouras de algodoeiro do oeste baiano, do norte de Mato Grosso do Sul e das regiões de Campo Verde, Primavera do Leste e Brasnorte no estado de Mato Grosso desenvolveram uma doença foliar com sintomas semelhantes ao da mancha alvo da soja, causada pelo fungo Corynespora cassiicola (Berk. & Curtis) Wei. A mancha alvo, em condições ambientais favoráveis, pode causar desfolha e, consequentemente, perdas econômicas em soja. Em algodoeiro, a doença foi noticiada nos EUA em 2012 no estado da Geórgia, principalmente na cultivar DP 1048 B2RF com desfolha estimada em 70% (2). Os sintomas iniciais da mancha alvo no algodoeiro são pequenos pontos circulares de coloração arroxeada nas folhas. Com a evolução da doença, esses pontos tornam-se manchas de formato arredondado ou irregular, com bordas marrom-escuras e centro marromclaro, variando em tamanho de 2mm a 20mm. As lesões, quando completamente desenvolvidas, podem apresentar anéis concêntricos e, quando a infecção é alta, as folhas caem prematuramente. Sempre associado aos sintomas, foi isolado um fungo com conidióforos simples, que originavam conídios sub-hialinos, com número variável de septos (quatro a 20) com dimensões de 50μm de comprimento a 190μm de comprimento e 7μm de largura a 16μm de largura, ligeiramente curvados e com formato obclavado a cilíndrico. Com base na similaridade dos sintomas e sinais já descritos na literatura (2), a diagnose tentativa aponta

Chitarra e Gilma alertam para presença do fungo em algodão

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Fotos Nelson Suassuna

Folhas de algodoeiro com sintomas iniciais da doença nas faces inferior e superior

para Corynespora cassiicola (Berk. & Curtis) Wei., mesmo agente causal da mancha alvo em soja. Esse fungo causa doença em 530 espécies de plantas de 380 gêneros, incluindo monocotiledôneas e dicotiledôneas (1). Além de isolados fitopatogênicos, C. cassiicola inclui isolados saprofíticos. O fungo também já foi relatado causando infecção na pele de humanos (3). As condições ambientais ideais para o desenvolvimento de C. cassiicola são conhecidas em algumas culturas. Em tomateiro, a temperatura ideal está entre 20ºC e 28ºC e mais de 16 horas de molhamento foliar. Em seringueira, as condições ideais são temperatura entre 25ºC e 30ºC com umidade acima de 90%. Para pepino e fumo, o ótimo de temperatura para o desenvolvimento do fungo está entre 27,5ºC e 30ºC. De maneira geral, temperaturas amenas (abaixo de 30ºC) e períodos prolongados de alta umidade favorecem o desenvolvimento do patógeno. O vento é a principal via de disseminação do patógeno a curtas distâncias e não há informações ainda sobre a disseminação por meio de sementes de algodoeiro. O fungo, por ser cosmopolita e necrotrófico, pode sobreviver em plantas hospedeiras e colonizar restos culturais de diversas espécies vegetais (4). Diante da constatação da ocorrência desses sintomas em diferentes regiões produtoras de algodoeiro e em níveis epidêmicos, é necessário traçar estratégias para se antevir ao problema. Inicialmente, os postulados de Koch estão sendo conduzidos para comprovar C. cassiicola como agente causal da mancha alvo em algodoeiro. Diante da severidade observada na cultura da soja e agora em algodoeiro nas áreas de cultivo do cerrado, algumas questões surgem

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e deverão ser respondidas pela pesquisa, como: I) Ocorreram variações na população de C. cassiicola no Brasil? II) O aumento do inóculo na cultura da soja pode estar afetando o cultivo subsequente de algodoeiro (segunda safra) ou no próximo ano agrícola (safra única)? III) O uso de fungicidas à base apenas de triazóis e estrobilurinas em algodoeiro direcionado ao controle da mancha de ramulária é suficiente para o controle da mancha alvo? IV) Cultivares de algodoeiro recém-introduzidas por possuírem traits transgênicos são mais suscetíveis que germoplasma adaptado ao ambiente tropical? V) Como e por quanto tempo o patógeno sobrevive em ambiente tropical? VI) Existem no Brasil isolados do patógeno naturalmente

resistentes aos diversos fungicidas usados em soja, algodão e milho, como já demonstrado para benzimidazóis, estrobilurinas e carboxamidas em outros países? VII) Existe resistência genética no germoplasma de algodoeiro? VIII) Quais espécies podem ser usadas em rotação para diminuição do inóculo inicial de C. cassiicola? Essas perguntas, uma vez respondidas, ajudaram a elucidar a epidemiologia da doença e assim auxiliar na definição de manejo. C Luiz Gonzaga Chitarra e Nelson Dias Suassuna, Embrapa Algodão Gilma Silva Chitarra, IFMT – Campus Sorriso

Desfolha precoce provocada pela incidência de Corynespora cassiicola em algodão

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Controle biológico

Agente versátil

Maurício Meyer

Produtos à base de Thichoderma têm elevada importância no controle biológico, método que associado a outras estratégias de manejo integrado possui papel preponderante no desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira. Por isso, conhecer sua ação, interações, seletividade e desempenho das formulações é fundamental para compreender e utilizar corretamente esta tecnologia

O

controle biológico surgiu como uma alternativa racional, extremamente necessária e essencial à agricultura na atualidade. A manipulação do ambiente e a introdução de antagonistas, tanto no solo quanto nos órgãos de propagação das plantas, podem garantir o controle biológico de fitopatógenos veiculados pelo solo. Entre os biocontroladores usados contra patógenos do solo tem-se destacado isolados selvagens e melhorados de Trichoderma spp. Este fungo é um micoparasita necrotrófico eficaz no controle de inúmeros fungos fitopatogênicos, principalmente aqueles com estruturas de resistência consideradas difíceis de serem atacadas por microrganismos, como esporos, escleródios, clamidósporos e microescleródios. Os mecanismos de ação pelos quais o Trichoderma pode atuar são: antibiose, hiperparasitismo, competição e também em alguns casos através de promoção de crescimento de plantas. Com esta visão, torna-se indispensável a integração do controle biológico com outros métodos disponíveis, como o uso e incremento da co-

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bertura vegetal ou palhada, controle químico e variedades com resistência parcial ou com tolerância às doenças. Apesar de ser considerado um fungo de solo de vida livre, universalmente presente neste meio, em todas as zonas climáticas, algumas espécies podem ser cosmopolitas (exemplo T. harzianum) ou limitadas na sua distribuição geográfica (exemplo T. viride). Trichoderma stromaticum tem possivelmente a distribuição mais restrita entre as espécies do gênero e é encontrado apenas associado a plantas de cacau ou ao agente patogênico Crinipellis perniciosa, causador da vassoura

de bruxa no cacau. Uma forte influência na distribuição das espécies de Trichoderma é a temperatura. Espécies de regiões frias apresentam baixa temperatura ótima, como é o caso de Trichoderma viride e Trichoderma polysporum, que conseguem bom desenvolvimento a 7°C, e Trichoderma minutisporum. Trichoderma koningii e Trichoderma hamatum suportam até 35°C, Trichoderma harzianum até 38°C e Trichoderma pseudokoningii e Trichoderma satwnisporum até 40°C. Trichodermas são conhecidos pela sua alta capacidade em produzir enzimas que degradam celulose e quitina. Nas Filipinas,

Figura 1 - Ação de Trichoderma no solo, raízes, sementes, partes vegetativas e plantas

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T. harzianum é inoculado em pilhas de compostagem para acelerar a degradação da celulose. Trichoderma reesei foi considerado como a melhor espécie conhecida para a produção comercial de celulase. Além da celulose e quitina, Trichodermas spp. são capazes de degradar hidrocarboneto, clorofenicol, polissacarídeos e pesticidas xenobióticos usados na agricultura. Questões relacionadas a problemas ambientais e ao custo de produção são as principais razões para a atual expansão do mercado de controle biológico no país.

Trichoderma spp como decompositor no crescimento vegetal Algumas espécies de Trichoderma podem promover o crescimento de plantas, aumentar a germinação e a emergência de sementes, pode, ainda, exercer efeitos positivos indiretos com o aumento do crescimento da planta. Isto se dá em uma relação aparentemente simbiótica e não parasítica, entre o fungo e a planta, onde o fungo ocupa o nicho nutritivo e a planta é protegida de doenças. Após desenvolver-se na espermosfera, Trichoderma spp. pode ser utilizado na inoculação de sementes, pois acaba acompanhando o desenvolvimento da raiz da nova planta, contribuindo para o pioneirismo do fungo nessa estrutura. Espécies de Trichoderma produzem ácidos orgânicos que reduzem o pH do solo e permitem a solubilização de fosfato, micronutrientes e minerais como ferro, manganês e magnésio, úteis para o metabolismo da planta. O aumento no crescimento da raiz ou parte aérea aumenta a resistência a estresses bióticos ou abióticos e as mudanças no status nutricional da planta. Trichoderma spp como agente biocontrolador O uso de Trichoderma spp. já foi documentado para o controle de Rhizoctonia solani, Sclerotium rolfsii, Sclerotinia sclerotiorum, Fusarium spp. e Pythium spp. Trichoderma virens é efetivo contra damping-off, causado por S. sclerotiorum e Pythium ultimum e Rhizoctonia solani Kühn. No algodão, a atividade de supressão tem sido relatada contra Rhizoctonia solani, Fusarium oxysporum f. sp. vasinfectum. Do ponto de vista do biocontrole, T. harzianum e T. asperellum são as espécies mais estudadas, além de outras espécies como T. koningii, T. viride, T. hamatum, e T. pseudokoningii. A atividade de biocontrole é relatada para populações de Trichoderma de 105 – 107 UFC/g crescidas em meio controlado, como solo fumigado e aplicado no solo em porções

C

Figura 2- Foto micrografia eletrônica de varredura das interações entre Trichoderma spp. e S. sclerotiorum evidenciando o estrangulamento e penetração das hifas do antagonista sobre o patógeno, respectivamente: a.1 e a.2) (Trichoderma spp.); b.1 e b.2) (Trichoderma harzianum); c.1 e c.2) (Trichoderma asperellum); d.1 e d.2) (Trichoderma harzianum)

de um litro/m2, com 108 esporos/litro. Os conídios e clamidósporos de Trichoderma são formulados e utilizados para o tratamento de solos, sementes, bulbos e estolões e, ainda, pulverizados na parte aérea das plantas. Mecanismos de ação de Trichoderma spp no biocontrole A supressão de uma doença mediada por agentes de biocontrole e o êxito do controlador. Deste modo, compreender as

relações entre organismos está entre os fatores fundamentais para a manutenção do equilíbrio natural das populações e dos ciclos biológicos. No hiperparasitismo, espécies desse gênero conseguem detectar e localizar hifas de fungos suscetíveis (Figura 2), talvez em resposta a estímulos químicos produzidos pelas hifas do hospedeiro, formando estruturas semelhantes a apressórios e enrolando-se fortemente em toda extensão da hifa para, então, penetrar e digeri-la. Tal mecanismo

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Tabela 1 - Descrição dos produtos biológicos, ingrediente ativo, formulação, concentração declarada no rótulo e empresa fabricante. UFU, Uberlândia, 2014 Ingrediente Ativo Trichoderma spp. T. harzianum T. asperellum T. harzianum

Formulação PM WP WG SC

Gráfico 1 - Velocidade média de emergência de sementes tratadas com Trichoderma spp, com e sem inoculação de S. sclerotiorum. Uberlândia (MG), 2011

Concentração Declarada 1,0 x 10 8* 5,0 x 10 10* 1,0 x 10 10* 2,0 x 10 9**

*esporos mL-1 ou esporos g-1; **conídios viáveis mL-1

Tabela 2 - Porcentagem de germinação e contaminação por bactérias dos bioprodutos. UFU, Uberlândia (MG), 2014 Bioprodutos (Trichoderma spp.) (T. harzianum) (T. asperellum) (T. harzianum) CV (%)

Porcentagem Germinação 90 b 60 c 98 a 98 a 2,53

Contaminação por Bactérias 3,0 x 106 a 6,0 x 106 b 5,0 x 105 a 1,0 x 106 a 36,87

Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

já foi demonstrado por vários pesquisadores através da interação entre T. harzianum, Rhizoctonia solani, Pythium e Sclerotim rolfsii. O arsenal antifúngico de Trichoderma inclui grande variedade de enzimas líticas (exemplo: exoglucanase, endoglucanase, celobioase, celulases, quitinases, glucanases), a maior parte desempenhando um importante papel no controle biológico. Este fungo é capaz de parasitar e destruir até mesmo as estruturas de resistência dos fitopatógenos, como os escleródios de Sclerotinia sclerotiorum. A interação de Trichoderma com outros microrganismos Alguns isolados de Trichoderma spp. induzem resistência sistêmica nas plantas ativando a síntese de proteínas relacionadas à patogênese (PRPs), antes mesmo que o patógeno invada a planta hospedeira. Em muitos casos, o ácido salicílico e o ácido jasmônico, juntamente com o etileno ou óxido nitroso, induzem uma cascata de eventos que provocam a produção de uma grande variedade de metabólitos e proteínas com diversas funções na planta, modificando o proteoma e a fisiologia vegetal. A Figura 1 elucida os principais mecanismos de ação de Trichoderma no solo, sementes e em plantas. O grau de proteção promovido por isolados de Trichoderma spp. que induz resistência sistêmica em plantas, pode ser tão efetivo como o promovido por fungicidas.

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Por exemplo, o grau de controle promovido por Trichoderma hamatum – T 382 contra Phytophthora capsici foi tão efetivo como o promovido pelo fungicida metalaxyl. A importância de se avaliar em laboratório produtos comerciais à base de Trichoderma Trichoderma pode ser formulado em meio sólido (WP), grânulos dispersíveis em água (WG) ou em óleo (E) ou, ainda, suspensão concentrada (SC). Como se usa o organismo vivo (esporos ou conídios) é importante manter a sua viabilidade, seja por conservação a frio ou por armazenamento em baixas temperaturas e ambiente adequado. Este tipo de serviço vem sendo realizado pelo Laboratório de Micologia e Proteção de Plantas (Lamip), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) há sete anos, figurando como rotina a prestação de serviços à comunidade agrícola e empresas da região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba em Minas Gerais e de todo o Brasil. A verificação da contaminação por bactérias também é importante, já que a presença delas diminui a vida útil do produto. Na presente avaliação, os produtos comerciais à base de Trichoderma spp foram enviados por suas respectivas empresas. Na Tabela 1 encontra-se a descrição dos bioprodutos avaliados. Para a análise de viabilidade e concentração dos bioprodutos realizaram-se diluições seriadas dos produtos em água destilada e autoclavada, as quais foram plaqueadas em placas de Petri contendo meio BDA (Batata-Dextrose-Ágar), sendo incubadas por cinco dias a 22°C ± 2°C, com fotoperíodo de 12 horas, para posterior contagem do número das colô-

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nias formadas. Também foi verificada a concentração pela contagem de esporos na Câmara de Neubauer (hemacitômetro) em microscópio de luz (aumento de 40-100X). A porcentagem de germinação foi analisada após 24 horas, através da contagem de esporos viáveis e inviáveis em placa de Petri com meio de cultura BDA, média de duas repetições por placa. Foram considerados esporos viáveis aqueles que emitiram o tubo germinativo de tamanho igual ou maior que o tamanho do próprio esporo. Para a análise de contaminação por bactérias, as diluições foram plaqueadas em meio TSA (Triptona-Soja-Ágar) modificado, após 48 horas contou-se o número de colônias ou UFCs (unidades formadoras de colônias) por ml ou g. Os bioprodutos (T. asperellum) e (T. harzianum) não diferiram estatisticamente entre si, apresentando ambos 98% de germinação dos esporos, seguidos do Trichoderma spp, com 90%, e de T. harzianum, com 60% de germinação (Tabela 2). Com relação à contaminação por bactérias o bioproduto (T. harzianum) apresentou maior contaminação, diferindo dos demais tratamentos. Cabe ressaltar que esta análise foi realizada para um lote ou amostra, o que pode variar até para um lote ou amostragem dependendo de como o mesmo foi manipulado da produção, transporte até a comercialização, ou mesmo no armazenamento. Na Tabela 3 pode-se observar que a concentração obtida na câmara de Neubauer é maior do que a concentração declarada no rótulo, no entanto, esse valor não corresponde à concentração real do bioproduto, já que são contabilizados todos os esporos presentes,



ou seja, os esporos que irão germinar e os que não irão germinar, por isso é importante aferir a concentração na placa, onde podese observar que apenas os bioprodutos (T. asperellum) e (T. harzianum) apresentaram concentrações superiores às declaradas. No mercado, tem-se o Trichoderma comercializado no seu substrato de cultivo, que é moído e embalado. Esta formulação é mais difícil de ser aplicada devido ao entupimento de bicos. Ela também não permite uma longa viabilidade do fungo, além de permitir uma maior contaminação por outros fungos e bactérias, diminuindo assim sua eficiência no campo. Há outras formulações no mercado, como esporos puros, misturados em óleo, em suspensão concentrada ou mesmo em grânulos dispersíveis em água (WG), que facilitam a aplicação. Com o surgimento de formulações oleosas, essa formulação propicia maior estabilidade do ingrediente ativo quando armazenado em temperatura ambiente (24ºC - 26ºC). Além disso, apresenta vantagens quanto à facilidade de aplicação, proteção no campo da radiação UV. É de suma importância a escolha de um produto com qualidade, aliado a uma formulação que lhe garanta eficiência na aplicação e no controle do mofo branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum e outros patógenos de solo, como Fusarium, Rhizoctonia, Macrophomina etc. Verificação do hiperparasitismo de Trichoderma spp sobre S. sclerotiorum Dentre os mecanismos de ação do antagonista, o hiperparasitismo pode ocorrer tanto pelo estrangulamento como pela penetração das hifas do Trichoderma spp sobre o patógeno, o que pode ser observado nas fotos de microscopia eletrônica de varredura (MEV) - Figura 2 -, onde todos os isolados analisados colonizam o patógeno, seja penetrando ou estrangulando suas hifas, nota-se também o crescimento de hifas paralelas. A secreção enzimática constitui uma etapa essencial no biocontrole de fungos. Os dois tipos de interações verificadas neste trabalho, penetração e estrangulamento, podem ser interpretados como ação hiperparasítica. Para ambas as espécies, Trichoderma asperellum e T. harzianum, independentemente da formulação e do produto comercial estudado, pareadas com o fungo patogênico S. sclerotiorum. Esta mesma ação foi observada no pareamento de Trichoderma e Fusarium oxysporum e com T. harzianum e Rhizoctonia solani.

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Seletividade de fungicidas aos produtos comerciais à base de Trichoderma A Tabela 4 apresenta a seletividade in vitro dos principais fungicidas disponíveis no mercado brasileiro. Índices de velocidade de emergência para diferentes produtos comerciais à base de Trichoderma De acordo com Gráfico 1, o tratamento de sementes com Trichoderma não prejudica a velocidade de emergência, o tratamento com o bioproduto (T. asperellum) foi superior,

apresentando as maiores médias de velocidade de emergência, considerando tanto com, como sem inoculação do fungo Sclerotinia esclerotiorum. Para as sementes inoculadas com o fungo, o produto (T. asperellum) apresentou as melhores médias para velocidade de emergência, sendo o único a diferir da testemunha. C Fernando Cezar Juliatti, UFU Anakely Alves Resende, Empresa Manejo Agrícola

Tabela 3 - Concentração e viabilidade dos bioprodutos. Uberlândia (MG), 2014 Bioprodutos

Concentração Declarada Trichoderma spp 1,0 x 108 T. harzianum 5,0 x 1010 T. asperellum 1,0 x 1010 T. harzianum 2,0 x 109

Concentração na Câmara de Neubauer 7,5 x 10 9 2,0 x 10 10 9,0 x 10 10 2,0 x 10 10

Concentração na Placa 1,0 x 107 3,0 x 106 5,0 x 1010 6,0 x 109

Diferença entre Concentração Declarada Câmara Neubauer Placa + 7,4 x 109 - 9,0 x 107 - 3,0 x 1010 - 4,9 x 1010 + 8,0 x 1010 + 4,0 x 1010 + 1,8 x 1010 + 4,0 x 109

Tabela 4 - Seletividade dos fungicidas comerciais nas diferentes concentrações ao isolados de Trichoderma spp. Uberlândia (MG), 2014 Fungicidas Testemunha (tiofanato + Fluazinan)

(fluaizinan)

(tiofanato)

(Tioafanato + fipronil + piraclostrobina)

(carbendazin)

fludioxonil + tiran)

(procimidone)

PPM 0,0 0,1 1,0 10 100 1000 0,1 1,0 10 100 1000 0,1 1,0 10 100 1000 0,1 1,0 10 100 1000 0,1 1,0 10 100 1000 0,1 1,0 10 100 1000 0,1 1,0 10 100 1000

Trichoderma ++++ +++ ++ + + ++ ++ + + + ++++ ++++ + + +++ ++ + + + + + + ++ + + + + ++++ +++ + + +

T. harzianum ++++ +++ ++ + + + + + + ++++ ++++ + + +++ ++ + + + + + + + + + + + + ++++ +++ + + +

T. asperellum ++++ ++++ ++ + + ++ ++ ++ ++ + ++++ ++++ + + +++ ++ + + + + + + + + + + +++ ++++ + ++ ++

Seletividade: (-) ausência: 0%; (+) ruim: 0-25%; (++) regular: 25-50%; (+++) boa: 50-75%; (++++) muito boa: 75-100%.

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T. harzianum ++++ ++ ++ + + ++ ++ + + + ++++ ++++ + + +++ ++ + + + + + + + + + + + + + ++++ +++ ++ ++ ++



Informe Publicitário

Nova tecnologia

Celleron dá ao agricultor brasileiro uma ferramenta importante para cultivar com sustentabilidade

A

no após ano, o sojicultor vem assistindo seus custos de produção subir de maneira descontrolada sem que ele possa intervir. O custo médio de produção está por volta de R$ 2.300 por hectare. Atualmente seriam necessárias 38,3 sacas somente para cobrir os custos de produção, considerando o preço atual de R$ 60,00 a saca de soja. O dilema “Sustentabilidade” passa inevitavelmente pela adoção de medidas que garantam uma produtividade por hectare suficiente para cobrir os custos de produção, remunerar o capital imobilizado da propriedade e deixar um bom lucro. A cultura da soja no Brasil é conduzida sob um alto nível tecnológico alcançando produtividades elevadas. Pequenas decisões após a implantação da cultura podem fazer a diferença. A produtividade média brasileira do grão em 2013 ficou em torno de 49,5 sacas por hectare. Subtraindo-se o custo de produção, o lucro fica em 11,2 sacas por hectare. Portanto, qualquer acréscimo na produtividade causaria um grande impacto no resultado final da safra. Os fertilizantes foliares têm um papel importante no controle nutricional da soja uma vez que pode ser aplicado durante a condução da lavoura, corrigindo deficiências que possam aparecer durante todo o ciclo. A escolha correta destes produtos pode representar um incremento significativo na produtividade. Como Celleron atua na soja Celleron tem ação fisiológica na planta. Ao ser aplicado, o produto aumenta a disponibilidade de bio-compostos como as metaloproteínas: ferro-proteína e a molibdênio-ferro-proteína. Estas proteínas são responsáveis pela redução da amônia absorvida em amina (nitrogênio de pronto uso celular). A produção de elevadas taxas destes compostos pela planta, acelera a conversão do nitrogênio absorvido na forma de nitratos (NH+) em amina (NH -), fornecendo à planta a energia necessária para a produção de outros compostos como aminoácidos, fitormônios entre outros. Concentrações mais baixas de nitrato na seiva da planta favorecem a multiplicação de microorganismos fixadores de Nitrogênio contribuindo para melhorar a FBN.

Pesquisa e desenvolvimento As pesquisas oficiais com o Celleron na cultura da soja começaram no Paraná em 2005. Neste projeto, a dose de 2 litros por hectare em R1 trouxe um incremento de 3,9 sacas por hectare. Significativo no teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade. Na safra 2012/2013 um novo ensaio foi conduzido no mesmo centro de pesquisa. Desta vez a dose de 2L/h de Celleron aplicado em R1 trouxe incrementos de 4,14 sacos de soja por hectare. Esta dose quando combinada com o tratamento de sementes, Celleron-seeds, trouxe incremento de 6,3 sacos de soja por hectare. Significativo no teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade conforme Tabela1. Na safra 2013/2014 foram conduzidos mais cinco experimentos em diferentes regiões produtoras de soja no Brasil (Tabela 2). Maranhão: O experimento foi conduzido no campo de pesquisa da I9AGRO, na Fazenda Nossa Senhora das Graças em Balsas, pelo agrônomo Ricardo Luís Menezes Reis e o técnico de pesquisa Eufrásio Brandão. O forte calor e três veranicos ocorridos, um no início do ciclo e dois no final, prejudicaram a produtividade deste experimento. Todos os tratamentos trouxeram incrementos significativos à produtividade em relação à testemunha, com destaque para a combinação de 1L de Celleron-cerrado em V3 mais 2L de Celleron-folha em R1. Estes tratamentos trouxeram um incremento médio de 9,61 sacos de soja por hectare. Significativo no teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade. Piauí: O experimento foi conduzido no campo de pesquisa da Fitoagro, na Fazenda Alvorada, na Serra do Quilombo, município de Gilbués, pelo engenheiro agrícola Marcus Vinicius Altoé e a técnica de pesquisa Andreza Bertoldo. Neste experimento a dose de 2L/ha de Celleron-folha aplicados 1L em V3 e 1L em R1 obteve em relação à testemunha, um incremento de 5,5 sacos (10%) de soja por hectare. Significativo no teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade. Bahia: O experimento foi conduzido no campo de validação da Círculo Verde Pesquisa, na Fazenda Mimoso, em Luís Eduardo Magalhães, pela pes-

quisadora Dra. Monica C. Martins e a engenheira agrônoma Elisangela Kischel. Neste experimento as melhores respostas foram obtidas com a aplicação de 1L de Celleron-folha em V3 mais 2L de Celleronfolha em R1, que apresentou um incremento à produtividade de 11,2 sacos por hectare. A fórmula Celleron-cerrado F1 na dose de 1L/ha em V3 mais 2L/ha de Celleron-folha em R1 também apresentou incremento de 7,6 sacos de soja por hectare. Os dois tratamentos são significativos no teste de ScottKnott ao nível de 5% de probabilidade. Goiás: O experimento foi conduzido no CPA – Centro de Pesquisa Agrícola (Rio Verde/ GO) - sobre a responsabilidade da Test Agro Pesquisas Agropecuárias pelos engenheiros agrônomos Henrique Antonio de Morais e Felipe Goulart Machado. Durante a condução do ensaio, a área passou por duas fortes estiagens que prejudicaram a produtividade média do experimento. Mesmo assim, todos os tratamentos trouxeram incrementos à produtividade em relação à testemunha, com destaque para o tratamento “Celleron-folha na dose de 2L/ha em R1”, cujo incremento foi de 6,5 sacos por hectare e a combinação de “Celleron-Cerrado (F2) 1L/ha em V3 mais 2L de Celleron-folha aplicados em R1”, que obteve incremento de 8 sacos de soja por hectare. Significativo no teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade. Mato Grosso: O experimento foi conduzido na Estação Experimental da Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Rio Verde, em Lucas do Rio Verde MT, pelos engenheiros agrônomos Rodrigo Marcelo Pasqualli e Fábio Kempim Pittelkow. Neste experimento não foram verificadas diferenças estatísticas significativas entre os tratamentos, entretanto é possível observar diferenças numéricas na produtividade dos tratamentos em relação à testemunha sem a aplicação. O tratamento com a aplicação da dose de 2L de Celleron-folha (1L/ha em V3 + 1L/ha em R1), apresentou incremento na produtividade de 5,9 sacos de soja por hectare em relação à testemunha. Com o término dos projetos foi possível concluir que todas as fórmulas que contém Celleron trouxeram incrementos significativos à produtividade da soja. Este incremento é maior quando a planta é submetida a uma condição de stress como

Tabela 1 - Produtividade em quilos por hectare. Média de quatro repetições. Variedade BR295 RR. Paraná - Safra 2013 Tratamentos T1 - Testemunha padrão T2 - Testemunha padrão + TS com Celleron Seeds (250ml/100kg) T3 - Celleron-folha (2lts/ha em R1) T4 - TS com Cell Seeds + Cell-folha (2lts/ha em R1) T5 - Cell-folha (1lts/ha em V3) + Cell-folha (1lts/ha em R1) T6 - TS com Cell Seeds + Cell-folha (1lts/ha em V3 + Cell-folha (1lts/ha em R1) T7 - Cell-folha (2lts/ha em V3) com Glifosato T8 - TS com Cell-folha (2lts/ha em V3) com glifosato

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Média kg/ha Scs/ha Ganho 3.869,98 b 64,50 4.029,88 ab 67,16 2,66 4.118,23 ab 68,64 4,14 4.251,05 a 70,85 6,35 4.125,19 ab 68,75 4,25 4.118,20 ab 68,64 4,14 4.051,06 ab 67,52 3,02 3.865,56 b 64,43 - 0,07


podemos observar nas regiões onde a estiagem prejudicou o desenvolvimento da cultura: Balsas, no Maranhão e Rio Verde, em Goiás. Resultados de 18 Farm-Test Na safra de 2013/2014 também foram conduzidas uma série de áreas experimentais em várias fazendas de diversas regiões do país. Os resultados apresentados na Tabela 3 foram obtidos por meio de biometria. Os valores apresentados são as médias de incrementos de cinco pontos de avaliação, com 4 metros lineares cada, da área tratada em relação à área testemunha. A média de incremento dos tratamentos com 2L/ha de Celleron-folha em R1 sobre o tratamento padrão da fazenda foi de 7 sacos de soja por hectare. Observou-se também que a média de incremento dos tratamentos com 1L/ha de Celleron-folha em V3 mais 2L/ha em R1 sobre o tratamento padrão da fazenda foi de 6,5 sacos de soja por hectare. *O conteúdo deste Informe é de inteira responsabilidade do anunciante.

Tabela 2 - Produtividade da soja em sacos/ha em função dos tratamentos com Celleron. Resumo dos cinco ensaios instalados na safra 2013/2014 Estado Orgão Pes. Variedade Trat. 1 Trat. 2 Trat. 3 Trat. 4 Trat. 5 Trat. 6 C. Vari.

Maranhão I9 Agro M-9144RR Produtiv. Ganho 36,51 d 41,91 c 5,4 42,97 b 6,46 40,87 c 4,36 46,95 a 10,44 45,28 a 8,77 CV% = 3,4

Piaui FitoAgro Paragominas RR Produtiv. Ganho 54,05 b 59,55 a 5,50 59,30 a 5,25 55,85 b 1,80 56,95 a 2,90 52,10 b 1,95 CV% = 5,5

T1 = Testemunha T2 = Celleron-folha (1l/ha em V3 + 1l/ha em R1) T3 = Celleron-folha (1l/ha em V3 + 2l/ha em R1)

Bahia Circulo Verde M-9144RR Produtiv. Ganho 42,10 b 40,56 b - 1,54 53,32 a 11,22 41,96 b - 0,14 49,74 a 7,64 39,56 b - 2,54 CV% = 9,2

Goias Test Agro M-7110 IPRO Produtiv. Ganho 33,00 b 35,00 ab 2,00 38,30 ab 5,30 39,50 ab 6,50 39,70 ab 6,70 41,00 a 8,00 CV% = 12,97

Mato Grosso Fund. Rio Verde TMG 132 RR Produtiv. Ganho 47,40 a 53,70 a 6,3 52,60 a 5,2 50,80 a 3,4 52,20 a 4,8 50,00 a 2,6 CV% = 9,6

T4 = Celleron-folha (2l/ha em R1) T5 = Cell-Cerrado-F1 (1l/ha em V3) + Celleron-folha (2l/ha em R1) T6 = Cell-Cerrado-F2 (1l/ha em V3) + Celleron-folha (2l/ha em R1)

Os trabalhos de pesquisa na sua integra podem ser encontrados na pagina da empresa através do link: http://www.follyfertil.com.br/resultados/P/ trabalhos-de-pesquisa

Tabela 3 - Incremento em sacos por hectare com o uso do Celleron sobre o padrão fazenda de adubação foliar. Média de quatro repetições em 18 Farm Test conduzidos na safra 2013/2014 10 15 18 11 14 MÉDIA 12 13 16 17 1 6 9 2 5 3 4 7 8 "MONSOY "BMX "MONSOY "TMG "MONSOY "TMG "MONSOY "MONSOY "TMG "TMG "MONSOY "TMG "NIDERA PY30 "Parago- "Pionner "MONSOY "MONSOY minas" Y9003" 9144RR" 9144RR" 9144RR" Potência" 9144RR" 132RR" 8766RR" 132RR" 9144RR" 9144RR" 132RR" 132RR" 9144RR" 132RR" NA 7337" MT PI BA MT MG MT GO PI PI MS Estado MT MT SP MT MT MT MT MT 60,8 69,2 43,3 45,0 71,8 54,4 38,8 47,0 44,4 Testemunha 51,3 58,3 58,4 48,0 59,5 51,2 59,9 49,2 41,7 3,4 6,7 6,0 1,2 6,3 7,0 6,8 5,6 10,5 4,5 - 2L/ ha em R1 5,9 11,0 -0,1 13,1 8,0 5,9 17,2 6,5 7,4 10,7 6,5 11,0 7,8 - 1L v3 + 2L R1 0,2 4,5 4,2 ÁREA Variedade


Daniela Zuim

Plantas daninhas

Impactos da resistência Gerenciamento das áreas agrícolas, sistemas de controle rigorosos e novas tecnologias são aliados no controle das plantas daninhas, cada vez mais resistentes

A

s plantas daninhas representam atualmente um enorme desafio para agricultores de todo o mundo e são responsáveis por perdas na produtividade das lavouras, em diferentes cultivos. Além de competir por fatores vitais ao desenvolvimento das culturas, também podem provocar perda na qualidade agrícola do produto final. Diversos autores demonstram que as médias de perdas ocasionadas pela interferência das plantas daninhas estão entre 20% e 80%. Este fato não se deve apenas ao crescimento do número de espécies que infestam as propriedades agrícolas, mas também à mudança da flora existente, contendo variados biótipos da mesma espécie, entre

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eles, plantas resistentes a herbicidas para um ou múltiplos mecanismos de ação. Em termos de sensibilidade a herbicidas, pode-se dividir as plantas daninhas em três grupos: suscetíveis, tolerantes e resistentes. As plantas daninhas suscetíveis são aquelas que, uma vez aplicada uma dose padrão recomendada do herbicida, sua população é reduzida a uma forma que não consegue finalizar seu desenvolvimento. Por tolerantes, consideram-se as plantas que possuem uma capacidade própria da espécie de tolerar a aplicação do herbicida e, mesmo que apresente algum tipo de dano, conseguirá finalizar seu ciclo, ainda que apresente alguma limitação. Já as plantas resistentes são aquelas

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que, de alguma forma, demonstram a capacidade de sobreviver à aplicação de herbicidas, mesmo que em doses elevadas. A resistência das plantas pode decorrer de mutações genéticas das plantas (difícil de ocorrer no ambiente), de modificações biotecnológicas de interesse agrícola (introdução de gene de tolerância a herbicida específico) ou da seleção de biótipos, sendo este o mais corriqueiro.

FATOR RESISTÊNCIA

Os primeiros casos de resistência constatados ocorreram nos Estados Unidos (EUA) e no Canadá na década de 50, porém, somente foram reportados, oficialmente, em 1998, pela Sociedade Americana da Ciência das Plantas Daninhas (WSSA, na sigla em inglês). Em menos de 60 anos após o primeiro registro, houve um salto para 434 casos catalogados no mundo, com 237 espécies sendo reportadas em 82 culturas em 65 países (doutor Ian Heap - Pesquisa Internacional de Plantas Daninhas Resistentes a Herbicidas). O cenário se agrava ao serem constatados números superiores a 80% de redução da produtividade das lavouras quando infestadas pelas plantas daninhas, que disputam com os cultivos por água e nutrientes. Alguns estudos realizados por instituições brasileiras de pesquisa relatam que apro-


Gráfico 1 - Número de casos de resistência a um único mecanismo de ação

ximadamente 18 plantas de buva (Conyza ssp.) por m2 podem reduzir em até 50% a produtividade da soja, e este número se torna ainda mais preocupante quando se analisa a capacidade desta planta de se reproduzir: apenas uma planta de buva pode produzir até 200 mil sementes.

IMPORTÂNCIA DO MANEJO

A necessidade de um controle completo das daninhas para evitar sua disseminação torna-se requisito indispensável quando se pensa no gerenciamento das plantas daninhas. Utilizando os EUA como exemplo, verifica-se que, nos últimos dois anos, o número de hectares infestados com plantas daninhas reportadas como resistentes ao glifosato aumentou em 80%, e a baixa eficiência de controle permite que as plantas se multipliquem ano após ano. Os atuais sistemas para controle de plantas daninhas mostram sinais da necessidade de uso de novas tecnologias. E para tornar ainda mais complexa a situação de controle de daninhas, tem-se que a maior parte das culturas tolerantes a herbicidas baseia-se em um único gene ou produto: o glifosato. Pelas questões abordadas, o aparecimento de plantas daninhas resistentes, além da disseminação de outras de difícil controle em culturas como soja, milho e algodão, aponta para o fato de que, em grande parte dos casos, o glifosato, sozinho, não é mais uma alternativa eficiente.

Contudo, não apenas a resistência ao herbicida glifosato (EPSPs) tem preocupado os agricultores. Em 2014, mais de 45 plantas daninhas resistentes a herbicidas no Brasil e aproximadamente 160 nos EUA estão registradas. Mais do que isso, hoje são encontradas plantas com resistência múltipla, ou seja, resistentes a mais de um mecanismo de ação de herbicidas. O Amaranthus tuberculatus (uma espécie de caruru, presente nas propriedades americanas) já pode ser encontrado com resistência a quatro diferentes mecanismos de ação. Dificilmente os níveis de resistências voltarão aos patamares do passado, uma vez que as plantas resistentes foram selecionadas, porém, o gerenciamento das áreas agrícolas é uma ferramenta de extrema

importância para que sejam mantidos os níveis de controle das plantas daninhas. Alguns pontos devem ser seguidos e certamente irão auxiliar no manejo destas daninhas. Iniciar aceitando que as plantas daninhas de difícil controle e resistentes são uma realidade no entorno de sua propriedade é o ponto de partida do agricultor. A partir daí, aplicar táticas de manejo sustentáveis, prever riscos e balancear investimentos são ações que irão auxiliar a prevenir e reduzir perdas ocasionadas pelas plantas daninhas. O desenvolvimento de um plano de ação de médio/longo prazo também é peçachave neste contexto. É importante ter em mente que não apenas a cultura semeada/ implantada é a fonte do sucesso, como também outras atividades durante todo o ano, a exemplo da utilização de culturas de cobertura, da rotação de cultivos, do manejo de plantas daninhas durante período entressafra (pousio), evitando a “chuva de sementes” – que aumenta o banco de sementes do solo por múltiplos anos –, da limpeza de equipamentos, da rotação de mecanismos de ação de herbicidas, da adoção de práticas culturais diferenciadas e do uso de sementes de alta qualidade e performance. Além de implantar todos os itens por um longo período, também é necessário monitorar o plano de ação e verificar seus efeitos, ajustando o que for necessário. O sucesso para o manejo de plantas daninhas de difícil controle ou resistentes está não só no uso correto das práticas adotadas, como também na validação do que foi empregado. Outro fator crucial diz respeito ao correto entendimento dos herbicidas e de sua aplicação. Compreender os dife-

Gráfico 2 - Número de espécies resitentes aos diversos tipos de mecanismos de ação

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Daniela Zuim

A tecnologia desenvolvida pela Dow AgroSciences oferece uma nova forma de manejo de plantas daninhas resitentes aos herbicidas

rentes mecanismos de ação empregados, adequando a realidade da planta daninha e da área a ser tratada, usar corretamente a dose indicada do produto para o estádio da planta daninha, utilizar equipamentos de aplicação regulados e condizentes com a área de aplicação e a cultura-alvo – levando em consideração as variedades ambientes e a combinação de herbicidas –, são fatores básicos para ter sucesso no controle destas pragas.

NOVAS TECNOLOGIAS

As novas ferramentas para controle das plantas daninhas que algumas empresas têm trabalhado para disponibilizar aos agricultores vêm através do emprego da biotecnologia no desenvolvimento de plantas tolerantes à aplicação de mais de um mecanismo de ação, auxiliando o gerenciamento da resistência. Entre as soluções tecnológicas mais recentes e que estão em fase de aprovação para comercialização, está o Sistema Enlist™ de Controle de Plantas Daninhas, tecnologia desenvolvida empresa Dow AgroSciences para dar sustentabilidade e aprimorar as práticas agrícolas tradicionais, como o plantio direto e o manejo integrado de culturas, com ganho de eficiência, com ampla flexibilidade de utilização, e assim entregando produtividade no campo em culturas como soja, milho e algodão. Essa tecnologia oferece uma nova opção de manejo de plantas daninhas e ainda oferecerá controle de lagartas na

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soja, contendo as características provenientes da biotecnologia de tolerância a múlti-plos grupos herbicidas e resistência a insetos, aliadas a uma inovadora solução herbicida. Em soja, contém genes de tolerância a três herbicidas com diferentes modos de ação: auxínicos, EPSPs e glutamina sintetase. Já em milho, contém genes

tolerantes aos herbicidas com quatro diferentes mecanismos de ação: auxínicos, EPSPs, glutamina sintetase e ACCase (haloxifope). O sistema inclui um pacote tecnológico de tolerância a herbicidas com uma formulação inovadora de Sal Colina (sal quaternário de amônia). Nele, encontrase a tecnologia proprietária Colex-D, uma nova formulação do tradicional 2,4-D, que oferecerá benefícios importantes ao agricultor, entre os quais: ultrabaixa volatilidade, que diminui a possibilidade de o produto se transformar em gás e se dispersar; agente antideriva, que reduz a chance de o herbicida atingir o que não for seu alvo; e odor reduzido, além de características melhoradas de manejo e disponibilidade em mistura pronta com glifosato, mantendo o controle de amplo espectro das plantas daninhas de folha larga. A tecnologia Enlist já foi submetida para registro, regulamentação e autorização para comercialização no Brasil nas agências reguladoras responsáveis, sendo disponibilizada ao mercado brasileiro assim que cumpridas todas as etapas de C registro. Felipe Ridolfo Lucio, Dow AgroSciences

Sistema Enlist - Aliado também no combate a lagartas

N

o Brasil, além de conter genes tolerantes a três diferentes tipos herbicidas, o Sistema Enlist™ de Controle de Plantas Daninhas para a soja expressa duas proteínas Bt (Bacillus thuringiensis), o que torna também resistente às espécies mais comuns de lagartas que atacam as lavouras brasileiras. Entre elas, a da soja (Anticarsia gemmatalis), da maçã (Heliothis virescens), da falsa-medideira (Chrisodeixis includens) e do cartucho (Spodoptera frugiperda). Já o milho Enlist deverá agregar, no futuro, a tecnologia Powercore, plataforma já adotada com sucesso no mercado brasileiro. Desta forma, além da tolerância aos

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herbicidas, o milho vai agregar a resistência a insetos lepidópteros, a exemplo de lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), broca-do-colmo (Diatraea saccharalis), lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea), lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e lagarta-rosca (Agrotis ipsilon).


Empresas

Soluções integradas N

ão é de hoje que as plantas daninhas tiram o sono, a tranquilidade e parte dos lucros dos produtores rurais. Mas essa preocupação tem se intensificado na última década, principalmente por conta da resistência que as invasoras estão criando aos herbicidas. Um dos exemplos mais graves deste problema pode ser observado nos Estados Unidos, onde estima-se que dos 100 milhões de hectares plantados, 28 milhões estão infestados com plantas daninhas resistentes, principalmente ao glifosato e a herbicidas inibidores de ALS. Eliminar completamente essas espécies resistentes das lavouras é uma tarefa impossível. Mas frear sua expansão e mantê-las sob controle é uma necessidade que exige técnicas de manejo e disciplina dos produtores, aliadas a novas soluções oferecidas por empresas de defensivos químicos. A mesma facilidade de controle de plantas daninhas que as variedades transgênicas tolerantes ao glifosato proporcionaram aos agricultores, a partir de 1997, é também a maior responsável pela aceleração da resistência. Produtores vibravam com a nova forma de controlar invasoras quase mágica, por ampliar a janela de aplicação de forma antes jamais imaginada e possibilitar a entrada com herbicida de amplo aspectro em pósemergência, mas esqueceram as boas práticas de manejo. Ao mesmo tempo, as empresas de defensivos, desestimuladas pelos resultados tão positivos da nova tecnologia, reduziam investimentos em suas pesquisas com novos herbicidas, imaginando que essa solução tivesse uma vida mais longa. Mas, pouco mais de uma década depois do surgimento da tecnologia RR, a partir do momento em que a resistência começou a ser um problema econômico para os produtores, a pesquisa ainda não disponibilizava de nenhuma solução específica e exclusiva para resolver eficientemente o problema da resistência e os produtores já haviam esquecido o quanto é difícil controlá-las. Isso fez com que muitas toneladas de grãos fossem perdidas a cada safra em lavouras tomadas por daninhas

Daniela Zuim

O desafio de manter sob controle as invasoras aumenta ainda mais quando aparecem espécies resistentes a herbicidas. Técnicas de manejo, como rotação de culturas e princípios ativos, são adotadas como forma de minimizar as perdas. Uma nova solução apresentada pela Dow AgroSciences promete ser um grande aliado na luta por um controle mais eficiente das plantas resistentes

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Fotos Daniela Zuim

Jader Oliveira, líder do sistema Enlist no Brasil, prevê a chegada da tecnologia no final de 2016

Para Mark Peterson, líder global do Sistema Enlist, a tecnologia Colex-D será o diferencial no controle

que, além de concorrerem com as culturas implantadas, impossibilitavam até mesmo a entrada de máquinas para colher o pouco que era produzido. No Brasil, os primeiros casos de resistência foram com a leiteira (Euphorbia heterophylla) em 1992 e o picão-preto (Bidens pilosa) em 1993, sendo ambas as espécies resistentes aos herbicidas inibidores da ALS, os grupos químicos das sulfonilureias e imidazolinonas. Nas safras mais recentes, os produtores têm enfrentado problemas com o azevém (Lolium multiflorum) na região Sul, principalmente na hora da dessecação; buva (Conyza bonariensis) em quase todas as regiões produtoras; amendoim bravo, que tem baixa resistência e pode ser facilmente controlado se respeitadas as doses corretas de produtos; e o capim amargoso (Digitaria insularis), cuja resistência provavelmente tenha surgido no Paraguai e chegado ao Brasil pelas lavouras de fronteira. Somente no Rio Grande do Sul, conforme estudo realizado pela Embrapa Trigo na safra de soja 2012/2013, biótipos de azevém e de buva resistentes ao glifosato estavam presentes em mais de 80% das lavouras, resultando em custos adicionais e perdas no rendimento de grãos estimadas em R$ 1,15 bilhão. O controle ineficiente de buva e azevém resistentes tem resultado em perdas de rendimento, em casos extremos, superiores a 45%. De acordo com os pesquisadores, não há uma alternativa isolada para enfrentar o problema. São necessárias práticas conjuntas para, safra após safra, diminuir o número de plantas resistentes em áreas infestadas. Estas práticas incluem rotação de cultura, rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, utilização de plantio direto com espaçamentos adequados, além de utilizar a maior densidade populacional possível da cultura a ser implantada, o que ajuda a diminuir o

desenvolvimento e a densidade populacional das invasoras. Uma nova ferramenta para enfrentar o problema de resistência de plantas daninhas anunciada pela empresa Dow AgroSciences deve ser apresentada aos produtores americanos no final do próximo ano e possivelmente esteja disponível para os produtores brasileiros no final de 2016. De acordo com Daniel Kittle, líder global de Pesquisa e Desenvolvimento da Dow AgroSciences, trata-se de

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uma inovadora ferramenta de manejo de plantas daninhas e controle de lagartas na soja, por conter características provenientes da biotecnologia – tolerância a herbicidas e resistência a insetos -, aliada a uma nova solução de herbicidas. O conceito, apresentado como Enlist Sistema de Controle de Plantas Daninhas, engloba um conjunto de tecnologias que, juntas, deverão ser aliadas importantes no combate às invasoras resistentes. O segredo do sistema está baseado no desenvolvimento de culturas com genes tolerantes aos mecanismos de ação Auxínicos, EPSPs e gulataminasintase, presentes nos herbicidas 2,4-D, glifosato e glufosinato. Soja e milho serão tolerantes a inibidor de auxínia, Epsos e glutamina sintase, sendo que o milho ainda apresentará a tolerância a ACCase (haloxifope). As variedades que receberam estes genes estão em processo de aprovação nos Estados Unidos e provavelmente serão disponibilizadas para comercialização a partir do final de 2015. Essa mesma tecnologia já é comercializada pela Dow no Canadá e no Japão. No Brasil, o sistema encontra-se em avaliação pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e a

APESAR DA PRESSÃO DAS PLANTAS DANINHAS RESIS

É

possível manter a lavoura livre de invasoras resistentes, mas é uma tarefa que exige adoção de estratégias bem planejadas e atenção em cada detalhe do manejo. Um exemplo destas ações positivas pode ser observado na fazenda dos irmãos Schafer, no condado de LaPorte, em Indiana, nos Estados Unidos. A fazenda, com 1.540 hectares, é tocada por apenas quatro pessoas: Vern Schafer, de 60 anos, seu irmão Myron, de 62 anos, seu filho Matt, de 35 anos, e seu genro Bill Bohling, de 32 anos. Juntos, eles dão conta de cultivar 526 hectares de milho normal, 380 hectares de milho para semente, 445 hectares de soja e 60 hectares com hortaliças, como pepinos e vagens, além de feno e pastagens. A propriedade, adquirida em 1972, é um modelo de gestão, eficiente e rentável. Com 930 hectares irrigados com pivôs, a queda na produtividade por conta de condições climáticas adversas é praticamente inexistente. Todo o trabalho da fazenda é feito pelos quatro integrantes

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da família Schafer, sem funcionários, do preparo do solo até a entrega do produto seco e limpo ao comprador. O trabalho começa com o preparo do solo, feito na maior parte da área por um trator Case IH Quadtrac de 550cv. Para o plantio e as operações de transbordo, são utilizados quatro tratores Case IH de 240cv, todos dotados de piloto automático. As aplicações de defensivos e fertilizantes líquidos são feitas com pulverizador autopropelido dotado de barras de 40 metros, apoiado por um caminhãotanque que leva até a lavoura a calda já preparada e pronta para ser aplicada. A colheita é feita com colhedoras Case IH Axial Flow 7230, também dotadas de piloto automático e pacote completo de agricultura de precisão, que possibilita o monitoramento de todos os detalhes da colheita feito a partir do escritório da fazenda em tempo real. Após a colheita, os grãos são limpos, secos e armazenados em silos próprios, que garantem a integridade do produto até a decisão de venda, feita no momento em que os grãos estão mais valorizados,


expectativa é que esteja aprovado e seja comercializado a partir do final de 2016, estima Jader Rodrigues, gerente do Sistema Enlist no Brasil. “Com esta tolerância, será possível realizar uma rotação maior de herbicidas, garantindo a tranquilidade de aplicar em pós-emergência, sem depender exclusivamente de um ou dois modos de ação”, explica. A soja Enlist brasileira também será resistente às espécies mais comuns de lagartas, através da inserção de duas proteínas Bt (Bacillus thuringiensis), como a lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis), a lagarta da maçã (Heliothis virescens), a falsa-medideira (Pseudoplusia includens) e a lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda), além de outras que ainda estão em estudo. A outra ferramenta do sistema é o pacote de herbicidas que será lançado junto com as cultivares resistentes. Um dos produtos é o Enlist Duo, uma combinação dos herbicidas glifosato e 2,4-D, que contém na sua formulação sal colina (sal quaternário de amônia), patenteada pela Dow AgroSciences como tecnologia Colex-D, explica Mark Peterson, lider global de Pesquisa para Enlist. Essa formulação exclusiva proporcionará ao produtor diversos benefícios,

A tecnologia será lançada nos EUA no final de 2015 e deverá chegar ao Basil no final de 2016

como ultrabaixa volatilidade, que diminui a possibilidade de o produto se transformar em gás e se dispersar; presença de agente antideriva, que reduz a chance de o herbi-

cida atingir o que não for o seu alvo; odor reduzido e características melhoradas de manejo, garante Peterson. Diversos ensaios realizados pelos pesquisadores da Dow AgroSciences comprovaram os benefícios gerados pela tecnologia Colex-D, principalmente no que se refere à volatilização. O produto 2,4-D Éster, comercializado nos Estados Unidos, possui alta volatilidade , o que acaba sendo um problema, já que o produto “evapora”, gerando uma deriva do princípio ativo, que acabará perdendo a eficiência no alvo desejado e afetando culturas vizinhas. “A tecnologia Colex-D presente na fórmula do Enlist Duo proporciona uma ultrabaixa volatilização, que chega a ser 90% menor se comparada ao 2,4-D Éster convencional . Esta característica proporcionará maior absorção do princípio ativo pela planta e, consequentemente, um controle mais efetivo das invasoras”, explica Peterson. O sistema contará também com um programa de conscientização dos produtores que abordará boas práticas de manuseio do produto, manejo adequado das culturas e defensivos, utilização de doses corretas e escolha de bicos certos para minimizar ainda C mais o efeito de deriva do produto.

TENTES, É POSSÍVEL MANTER A Lavoura limpa e lucrativa geralmente na primavera do ano seguinte. Toda a produção é transportada pelos produtores, com caminhões próprios desde a fazenda até a empresa compradora a aproximadamente 100km de distância, onde recebem preços melhores do que os pagos pelas cooperativas mais próximas da sede. Para manter a produtividade e a sanidade da lavoura, cada talhão é pensado estrategicamente e a rotação de culturas segue um rígido cronograma. Geralmente, cada área recebe duas safras de milho seguidas por uma de soja. Este é um dos segredos, explica Vern, para manter sob controle invasoras, pragas e doenças. Para ele, que teve acesso ao Sistema Enlist da Dow AgroSciences, a rotação de culturas, aliada à rotação de diferentes princípios ativos, é fundamental para manter as invasoras resistentes longe de suas lavouras, feito que ele realiza nos seus 1.500 hectares. “Procuramos controlar de forma rápida qualquer sinal de resistência que aparece na lavoura. E o Sistema Enlist será um aliado muito importante nesta batalha, pois teremos

condições de realizar o manejo de forma mais tranquila pela elasticidade que o programa possibilita tanto em janela de aplicação como pelo amplo espectro de controle que o herbicida Enlist Duo proporcionará”, explica. Os bons resultados, reflexo do manejo adequado em todas as etapas de

cultivo, podem ser comprovados com o volume colhido na safra de 2013. A média de produtividade do milho foi de 210 sacas/hectare, chegando a 270 sacas/hectare nas áreas irrigadas, e na cultura da soja a média foi de 72 sacas/hectare e 77 sacas/hectare nas áreas irrigadas.

Bill Bohling, Myron Schafer, Vern Schafer e Matt Schafer aliam estratégias de manejo e novas tecnologias para manter suas lavouras livres de plantas daninhas resistentes

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Milho Fotos Instituto Phytus

Da semeadura à colheita A mancha de macrospora ou diplodia (Stenocarpella macrospora e Stenocarpella maydis) afeta a cultura do milho nas diversas fases de desenvolvimento das plantas. Reduzir o inóculo inicial, utilizar cultivares resistentes, realizar rotação e prevenir desequilíbrios nutricionais estão entre as principais estratégias de manejo contra a doença

A

cultura do milho é hospedeira de vários patógenos que parasitam seus tecidos em diversos momentos do desenvolvimento da cultura. Especificamente os patógenos do gênero Stenocarpella, que são praticamente os únicos que possuem a habilidade de infectar e causar danos visíveis em todas as etapas fenológicas da cultura.

Germinação e emergência

Somente S. macrospora é encontrada causando lesões sobre os tecidos foliares. Sua fonte de inóculo pode ter origem nos picnídios formados sobre a semente e/ou nos restos culturais da cultura do milho. Com o processo de embebição da semente e germinação inicia-se a fase mais vulnerável da planta à infecção pelo patógeno, causando deterioração da radícula e morte ou tombamento de pré-emergência. Outra via de infecção neste estádio é através do mesocótilo e/ou coleóptilo, obstruindo o transporte de seiva da planta e causando morte ou tombamento de pós-emergência e, consequentemente, falha de estande na lavoura. Caso o inóculo não for suficiente para causar morte na plântula, o patógeno seguirá seu processo de multiplicação sobre os tecidos do hospedeiro desde a primeira folha emitida. Nesta situação, pode ocorrer

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necrose castanho-clara, iniciando da ponta da folha em direção ao colar em forma de “V” (Figura 1).

Área foliar

O milho é o único hospedeiro de interesse agrícola, o que acaba por acelerar a evolução da doença em áreas de monocultura, já que o patógeno pode sobreviver no colmo infectado, em restos culturais e como micélio no endosperma e embrião das sementes. Com a hidratação dos picnídios, especialmente à noite, os cirros de conídios são expulsos e, graças às ações do vento e da chuva, atingem os órgãos vulneráveis da planta. Partindo desse inóculo inicial, os conídios

Figura 1 – Lesão da primeira folha do milho causada por Stenocarpella sp.

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de S. macrospora atingem a folha e germinam entre 12 e 15 horas após sua deposição, sob umidade relativa elevada, luz e temperatura entre 23ºC e 30°C (Brunelli et al, 2005). Geralmente, o período em que a planta torna-se mais suscetível estende-se da polinização completa até 20 dias após (Bensch et al, 1992) (Figura 2). Dentre as espécies de Stenocarpella spp., a S. maydis é a mais frequente nos estados do Sul do Brasil, já a S. macrospora predomina nas condições tropicais. No entanto, somente a S. macrospora é capaz de causar lesões foliares, além de possuir maior esporo e agressividade do que a S. maydis nos estágios iniciais de germinação, infecção e colonização (Latterell & Rossi, 1983). Além disso, quando a umidade relativa do ar é menor que 50%, S. macrospora produz mais micélio que S. maydis, podendo atacar a planta em qualquer estádio fenológico (Del Rio, 1991). Os sintomas foliares podem ser variados considerando a característica do híbrido semeado. Uma lesão foliar com ponto central de infecção é o sintoma mais comum, com halo amarelado e progressão pelas nervuras da planta (Figura 3A). No entanto, algumas derivações podem ser encontradas em outros híbridos, como uma lesão parda de aspecto ovalado (semelhante a E. turcicum), muitas


vezes sem a identificação do ponto central da infecção e a presença ou não de halo amarelado (Figura 3B). O ponto-chave para identificação dos dois tipos de sintomas de S. macrospora é a presença de estruturas negras do patógeno sobre a lesão – picnídios. Esta estrutura do patógeno será a via de identificação da sua presença sobre todos os tecidos da planta, folha, colmo e espiga.

Figura 2 – Diagrama de origem e dispersão dos cirros de conídios dos picnídios produzidos sobre restos culturais, colmos infectados ou lesões foliares

Colmo

Começam a ser visualizados no campo a partir do estádio de enchimento dos grãos, quando ocorre o maior dreno de carboidratos do colmo para os grãos. Em condições de temperatura (>25°C) e umidade altas (>80%), os picnídios são formados na resteva e irão liberar cirros de conídios. Serão disseminados pelo vento e chuva até o milho, que é o único hospedeiro. A viabilidade do inóculo é alta e supera 90%, mesmo após 320 dias no solo (Casa et al, 2003). O momento de infecção ideal ainda requer condições de estresse para a planta que, por conseguinte, favorece a infecção nos períodos secos seguidos de chuvosos e/ou excesso de nitrogênio em relação ao potássio. Assim, a infecção da Stenocarpella spp. pode ocorrer

A

B

Figura 3 – Lesões foliares causadas por S. macrospora em diferentes híbridos de milho.

por coroa, mesocótilo ou raízes em torno de cinco horas em temperatura de 30°C, com degeneração enzimática das paredes da célula do hospedeiro (Bensch et al, 1992) (Figura 4). Na planta, são observados no primeiro e segundo entrenós a partir do solo onde perdem

a tonalidade verde precocemente, iniciando o escurecimento a partir deste nó em um gradiente escuro para pardo (Figura 5). Com a evolução da doença, a planta pode tombar exatamente neste local. Além disso, o excesso de espigas decumbentes a partir da maturação fisiológica pode ser um indicativo da presença do patógeno em híbridos que não possuem

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A

B

Figura 5 – Sintoma de Stenocarpella spp no colmo do milho, (A) na parte externa do colmo do milho e (B) na parte interna do colmo

esta característica. Na parte interna ocorre a desintegração da medula, tornando-se marrom-acinzentado e os feixes vasculares permanecem visíveis e tomados por picnídios (pontos negros). Este detalhe diferencia esta doença da causada por Fusarium spp.

Espiga

A chegada dos esporos à espiga através do vento e da chuva ocorre pela extrusão dos cirros de conídios dos picnídios, preferencialmente à noite, devido à hidratação destes (Casa et al, 2003). Uma característica peculiar entre as duas espécies de Stenocarpella é que apenas a S. macrospora ataca as folhas do milho (Pinto, 2006). Desta forma, passa a ser outra fonte de inóculo dessa espécie para a infecção na espiga, além dos restos culturais ou do próprio colmo infectado, caso específico da S. maydis. Os conídios podem encontrar dois locais para infecção na espiga, o primeiro é

Figura 6 – Produção de micélio branco a partir da base da espiga, evoluindo para o ápice

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o transporte destes da folha da espiga até a axila da planta pela chuva, onde encontrará o pedúnculo, penetrando diretamente na palha da espiga (Figura 2) (Bensch, 1995). O outro se dá através da deficiência de empalhamento e danos causados por insetos. O período de infecção preferencial ocorre em torno de 20 dias após a polinização, com precipitação, alta umidade relativa e temperatura entre 28ºC e 33°C (Shurtleff, 1992). Além disso, é favorecida pelo excesso de nitrogênio em relação ao potássio, alta densidade de plantas, monocultivo e pelo dano de insetos na espiga. Com a redução na umidade do grão a 22%, a evolução da doença é interrompida, porém, sem a morte do patógeno. Nas espigas atacadas, as brácteas apresentam descoloração precoce, tornando-se pardas e com baixo peso da espiga. No interior, há produção de um micélio branco que se inicia na base da espiga e progride até o ápice, entre as fileiras de grãos, através dos tecidos do esclerênquima e da placenta (Bensch, 1995) (Figura 6), apresentando picnídios sobre eles (Figura 7). O sabugo torna-se farináceo e de baixa resistência ao manuseio (Figura 8). Híbridos com problemas de empalhamento das espigas, danos de insetos e/ou que não declinam após a maturidade fisiológica são mais suscetíveis, pois facilitam a chegada do

inóculo.

Estratégias de manejo

O foco principal é a redução do inoculo inicial da doença que dará início ao processo de epidemia, visto que o milho é o único hospedeiro de interesse agrícola e há manutenção dos restos culturais na área. Desta forma, o manejo passa pela utilização de cultivares resistentes e rotação de culturas. Além disso, evitar altas densidades de semeadura, realizar adubações de acordo com as recomendações técnicas para evitar desequilíbrios nutricionais nas plantas de milho, principalmente N-K. Quando possível evitar o dano por insetos na espiga e irrigação no florescimento. As práticas da aração e gradagem, quando associadas à rotação de culturas, reduzem significativamente a quantidade de inoculo no solo e, consequentemente, a intensidade da doença nas semeaduras subsequentes. A associação destas técnicas com fungicidas é fundamental, especialmente com aumento na concentração de triazóis para necrotroficose/ou multissítios C na mistura com estrubilurina. Marcelo G. Madalosso, Inst. Phytus/Univ. Reg. Int.-Santiago Ricardo Balardin, Univ. Federal de Santa Maria

Figura 7 – Micélio branco do patógeno com a presença de picnídios

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Nicésio F. F. A. Pinto, Embrapa, 2009

Figura 4 – Diagrama da infecção interna do mesocótilo e/ou coleóptilo da planta de trigo pelos conídios de Stenocarpella spp.



Coluna ANPII

Novas propostas

A

Décima reunião de Relare discute os avanços e desafios da FBN na cultura da soja

Re d e d e L a b o r a t ó r i o s para a Recomendação, Padronização e Difusão de Tecnologia de Inoculantes Microbianos de Interesse Agrícola (Relare) realizou em agosto sua décima sétima reunião em Londrina, nas dependências da Embrapa Soja, sob o patrocínio integral da ANPII. A Rede foi fundada em 1985, por iniciativa de João Jardim Freire, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e teve sua primeira reunião em Curitiba. A criação desta entidade foi um dos marcos decisivos no panorama dos inoculantes no Brasil, constituindo-se em um centro

aprofundados. • O primeiro foi a questão do Patrimônio Genético, cuja regulamentação por força de Medida Provisória ainda contém lacunas importantes que trazem muita preocupação para o setor agrícola. Entretanto, o Mapa, atento a estes problemas, já atuou fortemente junto ao Governo para que se estabeleça legislação que traga proteção ao Patrimônio Genético Nacional mas que, ao mesmo tempo, facilite sua utilização em benefício da sociedade brasileira. • Dispositivos na legislação que dificultarão o desenvolvimento de novos produtos. O Ministério da

reconhecidamente necessária, como à agilidade na introdução de produtos cada vez mais eficazes para atender à evolução do agronegócio brasileiro. • O terceiro ponto, também de elevada importância, foi a solicitação feita ao Mapa para que passe a fiscalizar as sementes tratadas industrialmente com inoculantes. Diversas tentativas vêm sendo feitas para que o inoculante passe a fazer parte do tratamento industrial de sementes, juntamente com fungicidas e inseticidas. Mas a pesquisa tem demonstrado altíssima mortalidade de bactérias ao longo do tempo e isto leva à necessidade de uma fiscalização efetiva,

Esta décima sétima edição teve um sensível aumento de participantes, com mais de 130 profissionais da pesquisa, ministério, empresas de inoculantes e outros interessados no tema de ideias, de propostas, de sugestão de pesquisas, de difusão da tecnologia, abrangendo todos os aspectos relativos a inoculantes no Brasil e também servindo de referência para outros países. Esta décima sétima edição teve um sensível aumento de participantes, com mais de 130 profissionais da pesquisa, ministério, empresas de inoculantes e outros interessados no tema. Isto mostra o renovado interesse da sociedade para esta tecnologia, que assume um papel cada vez mais importante no cenário agrícola mundial. Todos os profissionais presentes participaram e contribuíram com suas ideias para que o uso da FBN na agricultura brasileira se torne uma prática cada vez mais eficiente. Durante a reunião, presidida pela presidente da entidade, Mariângela Hungria, foram mostrados mais uma vez resultados conclusivos sobre a importância da FBN em soja. Três importantes assuntos que interessam diretamente ao uso da FBN no Brasil e suas consequências para produção de soja foram discutidos e

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Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tem sido um dos fatores primordiais para o desenvolvimento da agricultura brasileira e a legislação de inoculantes tem sido sempre apontada como um dos marcos mais importantes para melhoria da qualidade destes produtos no Brasil. Entretanto, uma nova alteração da legislação, exigindo a publicação dos laudos de eficiência agronômica em revistas científicas, poderá dificultar e retardar a entrada de produtos mais eficazes no mercado nacional, podendo vir a prejudicar o setor como um todo. As pesquisas com produtos biológicos para uso na agricultura se intensificam em todo o mundo e novos produtos poderão trazer substancial aumento de competitividade. Se, eventualmente, o Brasil perder terreno neste aspecto, sua posição de liderança no setor poderá ficar comprometida. Mas as negociações entre a Relare e o setor de fiscalização do Mapa, em um diálogo construtivo, com toda a certeza, resultarão em um marco regulatório que possa atender tanto ao rigor da fiscalização,

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para verificar se o agricultor está semeando com o número de bactérias suficiente para a obtenção de ótima nodulação e, consequentemente, com alta fixação de nitrogênio. Sementes com baixo número de bactérias irão fixar menos nitrogênio e, consequentemente, baixar a produtividade da soja, prejudicando tanto o agricultor como o país. É fundamental que sejam desenvolvidos mecanismos legais pelo Mapa, que permitam uma fiscalização sobre estas sementes préinoculadas. Desta forma, a Relare, como tem feito ao longo dos últimos 15 anos, mais uma vez traz efetivas contribuições para a FBN, este fenômeno que é considerado o segundo mais importante, depois da fotossíntese, para a vida na Terra. O autor desta coluna agradece aos organizadores de Relare e a todos os presentes pela homenagem de que foi alvo C durante a realização do evento. Solon de Araujo Consultor da ANPII


Coluna Agronegócios

S

Propostas aos presidenciáveis

ob a batuta do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, um grupo de especialistas – do qual muito me orgulho em haver participado - elaborou, debateu, consolidou e encaminhou as propostas do agronegócio para os candidatos a presidente da República. Elas foram consolidadas em cinco macropilares, contendo princípios e políticas de ação. Segue um resumo das propostas, cujo texto final se encontra em http://www.gazzoni.eng.br/presidenciaveis.pdf: 1. Sustentabilidade da produção do agronegócio, com oferta crescente para o mercado interno, beneficiando a sociedade brasileira e contribuindo para as exportações, com nível adequado de renda para os produtores rurais, por meio de: (I) crédito e financiamento; (II) seguro contra quebra de produção e queda acentuada de preços; (III) garantia de preços mínimos para produtos essenciais; (IV) respeito aos recursos naturais e meio ambiente; (V) melhoria das condições de vida dos produtores, suas famílias e empregados; e (VI) incentivos ao associativismo e cooperativismo. As principais propostas são: (I) Plano de Safra Plurianual: metas de crédito rotativo, seguro e produção de cinco anos; regulamentação do Fundo de Garantia de Risco de Crédito e do Fundo de Catástrofe para o Seguro Rural; revisão da regulamentação da Cédula de Produto Rural (CPR); (II) Ato Cooperativo: regulamentar o artigo 146, III “c”, da Constituição Federal de 1988, com o adequado tratamento tributário; (III) Áreas de Preservação Permanente e Zoneamento Ecológico Econômico: delimitação com base em avaliação técnica e científica; 2. Aumento da competitividade do agronegócio através de (I) geração e transferência de tecnologias; (II) investimentos em defesa agropecuária; (III) desoneração tributária; (IV) incentivos à agroenergia e, (V) ampliação da infraestrutura e logística. Propõem-se: (I) Infraestrutura: construção, pavimentação e duplicação de rodovias para o escoamento da produção em regiões

de fronteira agrícola ou consolidadas; agilizar a concessão de ferrovias ao setor privado; melhorar a navegabilidade de hidrovias; modernizar portos; (II) Pesquisa, desenvolvimento e inovação: conceder às instituições públicas os instrumentos jurídicos para agilidade, flexibilidade e autonomia da gestão dos recursos, formatação de parcerias e incentivos fiscais para parques tecnológicos e registros de patentes; (III) Defesa agropecuária: criação da Agência Brasileira de Defesa Agropecuária, nos moldes da Receita Federal do Brasil; (IV) Tratamento tributário: estímulos à exportação de produtos processados e de maior valor agregado, incluindo o ressarcimento de créditos tributários; (V) Agroenergia: estabelecer incentivos fiscais e tributários para o bioetanol, biodiesel e outras fontes renováveis, pelas suas externalidades positivas no meio ambiente e na saúde pública. 3. Orientação aos mercados para ampliar a inserção do Brasil nas cadeias produtivas globais, atendendo as múltiplas demandas e necessidades dos consumidores internos e externos. Especificamente, aponta-se para: (I) Negociações comerciais: conclusão da Rodada de Doha (OMC) e do Acordo Mercosul-União Europeia, revisão do Tratado do Mercosul e implementação de acordos bilaterais; (II) Segurança alimentar mundial: plano entre grandes países produtores para formação de estoques reguladores de alimentos, em articulação com o Programa Mundial de Alimentos (PMA) e a FAO. (III) Medidas zoo e fitossanitárias: aplicação de critérios científicos para inibir barreiras técnicas injustificadas ao comércio, abertura de mercados ainda fechados às exportações brasileiras e programas de cooperação com os países vizinhos, com coordenação entre o Mapa e o MRE; (IV) Promoção comercial: com parcerias público-privadas para expandir mercados prioritários, estimular demanda e pesquisar novos usos de produtos e serviços, com agregação de valor; 4. Segurança jurídica para garantir

o direito de propriedade privada e um ambiente favorável a investimentos nacionais e estrangeiros e incentivar o empreendedorismo. Inclui: (I) Simplificação e aplicação da legislação agrária, ambiental e trabalhista, com base em critérios técnicos, condizentes com as características do agronegócio, da produção agropecuária em particular e dos mercados internacionais. (II) Revisão da legislação sobre demarcações de terras indígenas e quilombolas, aquisição de terras por estrangeiros, aprovação de um código trabalhista adequado à realidade brasileira, em substituição à Lei nº 5.889/1973; (III) Intensificação do Programa Terra Legal e critérios para estabelecimento do valor da terra nua para a cobrança do Imposto Territorial Rural (ITR); 5. Governança institucional com maior eficiência de políticas e gastos públicos, reduzindo o tamanho do Estado e o número de ministérios e ampliando a articulação com o setor privado. Especificamente são propostos: (I) Planejamento Estratégico do agronegócio: na alçada da Presidência de República em estreito vínculo com o Mapa; (II) Representatividade do Mapa: administração pelo Mapa das políticas agroambientais, florestas plantadas e da água para irrigação, solo e minerais de uso pela agropecuária, com mais autoridade na definição das políticas públicas (aquisição e equalização de preços agrícolas e das taxas de juros do crédito rural e subvenção ao prêmio do seguro rural). Ao submeter as propostas aos candidatos a presidente da República entendemos como cumprida nossa missão. Agora, todo o setor aguarda com ansiedade sua incorporação aos respectivos programas de Governo e à sua efetiva implementação durante a próxima gestão presidencial. C

Décio Luiz Gazzoni

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

www.revistacultivar.com.br • Setembro 2014

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Coluna Mercado Agrícola

Vlamir Brandalizze brandalizze@uol.com.br

Agronegócio brasileiro continua o melhor negócio da Terra

A safra americana, nestas últimas semanas, trouxe indicativos de colheita recorde, com produção da soja crescendo mais de dez milhões de toneladas. O milho também avançou, gerando grande corrida negativa na Bolsa de Chicago, com forte apelo dos grandes investidores que viam este pequeno aumento da safra dos EUA como catastrófico. Chamo de pequeno aumento porque tudo indica que de aproximadamente 300 milhões de toneladas de soja que o mundo consumirá em 2015, esse número representa pouco mais de 3%, ou seja, quase nada no mar do consumo. Por outro lado, o mercado internacional parece ainda não ter percebido o impacto que gerará na oferta mundial de grãos, o aumento do uso de soja para a produção de biodiesel, no Brasil e na Argentina, com a consequente menor oferta do produto em grão no mercado mundial. No Brasil, será necessário esmagar entre seis milhões de toneladas e dez milhões de toneladas de soja a mais ou usar todo o óleo que exporta (na ordem de 1,3 milhão de toneladas) e mais um pouco, porque tudo indica que em 2015 o país irá consumir cerca de 1,5 bilhão de litros de biodiesel a mais que os cerca de três bilhões que foram usados em 2013. Desta forma, para a soja que rende mais ou menos 20% de óleo, será necessária grande quantidade de grãos para alcançar os cerca de dois milhões de toneladas de óleo que serão usados para atender à necessidade do biodiesel. Tudo isso para atender o B7 ou 7% de biodiesel no diesel, que agora é lei e entra em vigor nesta taxa no começo de novembro (5% até junho e 6% em vigor atualmente). Na Argentina, o governo elevou a mistura para B10 (10% de biodiesel no diesel). Também irão consumir grandes volumes de produto internamente e podem ter menos grãos para exportar. Desta forma, o quadro que foi pintado no mercado internacional na virada de julho para agosto e também no começo de agosto foi muito mais negativo que deveria. Tudo indica que haverá uma reversão nesta onda negativa e isso já pode ser visto pelos Prêmios nos portos, que são valores pagos a mais ou abaixo de Chicago, levando em conta a oferta de produto, condição dos portos, qualidade do produto. Os indicativos são de prêmios positivos em 2015, o que não vinha ocorrendo nos anos anteriores. O quadro do milho americano se insere na mesma situação, com destaque para o etanol dos EUA, já que o grão está muito barato, dando boa margem à indústria. Não há porque o setor não crescer em consumo de milho e aumento da produção do etanol. O país está usando pouco mais de 131 milhões de toneladas de milho neste ano e tem capacidade instalada para números bem maiores que o utilizado, ou seja, a tendência é de diminuição da ociosidade das indústrias locais, já de olho, também, no mercado do etanol brasileiro (que deverá ter de importar no começo do próximo ano devido à safra menor nos campos paulistas, em 2014, devido à seca). O agronegócio brasileiro segue como melhor negócio da Terra. É preciso lembrar que em 2013 o Brasil foi o maior exportador mundial de soja, milho, frangos, bois, café, açúcar, laranja, fumo, ou seja, o país é celeiro do mundo e os produtores começam a mandar nos negócios.

MILHO

Safrinha fechada com mercado reagindo Em agosto os produtores estavam em fechamento da colheita da safrinha, com volume de pouco mais de 43 milhões de toneladas, contra cerca de 29 milhões de toneladas colhidas na primeira safra. A pressão era de baixa nas cotações que estavam em queda há vários meses, mas em agosto pararam de cair e começaram a dar sinais de reação. De um lado havia apoio do governo via pregões de Pepro e de outro grande interesse de países importadores pelo milho brasileiro. Desta forma, foram muitos os negócios e grandes volumes deverão ainda ser embarcados. Em julho o ritmo já havia avançado, com mais de meio milhão de toneladas embarcadas e de agosto em diante o ritmo crescerá forte. Tudo aponta para patamares na faixa de três milhões de toneladas mensais. Com isso houve recuperação leve nas cotações nas últimas semanas e há fôlego para crescer mais nos próximos meses, diante de indícios de forte queda na área plantada da safra de verão e de aperto no abastecimento para o primeiro semestre de 2015.

financeiro e têm preferido segurá-la a manter reais nos bancos. O mês de agosto registrou negócios escassos, com poucos interessados em vender o que resta da safra e assim os fechamentos foram pontuais e somente ocorreram quando as cotações chegavam próximas aos valores dos vendedores. Também houve poucos fechamentos da safra nova, porque os produtores apontavam que os valores estavam muito baixos e não confiavam no real para o ano que vem, sinalizando que preferiam vender em dólar para não correr riscos. E como havia número reduzido de compradores para as posições em dólares, poucos negócios foram confirmados.

feijão

Demanda voltando e reação à frente

O mercado do feijão teve forte apelo negativo neste primeiro semestre, com a chegada da segunda safra com baixa qualidade e concentrada no período da Copa do Mundo, junto com férias escolares. Agora, o quadro da demanda está se normalizando, com boas vendas em agosto e indicando crescimento do consumo para outubro, período a soja partir do qual será possível observar reação nas coProdutores ainda segurando as vendas Os produtores elegeram a soja como ativo tações. Com espaço para crescer porque há poucas

ofertas e quase nada de colheita entre setembro e outubro. A primeira safra, que está em fase de plantio, mostra queda de 10% a 20% na área e assim já começa o novo ano com menor potencial de oferta e expectativa maior de demanda, porque a população endividada normalmente volta ao consumo dos alimentos básicos. Tudo indica que o feijão voltará a ter boas cotações nesta nova safra para superar a crise da safra atual, marcada pela baixa qualidade.

arroz

Volta da demanda O mercado do arroz, que andou lento entre junho e julho, com poucos negócios junto ao varejo, deixou parado também o arroz em casca nas regiões produtoras. O quadro começou a mudar em agosto, com a volta das vendas de varejo e chances de trazer retomada das reposições do produto em casca. Há espaço para crescer e novamente estimular o novo plantio que está para começar em setembro no Sul do País. Existem indícios de potencial de avanço em tecnologia e sinais de lucratividade para 2015, porque o Brasil seguirá como grande exportador e grande consumidor do produto.

CURTAS E BOAS TRIGO - O mercado do trigo brasileiro teve neste último mês o fechamento da cota de importações de produto de fora do Mercosul sem taxa de importações. Mas o estrago do governo já foi feito, porque derrubou as cotações ao permitir o ingresso de um milhão de toneladas de outros países, sem taxa de importação. Com essa medida, os moinhos conseguiram cobertura do produto e agora já começam a receber o trigo do Paraná, que está começando a ser colhido. Assim, há pouco espaço para avanços importantes em curto prazo, sendo que o ideal seria o produtor deixar para vender no começo do próximo ano. algodãO - Os produtores se encontravam em colheita da safra em agosto e apesar de problemas climáticos em pontos do Mato Grosso (devido a chuvas tardias que pegaram as lavouras já com a pluma), havia expectativa de boas condições em grande parte das áreas. Agora, a comercialização começará a fluir em ritmo lento. Existem boatos de que há interessados pelo algodão brasileiro na Ásia, o que, se for confirmado, dará suporte às cotações de setembro em diante. china - Os negócios continuaram aquecidos e os chineses vêm comprando

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cerca de 25% a mais de soja da safra nova americana, que será colhida a partir do final de outubro, em relação aos volumes comprados no ano passado. Indícios de que os valores atuais estão sendo considerados baratos, com boa margem de lucro aos esmagadores chineses. Cenário que tende a estimular o consumo, apontado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em 85 milhões de toneladas para este novo ano, mas que tudo indica será ainda maior. Os chineses bateram recorde de importação no ano comercial, que fechou em agosto com 70 milhões de toneladas e deve avançar forte neste novo ano. rússia - Os russos autorizaram quase todos os grandes frigoríficos de frangos, suínos e bovinos do Brasil a exportar carnes para aquele país, sinalizando que estão retaliando os países que impuseram sanções econômicas à Rússia devido à crise com a Ucrânia. Neste último mês o presidente Vladimir Putin decretou a proibição da importação de alimentos destes países. Desta forma, o Brasil que, em outros tempos, tinha sido penalizado pela Rússia, agora teve as portas abertas para o gigante nas importações de carnes, devendo trazer reflexos importantes no mercado brasileiro de ração.

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